Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº 4 – janeiro/dezembro de 2011 A Música no Processo de Alfabetização Gabriela Martins de Souza Faculdades Integradas Claretianas [email protected] Evelyn Monari Belo Faculdades Integradas Claretianas [email protected] Resumo Este trabalho de iniciação científica baseia-se na idéia do uso da música como recurso de aprendizagem visando a um ensino de qualidade, principalmente quando se fala em alfabetização, pois a música favorece a interação sociocultural significativa, o que facilita a aprendizagem da leitura e a produção de textos. Ela estimula a capacidade cognitiva e afetiva do indivíduo, o que influenciará positivamente no desenvolvimento da escrita, aproximando o sujeito de seu objeto de conhecimento de uma maneira diferente da situação formal de alfabetização escolar. Palavras-Chave: música; alfabetização 1 A importância da música nas séries iniciais do ensino fundamental “A educação musical não deve visar formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim a formação integral das crianças de hoje”. (Teca Alencar Brito). A música é a linguagem de expressão que colabora para os processos de aquisição do conhecimento, sensibilidade, sociabilidade e gosto artístico. Ela pode ser abordada na escola como som ambiente, histórias, dramatizações, recreação e aprendizagem. Assim, compreendemos que: [...] Uma das tarefas primordiais da escola é assegurar a igualdade de chances, para que toda criança possa ter acesso à música e possa educar-se musicalmente, qualquer que seja o ambiente sócio-cultural de que provenha. (CHIARELLI apud PRADA, 2008, p. 15) Não é preciso uma aprendizagem técnica musical, mas sim despertar na criança por meio da música a capacidade de sentir, viver e apreciar esse gênero. Sabemos que podemos utilizar a música para desenvolver e aperfeiçoar outras áreas do conhecimento como, por exemplo, a alfabetização e o raciocínio lógico-matemático, promovendo, principalmente, a integração de saberes e a socialização. Observamos que, na maioria das vezes, a mídia contribui para a veiculação de músicas que se constituem em um padrão que caracteriza um nível cultural isento de conteúdos que o saber legitimado considera adequados. Nesse sentido, caberá à escola, resgatar alguns valores já esquecidos. Entre tais valores, observamos que as relações estabelecidas entre as crianças nos permitem verificar que as gírias, por exemplo, integram seu vocabulário, permitindo a 111 A Música no Processo de Alfabetização interpretação de uma realidade que, por vezes, não representa os valores sociais já estabelecidos e consolidados. Confirmando tais reflexões, observamos que, na Grécia antiga, a música constituía os modelos educacionais, pois a importância e a necessidade de uma educação que valorizasse o corpo e a alma encontrava neste elemento – a música – a possibilidade do desenvolvimento das virtudes a partir da temperança e do equilíbrio propiciados pelo seu ensino, pois: “Na Grécia, a música era considerada fator fundamental na formação dos cidadãos, tanto quanto a filosofia e a matemática, e o ensino começava na infância”. (SCHILARO, 1990, p.13) Atualmente, as propostas curriculares nos permitem observar que o educando terá maior compreensão da linguagem musical através de vivências lúdicas, sendo que: “Educar musicalmente é propiciar à criança uma compreensão progressiva da linguagem musical, através de experimentos e convivência orientada.” (MARTINS,1985, p.47) O professor, com uma postura crítica e reflexiva deverá propiciar situações em que a criança possa olhar o mundo e se expressar, pois o educando constrói seu pensamento através da interação com o ambiente visto que, “olhar o mundo é aprender a perceber significados em todas as coisas” (SCHILARO, 1990, p.18). A educação musical deverá estar presente na Educação Física também, pois é uma área do conhecimento na qual a criança desenvolve a linguagem corporal através de exercícios, atividades rítmicas, jogos, brinquedos e rodas cantadas. Considerando o contexto do ensino da música na Europa no século XVII, observamos que predominavam duas tendências: uma, o Racionalismo, defendia o ensino da teoria musical e, a outra, denominada Sensorialismo, era compreendida pela prática musical (SCHILARO, 1990). Adequando o contexto apresentado ao que se propõe este trabalho, já no século XX, podemos considerar a linguagem musical no período que compreende a Escola Nova. Assim, é possível constatar que tal linguagem era considerada necessária e acessível a todos, assumindo uma importante função nos sistemas educacionais. O período de alfabetização é o que mais ganha vantagens do ensino da linguagem musical quando em suas atividades estimula-se o desenvolvimento da coordenação visomotora, imitação, atenção, raciocínio, linguagem e expressão corporal. Desenvolver essas funções envolve os aspectos psicológicos e cognitivos que se usa para aprender. Observamos que o processo de aquisição/apropriação do conhecimento é consolidado a partir da interação da criança com o meio ambiente e, assim, compreendemos que cabe ao educador permitir o desenvolvimento de situações de aprendizagem nas quais a criança descubra, analise e compreenda os ritmos do mundo, tanto por meio da observação quanto por meio do contato com os instrumentos musicais, da apreciação e participação em teatros, do desenvolvimento da dança, do conhecimento e exploração dos elementos do folclore, entre outros. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 112 A Música no Processo de Alfabetização Quando a criança tem uma idéia e a expressa, ela está representando e, quando canta, manifesta a representação anterior. Sendo uma linguagem, a música permite o desenvolvimento da expressão e a transmissão de emoções e sentimentos, que podem conduzir a criança ao reconhecimento de valores. Trata-se de um elemento que pode ser trabalhado em todas as áreas da educação envolvendo temas diversificados e permitindo ao educando, sobretudo, a vivência lúdica como fator que permite a compreensão do conhecimento que se constituirá como base de sua vida. De acordo com Prado e Figueiredo (2008) há autores que afirmam que atividades musicais na escola podem ter objetivos profiláticos no aspecto físico, pois, objetivamente, buscam oferecer atividades capazes de promover o alívio de tensões devidas à instabilidade emocional e fadiga. No aspecto psíquico, promove processo de expressão, comunicação e descarga emocional através do estímulo musical e sonoro. Já no aspecto mental, proporciona situações que podem contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem, harmonia, organização e compreensão. Estabelecer um planejamento de atividades nas quais o processo de ensino e aprendizagem permite a incorporação e o uso da música como um elemento que facilita a constituição do sentimento e o desenvolvimento de uma educação que auxilie na formação do cidadão oferecendo condições de estabelecimento de uma sociedade “reformulada” é um objetivo necessário a ser atingido com a realização de propostas que priorizem a educação musical. O produto obtido são crianças que se expressam e aprendem a relacionar-se com o mundo. [..] O que temos observado é que as crianças mais novas têm uma maior capacidade de invenção e de criação musical, que tende a cair com o desenvolvimento. Isto tem para nós, como causa principal, a forma como é apresentada a música para a criança. (QUELUZ, 1984. p.64-65). Um exemplo de atividade com a música é uma atividade que, comumente, é denominada pelos educadores como “Roda Cantada”, que tem grande valor educativo no desenvolvimento infantil, o que facilita a socialização, coordenação visomotora, percepção visual, raciocínio lógico e linguagem verbal. Na escolha do repertório, deve ser preservada a expressividade infantil e deve-se também ter objetivos definidos. O repertório tem que ser variado, com melodias relacionadas às diversas áreas de estudo, considerando, também, o que é denominado como “conhecimento prévio”. Podemos estabelecer algumas comparações a partir da análise do seguinte quadro: Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 113 ÁREAS Integração Social Raciocínio Lógico Ed. Física Estudos Sociais Artes Matemática Linguagem A Música no Processo de Alfabetização Quadro 1: Comparação entre áreas e temas TEMAS DAS CANÇÕES Entrada/ saída da escola Matemática; Linguagem Reconhecimento do corpo; Lateralidade Datas Comemorativas Cores Exploração do ambiente (maior, menor, alto, baixo, etc). Dramatizações e canções que contam histórias Fonte: (SCHILARO, 1990, p. 103) Assim sendo, além de uma escola que possa assegurar o acesso à música, caberá ao educador abraçar esse instrumento de trabalho e explorar ao máximo do potencial criador da criança, já que, dependendo da forma que a música é apresentada, pode acontecer de seu desenvolvimento decair. O educador deve propiciar a todo momento situações nas quais a criança seja capaz de interagir com o ambiente e se expresse, sempre respeitando o ambiente sociocultural de cada um, pois só assim acontecerá a construção de seu conhecimento. 2 Música e ensino: Uma parceria que “Dá Certo” Fundamentar o ensino dos anos iniciais de escolarização no uso da música como recurso para promover situações de aprendizagem pode ser considerado um elemento muito importante que visa oferecer um ensino de qualidade. Em linhas gerais, qualidade é sempre um elemento a ser observado nas propostas de ensino que se estabelecem como necessárias, por meio de metas a serem atingidas em um determinado período de tempo. Essa condição nos remete a pensar nas novas propostas expressas, principalmente, nas diferentes formas de organização de currículos e programas que, na realidade, caracterizam o que denominamos reorganização curricular. Neste sentido, o trabalho que desenvolvemos nos permite observar de que maneira a música interfere, diretamente, na aprendizagem significativa, expressa na visão de diferentes teóricos. Entre eles, ressaltamos Morin (2007) que nos convida a refletir sobre uma prática pedagógica voltada à integração dos saberes, desconsiderando uma educação que prioriza os conteúdos fragmentados, como vem ocorrendo na grande maioria das escolas brasileiras. Assim, na condição de um dos pensadores mais importantes do século XX, Morin propõe o desenvolvimento do pensamento complexo, uma reforma do pensamento por meio do ensino transdisciplinar que possa contribuir com a formação de cidadãos “planetários”, ou seja, homens verdadeiramente solidários e aptos a enfrentar os desafios dos tempos atuais. O homem não se separa da natureza e da cultura, mas sim, é o conjunto da obra. No entanto, a educação é sua aliada pois nunca temos o produto final “pronto e acabado”. Morin (2007) discorda de afirmações que consideram um único método, teoria ou estratégia de pensamento como elementos que possibilitam ao indivíduo o entendimento do Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 114 A Música no Processo de Alfabetização mundo da maneira como ele realmente é. Para ele, a educação tem a ver com a maneira pela qual é interpretada sob a ótica do indivíduo. Pensar globalmente é o que possibilita uma reflexão do indivíduo. Entretanto, ainda hoje, permanece a herança do passado onde os saberes abordados de forma fragmentada tornam complicada a abordagem defendida pelo autor citado. Consequentemente, temos na educação que fragmenta os conteúdos e não permite a reflexão humana como referência a compreensão de um mundo de forma isolada, na qual não há conectividade entre o que é real e o que é idealizado. É seguida a “norma” de um ensino disciplinar, que auxilia no avanço do conhecimento e torna-se, de certa forma, insubstituível. Ainda de acordo com Morin (2007), as conexões não são estabelecidas entre as diferentes disciplinas porque se tornam invisíveis quando são fragmentadas. É necessário, inquestionavelmente, contextualizar o conhecimento. Considerando a música como elemento fundamental no estabelecimento das diferentes propostas pedagógicas, observamos que temos em mãos a possibilidade de integrar as diferentes áreas do conhecimento em simples “atitudes” que, bem planejadas, muito contribuem para o desenvolvimento global das crianças. Em linhas gerais, uma música integra as diferentes áreas do conhecimento a partir das diferentes linguagens que constituem o rol dos “conteúdos” que, fragmentados, “perdem o sentido”. Uma das principais manifestações da importância da música consiste na possibilidade de ser um elemento auxiliar na elaboração e execução de atividades que integram os processos de aquisição do domínio da leitura e da escrita. Para Teberosky e Ferreiro (1999), aprender a escrever não é apenas um processo cognitivo. Trata-se de uma atividade social e cultural, “porque a desigualdade econômica e social se manifesta também na distribuição desigual de oportunidades educacionais” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p. 20). A educação nos remete a um padrão da sociedade que nos faz ser aceitos por ela como cidadãos aptos a atuarem, o que seria essencial a criação de vínculos entre cultura e conhecimentos, o que nos faz repensar as idéias de Morin (2007), já que o homem não se separa de sua natureza nem de sua cultura, sendo assim o conjunto da obra. Não haveria motivo para ignorar a multiplicidade, complexidade e entrelaçamento entre os traços e marcas culturais dos indivíduos e das relações sociais no ensino da música nas classes de Ensino Fundamental. Não é possível pensar, por exemplo, em uma educação de caráter musical desarticulada quanto ao restante das disciplinas da grade curricular. Se assim fosse teria algum significado ao educando? “Bastam 45 minutos de aula de música semanais, de modo desarticulado dos demais conhecimentos que estão sendo trabalhados pelos professores, para potencializar a educação musical na escola?” (BELLOCHIO, 2001, p.46) Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 115 A Música no Processo de Alfabetização Sobre isso, Sekeff (1996, p.145) afirma: “[...] mais do que a herança genética, é exatamente a cultura que determina a música dos povos e justifica as suas realizações (ao mesmo tempo em que sua música vai constituir também sua cultura)”. A integração de saberes apresentada por Morin (2007), seria sim uma reflexão certa quanto à integração da música, desconsiderando seu ensino fragmentado e sem significado. A música favorece a interação sociocultural “significativa”, pois seus elementos (ritmos e melodias) atuam no aspecto cognitivo e criativo do sujeito, o que favorece a aprendizagem da leitura e a produção de textos no processo de alfabetização, estimulando também o desenvolvimento de sua capacidade afetiva e cognitiva. [...] os princípios ortográficos desenvolvem-se na criança à medida que vai escrevendo. Neste processo, a criança consegue ultrapassar os aspectos “gramaticalizados” ou “codificados” para elaborar seu material, investindo-o de significação própria em uma atividade criativa. A música, como atividade criativa, pode naturalmente favorecer o aparecimento de situações problema, propondo novas formas de utilização e manuseio da linguagem e propiciando a construção de hipóteses de escrita. (BRAGIO apud PRADO; FIGUEIREDO, 2005) A música é um excelente recurso estimulador para o desenvolvimento da leitura de textos e hipóteses de escrita. Além da música ser um quesito obrigatório no Ensino Fundamental (inserido na Arte), é uma linguagem artística que, quando trabalhada integrandoa com as demais disciplinas tem a incumbência de educar. De acordo com o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil, o trabalho com a música tem como objetivo explorar, expressar e produzir silêncio e sons, com a voz, o corpo e materiais diversos. Leva-se em conta a interpretação de músicas/canções, a participação em brincadeiras e jogos cantados e rítmicos, escuta de diferentes obras musicais e a participação em qualquer situação que se integre a música, de forma geral. Para Avelllar (1995), é necessário pensar sobre as formas de inserção da música no currículo regular, sobre as estratégias de sua integração aos demais saberes e, sobre suas possíveis contribuições para o desenvolvimento da alfabetização. Podemos acreditar que a música influenciará positivamente no desenvolvimento da escrita, aproximando o sujeito de seu objeto de conhecimento, de uma maneira diferente da situação formal de alfabetização escolar. 3 Entrevistas Para a conclusão dessa pesquisa, foi realizada uma entrevista com duas professoras de Escola Pública de Ensino Fundamental de uma escola do interior paulista, para saber se utilizam a música como um instrumento de trabalho para a educação de seus alunos: Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 116 A Música no Processo de Alfabetização Questionário: Professora n.º 01 (P1) 1. Você utiliza a música como ferramenta para educação de seus alunos, abrangendo-a em alguma disciplina? Se sim, de que modo? R.: Sim. As crianças, em geral, gostam da descontração oferecida pela música. Tanto para os alunos de 1.º ano quanto para os alunos de 3.ª série, tenho aplicado a música como ferramenta auxiliar. Procuro sempre encaixar a música nos conteúdos, principalmente nos projetos que nos são propostos para o trabalho. Um exemplo pode ser o projeto trânsito, que compreende o trabalho com músicas do domínio popular ou mesmo gravadas por algumas apresentadoras de programas televisivos infantis. 2. Como você compreende a importância da música nas séries iniciais do ensino fundamental? R.: Como um elemento fundamental para o auxílio na compreensão dos códigos lingüísticos. Compreendo que o processo de alfabetização tem um início, mas não um fim. Por isso, trabalhar os conhecimentos e procedimentos pertinentes à leitura e escrita a partir da música pode ser extremamente significativo e estimulante para o desempenho das crianças. 3. O que você acha que deve ser valorizado e/ou repensado hoje na educação, já que hoje se pensa em preparar a pessoa para a vida desconsiderando o acúmulo de conhecimento? R.: O significado da aprendizagem para o educando bem como a possibilidade de desenvolvimento de suas competências e habilidades, que são onseqüências de uma aprendizagem adequada às diferentes necessidades do indivíduo. Questionário: Professora n.º 02 1. Você utiliza a música como ferramenta para educação de seus alunos, abrangendo-a em alguma disciplina? Se sim, de que modo? R.: Utilizo música diariamente com meus alunos. O uso da música faz parte da minha rotina (entrada, lanche, lavar as mãos, ao contar histórias...) para manter a organização dos alunos e estes percebem a seqüência das atividades. É muito utilizado durante a alfabetização com músicas que sabem de cor (a música nova é muito bem trabalhada, cantada para que ocorra a escrita espontânea, com alfabeto móvel ou ainda para identificar palavra-chave por meio da leitura). 2. Como você compreende a importância da música nas séries iniciais do ensino fundamental? R.: Fundamental, pois a música é prazerosa e estimulante, pode ser usada de acordo com o conteúdo a ser trabalhado e interesse dos alunos. Requer do educador uma atitude de respeito que valoriza as formas de expressão dos alunos. Para o aluno, a música é importante pois a criança interage, sente, expressa e comunica-se, melhora a percepção da memória auditiva o Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 117 A Música no Processo de Alfabetização que favorece no processo de alfabetização; melhora a percepção de rimas e versos. A linguagem musical desenvolve a expressão, equilíbrio, favorece o autoconhecimento e a aprendizagem. 3. O que você acha que deve ser valorizado e/ou repensado hoje na educação, já que hoje se pensa em preparar a pessoa para a vida desconsiderando o acúmulo de conhecimento? R.: Acredito que o professor deve preparar suas aulas, planejar, elaborar, ter claro seus objetivos. Os conteúdos devem ser valorizados para formar o aluno com qualidade de ensino preparado para ser um cidadão consciente e preparado para o trabalho. 3.1 Análise dos resultados De acordo com os dados coletados, apresentamos algumas considerações sobre as informações obtidas com a aplicação dos questionários. De forma geral, podemos observar que a música é, certamente, um instrumento de trabalho que, se utilizado corretamente, ou seja, se inserido no contexto do educando e integrado aos demais conteúdos, permite que sejam atingidos resultados satisfatórios, importantes para o desenvolvimento da criança. É importante considerar que as teorias fundamentam as atividades a serem realizadas no cotidiano das crianças, mas não é possível concordar com apenas uma ou outra teoria, sendo necessário o efetivo trabalho do educador em sala de aula e também no momento do planejamento, oferecendo condições ao desenvolvimento pleno do educando. Para P1, o ensino da música auxilia no desenvolvimento tanto para os alunos do 1.º ano quanto para os alunos da 3.ª série. A pedagogia de projetos é uma realidade em seu trabalho. Diversos são os temas que podem ser trabalhados nesta forma de organização do trabalho pedagógico e, apesar da professora não haver relatado na entrevista, os projetos podem ser organizados em diários, semanais, mensais, bimestrais, trimestrais, anuais. Enfim, pode-se compreender que a música é um recurso que auxilia no processo de ensino e aprendizagem. Em comparação com P2, podemos compreender que sua compreensão envolve uma visão sobre a música enquanto um elemento que requer maior atenção quanto à sua aplicabilidade, pois não se trata apenas de utilizá-la como um elemento que permite uma forma lúdica de aprendizagem, mas contempla o desenvolvimento da criança em seu aspecto global. Neste sentido, teremos a oportunidade de contribuir com a formação de uma criança capaz de agir e pensar com maior autonomia em sua manifestação de expressão. Nas entrelinhas das respostas obtidas, percebemos que a ludicidade expressa com o trabalho que se concretiza com a música é fundamental para que a criança expresse em sua aprendizagem aspectos pertinentes à sua identidade. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 118 A Música no Processo de Alfabetização Nas falas de P1 e P2, temos a oportunidade de verificar que a música é retratada como um elemento que orienta e determina o desenvolvimento das habilidades e competências do aluno, o que, consequentemente, potencializa seu desempenho em diferentes aspectos do processo de ensino e aprendizagem. A valorização da música enquanto instrumento auxiliador deste processo simboliza a valorização dos conteúdos que constituem a grade curricular voltada ao trabalho que deve resultar na formação do cidadão. 4 Considerações finais O desenvolvimento da pesquisa que concretizou o projeto de iniciação científica nos permite verificar a importância da música no contexto escolar como elemento integrador e motivador no processo de aprendizagem da escrita, o que contribui para um ambiente estimulante, prazeroso e rico, proporcionando uma aprendizagem mais significativa, uma vez que a integração dos saberes facilita sua compreensão e o resgate de informações. Para tanto, não podemos considerar apenas o processo de alfabetização, sendo ele muito importante quando se trata do ensino fundamental. Temos na música um instrumento muito amplo, que pode ser bem explorado em vivências lúdicas, nas quais o processo de aprendizagem ocorre de forma efetiva, seja qual for o tema, matéria, assunto a ser desenvolvido. Em outras palavras, trata-se da possibilidade de pensar globalmente para efetivação de uma aprendizagem significativa e não apenas abraçar um método, como antigamente, isolando as atividades em detrimento de sua contextualização, tornando a aprendizagem fragmentada. Para que os educadores possam aderir ao trabalho de integrar a música ao conteúdo, eles deverão ter em mente uma escola aberta, uma escola do século XXI, pensando não na quantidade de conteúdos, mas a qualidade que terão os conhecimentos transmitidos, para a formação do aluno como uma pessoa inteira, com sua criatividade, expressão, sentidos, críticas, etc. 5 Referências bibliográficas MOREIRA, Marco e MASINI, Elsie F. S. Aprendizagem significativa: A teoria de David Ausubel. São Paulo, Moraes, 1982. p.3. QUELUZ, Ana G. A pré-escola centrada na criança: uma influência de Carl Rogers. São Paulo, Pioneira, 1984. p.64-65. SCHILARO SANTA ROSA, Neruda. Educação musical para a Pré Escola. Editora Ática, 1990. Disponível em: http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_noticias/noticias_educacao/id110900.htm#musica acesso em:15/07/2009 MORIN, Edgar. Os Sete Saberes. Disponível www.centrorefeducacional.com.br/setesaberes.htm. Acesso: 29/07/2009 Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 em: 119 A Música no Processo de Alfabetização FERREIRO Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed Editora, 1999. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.:Il. PRADO, Adriana; FIGUEIREDO, Eliane. Análise e influência da música no processo do desenvolvimento da escrita. Universidade Federal de Goiás (UFG). Décimo Quinto Congresso,2005. AVELLAR, Rosa Maria Gentil de. O Desafio de continuar a alfabetização. São Paulo. JM Editora: 1995. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº4 – janeiro/dezembro de 2011 120