A População Migrante na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: uma abordagem espacial das desigualdades em 2000.∗ Olga Maria Schild Becker ♣ Faber Paganoto ⊗ Palavras-chave: migração; região metropolitana; desigualdade espacial Resumo O presente documento integra a linha de pesquisa “Desigualdade, Migração e Pobreza na Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, desenvolvida pelo Grupo de Estudos Espaço e População (GEPOP) do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Propõe-se a realizar uma leitura da distribuição espacial da população migrante (segundo as categorias de migrante total, recente e retornado), buscando identificar padrões gerados pela desigual ocorrência destes grupos no espaço metropolitano, na medida em que este não é uno, mas se configura como uma realidade diferenciada, podendo ser considerado como reflexo e condicionante das desigualdades sócio-econômicas de uma dada sociedade. Neste sentido, a Região Metropolitana (RMRJ) e em especial, o Município do Rio de Janeiro, ao apresentar áreas nobres com elevada qualidade de vida, paralelo a espaços de exclusão fragmentados pela pobreza e violência, revela-se como lócus importante para esta investigação. Relatórios anteriores, utilizando o recorte espacial municipal, sugerem a pertinência de se aprofundar a escala de análise, em especial no caso de municípios mais populosos como as metrópoles, já que dados ao nível municipal muitas vezes mascaram realidades intramunicipais bastante diferenciadas. Além da escala municipal utilizada para identificar padrões gerais metropolitanos, outra unidade espacial de análise foi adotada, isto é, a Área de Ponderação (AP) definida pelo IBGE como a menor unidade para divulgação dos resultados da Amostra do Censo Demográfico de 2000. O intuito foi de melhor captar as desigualdades espaciais quanto á localização dos migrantes na cidade do Rio de Janeiro. Apesar de não corresponder exatamente a outros recortes espaciais oficiais (Regiões Administrativas, bairros, etc...), em alguns casos, os limites das APs se assemelham aos de áreas de comunidades de baixa renda, permitindo uma melhor interpretação das informações censitárias. ∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. ABEP. Caxambu-MG. 29/set a 03/out de 2008 ♣ Professora Adjunta do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. ⊗ Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Este trabalho contou com a colaboração de Ray Ribeiro e Camila Vieira na construção do banco de dados. A População Migrante na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: uma abordagem espacial das desigualdades em 2000.∗ Olga Maria Schild Becker ♣ Faber Paganoto ⊗ 1- Introdução Os migrantes neste estudo são considerados em relação ao espaço ocupado - o metropolitano - caracterizado por forte desigualdade. Ilhas de riqueza e ilhas de pobreza, uma das características da urbanização capitalista, tendo ao fundo o desigual acesso a bens e serviços, caracterizam o tecido urbano das metrópoles e suas periferias, através de diferenciadas áreas de produção e consumo, e de reprodução da população. Tal desigualdade, considerada enquanto diferenciação sócio-espacial, está vinculada às variações espaciais dos fenômenos sociais. O espaço passa a ser visto, portanto, a partir de uma dimensão social e não meramente como um suporte físico. Considerando-se que ocorre um processo migratório diferenciado nos conjuntos metropolitanos, busca-se qualificar áreas, tanto ao nível de municípios da Região Metropolitana quanto de áreas da cidade do Rio de Janeiro, que reflitam diferenças da espacialidade metropolitana. Para tanto, busca-se entender como se caracteriza o espaço social da RMRJ, no que diz respeito ao migrante, considerando-o segundo sua importância absoluta e relativa nos diversos municípios e diversas áreas da cidade, tendo como elemento de distinção o tempo de migração, aqui representado pela categoria dos migrantes recentes (até dois anos no município de residência atual), podendo sugerir tendências da mobilidade. A Região Metropolitana reconhecida para este estudo é composta, além dos dezessete municípios definidos segundo a Lei Complementar n.º 105 de 2002 (Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João do Meriti, Seropédica, Mesquita e Tanguá), por Maricá, Itaguaí e Mangaratiba (municípios auto-excluídos da RMRJ) dada sua expressiva vinculação com a dinâmica metropolitana atual e futura, tendo em vista a instalação do Porto de Sepetiba (em Itaguaí) e o advento do Complexo Petroquímico de Itaboraí. As diferenciações intramunicipais serão apresentadas a partir do município do Rio de Janeiro, utilizando-se a escala das Áreas de Ponderação (AP’s). As AP’s foram definidas pelo IBGE a partir de 2000 e constituem o menor recorte espacial para fins de divulgação dos dados ∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. ABEP. Caxambu-MG. 29/set a 03/out de 2008 ♣ Professora Adjunta do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. ⊗ Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Este trabalho contou com a colaboração de Ray Ribeiro e Camila Vieira na construção do banco de dados. 2 da Amostra do Censo Demográfico. Embora não sejam equivalentes a outros recortes administrativos oficiais, em muitos casos seus limites coincidem com os limites de bairros ou mesmo de favelas, facilitando a leitura das desigualdades espaciais. 2. Reflexões sobre metrópole, mobilidade e desigualdade A ocorrência de um processo de desmetropolização, sem que o tamanho urbano das metrópoles diminua (apesar de já apresentarem taxas de crescimento econômico e populacional menor do que suas respectivas regiões) foi discutido por Santos (1996). Segundo este autor, as metrópoles continuarão a crescer, apesar de sua “involução metropolitana”, com a coexistência de atividades com diversos níveis de capital, tecnologia, organização e trabalho: por sua própria composição orgânica do capital e do espaço, permitem a convivência dentro do seu espaço de capitais (e trabalhos) os mais diversos. Donde, poderão continuar a receber imigrantes e a acolher populações pobres e despreparadas. Contudo, a volta da importância da metrópole é trazida por Davidovich (2004), ao destacar entre as outras formas de concentração urbana no Brasil (aglomerações urbanas não metropolitanas e cidades com mais de 100.000 habitantes) a ocorrência de 26 regiões metropolitanas institucionalizadas, quando não passavam de nove na década de 1970, e ao mensurar o universo metropolitano que em 2000 reunia mais de 64,5 milhões de pessoas, representando 38% do total da população brasileira. Cabe ainda constatar que a taxa média anual de crescimento populacional das metrópoles, tomadas em conjunto, teria sido de 2,1% entre 1991 e 2000, superando a do país, estimada no intervalo de 1,6% a 1,9%, sugerindo uma inversão do que ocorreu no período censitário anterior, quando os valores corresponderam, respectivamente a 1,8% e 1,9% .O ritmo de crescimento das metrópoles brasileiras apresentou-se, entretanto, diferenciado na última década. No caso do Rio de Janeiro, enquanto a metrópole apresentava baixa taxa de crescimento (0,74%), municípios de seu entorno cresciam a taxas bem mais elevadas, conferindo ao conjunto da Região Metropolitana uma taxa média geométrica anual de 1,12%, refletindo assim a disparidade do crescimento intrametropolitano e um movimento de maior periferização da metrópole. Paralelo ao crescimento populacional diferenciado das células metropolitanas cabe uma referência ás mudanças no perfil funcional da metrópole, em decorrência da realização de investimentos produtivos e em infraestrutura, capacitando-a como centro de serviços em detrimento das atividades fabris. De acordo com Oliveira (s/d) a cidade do Rio de Janeiro tende a se consolidar como um importante centro empresarial de informática, que já reúne importantes empresas de software, “cidade informacional respaldada na expansão de setores da nova economia”(Davidovich,2004:213), além de ter reorganizada a infraestrutura de turismo. Assim, na medida em que há uma redução do numero de empresas industriais, amplia-se também o desemprego. Quanto ao mercado de trabalho formal torna-se cada vez mais especializado na metrópole, privilegiando os segmentos de maior renda. De outro lado, a precarização das relações de trabalho e a pressão do mercado imobiliário contribuem para o aumento da mobilidade da população trabalhadora de baixa renda em direção ás áreas mais periféricas do complexo metropolitano, ou para áreas menos privilegiadas em termos de sitio e de serviços de infraestrutura urbana básica. Neste sentido, a segregação residencial expressa o perfil diferenciado de sua população, isto é, “a separação espacial das diferentes classes fragmentadas” (Corrêa, 1989:66). A desigualdade, presente no processo de crescimento dos complexos 3 metropolitanos, pode ser vista também como “diferenciação sócio-espacial”, inevitável e necessária ao capitalismo (Browett,1984; Walker, 1978). Segundo Corrêa (2006) as diferenças sócio-espaciais constituem simultaneamente reflexo, meio e condição para o funcionamento e reprodução do sistema capitalista. 3. Uma leitura espacial da distribuição da população migrante em 2000 3.1. O migrante ao nível das unidades municipais da RMRJ Apesar da atual tendência à diminuição do ritmo de crescimento dos complexos metropolitanos e, portanto, do possível decréscimo de sua capacidade de atração populacional1, uma leitura da magnitude e da participação da população migrante no total da população residente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (tabela 1), atesta que em 2000, os migrantes perfaziam 3.845.554 pessoas, indicando que, aproximadamente 35% dos moradores metropolitanos eram não-naturais do município de residência atual. Neste estudo considerou-se migrante todo o indivíduo que possuía município de nascimento diferente do município de residência atual, conceito distinto do adotado pelo IBGE, por ocasião do Recenseamento de 2000, que reconheceu como não migrantes todos aqueles que apresentaram mais de 10 anos de residência no município de residência atual. Apesar da possível “adaptação” destes migrantes já denominados “estabelecidos”, e que representam aproximadamente 63% da população migrante total na RMRJ, pressupõe-se que ainda existam significativas diferenças socioeconômicas e culturais entre os mesmos e os “nativos”, o que justifica a manutenção do antigo conceito. Ao se considerar a magnitude da população migrante total ao nível dos municípios da RMRJ, verificou-se que a metrópole do Rio de Janeiro detinha 1.700.000 migrantes, seguida por Nova Iguaçu (377.166 migrantes), São Gonçalo (350.350 migrantes), Duque de Caxias (315.180 migrantes), Belford Roxo (200.337 migrantes) e Niterói (200.107 migrantes), representando áreas mais antigas e consolidadas do espaço metropolitano. Por outro lado, se analisada a participação dos migrantes na população residente total, observou-se que com exceção do Rio de Janeiro (29%), Paracambi (37%), e Queimados (39%), os demais municípios apresentavam valores superiores a 40%, destacando-se Maricá (56%), Guapimirim e Itaboraí (com 51%) com as maiores participações relativas de migrantes, indicando a importância desta periferia recente que se expande em direção aos eixos rodoviários Rio de Janeiro/Região dos Lagos e Rio de Janeiro/Região Serrana. Em relação aos migrantes recentes, indivíduos que migraram para o município de residência atual (2000) há dois anos ou menos (1998), representaram 13,4% da população migrante total. Entretanto, ocorrem diferenças significativas quando a leitura dos valores desta categoria é feita ao nível intrametropolitano. Assim, destacaram-se pela participação relativa, os municípios de Mangaratiba (29%), Maricá (27%) e Guapimirim (25%), seguidos de Seropédica (21%) e Itaguaí (19%), áreas periféricas em expansão, enquanto a cidade do Rio de Janeiro, 1 Segundo relatório do Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ/2005), a baixa atratividade do Rio de Janeiro relativamente a outras grandes metrópoles é confirmada pelo peso dos migrantes que entraram na metrópole nos últimos cinco anos da década de 90: 3,4% do total da população metropolitana acima de cinco anos, enquanto em São Paulo este percentual foi de 5,6% e em Belo Horizonte, de 6,3%. Entretanto, em termos absolutos houve um aquecimento da migração na última década em direção ao Rio de Janeiro (330 mil pessoas em apenas cinco anos – entre 1995 e 2000 – enquanto no período entre 1980 e 1991, esse total foi de 570 mil pessoas). 4 mesmo apresentando o menor percentual (11%) teve um aporte absoluto de 187.165 migrantes recentes. Quanto aos migrantes retornados, categoria considerada ainda pouco representativa em termos percentuais (6,8% dos migrantes totais), perfaziam, entretanto, nada menos que 261.824 pessoas no contexto metropolitano do Rio de Janeiro em 2000, destacando-se Niterói (9,5%, ou 19.060 migrantes) e Rio de Janeiro (8,3% ou 141.373 migrantes) como os principais centros receptores. Esta atração certamente reside na extensão, diversificação e qualificação do mercado de trabalho destas duas cidades, consideradas o core da RMRJ. Cabe registrar o fato de que estes migrantes detinham os melhores níveis de escolaridade quando comparados às demais categorias migratórias. Tabela 1 População Migrante Total, Recente e Retornada em relação à População Residente Total. Municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 2000. Municípios da RMRJ População ResidenteTotal Total Absoluto % População Migrante Recente Retornada Absoluto Absoluto % % Total RMRJ 10893585 3845554 35,30 514053 13,37 261824 6,81 Belford Roxo Duque de Caxias Guapimirim Itaboraí Itaguaí Japeri Magé Mangaratiba Maricá Nilópolis Niterói Nova Iguaçu Paracambi Queimados Rio de Janeiro São Gonçalo São João de Meriti Seropédica Tanguá 434444 775424 37917 187444 81971 83247 205800 24875 76710 153678 459422 920568 40440 121970 5857876 891090 449445 65231 26033 200337 315180 19423 96330 38795 34819 85782 11451 42658 68187 200107 377166 15027 47759 1708922 350350 188661 32273 12327 46,11 40,65 51,23 51,39 47,33 41,83 41,68 46,03 55,61 44,37 43,56 40,97 37,16 39,16 29,17 39,32 41,98 49,47 47,35 30880 42209 4861 20633 7451 6150 15380 3313 11503 9823 30704 51926 1928 7197 187165 47142 26623 6856 2309 15,41 13,39 25,03 21,42 19,21 17,66 17,93 28,93 26,97 14,41 15,34 13,77 12,83 15,28 10,95 13,46 14,11 21,24 18,73 8628 16326 974 4349 2425 1407 5066 549 1986 4768 19060 18687 1311 2416 141373 18864 11577 1416 642 4,31 5,18 5,01 4,51 6,25 4,04 5,91 4,79 4,66 6,99 9,52 4,95 8,72 5,06 8,27 5,38 6,14 4,39 5,21 Fonte: GEPOP/ Depto. Geografia/ UFRJ, 2007. Dados brutos IBGE/BME. Censo Demográfico 2000. 3.2. Padrões migratórios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Os intensos fluxos migratórios verificados nas últimas décadas, responsáveis por processos de redistribuição da população, evidenciaram a importância dos deslocamentos intraestaduais. Entretanto, para Baeninger (1998) é necessário fazer distinção entre fluxo intraestadual e fluxo intrametropolitano. Segundo esta autora, assistiu-se á concentração e desconcentração metropolitana em curto espaço de tempo, com a diversificação dos fluxos migratórios. Já Randolph (2007), ao estudar a urbanização nas regiões metropolitana e perimetropolitana do Rio de Janeiro, relacionou a escala intrametropolitana com a 5 intraestadual concluindo que no Estado do Rio de Janeiro a migração intrametropolitana foi responsável por quase a metade de toda a migração intra-estadual na última década, enquanto as migrações no interior do Rio de Janeiro representaram apenas 19% do total da migração do estado. Além das diferenças de magnitude destes dois tipos de fluxos cabe considerar também a existência de um processo migratório diferenciado ao nível intrametropolitano, decorrente das características distintas das células metropolitanas no que se refere ás formas de organização das suas atividades produtivas, permitindo mudanças de ordem econômica, política, social e cultural na produção contemporânea do espaço (Oliveira,s/d.). A partir das diferenças na intensidade do crescimento populacional e da mobilidade intrametropolitana na RMRJ, observada a partir da ocorrência de diferentes taxas geométricas de crescimento anual e de taxas líquidas de migração dos municípios (vide mapa1), buscou-se caracterizar a Região Metropolitana do Rio de Janeiro segundo uma tipologia dos seus municípios, objetivando a identificação de padrões migratórios. Para tal, comparou-se magnitude dos aportes migratórios (população migrante total) com o tempo de migração da população deslocada (migrantes recentes, com até dois anos de residência no município atual). O resultado (vide quadro1) permitiu classificar os municípios em quatro categorias ou padrões (mapa2) a partir da combinação das variáveis acima indicadas. Quadro 1 Classificação dos Municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro segundo magnitude dos migrantes totais e participação dos migrantes recentes na população migrante total. 2000. Magnitude da População Migrante Total (Absoluto) Participação da População Migrante Recente na População Migrante Total Alta (30 a 22%) Média (21 a 12%) Alta (45%) Rio de Janeiro Nova Iguaçu São Gonçalo Duque de Caxias Belford Roxo Niterói São João de Meriti Magé Nilópolis Queimados Itaguaí Japeri Paracambi Tanguá Média (10 a 5%) Baixa (2,5 a 0,3%) Baixa ( - de 11%) Itaboraí Maricá Seropédica Guapimirim Mangaratiba Fonte: BME/ IBGE, Dados Brutos. Censo Demográfico 2000. Organização: GEPOP/ Departamento de Geografia/ UFRJ, 2008 6 Mapa 1 Mapa 2 7 Padrão 1: Elevada presença de população migrante total e baixa participação do migrante recente na população migrante total. Representado pela cidade do Rio de Janeiro, núcleo metropolitano consolidado com capacidade de atração migratória decrescente. Padrão 2: Significativa presença do migrante total e do migrante recente. Corresponde aos municípios de Niterói, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, São João do Meriti e São Gonçalo, caracterizados como entorno metropolitano imediato relativamente consolidado. Padrão 3: Baixa presença do migrante total e média participação do migrante recente. Integrado pelos municípios de Magé, Nilópolis, Queimados, Japeri e Paracambi. Padrão 4: Baixa presença do migrante total e alta participação do migrante recente. Corresponde a uma periferia metropolitana distante, com crescente dinamismo e poder de atração migratória, representada pelos municípios de Itaboraí, Maricá, Itaguaí, Seropédica, Guapimirim, Tanguá e Mangaratiba. 3.3 Padrões migratórios do Município do Rio de Janeiro. Mudando a escala de análise para uma escala intramunicipal é possível verificar que a diferenciação interna no município do Rio de Janeiro é ainda mais complexa que aquela apresentada na RMRJ quando analisada a partir da escala municipal. Assim, foram mapeados o volume de migrantes, o percentual de migrantes sobre a população residente total e a participação dos migrantes recentes no total de migrantes em casa uma das Áreas de Ponderação do município. O objetivo foi o de buscar padrões e apontar tendências demográficas. No que diz respeito aos volumes de migrantes na cidade do Rio de Janeiro, verificou-se que há uma notável concentração absoluta de migrantes na Barra da Tijuca, em Jacarepaguá e na porção ocidental do bairro de Santa Cruz. São bairros localizados na Zona Oeste do Rio de Janeiro, área da cidade que passou a apresentar um ritmo de crescimento mais significativo a partir da década de 1980. Além disso, são áreas com grande extensão territorial, o que ajuda, em parte, a entender o grande volume de migrantes. Santa Cruz é, ainda hoje, um bairro de ocupação dispersa, sendo possível encontrar muitas propriedades rurais. A perspectiva de crescimento é, no entanto, grande, devido à anunciada instalação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e à abertura, em Setembro de 2004, da Cidade das Crianças, um parque da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Ainda assim, já em 2000, uma das Áreas de Ponderação do bairro de Santa Cruz apresentava uma grande magnitude de migrantes, o que pode ser explicado pela condição de área fronteiriça com o município de Itaguaí, onde se encontra em atividade desde 1982 o Porto de Itaguaí, também conhecido como Porto de Sepetiba, modernizado em 1998. 8 Também apresentaram significativo volume de migrantes as AP´s correspondentes aos bairros de Guaratiba, Barra de Guaratiba, Pedra de Guarabatiba, Parada de Lucas, Andaraí e Flamengo. Os três primeiros guardam muitas semelhanças entre si: são bairros da Zona Oeste da cidade, ou muito próximos ou banhados pela Baía de Sepetiba, apresentam expansão recente, têm população majoritariamente de baixa renda e apresentam um padrão residencial horizontal, ou seja, são raras as construções com mais de dois pavimentos. Podem ser considerados fatores importantes para a grande concentração de migrantes nestes três bairros a grande oferta de terrenos e aluguéis baratos, somada à proximidade com o Recreio dos Bandeirantes e com a Barra da Tijuca, onde a expansão imobiliária promove também a expansão do mercado de trabalho. Parada de Lucas, subúrbio da Leopoldina, e Andaraí, na região da Grande Tijuca, embora não sejam próximos um ao outros e estejam ambos localizados em áreas consolidadas da cidade, são bairros caracterizados por ampla favelização. O Flamengo, finalmente, apresenta uma diferença em relação aos demais bairros da Zona Sul da cidade: muitos prédios de apartamentos conjugados ou de apenas um quarto, o que torna o bairro muito atrativo para migrantes solteiros. O bairro oferece também uma ampla gama de serviços para atender a este público, entre os quais se destacam restaurantes self-service e lavanderias. Mapa 3 9 No mapa 4 aparecem em destaque as AP´s onde os migrantes exerciam, em 2000, um peso significativo sobre a população residente na área. Parada de Lucas e a porção oeste do bairro de Santa Cruz voltam a aparecer em destaque. Além deles, destacavam-se AP´s no complexo de favelas da Maré e nos bairros de Cacuia e Ribeira, localizados na Ilha do Governador. O complexo de favelas da Maré é constituído por 17 comunidades onde habita um número considerável de migrantes nordestinos. Na comunidade de Nova Holanda, em especial, é possível identificar um forte vínculo com a cidade paraibana de Serra Branca, de onde chegam muitos moradores desde os anos 60. Também se verifica na Maré uma grande concentração de imigrantes angolanos e cabo-verdianos. Cacuia e Ribeira são bairros de classe média e classe média alta, habitados por muitos militares da marinha, em função da localização no bairro da Cacuia do Paiol da Marinha. Na Ribeira encontram-se, também, instalações de empresas petrolíferas tais como Shell e Esso. São todas elas atividades caracterizadas pelo grande envolvimento de população migrante. Também apresentam peso importante de migrantes sobre a população total muitas Ap´s localizadas na região da Baixada de Jacarepaguá, onde estão situadas as favelas que apresentaram forte crescimento na última década (com destaque para a Favela Rio das Pedras), em toda a Zona Sul da cidade, além da área central e do bairro do Galeão e de seu entorno, na Ilha do Governador. Não apresentando um padrão espacial muito claro, as manchas onde o peso dos migrantes é menos significativo compreendem bairros tão distintos quanto o Recreio dos Bandeirantes, o Alto da Boa Vista e Madureira. Mapa 4 10 Entre as áreas com maior percentual de migrantes recentes em relação ao total de migrantes destacam-se o bairro do Grumari e o Recreio dos Bandeirantes, áreas com poucos migrantes na ocasião do recenseamento. A expansão observada nos bairros desde então corrobora a informação de que mais de 60% de seus migrantes chegaram à região entre 1998 e 2000. O Recreio é, atualmente, um dos bairros que concentram os lançamentos imobiliários da cidade, junto da Barra da Tijuca, da Freguesia e de Del Castilho. Outras áreas com muitos migrantes recentes são a Tijuca, o Alto da Boa Vista, o Cosme Velho e Santa Tereza. Todos estes bairros localizam-se em uma região de grandes maciços, cujas encostas continuam sendo alvo de favelização e ocupações irregulares de toda ordem. Também apresenta muitos migrantes recentes o bairro da Pavuna, limítrofe com o município de São João de Meriti e atendido, desde 1998 pela expansão da linha 2 do metrô carioca. Entre as áreas que apresentam menor percentual de migrantes recentes estão as porções de ocupação mais antiga e consolidada da zona Oeste, ao longo do eixo da Avenida Brasil (Campo Grande, Senador Camará, Bangu e Realengo), os bairros centrais da Ilha do Governador, praticamente todos os bairros da Zona Norte da cidade e alguns bairros da Zona Sul, tais como Botafogo e Jardim Botânico. Mapa 5 11 4. Bibliografia Becker, Olga M.S.& Paganoto, Faber. Migração e Pobreza na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: uma leitura espacial das desigualdades na década de 1990. V Encontro Nacional sobre Migrações. NEPO. Campinas/SP. 15-17 outubro 2007. Corrêa, Roberto Lobato.Diferenciação Sócio-Espacial, Escala e Práticas Espaciais. Texto para Discussão. GEU (Grupo de Estudos Urbanos).Departamento de Geografia. UFRJ. 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