nUNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DE EMBRIÕES DE FRANGOS DE CORTE DURANTE A INCUBAÇÃO Mariana Alves Mesquita Orientador: Prof. Dr. Emmanuel Arnhold GOIÂNIA 2011 ii MARIANA ALVES MESQUITA FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO DE EMBRIÕES DE FRANGOS DE CORTE DURANTE A INCUBAÇÃO Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás. Nível: Mestrado Área de Concentração: Produção Animal Linha de pesquisa: Manejo e avaliação do sistema de produção Orientador: Prof. Dr. Emmanuel Arnhold – UFG Comitê de Orientação: Prof.ª Dr.ª Elisabeth Gonzales – UFG Prof.ª Dr.ª Nadja Susana Mogyca Leandro - UFG GOIÂNIA 2011 iii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................. 1 2 REVISÃO DA LITERATURA........................................................ 4 2.1 O desenvolvimento embrionário................................................... 4 2.2 Fatores que interferem no desenvolvimento embrionário............ 6 2.2.1 Fatores relacionados à matriz...................................................... 7 2.2.3 Fatores relacionados à estocagem de ovos férteis...................... 7 2.2.3 Fatores relacionados à incubação................................................ 8 2.2.3.1 Temperatura................................................................................. 9 2.2.3.2 Umidade Relativa......................................................................... 16 2.2.3.3 Trocas gasosas............................................................................ 19 2.2.3.4 Viragem dos ovos......................................................................... 23 2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................... 29 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 30 iv LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Peso do embrião (A) e peso do albúmen (B) em relação a viragem ou não dos ovos e ao período de incubação.............................................................................. 25 FIGURA 2 Relação entre peso do embrião e peso do albúmen no 15° dia de incubação........................................................ 27 v LISTA DE TABELAS TABELA 1 TABELA 2 TABELA 3 Médias de tempo de incubação (horas), comprimento do pintainho (cm), peso líquido (g) e peso da gema residual (g) de ovos incubados sob temperatura normal (37,8°C) ou temperatura elevada (38,9°C) do sétimo ao 19° dia de incubação.................................................................... Composição corporal, composição da gema residual e eficiência de transferência de energia do ovo para o embrião de embriões incubados em duas diferentes temperaturas (37,8°C ou 38,9°C) durante o sétimo ao 19° dia de incubação........................................................ Efeito da temperatura de incubação sobre o peso vivo de frangos de corte aos 21, 35 e 44 dias de idade........ 10 11 13 TABELA 4 Efeito da temperatura de incubação no peso de embriões aos 14 dias de incubação, de pintainhos após a eclosão e dos frangos aos 21 dias de idade................................................................................. 14 TABELA 5 Efeito da temperatura de incubação sobre o peso da tíbia, percentual de cálcio presente na tíbia e incidência de discondroplasia tibial (TD) aos 14 dias de incubação, na eclosão e aos 49 dias de idade................................... 15 TABELA 6 Efeito da umidade relativa durante a incubação na eclodibilidade e mortalidade embrionária........................ 18 TABELA 7 Efeito da freqüência de viragem durante os dias 3 a 11 de incubação sobre a eclodibilidade e mortalidade 24 embrionária....................................................................... TABELA 8 Efeito do ângulo de viragem sobre a eclodibilidade, mortalidade embrionária e incidência de mau 28 posicionamento embrionário............................................ 1 INTRODUÇÃO O Brasil destaca-se entre os maiores produtores e exportadores mundiais de carne de frango, atraindo cada vez mais investimentos para o setor. Dados do último relatório da União Brasileira de Avicultura – UBABEF, referente ao ano de 2010, revelam que a produção nacional superou 12 milhões de toneladas, aproximando o Brasil do segundo posto mundial. Com relação às exportações, registrou-se novo recorde histórico com um total de 3,8 milhões de toneladas de frangos exportados para mais de 150 países. A incubação é um dos setores da avicultura de extrema importância e há alguns anos deixou de ser considerada apenas uma etapa necessária para ser considerada uma etapa estratégica dentro de todo o complexo avícola. O objetivo da incubação artificial é a transformação de ovos férteis em pintos de um dia. A incubação não pode modificar os fatores que interferem com a qualidade do produto final tais como a genética, nutrição e manejo da granja de reprodutores, no entanto, para que se possam obter bons resultados e evitar problemas no decorrer deste processo, deve existir um perfeito entrosamento entre os processos de produção dos ovos embrionados e de pintos de um dia. Nos últimos anos a avicultura de corte nacional aumentou significativamente sua produção de pintos de um dia. Em abril de 2011 estimou-se uma produção de aproximadamente 513 milhões de pintos de corte, volume 3,1% superior ao mês de abril de 2010. Analisando o quadrimestre inicial do ano de 2011 o volume produzido superou a marca de dois bilhões de cabeças, correspondendo a um volume de 4,29% superior ao mesmo quadrimestre do ano anterior (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE PINTOS DE CORTE – APINCO, 2011). As evoluções genéticas proporcionaram aos frangos de corte moderno reduzir em mais de 50% o tempo médio de todo ciclo de produção. Nas décadas passadas eram necessários aproximadamente 84 dias para completar o ciclo de produção, atualmente, com 35 dias é possível obter um frango para abate. Aliada a essas evoluções, o processo de incubação passou a representar cerca de 30% de todo o ciclo de produção do frango de corte. Sendo assim, o desempenho final de frangos de corte está diretamente relacionado com 2 os resultados obtidos na primeira semana pós-eclosão que, por sua vez, depende da qualidade do desenvolvimento embrionário obtida durante a incubação. O desenvolvimento embrionário é afetado por diversos fatores entre eles os relacionados à condição de saúde da matriz, ao manejo dos ovos desde a postura até a estocagem (coleta, desinfecção, tempo e condições de estocagem, seleção) e às condições de incubação. Todos esses fatores são de extrema importância para a obtenção de pintos de qualidade. Durante o processo de incubação o embrião é continuamente afetado pelo ambiente. As máquinas de incubação artificial devem proporcionar controle de temperatura, umidade relativa, viragem dos ovos e fluxo constante de O 2 e CO2. Desvios desses fatores em relação aos respectivos valores ótimos para a espécie ou linhagem podem inviabilizar o desenvolvimento embrionário, resultando em um aumento da mortalidade do embrião, diminuindo, conseqüentemente, a eclodibilidade. A temperatura de incubação é um dos fatores mais importantes que afetam o desenvolvimento embrionário durante a incubação. Temperaturas elevadas podem causar principalmente redução da eclodibilidade, má qualidade do pinto, aumento da mortalidade embrionária e problemas locomotores. A umidade relativa é outro fator relevante para a incubação e eclodibilidade. Está diretamente relacionada com a taxa de perda evaporativa de peso do ovo, que por sua vez, determinará o rendimento final do processo de incubação. A viragem mecânica dos ovos nas incubadoras artificiais é extremamente necessária para se obter melhores índices de eclosão. Os principais parâmetros que devem ser observados nesse mecanismo são freqüência de viragem, angulação e o período de incubação necessário para a realização da viragem. As trocas gasosas, processo relacionado com a captação de O2 e liberação de CO2, afeta o desenvolvimento embrionário, pois está diretamente relacionado com a eficiência das atividades metabólicas do embrião. Considerando a importância do processo de incubação sobre a produtividade do incubatório e a qualidade do pinto de um dia que influencia o desempenho do frango de corte, objetivou-se realizar uma revisão da literatura 3 para estudar os principais fatores físicos que influenciam o desenvolvimento embrionário durante o processo de incubação. 4 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 O desenvolvimento embrionário O desenvolvimento embrionário inicia no trato reprodutor da galinha, mais precisamente no oviduto após a ocorrência da fertilização. O primeiro período de desenvolvimento, denominado desenvolvimento pré-oviposital (CHRISTENSEN, 2001), dura 18 a 20 horas e ocorre a uma temperatura de 41,5ºC, que é a temperatura corporal da galinha adulta. Nesse período se estabelece uma intensa multiplicação e diferenciação celular, culminando com a oviposição de um ovo com o blastoderme no período inicial de gastrulação com 30.000 a 60.000 células (GONZALES, 2005). Após a postura, se o ovo for estocado em temperaturas abaixo do zero fisiológico (aproximadamente 24ºC), o embrião paralisa seu desenvolvimento. Condições adequadas de armazenamento são essenciais para evitar a morte prematura do embrião devido à degradação da qualidade interna do ovo. Isso possibilita resultados de incubação aceitáveis, principalmente, quando se prolonga o tempo de estocagem (SCHMIDT et al., 2002). Quando o ovo é colocado em condições de incubação, isto é, temperatura, umidade relativa, oxigenação e viragem adequadas, o embrião se desenvolverá completamente em aproximadamente 21 dias (504 horas) (GONZALES, 2005). O desenvolvimento do embrião de aves é um complexo processo que pode ser dividido em três fases principais: a fase de diferenciação celular, crescimento e de maturação. Cada uma dessas fases é dependente de fatores fisiológicos específicos (BOERJAN, 2006a). Segundo DECUYPERE & MICHELS (1992) a diferenciação celular é caracterizada pela formação de células especializadas a partir da qual haverá a formação dos órgãos vitais do embrião. Após se tornarem especializadas, os grupos celulares iniciam uma seqüência organizada de multiplicação (mitoses sucessivas) e crescimento (hipertrofia e hiperplasia) que levará a formação de tecidos e órgãos. Uma vez que os tecidos e órgãos estejam formados, tem início a maturação dos mesmos, ou seja, o estabelecimento de suas funções. 5 Nos primeiros quatro dias de incubação (0 a 96 horas) o embrião se adapta às condições de incubação que lhe são oferecidas e reinicia seu desenvolvimento com intensa multiplicação celular, diferenciação das estruturas e definição da espécie (GONZALES, 2005). Durante o quinto até o 18° dia de incubação ocorre a fase de intenso crescimento embrionário (hipertrofia celular). As condições de incubação são importantes nessa etapa, mas o mais crítico é o requerimento nutricional do embrião (WILSON, 1997). O último período de desenvolvimento embrionário, que corresponde ao 19º até o 21º dia, ocorrem importantes eventos que condicionam o nascimento do feto: posicionamento da cabeça embaixo da asa direita, perfuração da membrana interna (internal pipping), respiração, perfuração da casca (external pipping) e rompimento da casca para o nascimento. A ventilação, a umidade e a condição sanitária são importantes fatores que condicionam a qualidade e o sucesso do nascimento (GONZALES, 2005). Todo o processo de desenvolvimento embrionário é dependente de reações bioquímicas: transformação de substrato em energia para realização das três fases de desenvolvimento (diferenciação, crescimento e maturação). O embrião utiliza, principalmente, o substrato da gema para realização dessas conversões energéticas e sua composição permite que os processos bioquímicos principais se resumam, em condições normais, à transformação de carboidratos e gorduras em energia (ATP), para que todos os outros processos transformativos sejam realizados com eficiência pelo embrião (CALIL, 2007). Durante a primeira semana de incubação a glicose é a principal fonte de energia dos embriões. A glicose disponível no albúmen é depositada momentos antes da formação da casca do ovo, ainda no organismo da matriz. Durante a segunda metade do período de incubação, a membrana corioalantóide torna-se funcional possibilitando a troca de gases do embrião com o meio externo e consequentemente, a realização de reações de beta-oxidação. Sendo assim, os ácidos graxos tornam-se a principal fonte de energia para o embrião. Durante o processo de eclosão o embrião necessita de mais energia e além dos ácidos graxos a glicose passa a ser novamente fonte de energia (MORAN, 2007). 6 Sabe-se que as evoluções genéticas provocaram intensas modificações nos frangos de corte modernos, fazendo com que os requerimentos físicos e químicos durante o processo de incubação sejam mais específicos. Uma das mudanças visíveis que ocorre a partir das seleções genéticas é com relação ao metabolismo embrionário. O metabolismo embrionário é determinado pelas taxas de biossínteses dos tecidos, que por sua vez dependem das disponibilidades de nutrientes e oxigênio (BOERJAN, 2006a). Existe uma relação direta entre as taxas de biossíntese tecidual com a produção de calor metabólico, ou seja, como resultado do alto potencial de crescimento a produção de calor metabólico das linhagens modernas são bem mais elevadas se comparado com as linhagens das décadas passadas. Em estudo realizado por BOERJAN (2006b) constatou-se que no 18º dia de incubação a produção de calor metabólico, baseado no consumo de oxigênio, foi aproximadamente 20% maior em uma linhagem moderna comparada a uma linhagem tradicional, comumente utilizada em décadas passadas. Sendo assim, o principal desafio dos incubatórios comerciais modernos é obter máquinas capazes de proporcionar o adequado desenvolvimento embrionário compatível com seu metabolismo. 2.2 Fatores que interferem no desenvolvimento embrionário O rendimento da produção de pintos e a qualidade dos mesmos são dependentes de diversos fatores, incluindo os parâmetros físicos durante a incubação como também, anterior a esta etapa (armazenamento dos ovos férteis), além da influência das características das matrizes pesadas. As características físico-químicas dos ovos são modificadas em função destas variáveis, culminando na necessidade de tratamentos diferentes entre esses ovos a fim de se obter o melhor rendimento de produção de cada lote (QUEVEDO, 2009). 7 2.2.1 Fatores relacionados à matriz O principal fator relacionado à matriz que causa efeito direto sobre o desenvolvimento embrionário e consequentemente, à eclodibilidade é a idade da matriz. Com o envelhecimento das matrizes avícolas, são produzidos folículos maiores, o que resulta na produção de ovos maiores e, também, no aumento da relação entre o peso da gema e o peso do ovo (VIEIRA et al., 2001). Ao mesmo tempo, os ovos sofrem alterações de espessura da casca, no número e no diâmetro dos poros, com conseqüente diminuição da condutância de gases e prejuízo para o metabolismo embrionário, uma vez que pode afetar a atividade de enzimas envolvidas na gliconeogênese, interferindo na concentração de glicose sangüínea do embrião e também no tipo e quantidade de nutrientes disponíveis para o seu desenvolvimento (CARDOSO et al., 2002). REIS et al. (1997) relataram também menor taxa de eclosão de ovos férteis de lotes mais velhos (Avian com 48 a 50 semanas e Cobb com 43 semanas) decorrentes da maior mortalidade embrionária final (18 e 15 dias, respectivamente). De acordo com os autores, o aumento da mortalidade embrionária final pode ser explicado por diferenças na qualidade do albúmen, de pior qualidade em lotes de matrizes velhas (48 a 50 semanas) em relação aos ovos de matrizes mais novas (32 a 34 semanas). Aparentemente, ovos produzidos por matrizes de idade mais avançada produzem também pintos com maior peso na eclosão e apresentam uma tendência de eclosão tardia, em relação ao observado com ovos de matrizes jovens (LIMA et al., 2001). 2.2.2 Fatores relacionados à estocagem de ovos férteis A estocagem dos ovos férteis, após a postura, é uma prática necessária nos incubatórios, pois evita a mistura de ovos de diferentes lotes, idades, ou de lotes com status sanitário duvidoso, além de permitir incubar uma maior quantidade de ovos por vez (SCHMIDT et al., 2002). 8 É conhecido que a duração do período de armazenamento dos ovos apresenta correlação inversa com a eclodibilidade, e, em termos de fase da mortalidade embrionária, quanto maior o período de armazenamento, maior a mortalidade precoce (BOLELI, 2003) e maior volume de pintos de má qualidade, devido a perda inadequada de umidade, má cicatrização dos umbigos, penugem com aspecto pegajoso e maior janela de nascimento (MACHADO et al., 2010). PEDROSO et al. (2006) estudaram o efeito do período de estocagem de ovos de codornas e encontraram que os ovos armazenados durante seis dias apresentaram cerca de 48,76% de mortalidade embrionária, valor bem superior aos ovos estocados por três dias, que apresentaram 23,83% de mortalidade. FASENKO et al. (2001) afirmaram que os efeitos da estocagem na eclodibilidade dos ovos dependem do tempo de estocagem e do estágio de desenvolvimento em que o embrião se encontra no momento da postura. Embriões em estágios mais avançados de desenvolvimento são mais resistentes a uma estocagem mais prolongada que embriões menos desenvolvidos. Segundo REIJRINK et al. (2009) quando termina a estocagem, os embriões completaram a formação do hipoblasto, e a migração celular e sua diferenciação é mínima. Estes embriões em estado mais avançado de desenvolvimento contêm mais células, e estão em um estado de maior quietude, o que provavelmente os confere maior resistência na estocagem prolongada. Os embriões menos desenvolvidos podem sofrer danos irreversíveis durante a estocagem, o que pode causar morte embrionária. O momento ótimo para estocagem dos ovos ocorreu quando o hipoblasto já estava formado, estando àqueles embriões menos ou mais desenvolvidos que este estágio mais sensível à estocagem prolongada. 2.2.3 Fatores relacionados à incubação Os fatores físicos, necessários para uma correta incubação, permanecem os mesmos desde o inicio da incubação industrial, porém, as evoluções tecnológicas e científicas possibilitaram grande evolução no conhecimento de como gerenciar as variáveis físicas mais importantes, como temperatura, umidade, trocas gasosas e viragem dos ovos. Assim, o sucesso da 9 incubação envolve condições adequadas de manejo, considerando as pressões impostas às aves pelo ambiente e ao somatório dos fatores biológicos e físicos. (CALIL, 2007). Nos itens a seguir, será feita uma abordagem dos requerimentos fisiológicos para o desenvolvimento embrionário e como mudanças do ambiente físico influenciam os processos fisiológicos. 2.2.3.1 Temperatura A temperatura do embrião durante a incubação é considerada atualmente o fator físico mais importante que determina o sucesso da incubação comercial de ovos de frangos de corte (HULET, 2007). A temperatura do embrião depende basicamente de três fatores: a temperatura da incubadora, a capacidade de dissipação do calor entre o embrião e a incubadora e a produção de calor metabólico do embrião. Sendo assim, os incubatórios comerciais de ovos de frangos de corte incubam artificialmente os ovos em máquinas capazes de garantir que a temperatura embrionária se mantenha em níveis adequados (FRENCH, 1997). BAROTT (1937) foi um dos primeiros pesquisadores que investigou a importância da temperatura de incubação e demonstrou que melhores índices de eclodibilidade, desenvolvimento embrionário e bom desempenho no final de todo o ciclo de produção são encontrados quando se mantêm uma temperatura de 37.8°C. A produção de calor metabólico pelos embriões inicia por volta do quarto dia de incubação. No nono dia a temperatura do embrião é maior do que a temperatura presente na incubadora devido à alta produção de calor metabólico. Sendo assim, é necessário que o calor produzido pelo embrião seja removido com o auxilio de um sistema de ventilação adequado fazendo com que o ar passe por toda a superfície da casca do ovo dissipando o calor produzido (LOURENS, 2004). O controle da temperatura é um fator crítico durante a incubação, uma vez que a produção de calor metabólico das atuais linhagens é bastante elevada 10 (WINELAND et al., 2000). As principais conseqüências de uma hipertermia seria a redução da eclodibilidade e má qualidade do pintainho. Além disso, também podem resultar em redução do peso corporal, redução do comprimento e tamanho relativo do coração, problemas locomotores, aumento da mortalidade embrionária na fase final, mau posicionamento, entre outros (GLADYS et al., 2000). Durante o desenvolvimento embrionário a utilização de nutrientes para o crescimento do embrião pode ser influenciado pelas condições ambientais durante o processo de incubação, gerando sobrevivência e na viabilidade do embrião. conseqüências diretas na A temperatura é um dos fatores físicos que pode afetar o desenvolvimento do embrião (WINELAND et al., 2000). MOLENAAR et al. (2010a) em experimento testando o efeito de duas temperaturas durante o período de incubação, analisou a taxa de sobrevivência dos embriões e a utilização dos nutrientes disponíveis para o crescimento e maturação de suas funções. A partir da segunda semana de incubação (dia 7 ao dia 19) os ovos foram submetidos a uma temperatura considerada normal de 37.8° C ou a uma temperatura elevada de 38.9°C. Os resultados encontrados pelos autores estão dispostos nas Tabelas 1 e 2. TABELA 1- Médias de tempo de incubação (horas), comprimento do pinto (cm), peso líquido (g) e peso da gema residual (g) de ovos incubados sob temperatura normal (37,8°C) ou temperatura elevada (38,9°C) do sétimo ao 19° dia de incubação Tratamento Tempo de Comprimento Peso líquido Gema Incubação (h) (cm) (g) Residual (g) 37.8 °C 487a 19,5a 37,7 4,1b 38.9°C 479b 19,3b 36,1 5,3a a,b - Médias na mesma coluna, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,05) Fonte: Adaptado de MOLENAAR et al. (2010a) 11 TABELA 2 – Composição corporal, composição da gema residual e eficiência de transferência de energia do ovo para o embrião de ovos incubados em duas temperaturas (37,8°C ou 38,9°C) durante o sétimo ao 19° dia de incubação Tratamentos (°C) Item 37.8 38.9 Proteína 127,7a 116,6b Lipídeos 79,5 71,5 Carboidratos 2,1 3,9 209,4a 192,0b Proteína 22,2b 32,0a Lipídeos 32,1 39,9 Carboidratos 3,0b 4,1a Total 57,3b 75,9a Proteína 86,8a 83,6b Proteína livre 36,8 36,7 Total 56,7 55,5 Pinto sem gema (kJ) Total Gema residual (kJ) EE (%)* *Eficiência de transferência de energia do ovo para o embrião a,b - Médias na mesma linha, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,05) Fonte: Adaptado de MOLENAAR et al. (2010a) Observa-se que a duração do período de incubação foi afetada pela condição de temperatura elevada, reduzindo em 8 horas o período total de incubação (Tabela 1). A elevação na temperatura de incubação também causou uma redução do comprimento dos pintainhos em 0,2 cm e aumentou o peso da gema residual em 1,2g. O peso líquido do pintainho não apresentou diferença estatística entre os tratamentos estudados. Na Tabela 2 constata-se que a condição de alta temperatura reduziu as taxas de proteínas e a energia total presente nos pintainhos sem o saco da gema, o que consequentemente elevou as quantidades de proteínas, carboidratos e energia total presente no saco da gema. A capacidade de transferência de 12 proteínas do ovo para os tecidos do embrião foi 3,2% menor no tratamento submetido à elevada temperatura. Pode-se concluir que a temperatura elevada causou efeitos negativos no desenvolvimento embrionário como foi demonstrado pela diminuição do comprimento do pintainho, maior peso da gema residual e menores taxas de proteína e energia total presentes nos tecidos dos pintainhos. Esses resultados foram semelhantes aos encontrados por LOURENS et al. (2006) que também verificou diminuição no desenvolvimento embrionário em condições de temperaturas elevadas. O autor ainda ressalta que o desenvolvimento embrionário inadequado no tratamento submetido a altas temperaturas pode ter ocorrido devido à redução do período total de incubação, que por sua vez reduziu o tempo disponível para que o embrião utilizasse as reservas energéticas provenientes da gema para concluir seu desenvolvimento. Além disso, a menor utilização de proteínas para o desenvolvimento pode ter contribuído para a redução do desenvolvimento. Os pintainhos que conseguem sobreviver à exposição de elevadas temperaturas durante a incubação consomem menores taxas de nutrientes provenientes do ovo e, portanto, apresentam pior desenvolvimento. Ao serem destinados às granjas de produção as chances de sobrevivência na primeira semana de vida também diminuem (ERNST et al., 1984). SCOTT & WASHBURN (1985) observaram que aves submetidas a estresse térmico durante a fase final de incubação apresentaram redução no consumo de alimentos durante a primeira semana de pós-eclosão. Sabe-se que o desenvolvimento de frangos de corte durante a primeira semana de vida é extremamente importante para o desempenho final das aves, uma vez que os processos fisiológicos como hiperplasia e hipertrofia celulares, maturação do sistema termorregulatório e imunológico e desenvolvimento e maturação do trato gastrointestinal influenciam diretamente no ganho de peso e conversão alimentar das aves (MORAES et al., 2002). Com o intuito de avaliar o desempenho produtivo de frangos de corte submetidos a elevadas temperaturas durante a fase embrionária HULET et al., (2007) encontraram peso vivo menor aos 21, 35 e 44 dias de idade no grupo submetido a uma temperatura elevada de 39,7°C (Tabela 3). Segundo os autores 13 os pintainhos recém eclodidos submetidos à alta temperatura apresentaram atividade ruim, mostrando-se lentos e sem disposição para alimentar-se e ingerir água. Como conseqüência, não se alimentaram devidamente nas 8 horas após eclosão gerando uma redução no peso final das aves, ou seja, aos 35 dias de idade as aves apresentaram um peso de aproximadamente 59g abaixo do peso do tratamento submetido a temperatura de 37,5°C e 48g abaixo do peso do mesmo tratamento aos 44 dias de idade. TABELA 3 – Efeito da temperatura de incubação sobre o peso vivo de frangos de corte aos 21, 35 e 44 dias de idade Temperatura (°C) Idade (dias) 37,5 39,7 21 715,1a 669,5b 35 1.722,5ª 1.663,6b 44 2.213,8a 2.165,7b a,b - Médias na mesma linha, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,05) Fonte: Adaptado de HULET et al., (2007) O desenvolvimento dos ossos pode ser afetado por condições ambientais de estresse no início da vida, especialmente por condições de temperaturas (OVIEDO-RONDÓN et al., 2009). O crescimento longitudinal (ossificação endocondral) dos ossos ocorre através do equilíbrio preciso entre a proliferação dos condrócitos, produção da matriz óssea, calcificação biológica, hipertrofia e crescimento vascular (PIZAURO JUNIOR et al., 2002). Vários fatores que controlam a ossificação endocondral dos ossos longos podem ser afetados pela temperatura de incubação, principalmente durante o estágio de platô do desenvolvimento embrionário (ROBSON et al., 2002). A discondroplasia tibial é uma das enfermidades do sistema locomotor que acarretam prejuízos na avicultura moderna uma vez que resultam em altas taxas de mortalidade e condenação no final do período de criação. Essa 14 enfermidade é caracterizada pelo surgimento de uma assincronia no processo no processo de diferenciação dos condrócitos, levando à formação de uma camada de condrócitos pré-hipertróficos de uma cartilagem na tíbia proximal que não é calcificada e é resistente à vascularização (PIZAURO JUNIOR et al., 2002). YALCIN (2007) realizou estudo com o intuito de avaliar a influencia da temperatura durante a fase inicial (0a 8 dias) e final (10 a 18 dias) de incubação sobre a diferenciação dos condrócitos e sobre a incidência de discondroplasia tibial. O autor utilizou 5 tratamentos para suas análises: temperatura controle (37.8°C) durante todo o período de incubação, temperatura baixa (36.9°C) na fase inicial (0 a 8 dias de incubação), temperatura baixa na fase final (10 a 18 dias de incubação), temperatura elevada (39.0°C) na fase inicial e temperatura elevada na fase final. Os quatro tratamentos submetidos a desvios de temperatura foram expostos durante seis horas por dia e os resultados encontram-se na Tabela 4. TABELA 4 – Efeito da temperatura de incubação no peso de embriões aos 14 dias de incubação, de pintainhos após a eclosão e dos frangos aos 21 dias de idade Peso (g) Temp. de Incubação 14 dias de incubação Após a eclosão 21 dias Controle 20,78b 47,0a 814c Temp. baixa 0-8 dias 20,19b 48,6b 714b Temp. baixa 10-18 dias 21,26b 48,4b 690a Temp. alta 0-8 dias 16,76a 49,2b 680a Temp. alta 10-18 dias 22,41b 48,8b 674a a,b - Médias na mesma coluna, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,05) Fonte: Adaptado de YALCIN (2007) A redução da temperatura de incubação nas fases inicial ou final ou a elevação da temperatura na fase final de desenvolvimento embrionário não alterou o peso do embrião aos 14 dias de desenvolvimento embrionário, apenas a elevação da temperatura na fase inicial provocou redução do peso embrionário 15 aos 14 dias de incubação. Após a eclosão o peso dos pintainhos em todos os tratamentos foram maiores do que o peso do grupo controle. Aos 21 dias de idade os frangos do grupo controle apresentaram o melhor peso em relação aos demais tratamentos. Nesse período o ganho de peso diário foi de 36,5 g enquanto os outros tratamentos apresentaram uma média de ganho de peso diária de 30,5 g. O peso relativo da tíbia, percentual de cálcio presente no membro e incidência de discondroplasia tibial estão representadas na Tabela 5. TABELA 5 – Efeito da temperatura de incubação sobre o peso da tíbia, percentual de cálcio presente na tíbia e incidência de discondroplasia tibial (TD) aos 14 dias de incubação, na eclosão e aos 49 dias de idade Parâmetros da Tíbia Temp. de incubação 14 dias de incubação 0,42a Eclosão 49 dias 0,50a 0,82ª Temp. baixa 0-8 d 0,38a 0,40b 0,78ab Temp. baixa 10-18 d 0,33b 0,41b 0,86a Temp. alta 0-8 d 0,39ª 0,28c 0,81ab Temp. alta 10-18 d 0,26c 0,26c 0,71b Controle 5,44 6,39b 11,89 Temp. baixa 0-8 d 7,25 10,15a 11,25 Temp. baixa 10-18 d 6,85 8,91ab 11,24 Temp. alta 0-8 d 5,03 8,68ab 11,73 Temp. alta 10-18 d 9,39 7,71ab 11,21 Controle - - 5,0 (6/120)b Temp. baixa 0-8 d - - 14,4 (14/97)a Temp. baixa 10-18 d - - 3,9 (5/129)b Temp. alta 0-8 d - - 12,8 (10/78)a Temp. alta 10-18 d - - 4,7 (4/85)b Controle Peso (%) Ca (%) TD (%) a,b - Médias na mesma coluna, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,05) Fonte: Adaptado de YALCIN (2007) Alterações na temperatura de incubação durante oito dias nos primeiros estágios de desenvolvimento afetaram o peso da tíbia dos embriões aos 16 14 dias de incubação. Entretanto, a alteração da temperatura na fase final de incubação diminuiu significativamente o peso da tíbia. Na eclosão o grupo controle apresentou o melhor peso da tíbia. O pior peso foi encontrado no tratamento submetido a altas temperaturas durante a fase final de incubação. Com relação às taxas de cálcio presentes na tíbia, aos 14 dias de incubação não houve diferença estatística entre os tratamentos analisados. Na eclosão a diminuição da quantidade de cálcio presente no membro foi inferior apenas no grupo de temperatura baixa. A incidência de discondroplasia tibial em frangos aos 49 dias de idade foi associada aos desvios de temperatura na fase inicial de incubação. Tanto a redução quanto a elevação da temperatura durante essa fase aumentou os índices da enfermidade. Os resultados encontrados pelos autores sugerem a existência de um período crítico de desenvolvimento da placa de crescimento óssea e diferenciação. 2.2.3.2 Umidade Relativa A umidade relativa (UR) é outro fator importante durante a incubação com efeitos diretos sobre a eclodibilidade. O controle da umidade é feito pela diferença psicométrica entre as temperaturas de bulbo seco e úmido (ROSA et al., 2002). BOLELI (2003) recomenda que a faixa de umidade relativa que deve ser disposta nas máquinas de incubação é de 50 a 60%. A água é um constituinte básico da estrutura dos ovos. Durante o desenvolvimento embrionário, a oxidação dos lipídeos, presentes na gema, produzem água metabólica aumentando o volume de água presente no interior do ovo (AR & RAHN, 1980). Durante a incubação, a taxa de perda evaporativa de peso do ovo é controlada, em grande parte, pela umidade relativa da máquina incubadora. Essa perda de peso tem sido associada a resultados de incubação e utilizada como ferramenta eficaz para avaliar o rendimento do processo (TULLETT & BURTON, 1982). 17 Uma das razões para que haja perda de água durante o desenvolvimento embrionário é para possibilitar o surgimento da câmara de ar em um dos pólos do ovo. Essa estrutura deve ter tamanho suficiente para que no momento da bicagem da membrana interna haja disponibilidade suficiente de ar para a ave (AR & RAHN, 1980). Conforme observado por PRINGLE & BAROTT (1937), a perda de peso de ovos férteis durante a incubação decresce em proporção direta com o aumento da umidade no interior da incubadora. MAULDIN (1993) estabeleceu os valores de 12 a 13% como sendo ótimos para a perda de peso em ovos, do momento da incubação até a transferência para eclosão, sendo aceitáveis também as perdas de 11 a 14%. HAYS & SPEAR (1951) obtiveram resultados satisfatórios de eclodibilidade, quando a perda de peso de ovos incubados, avaliada aos 17 dias de incubação, não excedeu 12%. Perdas de peso inferiores a 6,5% antes da realização da bicagem da membrana interna pelo embrião acarretam na formação inadequada da câmara de ar impossibilitando a adequada transição para respiração pulmonar do embrião. Em contrapartida, perdas elevadas de peso, superiores a 14%, aumentam as chances de desidratação do embrião prejudicando sua qualidade ou até mesmo causando mortalidade (MOLENAAR et al., 2010b). Além de afetar a formação da câmara de ar, a perda de peso dos ovos através da perda de água, pode afetar as taxas de mortalidade embrionária na fase inicial e aumentar o período total de incubação (MOLENAAR et al., 2010b). ROBERTSON (1961) comprovou que a umidade relativa elevada na faixa de 75 a 80% aumentou a mortalidade embrionária nos primeiros 10 dias de incubação. A provável justificativa para o aumento da mortalidade pode ser devido aos distúrbios nos mecanismos fisiológicos do embrião relacionados com a troca de gases, ou seja, uma quantidade elevada de água no interior do ovo possivelmente altera os mecanismos responsáveis pelas trocas gasosas. REINHART & HURNIK (1984) encontraram redução no período total de incubação ao diminuir a umidade relativa de 57% para 45% durante os dias 3 a 18 de incubação. 18 O efeito da perda de peso do ovo sobre a qualidade da eclosão durante a incubação também foi estudado por BRUZUAL et al. (2000). Os autores constataram que o peso dos pintainhos recém eclodidos foi maior nos ovos submetidos a uma maior umidade relativa (39,4g; 40,2g e 41,2g em condições de umidade relativa de 43%, 53% e 63% respectivamente). Da mesma forma, HAMDY et al. (1991) encontrou que o peso dos pintainhos submetidos a umidade relativa de 55% foi 0,7 gramas superior aos submetidos a umidade de 45%. BRUZUAL et al. (2000) afirma que a umidade elevada durante a incubação eleva o peso do embrião, pois o excesso de água se incorpora nos tecidos embrionários, prejudicando seu desempenho inicial. Além disso, o excesso de água pode também ser incorporada nas membranas da casca dificultando as trocas gasosas do embrião nos últimos dias de incubação. No mesmo estudo, os autores analisaram os resultados de eclodibilidade e mortalidade embrionária em função da umidade relativa na máquina de incubação. Os resultados estão expostos na Tabela 6. TABELA 06 – Efeito da umidade relativa durante a incubação na eclodibilidade e mortalidade embrionária Umidade Relativa (%) Variáveis (%) 43 53 63 Eclodibilidade 86,6b 89,1a 86,3b Mortalidade inicial 8,2 7,1 8,5 Mortalidade tardia 3,0b 2,3b 4,5a a,b - Médias na mesma linha, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,01) Fonte: Adaptado de BRUZUAL et al. (2000) Observa-se que a eclodibilidade foi superior no tratamento submetido a 53% se comparado com os tratamentos expostos a 43% e 53% de umidade relativa. A mortalidade embrionária inicial não foi afetada pelos tratamentos estudados, o que não se observa com relação a mortalidade tardia. O percentual de mortalidade tardia no tratamento exposto a 63% de umidade apresentou 2,2% a mais de mortalidade se comparado com o tratamento submetido a 53% de umidade e 1,5% a mais do exposto a 43%. 19 BARBOSA et al. (2008) realizou estudo para avaliar os efeitos da umidade relativa sobre a perda de peso do ovo, taxa de eclosão, peso dos pintos na eclosão e relação peso do pinto/peso do ovo. Foram selecionados ovos matrizes de três diferentes idades (26, 41 e 56 semanas) e incubados em três diferentes máquinas em umidades relativas diferentes (48%, 56% e 64%). Foi observado que independentemente da idade da matriz, a perda de peso dos ovos foi maior à medida que a umidade relativa diminuiu. As melhores taxas de eclosão foram obtidas quando os ovos foram submetidos à UR de 56%. Os maiores pesos dos pintainhos foram encontrados quando os ovos foram incubados com 64% de UR. A relação peso do pintainho/peso do ovo foi significativamente maior no nível de 64% de UR. A umidade relativa durante a incubação pode provocar efeitos no desempenho final de frangos de corte, uma vez que desvios da UR afetam a qualidade do pintainho recém nascido, entretanto, mais estudos devem ser realizados para se obter melhores conclusões (MOLENAAR et al., 2010b). 2.2.3.3 Trocas gasosas O crescimento do embrião é diretamente dependente das trocas gasosas (OVIEDO-RONDÓN & MURAKAMI, 1998). O fluxo metabólico dos gases é limitado pela difusão através dos poros na casca do ovo provocado pela diferença de concentração dos gases entre o interior e o exterior dos ovos. A menor concentração de O2 no interior condiciona a obtenção de novas moléculas de O2 vindas do exterior do ovo, onde a concentração molecular é superior. Concentração maior de CO2 no interior do ovo faz as moléculas migrarem para o lado de fora, dependendo do gradiente de concentração molecular existente. (BOLELI, 2003). No primeiro período que se estende até o 18° dia de incubação, a respiração ocorre por meio de capilares por onde é realizada a troca dos gases (PIAIA, 2005). A captação de O2 e a liberação de CO2 aumentam com a evolução do desenvolvimento embrionário. Com o passar dos dias, no período de incubação, o gás entra para repor a água perdida e forma a câmara de ar em uma 20 das extremidades do ovo. A câmara de ar aumenta até que seu tamanho ocupe aproximadamente 15% do volume interno do ovo, no final do período de incubação (LA SCALA JR., 2003). Nesse período, após o rompimento da membrana interna da casca, o embrião passa então a respirar a partir do ar contido na câmara de ar, inflando os pulmões e os sacos aéreos pela primeira vez (PIAIA, 2005). A partir do 19° dia de incubação (platô) o requerimento de oxigênio pelo embrião aumenta e a difusão não pode suprir essa exigência, apresentando uma hipóxia que estimula o embrião à bicagem interna e à eclosão. Este estímulo pode ser também neurofisiológico ou por mudanças do equilíbrio ácido-básico e/ou pressão de gases ou combinação destes fatores (RANH et al., 1979). OVIEDO-RONDÓN & MURAKAMI (1998) citam que em condições de hipóxia, os embriões respondem com uma maior afinidade ao oxigênio, menor atividade metabólica (maior tempo de incubação) e menor crescimento tanto em órgãos (pulmão e coração), como em peso total, pelo atraso no crescimento. Para garantir o suprimento de O2 e conseqüente remoção de CO2, a ventilação dentro das máquinas de incubação se faz necessária (CALIL, 2007). COLEMAN & COLEMAN (1991) encontraram que a ventilação inadequada do sistema da incubadora resultava em diminuição da concentração de oxigênio e incompleta maturação do sistema cardiopulmonar, já que a hipóxia impede a multiplicação das células cardíacas, ocasionando um coração menor, que terá que fazer mais esforço para bombear um volume sanguíneo similar e, a longo prazo derivará numa maior incidência de ascite. A adequada ventilação durante a embriogênese também foi estudada por MAXWELL et al.(1990), que demonstraram que pintos sujeitos à hipóxia durante a incubação apresentaram lesões pulmonares e cardíacas precoces. JAENISCH et al. (1997) constataram que após a suplementação com 2% de oxigênio, totalizando 23% molar de oxigênio durante a incubação de ovos, conferiu a redução parcial no grau de lesões no pulmão e coração das aves. MAULDIN (2003) afirma que aproximadamente 1.000 ovos requerem 4m³ de ar fresco por dia até o 18º dia de incubação. Sendo assim, uma incubadora com capacidade de 40.000 ovos necessitaria 162m³ de ar fresco por dia, ou aproximadamente 8 m³/h. Conseqüentemente, deve-se renovar o ar na 21 incubadora aproximadamente oito vezes em um dia ou uma vez a cada 3 horas. Esta taxa da troca de ar é o mínimo requerido. Sabe-se que a principal fonte de energia do embrião são os lipídeos provenientes da gema (DECUYPERE, 1991). A conversão metabólica de ácidos graxos dos lipídeos da gema para ácidos graxos poliinsaturados é necessária para numerosas atividades dos tecidos embrionários em crescimento, formação de membranas e células cerebrais e da retina (WATKINS, 1995). Em situações de baixa quantidade de oxigênio, o embrião usará menos lipídeos e mais glicogênio dos tecidos como fonte de energia, pois é necessário menos oxigênio para metabolizar carboidratos que lipídeos, como conseqüência, as reservas de glicogênio presentes nos tecidos do embrião serão esgotadas mais rapidamente afetando o suprimento de energia após a eclosão (CHRISTENSEN et al.,1995). O CO2 é um composto natural de processos metabólicos durante o desenvolvimento embrionário. A concentração máxima de CO 2 na incubadora depende do número de ovos férteis e da taxa de ventilação proporcionada pela máquina, mas geralmente não ultrapassa de 0,50% (ONAGBESAN et al, 2007). A sensibilidade do embrião com relação às concentrações de CO2 depende da idade. Durante os primeiros quatro dias de incubação, as concentrações de CO2 podem aumentar em até 1% sem causar prejuízos na eclodibilidade. Entre o quinto e o oitavo dias de incubação os embriões podem sobreviver com concentrações de até 3% de CO2. O aumento da capacidade de tolerância dos embriões a maiores concentrações de CO2 após os quatro dias de incubação pode ser explicado pelo estabelecimento do sistema respiratório, que ocorre por volta de 96 horas de incubação. Entre os dias 9 a 12 do período de incubação, que corresponde ao estágio de desenvolvimento no qual ocorre a maior taxa de crescimento, os embriões podem sobreviver com concentrações de até 5% (MOLENAAR et al., 2010a). A formação da vascularização extra-embrionária ocorre no intervalo de um a quatro dias do período de incubação. O aumento do nível de CO 2 nessa fase favorece a criação do sistema circulatório extra-embrionário, promovendo maior capacidade futura de troca de gases, principalmente permitindo maior aporte de oxigênio através de uma quantidade superior de hemácias disponíveis em comparação com níveis normais desse gás nesta etapa do desenvolvimento. 22 O objetivo de se manter níveis elevados de CO2 é aumentar a hemocitopoiese embrionária, assim como ocorre com pessoas vivendo em regiões de altitude elevada (ar rarefeito) (CALIL, 2007). Em estudos desenvolvidos por DE SMIT et al.(2006, 2008), os autores mostraram que o aumento gradual da concentração de CO2 durante os dez primeiros dias de incubação a níveis de 0,7% ou 1,5% em um ambiente hermeticamente fechado acelera o desenvolvimento embrionário e melhora a eclodibilidade. BRUGGEMAN et al. (2007) aumentou gradualmente as concentrações de CO2 para 1,5% durante os primeiros dez dias de incubação e constataram efeito positivo sobre o desenvolvimento inicial dos embriões, entretanto não encontraram melhoras nas taxas de eclodibilidade. KROETZ NETO et al. (2011) também encontraram melhora significativa na eclodibilidade de pintos de corte, ao expor os embriões a ambientes com até 1% de CO2 do 1° ao 10° dia de incubação. No final do período de incubação a hipercapnia também pode trazer resultados benéficos. O aumento das concentrações de dióxido de carbono nessa fase atua como estímulo para a eclosão, uma vez que podem influenciar nas mudanças fisiológicas necessárias nos momentos que antecedem a eclosão (CÂRLEA et al., 2010). EVERAERT et al. (2007) demonstraram que os embriões toleraram altas concentrações de CO2 (4.0%) no intervalo de 10 a 18 dia de incubação, sem apresentar efeitos negativos no desenvolvimento pré e pós eclosão. Além disso, encontraram eclodibilidade significantemente maior (96%) nos ovos submetidos a concentração de CO2 de 4% se comparados com o grupo controle (95%). Segundo CALIL (2007) a janela de nascimento é um conceito muito utilizado nos incubatórios comerciais e trata-se do intervalo de tempo entre os primeiros nascimentos e os últimos pintainhos nascidos. FRENCH (2010) afirma que para se obter menores janelas de nascimento pode-se aumentar as concentrações de CO2 em até 2% instantes antes dos primeiros embriões iniciarem a bicagem. O aumento de CO 2 estimula os embriões a eclodirem, entretanto em algumas situações o embrião não completou seu desenvolvimento promovendo uma queda da qualidade dos 23 pintainhos eclodidos. Além disso, altas concentrações de CO 2 no final do período de incubação podem causar danos na maturação do coração e dos pulmões (COLEMAN & COLEMAN, 1991). 2.2.3.4 Viragem dos ovos A viragem dos ovos é um fenômeno natural observado durante o choco das galinhas. Com o intuito de simular esse mecanismo as incubadoras artificiais promovem a viragem mecânica dos ovos para que possa obter os melhores índices de eclosão (TONA et al., 2003). Os objetivos da viragem dos ovos durante a incubação são: reduzir o mau posicionamento embrionário, prevenir a adesão do embrião nas membranas da casca e garantir a utilização adequada do albúmen. Além disso, estudos referentes à fisiologia embrionária comprovaram que a viragem dos ovos é extremamente importante, pois promove o acúmulo de proteínas no fluido amniótico, crescimento da rede vascular e facilita as trocas gasosas (WILSON, 1991). A viragem do ovo durante a incubação envolve diversos parâmetros como a freqüência, o eixo em que o ovo é acondicionado na máquina como também o eixo de viragem do mesmo, o ângulo de viragem, o plano de rotação e o estágio da incubação em que é necessária a viragem dos ovos (WILSON, 1991) De acordo com NEVES (2005) o procedimento de viragem deve ser feito 24 vezes ao dia, com o ângulo entre 20º a 45º no plano horizontal. Na prática são utilizados 45º ± 5º a cada hora. ELIBOL & BRAKET (2003) realizaram estudo com o intuito de verificar o efeito da freqüência de viragem dos ovos durante a incubação. Os ovos incubados foram divididos em três tratamentos de acordo com a frequência de viragem. As freqüências de viragem eram 24, 48 e 96 vezes por dia durante o terceiro até o décimo primeiro dias de incubação. Os resultados referentes às taxas de eclodibilidade e mortalidade embrionária estão expostos na Tabela 7. 24 TABELA 7 – Efeito da freqüência de viragem durante os dias 3 a 11 de incubação sobre a eclodibilidade e mortalidade embrionária Frequência de viragem (quantidade/dia) Item (%) 24 48 b 88,10±0,41 96 b Eclodibilidade 88,28±0,42 89,47±0,41ª Mortalidade inicial 5,31±0,32ª 5,85±0,31ª 5,28±0,31ª Mortalidade tardia 4,95±0,29a 4,68±0,28a 3,88±0,28b a,b - Médias na mesma linha, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,01) Fonte: Adaptado de ELIBOL & BRAKET (2003) Observa-se que a eclodibilidade foi maior utilizando frequência de viragem de 96 vezes por dia se comparado com as freqüências de 24 e 48. A mortalidade embrionária na fase final também foi reduzida nos ovos desse tratamento. Resultados semelhantes foram encontrados por ROBERTSON (1961) que observou uma redução da mortalidade embrionária principalmente entre os dias 18 a 21 de incubação a medida que se aumentou a frequência de viragem dos ovos. Estudos têm demonstrado o efeito da viragem sobre alguns parâmetros fisiológicos do embrião em desenvolvimento. Esses estudos revelaram que a viragem influencia na duração da incubação, eclodibilidade, qualidade do pintainho e na capacidade de crescimento da ave (TONA et al., 2003). TONA et al., (2005) realizaram experimento com o intuito de investigar o efeito da viragem nos dias 9, 12, 15 ou 18 do período de incubação como também o efeito da não realização da viragem na utilização do albúmen para o desenvolvimento e crescimento embrionário. Além disso, o estudo também avaliou o efeito da viragem no desenvolvimento do eixo hipotalâmico hipofisário adrenal. Os ovos foram submetidos ao processo de viragem até o décimo oitavo (T18) dia de incubação ou sem a realização da viragem (T0). Nos dias 9, 12, 15 e 18 uma amostra de ovos foi selecionada para a determinação do peso do embrião e do albúmen (Figura 1). 25 FIGURA 1 – Peso do embrião (A) e peso do albúmen (B) em relação a viragem ou não dos ovos e ao período de incubação. *Em cada período de incubação, os tratamentos são significativamente diferentes (P<0,05) Fonte: Adaptado de TONA et al., (2005) Em ambos os tratamentos houve crescimento acentuado do peso do embrião a partir do nono dia até o décimo oitavo dia de incubação. Entretanto, a partir do décimo segundo dia de incubação o tratamento que não foi submetido à 26 viragem obteve menor ganho de peso em relação ao tratamento submetido à viragem (Figura 1). O peso relativo do albúmen em todos os tratamentos foi semelhante até o nono dia (Figura 1B). No décimo quinto dia houve uma significante queda no peso do albúmen em ambos os tratamentos, porém a queda foi mais acentuada no tratamento submetido à viragem. No décimo oitavo dia ocorreu outra queda do peso do albúmen em ambos os tratamentos, sendo um pouco maior no tratamento que não passou pela viragem. Aos 18 dias de incubação, o albúmen apresentava-se em baixos níveis nos ovos que passaram pela viragem, mas uma pequena quantidade ainda era observada nos ovos que não foram submetidos à viragem. Os resultados encontrados pelos autores comprovam a importância da viragem dos ovos durante a incubação, uma vez que a utilização do albúmen para o crescimento embrionário foi influenciado pela viragem dos ovos. Durante a incubação, as proteínas do albúmen se deslocam para o interior líquido amniótico para serem absorvidos pelo embrião, portanto, quanto maior o desenvolvimento embrionário, menores quantidades de albúmen serão encontradas no interior do ovo. Essa relação existente entre peso do embrião e peso do albúmen pode ser representada por uma curva de regressão linear negativa (Figura 2). 27 FIGURA 2 – Relação entre peso do embrião e peso do albúmen no 15° dia de incubação Fonte: Adaptado de TONA et al., (2005) ELIBOL & BRAKET (2006) pesquisaram o efeito do ângulo de viragem sobre a eclodibilidade, mortalidade embrionária e incidência de mau posicionamento dos embriões (cabeça do embrião voltada para a parte fina do ovo). O estudo foi dividido em três tratamentos distintos de acordo com o ângulo de viragem dos ovos. As angulações estabelecidas foram de 35°, 40°e 45° realizadas em uma freqüência de 24 vezes ao dia. Os resultados obtidos na Tabela 8 demonstraram que a eclodibilidade não foi afetada pela angulação de viragem, entretanto, a incidência de mortalidade na fase inicial foi reduzida pela angulação de 40°. A incidência de mau posicionamento dos embriões foi superior no tratamento submetido a angulação de 35°. 28 TABELA 8 – Efeito do ângulo de viragem sobre a eclodibilidade, mortalidade embrionária e incidência de mau posicionamento embrionário Ângulo de viragem Item (%) 35° 40° 45° Eclodibilidade 86,17 88,02 87,74 Mortalidade inicial 7,76a 5,50b 7,21a Mortalidade tardia 3,17 4,31 3,88 Mau posicionamento 1,72a 0,66b 0,32b a,b - Médias na mesma linha, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P≤0,05) Fonte: Adaptado de ELIBOL & BRAKET (2006) 29 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os melhores índices de eclosão, qualidade do neonato e posterior desempenho dos frangos de corte são obtidos quando as condições físicas oferecidas durante a incubação conseguem suprir as necessidades fisiológicas do embrião. As condições de temperatura, umidade relativa, trocas gasosas e viragem mecânica dos ovos são os principais fatores que devem ser regulados com o intuito de se obter os melhores resultados. Além dessas variáveis destacam-se também outros fatores como período e condições de estocagem e características relacionadas à matriz. 30 REFERÊNCIAS 1. AR A, RAHN H. Water in the avian egg: overall budget of incubation. American Zoologist. v. 20, p.373-384, 1980. 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE PINTOS DE CORTE. Informativo diário [online], 2011. Disponível em: http://www.avisite.com.br /economia/cotacoesmed.asp?acao=frangoabatido. Acesso em: 2 out. 2011. 3. BARBOSA, V.M.; CANÇADO, S.V.; BAIÃO,N.C.; LANA, A.M.Q.; LARA, L.J.C.; SOUZA, M.R.; Efeitos da umidade relativa do ar na incubadora e da idade da matriz leve sobre o rendimento da incubação. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 60, n. 3, p. 741-748, 2008. 4. BAROTT, H. G. 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