Faculdade de Economia do Porto 1 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise Money, Credit and Real Business Cycle (By Robert G. King and Charles I. Plosser) – Uma análise Alberto Ippolito, Faculdade de Economia do Porto Bráulio André Bessa e Sousa de Araújo Pinto, Faculdade de Economia do Porto Fernando Delindro, Faculdade de Economia do Porto João Antunes do Carmo, Faculdade de Economia do Porto Vítor Hugo Santos Rodrigues Oliveira, Faculdade de Economia do Porto Resumo: Surge como seguimento ao estudo realizado por Kydland e Prescott (1982) em que se explicam as flutuações dos agregados em múltiplos períodos, só com variáveis reais. Explicamse as correlações entre produto e tecnologia. Sargent e Wallace (1975) estendem King e Plosser (1984), no sentido de introduzir moeda de forma a comparar duas políticas monetárias nomeadamente, o controlo da taxa de juro nominal ou o controlo da quantidade de moeda. 1 Introdução A macroeconomia dinâmica lida com dois tipos de dinâmica económica, a de longo prazo e a de curto prazo. Sendo a de curto prazo a Teoria dos Ciclos Económicos, empiricamente situada no âmbito da análise da conjuntura económica, é o caso deste trabalho. É um trabalho de equilíbrio geral e expectativas racionais no sentido de melhoria em relação a expectativas adaptativas “Backward Looking”. Quando se refere “equilíbrio geral” estamos no âmbito da economia neoclássica, que vem inserida no objectivo de explicar o comportamento da procura, oferta e dos preços numa economia com mais do que um mercado, começando por se entender a dinâmica de equilíbrio ao estudar os diferentes mercados de forma individual assim como as escolhas dos agentes económicos. O objectivo traduz-se em provar que existem preços de equilíbrio para os bens e que todos esses preços estão em equilíbrio. Consideram-se os preços actuais como preços em desequilíbrio, sendo os preços de equilíbrio os de longo prazo. As expectativas racionais são mecanicamente ajustadas de acordo com os erros das expectativas passadas comparadas com a realidade. Expectativas racionais também chamadas de “Forward looking” (“a olhar para o futuro”). Implica um comportamento racional dos indivíduos e empresas numa situação dinâmica com incerteza relativamente ao futuro, informação imperfeita e custos para obter informação. Considera-se impossível que os agentes económicos sejam sistematicamente enganados por uma política monetária expansionista. Esta hipótese é a aplicação à macroeconomia do princípio das expectativas racionais de Muth (1961) em equilíbrio parcial, posteriormente Lucas (1972) com expectativas racionais em equilíbrio geral (preços em equilíbrio). Assim no curto prazo, uma política monetária expansionista levará ao Faculdade de Economia do Porto 2 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise aumento do produto, mas um aumento continuado e sustentado no tempo levará a inflação pois os agentes passam a antecipar os efeitos da Política Monetária. Lucas (1975) apresenta pressupostos alternativos em relação à Teoria Keynesiana: Em primeiro lugar o mercado está a cada momento num equilíbrio competitivo, as expectativas dos agentes económicos são racionais no sentido de Muth (1961), ou seja, os agentes utilizam toda a informação disponível da melhor forma possível, podem no entanto cometer erros nas suas previsões, e por último existe informação incompleta, para além do facto de o futuro ser incerto o que significa que nenhum agente detém toda a informação sobre o estado da economia. (retirado de, “An Equilibrium Model of The Business Cycle – Uma análise”, José Pedro Borges Coelhoso Pereira Fique, Ivo Daniel Silva Couto, Faculdade de Economia do Porto). Neste trabalho, os autores vêm os ciclos económicos como um resultado do aproveitamento de oportunidades que surgem de mudanças de política/direcção da despesa pública, do enquadramento/regras fiscais, de condições tecnológicas e do contexto económico, ou seja, choques de ordem real explicam em grande medida os ciclos económicos). Os modelos que explicaram os ciclos económicos só com base neste paradigma (quadro conceptual) estão incompletos ou errados pois não relacionam com o geralmente aceite mas pouco explicado facto de que existe correlação entre a quantidade de moeda e a actividade real (Money, Credit and Real Business Cycle (By Robert G. King and Charles I. Plosser, pg. 363) Assim o modelo inclui “Money and Banking” (moeda) como factores explicativos na Teoria dos Ciclos Económicos, pois, assumindo ausência de política monetária por parte do Banco Central em resposta do ciclo económico, moeda emitida pelo Banco Central deveria não estar correlacionado com a actividade económica real. Este trabalho, assim como a generalidade dos trabalhos relacionados com a corrente PósKeynesiana que estuda a Teoria dos Ciclos Económicos Reais não aceitam que os ciclos económicos sejam uma “Falha de Mercado” no sentido de os preços não estarem em equilíbrio, mas sim que um choque de ordem real determina o ciclo económico. Por conseguinte, em cada momento de tempo, os agentes respondem eficientemente em cada fase do ciclo económico dados determinados choques externos reais. Faculdade de Economia do Porto 3 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise A escola Pós-Keynesiana tem duas correntes de investigação segundo os autores: ou se torna a oferta de moeda endógena através de um sistema bancário (como é o caso deste trabalho) ou através de um banco central que responde à qualquer procura por moeda. Os autores descreveram um modelo simples capaz de gerar ciclos económicos reais. Usado para discutir correlações entre a Base Monetária e Actividade Real. Com dinheiro fiduciário (sendo denominado no trabalho como “Outside Money”) incluindo a relação entre quantidade de moeda, output e preços num sistema bancário supervisionado/regulado e noutro não. Por último discutem as implicações da teoria e analisam o caso dos EUA do pós-guerra, comparando depois o modelo com dados empíricos. Encontra-mos coincidências no significado de “Inside Money” com o agregado monetário M1 e “Outside Money” com o agregado monetário M0. 2 O Modelo Apresentam um modelo no qual os ciclos económicos nascem como consequência das escolhas inter-temporais dos agentes económicos. Assim, em cada momento (t) os agentes tentam maximizar o bem-estar, dada a sua expectativa sobre (t+1). O modelo apresenta dois sectores produtivos, um sector que produz bens intermédios, nomeadamente um sector financeiro, que presta “serviços de transacção”, utilizados pelas empresas e pelo consumidor final e um outro que produz bens finais. O outro sector que transforma os inputs em bens de consumo final, sendo que a produção deste sector é aleatória no sentido de que pode servir para consumo ou como input para produção futura. Função da Indústria de Bens de Consumo Final: Quantidade de capital, medido em unidades de matéria-prima utilizados na produção, no momento t. momento t. Quantidade de Trabalho, medido em horas de trabalho aplicado à produção no Quantidade de serviços de transacção usado no sector produtivo. e referem-se a choques externos, com valor médio esperado igual a 1, neutrais relativamente aos factores de produção. O primeiro afecta a produção que se espera obter em t+1 e consequentemente afecta as decisões de produção no presente; o segundo choque altera inesperadamente a produção em “t+1”. No sentido de número de créditos criados dentro do sector privado. Assumem-se rendimentos marginais decrescentes para todos estes factores produtivos e rendimentos constantes à escala. A economia funciona com as empresas industriais e produtoras de bens de consumo final a venderem produção futura (constituindo “Claims”), utilizando esses ganhos para o pagamento dos factores de produção mencionados e assim Faculdade de Economia do Porto 4 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise produzir. Portanto, expectativas positivas futuras, irão fazer “hipotecar” produção futura das empresas para produzir mais hoje e parte desse montante será investido prolongando os efeitos positivos no tempo, no entanto, o contrário também será verdade. Os preços de compra dos factores de produção são, segundo o modelo (trabalho), (capital) e (serviços de transacção). Por conseguinte a empresa vende um direito por unidade de produto resultante da produção, o que tudo somado constitui um “share” da empresa. E se o preço de mercado for dado por , então temos a função Lucro Total dada por: . Indústria financeira/Serviços Financeiros/Sector de Bens Intermédios: Este sector produz serviços de contabilidade (os chamados serviços de transacção utilizados pelo sector produtivo) que facilitam e economiza as transacções na economia reduzindo o tempo necessário e os outros recursos necessários. A variação na quantidade produzida varia no mesmo sentido da variação da actividade económica. Quantidade de Trabalho, medido em horas de trabalho aplicado à produção no momento t. Quantidade de capital, medido em unidade de matéria-prima na produção destes serviços, no momento t. Quantidade de serviços de transacção usado no sector produtivo e no consumo, no sentido de número de movimentos contabilísticos criados dentro do sector privado (“Inside Money”). O modelo sustenta que a produção de serviços financeiros é mais rápida que a de bens de consumo final e captura a inovação tecnológica do sector, com valor médio ou esperado igual a 1. Esta função possui rendimentos constantes à escala. Esta produção inclui serviços de transacção e também gestão de portfolios cuja composição num sistema bancário não regulado é de esperar que seja heterogéneo. Os bancos detêm os “Claims” ou direitos (tanto activos dados como colateral pelo sector produtivo como depósitos sobre estes) do sector produtivo e emite outros “Claims” ou direitos, sendo estes depósitos. Os bancos comerciais fazem uma gestão de portfolios bastante simplificada onde todas as mais-valias são “devolvidas” aos depositantes, tendo como contrapartida uma taxa de gestão. À medida que as transacções na economia vão tendo lugar, os depósitos que os indivíduos e empresas detêm junto dos bancos são alterados por simples movimentos contabilísticos. (Money, Credit and Real Business Cycle (By Robert G. King and Charles I. Plosser,pg 365) Famílias: São os consumidores, investidores e os fornecedores de mão-de-obra, “compram” serviços financeiros e finalmente são os detentores de riqueza. Assumimos que o indivíduo representativo do modelo vive eternamente e com expectativas racionais, pressupostos Faculdade de Economia do Porto 5 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise normalmente encontrados na corrente dos Novos-Clássicos e tem função utilidade intertemporal dada: Com, – Factor de desconto fixo da utilidade. depende do consumo e do lazer – Função utilidade que , sendo o número total de horas disponíveis em cada período. = É o tempo necessário para as actividades chamadas de Extra-Mercado, nomeadamente, consumo e investimento. Existem custos de transacção, ou seja, de redistribuir a riqueza do agente representativo entre consumo e investimento. A riqueza do agente representativo em “t” é igual á soma do output corrente realizado ( ) e o stock de capital descontado da depreciação do período passado ( ). A maximização da utilidade vem como onde denota a utilidade esperada em t segundo as premissas de expectativas racionais com base em todas as informações disponíveis ao agente representativo no momento “t”. O estado da economia entre preços e quantidades é dado: Rendimento nacional (1- Stock de capital líquido de depreciações Factor que afecta as escolhas inter-temporais Factor que influencia a produção de serviços de transacção Variáveis de Decisão: Esforço ( ) sendo o esforço total igual à soma do esforço em produção, serviços de transacção e actividades extra-mercado respectivamente; Quantidade de serviços de transacção ( produção ( ); ( ; Número de créditos criados dentro do sector de ) Quantidade de capital medido em unidades de matéria-prima utilizada na produção, no momento “t”; ( ) Quantidade de capital, medido em unidades de matéria-prima utilizados na produção dos serviços de transacção, no momento “t”. Os autores procedem depois com a assunção de pressupostos simplificadores para reduzir o número de variáveis a decidir, são estes: Taxa de depreciação igual a 1, assume-se que a produção de serviços financeiros não aleatórios, para todo o “t”, e só depende de inputs de factor trabalho, passando a ser e por último os serviços de transacção e trabalho são Faculdade de Economia do Porto 6 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise alocados em proporções fixas a escala da variável. Por último, definem restrições às variáveis de decisão ( , ): Por uma variação em uma unidade de rendimento nacional inicial, o stock de capital aumenta, menos que proporcionalmente, pois o agente prefere alocar riqueza ao consumo futuro, e faz isto através da compra de serviços financeiros. Outro pressuposto é o de que se o rendimento inicial aumenta, também aumenta a produção marginal do factor trabalho, se capital e trabalho são complementares. Por conseguinte, se o efeito rendimento derivado pelo aumento dos salários reais (devido ao facto de o factor trabalho é remunerado de acordo com a sua produtividade marginal) for inferior ao aumento da riqueza que resulta da produção de bens de consumo final no próximo período (efeito substituição), a quantidade de horas trabalhadas aumenta. Um choque do tipo e dada determinada quantidade de inputs, a produção futura é superior mas também são as unidades produzidas por unidade de input. Isto é importante para perceber que o efeito rendimento conducente a uma maior produção em “t” alocado à acumulação de capital é contrabalançado pelo menor consumo em “t+1 e, o número de horas afectado à produção aumenta, conforme o sentido da variação. Assim, em presença de um choque positivo, no momento “t”, a quantidade de esforço será positivo também, gerando um movimento pro-cíclico. Do modelo, surge uma correlação positiva entre a produção, crédito (aquela que resulta da venda de produção futura, “Claims”, cujo somatório constitui um “Share”), das escolhas intertemporais dos agentes, e serviços de transacção. Pode-se verificar esta relação em dois casos em que a fonte de variação da actividade real é diferente. Sendo influencia a produção (diferente de - Um evento inesperado que , factor que altera as escolhas inter-temporais), alterando as condições iniciais que determinam as decisões dos agentes para escolher quantidades de consumo, investimento e nível de esforço. Por exemplo; Um aumento inesperado da riqueza do agente levará a mais investimento líquido, maior do que o esperado inicialmente. As horas de trabalho verificadas também aumentam e exibe assim correlação positiva (como estudado anteriormente), verificando-se uma expansão económica (aumento do produto real), as empresas hipotecarão produção futura gerando novos “Claims” para financiar produção no presente e, por conseguinte, o volume de crédito. Assim, depois de a produção aumentar, depois de aumentar também a quantidade de serviços de transacção procurada pelas empresas e pelas famílias, verifica-se uma correlação positiva entre produto e actividade bancária. Por último, mais um efeito do aumento inicial da Faculdade de Economia do Porto 7 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise riqueza é o de ser verificar a diminuição das taxas de retorno pois as oportunidades de transferir riqueza inter-temporalmente está sujeita a rendimentos decrescentes. Assumem stock de depósitos proporcional ao fluxo de serviços de transacção e representa-se por: . Por conseguinte, se no processo de expansão económica, os serviços de transacção crescem, também o farão os depósitos em maneira proporcional. Sendo estes depósitos, “Inside Money”. Isto é importantíssimo pois o modelo assenta na ideia de que a quantidade de serviços de transacção está correlacionada com o aumento do output, assim, os autores ao estabelecer a ligação com os depósitos, para efeitos de comparação com outros trabalhos que têm a quantidade de depósitos em mente quando se faz a análise monetária. E mais, a correlação quantidade de serviços de transacção/depósitos não só é dita com elevada correlação com o output mas também possui “timings” muito próximos. Outros investigadores assumem um outro timing, ou seja, que as variáveis monetárias que induzem o crescimento económico via intervenção dos bancos centrais pelo aumento da base monetária (pg. 368 Money Credit and Prices in a Real Business Cycle by King and Plosser). Sendo esta uma visão diferente da keynesiana e da dos Monetaristas (desequilíbrio nos preços). Outra maneira de discutir um outro padrão causa-efeito (timing) é através de choques nas oportunidades inter-temporais da economia. Eventos do tipo alteram a alocação de consumo e lazer por parte do agente entre o presente e futuro, dado um nível de riqueza inicial. Se o choque for superior ao valor médio, ou seja, superior a 1, levará ao aumento do número de horas de trabalho, mas com pouco aumento do consumo ou capital (de acordo com os pressupostos simplificadores discutidos anteriormente). Os serviços de transacção, como bem intermédio que são, irão aumentar e também os depósitos, as taxas de juro irão diminuir e o preço dos activos financeiros irão modificar-se. Estes factores conjugados irão criar expansão do produto. Aumentará a riqueza em “t+1”. Este seria um exemplo em que o efeito ou consequência é o aumento do produto e não a causa de um aumento dos depósitos. 3 Relação entre moeda em circulação, depósitos e preços: Para além dos pressupostos assumidos até agora, os autores expandem o modelo, e introduzem um activo não remunerado (não se pagam juros pelo seu porte), fornecido pelo governo, é o dinheiro fiduciário (no modelo usam dólares, passamos a referir-nos a este activo desse modo), e estudam os factores que alteram o seu valor, com o objectivo de poder entender a relação entre os agregados nominais e a actividade real. Este novo activo é útil mas não um substituto perfeito dos serviços de transacção do sector financeiro. A equação que ilustrava o tempo alocado ao consumo e investimento vem expandido graças a este novo activo: Faculdade de Economia do Porto 8 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise = . Nesta análise, a quantidade de moeda em circulação é exógena e controlada pelo banco central. Este novo activo tem o seu preço dado por: É muito fácil agora determinar o que leva o agente a escolher entre alocar mais tempo ao consumo ou investimento (corresponderá ao custo de oportunidade ), à compra de serviços de transacção (depende do seu preço por deter mais dólares ( ) ou à escolha . Para além disto, a quantidade procurada de dólares varia inversamente ao seu preço, e no mesmo sentido do preço dos serviços de transacção e do custo de oportunidade de alocar tempo ao consumo e investimento e do produto, já a procura por serviços de transacção é exactamente o inverso mas aumenta também com o aumento do produto. A formação do preço dos dólares é simples: existem obrigações do estado que pagam uma taxa de cupão (que corresponde á soma da taxa de juro real mais a taxa de inflação esperada) e um mercado para serem transaccionados assim como se existirem regras que forcem os bancos a deterem reservas legais não remuneradas pelo banco central, este custo de oportunidade por terem de ter dinheiro parado, irá ser reflectido nos agentes. Num sistema bancário não regulado, podemos imaginar que este sistema será um em que os bancos não terão interesse em deter dólares se não existir nenhuma lei para tal, pois seriam reservas que não estariam sendo rentabilizadas. Determinação do nível de preços (equilíbrio no mercado monetário): , Assim o nível de preços aumenta quando a procura nominal por dólares aumenta, diminui com o aumento do produto, aumenta com a taxa de juro nominal, diminui com o preço dos serviços de transacção e diminui com o aumento dos salários reais. Pois, manipulando a equação da procura real de dólares e sabendo que em equilíbrio a procura real de dólares deve igualar a oferta nominal de dólares (exógena, aleatória, controlada pelo Banco Central e dado por ) temos: . Concluímos que o nível de preços não depende dos serviços de transacção que foram assumidos anteriormente como sendo iguais aos depósitos, assim, os autores concluem que não há necessidade de tentar controlar o sistema bancário ou a oferta de depósitos para controlar o nível de preços. A única variável relacionada com o sistema bancário vem sendo serviços de depósitos, que será igual a (custo dos ou custo dos serviços de transacção ou financeiros, no caso de não regulação do sistema bancário). Faculdade de Economia do Porto 9 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise Assim, a Taxa de Juro Nominal irá aumentar ao incorporar um aumento do prémio de inflação, implica assim uma diminuição da procura de circulação de moeda em termos reais mas em termos nominais aumenta esta procura. Em contrapartida aumenta a procura real de serviços de transacção e tempo dedicado ao investimento (e.g. Tobin (1965)) em contraste com Alan Stockman (1981) que defende que a inflação funciona como um imposto à poupança, o que leva a um menor investimento e consequentemente tem um efeito negativo na formação de capital. Neste modelo, assume-se a super-neutralidade de moeda, que se traduz no seguinte: aumentos constantes do stock de moeda e também a taxa de crescimento da mesma não têm efeitos no nível de preços e na taxa de inflação no curto prazo. Daí esta inflação não ter impactos no equilíbrio geral em termos reais. Defendem que há correlação positiva entre quantidade nominal de depósitos ( ) e nível de actividade se a quantidade de moeda sob a forma de notas e moedas é determinado de maneira exógena e os preços não são contra-cíclicos. Num sistema bancário regulado, a regulação pode ser a nível do risco que os bancos podem aceitar como colaterais determinados activos das empresas em contrapartida de fundos o que terá impacto reduzido no nível de preços se os agentes puderem distribuir riqueza por outras instituições financeiras. Assim, distinguir-se-ia a produção futura como meios financeiros para pagar factores de produção no presente (“Claims” sobre produção detidos por indivíduos ou por outras empresas e que por sua vez constituem depósitos), que se vêm alterados ao longo de todas as transacções por simples movimentos contabilísticos; como aliás foi explicado inicialmente, ou o também chamado “Inside Money”, do dinheiro fornecido de maneira exógena (dólares no modelo) pelo banco central. No entanto, se aos bancos lhe for exigido manter como reservas uma fracção “x” do valor total nominal do seu portfolio na forma de moeda emitida pelo banco central (dólares), reservas estas não remuneradas, poderá ter efeitos importantes no nível de preços. Também poderia ser exigido que estas reservas sejam constituídas com activos financeiros (obrigações, acções, entre outros) que paguem juros ou dividendos a favor do banco central. É um verdadeiro imposto dirigido ao sector financeiro segundo os autores, sem ter em conta que poderá ser por motivos de segurança e de confiança para o mercado e depositantes. Este custo que o sistema bancário suporta irá ser transferido para os agentes, resultando em que (ou seja, custo dos depósitos de dólares ou “Outside Money” superior ao custo dos serviços de transacção ou “Inside Money” que se traduz em simples movimentos contabilísticos, conjugado com serviços de gestão de portfolios). O que teria como consequência que os agentes preferissem deter maior quantidade de dólares em termos reais e menor quantidade de serviços financeiros em termos reais, conforme as relações estudadas anteriormente. Faculdade de Economia do Porto 10 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise No caso de o Banco Central não controlar a quantidade de dólares de maneira exógena mas sim combinar uma taxa de reserva legal com o controlo da base monetária (Reservas e Moeda em Circulação), por conseguinte, a base monetária torna-se exógena e controlada pelo Banco Central e o nível de preços viria determinado num mercado por Base Monetária em si e não só por reservas. Sendo o stock nominal de reservas bancárias e sendo o total exógeno das reservas bancárias e quantidade de moeda em circulação. A condição de equilíbrio vem dada por: . Assim o nível de preços depende positivamente stock nominal da base monetária, negativamente do total de transacções das famílias no mercado, positivamente do preço de deter dólares, negativamente do preço dos serviços de depósito, negativamente dos salários reais e negativamente da procura real de reservas. Como se pode ver na função, o nível de preços não depende dos serviços de depósitos ou de transacção em termos reais. Partimos agora para a análise do nível de preços na presença de choques reais: e . Em que primeiro estão as oscilações de produto real na procura de “Outside Money”. Segundo, está o impacto nas taxas de juro nominais na procura por “Outside Money”. Como as variações no nível de preço, também depende das acções do banco central, os autores concentram-se no caso do sistema bancário regulado, com o BC assumindo o papel de regulador da quantidade de “High Powered Money” (circulação mais reservas, ou seja, base monetária). Como já discutido anteriormente, um aumento inesperado da riqueza inicial irá fazer aumentar o produto no presente e no futuro, sendo que as taxas de rentabilidades reais vão diminuindo com o tempo devido à diminuição das oportunidades. Consequentemente, este aumento inesperado levará à diminuição dos preços devido à diminuição das taxas reais de retorno e ao aumento dos rendimentos. Se, no entanto, houver uma oportunidade maior do que o valor médio de alocar intertemporalmente recursos, verifica-se um aumento da taxa de juro real em “t”, menores taxas de retorno futuras e maior produção futura. Há um impacto ambíguo no nível de preços, envolvendo a influência positiva do aumento da taxa de retorno corrente e a influência negativa de menores taxas de retorno futuras e maior produção esperada futura. Estes dois exemplos, o que transmitem é que ao aumentar o produto, diminuem os preços, o que não se verifica empiricamente embora se demonstre nos estudos de Hodrick e Prescott em Faculdade de Economia do Porto 11 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise (1980) e Fama (1982) que tal não é necessariamente verdade. Assim, há condições para a existência de ciclos económicos reais, pois os preços demoram a ajustar-se. 4 Análise Empírica Nesta secção apresentam-se regressões com base no modelo, relativamente ao comportamento numa análise “Time-Series”, no pós-guerra, na economia dos EUA, entre: Produto, Agregados Monetários, Taxas de Rentabilidade e Nível de Preços. Em termos reais a correlação entre as variáveis reais e a taxa de variação do produto é superior relativamente à mesma correlação em termos nominais. A correlação entre os depósitos reais, base monetária em termos reais e “Outside Money” em termos reais e produto é estatisticamente significativa. Reforça a ideia de que a o aumento do produto é explicado essencialmente por “Inside Money”. O facto de existir correlação entre “Outside Money” e produto não inviabiliza os pressupostos dos autores desde que a política monetária seja autónoma em relação à procura por “Outside Money”. Em termos nominais a correlação é menos significativa no caso dos depósitos me termos nominais e não é estatisticamente relevante no caso da Base Monetária e “Outside Money”. Foi também estudada pelos autores a mesma análise mas agora considerando “lags” (espaçamentos) temporais. A principal conclusão a ser retirada é a de que existe correlação estatisticamente significativa entre procura real de depósitos (“Inside Money”, assumidos anteriormente como iguais aos serviços de transacção) ao contrário de “Outside Money”. A contribuição marginal das variáveis explicativas não é significativa, ou seja, não rejeito a hipótese de que estes “lags” não explicam estatisticamente de maneira significativa o logaritmo do produto. Correlação entre moeda e inflação: Com . O modelo teórico prevê que variações dos preços podem ser explicados pelo “Outside Money”, actividade real, taxa de juro nominal e o custo dos serviços de transacção devem ser importantes para explicar movimentos nos preços. Independentemente de assumirmos que o Banco Central controla de maneira exógena ao modelo a quantidade de moeda em circulação ou a base monetária e consequentemente o nível de preços viria determinado no mercado monetário ou então no mercado por base monetária. No modelo, no entanto, os autores assumem como Faculdade de Economia do Porto 12 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise variáveis explicativas a base monetária para explicar o nível de preços. Inclui-se também o custo dos serviços de transacção assim como os salários em termos reais. Verifica-se que um aumento dos salários em termos reais provoca uma diminuição do nível de preços, substituindo a procura de serviços de transacção por dólares. Para além disto, quando existem reservas legais e o banco central controla a quantidade de base monetária de maneira exógena ao modelo a teoria prevê que o volume de reservas reais deve influenciar negativamente o nível de preços dado o stock de base monetária. Por outro lado, quando o que é determinado de maneira exógena ao modelo for a quantidade de dólares, teoricamente não deveria existir correlação com os preços. 5 Conclusões Muita da correlação entre actividade económica e moeda é propriamente com Inside Money, sendo que a inflação resulta do “Outside Money” (intervenções da autoridade monetária para aumentar a base monetária mais do que é exigido pela procura). Este modelo é apresentado como uma explicação para levar em conta a relação entre moeda, inflação e actividade económica. 6 Críticas e Pistas de Investigação Sendo este modelo um modelo em que quantidade de moeda é determinado de maneira endógena explicada por um sistema bancário (Money, Credit and Real Business Cycle, King and Plosser, pg. 363) e (embora sejam analisadas as hipóteses em que o banco central controla de maneira exógena a base monetária ou só a quantidade de moeda em circulação) e centrandonos no caso em que o banco central fornece a quantidade de reservas necessárias para o sector bancário (ou seja, no caso não estudado pelos autores do texto em que a política monetária não é centrada no controlo da taxa de juro mas sim nos agregados monetários, curiosamente, a provavelmente presente nos EUA na altura da realização do trabalho) verificamos que é necessário aprofundar e actualizar a análise, ou seja, verificar se existe correlação entre depósitos e produto numa economia em que a política monetária é uma em que a taxa de juro é exógena ao modelo. Verifica-se também correlação entre produto e quantidade nominal de “Outside Money”, embora não significativa, deve-se aprofundar mais a análise neste sentido. Faculdade de Economia do Porto 13 Money, Credit and Real Business Cycle. Uma análise Os choques externos reais que se inserem no modelo poderão ser objecto de maior análise, devido à sua natureza heterogénea. Nada se diz em relação a crises financeiras por exemplo, que, sendo um choque de expectativas e não real, pode explicar o ciclo económico. A análise implementada assume um agente representativo, pode-se aprofundar e tornar o modelo mais real ao introduzir uma análise do tipo ACE (Agent Based Computational Economics) como alternativa ao estudo com base num agente representativo. Neste tipo de análise o modelo tornar-se-ia mais realista pois são incluídas interacções entre diversos agentes com as suas preferências. O modelo ao apresentar uma dinâmica da formação dos preços que poderá ser contra cíclico (Money, Credit and Real Business Cycle, Robert G. King and Charles I. Plosser (1984), pg. 372), extensões ao modelo poderão ser realizados no sentido de os tornar de acordo com a realidade empírica tornando o modelo mais adequado à realidade, no sentido de serem próciclicos. 7 Bibliografia KING, R G, C I PLOSSER (1984), “Money, credit, and prices in a real business cycle”, American Economic, 74 - 3, pp. 363-80 KYDLAND, FE; PRESCOTT, EC (1982), “Time to build and aggregate fluctuations”, Econometrica, 50-6, pp. 1345-1370 LUCAS RE (1972), “expectations and neutrality of money”, Journal of Economic Theory, 4 - 2, pp. 103-124 LUCAS, ROBERT, “Methods and problems in business cycle theory”, Journal of Money, Credit and Banking, November 1980 12, 696-715 MUTH, JF (1961), “rational-expectations and the theory of price movements” Econometrica, 29 – 3, pp. 315-335 SARGENT, THOMAS AND PLOSSER, CHARLES, “Rational expectations, the optimal monetary instrument and the optimal money supply rule,” Journal of Political Economy, April 1975, 83, 241-54.