Escola de sustentabilidade O que os economistas pensam sobre

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Escola de sustentabilidade
O que os economistas pensam sobre sustentabilidade
Livro reúne os pensamentos de 15 dos mais influentes economistas brasileiros
Aquecimento global, mudanças climáticas, emissões de carbono, energias alternativas, novas tecnologias...A lista de termos que integram a pauta da sustentabilidade, além de extensa, representa um desafio novo para a humanidade. Um
desafio que não deixa brecha para falhas e convida todos a refletir e agir. Todos,
sem exceção. “Diante dos cenários climáticos divulgados pela ciência, o desenvolvimento econômico não pode mais ignorar suas externalidades e efeitos colaterais”, afirma Ricardo Arnt no texto de apresentação do recém lançado “O que os
economistas pensam sobre sustentabilidade”, da Editora 34. Nos últimos meses de
2009 e nos primeiros de 2010, o jornalista entrevistou e organizou as opiniões de
15 dos mais influentes economistas brasileiros sobre o tema.
Entre eles estão Antonio Delfim Netto, Gustavo Franco, André Lara Resende, Eduardo Gianetti, José Eli da Veiga e Sérgio Besserman Viana. No livro, os economistas
- dos mais tradicionalistas aos mais engajados - discutem, sem subterfúgios, o que
pensam sobre a crise ambiental e climática que ameaça o século XXI e gerações
futuras, e o que é possível fazer para reverter esse quadro. Leia a seguir alguns
trechos das entrevistas.
1. Delfim Netto
O relatório Limites do Crescimento, do Clube de Roma, provocou polêmica, em
1972, por questionar a ideologia do crescimento econômico, mas suas previsões
revelaram-se erradas. Hoje, há de novo economistas propondo uma ”economia de
não crescimento” para os países desenvolvidos. A sociedade pode abdicar da ideia
de crescimento econômico?
“Convencer o sujeito de que continuar pobre é ótimo me parece uma tarefa difícil.
Nos países que já atingiram certo nível de crescimento, não sei. Num país como o
Brasil, que tem o nível de renda per capita que tem, é inimaginável. O que precisamos é chegar ao nível per capita da Noruega sem destruir o que sobrou”.
2. André Lara Resende
A agenda do presidente Obama pressupõe a retomada do crescimento econômico numa economia de baixa emissão de carbono. Isso significa uma nova fronteira
tecnológica e um novo tipo de infraestrutura econômica, como transportes elétricos, por exemplo. Como o Brasil pode se inserir nesse novo paradigma?
“A gente está falando de grandes temas, mas há melhorias extraordinárias que
não exigem tanta mudança. A coisa mais evidentemente disfuncional no mundo
de hoje é o automóvel com motor a explosão. (...) Você não pode ter cidades do
tamanho que temos baseadas no transporte individual de automóvel.”
3. Edmar Bacha
Construir uma economia de baixa emissão de carbono implica numa mudança de
paradigma no pensamento econômico?
“Estamos lidando com um assunto cuja novidade para os economistas decorre do
fato de que a gente sempre tomou, na análise econômica, a natureza como um
bem livre, de oferta ilimitada, a preço zero. Portanto, não era objeto da indagação
dos economistas. Os economistas se perguntam sobre como alocar recursos escassos com usos alternativos, e a natureza não aparentava ser um recurso escasso. (...) Então, estamos nos dando conta de que esse bem, a natureza, é escasso, e,
dada essa visão de que há escassez, temos um problema econômico. O problema
econômico deriva de que a natureza não tem dono”.
4. Eduardo Giannetti
A primeira opção econômica na Amazônia continua a ser converter floresta em
capim. É possível criar uma economia da floresta em pé?
“Creio que é possível e acho que o grande problema brasileiro é “enforcement”.
Nós temos leis até avançadas e exigentes de preservação, mas uma capacidade
muito restrita de transformá-las em realidades e comportamentos. A capacidade
do Estado brasileiro de se impor e de garantir o respeito ao marco legal, especialmente na região Norte, é ínfima. Começa pela questão da propriedade fundiária.
Nós temos um caos de indefinição de direitos de propriedade na região amazônica que é altamente nocivo do ponto de vista da preservação.(...)”
5. Luciano Coutinho
Há economistas que dizem que as mudanças climáticas são a maior e a mais
abrangente fala de mercado jamais vista.
“É verdade. Quando falamos de bens públicos, e de que não existe mercado para
lidar com bens públicos pelo fato de eles não serem divisíveis e precificáveis,
reconhecemos que o mercado não é capaz de cuidar das externalidades. O
fato de que a poluição do ar, a emissão de carbono e os processos de poluição
produziram uma capa de gases de efeito estufa sobre o planeta, que terá como
consequência um aquecimento generalizado de pelo menos 2ºC -- inescapável,
irreversível e já instalado --, constitui, na verdade, um falha gravíssima de mercado. Ela poderá ter consequências dramáticas, nos colocando no limiar de um
processo catastrófico, se não forem contidas.(...)”
6. Gustavo Franco
O que o senhor acha da ecoeficiência? A ideia do empresário Stephen Schmidheiny é produzir mais e melhor com menos, reduzindo o consumo de recursos e
os impactos e aumentando o valor dos produtos e serviços.
“Acho muito bacana, porque, se os mercados fossem perfeitos, estaria tudo resolvido, mas não é o caso. Existe sempre o que a gente chama de arbitragem:
oportunidades de fazer mais com a mesma coisa, comprar barato e vender caro.
(...) Acho que seria um equívoco imaginar que todas as empresas do planeta produzem no seu absoluto píncaro tecnológico e não poderiam produzir mais ou
desperdiçar menos. É claro que podem. (...)”
7. José Roberto Mendonça de Barros
Você acha que a inovação tecnológica poderá mudar o cenário climático
pessimista, como mudou o prognóstico de catástrofe econômica antevista por
Malthus no século XIX?
“Sim. Acho que não é ingenuidade, não, desde que de fato haja uma demanda por
mudança forte. Os melhores exemplos que eu conheço são o açúcar e o álcool.
A indústria de petróleo sempre detestou o álcool. Detestou! Porque tira o negócio
deles. Só que agora estão entrando no negócio. Não é porque sejam bonzinhos,
mas porque é inevitável. Já que produzem carbono, têm que fazer algo. É isso a
transformação. E quando essa demanda se impõe os recursos aumentam.(...)”
8. José Eli da Veiga
Há empresas admiráveis e socialmente responsáveis, mas a maioria realiza programas de sustentabilidade pontuais e o marketing reivindica crédito planetário.
Como você vê a onda de “maquiagem verde” ?
“A minha sensação é de que, quando a empresa começa a falar nesse assunto por
oportunismo, não tem ideia do risco que está correndo, porque ela vai ser obrigada a
levar isso a sério. Uma das razões é que você estimula certo comportamento do consumidor, e ele vai querer cobrar. Infelizmente, uma das características lamentáveis da
sociedade brasileira é a fraqueza dos movimentos dos consumidores. (...)”
9. Luiz Gonzaga Belluzo
Mas o engenho humano conquistou a capacidade de alterar o planeta em uma
fração de tempo histórico. Grandes mudanças não intencionais estão ocorrendo
na atmosfera, nos solos, nas águas e nas relações entre os elementos. Como o
senhor vê a busca pela sustentabilidade?
“Eu acredito muito naquela frase do Marx, de que a sociedade não se propõe
problemas que não pode resolver. Ela está se propondo esse problema da sustentabilidade agora. (...) Esse é um problema que a humanidade tem de resolver, neste
momento. A sociedade avançou de forma contraditória, construindo a possibilidade de se desenvolver sem agredir a natureza, mas ao mesmo tempo, tornando
essa agressão cada vez mais dolorosa. (...)”
10. Maílson da Nóbrega
Há apreensão sobre a “capacidade de suporte do planeta”. A ONG Global Footprint
Network, ligada à Universidade de British Columbia, no Canadá, anunciou que em
1987 o consumo global de recursos ultrapassou a capacidade de regeneração do
planeta. Nosso excedente de consumo seria da ordem de 30% e, se continuarmos
no ritmo atual, em 2050 precisaremos de dois planetas. O que o senhor acha?
“Acho que é uma visão no mínimo discutível, porque pressupõe que a tecnologia
não possa resolver o problema , que não seja possível continuar o desenvolvimento com tecnologias que reduzam os danos ao meio ambiente ou que melhorem,
gigantescamente, o uso dos recursos naturais.(...)”
11. Aloizio Mercadante
Na discussão sobre as hidrelétricas do rio Madeira, cuja corrente induz a muita
sedimentação de detritos, havia quem reivindicasse uma avaliação da sedimentação na bacia do Amazonas inteira.
“Isso é fundamentalismo. Até entendo que o cidadão possa ter essa visão, mas o
Estado não. O Estado tem de ter uma política e discernir sobre o custo dos impactos ambientais dos empreendimentos. Não há fonte de energia que não tenha
algum impacto. Se você usar eólica para substituir uma hidrelétrica, imagine quantos aerogeradores e pás serão necessários. Como ficará o cenário? Ainda bem que
temos uma matriz renovável variada. Está melhorando a percepção dos sistema e
estamos avançando, mas temos de acelerar.”
12. Sérgio Besserman Vianna
A sustentabilidade é uma ideologia econômica ou uma necessidade?
“Não chega a ser uma ideologia econômica. É uma imposição da realidade. Temos tratado os serviços que a natureza nos presta como se fossem bens públicos:
usamos à vontade, eternamente, infinitamente, sem custos. Sabemos, hoje, que
têm custo. O custo é global, afeta bilhões no planeta e , por conta da mudança
climática, não é uma agenda para muitas décadas, é a agenda de agora. Vamos ter
de internalizar esses custos na contabilidade nacional, nas economias e nas empresas. Esses custos têm de ser precificados, têm de passar a ser cobrados. (...)”
13. Persio Arida
Um mercado de direitos negociáveis de emissão pode ajudar a encontrar o
caminho para reduzir a poluição do sistema?
“Claro que sim. O problema é como distribuir o direito de emissão de tal sorte que
os menos poluidores ou os que preservam as áreas verdes possam vender o direito para aqueles que precisam poluir mais do que deveriam. (...) Um preço universal
me parece mais simples, embora, em princípio, não assegure com certeza, na partida, o controle desejado do processo de poluição. A menos que se consiga, desde
o início, fixar o preço correto.”
14. Luiz Carlos Bresser-Pereira
Talvez a sociedade só se mova na beira da catástrofe − se tanto. As democracias
de massa consideram os benefícios imediatos do crescimento mais importantes
que ameaças futuras.
“Veja, o país mais rico do mundo são os Estados Unidos e, paradoxalmente, são os que
mais resistem a um acordo. Pode-se até acusar os indianos, mas acho que a maior responsabilidade é dos norte-americanos, porque querem continuar se desenvolvendo.
Eles construíram uma sociedade incrivelmente desigual e os padrões de vida do povão,
da classe baixa americana, são muito ruins, ainda. Há muito que melhorar. (...)”
15. Ricardo Abramovay
É possível desenvolver conservando? O desenvolvimento sustentável não seria
uma contradição em termos?
“Acho que “crescimento sustentável” é uma contradição bem mais nítida. Aí sim,
como é possível fazer a economia crescer conservando? A economia ecológica
tem uma resposta importante: você pode promover o crescimento não apoiado
na maximização do produto, mas na maximização da qualidade. (...) Trata-se de
preservar os serviços básicos oferecidos pelos ecossistemas e compatibilizá-los
com o crescimento. A hipótese que cada vez mais economistas formulam é que
a qualidade no crescimento econômico é compatível com a resiliência dos ecossistemas, e que as oportunidades daí decorrentes são impressionantes, como
fronteira tecnológica. (...)”
Fonte: EXAME.com
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