Quinta-feira, 02 de outubro de 2008 Economistas pedem medidas com rapidez Denyse Godoy Da Reportagem Local Menos conversa, mais atitude. Se o governo Luiz Inácio Lula da Silva agora reconhece que a crise americana pode atingir o Brasil com intensidade maior, é preciso agir rápida e eficientemente para que o país consiga atravessar as turbulências com o mínimo possível de perdas, alertam economistas. Não há unanimidade sobre os ajustes a serem feitos, mas as principais medidas citadas pelos especialistas são o corte dos juros, o aumento do superávit primário, a redução do recolhimento compulsório sobre depósitos à vista e a diminuição dos gastos públicos. "Os fundamentos da economia brasileira continuam ótimos. Mas até um carro blindado pode capotar, no meio de um tiroteio, dependendo da habilidade do motorista", compara Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria. "Os indicadores ainda refletem o bom desempenho de 2007, mas o país já foi afetado pela crise. Caso não sejam tomadas providências, em 2009 vamos sofrer mais." A dificuldade que as empresas nacionais estão encontrando para tomar empréstimos é o primeiro sinal de deterioração do cenário, segundo Blanche. "Não acho que tenha havido negligência do governo, pois há um atraso entre as ações políticas e as necessidades da economia. Neste momento, o Executivo deve formar uma equipe com técnicos do Banco Central e do Tesouro Nacional para tratar do assunto." Na sua opinião, aumentar o superávit primário em dois ou três pontos percentuais do PIB (Produto Interno Bruto) ajudaria a mandar para o mercado uma mensagem de responsabilidade para acabar com qualquer insegurança. "O problema de liquidez pode dar início a uma falta de confiança que sempre é a origem das crises." O professor Wilson Cano, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), destaca a importância de começar a cortar a taxa Selic. "Esses juros que temos são anacrônicos e vão piorar a desaceleração da economia. Ainda é um pouco cedo, porém, para falar em uma crise no país", afirma. Fábio Kanczuk, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), aponta, no entanto, que não houve erro no diagnóstico feito pelo Banco Central nos últimos meses, no qual se baseou a política de elevação dos juros. "A autoridade monetária atuou corretamente ao detectar pressões. Porém, acho que não era necessário um aperto tão longo. Mais cedo, neste ano, já previa que o crescimento em 2009 seria de 3%. A verdade, agora, é que o risco de que o avanço do país fique abaixo desse nível está aumentando." Pés no chão Para Normal Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, as atuais turbulências representam um chamado à realidade após muitos meses de uma euforia embalada por bons números de crescimento, emprego e renda no país. "O governo precisa fazer uma política fiscal séria, e não seguir contratando funcionários públicos e investindo quase nada. O gasto improdutivo tem de acabar", afirma. "Nesse contexto [de crise mundial], Deus não é brasileiro. O Brasil tem de se virar como os outros países e viver dentro das regras da economia." De acordo com a avaliação de Gall, o país tem de crescer de acordo com sua capacidade para que a inflação -o maior problema brasileiro- não volte. "Reduzir o crédito também seria recomendável."