A População Migrante na Região Metropolitana do Rio de Janeiro

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A População Migrante na Região Metropolitana do Rio de Janeiro:
uma abordagem espacial das desigualdades em 2000.∗
Olga Maria Schild Becker ♣
Faber Paganoto ⊗
Palavras-chave: migração; região metropolitana; desigualdade espacial
Resumo
O presente documento integra a linha de pesquisa “Desigualdade, Migração e Pobreza na
Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, desenvolvida pelo Grupo de Estudos Espaço e
População (GEPOP) do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
Propõe-se a realizar uma leitura da distribuição espacial da população migrante (segundo
as categorias de migrante total, recente e retornado), buscando identificar padrões gerados pela
desigual ocorrência destes grupos no espaço metropolitano, na medida em que este não é uno,
mas se configura como uma realidade diferenciada, podendo ser considerado como reflexo e
condicionante das desigualdades sócio-econômicas de uma dada sociedade. Neste sentido, a
Região Metropolitana (RMRJ) e em especial, o Município do Rio de Janeiro, ao apresentar áreas
nobres com elevada qualidade de vida, paralelo a espaços de exclusão fragmentados pela pobreza
e violência, revela-se como lócus importante para esta investigação.
Relatórios anteriores, utilizando o recorte espacial municipal, sugerem a pertinência de
se aprofundar a escala de análise, em especial no caso de municípios mais populosos como as
metrópoles, já que dados ao nível municipal muitas vezes mascaram realidades intramunicipais
bastante diferenciadas. Além da escala municipal utilizada para identificar padrões gerais
metropolitanos, outra unidade espacial de análise foi adotada, isto é, a Área de Ponderação (AP)
definida pelo IBGE como a menor unidade para divulgação dos resultados da Amostra do Censo
Demográfico de 2000. O intuito foi de melhor captar as desigualdades espaciais quanto á
localização dos migrantes na cidade do Rio de Janeiro. Apesar de não corresponder exatamente a
outros recortes espaciais oficiais (Regiões Administrativas, bairros, etc...), em alguns casos, os
limites das APs se assemelham aos de áreas de comunidades de baixa renda, permitindo uma
melhor interpretação das informações censitárias.
∗
Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. ABEP. Caxambu-MG. 29/set a
03/out de 2008
♣
Professora Adjunta do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ.
⊗
Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ.
Este trabalho contou com a colaboração de Ray Ribeiro e Camila Vieira na construção do banco de dados.
A População Migrante na Região Metropolitana do Rio de Janeiro:
uma abordagem espacial das desigualdades em 2000.∗
Olga Maria Schild Becker ♣
Faber Paganoto ⊗
1- Introdução
Os migrantes neste estudo são considerados em relação ao espaço ocupado - o
metropolitano - caracterizado por forte desigualdade. Ilhas de riqueza e ilhas de pobreza, uma
das características da urbanização capitalista, tendo ao fundo o desigual acesso a bens e serviços,
caracterizam o tecido urbano das metrópoles e suas periferias, através de diferenciadas áreas de
produção e consumo, e de reprodução da população.
Tal desigualdade, considerada enquanto diferenciação sócio-espacial, está vinculada às
variações espaciais dos fenômenos sociais. O espaço passa a ser visto, portanto, a partir de uma
dimensão social e não meramente como um suporte físico.
Considerando-se que ocorre um processo migratório diferenciado nos conjuntos
metropolitanos, busca-se qualificar áreas, tanto ao nível de municípios da Região Metropolitana
quanto de áreas da cidade do Rio de Janeiro, que reflitam diferenças da espacialidade
metropolitana. Para tanto, busca-se entender como se caracteriza o espaço social da RMRJ, no
que diz respeito ao migrante, considerando-o segundo sua importância absoluta e relativa nos
diversos municípios e diversas áreas da cidade, tendo como elemento de distinção o tempo de
migração, aqui representado pela categoria dos migrantes recentes (até dois anos no município de
residência atual), podendo sugerir tendências da mobilidade.
A Região Metropolitana reconhecida para este estudo é composta, além dos dezessete
municípios definidos segundo a Lei Complementar n.º 105 de 2002 (Rio de Janeiro, Belford
Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu,
Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João do Meriti, Seropédica, Mesquita e Tanguá), por
Maricá, Itaguaí e Mangaratiba (municípios auto-excluídos da RMRJ) dada sua expressiva
vinculação com a dinâmica metropolitana atual e futura, tendo em vista a instalação do Porto de
Sepetiba (em Itaguaí) e o advento do Complexo Petroquímico de Itaboraí.
As diferenciações intramunicipais serão apresentadas a partir do município do Rio de
Janeiro, utilizando-se a escala das Áreas de Ponderação (AP’s). As AP’s foram definidas pelo
IBGE a partir de 2000 e constituem o menor recorte espacial para fins de divulgação dos dados
∗
Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. ABEP. Caxambu-MG. 29/set a
03/out de 2008
♣
Professora Adjunta do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ.
⊗
Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ.
Este trabalho contou com a colaboração de Ray Ribeiro e Camila Vieira na construção do banco de dados.
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da Amostra do Censo Demográfico. Embora não sejam equivalentes a outros recortes
administrativos oficiais, em muitos casos seus limites coincidem com os limites de bairros ou
mesmo de favelas, facilitando a leitura das desigualdades espaciais.
2. Reflexões sobre metrópole, mobilidade e desigualdade
A ocorrência de um processo de desmetropolização, sem que o tamanho urbano das
metrópoles diminua (apesar de já apresentarem taxas de crescimento econômico e populacional
menor do que suas respectivas regiões) foi discutido por Santos (1996). Segundo este autor, as
metrópoles continuarão a crescer, apesar de sua “involução metropolitana”, com a coexistência
de atividades com diversos níveis de capital, tecnologia, organização e trabalho: por sua própria
composição orgânica do capital e do espaço, permitem a convivência dentro do seu espaço de
capitais (e trabalhos) os mais diversos. Donde, poderão continuar a receber imigrantes e a
acolher populações pobres e despreparadas.
Contudo, a volta da importância da metrópole é trazida por Davidovich (2004), ao
destacar entre as outras formas de concentração urbana no Brasil (aglomerações urbanas não
metropolitanas e cidades com mais de 100.000 habitantes) a ocorrência de 26 regiões
metropolitanas institucionalizadas, quando não passavam de nove na década de 1970, e ao
mensurar o universo metropolitano que em 2000 reunia mais de 64,5 milhões de pessoas,
representando 38% do total da população brasileira.
Cabe ainda constatar que a taxa média anual de crescimento populacional das
metrópoles, tomadas em conjunto, teria sido de 2,1% entre 1991 e 2000, superando a do país,
estimada no intervalo de 1,6% a 1,9%, sugerindo uma inversão do que ocorreu no período
censitário anterior, quando os valores corresponderam, respectivamente a 1,8% e 1,9% .O ritmo
de crescimento das metrópoles brasileiras apresentou-se, entretanto, diferenciado na última
década. No caso do Rio de Janeiro, enquanto a metrópole apresentava baixa taxa de crescimento
(0,74%), municípios de seu entorno cresciam a taxas bem mais elevadas, conferindo ao conjunto
da Região Metropolitana uma taxa média geométrica anual de 1,12%, refletindo assim a
disparidade do crescimento intrametropolitano e um movimento de maior periferização da
metrópole.
Paralelo ao crescimento populacional diferenciado das células metropolitanas cabe uma
referência ás mudanças no perfil funcional da metrópole, em decorrência da realização de
investimentos produtivos e em infraestrutura, capacitando-a como centro de serviços em
detrimento das atividades fabris. De acordo com Oliveira (s/d) a cidade do Rio de Janeiro tende a
se consolidar como um importante centro empresarial de informática, que já reúne importantes
empresas de software, “cidade informacional respaldada na expansão de setores da nova
economia”(Davidovich,2004:213), além de ter reorganizada a infraestrutura de turismo. Assim,
na medida em que há uma redução do numero de empresas industriais, amplia-se também o
desemprego.
Quanto ao mercado de trabalho formal torna-se cada vez mais especializado na
metrópole, privilegiando os segmentos de maior renda. De outro lado, a precarização das
relações de trabalho e a pressão do mercado imobiliário contribuem para o aumento da
mobilidade da população trabalhadora de baixa renda em direção ás áreas mais periféricas do
complexo metropolitano, ou para áreas menos privilegiadas em termos de sitio e de serviços de
infraestrutura urbana básica. Neste sentido, a segregação residencial expressa o perfil
diferenciado de sua população, isto é, “a separação espacial das diferentes classes fragmentadas”
(Corrêa, 1989:66). A desigualdade, presente no processo de crescimento dos complexos
3
metropolitanos, pode ser vista também como “diferenciação sócio-espacial”, inevitável e
necessária ao capitalismo (Browett,1984; Walker, 1978). Segundo Corrêa (2006) as diferenças
sócio-espaciais constituem simultaneamente reflexo, meio e condição para o funcionamento e
reprodução do sistema capitalista.
3. Uma leitura espacial da distribuição da população migrante em 2000
3.1. O migrante ao nível das unidades municipais da RMRJ
Apesar da atual tendência à diminuição do ritmo de crescimento dos complexos
metropolitanos e, portanto, do possível decréscimo de sua capacidade de atração populacional1,
uma leitura da magnitude e da participação da população migrante no total da população
residente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (tabela 1), atesta que em 2000, os migrantes
perfaziam 3.845.554 pessoas, indicando que, aproximadamente 35% dos moradores
metropolitanos eram não-naturais do município de residência atual.
Neste estudo considerou-se migrante todo o indivíduo que possuía município de
nascimento diferente do município de residência atual, conceito distinto do adotado pelo IBGE,
por ocasião do Recenseamento de 2000, que reconheceu como não migrantes todos aqueles que
apresentaram mais de 10 anos de residência no município de residência atual. Apesar da possível
“adaptação” destes migrantes já denominados “estabelecidos”, e que representam
aproximadamente 63% da população migrante total na RMRJ, pressupõe-se que ainda existam
significativas diferenças socioeconômicas e culturais entre os mesmos e os “nativos”, o que
justifica a manutenção do antigo conceito.
Ao se considerar a magnitude da população migrante total ao nível dos municípios da
RMRJ, verificou-se que a metrópole do Rio de Janeiro detinha 1.700.000 migrantes, seguida por
Nova Iguaçu (377.166 migrantes), São Gonçalo (350.350 migrantes), Duque de Caxias (315.180
migrantes), Belford Roxo (200.337 migrantes) e Niterói (200.107 migrantes), representando
áreas mais antigas e consolidadas do espaço metropolitano.
Por outro lado, se analisada a participação dos migrantes na população residente total,
observou-se que com exceção do Rio de Janeiro (29%), Paracambi (37%), e Queimados (39%),
os demais municípios apresentavam valores superiores a 40%, destacando-se Maricá (56%),
Guapimirim e Itaboraí (com 51%) com as maiores participações relativas de migrantes,
indicando a importância desta periferia recente que se expande em direção aos eixos rodoviários
Rio de Janeiro/Região dos Lagos e Rio de Janeiro/Região Serrana.
Em relação aos migrantes recentes, indivíduos que migraram para o município de
residência atual (2000) há dois anos ou menos (1998), representaram 13,4% da população
migrante total. Entretanto, ocorrem diferenças significativas quando a leitura dos valores desta
categoria é feita ao nível intrametropolitano. Assim, destacaram-se pela participação relativa, os
municípios de Mangaratiba (29%), Maricá (27%) e Guapimirim (25%), seguidos de Seropédica
(21%) e Itaguaí (19%), áreas periféricas em expansão, enquanto a cidade do Rio de Janeiro,
1
Segundo relatório do Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ/2005), a baixa atratividade do Rio de Janeiro
relativamente a outras grandes metrópoles é confirmada pelo peso dos migrantes que entraram na metrópole nos
últimos cinco anos da década de 90: 3,4% do total da população metropolitana acima de cinco anos, enquanto em
São Paulo este percentual foi de 5,6% e em Belo Horizonte, de 6,3%. Entretanto, em termos absolutos houve um
aquecimento da migração na última década em direção ao Rio de Janeiro (330 mil pessoas em apenas cinco anos –
entre 1995 e 2000 – enquanto no período entre 1980 e 1991, esse total foi de 570 mil pessoas).
4
mesmo apresentando o menor percentual (11%) teve um aporte absoluto de 187.165 migrantes
recentes.
Quanto aos migrantes retornados, categoria considerada ainda pouco representativa em
termos percentuais (6,8% dos migrantes totais), perfaziam, entretanto, nada menos que 261.824
pessoas no contexto metropolitano do Rio de Janeiro em 2000, destacando-se Niterói (9,5%, ou
19.060 migrantes) e Rio de Janeiro (8,3% ou 141.373 migrantes) como os principais centros
receptores. Esta atração certamente reside na extensão, diversificação e qualificação do mercado
de trabalho destas duas cidades, consideradas o core da RMRJ. Cabe registrar o fato de que estes
migrantes detinham os melhores níveis de escolaridade quando comparados às demais categorias
migratórias.
Tabela 1
População Migrante Total, Recente e Retornada em relação à População Residente Total.
Municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 2000.
Municípios da
RMRJ
População
ResidenteTotal
Total
Absoluto
%
População Migrante
Recente
Retornada
Absoluto
Absoluto
%
%
Total RMRJ
10893585
3845554
35,30
514053
13,37
261824
6,81
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaboraí
Itaguaí
Japeri
Magé
Mangaratiba
Maricá
Nilópolis
Niterói
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
Rio de Janeiro
São Gonçalo
São João de Meriti
Seropédica
Tanguá
434444
775424
37917
187444
81971
83247
205800
24875
76710
153678
459422
920568
40440
121970
5857876
891090
449445
65231
26033
200337
315180
19423
96330
38795
34819
85782
11451
42658
68187
200107
377166
15027
47759
1708922
350350
188661
32273
12327
46,11
40,65
51,23
51,39
47,33
41,83
41,68
46,03
55,61
44,37
43,56
40,97
37,16
39,16
29,17
39,32
41,98
49,47
47,35
30880
42209
4861
20633
7451
6150
15380
3313
11503
9823
30704
51926
1928
7197
187165
47142
26623
6856
2309
15,41
13,39
25,03
21,42
19,21
17,66
17,93
28,93
26,97
14,41
15,34
13,77
12,83
15,28
10,95
13,46
14,11
21,24
18,73
8628
16326
974
4349
2425
1407
5066
549
1986
4768
19060
18687
1311
2416
141373
18864
11577
1416
642
4,31
5,18
5,01
4,51
6,25
4,04
5,91
4,79
4,66
6,99
9,52
4,95
8,72
5,06
8,27
5,38
6,14
4,39
5,21
Fonte: GEPOP/ Depto. Geografia/ UFRJ, 2007. Dados brutos IBGE/BME. Censo Demográfico 2000.
3.2. Padrões migratórios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Os intensos fluxos migratórios verificados nas últimas décadas, responsáveis por
processos de redistribuição da população, evidenciaram a importância dos deslocamentos
intraestaduais. Entretanto, para Baeninger (1998) é necessário fazer distinção entre fluxo
intraestadual e fluxo intrametropolitano. Segundo esta autora, assistiu-se á concentração e
desconcentração metropolitana em curto espaço de tempo, com a diversificação dos fluxos
migratórios. Já Randolph (2007), ao estudar a urbanização nas regiões metropolitana e
perimetropolitana do Rio de Janeiro, relacionou a escala intrametropolitana com a
5
intraestadual concluindo que no Estado do Rio de Janeiro a migração intrametropolitana foi
responsável por quase a metade de toda a migração intra-estadual na última década, enquanto
as migrações no interior do Rio de Janeiro representaram apenas 19% do total da migração
do estado.
Além das diferenças de magnitude destes dois tipos de fluxos cabe considerar também a
existência de um processo migratório diferenciado ao nível intrametropolitano, decorrente
das características distintas das células metropolitanas no que se refere ás formas de
organização das suas atividades produtivas, permitindo mudanças de ordem econômica,
política, social e cultural na produção contemporânea do espaço (Oliveira,s/d.).
A partir das diferenças na intensidade do crescimento populacional e da mobilidade
intrametropolitana na RMRJ, observada a partir da ocorrência de diferentes taxas
geométricas de crescimento anual e de taxas líquidas de migração dos municípios (vide
mapa1), buscou-se caracterizar a Região Metropolitana do Rio de Janeiro segundo uma
tipologia dos seus municípios, objetivando a identificação de padrões migratórios. Para tal,
comparou-se magnitude dos aportes migratórios (população migrante total) com o tempo de
migração da população deslocada (migrantes recentes, com até dois anos de residência no
município atual). O resultado (vide quadro1) permitiu classificar os municípios em quatro
categorias ou padrões (mapa2) a partir da combinação das variáveis acima indicadas.
Quadro 1
Classificação dos Municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro segundo magnitude dos
migrantes totais e participação dos migrantes recentes na população migrante total. 2000.
Magnitude da População
Migrante Total (Absoluto)
Participação da População Migrante Recente na População Migrante Total
Alta (30 a 22%)
Média (21 a 12%)
Alta (45%)
Rio de Janeiro
Nova Iguaçu
São Gonçalo
Duque de Caxias
Belford Roxo
Niterói
São João de Meriti
Magé
Nilópolis
Queimados
Itaguaí
Japeri
Paracambi
Tanguá
Média (10 a 5%)
Baixa (2,5 a 0,3%)
Baixa ( - de 11%)
Itaboraí
Maricá
Seropédica
Guapimirim
Mangaratiba
Fonte: BME/ IBGE, Dados Brutos. Censo Demográfico 2000.
Organização: GEPOP/ Departamento de Geografia/ UFRJ, 2008
6
Mapa 1
Mapa 2
7
Padrão 1: Elevada presença de população migrante total e baixa participação do
migrante recente na população migrante total. Representado pela cidade do
Rio de Janeiro, núcleo metropolitano consolidado com capacidade de atração
migratória decrescente.
Padrão 2: Significativa presença do migrante total e do migrante recente. Corresponde
aos municípios de Niterói, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, São
João do Meriti e São Gonçalo, caracterizados como entorno metropolitano
imediato relativamente consolidado.
Padrão 3: Baixa presença do migrante total e média participação do migrante recente.
Integrado pelos municípios de Magé, Nilópolis, Queimados, Japeri e Paracambi.
Padrão 4: Baixa presença do migrante total e alta participação do migrante recente.
Corresponde a uma periferia metropolitana distante, com crescente dinamismo e
poder de atração migratória, representada pelos municípios de Itaboraí, Maricá,
Itaguaí, Seropédica, Guapimirim, Tanguá e Mangaratiba.
3.3 Padrões migratórios do Município do Rio de Janeiro.
Mudando a escala de análise para uma escala intramunicipal é possível verificar que a
diferenciação interna no município do Rio de Janeiro é ainda mais complexa que aquela
apresentada na RMRJ quando analisada a partir da escala municipal. Assim, foram mapeados o
volume de migrantes, o percentual de migrantes sobre a população residente total e a
participação dos migrantes recentes no total de migrantes em casa uma das Áreas de Ponderação
do município. O objetivo foi o de buscar padrões e apontar tendências demográficas.
No que diz respeito aos volumes de migrantes na cidade do Rio de Janeiro, verificou-se
que há uma notável concentração absoluta de migrantes na Barra da Tijuca, em Jacarepaguá e na
porção ocidental do bairro de Santa Cruz. São bairros localizados na Zona Oeste do Rio de
Janeiro, área da cidade que passou a apresentar um ritmo de crescimento mais significativo a
partir da década de 1980. Além disso, são áreas com grande extensão territorial, o que ajuda, em
parte, a entender o grande volume de migrantes.
Santa Cruz é, ainda hoje, um bairro de ocupação dispersa, sendo possível encontrar
muitas propriedades rurais. A perspectiva de crescimento é, no entanto, grande, devido à
anunciada instalação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e à abertura, em Setembro
de 2004, da Cidade das Crianças, um parque da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Ainda
assim, já em 2000, uma das Áreas de Ponderação do bairro de Santa Cruz apresentava uma
grande magnitude de migrantes, o que pode ser explicado pela condição de área fronteiriça com
o município de Itaguaí, onde se encontra em atividade desde 1982 o Porto de Itaguaí, também
conhecido como Porto de Sepetiba, modernizado em 1998.
8
Também apresentaram significativo volume de migrantes as AP´s correspondentes aos
bairros de Guaratiba, Barra de Guaratiba, Pedra de Guarabatiba, Parada de Lucas, Andaraí e
Flamengo.
Os três primeiros guardam muitas semelhanças entre si: são bairros da Zona Oeste da
cidade, ou muito próximos ou banhados pela Baía de Sepetiba, apresentam expansão recente,
têm população majoritariamente de baixa renda e apresentam um padrão residencial horizontal,
ou seja, são raras as construções com mais de dois pavimentos. Podem ser considerados fatores
importantes para a grande concentração de migrantes nestes três bairros a grande oferta de
terrenos e aluguéis baratos, somada à proximidade com o Recreio dos Bandeirantes e com a
Barra da Tijuca, onde a expansão imobiliária promove também a expansão do mercado de
trabalho.
Parada de Lucas, subúrbio da Leopoldina, e Andaraí, na região da Grande Tijuca, embora
não sejam próximos um ao outros e estejam ambos localizados em áreas consolidadas da cidade,
são bairros caracterizados por ampla favelização. O Flamengo, finalmente, apresenta uma
diferença em relação aos demais bairros da Zona Sul da cidade: muitos prédios de apartamentos
conjugados ou de apenas um quarto, o que torna o bairro muito atrativo para migrantes solteiros.
O bairro oferece também uma ampla gama de serviços para atender a este público, entre os quais
se destacam restaurantes self-service e lavanderias.
Mapa 3
9
No mapa 4 aparecem em destaque as AP´s onde os migrantes exerciam, em 2000, um
peso significativo sobre a população residente na área. Parada de Lucas e a porção oeste do
bairro de Santa Cruz voltam a aparecer em destaque. Além deles, destacavam-se AP´s no
complexo de favelas da Maré e nos bairros de Cacuia e Ribeira, localizados na Ilha do
Governador.
O complexo de favelas da Maré é constituído por 17 comunidades onde habita um
número considerável de migrantes nordestinos. Na comunidade de Nova Holanda, em especial, é
possível identificar um forte vínculo com a cidade paraibana de Serra Branca, de onde chegam
muitos moradores desde os anos 60. Também se verifica na Maré uma grande concentração de
imigrantes angolanos e cabo-verdianos.
Cacuia e Ribeira são bairros de classe média e classe média alta, habitados por muitos
militares da marinha, em função da localização no bairro da Cacuia do Paiol da Marinha. Na
Ribeira encontram-se, também, instalações de empresas petrolíferas tais como Shell e Esso. São
todas elas atividades caracterizadas pelo grande envolvimento de população migrante.
Também apresentam peso importante de migrantes sobre a população total muitas Ap´s
localizadas na região da Baixada de Jacarepaguá, onde estão situadas as favelas que
apresentaram forte crescimento na última década (com destaque para a Favela Rio das Pedras),
em toda a Zona Sul da cidade, além da área central e do bairro do Galeão e de seu entorno, na
Ilha do Governador.
Não apresentando um padrão espacial muito claro, as manchas onde o peso dos migrantes
é menos significativo compreendem bairros tão distintos quanto o Recreio dos Bandeirantes, o
Alto da Boa Vista e Madureira.
Mapa 4
10
Entre as áreas com maior percentual de migrantes recentes em relação ao total de
migrantes destacam-se o bairro do Grumari e o Recreio dos Bandeirantes, áreas com poucos
migrantes na ocasião do recenseamento. A expansão observada nos bairros desde então
corrobora a informação de que mais de 60% de seus migrantes chegaram à região entre 1998 e
2000. O Recreio é, atualmente, um dos bairros que concentram os lançamentos imobiliários da
cidade, junto da Barra da Tijuca, da Freguesia e de Del Castilho.
Outras áreas com muitos migrantes recentes são a Tijuca, o Alto da Boa Vista, o Cosme
Velho e Santa Tereza. Todos estes bairros localizam-se em uma região de grandes maciços, cujas
encostas continuam sendo alvo de favelização e ocupações irregulares de toda ordem. Também
apresenta muitos migrantes recentes o bairro da Pavuna, limítrofe com o município de São João
de Meriti e atendido, desde 1998 pela expansão da linha 2 do metrô carioca.
Entre as áreas que apresentam menor percentual de migrantes recentes estão as porções
de ocupação mais antiga e consolidada da zona Oeste, ao longo do eixo da Avenida Brasil
(Campo Grande, Senador Camará, Bangu e Realengo), os bairros centrais da Ilha do
Governador, praticamente todos os bairros da Zona Norte da cidade e alguns bairros da Zona
Sul, tais como Botafogo e Jardim Botânico.
Mapa 5
11
4. Bibliografia
Becker, Olga M.S.& Paganoto, Faber. Migração e Pobreza na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro: uma leitura espacial das desigualdades na década de 1990. V Encontro Nacional sobre
Migrações. NEPO. Campinas/SP. 15-17 outubro 2007.
Corrêa, Roberto Lobato.Diferenciação Sócio-Espacial, Escala e Práticas Espaciais. Texto para
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(Inédito).
Davidovich, Fany. 2004. “A volta da Metrópole no Brasil: Referências para a gestão territorial”.
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