1 O PROCESSO DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE TERESINA: Percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem CARVALHO JÚNIOR, L. F. M1; SOARES, M. V1; MESQUITA, M. do A.da S. B.2 1. Alunos do Curso de Bacharelado em Enfermagem pela Faculdade Santo Agostinho – FSA. 2. Professora Especialista e orientadora da Pesquisa da Faculdade Santo Agostinho – FSA. RESUMO O Processo de Enfermagem (PE), utilizado nesse estudo com o mesmo significado de Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), é uma metodologia de trabalho desenvolvida pelo enfermeiro e equipe de enfermagem para a assistência prestada ao cliente. A pesquisa teve por objetivos: Conhecer a percepção do técnico e do auxiliar de enfermagem sobre o PE; compreender sua importância para o técnico e auxiliar de enfermagem; discutir o PE na percepção do técnico e auxiliar de enfermagem. Caracterizado como uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória descritiva. A coleta de dados consistiu em entrevistas estruturadas e observações livres não - participante realizada no setor de Neurologia e Urologia do Hospital Getulio Vargas, onde foram entrevistados 13 técnicos e auxiliares de enfermagem nos meses de abril e maio de 2009. Os resultados revelaram que os técnicos e os auxiliares de enfermagem possuem uma percepção frágil e superficial do PE. Embora os sujeitos relatassem conhecer o PE, eles demonstraram dificuldade em compreendê-lo e aplicá-lo na prática profissional. Para alguns, a participação no processo significa realizar evolução de enfermagem, ação privativa do Enfermeiro de acordo com a Lei 7.498/86. Podemos depreender que discutir a percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o PE é fundamental, pois eles ocupam um importante espaço no desenvolvimento e aplicação prática do PE e possuem instrumentos ilimitados necessários para ampliar o planejamento dos cuidados prestados ao paciente juntamente com o profissional enfermeiro. Palavras Chave: Processos de Enfermagem. Conhecimento. Assistência ao Paciente. ABSTRACT The Process of Nursing (PE), used in this study with the same meaning of Systematization of nursing care (SAE) is a methodology of work by nurses and the nursing staff for assistance to the client. The research aimed to know the perception of technical and auxiliary nurse on the nursing process, understand the importance of the technical and nursing assistant; discuss the EP in the perception of technical and auxiliary nurses. Characterized as a type of qualitative research exploratory descriptive. Data collection consisted of structured interviews and observations not free - participating in the sector held of Neurology and Urology, Hospital Getulio Vargas, where they interviewed 13 nursing technicians and assistants in April and May of 2009. The results revealed that technical and auxiliary nurse have a perception fragile and superficial of the EP. Although the subjects reported knowing the EP, they have difficulty in understanding it and applying it in practice. For some, participation in the process of evolution means to nursing, private nurse's action according to law 7498/86. It can be seen to discuss the perception of technical and nursing assistants on the EP is fundamental, because they occupy an important space in the development and implementation of the EP and have unlimited instruments necessary to enlarge the plan of care to the patient together with the professional nurse. Key Words: Cases of Nursing. Knowledge. Patient Care. 2 1 INTRODUÇÃO O processo de enfermagem (PE) também denominado de Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE consiste em um instrumento científico utilizado pelo enfermeiro e equipe de enfermagem para organizar a assistência prestada ao cliente a fim de promover, manter e recuperar a saúde e bem-estar do mesmo. Acerca do tema Garcia e Nóbrega (2000, p.4) assim se posicionaram: O processo de enfermagem não é um conceito “novo”. Embora a expressão ainda não fosse utilizada, é possível que o ponto de partida para seu desenvolvimento e introdução na nossa linguagem especial remonte a segunda metade do século XIX, quando Florence Nightingale enfatizou a necessidade de ensinar as enfermeiras a observar e a fazer julgamentos sobre as observações feitas. De acordo com Burns e Grove (1993 citado por Garcia e Nóbrega, 2000) o estudo de caso representou a primeira expressão da pesquisa relacionada à prática de enfermagem. Conforme a narrativa de Mc Guire (1991 citado por Garcia e Nóbrega 2000, p. 5) a iniciativa de ensinar as enfermeiras sobre à necessidade de realizar julgamentos clínicos sobre as observações feitas ao paciente surgiu da necessidade de se buscar uma assistência sistemática e que enfatizasse todas as necessidades de saúde do paciente. Numa aplicação teórica – prática, a construção dessa metodologia de assistência originou-se inicialmente com a criação de estudos de casos. Além disso, conforme esses autores os estudos de caso eram utilizados com a finalidade de coletar informações sobre os pacientes, sendo realizada a análise, a formulação de julgamentos clínicos sobre as informações coletadas e a diferenciação do que seria intervenção médica e de enfermagem. A enfermagem sempre se baseou em princípios, crenças, valores e normas tradicionalmente aceitos, porém a evolução da ciência mostrou a necessidade de se pesquisar para se construir o saber. Assim, na década de 50 os enfermeiros perceberam a necessidade de desenvolverem conhecimentos específicos e concluíram que isso só seria possível através da elaboração de teorias próprias. O avanço do conhecimento teórico beneficiou a descentralização do modelo biomédico do cuidado e favoreceu o foco do cuidado da enfermagem ao ser humano, e não em sua enfermidade. Todas as teorias publicadas destacam a pessoa como o foco principal, apresentada como um ser bio-psicosócio-espiritual. Sendo assim, a unicidade e totalidade devem ser preservadas para que o cuidado seja adequado e alcance seus objetivos (SOUZA, 2001). Os modelos teóricos têm contribuído muito na prática assistencial da enfermagem quando utilizados como referencial para a sistematização da assistência de enfermagem. Isso proporciona meios para organizar as informações e os dados dos pacientes, para analisar e interpretar esses dados, para cuidar e avaliar os resultados desse cuidado. Acredita-se na ciência da enfermagem que vem se desenvolvendo através da criação de teorias próprias, por meio de pesquisas específicas e da sistematização de seu conhecimento e assistência prestada. Assim, com o avanço das teorias de enfermagem, foi preciso a criação de um método científico, específico e sistemático, para o fazer do enfermeiro, desenvolvendo-se o processo de enfermagem. Quando os enfermeiros colocam em prática modelos do processo de enfermagem, os pacientes recebem cuidados qualificados em um mínimo de tempo e um máximo de eficiência (AMANTE, ROSSETTO E SCHNEIDER, 2009). 3 Conforme Horta (2007) a expressão “processo de enfermagem” foi empregada pela primeira vez por Ida Orlando, em 1961, para explicar o cuidado de enfermagem. Seus componentes eram: comportamento do paciente, reação da (o) enfermeira (o) e ação. Esses componentes mudaram ao longo dos anos. No Brasil, atualmente esses componentes são definidos e normatizados pela resolução 272/2002 do Conselho Federal de Enfermagem – COFEN (2002), que considera o PE como uma atividade privativa e obrigatória dos enfermeiros em todos os hospitais públicos e privados, sendo o mesmo realizado em quatro etapas que são: Histórico de Enfermagem, Diagnóstico de Enfermagem, Prescrição de Enfermagem e Evolução de Enfermagem. Tendo em vista esse contexto tomou-se como base o conceito do PE da Resolução citada anteriormente por ser regulamentada no Brasil. Na primeira etapa, Histórico de Enfermagem, há a necessidade de conhecer os hábitos individuais e biopsicossociais do paciente visando sua adaptação à unidade de tratamento, assim como a identificação de problemas. Também constará nessa etapa o exame físico do paciente, onde o enfermeiro deverá realizar as seguintes técnicas: inspeção, ausculta, palpação e percussão, de forma criteriosa, efetuando o levantamento de dados sobre o estado de saúde do paciente e a anotação das anormalidades encontradas para validar as informações obtidas no histórico (COFEN, 2002). A segunda etapa, Diagnóstico de Enfermagem, constitui-se na fase onde o enfermeiro após ter analisado os dados colhidos no histórico e exame físico, identificará os problemas de enfermagem, as necessidades básicas afetadas e grau de dependência, fazendo julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família e comunidade, aos problemas, processos de vida vigentes ou potenciais (COFEN, 2002). A terceira etapa, definida como Prescrição de Enfermagem e considerada como um conjunto de medidas decididas pelo enfermeiro, que direciona e coordena a assistência de Enfermagem ao paciente de forma individualizada e contínua, objetivando a prevenção, promoção, proteção, recuperação e manutenção da saúde (COFEN, 2002). Na quarta e ultima etapa denominada Evolução de Enfermagem, corresponde ao registro feito pelo enfermeiro após a avaliação do estado geral do paciente. Desse registro constam os problemas novos identificados, um resumo sucinto dos resultados dos cuidados prescritos e os problemas a serem abordados nas 24 horas subseqüentes (COFEN, 2002). É consenso na literatura, pertinente ao tema, que as etapas (fases ou componentes) do PE variam de autor para autor no que diz respeito ao número e a terminologia utilizada. A maioria concorda que são necessárias quatro etapas ao PE: Investigação ou Histórico, Diagnóstico, Intervenção ou Implementação e Evolução ou Avaliação de Enfermagem (TANNURE E GONÇALVES, 2008). Alguns autores como Alfaro – Lefvre (2005) consideram o Processo de Enfermagem em cinco etapas distintas, porém inter-relacionadas, que são: investigação, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação. Essa inter-relação deve ocorrer, pois uma coleta inadequada de dados leva a uma determinação errônea dos problemas apresentados (diagnósticos de enfermagem) e conseqüentemente um planejamento de ação inapropriado. Embora haja divergências entre os autores sobre o número de etapas, no que diz respeito às vantagens e benefícios que o PE traz para a assistência, todos são unânimes em afirmar que sua utilização: diminui a incidência e tempo das internações hospitalares à medida que agiliza o diagnóstico e o tratamento de problemas de saúde; melhora a 4 comunicação entre a equipe, previne erros e repetições desnecessárias; elabora cuidados ao indivíduo e não apenas para a doença (TANNURE E GONÇALVES, 2008). A Sistematização da Assistência de Enfermagem surgiu da necessidade de definir as responsabilidades e atribuições do profissional enfermeiro e da equipe de enfermagem, bem como construir corpo de conhecimento próprio que refletisse uma ação baseada em fatos científicos (CIANCIARULLO, 2008). Para Peduzzi e Anselmi (2002), a divisão do trabalho de enfermagem que originou as competências das diferentes categorias profissionais na área de enfermagem não permitiu definir um único processo de trabalho para todos os agentes, tendo sido necessário a dicotomia de dois tipos de cuidado, direto e o indireto; o primeiro a cargo do pessoal de enfermagem de nível médio e básico profissionalizante, o segundo, que abarca atividades de planejamento, organização, supervisão e avaliação do cuidado, sobre a responsabilidade do enfermeiro. No que se refere às funções específicas dos elementos da equipe de enfermagem o Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1977 que regulamenta a Lei do Exercício Profissional n º 7.498/86 que dispõe sobre o exercício de enfermagem quanto ao PE e da outras providências, estabelece as atividades privativas ao profissional enfermeiro, são elas: planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de enfermagem; cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam o conhecimento de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas. Cabe ao técnico de enfermagem: executar atividades de nível médio, orientação e acompanhamento do serviço de enfermagem em grau auxiliar, e participar do planejamento da assistência de enfermagem. Os auxiliares de enfermagem exercem atividades de nível médio, de natureza repetitiva, sobre supervisão, cabendo-lhes especialmente: observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas ao nível de sua qualificação profissional entre outras atribuições (BRASIL, 2001). Apesar das diversidades de funções previstas em lei, no que se refere à complexidade da assistência, na prática constata-se que apenas o enfermeiro possui atribuições diferenciadas. De maneira geral, as atribuições específicas do enfermeiro, e que o diferenciam, são funções administrativas e de supervisão da assistência. Mesmo os cuidados mais complexos, prescritos por lei, não são prestados por ele. O envolvimento com questões burocráticas o ocupa grandemente e a utilização de um método para sistematizar a assistência que busca resgatar o contato enfermeiro-paciente certamente provocaria transtornos operacionais vinculados à prática desse profissional (MEYER;GASTALD, 1989). Mendes e Bastos (2003) apontam que a assistência direta de enfermagem fica na responsabilidade dos auxiliares e técnicos e o enfermeiro atua somente como supervisor de tarefas desenvolvidas por estes profissionais. Para Cianciarullo (2008), o enfermeiro expressa um conflito entre compartilhar o trabalho com o auxiliar de enfermagem, tanto o cuidado quanto o seu planejamento, ou executar o trabalho que lhe é privativo. Além disso, Ferreira (2005) descreve duas lógicas no cotidiano das práticas de saúde. Para ela existem os aspectos relacional, afetivo e os aspectos técnicos. O primeiro implica no cuidado, respeito, atenção. O Segundo restringe-se aos aspectos formais e técnicos do tratamento dos indivíduos. 5 Considerando as atribuições técnicas dos constituintes da equipe de enfermagem e sua aplicabilidade na prática assistencial é necessário admitir que o conhecimento acerca do PE, como também sua ação na prática não é incorporada de forma efetiva no âmbito da enfermagem. Existem vários fatores que influencia essa situação e conforme Cianciarullo (2008) há duas barreiras iniciais a serem transpostas: uma está relacionada à escolha, interpretação e aplicação do modelo conceitual do PE, e a outra seria a sua operacionalização no contexto da prática. Uma das dificuldades encontradas no que diz respeito à operacionalização, está relacionada com a inserção do técnico e auxiliar de enfermagem (executores das ações do cuidado) no desenvolvimento do PE. Longaray, Almeida e Cezaro (2008) em um estudo sobre as reflexões dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o PE afirmam que estes profissionais membros da equipe de enfermagem, são os principais executores das prescrições realizadas pelos enfermeiros. Logo eles ocupam um espaço importante no desenvolvimento do PE, pois tornam efetiva a prescrição de enfermagem, convertendo-as em ações práticas com repercussões favoráveis a saúde do paciente. Essa pesquisa demonstrou também que os principais problemas na aplicação e desenvolvimento do PE foram: falhas na comunicação entre a equipe de enfermagem e necessidades de reavaliação da prescrição dos cuidados de enfermagem. Cruz (2008) em um estudo realizado com técnicos de enfermagem sobre a formação de suas competências acerca do PE demonstrou que na perspectivas desses sujeitos a sua participação é limitada por que estes profissionais não compreendem e não valorizam essa metodologia no seu processo de trabalho. Vale ressaltar que a participação dos técnicos e auxiliares de enfermagem na construção desse processo vai muito além da execução dos cuidados vinculados às prescrições de enfermagem. Ela também pode ser identificada nas etapas de diagnóstico e evolução de enfermagem, como ressalva Peduzzi e Anselmi (2002). Segundo os autores, os técnicos e auxiliares de enfermagem não participam diretamente no planejamento da assistência, porém eles fornecem informações diárias sobre as observações, intercorrências e intervenções ocorridas, material que colabora na fundamentação da metodologia da assistência de enfermagem, o que em relação à operacionalização do PE gerou questionamentos como por exemplo, o de Waldow (2001, p.284): [...] na verdade quem é que cuida? Então, deveria ser colocado desta forma: como os profissionais de enfermagem (auxiliares e técnicos) estão cuidando? Estão cuidando da forma como penso ser adequada? Como tem sido a formação destes profissionais? Tentando explicar essa dificuldade no contexto operacional do PE Ramos (2007), ressalta que no Brasil o ensino do PE aos profissionais de nível médio é muito pouco ou nenhuma informação é dada em função da dificuldade em delimitar as competências de cada membro da equipe de enfermagem no contexto da operacionalização do PE. Nesse contexto, a participação dos membros da equipe de enfermagem no Processo gera controvérsias e é um desafio tanto para quem coordena a assistência (enfermeiro) como para quem executa (técnico e auxiliar de enfermagem). Portanto, é essencial conhecer a percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o PE, pois eles contribuem para a melhoria da qualidade dos cuidados, na continuidade da assistência que é prestada ao paciente e sua opinião reflete em como o PE é consolidado pelo 6 enfermeiro da equipe, bem como a integração da mesma com relação à assistência prestada. A preocupação em orientar as atividades de enfermagem teve como marco o desenvolvimento e a divulgação do Processo de Enfermagem (PE). Essa metodologia é utilizada pela equipe de enfermagem nos hospitais públicos e privados como um guia para orientar de forma sistemática todas as atividades relacionadas ao cuidado do paciente. Sendo esta temática objeto de preocupação em diferentes âmbitos de atuação, quer seja ensino, pesquisa e assistência. Sabe-se que o conhecimento é, sem dúvida, um dos aspectos de grande importância para o agir profissional na enfermagem, uma vez que confere a esses profissionais, segurança na tomada de decisões relacionadas ao paciente, a equipe e no planejamento da assistência. Assim, a capacidade dos técnicos e auxiliares de enfermagem de influenciar direta e/ou indiretamente na construção do PE junto ao enfermeiro está intimamente relacionada ao nível e a formação do conhecimento que estes profissionais possuem sobre o PE. Além dessa dimensão, utilizou-se mais dois parâmetros para compreender a percepção desses sujeitos sobre o tema que são: A participação dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o PE e os comportamentos e atitudes desses profissionais diante a realização das atividades vinculadas ao PE. Os estudos que enfatizam a percepção do técnico e auxiliar de enfermagem sobre o PE são escassos, desatualizados e retratam o envolvimento destes profissionais somente em etapas isoladas no Processo. Assim com este estudo pretende-se buscar mais informações para tentar compreender como os técnicos e auxiliares de enfermagem podem participar de forma mais efetiva na consolidação do PE para a prática assistencial. Há diferentes estudiosos estrangeiros e nacionais preocupados com a necessidade de levantar questões referentes à inserção do técnico e auxiliar de enfermagem no desenvolvimento do PE. Assim, na realização desse estudo definiram-se como aportes teóricos marcantes os estudos de Peduzzi e Anselmi (2002); Ramos (2008); Longarey, Almeida e Cezaro (2008); Ciancirullo (2008) e Garcia e Nóbrega (2000). 1.1 Justificativa Enquanto alunos do curso de Graduação de Enfermagem da Faculdade Santo Agostinho, pôde-se apreender que o Processo de Enfermagem é um instrumento para organizar a assistência de enfermagem prestada ao cliente/paciente, de forma a promover, facilitar e individualizar estes cuidados e que no Brasil o PE é normatizado pela Resolução 272/2002 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), o qual referência a sistematização da assistência de enfermagem através do estabelecimento das fases a serem seguidas na realização do trabalho com o PE. Durante a realização das atividades práticas nas instituições de saúde, observouse a dificuldade encontrada por parte dos membros da equipe de enfermagem (técnicos e auxiliares de enfermagem) na construção e no desenvolvimento do PE junto ao enfermeiro. Considerando estes profissionais como os principais executores da assistência de enfermagem a ser prestada ao cliente/paciente e ocuparem um espaço importante no 7 desenvolvimento do PE, identificou-se a necessidade de compreender qual é a percepção do técnico e auxiliar de enfermagem sobre o Processo. 1.2 Questões Norteadoras Em face dos motivos levantados para a realização dessa pesquisa delineou-se as seguintes questões norteadoras: Qual a percepção do técnico e o auxiliar de enfermagem sobre o processo de enfermagem? Qual a importância do processo de enfermagem na percepção destes profissionais? 1.3 Objetivos da Pesquisa As questões norteadoras serviram de referência na construção dos seguintes objetivos: Conhecer a percepção do técnico e do auxiliar de enfermagem sobre o processo de enfermagem; Compreender a importância do processo de enfermagem para o técnico e auxiliar de enfermagem e discutir o PE na percepção do técnico e auxiliar de enfermagem. 2 TRAJÉTORIA METODOLÓGICA 2.1 Tipo de Estudo A presente pesquisa visa conhecer a percepção do técnico e auxiliar de enfermagem sobre o PE com base em uma metodologia do tipo exploratória, descritiva e qualitativa (segundo o objeto de investigação). Para Nascimento (2002) a pesquisa exploratória tem como objetivo permitir um aprofundamento maior sobre o tema ou questões com as quais o pesquisador não esteja ainda muito familiarizado ou que disponha de poucas informações, criando as condições de formulações de hipótese. Priorizou-se a pesquisa descritiva por que segundo Moreira e Caleffe (2006, p.70) “o seu valor baseia-se na premissa de que os problemas podem ser resolvidos por meio da observação objetiva, da análise e da descrição”. Para Matheus e Fustioni (2006) a pesquisa qualitativa se torna apropriada para compreensão dos acontecimentos que cercam a realidade do ser humano, pois ela é mais abrangente, não-fragmentada e compreende de forma mais holística o sujeito. 2.2 Cenário de Estudo A pesquisa foi realizada nos setores de urologia e neurologia em um hospital público de Teresina, Hospital Getúlio Vargas - HGV, localizado na Avenida Frei Serafim, nº 2352, Centro. Esses setores encontram-se respectivamente localizados no primeiro e segundo andar, ambos com espaço e disponibilidade de serviços por meio de uma equipe multiprofissional. A experiência com a SAE no HGV aconteceu de forma institucionalizada e planejada, sua implementação se deu na clinica médica a partir da iniciativa do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a divisão de 8 enfermagem do HGV, sob forma de um projeto de extensão que objetivou também realizar uma integração ensino-serviço. 2.3 Sujeitos do Estudo Os sujeitos do estudo foram os técnicos e auxiliares de enfermagem que trabalham no setor de Urologia e Neurologia do hospital escolhido para a pesquisa. Para o estudo os critérios de inclusão dos sujeitos da pesquisa foram: Ser técnico ou auxiliar de enfermagem; Ter recebido ou não treinamento sobre o PE; Ter experiência profissional; Sem distinção de sexo. Os critérios de exclusão foram: Não ter vínculo empregatício; Não atuar na prática assistencial; Ser bolsista e /ou atendente de enfermagem. No tocante aos critérios de seleção dos sujeitos, enfatizaram-se os técnicos e auxiliares de enfermagem com experiência profissional na assistência por considerar necessário para o conhecimento e atuação sobre o PE. 2.4 Instrumentos de Produção dos dados Aplicou-se a técnica da entrevista estruturada com os sujeitos da pesquisa nos diferentes turnos de trabalho, sendo que esse instrumento foi validado visando assegurar os pesquisadores sobre a clareza e objetividade dos itens elaborados. Contou-se também de uma observação - não estruturada e não – participante realizada durante a coleta de dados, dos comportamentos e atitudes dos técnicos e auxiliares de enfermagem durante a realização das atividades do PE. Genro (2009) caracteriza que nas observações não - estruturadas ou livres, os comportamentos e atitudes a serem observados não são predeterminados, são observados e relatados da forma como ocorrem, visando descrever e compreender as situações investigadas. Para Richardson (1999) a observação não - participativa registra o máximo de ocorrências que interessa ao pesquisador, sendo indicada tanto para estudos exploratórios os quais podem levantar novos problemas ou indicar determinados objetivos para a pesquisa, como também a estudos mais profundos. Nela o investigador não observa o objeto de estudo como se fosse membro do grupo observado, mas apenas atua como expectador atento. O período da coleta de dados aconteceu entre os meses de abril e maio de 2009, mais especificamente no último mês. O estudo piloto foi utilizado em um grupo de cinco sujeitos três deles do setor de urologia e dois do setor de neurologia do local da pesquisa, sendo que estes sujeitos escolhidos para o estudo piloto não foram selecionados para a pesquisa. Percebeu-se que algumas perguntas necessitavam de melhor esclarecimento visto que a maioria dos sujeitos a quem foi aplicado o pré-teste enfatizava que a sua participação no PE baseava-se nos seminários e congressos, além disso, houve dificuldade por parte dos sujeitos em compreender o que era o PE. Sendo necessário descrever sobre a definição do Processo através das etapas e muitas vezes esclarecer verbalmente sobre o que era o PE utilizando outras terminologias como SAE, Planejamento da Assistência de Enfermagem, entre outros. (Apêndice A). Ademais as questões foram subdivididas em duas partes: Parte I relacionada à caracterização dos sujeitos, onde nela estão contidos dados acerca de: Idade, tempo de 9 serviço, sexo, escolaridade, categoria profissional e naturalidade. Na parte II estão dados relacionados à fala dos sujeitos sobre a percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o PE através dos seus conhecimentos sobre as etapas do Processo, bem como a sua participação na realização do mesmo e sua importância na assistência ao paciente. Ao final dessa alteração o roteiro de entrevista (Apêndice A) semi-estruturado composto por perguntas abertas e fechadas foi utilizado para compreender qual é a percepção que os técnicos e o auxiliares de enfermagem tem sobre o PE. O número de técnicos e auxiliares de enfermagem a serem entrevistados foi indeterminado a princípio, sendo definido mediante a saturação das respostas. Durante as entrevistas as falas dos sujeitos começaram a se repetir, sendo encerradas e o número de participantes estabelecidos. Para Fontanella, Ricas e Turato (2008) a amostragem por saturação é uma ferramenta empregada nos relatórios de investigações qualitativas na área da saúde e é definida com a suspensão de inclusão de novos participantes quando os dados obtidos passam a apresentar, na avaliação do pesquisador, certa redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta de dados. Saturadas as respostas, participaram do setor de Urologia quatro sujeitos e do setor de Neurologia nove. Assim totalizando treze técnicos e auxiliares de enfermagem. Os outros sujeitos não se dispuseram a participar da pesquisa; alguns estavam de férias e/ou licença maternidade; outros foram selecionados para o pré-teste ou eram atendentes de enfermagem ou bolsistas. 2.5 Análises dos Dados Mesmo a pesquisa tendo uma abordagem qualitativa, o estudo conta com elementos quantitativos na apresentação dos dados, referentes às questões fechadas, como um critério didático de apoio à análise descritiva e critica, compartilhando do posicionamento de Richardson (1999, p.88) ao referir-se às contribuições que possibilitam a complementaridade dos métodos quantitativos e qualitativos para a investigação descritiva. Para as questões abertas e a observação não - estruturada, os dados foram analisados e interpretados qualitativamente de modo a abranger todas as idéias expressas pelos sujeitos. Essa análise depende da natureza dos dados coletados, da extensão da amostra, dos instrumentos de pesquisa e dos pressupostos teóricos que norteiam a investigação. A análise dos dados foi construída a partir da interpretação dos dados referentes à entrevista e as observações baseadas em três etapas conforme prescreve Gil (2007). A primeira etapa consistiu no processo de seleção e simplificação dos dados mais significativos para a pesquisa; em seguida a categorização, que foi a fase da organização dos dados através da construção de categorias descritivas comparadas com o referencial teórico da pesquisa, enfatizando não somente a análise explícita do material coletado como também seu conteúdo implícito e aspectos contraditórios e por último a interpretação dos resultados, onde os pesquisadores analisaram os dados, de acordo com seus conhecimentos, ultrapassando a descrição dos dados feitas na segunda etapa. 10 Além disso, os pesquisadores discutiram os resultados, através do método de triangulação, ancorados em três dimensões: o conhecimento dos sujeitos sobre PE; a sua participação no Processo e os comportamentos e atitudes diagnosticados pela observação livre, para uma melhor compreensão da percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o tema e para reduzir os vieses encontrados durante a coleta de dados, no que se refere a dificuldade por parte dos pesquisados em compreender o PE. Nesse sentido, Triviños (1987 p. 138), explicita que a “técnica da triangulação tem por objetivo básico abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo” 2.6 Aspectos Éticos e Legais Os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisa que envolvem seres humanos estão regulamentados pelas diretrizes e normas de pesquisa em seres humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, estabelecida em outubro de 1996 (BRASIL, 1996). Com base nessa Resolução o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HGV (Anexo A) e após aprovação deste, foi encaminhado a Comissão de Ética e Pesquisa - CEP da Faculdade Santo Agostinho (FSA) para deferimento. Aos sujeitos do estudo foi esclarecido os objetivos da pesquisa, sua finalidade e o direito à privacidade de suas informações pessoais no estudo. Essas informações estão contidas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B), que foi entregue aos mesmos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO TEMÁTICAS 3.1 Caracterização dos Sujeitos Dentre os sujeitos, onze eram do sexo feminino e dois do sexo masculino. Quanto à idade um tinha entre 20-25 anos, um entre 36-40 anos, cinco de 41-45 anos e seis de 45 ou mais. Quanto à escolaridade averiguou-se que oito participantes da pesquisa possuem ensino médio completo, um tem ensino superior incompleto e quatro tem ensino superior completo. Quanto à categoria profissional quatro relataram ser auxiliar de enfermagem e nove serem técnicos de enfermagem. No tocante ao tempo de trabalho na enfermagem um afirmou ter tempo de experiência profissional na enfermagem entre 5-10, dois entre 10-15 anos, um entre 15-20 anos e nove com 20 ou mais. Os dados da caracterização dos técnicos e auxiliares de enfermagem sujeitos do estudo acima descritos encontram-se na Tabela 1. 3.2 Construção das Categorias As informações obtidas foram analisadas e interpretadas a partir da organização do material e ocorreu por seleção das falas que respondiam aos objetivos do estudo. Dessa forma os relatos e as observações não – estruturadas foram analisadas mais profundamente, de acordo com o referencial teórico, possibilitando sua categorização em temáticas a serem discutidas tanto por meio das declarações em si como por demais estudos relacionados. Inicialmente, descreveu-se a percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem baseado no conhecimento dos sujeitos sobre o PE, de suas Participações no Processo e dos 11 comportamentos e atitudes observadas dos pesquisados diante do PE. Destas foram construídas duas categorias temáticas: Execução da Prescrição de Enfermagem e Realização da Evolução de enfermagem. Na terceira dimensão caracterizaram-se essas atitudes através das falas observadas de forma livre durante a coleta de dados. Em seguida edificou-se a triangulação entre essas dimensões em duas formas: congruentes e divergentes. Das falas dos sujeitos relacionadas de acordo com a importância do PE formaramse mais três categorias: Reabilitação da saúde, Evolução do Paciente e Segurança na Execução dos procedimentos. 3.3 Percepção dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem sobre o PE 3.3.1 Conhecimento dos sujeitos sobre o PE Durante as entrevistas todos os técnicos e auxiliares de enfermagem afirmaram conhecer o PE. Em relação às etapas do PE, dez técnicos e auxiliares de enfermagem afirmaram conhecê - las e três responderam que conheciam em parte. (Gráfico 1). 10 8 6 4 2 0 Em parte Não Sim Gráfico 1 - Conhecimento dos Técnicos e auxiliares de Enfermagem sobre as etapas do PE. Fonte: Dados da pesquisa Analisando o conhecimento que os técnicos e auxiliares de enfermagem dizem possuir sobre o PE, pôde-se verificar através das observações livres realizadas acerca dos comportamentos e atitudes dos sujeitos sobre Processo, que este conhecimento é superficial e frágil e que correlacionados com os dados obtidos acima, refletem contradições, pois observou-se que alguns sujeitos demonstraram através das seguintes falas não compreender o PE: “Mais o que é o Processo de Enfermagem?”. “Eu não entendi o que é esse processo”. “Mais eu só conheço a evolução de enfermagem tem algum problema?”. Em relação à participação dos sujeitos em algum treinamento sobre o PE, observou-se que onze sujeitos afirmaram que sim e dois que não. (Gráfico 2) 12 12 10 8 6 4 2 0 Sim Não Gráfico 2 - Treinamento dos Técnicos e auxiliares de Enfermagem sobre o PE Fonte: Dados da Pesquisa Questionados sobre quando ocorreu o treinamento sobre o PE, alguns sujeitos relataram que essa formação ocorreu em dois momentos: durante a vida profissional e durante o curso técnico. Tendo em vista que a maioria dos sujeitos possui tempo de serviço na enfermagem igual ou superior a vinte anos (Tabela 1), considerando também as observações realizadas e que a formação inicial dos pesquisados baseia-se, sobretudo na construção e na valorização de conhecimentos sobre os cuidados de enfermagem é correto aferir esses sujeitos que receberam treinamento sobre o PE durante a vida profissional não souberam definir claramente quais as competências que foram adquiridas. 3.3.2 Participações dos técnicos e auxiliares de enfermagem na realização do PE Os dados obtidos para captar a participação dos sujeitos na realização do PE foram operacionalizados a partir de duas categorias: execução da prescrição de enfermagem e realização da evolução de enfermagem. 3.3.2.1 Execução da prescrição de enfermagem A partir das entrevistas, percebeu-se que alguns dos sujeitos consideraram a sua participação no PE através da execução da prescrição do enfermeiro. Como observa-se nas seguintes falas: Realizando o Processo de Enfermagem que cabe a mim. (Depoente 1). [...] Apenas contribuímos (executando) realizando as prescrições de enfermagem, já que o histórico, diagnóstico e a evolução de enfermagem fica c/ a enfermeira (Depoente 2). [...] Administração de medicamentos, banho no leito, sinais vitais, cuidados gerais (Depoente 3). 13 Seguindo a lógica das respostas dadas quanto a execução da prescrição de enfermagem, destaca-se a do Depoente 2 por considerar a sua participação coerente com a Lei 7.498/86, que define as competências da equipe de enfermagem no PE. Além disso, considerou-se seu depoimento como um ponto positivo no desenvolvimento do planejamento da assistência, pois observou-se um elevado nível de conhecimento acerca das etapas do PE e também em relação à delimitação das funções que são exercidas pelo enfermeiro no Processo. De acordo com Ramos (2007), a principal função dos membros da equipe está relacionada à execução das prescrições de enfermagem. Contudo, a lei de normatização do exercício profissional quanto ao PE, atribui à participação dos técnicos de enfermagem não somente a execução da prescrição de enfermagem, como também participando no planejamento da assistência. Vale ressaltar que essa participação também pode ser identificada nas etapas de diagnóstico e evolução de enfermagem, como ressalva Peduzzi e Anselmi (2002). Segundo os autores, os técnicos não participam diretamente no planejamento da assistência, porém eles fornecem informações diárias sobre as observações, intercorrências e intervenções ocorridas, material que colabora na fundamentação da metodologia da assistência de enfermagem. Em outro contexto, verificou-se que a participação do depoente 3 no PE é caracterizada somente pelos procedimentos técnicos que são realizados junto ao paciente, vinculados aos cuidados rotineiros na prescrição de enfermagem. No que se refere às observações, destaca-se que alguns sujeitos não executavam adequadamente a prescrição de enfermagem, pois elas não eram prescritas. Outros consideravam como prescrição de enfermagem, a realização de rotinas de cuidados que são padronizadas pela Instituição, como banho no leito, soroterapia, punção venosa, entre outras. 3.3.2.2 Realização da evolução de enfermagem Segundo o COFEN (2002) a evolução de enfermagem é um registro feito pelo enfermeiro após a avaliação do estado geral do paciente. Nesse registro constam os problemas novos identificados, um resumo sucinto dos resultados dos cuidados prescritos e os problemas a serem abordados nas 24 horas subsequentes. Mesmo assim, alguns depoentes confundiram a sua participação no PE, e relataram que realizavam a evolução de enfermagem, conforme depoimentos a seguir: Fazendo a evolução de enfermagem no sentido de ta melhor colaborando c/o restante da equipe (Depoente 4 ). [...] realizando evoluções de enfermagem junto ao prontuário (Depoente Fazer evolução de enfermagem em prescrição médica (Depoente Evolução de enfermagem (Depoente 7). 9). 11). Neste sentindo, percebe-se que nessas colocações os técnicos e auxiliares de enfermagem tiveram dificuldade, ou não compreenderam suas competências com relação a 14 participação no PE. O que se denotou foi à prática de anotações de enfermagem, a qual é atividade privativa dos pesquisados. Essa colocação converge com as observações que foram realizadas. Nelas pôdese perceber que os técnicos e auxiliares de enfermagem realizam funções que são exclusivas do enfermeiro no âmbito do PE, em virtude de sua ausência na coordenação dos cuidados de enfermagem. Além disso, observou-se que no prontuário existem espaços reservados para a realização das evoluções, porém não são feitas. Em vista de falas observadas durante a coleta de dados, algumas afirmaram que: “Além de ter que fazer as medicações nós temos que fazer a evolução de enfermagem por que o enfermeiro não fica no posto”. Somente um dos sujeitos considerou sua participação no processo através das anotações de enfermagem, como pode ser demonstrado na fala abaixo: [...] anotações para que sirva de informação posterior (Depoente12). De acordo com Cianciarullo (2008), as anotações de enfermagem são subsídios que fornecem informações a respeito da assistência prestada, de modo a assegurar a comunicação entre os membros da equipe de saúde, e assim garantir a continuidade das informações. Apesar de não fazer parte das etapas do PE, as informações adquiridas através das anotações de enfermagem servem para rever o planejamento da assistência prestada ao paciente. As anotações de enfermagem podem ser utilizadas durante a quinta etapa do PE conhecida como avaliação de enfermagem. Esta etapa de acordo com Tannure e Gonçalves (2008) consiste na ação de acompanhar as respostas do cliente aos cuidados prescritos, por meio de anotações no prontuário ou nos locais próprios, da observação direta da resposta do cliente á terapia proposta, bem como do relato do cliente. O relato do Depoente 12 demonstra a prática das anotações de enfermagem como uma forma de participar junto ao enfermeiro no desenvolvimento do PE. Considerando, sua formação como auxiliar de enfermagem, seu tempo de serviço na enfermagem, sua percepção com relação a esse aspecto é coerente com o que foi referenciado dos principais autores sobre o assunto. Dentre os sujeitos que foram questionados sobre sua participação no PE, alguns (de acordo com observações realizadas) referiam inicialmente dúvida com relação a sua participação no Processo. Através de alguns relatos tipo: “Essa participação que você estar perguntando aqui é de uma forma geral ou especifica”. “Eu participo somente através das rotinas de cuidado eu posso colocar?” Esse fato reforça a idéia de que mesmo a maioria dos sujeitos tendo afirmado anteriormente conhecer as etapas que compõem o PE, eles tiverem dificuldade em delimitar suas funções. Vale aqui correlacionar as falas dos sujeitos sobre sua participação no PE com as idéias de Cruz (2008) de que os técnicos de enfermagem possuem uma participação limitada no PE por não compreenderem essa metodologia no seu processo de trabalho. 15 3.4 Importância do PE para os Técnicos e Auxiliares de Enfermagem 3.4.1 Na reabilitação da saúde Com relação a outro questionamento sobre a importância aplicada ao PE, alguns dos entrevistados enfatizaram a importância na reabilitação da saúde. Isso pode ser comprovado nas seguintes falas: Para o paciente ter uma reabilitação mais rápida no seu tratamento (Depoente 1). [...] o pcte é bem mais assistido, visto que é acompanhado em cada etapa do seu processo de reabilitação da saúde (Depoente 2). [...] reabilitando o mais rápido possível (Depoente 10). Esses aspectos mencionados por alguns dos depoentes acima configura no interesse da melhoria de saúde do paciente, que contribui para a importância de implementação do PE. Segundo Alfaro - Lefevre (2005) a importância do PE está na promoção, manutenção e recuperação da saúde, proporcionando cuidados eficientes que atendam aos desejos e as necessidades individuais. Com relação ao depoente 4, a importância do PE está integrada em todas as etapas, como demonstra a seguir: É de grande importância para cura do mesmo, a medida que as quatros etapas caminhem no sentido de melhor tá atendendo o cliente (Depoente 4). Apesar de denotar algum conhecimento sobre a importância integrada junto às etapas do PE, quando questionado anteriormente sobre sua participação no PE, o mesmo teve dificuldade ou não compreendeu sua função no planejamento da assistência. 3.4.2 Evolução do paciente Outros sujeitos, questionados sobre a importância do PE, relataram: A evolução do paciente torna-se o procedimento a desejar p/ enfermagem (Depoente 6). Serve para o acompanhamento da evolução do paciente (Depoente 12). Através dos relatos, observou-se que a importância do PE está relacionada à evolução do paciente, no sentido de buscar resultados desejados e melhorar a qualidade da assistência através dos cuidados prestados pela equipe de enfermagem. Esta evolução do paciente de acordo com Tannure e Gonçalves (2008) pode ser realizada através da avaliação ou evolução de enfermagem, uma das etapas do PE, em que o enfermeiro observa os aspectos do cuidado ao paciente. 16 3.4.3 Segurança na execução dos procedimentos Demonstrando outros relatos acerca da importância do PE, pode-se verificar a importância relacionada à segurança de execução dos procedimentos. Isso se reflete nas seguintes falas: Passa confiança ao paciente nunca deixar o paciente notar sua insegurança (Depoente 5). [...] porque todo procedimento nos temos que ter segurança do que fazemos (Depoente 8). Nestas falas percebeu-se a dificuldade de compreender a importância do PE, mesmo afirmando conhecer sobre as etapas do processo. Nisso, a implementação do PE só será desenvolvida adequadamente quando os membros da equipe souberem quais suas participações no PE e, principalmente sua importância na assistência ao paciente. Alguns sujeitos consideraram à importância do PE, no que se refere aos aspectos relacionais e afetivos, descrevendo o cotidiano das práticas, como se verifica a seguir: Ser muito bom com o paciente respeitar ser amiga dele (Depoente 9). Dar o paciente o apoio psicológico; ser um pouco humano, e não só as técnicas (Depoente 13). Vale compartilhar do pensamento de Ferreira (2005), quando destaca a importância dos aspectos relacional, afetivo no cotidiano das praticas de saúde. 4 CONCLUSÃO Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de conhecer a percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem do setor de Neurologia e Urologia do Hospital Getúlio Vargas HGV em Teresina-PI, em relação ao PE. A escolha dessa temática esta relacionada à experiência durante as práticas realizadas no curso de graduação e por considerar-se que os técnicos e auxiliares de enfermagem ocupam importante papel no desenvolvimento do PE. Os resultados da pesquisa revelaram, de forma geral, que a percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o PE é superficial e frágil, havendo dificuldade por parte dos sujeitos em compreendê-la. Essa situação também pode ser encontrada no que diz respeito às etapas que compõem o PE, uma vez que durante a coleta de dados houve a necessidade de esclarecimento sobre as etapas do Processo. Ressalta-se que a maioria dos sujeitos que participaram da pesquisa possuíam tempo de serviço na enfermagem igual e/ou acima de vinte anos. Embora tenham afirmado participarem de treinamento sobre o PE durante a vida profissional nos últimos três anos, é cabível justificar a dificuldade por eles percebida sobre o referido processo, visto que a sua formação inicial não aborda a temática e nas suas práticas profissionais passaram a valorizar o saber-fazer perpetuado ao longo de sua trajetória profissional, esquecendo que o conhecimento cientifico (o saber – teórico) é uma exigência para o desenvolvimento de competências acerca do PE. 17 Os principais estudos relacionados ao tema da pesquisa consideraram a participação dos técnicos e auxiliares de enfermagem na execução das prescrições de enfermagem e as dificuldades dos mesmos em desenvolver essa etapa do PE. Esses dados divergem em parte dos dados obtido por essa pesquisa. Apenas um dos sujeitos, considerando sua formação sobre o PE, tempo de serviço na enfermagem entre 5 a 10 anos e com escolaridade superior completo, apresentou um bom nível de conhecimento sobre o PE e consistência teórica no que diz respeito a sua participação no processo, apresentando uma percepção sobre o processo mais embasada cientificamente, porém limitada com relação ao leque de possibilidades que o técnico e auxiliar podem influenciar junto ao enfermeiro no desenvolvimento do PE. Os demais sujeitos da pesquisa apresentaram um conhecimento insatisfatório e participação restrita no PE. Um fato preocupante foi de alguns sujeitos referirem sua participação no PE, através das evoluções de enfermagem. Apesar de não relacionarem corretamente suas atividades às fases da SAE, eles descrevem ao seu modo como atuam nesse contexto. Essa percepção distorcida pode ser interpretada pela ausência do profissional enfermeiro nesse contexto. Como visto na Fundamentação Teórica e nas observações não – estruturadas o enfermeiro expressa um conflito entre compartilhar o trabalho com o auxiliar e técnico de enfermagem, tanto no cuidado quanto no seu planejamento, ou executar a sua outra função que lhe é privativa: administração e supervisão de enfermagem. No entanto, cabe ao técnico e auxiliar de enfermagem a responsabilidade de “coordenar” esses cuidados, o que na verdade no âmbito de sua formação puramente técnica, estavam realizando anotações de enfermagem. No que concerne as atribuições especificas dos membros da equipe de enfermagem no PE, essa situação gera controvérsias e algumas discussões, pois a lei 7.498/86 estabelece o planejamento do PE como uma atividade privativa do enfermeiro, embora ressalte a participação do técnico no planejamento da assistência de enfermagem. Alguns técnicos e auxiliares de enfermagem destacaram a importância do PE na evolução do paciente, como resultado na melhora do quadro clínico do mesmo. Essa colocação pode estar inserida em uma das etapas do PE denominada Evolução ou Avaliação de Enfermagem. Para outros sujeitos a segurança na execução dos procedimentos é a característica mais importante do PE. Esse fato gera preocupação, uma vez que essa percepção é distorcida da real importância que o PE possui na pratica assistencial, pois para eles o PE esta vinculado somente à execução dos procedimentos técnicos. Outros relacionaram essa importância a questões subjetivas, principalmente aquelas evidenciadas no relacionamento entre o profissional e o cliente. Em vista desses dados e das observações feitas, pode-se aferir que os técnicos e auxiliares de enfermagem embora, relatassem conhecer o PE, têm dificuldade de compreendê-lo e aplicá-lo na pratica assistencial, e que o tempo de serviço na enfermagem, sua formação sobre o PE, aliada a escolaridade desses profissionais, são fatores decisivos nas construções de uma percepção mais consistente acerca do assunto. O tema da presente pesquisa teve como desafio várias questões: a escassa literatura pesquisada, porque alguns autores se encontravam desatualizados ou demonstravam resultados sobre estes profissionais apenas em etapas isoladas; a dificuldade por parte dos sujeitos em inicialmente compreender o PE durante a coleta de dados. Em contrapartida, tais nuances foram minimizadas através do processo de triangulação entre os dados obtidos oriundos das observações não – estruturadas e dos resultados alcançados na entrevista. Esse método contribuiu para o alcance dos objetivos propostos acerca da 18 percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o PE. Assim, essa pesquisa oferece elementos referenciais para novos estudos. Com o término desse estudo sugere-se em um primeiro momento, a definição nos papéis quanto à participação e importância do PE para equipe de enfermagem. Como também, que os cursos técnicos incluam no currículo o conteúdo do PE na formação desses profissionais. A aplicação do PE é um desafio tanto para enfermeiro como para a equipe de enfermagem. Pode - se depreender que discutir a percepção dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o Processo é fundamental, pois eles ocupam um importante espaço no desenvolvimento e aplicação prática do PE e possuem instrumentos ilimitados necessários para ampliar o planejamento dos cuidados prestados ao paciente juntamente com o profissional enfermeiro. REFERENCIAS ALFARO-LEFEVRE, R. 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