Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) “MONEY, CREDIT, AND PRICES IN A REAL BUSINESS CYCLE” (1984): uma análise Catarina Isabel Oliveira 070401064 Helena Ramos Lopes 060401256 Joana Marília Silva 060401126 Maria Amélia Carvalho 070401067 Faculdade de Economia do Porto Turma 6 – Grupo V 17 de Dezembro de 2009 Resumo: King e Plosser (1984) analisa a interacção entre a moeda, actividade económica e o nível de preços ao longo do ciclo económico real. Os autores recorrem à teoria do ciclo económico de Kydland e Prescott (1982) utilizando fundamentos microeconómicos, em que o consumidor procura maximizar a sua utilidade sujeita a uma determinada restrição orçamental e o produtor procura maximizar os lucros da empresa dada uma determinada restrição tecnológica. E estendem esta teoria com a introdução do sector bancário chegando à conclusão que a moeda é função da actividade económica e não o contrário. Palavras-chave: Ciclo económico real, expectativas racionais, moeda, preços, produto, inside money, outside money. Classificação JEL: B29, E31,E32, E40, E50 Seminário I – 2009/2010 1 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) 1. Introdução Os modelos desenvolvidos no âmbito da teoria dos ciclos económicos reais foram utilizados por diversos autores (e.g. Kydland e Prescott, em 1982), para efectuar simulações sobre a economia real. Inicialmente, a aplicação destes modelos confinou-se à economia americana. Os modelos iniciais dos ciclos económicos reais partiam de economias simplificadas, que tinham como objectivo explicar oscilações de curto prazo da economia (ciclos), a partir do equilíbrio geral walrasiano1. A teoria dos ciclos económicos reais reconhece que existem variações ao longo do tempo no stock de capital e que ocorrem choques reais sobre a função de produção, afectando permanentemente os níveis do produto, do investimento e de outras variáveis reais. Na literatura dos ciclos económicos reais a concepção predominante é a de Lucas (1977), que identifica o ciclo económico real como “movements about trend in gross national income” (Lucas, 1977, p. 87). Os modelos foram, posteriormente, aperfeiçoados e alargados, nomeadamente, para integrar o papel da moeda nos ciclos económicos. O artigo Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle por King e Plosser (1984) utiliza uma versão desta classe de modelos, relacionando a moeda, a inflação e a actividade económica, sendo este o artigo que analisamos neste trabalho. 2. Contextualização O período compreendido entre meados da década de 60 e início da década de 70, do século XX, foi uma época em que a teoria macroeconómica era representada pelo chamado “Consenso Keynesiano”2. Durante a década de 70, o mundo assistiu a uma série de eventos que incidiram sobre a economia de diversos países. A taxa de inflação aumentou consideravelmente nos Estados Unidos. Na procura de um elevado crescimento económico, o défice orçamental aumentou em 1971 e 1972 (Nixon na presidência dos EUA) , novamente em 1975 e 1976 (já com Gerald Ford na presidência) e a Reserva Federal levou a cabo uma política monetária expansionista. Como se pode verificar pelo 1 Choques exógenos podem acontecer, mas devido à existência de racionalidade dos agentes, que são detentores de todas as informações necessárias à maximização de sua função objectivo, os mercados ajustam-se instantaneamente via alteração nos preços. 2 A expressão “Consenso Keynesiano” é utilizada para designar a ortodoxia keynesiana que estava consolidada nos Estados Unidos ao longo das décadas de 50 e 60, do século XX. O Consenso equivalia a todo um grupo de economistas pertencentes à chamada “Síntese Neoclássica”, termo utilizado pela primeira vez por Paul Samuelson, na 3ª edição do seu livro “Economics”, para designar uma síntese entre todos os elementos da teoria económica “antes de Keynes” e das modernas teorias. Seminário I – 2009/2010 2 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) gráfico das taxas de juro reais (obtidas pela diferença entre as taxas de juro nominais e a taxa de inflação) e pelo crescimento da massa monetária. Gráfico 1 – Evolução da taxa de juro real homologa nos EUA Fonte: The Federal Reserve Board Gráfico 2 – Evolução da Massa Monetária no EUA (1960-2002) Fonte: The Federal Reserve Board Seminário I – 2009/2010 3 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) Apesar das taxas de juro nominais terem estado em tendência de subida durante toda a década, desde meados de 1974 até início de 1980, as taxas reais foram negativas, estimulando um ambiente inflacionista. O resultado disto foi um cenário económico de estagflação3, uma situação onde era possível observar, ao mesmo tempo, taxa de desemprego e taxa de inflação elevadas; situação esta, no mínimo incompatível com o trade-off proposto pela versão estática da curva de Phillips, equivalente a uma relação inversa (estável) entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação. Gráfico 3 - Curva de Phillips (versão estática) Fonte: “Macroeconomics”, 10th Edition, Gordon, Robert J. (2006) A comunidade académica da época passou a questionar as premissas e proposições relacionadas a esta abordagem, com algumas falhas - tanto a nível teórico como empírico. A nível teórico, questionava-se a ausência de fundamentação microeconómica do modelo IS-LM, bem como um tratamento inadequado das expectativas nos modelos keynesianos e monetaristas (tidas em geral, como constantes e adaptativas, respectivamente). Em termos empíricos, o problema principal relacionava-se com a ausência de uma relação empírica negativa entre taxas de inflação e desemprego no período. Um grupo de economistas opostos à Síntese representou a principal fonte de identificação de tais falhas. Estes eram os chamados economistas novos-clássicos, liderados por Lucas4. Este grupo procurava construir toda uma teoria macroeconómica baseada em princípios microeconómicos (fundamentação microeconómica da macroeconomia). Com base em Muth (1961) tratavam as expectativas dos agentes de forma mais consistente, adoptando a hipótese de expectativas racionais5. Os agentes em questão utilizam toda a informação disponível e suas previsões não são enviesadas, isto é, não contem erros de previsão sistemáticos de previsão. Um dos mais conhecidos modelos novo-clássicos está contido em Lucas (1972; 1973), onde o autor, baseado em Friedman (1968) e na ideia da “parábola das ilhas” de Phelps, deriva uma curva 3 Ocorre simultaneamente estagnação da actividade económica e inflação As principais críticas de autores novos-clássicos à ortodoxia então vigente na época podem ser encontradas em Lucas e Sargent (1979). 5 e.g. Barro (1979, 1984) e Fischer (1987) 4 Seminário I – 2009/2010 4 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) de Phillips como resultado da existência de informação imperfeita a respeito do nível geral de preços da economia6. A classe de modelos que teve origem a partir deste artigo, juntamente com Sargent e Wallace (1976), é tida sob a denominação comum de “modelos de ciclos monetários”, já que a moeda é a principal variável geradora de ciclos económicos nesses modelos. A abordagem novo-clássica não produziu apenas os modelos de ciclos monetários. Na década de 80 (do século XX), uma nova geração de economistas ligados a esta abordagem, adoptando as mesmas hipóteses básicas utilizadas pelos seus antecessores (expectativas racionais e marketclearing7), passaram a construir uma série de modelos onde os ciclos eram explicados não devido a variáveis nominais como a moeda ou salários nominais fixos, mas devido a variáveis reais. No início da década, Nelson e Plosser (1982) publicaram um artigo demonstrando que a maior parte das variáveis macroeconómicas sofrem poucas flutuações temporais (numa tendência de longo prazo) em relação a flutuações permanentes. Para estes teóricos, o estudo do ciclo económico pode ser realizado a partir do modelo de crescimento neoclássico, o modelo de Solow. Posteriormente, partindo de uma versão modificada do modelo de Solow, Kydland e Prescott (1982) conseguem obter novos resultados. Para tal elaboraram uma economia artificial simples com agentes optimizadores que substituem lazer e trabalho ao longo do tempo, mercados competitivos e, adicionalmente, supõem que o stock de capital do modelo está completamente constituído após determinado período de tempo (quatro trimestres, no modelo). Long e Plosser (1983) também partem de um modelo simplificado para explicar alguns dos principais factos estilizados dos ciclos económicos. Consideram, no entanto, uma economia artificial composta por vários sectores, e acabam por demonstrar a maneira pela qual os choques sectoriais específicos se transformam em choques incidentes sobre o produto agregado. Adicionalmente, em termos de bem-estar social, chegam a conclusões opostas à opinião dominante até a década de 70 (do século XX), de que os ciclos económicos eram prejudiciais ao bem-estar social de uma nação. Assim, a maioria dos economistas da época parecia concordar que as políticas monetária e fiscal podiam ser utilizadas de forma a neutralizar parte desse comportamento cíclico da economia. Contrariamente a essa visão, Long e Plosser (1983) vêem as flutuações económicas como um aspecto natural de uma economia de mercado, não havendo qualquer conotação negativa – em termos de bem-estar social - ligada ao fenómeno. 6 Segundo a parábola, as empresas e os trabalhadores actuam numa série de ilhas, entre as quais a comunicação não é perfeita. Assim, os agentes percebem apenas o aumento de preço do produto gerado na sua própria ilha, e não o aumento do nível geral de preços, tendo que inferir a respeito deste último aumento, de modo a decidir a quantidade de produto que ofertarão. 7 A economia está constantemente em equilíbrio walrasiano. Seminário I – 2009/2010 5 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) Apesar das controvérsias existentes em alguns pontos da teoria novo-clássica dos ciclos económicos reais, existe um consenso sobre a neutralidade da moeda. Com este objectivo, King e Plosser (1984) introduzem no modelo de ciclos económicos reais, a moeda e o sector bancário. 3. Análise e interpretação 3.1 Identificação de pressupostos King e Plosser (1984) descrevem um modelo económico que surgiu como consequência da optimização do comportamento intertemporal dos agentes económicos e utilizam dois sectores produtivos, onde um deles é de bens de consumo final e outro de bens de consumo intermédio. O output da indústria de bens finais serve de bem de consumo final ou input na produção de outros bens, já o output de bens intermédios é um produto financeiro designado por serviços de transacção, que facilita as trocas de bens pela redução da quantidade de tempo. As empresas actuam em concorrência perfeita. Ao nível da indústria de bens finais é produzido um único produto (y), que apresenta rendimentos constantes à escala, e incorpora trabalho, capital e transacções de serviços como inputs. Desta forma, a produção é sumarizada por: yt+1=f(kyt,nyt,dyt)фtξt+1 , Onde o k é a quantidade de capital, n é a quantidade de trabalho, d é a quantidade de serviços de transacção e y a quantidade de serviços transaccionados usados nas indústrias de bens finais. O capital é medido como uma unidade de mercadoria alocados à produção no momento t, o trabalho é medido em horas de trabalho e os serviços transaccionados podem ser vistos como o número de contabilizações. O processo de produção está ainda sujeito a duas acções aleatórias ф e ξ, que são estimadas na altura em que ocorrem. Os serviços de transacção são encarados como compras de bens intermédios por produtores de bens finais. Desta forma, os serviços de transacção não se encontram alocados à produção, no mesmo sentido que o trabalho e o capital, constituindo um custo reduzido da actividade produtiva. No que diz respeito à indústria financeira produtora de bens intermédios, designados por serviços de transacção, é resumida pela seguinte função de produção na qual ndt e kdt são, respectivamente, as quantidades de trabalho e capitais alocadas ao sector bancário: dt=h(ndt,kdt)λt Seminário I – 2009/2010 6 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) A inovação tecnológica é captada por λt e a função produção assume rendimentos constantes à escala. O sistema bancário é introduzido sob o pressuposto que o Banco Central mantém uma política para controlar a quantidade de moeda nominal, de modo a que o stock de moeda (Ct=Ptct) seja uma variável aleatória exógena. Esta hipótese significa que o comportamento do nível de preços pode ser analisado através do equilíbrio do mercado monetário. Num sistema bancário não regulamentado a determinação do nível de preço implica que a procura real seja igual à oferta real de moeda, o que significa que as únicas alterações relevantes, para determinação do nível de preços, sejam as variações do custo financeiro dos serviços, o que implica que todas as alterações na quantidade da moeda sejam neutrais. Assume-se também que o aumento da dimensão do sector financeiro não tem implicações importantes para o equilíbrio geral. E num sistema bancário regulamentado assume-se uma política de controlo do banco central através da base monetária, onde esta é considerada super-neutral, isto é, mudanças na taxa de crescimento da oferta de moeda não influenciam o produto e a actividade económica é independente do crescimento monetário. No que diz respeito às famílias, estas são consumidoras, prestadoras de serviços de trabalho e de bens de capital, compradoras de serviços de transacção e detentores de riqueza. O agente representativo possui uma vida infinita e a seguinte função de utilidade intertemporal, _ ∞ j Ut =∑ β u(xt+j, n – nt+j), J=0 onde β é um factor fixo de desconto de utilidade, u é um período da função utilidade que depende _ do consumo (xt+j) e de lazer (n-nt+j) e n é o número de horas totais disponíveis em cada período. A maximização da utilidade é definida na medida da utilidade EtUt, onde Et denota as expectativas racionais baseadas na informação disponível no momento t. As famílias têm que combinar horas e serviços de transacção para realizar compras de bens de consumo e investimento. Relativamente, ao tempo dedicado às actividades não mercantis este é dado por: nזt=(זdht/(xt+it))(xt+it), onde T` <0, T`` <0 e it representa as compras de bens de investimento. A nossa selecção individual da transacção de serviços dht é minimizar o total das transacções wt nTt +ρt dht. A minimização do custo total das actividades de transacção implica uma derivada da procura de serviços de transacção dht* = g (ρt /wt) (xt+it), onde g’ = ( )``ז-1 <0. Igualmente, as horas alocadas às actividades de transacção são proporcionais aos gastos, sendo representada por: nזt* = (זg(ρt/wt)) (xt+it), Seminário I – 2009/2010 7 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) onde wt é o custo de oportunidade. Com a introdução do sector bancário e de moeda no modelo, as famílias passam a procurar moeda8. A seguinte função representa o que as famílias gastam nas suas actividades de transacção: nזt=(זdht/yt, ct/yt)yt, Onde yt representa o total das transacções do mercado das famílias, ct representa o poder de compra de moeda, e dht representa o fluxo das compras dos serviços financeiros da indústria financeira. Operações de minimização do custo pelas famílias implica uma procura real para a moeda e serviços financeiros das seguintes formas, ct=l (Rt/1+Rt),ρt,wt)yt, - + + dht=δ (Rt/(1+Rt)ρt,wt)yt. + - - Os sinais abaixo dos argumentos denotam o sinal da primeira derivada (por exemplo dc t/dρt> 0), se (ז.) for tal que o poder de compra da moeda e dos serviços financeiros é igual. A presença dos custos de transacção para a compra de bens de consumo e de investimento implica que o custo total de uma unidade de bens de consumo ou de bens de investimento em unidades do produto, seja maior que um, isto é, 1+ [wt( זg (ρt/wt)) +ρtg (ρt/wt)]. A selecção de um padrão óptimo de consumo (xt), do esforço total (nt=nyt+ndt+nTt), e do portfólio envolve condições habituais de eficiência intertemporais com excepção desta modificação. Em relação, às quantidades e preços de equilíbrio, King e Plosser (1984) assumem simplificações em relação ao framework proposto por Lucas (1978). Assim, o estado da economia no momento t é resumido por quatro variáveis yt, rendimento nacional; (1-d) kt-1, stock de depreciação de capital no momento actual; фt, factor tecnológico que afecta as oportunidades de transferência de recursos intertemporalmente; e λt, factor tecnológico que influência a realização dos serviços de transacção. Relativamente a estas variáveis é assumido que a taxa de depreciação é de 100%, eliminando (1-d) kt-1; λt é igual a 1, em todo o momento t. A utilização de uma produção determinística dos serviços elimina λt, sendo os preços de mercado definidos por ρt = wth0, o que implica que as famílias usem tempo e compra de serviços de transacção em proporções fixas. Por último, é assumido também que a função de produção de bens de consumo final é restringida, de forma a utilizar os serviços financeiros de modo simétrico à das famílias, isto é, as empresa (como as famílias) compram 8 A moeda é considerada um substituto não perfeito das compras de serviços de transacção. Seminário I – 2009/2010 8 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) serviços de transacção, dyt, e alocam os serviços de trabalho às actividades de transacção em quantidades fixas. Assim, elimina-se nזt, dht, dyt e kdt. Deste modo, no modelo de ciclo económico real existe uma correlação positiva entre produto real, crédito e serviços de transacção. É conveniente assumir que o stock de depósitos é proporcional ao fluxo de transacções de serviços e pode ser representado por γdt. Sob esta hipótese o modelo implica que o volume de inside money está positivamente correlacionado com a actividade económica. 3.2 Compreensão das conclusões Este artigo descreve um modelo de ciclo económico real capaz de explicar a relação entre moeda, inflação, e actividade económica, fornecendo uma teoria alternativa à teoria monetária dos ciclos económicos avançados por Lucas (1973) e Fischer (1977). Assim, partindo de uma estrutura de mercado monetário e de serviços financeiros análoga à estrutura de Fama (1980), onde o nível de preços é determinado se o Banco Central fixar a quantidade nominal de moeda, não sendo necessária a regulação directa ou indirecta das características do sector financeiro (e.g., o mercado é eficiente). Contudo, as regulações são importantes, na medida em que influenciam o nível de preços, alterando o preço efectivo dos serviços de transacção. E por outro lado, produzem uma classe diferenciada de fornecedores de serviços financeiros (bancos), cujos depósitos são descritos como inside money9. No sistema bancário não regulamentado o volume das transacções de serviços e os depósitos são determinados unicamente pelas variações da economia real. Todavia, a quantidade nominal dos depósitos está positivamente correlacionada com a actividade real, se a moeda for determinada exogenamente e os preços sejam cíclicos. Assim, aumentos da base monetária resultam em aumentos dos preços e consequentemente em aumentos da taxa de juro, o que implica uma diminuição da procura real de moeda, aumentos dos serviços de transacção e do tempo alocado a estas transacções. Num sistema bancário regulamentado, as regulamentações servem para distinguir bancos de outros intermediários financeiros e assim distinguir inside money de crédito. O impacto das regulamentações, depende da interacção da regulação bancária com a política de oferta de moeda do banco central e das políticas dirigidas pelos governos. Como já referido, o nível de preços do Inside Money reflecte o papel dos depósitos como “armazém”de riqueza ou de elementos do processo temporário de crédito. 9 Seminário I – 2009/2010 9 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) mercado é determinado se o banco central assumir criar uma quantidade de moeda exogenamente. No entanto, há outros métodos de controlo: criação de reservas nominais e manipulação da base monetária. No primeiro caso, o equilíbrio do nível de preços é determinado pela oferta exógena de reservas nominais e pela procura real dos serviços de depósitos. No segundo caso, o equilíbrio do nível de preços é determinado exogenamente no mercado, de modo a controlar a quantidade nominal de moeda e consequentemente a actividade real é neutral no que diz respeito às variações da base monetária. O estudo empírico das implicações de uma politica monetária seguida pelo Banco Central, através do controlo da quantidade nominal de moeda é realizada por King e Plosser (1984) no período de 1953 até 1978 (através do estudo do ciclo económico americano durante o pós-segunda Guerra Mundial), que fornece evidências empíricas relevantes para o estudo teórico. Dos estudos econométricos realizados por King e Plosser (1984) resultaram as tabelas 1, 3 e 4. A partir da análise da tabela 3 podemos observar que existe uma correlação positiva entre o crescimento da base monetária e a actividade real (equação vi). Contudo, a interpretação conjunta das tabelas 1 e 3 permitiu aos autores chegar à conclusão que existe uma correlação entre moeda e actividade económica, apenas em termos de inside money. Seminário I – 2009/2010 10 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) Um outro resultado empírico apontado por King e Plosser (1984) diz respeito à inflação, esta resulta de variações no stock de outside money10 (nomeadamente, as moedas e notas que são emitidas pelo banco central para financiar o sector público) e na actividade económica real. O modelo teórico prevê que variações no stock de outside money, actividade real, taxas de juro nominal e custos dos serviços bancários são importantes na determinação das alterações dos preços. A tabela 4 apresenta os resultados empíricos relativos às medidas de outside money (moeda e base monetária), como medidas de determinação do nível de preços. A variável ρt representa o custo real dos serviços de transacção, contudo a sua análise e interpretação, neste período, encontra-se limitada. Durante parte do período, os bancos enfrentaram restrições nas taxas de juro, de forma a evitá-las reduzem os custos dos serviços de transacção. Assim, King e Plosser afirma que “we are not completely comfortable with our interpretation of this variable” (King e Plosser, 1984, p. 377). 10 Moeda emitida pelo Banco Central. Seminário I – 2009/2010 11 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) Na parte A11 da tabela 4 podemos verificar que não existe autocorrelacção. Na parte B12, da mesma tabela, é patente a significância negativa dos coeficientes das equações ii e iv, demonstrando que as reservas reais dos bancos influenciam negativamente o nível de preços. 4. Críticas Ao artigo de King e Plosser (1984) são apresentadas duas críticas: usar o senso comum e não considerar as falhas de mercado na análise dos ciclos económicos reais. A primeira crítica apontada ao artigo reside no facto de os autores realizarem uma análise baseada no “senso comum”, o que leva muitos autores (e.g. Grossman, em 1982) a preferir modelos alternativos como descritivos da realidade. Perante esta crítica King e Plosser (1984) nas conclusões do seu artigo argumenta que o modelo foi elaborado com base na fundamentação empírica, rejeitando com base nestas, as teorias pré-keynesianas dos ciclos económicos, que sublinham as causas reais das flutuações económicos. Relativamente à segunda crítica, ela assenta na premissa que as falhas de mercado são uma componente necessária numa teoria de flutuações económicas. Contudo, King e Plosser (1984) argumenta na sua conclusão que a falha generalizada do mercado não é uma componente necessária e que o equilíbrio do ciclo económico real contribui para a economia positiva13. 11 A. Currency as External Money B. High-Powered Money as External Money 13 Ramo da economia que se preocupa com a descrição e explicação dos fenómenos económicos. 12 Seminário I – 2009/2010 12 Money, Credit, and Prices in a Real Business Cycle (1984) 5. Conclusão King e Plosser (1984), enquadra-se na economia novo-clássica, onde descreve uma classe de modelos de ciclos económicos que relacionam a moeda, a inflação e a actividade económica. Dando uma nova visão sobre a teoria dos ciclos económicos reais, onde os resultados empíricos apontam para uma correlação entre moeda e actividade económica, apenas em termos de inside money. E, a inflação resulta de variações no stock de outside money e na actividade real. Basicamente, esta correlação entre variáveis nominais e reais é explicada através da chamada causalidade reversa, isto é, variações no nível de produção afectam o produto, o qual por sua vez, via função procura de moeda, afecta a quantidade nominal de moeda. Os autores consideram que variações exógenas do stock nominal de moeda não desempenham um papel relevante na explicação dos ciclos económicos. Por outras palavras, a moeda, em vez de ser uma fonte exógena de flutuações do produto, é, pelo contrário, determinada endogenamente pela própria evolução do produto. Atendendo a todo este enquadramento teórico, King e Plosser (1984) rejeita a interpretação monetarista, de que uma mudança de quantidade de moeda, no curto prazo, provoca um aumento do nível de produto e no longo prazo apenas aumenta os preços. Para os autores, a neutralidade da moeda existe no curto e no longo prazo, uma vez que as expectativas dos agentes económicos são racionais, logo a política monetária é antecipada pelos agentes e não produz efeitos sobre o produto, apenas gera inflação. 6. 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