Carlos Henrique Pessôa de Menezes e Silva Alessandro Pereira Lins Microbiologistas / Dr Yeast Tecnologia Minha cerveja está doente? Carboidratos Oxigênio Membranas Glicose CO2 Etanol Acetaldeído Energia Piruvato Ciclo TCA Ácidos graxos insaturados Esteróis Aminoácidos Ésteres Álcoois Superiores Diacetil Ácidos Orgânicos H2S Aminoácidos Substâncias produzidas durante a fermentação e reduzidas durante a maturação a frio: • Diacetil (2,3-butanodiona): Subproduto do metabolismo de aminoácidos Gera aroma e sabor de manteiga não agradáveis ao palato na maioria das vezes • 2,3-Pentanodiona: Similar ao diacetil Mais brando, similar a mel ou manteiga Dicetonas Vicinais •A maior parte do diacetil é formada durante a fermentação •Quimicamente os compostos formados são denominados dicetonas vicinais (VDK) •Seu precursor é o alfa-cetolactato (produzido através da síntese do aminoácido Valina = oxidação da valina no mosto aerado) •Em condições normais, são produzidos em todas as cervejas mas em geral a percepção é baixa ou inexistente para a maioria das pessoas •A maturação a frio reduz muito pouco o diacetil formado. A reabsorção do diacetil é melhor realizada elevando-se a temperatura ao final da fermentação (para 16-18 oC) no caso de Lagers. Para Ales isso é desnecessário, já que a temperatura de fermentação geralmente é essa mesma •Pode ser apropriado, em baixas concentrações, em determinadas cervejas (como sweet stout) •Pediococcus produz grande quantidade de diacetil Dicetonas Vicinais Treonina -cetobutirato piruvato 2,3-Pentanodiona -acetohidroxibutirato -acetolactato 2,3-Butanodiona (Diacetil) Isoleucina Valina OCTOBER 2012, VOL.18, N.6 • Acetaldeído: Intermediário na produção do etanol Pode ser formado à partir da autólise da levedura na etapa de maturação a frio, caso o fermento esteja em condições de stress Pode ser formado após a produção da cerveja, quando ela é exposta ao ar (oxidação) Etanol pode ser oxidado a acetaldeído • Acetoína: Formada à partir de reação secundária na fermentação alcoólica A enzima piruvato-descarboxilase converte o piruvato em acetaldeído, o qual é convertido a etanol e CO2 A enzima piruvato-descarboxilase pode juntar 2 moléculas de acetaldeído e formar a acetoína FATORES QUE INFLUENCIAM OS NÍVEIS DE ACETALDEÍDO NA CERVEJA •Fermentação intensa •Aumento da temperatura durante a fermentação •Aumento da quantidade de células inoculadas no mosto •Baixa aeração do mosto •Fermentação sob agitação acidental •Acondicionamento da cerveja pronta em temperaturas > 27 oC Substâncias produzidas durante a fermentação e não reduzidas durante a maturação a frio: • Álcoois superiores: Subprodutos do metabolismo de aminoácidos Níveis são afetados pelo tipo de levedura usada • Ácidos orgânicos: Subprodutos do metabolismo de carboidratos Contribuem para a acidez da cerveja • Ésteres Álcoois Superiores • Gerados pela descarboxilação e redução de -cetoácidos (a partir de aminoácidos). • Confere aroma/sabor alcoólico, solvente e notas frutadas. • Off-Flavour indesejável na maioria das cervejas. • Temperaturas de fermentação acima de 24oC propiciam a geração de álcoois superiores. • Aroma de Styletto !! FATORES QUE PROPICIAM O AUMENTO DA PRODUÇÃO DE ÁLCOOIS SUPERIORES •Aumento na concentração de OD durante a fermentação •Correntes de convecção •Altas temperaturas de fermentação •Mostos com alta OG •Baixo concentração de células na inoculação •Fermentação sob baixa pressão de CO2 •Tipo da cepa (certas cepas, especialmente ales, produzem mais álcoois superiores) MERCAPTANO •Mercaptano, conhecido também como etil-mercaptano ou etanotiol, é um composto com aroma de enxofre (esgoto) •Formado em pequenas quantidades na fermentação ou via contaminação por certas bactérias •A produção aumenta consideravelmente após o fim da fermentação, especialmente após 30 dias, por conta da autólise •Armazenar garrafas não pasteurizadas sempre sob refrigeração MERCAPTANO AZEDO / ÁCIDO / ACÉTICO •Acidez e notas avinagradas são os defeitos mais comuns gerados por contaminações em cervejas caseiras •A causa primária é a contaminação por bactérias (higienização inadequada) Lactobacillus: •São as bactérias que mais contaminam cervejas caseiras •Mais detectável no sabor (azedo, ácido) que no aroma. •Bastante resistentes ao poder bacteriostático do lúpulo •Alto teor alcóolico (>6%) inibe seu crescimento •Se multiplicam rapidamente estragando sua leva em poucos dias Acetobacter: •Produzem ácido acético metabolizando etanol em CO2 e água •O ácido acético produzido tem um sabor bastante desagradável de vinagre e acidez •Só crescem na presença de oxigênio (fermentação aberta, em barril ou nos baldes plásticos são mais propensos a contaminação que os tanques industriais) •Seu crescimento pode ser lento (semanas ou meses) •Teor alcoólico elevado (>6%) inibe seu crescimento. Pediococcus: •Geram ácido acético (sabor ácido, azedo) e elevados níveis de diacetil (sabor de manteiga / pipoca) •Moderadamente resistente ao poder bacteriostático do lúpulo •Se multiplicam com certa rapidez, contaminando a cerveja em poucas semanas BUTÍRICO •Frequentemente perceptível como vômito de bebê / ranço •Causado, principalmente, por bactérias durante a contaminação em derivados de açúcares •Atenção ao adicionar açúcares "in natura". Fervura (10-15 minutos) é necessária durante a produção do mosto e quando fizer primming SULFÍDRICO (H2S) •Frequentemente perceptível como odor de "ovo podre" •Formado em pequenas quantidades na fervura, fermentação e maturação •Normalmente é eliminado via arraste com o CO2 produzido durante a fermentação •Autólise e certas bactérias também liberam o H2S •Sanitização, bom manejo da levedura (ex: inoculação na quantidade certa e evitar reutilizar a "lama" produzida) ajudam a prevenir o surgimento desse off-flavour •Evite adições sem controle de sulfatos na água cervejeira •Maturação longa, e fermentação em temperaturas um pouco mais elevadas ajudam a remover o H2S gerado pela levedura Ésteres • Intimamente relacionado ao metabolismo de lipídeos (gorduras) durante a multiplicação celular. • Reação de um álcool com um ácido graxo intermediário. Ésteres • Ésteres de acetatos: – Acetato de etila – Acetato de Isoamila – Acetato de fenetil solvente, frutado, doce banana rosas, mel, maçã • Ésteres de ácidos graxos: – Caproato de etila – Caprilato de etila – Decanoato de isoamila maçã, anis maçã frutas tropicais FATORES QUE PROPICIAM O AUMENTO DA PRODUÇÃO DE ÉSTERES Levedura: •Tipo de cepa •Floculação •Viabilidade e contagem de células •Instabilidade genética e fisiológica da cepa (a performance pode alterar com re-pitching) FATORES QUE PROPICIAM O AUMENTO DA PRODUÇÃO DE ÉSTERES Composição do mosto: •Diminuição na concentração de OD (restringe o crescimento celular) •Diminuição da oferta de ácidos graxos insaturados (lipídeos) (aumento da disponibilidade de Acetil Co-A para a produção de éster relativa à multiplicação celular; aumento da atividade da AATase (enzima de éster) •OG aumentada (reduz a solubilidade do oxigênio, aumento da concentração de álcool) •Níveis de zinco aumentados (estimula a quebra de alfa-cetoácidos a álcoois superiores) FATORES QUE PROPICIAM O AUMENTO DA PRODUÇÃO DE ÉSTERES Condições de fermentação: •Aumento da temperatura de fermentação (aumento dos níveis de álcoois superiores; estímulo da atividade da AATase) •Diminuição da pressão (baixa saturação de CO2) FENÓLICO •Aromas fenólicos remetem a cravo, temperos, defumado e até mesmo a Band-Aid ou antissépticos •Existem diversos de tipos de fenóis. Um "bom fenol" é o gerado por reações do 4-vinil-guaiacol e produzido por determinados leveduras específicas de cervejas de trigo quando feita uma parada ferúlica na brassagem (ex: 15 minutos a 44°C) resultando em aroma de cravo. Já os monofenóis (outro tipo que pode ser desejável) possuem características defumadas ou torradas e ocasionalmente pode gerar notas de baunilha. Os fenóis "ruins" são os polifenóis (taninos) os quais geram amargor, adstringência e turbidez e os clorofenóis (cloro na água) os quais geral aromas de plástico, Band-Aid ou antissépticos •Causa: Contaminação por leveduras selvagens, fermentação em alta temperatura, baixa inoculação do fermento (underpitching), aeração durante a fermentação (especialmente na fase de reprodução celular) •Muitas leveduras belgas e inglesas também podem produzir os mesmos compostos, embora em proporções muito menores FENÓLICO •Pode-se reduzir a produção de fenóis indesejáveis controlando a água de lavagem dos grãos (77°C) •Os polifenóis não se dissolvem facilmente até que o pH do mosto abaixe para menos que 5,5. Portanto, a adição de ácido na água cervejeira sem o devido controle pode acelerar a produção de polifenóis (taninos) •Algas presentes na água e na presença de luz solar produzem muitos compostos fenólicos indesejáveis (atenção para os galões de água mineral !) •Caso use derivados clorados para a limpeza dos utensílios, tenha certeza de rinsar com água sem cloro exaustivamente antes de usá-los BOAS PRÁTICAS PARA SE EVITAR OFF-FLAVOURS: •Produção de mostos com níveis adequados de aminoácidos e carboidratos fermentáveis, especialmente maltose (atenção no uso de outros açúcares como adjuntos); •Inoculação de uma quantidade adequada de células para a fermentação, mantendo níveis ótimos de aeração pré-fase lag (após a fermentação iniciar, jamais permita a entrada de O2 no processo); •Manter um controle rigoroso sob a temperatura de fermentação, especialmente evitando altas temperaturas. Embora as temperaturas de fermentação variem de cepa para cepa, cuidado deve ser tomado na fermentação de lagers acima de 13oC e ales acima de 23oC; •A solubilidade do oxigênio diminui com o aumento da temperatura do mosto. Sob temperaturas mais altas é difícil (ou até mesmo impossível) dissolver suficiente quantidade de O2 para as leveduras.