ENTEROCOLITE NECROSANTE É uma necrose isquêmica e inflamatória do intestino do recém-nascido. Constitui-se numa síndrome clínico - patológica, com sinais e sintomas gastrointestinais e sistêmicos. FATORES DE RISCO Prematuridade: é o fator de risco mais importante, sendo inversamente proporcional a idade gestacional; Eventos hipóxico–isquêmicos: asfixia, cardiopatias congênitas, restrição de crescimento intra–uterino, policitemia, exsanguineotransfusão, apneia, exposição intra - uterina a cocaína; Outros fatores: alimentação enteral (rara em não alimentados), progressão rápida da dieta (> 20ml/kg/dia), substâncias hiperosmolares na luz intestinal (aminofilina, indometacina, dexametasona, furosemida, digoxina, fenobarbital, gluconato de cálcio, vitaminas D e E, e sulfato ferroso), transfusão de concentrado de hemáceas (questionável). QUADRO CLÍNICO: Manifestações intestinais: intolerância alimentar, distensão abdominal, vômitos, resíduo gástrico, alteração do hábito intestinal, íleo paralítico, peritonite, celulite da parede abdominal, enterorragia. Manifestações sistêmicas: letargia, recusa alimentar, instabilidade térmica, hipo/hiperglicemia, apneia, hipotensão arterial, choque, acidose metabólica, desconforto respiratório, insuficiência respiratória, coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal e hepática, falência de múltiplos órgãos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: vide quadro 1 Hemograma: leucocitose, leucopenia, plaquetopenia; PCR: pode ser negativo inicialmente; Hipo/hipernatremia e hipercalemia; 99 Tempo da atividade de protrombina e tempo de tromboplastina parcial ativada aumentados; Gasometria arterial: acidose metabólica; Hemocultura: positiva em 30% dos casos. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM: vide quadro 1 Raio X (RX) Abdome: edema de alças, alça sentinela, pneumatose intestinal, pneumoperitônio, gás em veia porta. Se pneumatose intestinal ou gás em veia porta, repetir RX a cada 6 a 8 horas. Solicitar RX abdome em supino, e nos casos de suspeita de pneumoperitônio, em decúbito lateral esquerdo com raios horizontais. US Abdominal: útil na presença de achados clínicos e radiológicos inespecíficos. TRATAMENTO: vide quadro 1 TRATAMENTO CLÍNICO: Dieta zero; Descompressão gástrica; Controle dos sinais vitais e circunferência abdominal; Suporte ventilatório e hemodinâmico; Remoção de cateteres umbilicais arterial e venoso; Controle laboratorial e radiológico; Antibioticoterapia (vide normatização de antimicrobianos); Parecer cirúrgico ( estágios II e III ). TRATAMENTO CIRÚRGICO: Indicações Pneumoperitônio (indicação absoluta); Paracentese positiva; Alça fixa em uma série de radiografias; Fleimão na parede abdominal; 100 Massa abdominal; Gás na veia porta; Outros achados: defesa peritoneal, plaquetopenia persistente, neutropenia progressiva, deterioração clínica e sangramento gastrintestinal grave. CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE E TRATAMENTO Quadro 1: Classificação de Gravidade da Enterocolite Necrosante Estágio Sinais sistêmicos Sinais intestinais Sinais radiológicos Tratamento IA Suspeita de ECN Temperatura instável, apneia, bradicardia, letargia. Muitos resíduos prégavagem, distensão abdominal leve, vômitos, sangue oculto nas fezes. Intestino normal ou dilatado, íleo leve. Dieta zero, antibióticos* por 3 dias. IB O mesmo que acima. Sangue vivo nas fezes. O mesmo que acima. O mesmo que acima. O mesmo que acima. O mesmo que acima mais ausência de ruídos abdominais, com ou sem dor abdominal. Dilatação intestinal, íleo, pneumatose intestinal. Dieta zero, antibióticos por 7 a 10 dias. O mesmo que o estágio IIA com ou sem ascite. Dieta zero, antibióticos por 14 dias. Suspeita de ECN IIA ECN definida: moderadamente enfermo IIB ECN definida: moderadamente enfermo IIIA ECN avançada: gravemente enfermo, intestino não perfurado. IIIB ECN avançada: gravemente enfermo, com perfuração O mesmo que acima, mais O mesmo que acima, mais dor abdominal definida, com acidose metabólica e trombocitopenia leve. ou sem celulite abdominal ou massa no quadrante inferior direito. O mesmo que IIB, mais hipotensão, apneias e bradicardia graves, acidose respiratória e metabólica combinadas, coagulação intravascular disseminada (CIVD), neutropenia. O mesmo que acima, mais sinais de peritonite, dor e distensão acentuadas. O mesmo que o estágio IIB, ascite definida. O mesmo que acima, mais fluidos, agentes inotrópicos, ventilação mecânica. Cogitar paracentese. O mesmo que o estágio IIIA. O mesmo que o estágio IIIA. O mesmo que o estágio IIB, mais pneumoperitônio. O mesmo que acima, mais intervenção cirúrgica. 101 intestinal. Em negrito os eventos que diferenciam os diversos estágios. * A antibioticoterapia depende da época do aparecimento do quadro, e normatização de antimicrobianos. COMPLICAÇÕES: Estenose intestinal pós-cicatricial, fístula, abscesso, síndrome do intestino curto, síndrome disabsortiva, colestase. PREVENÇÃO Utilizar o leite materno. Iniciar alimentação com dieta enteral mínima. Evitar aumentos no volume da dieta superiores a 20ml/kg/dia; Medidas de controle de infecção hospitalar. 102