Informe da Atenção Básica 59 INFORME DA ATENÇÃO BÁSICA N.º 59 Ano X, julho / agosto de 2010 ISSN 1806-1192 HEPATITES Hepatite é um termo genérico que significa inflamação do fígado. Pode ser causada por medicamentos, doenças genéticas e autoimunes metabólicas (em que o próprio corpo produz anticorpos que "atacam" o órgão), consumo de álcool, substâncias tóxicas e vírus. As hepatites virais são doenças provocadas por diferentes agentes designados por letras do alfabeto (vírus A, B, C, D e E) que apresentam características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais distintas. Esses vírus têm em comum a preferência por infectar as células do fígado. Possuem distribuição universal e há diferenças regionais na ocorrência e magnitude em todo o mundo, variando, de acordo com o agente que causa a doença. Têm grande importância para a saúde pública em função do grande número de pessoas que sofrem das complicações resultantes das formas agudas e crônicas da infecção. Quanto às formas de transmissão, as hepatites virais podem ser classificadas em dois grupos: o grupo de transmissão fecal-oral (vírus A e E), que tem um mecanismo de transmissão ligado a condições de saneamento básico e higiene pessoal, da água e dos alimentos. O segundo grupo (vírus B, C e D) é transmitido por via sexual e diversos mecanismos, como compartilhamento de material contaminado, para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos e canudos), para higiene pessoal (alicates de unha, lâminas de barbear e de depilar, escovas de dente), ou colocação de tatuagens e piercings, em procedimentos cirúrgicos sem os devidos cuidados de biossegurança, entre outros. A evolução clínica das hepatites varia conforme alguns fatores ligados ao vírus e a outros ligados ao hospedeiro. Os vírus A e E apresentam apenas formas agudas de hepatite, não possuindo potencial para desenvolver formas crônicas da infecção. Isso quer dizer que, após uma hepatite aguda por algum desses agentes, o indivíduo recupera-se totalmente, eliminando-o do organismo. Por outro lado, as hepatites causadas pelos vírus B, C e D podem apresentar tanto formas agudas quanto crônicas da infecção. Desse modo, após a infecção aguda por algum desses vírus, o indivíduo poderá curar-se completamente ou continuar com o agente no organismo, tornando-se um portador. As consequências do estado de portador podem ser danosas, com desenvolvimento de cirrose hepática e câncer com o passar dos anos. Prevenção: vacinação e ações de educação em saúde Existem vacinas para a prevenção das hepatites A e B O Ministério da Saúde oferece vacina contra a hepatite B na rotina das mais de 36 mil salas de vacina da rede de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) e contra a hepatite A nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) de todo o País. Não existe vacina contra a hepatite C, o que reforça a necessidade de um controle adequado da cadeia de transmissão no domicílio e na comunidade, bem como entre grupos vulneráveis, por meio de políticas de redução de danos. Vacina contra a hepatite A A vacina contra a hepatite A não faz parte do calendário de vacinação do Programa Nacional de Imunização. O encaminhamento, quando indicado, deverá ser feito pelo médico. No entanto, essa vacina está disponível no CRIE nas seguintes situações: hepatopatias crônicas de qualquer causa; portadores crônicos do HBV e HCV; coagulopatias; crianças menores de 13 anos com HIV/aids; adultos com HIV/aids que sejam portadores do HBV ou HCV; doenças de depósito; fibrose cística; trissomias; imunodepressão terapêutica ou por doença imunodepressora; candidatos a transplante de órgão sólido cadastrados em programas de transplantes; transplantados de órgão sólido ou de medula óssea; doadores de órgão sólido ou de medula óssea cadastrados em programas de transplantes e hemoglobinopatias. Vacina contra a hepatite B A vacina contra a hepatite B faz parte do calendário de vacinação da criança e do adolescente e está disponível para a população de menores de 20 anos de idade. A imunização contra a hepatite B é realizada em três doses, com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e a terceira dose (0, 1 e 6 meses). Todo recém-nascido deve receber a primeira dose da vacina logo após o nascimento, preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida. A oferta dessa vacina estende-se também a outros grupos em situações de maior vulnerabilidade, independentemente da faixa etária, tais como: gestantes, após o primeiro trimestre de gestação; trabalhadores da saúde; bombeiros, policiais militares, policiais civis e rodoviários; carcereiros, de delegacia e de penitenciárias; coletores de lixo hospitalar e domiciliar; comunicantes sexuais de pessoas portadoras de VHB; doadores de sangue; homens e mulheres que mantêm relações sexuais O Ministério da Saúde disponibiliza nos CRIEs a vacinação passiva por meio da imunoglobulina humana anti-hepatite tipo B, que é indicada em situações especiais para pessoas não vacinadas e expostas ao vírus da hepatite B, nas seguintes situações: prevenção da infecção perinatal pelo vírus da hepatite B; vítimas de acidentes com material biológico positivo ou fortemente suspeito de infecção p o r H B V, s e m v a c i n a ç ã o p a r a h e p a t i t e B ; comunicantes sexuais de casos agudos de hepatite B; vítimas de abuso sexual e imunodeprimidos após exposição de risco. AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE As hepatites A e E têm como medida mais eficaz de prevenção a disponibilização de água potável, em quantidade suficiente nos domicílios. Assim como a educação da população quanto às boas práticas de higiene, com ênfase na lavagem das mãos; medidas de saneamento básico, como água tratada e esgoto; orientação de creches, pré-escolas e instituições fechadas, para adoção de medidas rigorosas de higiene; cozimento adequado para mariscos, frutos do mar e desinfecção (uso de cloro) para alimentos crus, como frutas e verduras. As principais medidas de controle das hepatites virais de transmissão sexual e sanguínea (vírus B, C e D) consistem na adoção de medidas de prevenção. Os indivíduos devem ser orientados quanto aos mecanismos de transmissão dessas doenças, ao não compartilhamento de objetos de uso pessoal, como lâminas de barbear e de depilar, escova de dente, materiais de manicure e pedicure, ao uso de preservativos em todas as práticas sexuais e à disponibilidade da vacina contra a hepatite B para populações específicas. Além das medidas de controle das hepatites virais, ações de educação em saúde tanto para o desenvolvimento da capacidade técnica dos profissionais envolvidos nessas ações, bem como da comunidade em geral sobre as hepatites virais e sua prevenção, devem ser implementadas para maior impacto. NOTIFICAÇÃO As hepatites virais são doenças de notificação compulsória e o ato de notificar deve ser entendido como apenas uma das ações no processo de vigilância. Elaboração: Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Jornalista responsável: Tiago Souza. DRT - 8120/0523 Diagramação: Tiago Grandi A investigação da fonte de infecção relacionada a cada caso é fundamental na implantação de medidas de prevenção e controle. Em termos coletivos, a vigilância permite acompanhar a tendência da doença e avaliar as medidas de prevenção que estão sendo executadas. A realização de busca ativa auxilia na identificação de novos casos, principalmente entre os comunicantes. As principais fontes notificadoras são: as comunidades, serviços de assistência médica, hemocentros e bancos de sangue; clínicas de hemodiálise, laboratórios, escolas, creches e outras instituições. Além disso, casos podem ser capturados nos sistemas oficiais da vigilância em saúde. DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA AS HEPATITES VIRAIS A partir de iniciativa e propostas brasileiras, a Organização Mundial de Saúde, durante a Assembleia Mundial da Saúde, realizada em maio último, instituiu a data de 28 de julho como o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais. Nessa data, o Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), em parceria com o Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais (PNHV) e o Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), lançou a meta de ampliação da cobertura das três doses da vacina contra a hepatite B para os escolares atendidos pelos programas. Nesse sentido, é fundamental que as equipes dos municípios que atuam no PSE e equipes do SPE possam articular esforços para garantir as três doses em menores de 19 anos. Também foi anunciada a intensificação da vacinação contra a hepatite B para grupos populacionais prioritários: trabalhadores da saúde, gestantes, adolescentes de 15 a 19 anos, pessoas privadas de liberdade e indígenas. Essa iniciativa é fruto da parceria com os gestores estaduais e municipais de saúde. A campanha de enfrentamento à hepatite C, criada pela Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) e pela Federação das Associações de Atletas Profissionais, com apoio do Ministério da Saúde, é composta por um filme de 30 segundos, cartazes e fôlderes. O Ministério da Saúde também mostrou seus novos materiais educativos de prevenção às hepatites virais. O Ministério da Saúde apresentou metas para o enfrentamento das hepatites virais no período de 2010 a 2012 e lançou o aprimoramento da governança e gestão do Programa nas três esferas de governo. A promoção do acesso a serviços qualificados de atenção à saúde; a promoção da vacinação contra a hepatite B, distribuição de preservativos e outros insumos; e a redução da transmissão vertical da hepatite B estão entre as estratégias do governo federal no combate às hepatites virais. Tiragem: 46.000 exemplares Informações: Ministério da Saúde/SAS/MS Esplanada dos Ministérios, bloco “G”, Ed. Sede, sala 946 Brasília-DF. CEP: 70.058-900 Tels: (61) 3315 3942 / (61) 3315 2135 Fax: (61) 3306 8028 E-mail: [email protected] Produção: Ministério da Saúde/DAB/SAS/MS SAF Sul, quadra 2, lotes 5/6, Ed. Premium, bloco II Brasília-DF. CEP: 70.070-600 Tels: (61) 3306 8044 / 3306 8095 Fax: (61) 3306 8028 E-mail: [email protected] Homepage: http://www.saude.gov.br/dab Sistema Único de Saúde Ministério Governo da Saúde Federal 59 Informe da Atenção Básica com pessoas do mesmo sexo; lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais; pessoas reclusas (presídios, hospitais psiquiátricos, instituições de menores, forças armadas); manicures, pedicures e podólogos; populações de assentamentos e acampamentos; populações indígenas; potenciais receptores de múltiplas transfusões de sangue ou politransfundidos; profissionais do sexo; usuários de drogas injetáveis, inaláveis e pipadas; portadores de doenças sexualmente transmissíveis; caminhoneiros, entre outros.