ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 1 o Noção de campo escalar e de campo vectorial • Os valores de algumas grandezas físicas variam com a posição no espaço, podendo essas grandezas ser expressas por uma função contínua das coordenadas espaciais. • Toda a região onde uma grandeza física é assim definida diz-se um campo. • Campo escalar o Um campo diz-se escalar se a grandeza física que o define puder ser representada em cada ponto do espaço através de um valor escalar. o Os campos escalares são normalmente representados através de uma série de linhas ou superfícies que unem pontos com o mesmo valor de campo. o São exemplos de campos escalares a distribuição de temperatura numa sala e a distribuição do potencial eléctrico em torno de uma carga pontual. • Campo vectorial o Um campo diz-se vectorial se a grandeza física que o define tem uma magnitude e uma direcção sendo representada em cada ponto por um vector. A função que define este campo é uma função vectorial. o São exemplos de campos vectoriais a distribuição da velocidade do vento numa dada zona e a distribuição do campo eléctrico em torno de uma carga pontual. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 2 o Integrais com funções vectoriais § Integral de linha de uma função escalar ∫ Vdl C • V é uma função escalar e dl representa um incremento diferencial do comprimento e C é o caminho de integração. ∫ Vdl integração efectuada do ponto P1 até ao ponto P2. ∫ Vdl integração efectuada ao longo de um caminho fechado. P2 P1 C • Em coordenadas cartesianas podemos escrever: ∫ Vdl = ∫ V ( x, y, z )[a dx + a dy + a dz ] C x C y z o Como os vectores de base unitários ax, ay e az são constantes tanto em magnitude como na direcção, estes podem ser colocados fora do sinal de integração. ∫ Vdl = a ∫ V ( x, y, z )dx + a ∫ V ( x, y, z )dy + a ∫ V ( x, y, z )dz C x C y C z C o Os três integrais são integrais escalares normais e podem ser calculados para uma função V(x, y, z) sobre um caminho C. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 3 o Integrais com funções vectoriais § Integral de linha de uma função escalar • Exemplo • Calcule o integral ∫0 r 2 dr , onde r 2 = x 2 + y 2 , desde o ponto de origem até ao ponto P(1, 1): P y a) ao longo do caminho directo OP b) ao longo do caminho OP1P c) ao longo de OP2P P1 x 0 2 3 2 2 r (coordenadas polares) a) ∫0 r dr = a r ∫ r dr = a r = a r 0 3 3 0 P P2 = 2 2 2 2 2 (a x cos 45 o + a y sin 45 o ) = 2 2 a x 2 + a y 2 = a x 2 + a y 2 3 3 2 2 3 3 ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 4 o Integrais com funções vectoriais § Integral de linha de uma função escalar • Exemplo b) Ao longo de OP1P 2 2 2 2 2 2 2 ∫0 r dr = ∫0 (x + y )dr = a y ∫0 (x + y ) x = 0 dy + ax ∫P (x + y ) y =1 dx = P P P1 P2 1 1 1 3 3 y x = a y ∫0 y dy + a x ∫0( x + 1)dx = a y + a x + x = 3 0 3 0 1 1 2 2 1 4 1 1 = a y + a x + 1 = a x + a y 3 3 3 3 c) Ao longo de OP2P ∫ (x + y )dr = a ∫ x dx + a ∫ (1 + x )dy = a 3 + a 3 P 0 2 2 1 x 0 2 1 1 2 y 0 • O valor do integral depende do caminho de integração. x 4 y ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 5 o Integrais com funções vectoriais § Integral de linha de uma função vectorial ∫ F.d l C • Representa o integral do campo vectorial F sobre o caminho de integração C, F.dl representa o produto interno de F e dl. • Vamos considerar um caminho do ponto P1 até ao ponto P2 sobre um campo de força radial F que actua na direcção radial. o Em qualquer ponto do caminho o valor de F.dl é dado por Fcosθ θdl = FLdl onde FL é a componente de F sobre o caminho de integração. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 6 o Integrais com funções vectoriais § Integral de linha de uma função vectorial o A componente dr sobre a direcção r será dr=cosθ θdl F .d l = F cosθdl = FL dl = Fdr o O produto de uma força F por uma distância dr representa um aumento incremental dW no trabalho feito pela força na deslocação do objecto na distância cosθ θdl=dr. dW = F .d l = F cosθdl o Se o caminho for dividido em segmentos paralelos e perpendiculares a F, as contribuições só ocorrem para os segmentos paralelos a F (θ θ = 0o) não havendo realização de trabalho nos segmentos perpendiculares a F (θ θ = 90o). o Somando-se as contribuições dos segmentos paralelos a F obtemos o trabalho total W entre os dois extremos do caminho de integração. W = ∫P F .d l P fim início ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 7 o Integrais com funções vectoriais § Integral de linha de uma função vectorial o Este integral de linha indica o trabalho realizado por F no objecto (energia fornecida ao objecto) deslocado sobre o caminho de integração. o Para o caminho definido temos: W = ∫r F cosθdl = ∫r Fdr r2 r2 1 1 o Se considerarmos o caminho contrário de ρ2 para P1 obtemos: W = ∫r Fdr = − ∫r Fdr r1 r2 2 1 o Para um campo vectorial como F, o integral de linha só depende do ponto inicial e do ponto final. Se integrarmos F sob um caminho fechado, o resultado será zero. ∫ F .d l = 0 C o Um campo com estas características é chamado conservativo. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 8 o Integrais com funções vectoriais § Integral de superfície • Suponhamos que temos água a fluir com um ritmo uniforme B litros por segundo por metro quadrado (l/sm2) através da área quadrada A. • O fluxo de água através da superfície depende de três factores: B (ritmo e direcção do fluxo), da área e do ângulo que a área faz com B. • Podemos definir o fluxo como: ψ = B.nˆA cosθ = B. A (l / s ) A = nˆ A nˆ = vector unitário perpendicular à superfície A = valor da área (m 2 ) ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 9 o Integrais com funções vectoriais § Integral de superfície • Se o fluxo não for uniforme (B é função da posição) precisamos de calcular o fluxo dψ ψ através da superfície ds: nˆ = vector unitário perpendicular à superfície dψ = B.nˆ ds = B.d s (l / s ) ds = valor escalar da superfície d s = vector que indica o valor e a orientação da superfície = nˆ ds ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 10 o Integrais com funções vectoriais § Integral de superfície • Somando todas as contribuições obtemos o fluxo através da superfície A: ψ = ∫∫ B.nˆ ds = ∫∫ B.d s área A (l / s ) área A o A água que flui na direcção x tem um fluxo dado por Bx=3xy l/sm2. Calcular o fluxo de água definido por (0,0,0), (0,3,0), (0,0,2) e (0,3,2). 2 3 1 1 ψ = ∫∫ B.d s = ∫∫ B x dydz = 3 ∫ ∫ yzdydz = 3 z 2 y 2 = 27 (l / s ) área área z = 0y = 0 2 0 2 0 z = 2Y = 3 ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 11 o Gradiente de um campo escalar • Vamos considerar uma função escalar que depende das coordenadas espaciais V(u1, u2, u3) que poderá, por exemplo, representa a distribuição da temperatura num edifício. • O valor de V depende da posição do ponto no espaço, mas poderá ser constante ao longo de algumas linhas ou superfícies. • Na figura estão representadas duas superfícies onde o valor de V é constante e dV representa uma pequena variação de V. o O ponto P1 encontra-se na superfície V1. O ponto P2 é o ponto correspondente na superfície V1+dV ao longo do vector normal à superfície dn. o P3 é um ponto próximo de P2 ao longo de outra direcção dl≠ ≠dn. o Para a mesma variação dV em V, a taxa de variação espacial dV/dl é maior ao longo de dn porque dn é a distância mais curta entre as duas superfícies. o Como o valor de dV/dl depende da direcção de dl, dV/dl é uma derivada direccional. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 12 o Gradiente de um campo escalar • Definimos o vector que representa o valor e a direcção da máxima variação espacial como o gradiente desse campo escalar. dV gradV ≡ aˆ n dn ∂V ∂V ∂V ∇V = aˆu1 + aˆu 2 + aˆu 3 h1∂u1 h2 ∂u 2 h3 ∂u3 • Em coordenadas cartesianas (u1, u2, u3)=(x, y, z) e h1=h2=h3=1. ∇V = aˆ x ∂ ∂ ∂ ∂V ∂V ∂V + aˆ y + aˆ z ou ∇V = aˆ x + aˆ y + aˆ z V ∂z ∂y ∂z ∂x ∂y ∂x • Definimos o operador ∇: ∂ ∂ ∂ ∇ ≡ aˆ x + aˆ y + aˆ z coordenadas cartesianas ∂y ∂z ∂x ∂ ∂ ∂ coordenadas ortogonais ∇ ≡ aˆu1 + aˆu 2 + aˆu 3 h ∂ u h ∂ u h ∂ u 1 1 2 2 3 3 gradV = ∇V ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 13 o Divergência de um campo vectorial • No estudo dos campos vectoriais é conveniente representar as variações através de linhas de fluxo. Estas linhas ou curvas indicam em cada ponto a direcção do campo vectorial. A magnitude do campo é indicada através da densidade ou comprimento dos vectores. (a) o campo na região A é mais intenso do que na região B porque existe uma maior densidade de linhas na região A; (b) campo radial cuja intensidade diminui à medida que nos afastamos de q; (c)representa um campo uniforme. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 14 o Divergência de um campo vectorial • O fluxo de um campo vectorial é análogo ao fluxo de um liquido incomprimível como a água. Para um volume com uma superfície fechada só haverá uma diferença entre o fluxo que entra e sai da superfície se esta contiver uma fonte de fluxo. • A variação média do fluxo por unidade de volume é uma medida da intensidade da fonte de fluxo interna. • A divergência de um campo vectorial é um escalar que indica o fluxo do campo por unidade de volume que sai através de uma superfície fechada infinitamente pequena que encerra um ponto. div A ≡ lim ∆V → 0 ∫ A.d s S ∆V • Um resultado mais utilizável é: div A = ∂Ax ∂Ay ∂Az + + coordenadas cartesianas ∂x ∂y ∂z ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 15 o Divergência de um campo vectorial ∂ ∂ ∂ • Sabendo que ∇ ≡ aˆ x + aˆ y + aˆ z e que A = aˆ x Ax + aˆ y Ay + aˆ z Az podemos escrever: ∂y ∂z ∂x div A = ∇. A • Em coordenadas ortogonais (u1, u2, u3) obtemos: ∇. A = 1 h1h2 h3 ∂ ∂ ∂ h h A h h A h h A ( ) + ( ) + ( ) ∂u 2 3 1 ∂u 1 3 2 ∂u 1 2 3 1 2 3 • Teorema da divergência o O valor da divergência dá-nos o valor do fluxo que é gerado num volume infinitesimal. O integral sobre um volume dá-nos o fluxo que é gerado dentro do volume. o O integral de superfície sobre um volume delimitado por uma superfície fechada dá-nos a diferença entre o fluxo que sai e o fluxo que entra na superfície. Esta diferença é o fluxo que é gerado no interior do volume. ∫ ∇. A = ∫ A.d s V S ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 16 o Rotacional de um campo vectorial • Vimos que a saída de fluxo através de uma superfície fechada que delimita um volume indica a presença de uma fonte no seu interior. Esta fonte pode ser considerada como uma fonte de fluxo e o valor da divergência como uma medida da intensidade da fonte. • Existe um outro tipo de fonte, chamada de fonte de vortex, que causa uma circulação do campo vectorial à sua volta. • A circulação (média) de um campo vectorial sobre um caminho fechado é definido como o integral de linha sobre o caminho: Circulação de A sobre o contorno C ≡ ∫C A.d l • Se A for uma força que actua no objecto, a sua circulação representa o trabalho feito pela força na movimentação do objecto uma vez ao longo do contorno. • Poderá existir circulação num campo vectorial A mesmo que a divergência de A seja nula (isto é, não existem fontes de fluxo). ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 17 o Rotacional de um campo vectorial • De modo a definirmos uma função pontual que indique a intensidade da fonte de vortex, devemos considerar C muito pequeno e orientado de tal modo que a circulação seja máxima. rot A = ∇ × A = lim ∆s → 0 [ 1 an ∫C A.d l ∆s ] • O rotacional de um campo vectorial A é um vector cuja magnitude é a máxima circulação de A por unidade de área quando a área tende para zero e cuja direcção é a normal da área quando esta é orientada de modo a que a circulação seja máxima. aˆ x ∂ rot A = ∇ × A = ∂x Ax aˆu1 h1 1 ∂ rot A = ∇ × A = h1h2 h3 ∂u1 h1 A1 aˆ y ∂ ∂y Ay aˆ z ∂ ∂z Az aˆu 2 h2 ∂ ∂u 2 h2 A2 Coordenadas cartesianas aˆu 3 h3 ∂ ∂u3 h3 A3 Coordenadas ortogonais ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 18 o Teorema de Stokes o Identidades nulas • Teorema de Stokes o O integral de superfície do rotacional de um campo vectorial sobre uma superfície fechada é igual ao integral de linha sobre o contorno que define a superfície. ( ) ∫ ∇ × A .d s = ∫ A.d l S C • Identidades nulas o Identidade I ( ) ∇ × ∇V = 0 § O rotacional do gradiente de um campo escalar é nulo. Ø Se um campo vectorial é irrotacional, este pode ser expresso como o gradiente de um campo escalar. o Identidade II ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 19 o Teorema de Stokes o Identidades nulas ( ) ∇. ∇ × A = 0 § A divergência do rotacional de um campo vectorial é zero. Ø Se um campo vectorial não tem divergência, este pode ser exprimido como o rotacional de um outro campo vectorial. Ø Os campos com divergência nula não têm fontes de fluxo. O fluxo que sai de qualquer superfície fechada é zero e as linhas de fluxo são fechadas. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 20 o Classificação de campos vectoriais • Podemos classificar os campos vectoriais de acordo com a sua divergência e rotacional: o Solenoidal e irrotacional ∇.F = 0 ∇× F = 0 Campo electrostático numa região sem cargas. o Solenoidal e rotacional ∇.F = 0 ∇× F ≠ 0 Um campo magnético estático num condutor com corrente. o Não solenoidal e irrotacional ∇.F ≠ 0 ∇× F = 0 Campo electrostático numa região com cargas. o Não solenoidal e rotacional ∇.F ≠ 0 ∇× F ≠ 0 Campo eléctrico num meio com cargas com um campo magnético a variar no tempo. ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 21 o Teorema de Helmholtz • Um campo vectorial genérico terá uma divergência e um rotacional diferentes de zero e pode ser considerado como a soma de um campo solenoidal com um campo irrotacional. • Um campo vectorial é determinado a menos de uma constante aditiva se a sua divergência e rotacional estão especificados em qualquer ponto. • A divergência mede a intensidade de fontes de fluxo e o rotacional a intensidade de fontes de vortex. • Quando as intensidades de ambas as fontes estão especificadas temos o campo vectorial especificado. • Podemos decompor um campo vectorial genérico F numa parte irrotacional Fi e numa parte solenoidal Fs: F = Fi + Fs ∇ × Fi = 0 ∇ × Fs = G com e ∇ . F = g ∇.Fs = 0 i onde g e G são supostamente conhecidos, temos então: ∇.F = ∇.Fi = g e ∇ × F = ∇ × Fs = G ELECTROMAGNETISMO Ä Cálculo vectorial - 22 o Teorema de Helmholtz • O teorema de Helmholtz garante que F pode ser obtido a partir da integração de g e de G. o Se Fi é irrotacional: ( ) ∇ × Fi = 0 e ∇ × ∇V = 0 (identidade I) podemos definir uma função escalar V de modo que: Fi = −∇V o Se Fs é solenoidal: ( ) ∇.Fs = 0 e ∇. ∇ × A = 0 (identidade II) podemos definir uma função vectorial A de modo que: Fs = −∇ × A o Um campo vectorial genérico pode ser escrito como a soma do gradiente de um campo escalar e o rotacional de um campo vectorial. F = −∇V + ∇ × A