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ÁGORA Revista Eletrônica
Ano XII
Nº 23
Dezembro de 2016
Páginas 164 - 168
ISSN 18094589
ENCARTE ESPECIAL
John DEWEY = Democracia e Educação: introdução à filosofia da educação
RESENHA - DEWEY, John. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação.
4.ed. São Paulo: Nacional, 1979. Capítulo 9: Desenvolvimento Natural e a Eficiência
Social como Objetivos
Janimara Rocha1
Em seu livro Democracia e Educação: Introdução à Filosofia da Educação, John
Dewey aborda questões relativas à formação do ser humano sob a perspectiva do seu
desenvolvimento natural e sob a eficiência social, ou seja, a interferência de outrem na
educação e no desenvolvimento do ser humano desde criança. Segundo o autor, o que se
entende por objetivos da educação sofrem variação de acordo com a época em que se vive, os
costumes que se seguem em determinadas sociedade e assim por diante.
No item O objetivo fornecido pela natureza, Dewey busca em Rousseau argumentos
para contrapor o desenvolvimento natural do ser humano à interferência social enfrentada por
este. Na concepção de Rousseau, “[...] a educação é um processo de desenvolvimento de
acordo com a natureza”. (p. 122). Nessa visão, aquilo que o ser humano faz quando não há
ninguém o observando, o controlando, é inato, ao passo de quando estamos sendo observados,
seguindo métodos e caminhos, sofremos influências e somos moldados de acordo com
interesses de alguém ou da sociedade da qual fazemos parte.
Para explicar as fontes do conhecimento humano, Rousseau, citado por Dewey,
esclarece que podemos receber a educação através de três fontes, sendo estas: da natureza, dos
homens e das coisas.
Da natureza temos o funcionamento dos órgãos, é involuntário, não depende
necessariamente de nossa ação ou de interferências, como exemplo, a respiração; a educação
dos homens é quando nossos órgãos sofrem interferências de outros no seu desenvolvimento,
como exemplo podemos citar a linguagem/fala, pois temos o órgão e este precisa ser
estimulado para que de fato aprendamos a falar; e, por último, a educação que se dá na relação
dos indivíduos com as coisas, ou seja, o contato que temos com os objetos e o aprendizado
resultante desta relação.
Rousseau expõe a concepção que “a função do meio social é, como já vimos, orientar
o desenvolvimento, dando às aptidões o melhor uso possível” (p. 124). Neste sentido, temos
natural inclinação a aprender e o meio social precisa auxiliar no desenvolvimento das aptidões
1
Professora de Filosofia e Sociologia da Rede Estadual de Educação Básica de Santa Catarina. Graduada em
Filosofia, pela URI – Campus de Frederico Westphalen/RS, Pós-Graduada em Mídias na Educação, pelo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense. E-mail: [email protected].
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de cada indivíduo. Caso contrário, corre-se o risco de atrofiar tais possibilidades. Para
Rousseau, as aptidões são perfeitamente boas nos indivíduos, necessitando então serem
educadas. Por outro lado, não podemos necessariamente forçar a fazer coisas, e sim, guiar
para um melhor desenvolvimento.
O desenvolvimento natural é objetivo da educação no ser humano e dirige a atenção
para os órgãos do corpo e para a necessidade de saúde e robustez, pois através deste teremos
meios que nos auxiliem no desenvolvimento de atividades, assim como nos diferenciaremos
dos demais indivíduos. (p. 125). Neste caso, o objetivo do desenvolvimento natural convertese no desenvolvimento da mobilidade física, no desenvolvimento das aptidões e habilidades,
responsáveis pela construção do conhecimento.
Essa diferenciação percebida nos indivíduos consiste na sua diversidade e qualidade,
pois, para Rousseau, “cada indivíduo nasce com um temperamento distinto. Nós submetemos
indiferentemente crianças de várias tendências aos mesmos exercícios” (p. 126). Ou seja,
tornamos todos iguais por meio de atividades padrão, muitas vezes ignoramos as aptidões
individuais e engessamos o processo da educação, destruímos as aptidões naturais. “Sua
educação destruirá a propensão especial, produzindo uma monótona uniformidade” (p. 126).
Por este lado, o processo da educação acaba assumindo um papel negativo. E, “por isso,
depois de empregarmos nossos esforços para atrofiar os verdadeiros dons da natureza, vemos
desaparecer o efêmero e ilusório brilho que criamos em sua substituição; e as aptidões
naturais que recalcamos não ressurgirão.” (p. 126).
É importante observar nos indivíduos a origem, o crescimento e o declínio das
preferências e interesses, pois o desenvolvimento nunca é geral, existem tempos e espaços
diferentes para a aprendizagem e esta é mais eficaz quando entendidas estas diferenças
pessoais e os ritmos a serem empregados em cada caso. Neste caso, devemos dispor as
propostas de atividades de modo que as desejáveis de fato se efetivem trazendo benefícios na
aprendizagem e que as demais não tragam malefícios. (p. 127).
Dewey expõe que “de modo geral, os adultos adotam mui facilmente como modelo
seus próprios hábitos e desejos, e consideram todos os impulsos infantis que deles se afastam
como coisas más que devem ser eliminadas.” (p. 127). Ou seja, tende-se a moldar o
comportamento das crianças a partir de interesses dos adultos, roubando-lhes a autonomia de
desenvolver atividades de seu gosto. Com Rousseau essa perspectiva tende a modificar e
passa-se a ser observado o instinto e o interesse individual no seu desenvolvimento.
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Neste sentido, Rousseau, citado por Dewey, salienta uma espécie de harmonia
educativa, onde “[...] a grande significação do desenvolvimento, da modificação e da
transformação por meio do esforço educacional direto, a natureza ou as aptidões não
exercitadas é que proporcionam os fundamentos e os recursos essenciais para tal
desenvolvimento.” (p.128).
A teoria de obedecer a natureza, para Rousseau, é uma revolta contra as instituições e
os patrões existentes. Afinal, para ele, tudo perde sua essência original nas mãos dos homens,
tudo se corrompe. O homem natural tem um valor absoluto para Rousseau, ou seja, o homem
é naturalmente bom e ao formar instituições ele se torna antinatural, pois sofre influências.
Ainda, instituições e costumes atuam para dar uma educação má que “o mais cuidadoso
regime escolar não pode evitar; mas a conclusão não é educar fora do meio e sim
proporcionar um meio no qual seja dado o melhor uso das faculdades inatas.” (p. 129).
No item A eficiência social como objetivo da educação, Dewey expõe a ideia de que
“[...] a função da educação é fornecer precisamente aquilo que a natureza deixa de
proporcionar, isto é, fazer o indivíduo habituar-se à influência social e subordinar as
faculdades inatas às regras sociais.” (p. 129). Contrariamente à teoria do desenvolvimento
natural, para Dewey precisamos então encarar as interferências da vida em sociedade para
saber como se desenvolvem as faculdades individuais, a eficiência e como ocorre a
aprendizagem para as diversas funções empregadas no meio social. Para o autor, “[...] o
objetivo geral da eficiência social revela a importância da capacidade industrial e econômica.”
(p. 129). Ninguém consegue viver em sociedade sem ter ou criar meios de subsistência e o
modo como estes são postos em prática é que tem influência no modo de vida e nas relações
mútuas entre as pessoas.
Nesta perspectiva, ao passar a conviver em uma sociedade democrática, somos
levados a fazer escolhas e, logo, influenciados pelos outros, portanto temos nossa natureza
(como compreendia Rousseau) violada. A natureza é violada quando se tenta adaptar os
indivíduos a funções que não lhe sejam de interesse ou que não estejam de acordo com suas
aptidões. Outra influência da eficiência social é a capacidade de ser um bom cidadão. Neste
caso, deve-se ter “a aptidão para julgar sensatamente os homens públicos e as medidas
tomadas, e para tomar parte saliente não só no fazer as leis como também no obedecer-lhes.”
(p. 131).
Na concepção de Dewey, “[...] eficiência social significa nada mais nada menos do
que a capacidade para compartilhar do dar e receber da experiência comum. E, portanto,
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abrange tudo aquilo que torna a experiência de uma pessoa mais valiosa para as outras, e tudo
o que habilita alguém a participar mais abundantemente das experiências valiosas dos
demais.” (p. 131).
Dewey explica com isso a importância da socialização entre os indivíduos, de modo
que as experiências trocadas possam derrubar barreiras individuais e impenetráveis aos
interesses dos demais indivíduos, contribuindo assim para a sua emancipação.
No item Cultura como objetivo da educação, Dewey discute se a eficiência social é
ou não um objetivo coerente com a cultura. Para isso aborda cultura nas perspectivas de:
alguma coisa tratada, amadurecida; algo que se opõe ao natural; também como algo pessoal
ou cultivo e apreciação de ideias, da arte e dos interesses humanos mais gerais. (p. 132).
Para Dewey, “quando se identifica a eficiência com uma restrita série de atos, ou
operações, em vez de identificar-se com o espírito e a significação da atividade, a cultura
opõe-se à eficiência.” (p. 132). Por outro lado, se observarmos aquilo que é único e exclusivo
em cada indivíduo, chama-se de cultura o desenvolvimento completo da personalidade deste
e, logo, o resultado se identifica então com a eficiência social. Por isso, sempre que se buscar
o desenvolvimento de qualidades e características, teremos como resultado a formação de
personalidades distintas, que terão e sofrerão influências diversas na sociedade.
A separação daquilo que é de cada personalidade, individual e da educação (social) é
fatal para a democracia segundo Dewey. Pois o objetivo da eficiência deve ser incluído no
processo da experiência. E a junção destes resulta no que Dewey chamou de subprodutos da
educação. “Estabelecendo-se esta finalidade exterior para a eficiência, fortalece-se, como
reação, a falsa concepção de cultura, como uma coisa exclusivamente ‘interior’.” (p. 133). Ao
afirmar tudo aquilo que é interior, incorremos em perspectivas individualistas e divisões
sociais. Portanto, a separação entre cultura e eficiência social não é um objetivo da educação.
Dewey reforça que “a tarefa especial da educação nos tempos atuais é lutar em prol
de uma finalidade em que a eficiência social e a cultura pessoal sejam coisas idênticas e, não,
antagônicas”. (p. 134). Nessa visão, devemos destacar o processo contínuo da educação no
desenvolvimento dos indivíduos, na relação estabelecida entre estes com a sociedade e as
infinitas possibilidades de renovação que a educação proporciona. Por isso é que se torna
fundamental respeitar aquilo que é natural nos indivíduos, suas aptidões e interesses, pois,
para Dewey, somente através das experiências individuais é que se pode contribuir para a
melhora do ambiente, da eficiência social.
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John DEWEY = Democracia e Educação: introdução à filosofia da educação
Para concluir, é de fundamental importância ressaltar a concepção elaborada e
defendida por Dewey quanto dinamismo que deve fazer parte dos processos envolvidos na
educação, além disso, fazer com que essa teoria seja conhecida e compreendida por
educadores e demais pessoas envolvidas nos processos educacionais.
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