O AUTISTA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR Andreice Martins CRUZ1 RESUMO: Este artigo trata das necessidades educacionais especiais assim diagnosticadas nos autistas, destacando a análise e o tratamento precoce desse que é um dos mais intrigantes transtornos do desenvolvimento humano. A síndrome caracteriza-se pela grande dificuldade relacionada à expressão das emoções, ao isolamento e à auto concentração. Nos últimos anos mudou-se o espectro do senso comum sobre a ascendência e o tratamento da doença. A necessidade de atendimentos especializados com profissionais da área da saúde se mostrou de extrema importância e que esses atendimentos proporcionaram evoluções significativas para o desenvolvimento cognitivo e social. Desta forma a melhoria da ciência pensa na acuidade da inclusão do autista no campo escolar, juntamente com interferências específicas adotadas por um profissional qualificado, com terapias de apoio, para tratamento do paciente, com a ajuda de sua família, a fim de melhorias na qualidade de vida de todos. PALAVRAS-CHAVE: Autista; educação; aprendizagem; inclusão. 1 Introdução O autismo é considerado um distúrbio do desenvolvimento e faz parte de um grupo de condições denominadas transtornos globais do desenvolvimento. Pessoas com esse distúrbio possuem dificuldades qualitativas na comunicação, interação social e a imaginação e consequentemente problemas comportamentais. A convivência compartilhada da criança com autismo na escola, a partir da sua inclusão no ensino comum, torna-se possível a partir de contatos sociais e favorece não só o seu desenvolvimento, mas o das outras crianças, na medida em que estas últimas convivam e aprendam com as diferenças. Proporcionar às crianças com autismo oportunidades de conviver com outras da mesma faixa etária possibilita o estímulo às suas capacidades interativas, impedindo o isolamento contínuo. Além 1 Graduação em Pedagogia, Especialização em Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade de Educação São Luis, Brasil. E-mail: [email protected], Orientador(a):Márica Schmidt Néglia Armenini disso, as habilidades sociais são passíveis de serem adquiridas pelas trocas que acontecem no processo de aprendizagem social. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento, entre outros. A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. 2 Inclusão Escolar Proporcionar às crianças com autismo oportunidades de conviver com outras da mesma faixa etária possibilita o estímulo às suas capacidades interativas, impedindo o isolamento contínuo. Além disso, as habilidades sociais são passíveis de serem adquiridas pelas trocas que acontecem no processo de aprendizagem social. Entretanto, esse processo requer respeito às singularidades de cada criança. As crianças com desenvolvimento típico fornecem, entre outros aspectos, modelos de interação para as crianças com autismo, ainda que a compreensão social destas últimas seja difícil (CAMARGO, 2009). A inclusão é um movimento mundial de luta das pessoas com deficiências e seus familiares na busca dos seus direitos e lugar na sociedade. O termo inclusão já trás implícito a ideia de exclusão, pois só é possível incluir alguém que já foi excluído. Temos que diferenciar a integração da inclusão, na qual na primeira, tudo depende do aluno e ele é que tem que se adaptar buscando alternativas para se integrar, ao passo que na inclusão, o social deverá modificar-se e preparar-se para receber o aluno com deficiência. O marco histórico da inclusão foi em junho de 1994, com a Declaração da Salamanca Espanha, realizado pela UNESCO na Conferência Mundial Sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, assinado por 92 países, que tem como princípio fundamental: "todos os alunos devem aprender juntos, sempre que possível independente das dificuldades e diferenças que apresentem" (BRASIL, 2008). Em 1996 foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que em seu artigo 59 preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades. Em 2008, foi publicada a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que preconiza o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades, nas escolas regulares (BRASIL, 2008). A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva orienta os sistemas de ensino a garantirem, entre outras coisas: a transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a superior; a continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; a acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários, equipamentos, transportes, comunicação e informação; a participação da família e da comunidade (DUTRA, 2008). Essa Política, prevê o uso de estratégias e recursos especiais quando estes forem necessários para o aluno usufruir do ensino em uma classe regular: O professor deve criar estratégias considerando que alguns alunos podem demandar ampliação do tempo para a realização dos trabalhos e o uso de informática ou de tecnologia assistida como uma prática cotidiana. Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades que exijam auxílio constante no cotidiano escolar (BRASIL, 2008). Da mesma forma, a atual Lei nº 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no seu artigo 24, inciso V, alínea “a”, estabelece, para o caso de aluno portador de deficiência, a “avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”. Sobre o assunto, a recente Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva esclarece: A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno, quanto as possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. (BRASIL,1996). O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciamse daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. Dentre as atividades de atendimento educacional especializado são disponibilizados programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. O atendimento educacional especializado é acompanhado por meio de instrumentos que possibilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada nas escolas da rede pública e nos centros de atendimento educacional especializados públicos ou conveniados. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo os alunos com autismo. 2 Autismo e algumas Concepções O autista tem um transtorno que causa o atraso no desenvolvimento da criança, provocando riscos na comunicação e em sociedade, desorganizando as capacidades que ocorrem sobre a criatividade, imaginação e iniciativa. Quase todos os portadores da síndrome não apresentam nenhuma alteração ao nascerem. Muitos deles têm um comportamento normal como o previsto para qualquer bebê, contudo com o passar dos meses, até completarem 5 anos, surgem sintomas característicos do transtorno, como o silencio anormal o desinteresse pelo convívio social e o isolamento, levando-os a viverem num mundo misterioso e quase impenetrável (MELLO, 2007). A determinada caracterização desse transtorno chama-se tríade autista é assinalada pelo comprometimento da interação social, dos processos de comunicação, do desenvolvimento comportamental limitativo e também das sequências repetitivas (SIFUENTES; BOSA, 2010; KWEE, 2006). Segundo a definição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR): O transtorno autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo (apud SANTOS, 2008, p. 15). Conforme especificado na Classificação Estatística Internacional (CID-10) para doenças e problemas relacionados à saúde, autismo é um: Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: a) crescimento irregular ou modificado, revelado antes dos 3 anos de idade, e b) expressando uma perturbação particular do andamento relacionado aos três atributos sequentes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Ademais, o transtorno segue usualmente por abundantes outras manifestações inespecíficas, como por exemplo fobias, perturbações de sono ou alimentação, crises de birra ou agressividade (auto agressividade) (SANTOS, 2008). As primeiras características do autismo foram ditadas por Leo Kanner, em 1943, e a síndrome foi definida como distúrbio autístico do contato afetivo. Ela aparece de maneira precoce e ocorre principalmente sobre o sexo masculino. Também possuí características bastantes específicas associadas ao comportamento, tais como: distúrbio nas relações afetivas, sobretudo com o meio; estado de solidão ao extremo; incapacidade na comunicação por meio da linguagem; bom potencial cognitivo; aspecto físico em condições normais; e comportamentos em que se observa o ritmo. (TAMANAHA; PERISSINOTO; CHIARI, 2008; PRATES, 2009; ASSUMPÇÃO; PIMENTEL, 2000). Ao se traçar algumas características, é comum constatar comportamentos que não obedecem a uma normalidade, que geram situações repetitivas, com destaque para os movimentos das mãos e dos pés, para a observação por longo tempo das próprias mãos ou de outra parte do corpo e frequente mordidas. Em geral os diagnosticados com a síndrome rejeitam o ato alimentar, sendo exigentes com a seleção da comida que consomem, e possuem problemas com o sono. Ainda, é normal a criança rejeitar o colo ou o aconchego, não fixar o olhar, desviando o contato, não exprimir interesse em compartilhar afeto nem outros sentimentos e não desenvolver qualquer aprendizado a fim de comunicar-se (MELLO, 2007). Em comparação com crianças com desenvolvimento normal, os autistas apresentaram redução da atividade do EEG (eletroencefalograma) nas regiões frontal e temporal, mas não na região parietal. As diferenças foram mais acentuados no hemisfério esquerdo do que no direito (DAWSON, 1995). Como afirma Cunha (2011, p. 13), O autismo emprega implicações no diagnóstico antecipado do paciente, dirigindo-se para diversas formas de intervenções específicas para o tratamento do mesmo. No entanto, não visam aprisioná-las a condicionamentos específicos, antes tentam livrálas das limitações comportamentais que lhes trazem dano. Fornecendo base para sua aceitação, justificada com o intuito de englobar a inclusão do autista tanto no ambiente escolar quanto social, mantendo o foco na subjetividade e limitações impostas. Quando constatado o autismo em crianças, percebe-se a existência de três eixos sintomáticos: as relações interpessoais, os atos comunicativos e as situações comportamentais, que aparecem antes dos 36 meses de idade. Maior diferença na interação entre esses eixos justifica a variação dos casos e, por isso, a definição desses quadros é denominada espectro autístico (CARDOSO et al., 2010; SANTOS, 2008; PARAVIDINI, 2002; ROSSI; CARVALHO, 2007). De acordo com Mello (2005, p. 12), As causas do autismo são desconhecidas. Admite-se que a fonte do autismo esteja em irregularidades em alguma parte do cérebro até agora não determinada de forma conclusiva e, provavelmente, de origem genética. Ademais, acredita-se que possa ser ocasionado por adversidades associadas a eventos acontecidos durante a gestação ou no momento do parto. Nos dias atuais o autismo é considerado uma disfunção cerebral.Onde as disfunções observadas nas regiões temporais de certa forma explicam boa parte dos sintomas clínicos, sobretudo os déficits ligados à capacidade perceptiva, às reações emocionais e à área da cognição, presentes no autismo. Além disso, as regiões associativas temporais conectam-se perfeitamente aos sistemas sensoriais associativos frontais, parietais e límbicos. Por consequência, a disfunção do sulco temporal superior (STS) pode esclarecer também os componentes emotivos cognitivos da síndrome e autista (ZILBOVICIUS; MERESSE; BODDAERT, 2006; TAMANAHA; PERISSINOTO; CHIARI, 2008). Tal transtorno tem acometido 60 crianças a cada 10.000, e em todos os estudos aparecem novas e importantes organizações que despertam o interesse dos integrantes do Congresso Americano, pois o crescimento alarmante do número de diagnósticos em crianças tende a configurar uma epidemia que, de acordo com especialistas, está assolando famílias (GRINKER, 2010). No diagnóstico diferencial da síndrome autística, estão incluídos outros distúrbios ditos hostis ao desenvolvimento, como a síndrome de Asperger e de Rett, transtornos desintegrativos e quadros não especificados. Esse diagnóstico diferenciado é a maior dificuldade do reconhecimento clínico. Os sintomas que apresentam a síndrome de Asperger tornam-se evidentes antes dos 2 anos, e esta também acontece em maior número sobre o sexo masculino, apresentando grau de inteligência quase normal, mas apontando dificuldades nas relações sociais, o que causa severa introspecção, nenhum interesse a respeito do mundo e poucas associações em quadros convulsivos (ASSUMPÇÃO; PIMENTEL, 2000). Além disso, há relatos de uma super ou sub-reatividade sensorial que desencadeia indisponibilidade afetiva (LAMPREIA, 2007). O desencadeador da síndrome autística ainda é desconhecido. Recomendam-se a fim de evitá-la uma prevenção meticulosa durante a gestação e um cuidado maior com as gestantes, principalmente no tocante a substâncias químicas ingeridas, como, por exemplo, medicamentos ou drogas. Ao receber o diagnóstico de autismo, a família percebe que o quadro impreciso e o fato de que alguma coisa é diferente nas interações de seu filho consistem num sério comprometimento individual (MELLO, 2005). O estresse e a saúde dos pais estão ligados às características do filho autista, semelhante à seriedade da deficiência ou da análise principal, à idade da criança e à extensão de convivência e dos problemas de comportamento (ALLIK; LARSSON; SMEDJE, 2006). 3 Autismo: Inclusão na Aprendizagem Escolar Para que isso aconteça é necessário que os profissionais da educação, tenham qualificação contínua para melhor atenderem e estarem preparados para os desafios que surgem no contexto escolar, ficando responsável pela adequação dos mesmos com todas as estratégias e os esforços pelos quais a escola tradicional rejeita a inclusão de portadores do autismo, deixando à mostra a sua incapacidade de acolher e atuar diante da limitação e enredamento das diferenças, da diversidade, de tudo o que ocorre sobre a realidade vivencial do ser humano e da sociedade a que pertence. Os diagnosticados com o transtorno não são imaginários, fazem parte de uma categoria, onde organizam-se em grupos e segmentos sociáveis, sendo próprios de um contexto cultural, compõem categorias sociais cujos princípios são produzir e expandir conhecimentos, possuem aspirações, ejetam valores e costumes e, por fim, identificam-se. Tais grupos não se formaram unicamente na razão imaginária, em qualquer lugar ou tempo. Contudo o aluno abstrato é a justificativa para a escola promover a exclusão do diferente (MANTOAN, 2012). Segundo Kupfet (2001), tratamento e educação uniram-se para dar assistência às crianças com deficiências graves e entrelaçam-se a fim de cuidar dos fracassados na aprendizagem, já que a criança moderna é a prioridade escolar. Assim, o autor defende uma educação terapêutica que possibilita o tratamento dos problemas de desenvolvimento diagnosticados como graves: Um tipo de intervenção junto a crianças com problemas de desenvolvimento é um acervo de práticas interdisciplinares para tratamento, em exclusivo destaque nas práticas educacionais, que refere-se à retomada do crescimento geral da criança ou à retomada da organização psíquica suspendida pelo aparecimento da psicose infantil ou, ainda, à conservação do mínimo de sujeito que uma criança possa ter construído (KUPFET, 2001, p. 84). Relacionar-se com outras crianças da mesma idade leva a realidades sociais que permitem aos autistas viver experiências que proporcionam alternância de vivências, adaptação de papéis, compartilhamento de atividades que precisem de negociação interpessoal e formalização da discussão para solucionar conflitos (CAMARGO; BOSA, 2009). A incubação do auxílio à criança com autismo deve ser organizado de acordo com o desenvolvimento dela. Por exemplo, em crianças pequenas as prioridades devem ser o ato de falar e o convívio em sociedade, para desenvolver a habilidade linguística, e a disciplina, entre outros conceituados instrumentos de súmula importância para a elevação da inclusão (BOSA, 2006). Conforme circunscreve a Lei n. 9.394/96, capítulo V, artigo 58, que trata da educação especial, “entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1996).Confirmam Daguano e Fantacini (2011, p. 119): As doenças mentais [...] são passíveis de remissão e a educação acaba [...] conservando e fortalecendo os vínculos sociais e as práticas aprendidas, a partir da primeira infância, sendo com maior probabilidade que estas crianças amplifiquem sua habilidade intelectiva. Autistas afloram sua atração por sugestões pedagógicas estruturadas em que haja a predominância de trabalhos livres e de atividades com mais estimulação visual que auditiva (GOMES, 2007). Há registros de que os testes de quociente de inteligência (QI) em autistas demonstram dessemelhança e dispersão de resultados, ainda que aplicados em uma mesma criança. É notório que algumas destas, apesar de retardo mental global, se mostram capazes de desempenhos excepcionais em alguns campos muito específicos (FERRARI, 2007). No ponto de vista do desenvolvimento, com enfoco na doença e em seus sintomas, as condições apresentadas pela educação tradicional em geral estão associadas à dificuldade de aprendizagem juntamente com as adversidades nas relações sociais e no processo de comunicação, ocasionando certo grau de dificuldade quanto às atividades a serem desenvolvidas pelo professor/educador. Contudo nessas ocasiões, numa abrangência histórico-cultural, espera-se que o indivíduo supere as expectativas, principiando avanços em suas relações pessoais que propiciem atitudes nas quais estejam envolvidos o educador e a ação mediada pelos signos (ORRÚ, 2008). Numa abordagem comportamental, os procedimentos para o trabalho com autistas compreendem a avaliação comportamental, treino de repertórios de apoio, verbais e perceptivo-motores, treino em interação social, comportamento verbal e comportamentos acadêmicos, tendo como objetivo a redução de comportamentos excessivos e a ampliação da atenção do sujeito. Como procedimento do treinamento de comportamentos dos repertórios citados, são utilizadas as ações de imitar e de observar instruções apresentadas (repertórios de apoio), nomeação, posse de objetos e descrição de ações diversas (verbais); reconhecimento das partes do corpo e discriminações perceptivo-motoras (ORRÚ, 2008, p. 9-10). O trabalho do profissional realizado na escola é de necessária importância, pois muitos são os casos de autismo detectados por intermédio do comportamento percebido no decorrer das atividades escolares. No ambiente educacional, todos os tipos de estímulo afetivo capazes de desencadear o aprendizado devem ser aplicados, porque, em termos educacionais, crianças que necessitam de amparo especial são quem determina como se organiza o aprendizado, e não quem está ensinando (CUNHA, 2009). A criança portadora de autismo possui condições para desenvolver a aprendizagem, mesmo que tenha distinções no processo de funcionamento mental, o que tende a resultar em discrepâncias se comparado ao desenvolvimento normal. Algumas das principais diferenças são encontradas na formação da função simbólica e na constituição do pensamento operatório (LAGO, 2007). Logo, o preparo dos profissionais da rede escolar, sobretudo dos educadores, para o trabalho com esses alunos faz-se primordial, uma vez que o educador é um dos principais agentes responsáveis não apenas por transmitir os conteúdos pedagógicos, mas por ensinar valores e promover o entendimento das normas sociais que levam a criança a se aproximar do discurso social. Portanto, o aperfeiçoamento do conhecimento dos educadores deverá abarcar permanentemente os programas que capacitam para a inclusão (SANT’ANA, 2005). Argumenta Mazzotta (1992, p. 102): A finalidade da educação especial é oferecer atendimento especializado aos educandos portadores de deficiência, respeitando as necessidades e individualidades, visando propiciar o desenvolvimento geral desses alunos, em seus aspectos cognitivos, traços afetuosos, linguagem, psicomotricidade e relacionamento social, promovendo não apenas o reconhecimento de suas potencialidades como sua integração na sociedade. Para a inclusão acontecer é preciso que ocorra a aprendizagem e, com isso, há a necessidade de reorganizar os conceitos acerca de currículo. Este não deve somente nortear as experiências vividas na academia, mas ir para além das experiências que privilegiam o desenvolvimento dos alunos considerados normais ou com dificuldades especiais. Dessa maneira, as circunstâncias diárias vividas no dia a dia são capazes de formar o currículo e, em algumas situações, a ênfase maior pode ser para os conteúdos que serão trabalhados. Uma incógnita a ser analisada é se a escola representa para a criança com carências exclusivas um lugar delimitado que promova sua aprendizagem. Caso a resposta seja afirmativa, as práticas inclusivas estarão sendo desenvolvidas (SERRA, 2010). Conforme Stainback e Stainback (1999, p. 22): Os benefícios dos arranjos inclusivos são múltiplos para todos os envolvidos com as escolas – todos os alunos, professores e a sociedade em geral. A facilitação programática e sustentadora da inclusão na organização e no procedimento das instituições e salas de ensino é um fator decisivo no sucesso. As políticas de inclusão, diferentemente das políticas de integração, colocam o desafio da adaptação sobre a escola e o aluno, o que resulta em uma total reorganização e reestruturação da dinâmica e das práticas escolares com a finalidade de atender a toda a demanda, sem discriminação (FERREIRA; GUIMARÃES, 2003). Os desafios proporcionados e trazidos pela situação da inclusão escolar não são conhecidos com antecipação pelos profissionais que compõem o ambiente escolar, ou seja, diretores, coordenadores e pais, porém são eles que propiciam os impulsos necessários para a aprendizagem de todos os indivíduos (BRANDE; ZANFELICE, 2012). Além do cuidado com as práticas desenvolvidas com o aluno autista em seu aprendizado, Alves (2005, p. 87) garante: É de fundamental importância o trabalho conjunto entre a família e profissionais e também haverá sempre a necessidade de que essa família esteja presente em todos os momentos. A presença dela ajudará e muito na progressão, pois muitas vezes a família é o gancho que o profissional precisa para começar e poder terminar. 4 Tipos de Tratamento Segundo Amato e Fernandes (2010), quando confirmado o autismo, a criança deve receber tratamento imediato, pois, quanto mais precoce for estimulada, maior será seu desenvolvimento cognitivo e social. Posteriormente, ela e a família precisarão aprender a lidar com tal comportamento. Cada autista, segundo Santos (2008), deve seguir um plano educacional individual, por apresentar diferentes características e variação da capacidade intelectual. Para que seja eficaz, seu ponto-chave é a subjetividade. Se essa criança apresentar quadros violentos, então é hora de repensar se o programa estipulado para ela é positivo ou se há a necessidade de mudanças, já que se faz importante o conteúdo do programa ser adequado ao seu potencial, suas limitações, sua idade e seu interesse. A incubação do tratamento, conforme Assumpção e Pimentel (2000),deve ser específico de acordo com a etapa de vida do paciente. Toda e qualquer interferência a ser feita envolvendo crianças tem de se realizar com a atenção da terapia da fala, da influência mútua social e da educação especial, além do suporte familiar. Segundo Assumpção (2000) o tratamento do autismo consiste em intervenções psicoeducacionais, orientação familiar, desenvolvimento da linguagem e/ou comunicação. O ideal é que uma equipe multidisciplinar avalie e proponha um programa de intervenção. Dentre alguns profissionais que podem ser necessários podemos citar: psiquiatra, psicólogo, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia e educador físico. Os métodos de intervenção mais conhecidos e mais utilizados para promover o desenvolvido da pessoa com autismo e que possuem comprovação científica de eficácia são: TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handcapped Children) é um programa estruturado que combina diferentes materiais visuais para organizar o ambiente físico através de rotinas e sistemas de trabalho, de forma a tornar o ambiente mais compreensível, esse método visa a independência e ao aprendizado. PECS (Picture Exchange Communication System) é um método que se utiliza figuras e adesivos para facilitar a comunicação e compreensão ao estabelecer uma associação entre a atividade/símbolo . ABA (Applied Behavior Analysis) ou seja, analise comportamental aplicada que se embasa na aplicação dos princípios fundamentais da teoria do aprendizado baseado no condicionamento operante e reforçadores para incrementar comportamentos socialmente significativos, reduzir comportamentos indesejáveis e desenvolver habilidades. Muitas vezes os pais negam-se a aceitar o termo autista. Por esse ensejo existe a psicoterapia. Ela busca retirar o sentimento de culpa e encorajar a família a dar suporte à criança. Há outras modalidades terapêuticas, como a terapia do abraço, a reorganização neurológica e a ludoterapia. Santos (2008) garante que o processo que mais tem mostrado resultados é aquele por intermédio da educação especial Teacch. Esta se iniciou como um projeto de pesquisa e cresceu em função de seus resultados empíricos. Hoje, responsabiliza-se por todo o setor educacional e também pelos ligados à saúde pública, vinculados ao estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos (Kwee, 2006). Pelas pesquisas de Kwee (2006), o programa Teacch foi criado em 1960 por Eric Shopler e colaboradores. Kwee, Sampaio e Atherino (2009) ressaltam que o método tem como base teórica o behaviorismo e a psicolinguística e envolve estratégias para desenvolver a aprendizagem, o processo linguístico e a interação social, do mesmo modo que procura reduzir comportamentos inadequados. A missão do Teacch é capacitar indivíduos com autismo e atuar com maior grau de sentido e independência disponível na comunidade e o objetivo máximo é apoiar o portador de autismo em seu desenvolvimento para ampará-lo a alcançar a idade adulta com a maior autonomia possível. Isto inclui ajudá-lo a compreender o mundo que o cerca através da aquisição de habilidades de comunicação que lhe admita interagir com outros indivíduos, apresentando-lhes, em sua possibilidade, condições de optar conforme sua conveniência (COIMBRA, 2008, p. 65). Os resultados são eficientes quando o Teacch é trabalhado em um grupo de crianças com o mesma faixa etária. Faz-se de suma importância que o tratamento receba uma continuidade e não tenha nenhuma interrupção, ou seja, que não seja suspenso ao longo de sua aplicação, para que as mudanças possam ser introduzidas gradativamente, de forma adaptativa (FELÍCIO, 2007). Medicações: O uso de medicamento deve ser prescrito pelo médico, e é indicado quando existe alguma comorbidade neurológica e/ou psiquiátrica e quando os sintomas interferem no cotidiano. Mas vale ressaltar que até o momento não existe uma medicação específica para o tratamento de autismo. É importante o médico informar sobre o que se espera da medicação, qual o prazo esperado para que se perceba os efeitos, bem como os possíveis efeitos colaterais. 5 Considerações Finais Os profissionais da psicologia, da pedagogia e de outras áreas significativas no trato com o autismo necessitam de um rígido preparo profissional, pois é ele quem sobrepõe suas informações com o portador da síndrome, seja por meio de terapias específicas ou de processos de ensino. Com boa construção e preparo profissional para lidar com a inclusão escolar de crianças autistas, é plausível, por intermédio de uma análise médica válido, da ajuda familiar e dos profissionais de assistência escolar, alcançar evolução positiva nos acréscimos cognitivos e sociais. Sendo importante ressaltar que, antes de qualquer ação ou intercessão praticada para a evolução psicoemocional dos portadores do transtorno, o bem maior consiste na consistência social, uma vez que a convivência escolar constitui a melhor maneira de incentivá-los a analisar o mundo, que, por ora, procrastina muito do seu. Essas interações são a mola propulsora para o desembaraço aperfeiçoamentos linguagem, de de capacidades, incluindo aprendizagem e de as plasticidade aptidões do cérebro de motora, de por esses aguilhoamentos. As desavenças entre acessibilidade e adaptação das políticas pedagógicas a fim de agenciamento a inclusão dos autistas, ou de outra criança que possua alguma deficiência mental, estão no início da informação do profissional da educação. Se este tem conhecimento sobre a síndrome da qual seu aluno é portador, saberá interatuar com suas diferenças e, conforme a metodologia que aplica, adequar as práticas pedagógicas e propor a aprendizagem. Desse modo, ele se torna o medianeiro entre o valor da educação inclusiva e a realidade dessas práticas. Cada criança autista apresenta-se em um plano. Elas não possuem heterogenia adaptativa comum a todas com o mesmo problema; são únicas em todos os aspectos. Seu desenvolvimento depende exclusivamente de si mesmas e de como veem o universo que as rodeiam. A família é o arrimo principal no tratamento e no ajustamento do autista, por isso recebe todo o apoio psicológico e funcional para a apreensão da síndrome aqui abordada a fim de que, pelos artifícios e pelas práticas ensinados à criança, possa continuar aplicando essas amostras em casa, proporcionando a melhora das habilidades evolutivas e, principalmente, da aquisição dos padrões sociais de comportamento e da comunicação verbal. Referências Bibliográficas: ALVES, F. Inclusão: Muitos Olhares, Vários Caminhos E Um Grande Desafio. Rio de Janeiro, WAK EDITORA, 2009. 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