Análise de Sistemas de Potência (ASP) I – Introdução ao estudo de sistemas de potência I.1 – Representação fasorial Nos circuitos elétricos assintoticamente estáveis1, a análise do regime permanente senoidal pode ser realizada através da simples operação com números complexos por intermédio da transformada fasorial. Na análise fasorial, todas as correntes e tensões senoidais são representadas por números complexos que quantificam a amplitude e o ângulo de fase das senóides, sendo a freqüência destas considerada implicitamente. Qualquer função do tipo senoidal pode ser representada pela função g (t ) = G cos (ωt + φ ) através da escolha dos valores adequados para: G – valor máximo (amplitude); 2π ω = 2πf = – velocidade angular [rad/s]; T f – freqüência [Hz]; T – período [s]; φ – ângulo de fase [rad]. A Figura I.1 apresenta o gráfico de uma função senoidal genérica, indicando os valores de G e φ. G g(t) ωt [rad] −φ -G Figura I.1 – Função tipo senoidal. Observar que quando o ângulo de fase φ é igual a −π 2 , a função cosseno transforma-se em um seno, conforme mostra a Figura I.2, ou seja, são válidas as seguintes relações: π cos ωt = senωt + 2 π sen ωt = cosωt − 2 1 Circuitos assintoticamente estáveis são aqueles que não apresentam nenhuma das raízes de sua equação característica no eixo imaginário ou no semiplano direito do plano complexo. Neste caso, a resposta natural tende a zero: lim t →∞ y n (t ) = 0 e a resposta completa tende à sua resposta forçada: lim t →∞ y (t ) = lim t →∞ y n (t ) + y f (t ) = y f (t ) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 1 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) cos sen π/2 ω t [rad] Figura I.2 – Relação entre as funções seno e cosseno. Define-se como defasagem a diferença entre os ângulos de fases de duas funções do tipo senoidal de mesma φ2 67 8 velocidade angular ω. Sendo g1 (t ) = G1 cos (ωt + φ1 ) e g 2 (t ) = G 2 cos ωt + φ1 − α , a defasagem entre g1 (t ) e g 2 (t ) é dada por φ1 − φ 2 = φ1 − (φ1 − α ) = α , conforme ilustra a Figura I.3. g1(t) g2(t) α ω t [rad] Figura I.3 – Defasagem entre duas funções senoidais. Assim, pode-se dizer que: g1 (t ) está adiantada em relação à g 2 (t ) do ângulo α e g 2 (t ) está atrasada em relação à g1 (t ) do ângulo α. Considere a função senoidal geral: y (t ) = Ymax cos (ωt + φ ) Note que a função tem três parâmetros: (I.1) Ymax – amplitude ω – velocidade angular φ – ângulo de fase Observar que qualquer função senoidal pode ser representada através da escolha adequada de Ymax , ω e φ . Utilizando a identidade de Euler: e jθ = cos θ + j sen θ Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 2 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) y (t ) = Ymax cos(ωt + φ ) = Re[Ymax cos(ωt + φ )] [ ] [ ] = Re[Ymax cos(ωt + φ ) + jYmax sen(ωt + φ )] = Re Ymax e j (ωt +φ ) = Re Ymax e jφ e jωt = Y4 6 47 8 Ymax jφ jωt = 2 Re e e 2 y (t ) = 2 Re Y e jωt (I.2) Y onde Y = max e jφ é definido como a representação fasorial de y (t ) ou a transformada fasorial da função 2 senoidal y (t ) . ( ) Observar que a transformada fasorial transfere a função senoidal do domínio do tempo para o domínio dos números complexos, que também é chamada de domínio da freqüência, já que a resposta envolve implicitamente uma função senoidal de freqüência ω. Notar que Y contém 2/3 das informações de y (t ) a saber, Ymax e φ . Considerando Y = Ymax , o valor RMS2 2 de y (t ) , tem-se: Y = Ye jφ = Y φ (I.3) A representação gráfica em um sistema coordenado de um fasor genérico encontra-se na Figura I.4. Im Y =Y φ Y sen φ φ Re Y cos φ Figura I.4 – Representação gráfica do fasor Y Observar que o fasor é diferente de um vetor porque a posição angular do fasor representa posição no tempo; não no espaço. Resumo: 2 y (t ) = Ymax cos (ωt + φ ) ou Y = Ye jφ = Y φ Forma polar Y = Y cos φ + jY sen φ Forma retangular ( y (t ) = 2 Re Y e jωt Y Y = max 2 Ymax Y= 2 ) “Root Mean Square” ou valor quadrático médio (eficaz). Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 3 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) I.2 – Impedância [Ω Ω] e admitância [Ω Ω-1 ou siemens] A impedância Z de um componente ou circuito é a relação entre os fasores tensão e corrente (vide convenção de sinais da Figura 1.5): ∆ Z ( jω ) = V I = resistênci a = reatância R X = R + jX (I.4) A admitância Y de um componente ou circuito é o inverso de sua impedância: ∆ Y ( jω ) = 1 = I Z ( jω ) V = G + jB G = condutância B = susceptância [ i (t ) = 2 Re I e jωt Circuito linear invariante em regime permanente senoidal (I.5) ] + Z ( jω ) = [ 1 v(t ) = 2 Re V e jωt Y ] – Figura I.5 – Definição de impedância e admitância. Um resumo das relações entre tensão e corrente para os elementos simples encontra-se na Tabela I.1. Tabela I.1 – Relação tensão/corrente dos elementos simples. Elemento Equações Relação de fase i(t ) v(t ) = Vmax cos(ωt + φ ) + v(t ) R i (t ) = I max cos(ωt + φ ) Forma fasorial: [ ] 2 Re[V e ] i (t ) = 2 Re I e jωt v(t ) = i (t ) e v(t ) em fase jωt Diagrama fasorial I Relação no tempo i(t) V V = RI v(t) φ – i(t ) v(t ) = Vmax cos(ωt + φ ) + v(t ) L i (t ) = I max π cos ωt + φ − 2 V i (t ) atrasada de v(t ) de 90° i(t) V = jω L I φ X L = ωL v(t) I – i(t ) v(t ) = Vmax cos(ωt + φ ) + v(t ) C π i (t ) = I max cos ωt + φ + 2 i (t ) adiantada de v(t ) de 90° – Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner V= 1 I jωC XC = i(t) I 1 ωC Versão: 26/2/2008 v(t) V φ Página 4 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) I.3 – Associação de impedâncias Para a associação série de impedâncias (vide Figura I.6), a impedância equivalente é dada pela soma das impedâncias de cada um dos componentes, ou seja: Z eq = Z 1 + Z 2 + K + Z n (I.6) I + V1 – + + Z1 V2 – Z2 + Vn – I + Zn ≡ V Z eq V – – Figura I.6 – Diagrama para associação série de impedâncias. A expressão (I.6) pode ser demonstrada utilizando-se a Lei de Kirchhoff das Tensões, da forma como segue: V LKT V 1 + V 2 + K + V n V 1 V 2 Vn Z eq = = = + +K+ = Z1 + Z 2 +K+ Z n I I I I I 1 Sabendo que Z = , pode-se determinar a expressão da admitância equivalente da associação série, a partir Y da expressão (I.6): 1 1 1 1 1 = + +K+ ⇒ Y eq = 1 1 1 Y eq Y 1 Y 2 Yn + +K+ Y1 Y 2 Yn Para a associação paralela de impedâncias (vide Figura I.7), a impedância equivalente é dada pelo inverso da soma dos inversos das impedâncias de cada um dos componentes, ou seja: 1 1 1 1 1 = + +K+ ⇒ Z eq = (I.7) 1 1 1 Z eq Z 1 Z 2 Zn + +K+ Z1 Z 2 Zn I + V I I1 I2 In Z1 Z2 Zn – + ≡ V Z eq – Figura I.7 – Diagrama para associação em paralelo de impedâncias. A expressão (I.7) pode ser demonstrada utilizando-se a Lei de Kirchhoff das Correntes, da forma como segue: V LKC V V 1 Z eq = = = = 1 1 1 I I1 + I 2 +K+ I n V V V + +K+ + +K+ Z1 Z 2 Zn Z1 Z 2 Zn 1 Novamente, sabendo que Z = , pode-se determinar a expressão da admitância equivalente da associação Y série, a partir da expressão (I.7): Y eq = Y 1 + Y 2 + K + Y n Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 5 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) I.4 – Potência complexa Considere o sistema da Figura I.8 que se encontra em regime permanente senoidal. i (t ) Im V + v(t ) V= V max I= I max 2 SISTEMA θ φ v(t ) = Vmax cos(ωt + φ ) I i (t ) = I max cos(ωt + φ − θ ) 2 φ φ −θ Re Figura I.8 – Sistema em regime permanente senoidal. A potência instantânea fornecida para o sistema é dada por: p(t ) = v(t )i (t ) = Vmax I max cos(ωt + φ ) cos(ωt + φ − θ ) (I.8) mas cos(a + b ) = cos a cos b − sen a sen b , daí cos(ωt + φ − θ ) = cos(ωt + φ ) cos(− θ ) − sen (ωt + φ ) sen (− θ ) = cos(ωt + φ ) cos θ + sen (ωt + φ ) sen θ Substituindo (I.9) em (I.8), p (t ) = Vmax I max cos(ωt + φ )[cos(ωt + φ ) cos θ + sen (ωt + φ ) sen θ ] = = Vmax I max cos θ cos 2 (ωt + φ ) + V max I max sen θ cos(ωt + φ ) sen (ωt + φ ) 1 + cos 2a e sen 2a = 2 sen a cos a , logo: 2 1 cos 2 (ωt + φ ) = [1 + cos(2ωt + 2φ )] 2 sen (2ωt + 2φ ) cos(ωt + φ ) sen (ωt + φ ) = 2 (I.9) (I.10) Mas cos 2 a = (I.11) Aplicando (I.11) em (I.10), chega-se a: Vmax I max V I cosθ [1 + cos(2ωt + 2φ )] + max max sen θ sen (2ωt + 2φ ) 2 2 Vmax I max Definindo V = e I= como os valores eficazes da tensão e da corrente senoidais, 2 2 Vmax I max Vmax I max = = VI 2 2 2 p(t ) = chega-se à seguinte expressão: p(t ) = VI cos θ [1 + cos(2ωt + 2φ )] + VI sen θ sen (2ωt + 2φ ) (I.12) A forma de onda da potência instantânea dada por (I.12) apresenta uma parcela constante, igual a VI cos θ , e uma parcela variável e alternada variante no tempo, igual a VI cosθ cos(2ωt + 2φ ) + VI sen θ sen (2ωt + 2φ ) , cuja freqüência corresponde exatamente ao dobro da freqüência da tensão e da corrente. Quando a tensão está em fase com a corrente, os gráficos das funções tensão, corrente e potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Observar que a função potência instantânea é oscilante e apresenta sempre valores positivos. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 6 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Corrente em fase com a tensão v(t), i(t), p(t) 10 5 0 v(t) i(t) p(t) -5 0 1 2 wt 3 4 5 6 Figura I.9 – Gráfico da potência no tempo – corrente em fase com a tensão. Quando a corrente está atrasada de 90°° em relação à tensão, os gráficos das funções tensão, corrente e potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Observar que a função potência é oscilante e apresenta valor médio nulo. Corrente atrasada de 90 graus v(t), i(t), p(t) 5 0 v(t) i(t) p(t) -5 0 1 2 3 4 wt 5 6 Figura I.10 – Gráfico da potência no tempo – corrente atrasada de 90o em relação à tensão. Quando a corrente está adiantada de 90°° em relação à tensão, os gráficos das funções tensão, corrente e potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Novamente, observar que a função potência é oscilante e apresenta valor médio nulo. Corrente adiantada de 90 graus v(t), i(t), p(t) 5 0 v(t) i(t) p(t) -5 0 1 2 wt 3 4 5 6 Figura I.11 – Gráfico da potência no tempo – corrente adiantada de 90o em relação à tensão. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 7 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Uma situação intermediária é aquela na qual a corrente está atrasada de um ângulo qualquer (por exemplo, 30°, conforme Figura a seguir). Neste caso a potência apresenta valores positivos e negativos, sendo a predominância dos positivos. Corrente atrasada de 30 graus v(t), i(t), p(t) 10 5 0 v(t) i(t) p(t) -5 0 1 2 wt 3 4 5 6 Figura I.12 – Gráfico da potência no tempo – corrente atrasada de 30o em relação à tensão. A partir da expressão (I.12) é fácil determinar o valor da potência ativa (eficaz ou útil, que produz trabalho) que é igual ao valor médio da potência instantânea fornecida ao sistema: 1 T 1 T P∆ p(t )dt = [VI cosθ [1 + cos(2ωt + 2φ )] + VI sen θ sen(2ωt + 2φ )]dt T 0 T 0 [W] (I.13) P = VI cos θ ∫ ∫ A potência reativa corresponde ao valor máximo da parcela em sen(2ωt + 2φ ) da potência instantânea: [var] (I.14) Q ∆ VI sen θ = VI sen θ para a qual adota-se a seguinte convenção3: INDUTOR: “consome” potência reativa CAPACITOR: “gera” potência reativa A potência aparente é obtida pela combinação das potências ativa e reativa P e Q: S = VI = P 2 + Q 2 [VA] (I.15) As expressões (I.13), (I.14) e (I.15) sugerem uma relação de triângulo retângulo (similar ao triângulo das impedâncias) na qual a potência aparente S é a hipotenusa, conforme ilustra a Figura I.13. S P jQ θ = ∠V − ∠ I θ = ∠V − ∠ I jQ S P Característica INDUTIVA Característica CAPACITIVA Figura I.13 – Triângulo das potências. 3 Observar que para qualquer elemento ou combinação de elementos, a parcela representada pela potência reativa apresenta valor médio nulo, ou seja, não existem geração nem consumo efetivo, na metade do ciclo o elemento absorve energia que será devolvida na metade seguinte do ciclo. A convenção é adequada porque na metade do ciclo em que o indutor está absorvendo energia o capacitor está devolvendo e vice-versa. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 8 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) O fator de potência é obtido pela relação entre as potências ativa e aparente: FP = P VI cosθ = = cosθ S VI Utilizando-se os fasores tensão e corrente, V =V φ I = I φ −θ pode-se definir a potência complexa através do produto do fasor tensão pelo conjugado do fasor corrente: * S = V ⋅ I = V φ I − φ + θ = VI θ = VI cosθ + jVI senθ = P + jQ (I.16) Notar que desta forma, o ângulo da potência só depende do ângulo entre a tensão e a corrente (θ), conforme ocorre nas expressões (I.13), (I.14) e (I.15). I.5 – Sentido do fluxo de potência Considere os dois sistemas elétricos interligados mostrados na Figura I.14. I V =V α + SISTEMA A SISTEMA B V I =I β - Figura I.14 – Situação geral do fluxo de potência em circuitos CA. De acordo com a notação da Figura I.14, a potência complexa fornecida para o Sistema B pelo Sistema A é dada por: S = V ⋅ I = V α I − β = VI α − β = VI cos(α − β ) + jVI sen(α − β ) = P + jQ * O sentido do fluxo de potência ativa P e reativa Q entre os dois sistemas para ψ = α − β variando de 0 a 360o está mostrado na Figura I.15. V =V α Q [var] P: Q: B → A → 90 < ψ < 180 o P: Q: B → B → P: Q: A B o A A 180 o < ψ < 270 o A → B A → B I=I β ψ =α − β 0 o < ψ < 90 o P: Q: A → B → B A P [W] 270 o < ψ < 360 o Figura I.15 – Sentido dos fluxos de potência ativa (P) e reativa (Q) entre os Sistemas A e B. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 9 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Na Figura I.15, observar que quando o ângulo de abertura é igual a 100o (ψ = 100 o ), o valor de cosψ é negativo e, portanto, o fluxo de potência ativa de A para B também é pois P = VI cosψ . Isto significa que o fluxo de potência ativa neste caso é de B para A. Por outro lado, o valor de sen ψ é positivo e, portanto, o fluxo de potência reativa de A para B também é, pois Q = VI senψ . Isto significa que o fluxo de potência reativa neste caso é de A para B. Observar que dependendo do ângulo de abertura existente entre os fasores tensão e corrente é possível qualquer combinação de fluxo de potências ativa e reativa entre os dois sistemas. I.6 – Fonte trifásica ideal Uma fonte trifásica ideal é constituída por três fontes de tensão em conexão estrela ou triângulo, conforme ilustra a Figura I.16. V AN + A + V BN B + V CN C + + – V AB – + V CA V BC – N – + V AB V AB – + V CA + + V CA V BC V BC + – + N (opcional) (a) Conexão estrela (b) Conexão triângulo. Figura I.16 – Fonte trifásica, ligação estrela. As diferenças de potencial entre as fases e o neutro (referência) são denominadas tensões de fase; as diferenças de potencial entre as fases 2 a dois são denominadas tensões de linha. Na seqüência ABC, o sistema é formado pelas seguintes tensões de fase V AN ,V BN ,V CN e de linha (V AB ( ) ) = −V BA ,V BC = −V CB ,V CA = −V AC , ilustradas na Figura I.17: V AN = Vφ 0 V AB = V AN − V BN = 3Vφ 30 o = V L 30 o V BN = Vφ − 120 o V BC = V BN − V CN = 3Vφ − 90 o = V L − 90 o V CN = Vφ 120 o V CA = V CN − V AN = 3Vφ 150 o = VL 150 o ω V CN V CA V CB ω V AN V BC V CA V CN V AB V AB V AN V BN Tensões de Fase (φ): V AN ; V BN ; V CN V BA Tensões de Linha (L): V AC V BN V AB ; V BC ; V CA V BA ; V CB ; V CA V BC Figura I.17 – Tensão de fase e de linha em um sistema trifásico simétrico (seqüência ABC). Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 10 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) ( A constante que relaciona a magnitude da tensão de fase com a de linha VL = 3Vφ ) pode ser obtida, conforme mostrado na Figura I.18. − V BN 60 o V L = V AB = 2 V AN cos 30 o = 3 V AN V 30 o 120 o AN V L = 3Vφ V AB = V AN − V BN 30 o V BN Figura I.18 – Relação entre as tensões de fase e de linha. I.7 – Carga trifásica ideal A carga trifásica ideal é constituída por três impedâncias de igual valor conectadas em estrela ou triângulo, conforme mostra a Figura I.19. A B ZY A ZY B ZY C C Z∆ Z∆ Z∆ N N (a) Ligação estrela. (b) Ligação malha ou triângulo. Figura I.19 – Carga trifásica equilibrada. A equivalência entre uma carga equilibrada conectada em estrela com outra em triângulo é: Z ∆ = 3Z Y (I.17) I.8 – Potência complexa em circuitos trifásicos equilibrados Para um sistema trifásico qualquer (a três ou quatro fios, ou seja, com ou sem condutor neutro), conforme o ilustrado na Figura I.20, a potência complexa fornecida pelo Sistema A para o Sistema B é dada por: * * * S 3φ = V 1N ⋅ I 1 + V 2 N ⋅ I 2 + V 3 N ⋅ I 3 = V1N I1 α 1 − β1 + V2 N I 2 α 2 − β 2 + V3 N I 3 α 3 − β 3 Substituindo θ i = α i − β i e separando a parte real da imaginária, chega-se a: ( ) = Im(S ) = V P3φ = Re S 3φ = V1N I1 cosθ1 + V2 N I 2 cosθ 2 + V3 N I 3 cosθ 3 Q3φ S 3φ 3φ θ + V2 N I 2 sen θ 2 + V3 N I 3 sen θ 3 1N I 1 sen 1 = P3φ + jQ3φ Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 11 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) V 1N + V 2N + N φ1 I1 φ2 I2 φ3 I3 V 1N = V1N α 1 V 2 N = V2 N α 2 V 3 N = V3 N α 3 I 1 = I1 β 1 V 3N + Sistema B I 2 = I2 β2 I 3 = I3 β3 IN Sistema A θ1 = α1 − β1 θ2 =α2 − β2 θ3 =α3 − β3 Figura I.20 – Sistema trifásico para a determinação da potência complexa. O fator de potência médio da potência fornecida pelo Sistema A para o Sistema B é dado por: P3φ FPmédio = S 3φ As potências aparentes fornecidas pelas fases são dadas por: S1 = P12 + Q12 = V1N I1 S2 = P22 + Q22 = V2 N I 2 S3 = P32 + Q32 = V3 N I 3 e os fatores de potência desenvolvidos em cada uma das fases são dados por: P FP1 = 1 = cosθ1 S1 P2 FP2 = = cosθ 2 S2 P3 FP3 = = cosθ 3 S3 Quando o sistema trifásico é simétrico e alimenta uma carga equilibrada, os ângulos de defasagem entre os fasores tensão e corrente das fases são iguais (θ 1 = θ 2 = θ 3 = θ ) e as potências ativa, reativa e aparente totais são dadas por: P3φ = 3Vφ I L cosθ = 3VL I L cosθ Q3φ = 3Vφ I L senθ = 3VL I L senθ S 3φ = 3Vφ I L = 3VL I L sendo o fator de potência expresso por: FP3φ = P3φ S 3φ = cosθ Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 12 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Ainda, para um sistema trifásico simétrico alimentando uma carga equilibrada, tem-se4: v A (t ) = Vmax cos(ωt + φ ) ( ( v B (t ) = Vmax cos ωt + φ − 120 vC (t ) = Vmax cos ωt + φ + 120 o o ) ) i A (t ) = I max cos(ωt + φ − θ ) ( ( i B (t ) = I max cos ωt + φ − 120 o − θ iC (t ) = I max cos ωt + φ + 120 o − θ ) ) Utilizando a definição de potência instantânea, tem-se: p A (t ) = v A (t )i A (t ) = Vmax I max cos (ωt + φ ) cos (ωt + φ − θ ) ( ) ( cos(ωt + φ + 120 )cos(ωt + φ + 120 (I.18) ) −θ ) p B (t ) = v B (t )iB (t ) = Vmax I max cos ωt + φ − 120 cos ωt + φ − 120 − θ pC (t ) = vC (t )iC (t ) = Vmax I max o o o o (I.19) (I.20) sendo a potência total dada por: p3φ (t ) = p A (t ) + p B (t ) + pC (t ) [ ( + cos(ωt + φ + 120 )cos(ωt + φ + 120 − θ )] ) ( ) p3φ (t ) = Vm I m cos(ωt + φ ) cos(ωt + φ − θ ) + cos ωt + φ − 120 o cos ωt + φ − 120 o − θ + o o (I.21) Das expressões (I.18), (I.19) e (I.20), têm-se5: cos(ωt + φ )cos(ωt + φ − θ ) ( ) ( cos ωt + φ − 120 o cos ωt + φ − 120 o − θ = ) = = ( ) ( cos ωt + φ + 120 o cos ωt + φ + 120 o − θ ) = = 1 [cosθ 2 1 cos θ 2 1 cos θ 2 1 cos θ 2 1 cos θ 2 [ [ [ [ + cos(2ωt + 2φ − θ )] ( )] + cos(2ωt + 2φ − θ + 120 )] + cos(2ωt + 2φ + 240 − θ )] = + cos(2ωt + 2φ − θ − 120 )] + cos 2ωt + 2φ − 240 o − θ = o o o Substituindo as expressões anteriores na expressão (I.21), chega-se a: = 0 44444444444448 644444444444447 1 o o p3φ (t ) = Vm I m 3 cosθ + cos(2ωt + 2φ − θ ) + cos 2ωt + 2φ − θ + 120 + cos 2ωt + 2φ − θ − 120 = 2 Vm I m 1 = Vm I m 3 cosθ = 3 cosθ = 3P1φ = 3VI cosθ 2 2 ( ) ( ) Deste modo, a potência trifásica instantânea fornecida para um sistema equilibrado6, através de tensões simétricas, é constante. Assim, embora a potência instantânea fornecida por intermédio de cada uma das fases seja variável, o somatório de todas as contribuições é constante. 4 Foi utilizada a seqüência ABC mas o resultado permanece válido para a seqüência ACB. 1 5 Lembrar que: cos a cos b = [cos(a − b ) + cos(a + b )] 2 6 Observar que o resultado obtido pode ser estendido para qualquer sistema polifásico simétrico que alimente cargas equilibradas, ou seja, a potência polifásica instantânea fornecida para um sistema equilibrado, alimentado por tensões simétricas, é constante. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 13 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) I.9 – Análise por fase e diagrama unifilar No estudo do regime permanente do sistema de energia elétrica, utiliza-se a análise por fase pois o sistema é considerado equilibrado, da geração ao consumo, ou seja: a) as fontes do sistema são consideradas simétricas; b) as impedâncias das fases são consideradas iguais e c) as cargas são consideradas equilibradas. Desta forma, o resultado (tensão, corrente, etc.) de uma fase pode ser utilizado para as demais desde que se façam os ajustes de fase necessários. Exemplo I.1 – Uma fonte trifásica, 2400 V, seqüência ABC, alimenta duas cargas conectadas em paralelo: • Carga 1: 300 kVA, fator de potência igual a 0,8 indutivo e • Carga 2: 144 kW, fator de potência igual a 0,6 capacitivo. Se a Fase A é utilizada como referência angular (ou seja, o ângulo de fase de V AN é igual a zero), determinar: a) O circuito equivalente por fase (diagrama de impedância). b) As correntes de linha das Fases A, B e C. Solução Exemplo I.1: a) Inicialmente, determina-se o fasor potência complexa referente a cada uma das cargas: Carga 1: 1 S 3carga = 300 kVA φ 1 1 P3carga = FP1 × S 3carga = 0,8 × 300 = 240 kW φ φ (S 1 Q3carga = φ carga 1 S 3φ Carga 2: ) − (P carga 1 2 3φ ) carga 1 2 3φ = 300 2 − 240 2 = 180 kvar = (240 + j180) kVA = 300 36,9 o kVA 2 P3carga = 144 kW φ 2 S 3carga = φ 2 P3carga φ FP2 ( = 144 = 240 kVA 0,6 2 2 Q3carga = − S 3carga φ φ carga 2 S 3φ ) − (P 2 ) carga 2 2 3φ = 240 2 − 144 2 = −192 kvar = (144 − j192) kVA = 240 − 53,1o kVA Para a Fase A, tem-se: carga 1 Carga 1: SA = 1 S 3φ 3 Carga 2: SA = 2 S 3φ 3 carga 2 = (80 + j 60 ) kVA = 100 36,9 o kVA = (48 − j 64 ) kVA = 80 − 53,1o kVA Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 14 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Solução Exemplo I.1 (continuação): Conhecendo o valor da tensão de fase da Fase A, V AN = VL 0o = 3 2400 3 0 o V , e a expressão da potência desenvolvida na Fase A: * SA IA = V AN pode-se determinar a corrente desenvolvida nas Cargas 1 e 2, como segue: * S A = V AN I A 1 IA S 1A = V AN S 2A I = V AN 2 A ⇒ * * * * 100000 36,9 o = 72,2 − 36,9 o A = (57 ,74 − j 43,30) A = o 2400 0 3 80000 − 53,1o = 57,7 53,1o A = (34,64 + j 46,19) A = o 2400 0 3 Para o equivalente em estrela, 2400 0o 1 V AN 3 ZY = 1 = = 19,2 36,9 o Ω = (15,36 + j11,52 ) Ω o 72,2 − 36,9 IA 2 ZY = V AN 2 IA = 2400 3 0o 57,7 − 53,1 o = 24 − 53,1o Ω = (14,4 − j19,2 ) Ω O circuito equivalente para a Fase A encontra-se na Figura I.21. 2 IA IA 2400 3 + 0o V 15,36 Ω 14,4 Ω j11,52 Ω − j19,2 Ω 1 IA Figura I.21 – Circuito equivalente para a Fase A. b) De acordo com o diagrama da Figura I.21, a corrente de linha da Fase A é dada por: I A = I A + I A = 57 ,74 − j 43,30 + 34,64 + j 46,19 = (92,38 + j 2,89 ) A = 92,4 1,8 o A 1 2 Levando em conta a simetria do sistema trifásico e a seqüência ABC, tem-se: I B = 92,4 1,8o − 120 o A = 92,4 − 118,2 o A I C = 92,4 1,8 o + 120 o A = 92,4 121,8 o A Observar que quando se realiza análise por fase é melhor empregar o circuito equivalente em estrela; se a conexão do equipamento é em triângulo, pode-se converter para o seu circuito equivalente em estrela. Como conseqüência, as linhas de baixo dos circuitos equivalentes por fase representam o neutro, as tensões são as de fase e as correntes são de linhas (na conexão estrela, a corrente de fase é igual à corrente de linha). Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 15 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Na Figura I.22, observa-se a representação de um sistema de energia elétrica através do diagrama unifilar, do diagrama trifásico (trifilar) de impedâncias e do diagrama de impedância por fase. No diagrama unifilar é possível representar a topologia do sistema (ligações), os valores das grandezas elétricas dos componentes e sua forma de conexão. O diagrama trifilar de impedâncias representa o circuito elétrico equivalente ao sistema de energia elétrica. O diagrama de impedância por fase representa uma simplificação do diagrama trifásico sendo utilizado para determinar os valores das grandezas elétricas do sistema para uma fase (posteriormente, este resultado é estendido para as demais fases). Gerador Linha de Transmissão Transformador 1 Carga e Gerador 2 Transformador 2 4 1 2 T1 3 T2 G1 G2 Y-Y Y-Y (a) Diagrama unifilar. • • • • • • • G2 G1 • • • • • • • • G1 G2 • • • • • • • • • • • • • • • • G1 G2 • • • • • • • • • • • (b) Diagrama trifilar de impedância. • • • G1 G2 • • • (c) Diagrama de impedância por fase (em pu). Figura I.22 – Representação do sistema de energia elétrica. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 16 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Exercício I.1 – Uma fonte trifásica, 13,8 kV, seqüência ABC, alimenta por intermédio de uma linha com impedância série de (4 + j 4 ) Ω , duas cargas conectadas em paralelo: • Carga 1: 500 kVA, fator de potência igual a 0,8 indutivo e • Carga 2: 150 kvar, capacitivo. Se a Fase A é utilizada como referência angular (ou seja, o ângulo de fase de V AN é igual a zero), determinar: a) O circuito equivalente por fase (diagrama de impedância). b) As correntes de linha das Fases A, B e C. I.10 – O sistema por unidade (pu) Freqüentemente, na análise de sistemas de energia elétrica ao invés de serem utilizadas as unidades originais para as grandezas envolvidas (tensão, corrente, potência, etc.) são utilizadas unidades relativas (por unidade ou, simplesmente, pu), obtidas através da normalização dos valores originais destas grandezas (em V, A, W, etc.) por valores pré-estabelecidos para cada grandeza, denominados valores de base. Realizando esta normalização em todas as grandezas do sistema, é possível: • Manter os parâmetros do sistema elétrico dentro de uma faixa de valores conhecidos evitando, portanto, erros grosseiros. Por exemplo, quando se utiliza o valor nominal da tensão como valor de referência (valor de base), pode-se verificar a partir do valor normalizado da tensão (em pu) sua distância do valor desejado (nominal). Valores em pu próximos a unidade significam proximidades do valor nominal; valores de tensão muito abaixo ou acima de 1 pu representam condições anormais de operação. • Eliminar todos os transformadores ideais do sistema elétrico. • A tensão de operação do sistema permanece sempre próxima da unidade. • Todas as grandezas possuem a mesma unidade ou pu (embora os valores de base sejam diferentes para cada uma das grandezas). Para realizar a transformação das grandezas para pu basta dividir o valor destas pelo seu valor de base, ou seja: valor em pu = valor atual valor base (I.22) O valor de base deve ser um número real; o valor atual pode ser um número complexo (se for utilizada a forma polar, transforma-se apenas a magnitude da grandeza, mantendo-se o ângulo na unidade original). A grandeza de base definida para todo o sistema de energia elétrica é a potência elétrica, S 3φbase (geralmente 100 MVA): Sφbase = S 3φbase 3 ⇔ S 3φbase = 3Sφbase [MVA] (I.23) A tensão base, Vbase , geralmente corresponde à tensão nominal do sistema na região de interesse: Vφ base = V L base 3 ⇔ V L base = 3Vφ base [kV] (I.24) A corrente base, I base , e a impedância base, Z base , são obtidas a partir da potência e da tensão de base: S 3φ base Sφ base S 3φ base I L base = I Y base = = 3 = [kA] (I.25) VL base Vφ base 3VL base 3 Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 17 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) I ∆ base = I L base Z Y base = Vφ base 3 I Y base = = S 3φ base 3V L base V L2base S 3φ base Z ∆ base = 3Z Y base = 3 Vφ base I Y base =3 VL2base S 3φ base [kA] (I.26) [Ω] (I.27) [Ω] (I.28) Têm-se, assim, duas classes de grandezas de base: • Primárias – Nesta classe se incluem a potência base, definida para todo o sistema, e a tensão base, que varia em função da tensão nominal da região em análise. • Secundárias – Nesta classe se incluem a corrente base e a impedância base que são calculadas em função da potência base (definida para todo o sistema) e dos valores nominais de tensão, utilizados como tensão base na região em análise. Existem outras formas de normalização possível, com definições diversas de grandezas nas classes grandezas primárias e secundárias, entretanto esta é a forma usual na análise de sistemas de energia elétrica. Uma operação bastante freqüente na modelagem de sistemas elétricos é a mudança de base de valores de impedâncias. Um exemplo clássico da necessidade de mudança de base é a compatibilização do valor das impedâncias dos transformadores, usualmente fornecidos em seu valor percentual, tendo como potência base a potência nominal do equipamento e como tensões base as tensões terminais dos enrolamentos. Para realizar a mudança de base de uma impedância na base 1, Z pu (base 1) , para a base 2, Z pu (base 2 ) , deve-se proceder como segue: Z (I.29) Z pu (base 2 ) = Z pu (base 1) base 1 Z base 2 2 V S 3φ base 2 Z pu (base 2 ) = Z pu (base 1) L base 1 V L base 2 S 3φ base 1 (I.30) Exemplo I.2 – Considere o sistema do Exemplo I.1. Supondo que S 3φbase = 300 kVA e V L base = 2,4 kV , determinar: a) As bases do sistema por unidade. b) Desenhar o circuito equivalente por fase em valores por unidade. c) Determinar o fasor corrente da Fase A em valores por unidade e em ampères. Solução Exemplo I.2: a) Utilizando as expressões (I.23), (I.24), (I.25) e (I.27) tem-se: S 3φbase 300000 Sφbase = = = 100 kVA 3 3 V 2400 Vφ base = L base = = 1386 V 3 3 Sφ base 100000 I Y base = = = 72,2 A Vφ base 1386 Z Y base = Vφ base I Y base = 1386 = 19,2 Ω 72,2 Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 18 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Solução Exemplo I.2 (continuação): b) De acordo com os valores obtidos no Exemplo I.1, tem-se: 1 19,2 36,9 o 1 ZY Z Y pu = = = 1 36,9 o pu = (0,8 + j 0,6 ) pu Z Y base 19,2 24 − 53,1o 2 2 ZY pu = ZY = Z Y base 19,2 = 1,25 − 53,1o pu = (0,75 − j1,00 ) pu 2400 o 0 V AN 3 V AN pu = = = 1 0o pu = (1 + j 0 ) pu Vφ base 1386 O circuito equivalente por fase em valores por unidade encontra-se na Figura I.23. 2 I A pu I A pu + o 1 0 pu 0,8 pu 0,75 pu j 0,6 pu − j1,00 pu 1 I A pu Figura I.23 – Circuito equivalente para a Fase A em pu. c) Do circuito da Figura I.23, tem-se: 1 0o 1 I A pu = = 1 − 36,87 o pu = (0,8 − j 0,6 ) pu 0,8 + j 0,6 2 I A pu = 1 0o 0,75 − j1,00 = 0,8 53,13o pu = (0,48 + j 0,64) pu I A pu = I A pu + I A pu = 0,8 − j 0,6 + 0,48 + 0,64 = 1,28 1,8o pu = (1,28 + j 0,04) pu 1 2 I A = I A pu I Y base = 1,28 1,8 o × 72,2 = 92,4 1,8o A = (92,38 + j 2,89 ) A Observar que o valor obtido em ampères é o mesmo calculado no Exemplo I.1. Exemplo I.3 – A Figura I.24 mostra o diagrama unifilar de um sistema elétrico trifásico. 1 1000 A T1: N 2 : N 1 2 3 ′ T2: N 1 : N 2 ′ 4 G1 2,4 kV 24 kV Y-Y 12 kV Y-Y Figura I.24 – Diagrama unifilar do Exemplo I.3. Considere que o comprimento da linha entre os dois transformadores é desprezível, que a capacidade do gerador 3φ é de 4160 kVA (2,4 kV e 1000 A), que este opera em condição nominal (I L = 1000 A ) alimentando uma carga puramente indutiva. A potência nominal do transformador trifásico T1 é 6000 kVA (2,4/24 kV Y/Y) com reatância de 0,04 pu. T2 tem capacidade nominal de 4000 kVA, sendo constituído por um banco de três transformadores monofásicos (24/12 kV Y/Y) com reatância de 4% cada. Determinar: Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 19 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) a) A potência base. b) A tensão de linha base. c) A impedância base. d) A corrente base. e) Resuma os valores base em uma tabela. f) Os valores das correntes em A. g) A corrente em pu. h) O novo valor das reatâncias dos transformadores considerando sua nova base. i) O valor pu das tensões das Barras 1,2 e 4. j) A potência aparente nas Barras 1,2 e 4. Solução Exemplo I.3: a) A potência base é selecionada arbitrariamente como: S 3φ base = 2080 kVA . b) Para o circuito em 2,4 kV arbitra-se o valor de VL base = 2,5 kV . As demais tensões de base são calculadas utilizando as relações de transformação de T1 e T2: ′ N1 =2 ′ N2 Assim, para os demais circuitos: Circuito em 24 kV: VL Circuito em 12 kV: VL N1 = 10 N2 base base = 25 kV = 12,5 kV c) As impedâncias de base são calculadas a partir dos valores base da potência e da tensão: V2 2500 2 Circuito em 2,4 kV: Z Y base = L base = = 3,005 Ω S 3φ base 2080000 Circuito em 24 kV: Z Y base = VL2base 25000 2 = = 300,5 Ω S 3φ base 2080000 Circuito em 12 kV: Z Y base = VL2base 12500 2 = = 75,1 Ω S 3φ base 2080000 d) As correntes de base são calculadas a partir dos valores base da potência e da tensão: S 3φ base 2080000 Circuito em 2,4 kV: I L base = = = 480 A 3VL base 3 2500 Circuito em 24 kV: I L base = S 3φ base I L base = S 3φ base 3VL base = 2080000 = 2080000 3 25000 = 48 A = 96 A 3VL base 312500 Caso fossem escolhidos outros valores base nos itens (a) e (b), os valores calculados para a impedância e corrente base poderiam ser diferentes dos valores obtidos nos itens (c) e (d). Circuito em 12 kV: Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 20 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Solução Exemplo I.3 (continuação): e) Os valores base estão sumarizados na Tabela I.2. VL NOMINAL Tabela I.2 – Valores base do Exemplo I.3. [kV] V L base [kV ] 2,4 24 12 ZY 2,5 25 12,5 base [Ω] IL 3,005 300,5 75,1 S 3φ base base [A] 480 48 96 = 2080 kVA f) Conhecendo-se a corrente que sai do gerador I L = 1000 A , pode-se determinar os valores das correntes que circulam na linha e na carga: N 1 24 kV 2 , 4 kV Circuito em 24 kV: IL = 2 IL = 1000 = 100 A N1 10 ′ N 2 12 , 5 kV 24 kV Circuito em 12 kV: IL = 1 IL = 100 = 200 A ′ 1 N2 2, 4 kV g) A corrente por unidade é a mesma para todos os circuitos: 2 , 4 kV Circuito em 2,4 kV: I L pu I 1000 = L2, 4 kV = = 2,08 pu 480 I L base I L pu I 100 = L24 kV = = 2,08 pu 48 I L base 24 kV Circuito em 24 kV: 12 ,5 kV I 200 I L pu = L12,5 kV = Circuito em 12 kV: = 2,08 pu 96 I L base Observar que o valor em pu obtido neste item poderia ser outro caso fossem escolhidos outros valores de base nos itens (a) e (b). h) Utilizando a expressão de conversão de base, considerando que os dados do transformador se encontram na base deste (base 1: valores nominais de potência e tensão), tem-se: 2 2 V S 3φ base 2 2400 2080000 Z pu (T1) = Z pu (base 1) L base 1 = j 0,04 = j 0,0128 pu 2500 6000000 VL base 2 S 3φ base 1 2 2 V S 3φ base 2 12000 2080000 Z pu (T2 ) = Z pu (base 1) L base 1 = j 0,04 = j 0,0192 pu 12500 4000000 V L base 2 S 3φ base 1 Verificar que o resultado é o mesmo para o lado de alta tensão. i) A Figura I.25 apresenta o diagrama de impedância por fase do sistema da Figura I.24, indicando os fasores tensão de interesse. I = 2,08 pu 1 2 • • + Z T1 = j 0,0128 pu + G1 V1 V2 – – 3 4 • • + Z T2 = j 0,0192 pu + V3 V4 – – Figura I.25 – Diagrama de impedância por fase (em pu) do sistema da Figura I.24. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 21 de 22 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Solução Exemplo I.3 (continuação): Para o gerador, que opera em tensão nominal, tem-se: o VL NOMINAL 2400 0 V1 = = = 0,96 0 o pu VL base 2500 Considerando que a corrente que circula no circuito está atrasada de 90o em relação à tensão (pois o circuito é constituído exclusivamente por reatâncias indutivas): V 2 = V 3 = V 1 − Z T 1 I = 0,96 0 o − j 0,0128 × 2,08 − 90 o = 0,93 0 o pu ( ) V 4 = V 2 − Z T 2 I = V 1 − Z T 1 + Z T 2 I = 0,96 0 o − ( j 0,0128 + j 0,0192) × 2,08 − 90 o = 0,89 0 o pu j) A potência complexa pode ser obtida a partir dos fasores tensão e corrente: [ * ] * S 1 = V 1 I 1 = 0,96 0o 2,08 − 90o = 2,00 90o pu S2 = S3 =V * * 2I2 [ ] * = 0,93 0 o 2,08 − 90o = 1,93 90 o pu [ ] * S 4 = V 4 I 4 = 0,89 0 o 2,08 − 90 o = 1,85 90o pu ⇒ S1 = 2,00 pu ⇒ S 2 = 1,93 pu ⇒ S 4 = 1,85 pu Observar que a potência aparente entregue pelo gerador é de 2,00 pu e que na carga chega é de 1,85 pu, sendo a diferença “consumida”7 pelas reatâncias dos transformadores. Exercício I.2 – Considere o sistema do Exercício I.1. Supondo que S 3φbase = 100 kVA e VL base = 13,8 kV , determinar: a) As bases do sistema por unidade. b) Desenhar o circuito equivalente por fase em valores por unidade. c) Determinar o fasor corrente da Fase A em valores por unidade e em ampères. 7 De acordo com a convenção de sinais para potência reativa, os indutores consomem e os capacitores geram. Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 22 de 22