- .INTUSSUSCEPÇÃO CRÔNICA EM CÃES Intussuscepção crônica em cão: relato de caso Chronic intussusception in the dog: case report Ana Claudia Manoel Von TROMPOWSKY1; Cristina Mendes PLIEGO2; Maria de Lourdes Gonçalves FERREIRA3; Viviane Alexandre NUNES4. RESUMO: Os autores relatam o caso de um cão de um ano e meio de idade, sem raça definida, apresentando diarréia e emagrecimento há 4 meses. O animal apresentava mucosas hipocoradas e a palpação notou-se um aumento longitudinal e de consistência endurecida de alça intestinal. Foi submetido à laparotomia exploratória, e o segmento intussucepto encontrava-se totalmente desvitalizado, realizando então enterectomia e anastomose terminoterminal. Descritores: Cão, intussuscepção, intestinos. ABSTRACT: This paper reports a case of chronic intussusception in a year old and a half mongrel dog, presented four months of haemorrhagic diarrhea and weight loss. The dog showed pale mucous membrane and abdominal palpation revealed an enlarged in intestines. It was submitted to exploratory laparotomy, and the intussuscepted segment was devitalized, enterectomy was performed and end-to-end anastomosis. Key words: Dog, intussusception, intestines. INTRODUÇÃO: A intussuscepção consiste na invaginação de um segmento intestinal no interior do lúmen de um segmento adjacente [1,2,4,6]. O segmento invaginado é chamado de intussuscepto e o segmento receptor é chamado de intussuscipiente. As intussuscepções podem ocorrer em qualquer local do trato gastrintestinal, sendo mais freqüentes as intussuscepções ileocólicas e jejuno-jejunal e em animais jovens. Existem muitos fatores que predispõem à intussuscepção, sendo estes que afetam a motilidade do intestino como, enterites, que levam ao aumento do peristaltismo, podendo ser de origem parasitária, viral, bacteriana, corpos estranhos, neoplásica e dietética [1,4,6]. A irritação intestinal promove hipermotilidade e conseqüente invaginação de um segmento de alça no interior de outro [1,4], o segmento invaginado sofre uma congestão e fica edematoso, ficando rapidamente irredutível devido à congestão e derramamento de exsudato fibrinoso das superfícies serosas invaginadas [3,6]. A sintomatologia pode variar de acordo com a localização, com o tempo de evolução e com o grau de integridade vascular. Podem ser observados vômitos, mas diarréia é o sinal mais freqüente principalmente quando sanguinolenta, e também pode apresentar dor abdominal – abdome agudo e massa abdominal palpável [4,6,7]. O diagnóstico é baseado nos sintomas, histórico, anamnese, exame físico, onde à palpação abdominal pode ser detectada a massa, que é alça intestinal espessada e alongada [4,7]. E o diagnóstico pode ser confirmado com exames radiográficos, principalmente contrastados, ultrassonografia e as endoscopias [1,4,6]. Exames laboratoriais podem ser solicitados, tendo como alterações um leucograma de estresse, anemia e hipoalbuminemia [4,5]. O tratamento de escolha é o cirúrgico, através de uma laparotomia exploratória [1,3,4,6], na tentativa de redução manual da intussuscepção ou remoção do segmento afetado. Nos casos onde não é possível reduzir a intussuscepção manualmente e quando a alça não está viável, avaliada pela pulsação da artéria, coloração e peristaltismo, é necessário a realização da ressecção e anastomose intestinal [3,4,6]. Dependendo da causa, da localização e da duração da intussuscepção, esta pode ser de evolução aguda, no caso de obstruções altas e enterotoxemias, e de evolução crônica no caso de obstrução distal ou parcial, apresentando nesses casos diarréia persistente [4,6]. Complicações como vazamentos, deiscência de sutura, peritonite podem ocorrem após o tratamento cirúrgico podendo levar o animal a morte [4]. A fluidoterapia é um procedimento imprescindível no pré e trans operatórios para o restabelecimento do equilíbrio hidro-eletrolítico e hemodinâmico [5]. RELATO DE CASO: Relata-se o caso de um cão, sem raça definida, macho, de aproximadamente um ano meio de idade, atendido na Policlínica Veterinária no setor de Patologia e Clínica Cirúrgica da Universidade Federal Fluminense, com histórico de normofagia, não vermifugação, emagrecimento progressivo, diarréia sanguinolenta fétida e tenesmo há quatro meses. Ao exame físico notou-se mucosas hipocoradas e à palpação abdominal, presença de crepitação e aumento de volume longitudinal e de consistência endurecida de segmento intestinal. Foram realizados exames laboratoriais, como hemograma, tendo com resultado leucocitose com neutrofilia com desvio para esquerda regenerativo, anemia normocítica e normocrômica regenerativa, presença monócitos ativados e hipoproteinemia, e ultrassonografia abdominal que revelou imagem sugestiva de intussuscepção. O animal foi encaminhado ao centro cirúrgico para realização de uma laparotomia exploratória, que constatou intussuscepção englobando segmento de jejuno, íleo, ceco e cólon, intensa dilatação do segmento intestinal cranial (jejuno), não sendo possível a redução manual pois o segmento intussuscepto encontrava-se totalmente desvitalizado, com deficiência de irrigação, odor fétido e totalmente aderido a alça intussuscpiente. Realizou-se enterectomia para remoção de aproximadamente 15 cm de segmento intestinal desvitalizado e enteroanastomose termino-terminal com fio de sutura poliglactina 910 3-0. No pós-operatório instituiu-se, antibioticoterapia enrofloxacina e dipirona. Mesmo com a medicação instituída, 48 horas após a cirurgia o paciente apresentou distensão abdominal, continuava com mucosas hipocoradas e febre. Realizou-se então ultrassonografia abdominal, que revelou presença de líquido livre na cavidade com ausência de debris, e o hemograma demonstrou agravamento da anemia e da hipoproteinemia. Foi modificada antibioticoterapia para a associação de metronidazol e gentamicina durante dez dias, e fluidoterapia. A proprietária foi orientada a melhorar a qualidade da alimentação do paciente. Com isso houve reversão do quadro e o animal recuperou-se plenamente. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: A localização mais freqüente das intussuscepções são as ileocólicas e jejuno-jejunal e em animais jovens [1,4,6], no presente relato o paciente tem cerca de um ano e meio de idade e a intussuscepção englobava jejuno, íleo, ceco e cólon, como encontrado na literatura. A parasitose intestinal consiste em um dos fatores predisponentes para o desenvolvimento da intussuscepção [1,4,6], e o paciente não estava vermifugado. A sintomatologia condiz com o descrito pelos autores [4,6-7], assim como os achados no exame físico, que mostraram massa abdominal e mucosas hipocoradas. Devido a extenso segmento de alça intestinal afetado, desvitalizado e isquêmico, o paciente apresentou alterações sistêmicas, como hipoalbuminemia e perda protéica [4-5], estando relacionado ao seu emagrecimento, pelo comprometimento da digestão e absorção dos nutrientes, agravando o quadro de ascite e peritonite, durante o pós-operatório. A intussucepção pode levar ao quadro de abdome agudo [4,6-7], e nesse caso não foi observada dor abdominal, pela evolução crônica. A fluidoterapia mostrou-se bastante eficaz na resolução do quadro crítico do paciente [5], favorecendo sua recuperação, assim como melhora na qualidade de sua alimentação. Quanto mais avançado o quadro, pior é o prognóstico e também são mais freqüentes as complicações pós-operatórias, como a peritonite devido à intensa desvitalização do tecido intestinal e extravasamento do conteúdo para a cavidade abdominal. Com isso, conclui-se que a resolução da intussuscepção, tanto pela redução manual ou ressecção e anastomose do segmento afetado, é um procedimento de emergência e a antibioticoterapia deve ser intensa, principalmente nos casos de contaminação da cavidade abdominal. REFERÊNCIAS 1-Burrowns, C. F.; Batt, R.M.; Sherding, R.G. 1997. Afecções do intestino delgado. In: Ettinger, S.J.; Feldman, E.C. (Ed). Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4. ed. São Paulo: Manole, 2v, pp.1618-1705. 2-Diniz, P.P.V.P.; Sousa, M.G.; Carareto, R.; Furlani,J.M.; Gerardi, D.G. & Costa, M.T. 2004. Comunicação científica: Aspectos da intussuscepção dupla sem obstrução do lúmen intestinal em um cão. Ciência Animal Brasileira. 5(3) pp. 163-166. 3-Ellison, W.G. 1996. 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