Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Metabolismo de aminoácidos 1. Reações chave do metabolismo de aminoácidos 1.1 Transaminases 1.2. Glutamato desidrogenase 1.3. Glutamina sintetase e glutaminase 2. Transporte de azoto para o fígado e rins Vítor Costa: [email protected] Pool de aminoácidos em equilíbrio dinâmico com proteínas de tecidos Condições metabólicas em que os aminoácidos são degradados 1. Durante o turnover de proteínas (síntese e degradação de proteínas celulares), alguns aminoácidos libertados durante a degradação de proteínas não são necessários para a síntese de novas proteínas e são oxidados 2. Quando a dieta é rica em proteínas, os aminoácidos em excesso (relativamente às necessidades para a síntese de proteínas) são oxidados. Os aminoácidos não podem ser armazenados. 3. Durante o jejum ou na situação de diabetes mellitus não controlada, as proteínas celulares são usadas para produção de energia. Carnívoros podem obter (após uma refeição) até 90% das necessidades energéticas por oxidação de aminoácidos, enquanto que os herbívoros apenas produzem uma pequena fração de energia por esta via. Catabolismo do grupo amino A maioria dos aminoácidos são metabolizados no fígado. Alguma amónia produzida é reciclada e usada na biossíntese de outros compostos. O excesso de amónia é excretado diretamente ou convertido em ureia ou ácido úrico. Amónia em excesso gerada em tecidos extrahepáticos é transportada para o fígado (sob a forma de Ala ou Gln). Formas de excreção do azoto dos aminoácidos Transaminases (ou aminotransferases) - catalisam a transferência do grupo α-amino de um aminoácido para o α-cetoglutarato - grupo prostético: piridoxal fosfato (PLP; derivado da vitamina B6) Nome da enzima em função do aminoácido dador do grupo amino – por ex: • Alanina transaminase • Aspartato transaminase Alanina transaminase ou Alanina aminotransferase Transaminação de aminoácidos essenciais normalmente unidirecional treonina e lisina não participam em reações de transaminação exceção em terapêutica: em situações de hiperamonémia (ex. devido a disfunção hepática), os aminoácidos da dieta são substituídos por α-cetoácidos análogos – por exemplo: valina pode ser gerada a partir de α–cetoisovalerato administrado terapeuticamente: NH4+ Remoção de amónia pela glutamato desidrogenase Transaminases enzimas citosólicas / mitocondriais relativamente estáveis atividade facilmente quantificada interesse clínico: conc. sérica proporcional ao grau de lesão do fígado (muito rico em transaminases) usadas para síntese / degradação de aminoácidos durante a degradação de amino ácidos, os grupos amino são transferidos para o α-cetoglutarato Glutamato desidrogenase • local: mitocôndria • reação reversível: remoção de amónia (adicionada ao α-cetoglutarato, produzindo glutamato) desaminação oxidativa do glutamato produz amónia quando os aminoácidos são necessários como precursores de glucose ou para obtenção de energia; NADH aproveitado para produção de ATP Amónia livre é tóxica convertida em compostos não tóxicos antes de ser exportada dos tecidos extrahepáticos para o fígado e rins Glutamina sintetase • Nos tecidos, a glutamina é sintetizada e transportada para o fígado • No fígado, a amónia é libertada pela glutaminase • 50% dos aminoácidos em circulação são glutamina (transportador de amónia) Ciclo da alanina-glucose Nos músculos e outros tecidos que degradam aminoácidos para produção de energia: os grupos amino são transferidos para o αcetoglutarato por transaminação. o glutamato pode: • ser convertido em glutamina • transferir o grupo amino para piruvato pela alanina transaminase, gerando alanina (outro transportador de grupos amino) No fígado, a alanina transaminase transfere o grupo amino da alanina para o αcetoglutarato, formando: piruvato - segue para a gluconeogénese glutamato – na mitocôndria: • sofre desaminação oxidativa (liberta amónia) • ou é transaminado com oxaloacetato, para produzir aspartato (necessário para a síntese de ureia) Catabolismo de amino ácidos - remoção do grupo amino (a) via da transdeaminação amino ácido + α-cetoglutarato aminotransferase glutamato desidrogenase glutamato cetoácido + glutamato α-cetoglutarato + NH4+ ciclo da ureia Catabolismo de amino ácidos - remoção do grupo amino (b) via da transaminação amino ácido + α-cetoglutarato glutamato + oxaloacetato aminotransferase aspartato aminotransferase cetoácido + glutamato α-cetoglutarato + aspartato ciclo da ureia Proteólise muscular e transporte de azoto Glucagon / cortisol + mobilização de aminoácidos dos músculos (por ex., em condições de jejum, trauma) Alguma glutamina e alanina são captadas pelos rins excreção amónia Quando ocorre acidose: • a glutamina é transportada do fígado para os rins para poupar bicarbonato • a captação de glutamina pelo fígado é inibida Metabolismo de aminoácidos 3. Ciclo da ureia 3.1. síntese de ureia 3.2. regulação do ciclo da ureia 3.3. doenças metabólicas 3.4. toxicidade da amónia e terapias Vantagens em produzir ureia Amónia é extremamente tóxica provoca tremores afecta fala / visão provoca danos irreversiveis no cérebro Nota: alguma amónia é produzida no lúmen intestinal durante oxidação de aminoácidos por bactérias e chega ao fígado via veia porta Ureia molécula pequena, não carregada, e solúvel em água UREIA NH2-CO-NH2 atravessa facilmente membranas e é excretada na urina NH4+ 50% peso é azoto Sintetizada nos hepatócitos • 2 reações na mitocôndria • 3 reações no citosol Ciclo da ureia: aspartato Ciclo da ureia Ciclo da ureia – interligação com ciclo de Krebs 4 3 2 1 1- ornitina transcarbamoilase 2- argininosuccinato sintetase 3- argininosuccinato liase 4- arginase Balanço energético da síntese de ureia: 1 ATP / ureia NH4+ + HCO3- + 2ATP citrulina + aspartato + ATP malato + NAD+ carbamoil fosfato + 2 ADP + Pi argininosuccinato + AMP + 2Pi oxaloacetato + NADH + H+ 3ATP Regulação do ciclo da ureia (a) curto prazo glutamato + acetil-CoA Arg + (b) longo prazo • dieta rica em proteínas • jejum prolongado proteólise muscular N-acetilglutamato sintetase N-acetilglutamato + Carbamoil fosfato sintetase I Síntese da carbamoil fosfato sintetase I e enzimas do ciclo da ureia Deficiência em enzimas do ciclo da ureia Enzima Fenótipo N-acetilglutamato sintetase hiperamonémia carbamoil fosfato sintetase hiperamonémia ornitina transcarbamoilase orotato no sangue argininosuccinato sintetase citrulina no sangue argininosuccinato liase excreção de argininosuccinato arginase excreção de arginina Mecanismo proposto para a toxicidade da amónia (cérebro e sistema nervoso central) NADPH NADP+ α-cetoglutarato GDH NH4+ α-cetoglutarato glutamato glutamina NH4+ ciclo de Krebs ATP glutamato (e seu derivado, o GABA; neurotransmissores) glutamina danos (mec. desconhecido) Deficiência em enzimas do ciclo da ureia: Terapias 1. Diminuição de proteínas ingeridas e uso de α-cetoácidos - aminoácidos (essenciais) substituídos por α-cetoácidos equivalentes glutamato NH4+ α-cetoglutarato 2. Uso de compostos que acidificam o intestino: - ex. levulose, um dissacárido fracamente absorvido, é metabolizado pelas bactérias formando produtos ácidos amónia protonada e excretada nas fezes 3. Antibióticos contra bactérias produtoras de amónia Deficiência em enzimas do ciclo da ureia: Terapias 4. Eliminação de amónia em excesso : - compostos (ex., benzoato e fenilbutirato) que se ligam covalentemente a aminoácidos, (glicina, glutamina) e são excretadas na urina - a regeneração desses aminoácidos gasta amónia Deficiência em enzimas do ciclo da ureia: Terapias 5. Carbamoil glutamato: - análogo do N-acetilglutamato - ativador da carbamoil-fosfato sintetase I 6. Arginina - ativador da N-acetilglutamato sintetase - exceto quando há deficiência em arginase – tem de ser excluído da dieta