Depressão: o mal do século A depressão é uma doença psiquiátrica e, apesar de maior acesso à informação, muitas pessoas ainda a conceitua como uma “fraqueza da personalidade” ou falta de “força de vontade”. É também, muitas vezes, comparada à tristeza normal. Trata-se de um transtorno médico grave e no Brasil apresenta uma prevalência ao longo da vida acometendo mais de 15% das pessoas, com estimativa de ocorrência de 1% em crianças préescolares, 2% crianças em idade escolar e de 5 a 8% em adolescentes. Mulheres têm um risco duas a três vezes maior que homens de apresentar a doença, principalmente na idade fértil. Diferenças hormonais, estressores psicossociais e parto poderiam justificar essa diferença.Pode acometer qualquer idade e alguns estudos demonstram que 40% das pessoas desenvolvem o primeiro episódio antes dos 20 anos, 50% entre 20 e 50 anos e 10% após os 50 anos. É um problema de saúde pública que leva a um sofrimento enorme, com incapacitação psicossocial e profissional. A origem da depressão é multifatorial e resulta da interação de fatores estressantes, psicológicos, ambientais e genéticos. Entre os fatores ambientais, o risco de apresentar a doença aumenta com o uso de substâncias como o álcool e inibidores do apetite e eventos adversos precoces na vida, como perda de um ou ambos os pais, percepção da falta de carinho pelos responsáveis, baixo suporte social e abuso físico e/ou sexual na infância. Sintomas – Os sintomas da depressão são psíquicos e também físicos. Há uma falta de interesse e motivação para as atividades, uma incapacidade de obter prazer nas vivências, com desânimo, cansaço e uma certa lentidão. O afeto apresentase com baixa autoestima, tristeza, apatia e sentimentos de culpa. O paciente se torna irritável por qualquer motivo, além de apresentar pensamento lento, com dificuldades de concentração e prejuízo da memória, ocorrendo queixas de esquecimentos frequentes. O apetite pode aumentar ou diminuir, ocasionando alterações do peso. Pode ocorrer insônia, com despertar precoce ou um sono não reparador. São comuns dores pelo corpo (apesar dos exames normais), além da perda ou desinteresse sexual. Geralmente, os sintomas da depressão são semelhantes em crianças, adolescentes e adultos, com algumas particularidades. Crianças ficam com menos energia para brincar, se isolam dos amigos, com prejuízo ao desempenho acadêmico. Em adolescentes costumase observar uma sonolência excessiva comparando-se às crianças menores. Com sentimentos de desesperança, vem o negativismo e pensamentos de morte além das ideias de suicídio, que é a pior consequência da depressão. Estimase que 14 a 15% dos pacientes depressivos tentam o suicídio e que 11% conseguem se matar. Tratamento – O curso da doença é variável e 50% dos pacientes podem apresentar um novo episódio. Uma parcela significativa, em torno de 20%, tornase crônica, com crises recorrentes, no entanto, mantendo-se estável com o tratamento contínuo. O tratamento da depressão, na maioria das vezes, consiste na combinação de terapias, com uso de medicamentos, psicoterapia, psicoeducação e/ou suporte social, que visa à remissãodos sintomas e a recuperação total do paciente. É importante frisar que o abandono precoce da medicação, que muitas vezes acontece porque, com a melhora, o paciente acredita estar curado, pode precipitar uma recaída. O uso do medicamento obedece a três fases: fase aguda, fase de manutenção e fase de retirada. Em Uberaba, o serviço público para o tratamento da depressão e outras doenças mentais conta com ambulatórios especializados, CAPS e o CRIA, esse último para crianças e adolescentes. A equipe é multiprofissional com psiquiatras, psicólogos, assistente social e outros especialidades. Como o número de profissionais especializados ainda é limitado e, associado ao fato de que um grande número de portadores de depressão e outras doenças mentais não são tratados (principalmente na população de baixa renda), causando um grande impacto na sociedade, o ideal seria que se houvesse uma integração entre a saúde mental e a atenção básica, particularmente os Programas de Saúde da Família (PSF), o que permitiria desenvolver intervenções de promoção de saúde, prevenção e detecção precoce dessas doenças.