www.startpoint.com.br/apape/ [email protected] Folha de São Paulo – Folha Dinheiro – pág. B1 - 11/02/02 Privatização da previdência eleva rombo do governo ENTENDA Desequilíbrio leva a aumento da dívida DE BUENOS AIRES Quando um governo não consegue equilíbrio entre o que arrecada e o que gasta, tem de arrumar uma forma de financiar o déficit resultante, o que significa na prática aumentar sua dívida. No caso da Argentina, os sucessivos déficits que não pararam de crescer desde 94, fizeram a dívida pública alcançar os US$ 132 bilhões em 2001. Sem dinheiro para pagar essa dívida, o ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá se viu obrigado a decretar moratória no fim de dezembro. Quanto mais aumentava o déficit público e mais o governo se endividava para cobrir o buraco de suas contas, mais a credibilidade do país no exterior se deteriorava. Isso levou ao fechamento das portas do mercado financeiro à Argentina. Sem dinheiro e com rombo nas contas, o governo teve de procurar outra saída: enxugar gastos. Cortou salários, investimentos, subsídios. O efeito colateral foi o agravamento da recessão, que se arrasta há 44 meses e levou o desemprego a atingir 3,2 milhões de pessoas. É um circulo vicioso: com a economia retraída, o governo arrecada menos. Precisa cortar mais gastos se não quiser aumentar o déficit. Os países em geral necessitam de financiamento do mercado para cobrir o déficit de suas contas. Para 2002, o governo projeta um déficit de 3 bilhões de pesos. Analistas estimam que esse déficit será pelo menos o dobro. Para especialistas, a privatização do sistema de previdência social em 94 colaborou muito para o déficit do pais explodir e superar os 10 bilhões de pesos em 2001 Com as contribuições caindo, devido à migração dos contribuintes para o sistema privado, o governo teve de emitir títulos (aumentar sua divida) para cobrir o rombo das aposentadorias. DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES DE BUENOS AIRES O processo de privatização da previdência da Argentina, iniciado em 94, resultou em um buraco que aumenta a cada ano e debilita ainda mais as contas do governo. Um levantamento da consultoria Espert & Associados, com base em dados oficiais, aponta que desde que foi iniciada, durante o primeiro mandato de Carlos Menem (1989-1999), a privatização do sistema causou um rombo que chega a 30 bilhões de pesos. Associação Nacional dos Participantes da Petros - APAPE Av. Rio Branco, 156 - Salas 2.514/15 - Centro Rio de Janeiro - RJ - CEP 20040-004 www.startpoint.com.br/apape/ [email protected] Estimulados pelo próprio governo, que pretendia estabelecer no pais uma cópia do modelo chileno de previdência social, os argentinos passaram a ingressar diretamente no sistema privado ou mesmo migrar do sistema estatal para as chamadas AFJPs, os fundos de previdência. No final de 2001, enquanto o setor privado contava com 8,84 milhões de associados, o sistema público acumulava apenas 2 milhões de trabalhadores inscritos. “A reforma da previdência social na Argentina saiu muito cara. A perda no volume de ingressos no sistema público de previdência explica quase 80% do déficit que as contas do governo apresentaram de 94 para cá”, afirma o economista Jorge Ávila, do Cema (Centro de Estudos Macroeconômicos da Argentina). O fato é que os quase quatro anos de recessão, que resultaram em uma taxa de desemprego recorde de 22%, com cerca de 3,2 milhões de pessoas sem emprego, apenas pioraram o efeito negativo da privatização do sistema de previdência nas contas públicas. Dos 2 milhões de trabalhadores inscritos no sistema público, apenas 500 mil estiveram em dia com a previdência no ano passado. Em 2000, essa cifra era de 700 mil. Analistas afirmam que o governo cometeu outro erro que agravou ainda mais a situação dos cofres da previdência: diminuiu o percentual de aporte que as empresas são obrigadas a fazer, referente aos salários pagos aos trabalhadores, para a previdência social. Em 95, esse percentual era de 24,6%. No começo de 2000, havia recuado para 12,8%. Para cobrir o rombo resultante das mudanças no sistema de aposentadorias, o governo inundou o mercado com títulos públicos. O estoque da divida contraída para cobrir os buracos da previdência estava em US$ 3,11 bilhões em 2001, segundo dados do mercado. “O crescente buraco no caixa da previdência social estatal do país nos últimos anos tem sido formado pela migração dos contribuintes para o sistema privado, pela diminuição dos aportes patronais e a explosão do desemprego”, diz Daniel Hoyos, analista do Estúdio Broda, uma das mais importantes consultorias do país. Diante de contas que não fechavam, o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo tentou aliviar um pouco os resultados e decidiu cortar as aposentadorias em 13% em junho do ano passado. O presidente Eduardo Duhalde resolveu manter o corte no projeto de Orçamento deste ano. Duas décadas O economista José Luis Espert estima que o governo levará pelo menos duas décadas para se livrar do custo de ter de financiar um sistema previdenciário que não se sustenta mais. No sistema privado, a queda das contribuições também foi sentida. Dos 8,8 milhões de inscritos no sistema, apenas 2,6 milhões contribuíram em 2001, contra 3,5 milhões em 2000. A pesificação da economia impulsionada pelo governo vai afetar o caixa dos fundos de aposentadoria privados, O custo da pesificação dos títulos públicos em dólares que as AFJPs tiveram de adquirir em 2001 pode chegar a 4 bilhões de pesos. Associação Nacional dos Participantes da Petros - APAPE Av. Rio Branco, 156 - Salas 2.514/15 - Centro Rio de Janeiro - RJ - CEP 20040-004