Merleau-Ponty e o retorno ao mundo da percepção

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Anais do SEFiM, Porto Alegre, V.02 - n.2, 2016.
Merleau-Ponty e o retorno ao mundo da percepção
Merleau-Ponty and the return to the world of perception
Palavras-chave: Fenomenologia; Percepção; Pintura; Merleau-Ponty; Cézanne.
Keywords: Phenomenology Perception; Painting; Merleau-Ponty ; Cézanne.
Paulo Sérgio Calvet Ribeiro Filho
[email protected]
Luiz Camillo Osorio
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
A partir das reflexões do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty na obra Fenomenologia
da Percepção (1945), apresentaremos seus argumentos a respeito do nosso vínculo primordial com o mundo, que se dá através da percepção. O filósofo afirma no prefácio de
sua obra, que “a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”, tal afirmação dá ensejo
à necessidade filosófica do “retorno às coisas mesmas”. Devemos encará-las não como
meros conhecedores, mas sim como viventes engajados no mundo. Tal retorno, empreendido pela fenomenologia fundada por Husserl e que Merleau-Ponty distende, consiste em
levar em conta uma dimensão de nossa existência que é anterior ao pensamento objetivo,
isto é, uma dimensão pré-objetiva ou pré-reflexiva. A partir disto, o sentir aparece como
um problema filosófico, pois o mundo da percepção tem apenas a falsa aparência de
ser aquele que melhor conhecemos. Partindo, assim, de uma clara oposição ao empirismo e ao intelectualismo, Merleau-Ponty considera urgente a necessidade de empreender
uma investigação sobre o fenômeno perceptivo. O filósofo leva em consideração o papel
primordial do corpo em nossa existência, destacando assim que este é o nosso ponto
de vista fundamental no que concerne aos fenômenos perceptivos, aos nossos processos
gnosiológicos, e ao nosso encontro afetivo e efetivo com o mundo. É neste sentido que
o dualismo não pode explicar a contento estas três dimensões supracitadas e, ademais,
Merleau-Ponty enxerga na filosofia nascente entre os fins do século XIX e início do XX
um rompimento claro com a dualidade corpo/espírito, chegando a afirmar que nossa
natureza é espiritual e corporal de parte a parte. Ademais, o que poderia nos reconduzir
a este mundo vivido, além da filosofia? Tal questão é esclarecida através da pintura. Neste
sentido, seu papel na filosofia de Merleau-Ponty não é o de mero acessório, não se trata de
um apêndice ligado a seus temas maiores, já que a pintura nos situa imperiosamente diante
do mundo vivido. Resta nos dedicarmos aos como e aos porquês de tal afirmação, bem
como as relações possíveis com tudo que temos afirmado até então. É importante também
frisar que, no correr da obra do filósofo francês, o enigma do corpo próprio se expande e
se transforma em enigma da visibilidade. Em que este consiste? É que o corpo é a um só
tempo, visível e vidente. Neste sentido, a pintura de Cézanne, por exemplo, bem como o
pensamento moderno, traz à tona o sentir, não mais como um dado exato, mas como um
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veemente problema filosófico. Destarte, estabelecemos a intenção deste trabalho: acompanhar a argumentação de Maurice Merleau-Ponty, mormente nas obras Fenomenologia
da Percepção e A dúvida de Cézanne e Conversas (1948), no intuito de possibilitar outra
maneira de encarar o mundo, apresentando a arte, tomando como referência as obras de
Cézanne, como uma expressão humana que nos coloca vigorosamente diante daquilo que
insistimos em esquecer: nossa dimensão sensível. Além disso, percebemos o alcance e a
atualidade do pensamento merleau-pontiano na contemporaneidade mesmo tantos anos
após a elaboração de suas obras.
Referências
MARSHALL, George J. A guide to Merleau-Ponty’s Phenomenology of perception. Milwaukee: Marquette University Press, 2008.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2011.
______. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
______. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 2012.
______. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
______. Textos selecionados. São Paulo: Nova Cultural, 1989.
REWALD, John. Cézanne. Paris: Flammarion, 2011.
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