psicologia da aprendizagem e do desenvolvimento

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Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
E DO DESENVOLVIMENTO
PÓS-GRADUAÇÃO
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
MARINGÁ-PR
2011
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenação de Polos: Diego Figueiredo Dias
Coordenação Comercial: Helder Machado
Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha
Coordenação de Curso: Rachel Maya Brotherhood
Coordenação Administrativa de Curso: Márcia Maria Previato de Souza
Assessora Pedagógica: Fabiane Carniel
Coordenação de Produção de Materiais: Ionah Beatriz Beraldo Mateus
Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura
Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Luiz Fernando Rokubuiti e Renata Sguissardi
Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo
Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi e Jaquelina Kutsunugui
Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br
NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação
a distância:
C397
Psicologia da aprendizagem e do desenvolvimento/ Leonardo Pestillo de Oliveira - Maringá - PR, 2011.
68 p.
“Curso de Pós-Graduação Educação a Distância - EaD”.
1. Psicologia da aprendizagem. 2. Desenvolvimento huma
no. 3.Behaviorismo. 4. EaD. I.Título.
CDD - 22 ed. 158.2
CIP - NBR 12899 - AACR/2
“As imagens utilizadas nessa apostila foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
E DO DESENVOLVIMENTO
Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
APRESENTAÇÃO
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos.
A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades
para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de
sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós
e pelos nossos fará grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar
o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento,
formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e
solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência
social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração
com a sociedade.
Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional
e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos
ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão
acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com
o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos,
incentivando a educação continuada.
Professor Wilson de Matos Silva
Reitor
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou
a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância
do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e,
assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido.
Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo
de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo
Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma
equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja,
possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.
Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você
construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no
ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em
linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de
linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas
as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o
desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de
forma colaborativa.
Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer
anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações
de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão
organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos.
Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na
Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de
aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária.
Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem!
Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
APRESENTAÇÃO
Livro: PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO
Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira
Olá, prezado aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento.
Esta disciplina se torna importante para sua formação, pois aborda temas relevantes para a compreensão
de como os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano ocorrem, e principalmente como isso
pode ser observado e aplicado no âmbito educacional.
O conteúdo desta disciplina foi selecionado com o intuito de levar você a refletir sobre sua prática
profissional e assim poder compreender melhor como agir para contribuir com o aprendizado do aluno.
Nossa ação no mundo sempre traz mudanças, e mesmo sendo um profissional do Ensino a Distância a
influência é direta quando a mediação ocorre.
Eu sou o professor Leonardo Pestillo de Oliveira, e meu objetivo é levar até você um referencial teórico
que explique como ocorre a aprendizagem e o desenvolvimento humano. Com isso, vamos analisar juntos
alguns dos principais referenciais teóricos acerca do tema, para que assim sua atuação profissional seja
de qualidade, mesmo porque os aspectos psicológicos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem
são fundamentais para uma boa absorção do conteúdo estudado.
Este livro é composto por 3 Unidades que correspondem aos temas da nossa disciplina. Portanto, será
necessário que você se empenhe em ler o conteúdo e durante este processo seja capaz de identificar
os pontos principais de cada uma destas Unidades. Além disso, todo tema aqui trabalhado merece
ser pesquisado em outros meios possíveis, pois somente um livro não é suficiente para esgotar todo o
conteúdo.
Por fim, minha tentativa aqui é levá-lo a se questionar sobre como sua prática profissional pode também
colaborar com a aprendizagem do aluno, e como essa aprendizagem ocorre em cada uma das fases do
desenvolvimento humano. Então, para iniciar nosso trabalho gostaria que você pensasse sobre a seguinte
pergunta: como os conceitos principais da Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento podem
colaborar para a minha atuação profissional, para que eu possa oferecer um serviço de qualidade aos
que dependem da minha mediação?
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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SUMÁRIO
UNIDADE I
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM
PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM..................................14
A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO............................................................................................................ 20
LINGUAGEM E PENSAMENTO.............................................................................................................. 23
UNIDADE II
DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONCEITOS BÁSICOS E PRINCIPAIS CONCEPÇÕES
TEORIAS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO.............................................................................. 33
EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET............................................................................................ 38
TEORIA DA MEDIAÇÃO DE VYGOTSKY............................................................................................... 43
UNIDADE III
BEHAVIORISMO E PSICANÁLISE
INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO.......................................................................................................51
A TEORIA BEHAVIORISTA DE SKINNER.............................................................................................. 52
TEORIA PSICANALÍTICA DE FREUD – PRINCIPAIS CONCEITOS...................................................... 56
CONCLUSÃO.......................................................................................................................................... 66
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 67
UNIDADE I
PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM
Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira
Objetivos de Aprendizagem
• Analisar as principais concepções teóricas acerca da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano.
• Compreender os aspectos da constituição do sujeito e da subjetividade humana.
• Examinar a influência da linguagem e do pensamento do sujeito no processo de aprendizagem.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Aspectos Evolutivos do Desenvolvimento Humano
• Teorias da Aprendizagem
• Aspectos Evolutivos da constituição do sujeito
• Desenvolvimento da Linguagem e do pensamento do ser humano
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
INTRODUÇÃO
Caro aluno, a Psicologia do Desenvolvimento é a área da Psicologia que se ocupa do estudo das mudanças
que ocorrem com o ser humano ao longo de sua vida. Sabe-se que as mudanças na vida do ser humano
ocorrem desde sua concepção até o final de sua vida, essas mudanças ocorrem em vários aspectos, tais
como cognitivo, físico, afetivo. Além disso, esses aspectos são determinados geneticamente e também
sofrem influência direta do contexto social em que o indivíduo está inserido.
Nesta primeira unidade, você terá acesso a algumas das principais abordagens teóricas acerca do
desenvolvimento humano. O estudo do desenvolvimento humano tem seu início com as publicações de
Darwin acerca das suas discussões sobre a evolução da humanidade por meio da seleção natural, dando
suporte para estudos posteriores.
Mesmo que no início os estudos consideravam apenas o desenvolvimento infantil. Atualmente, temos
muitas discussões sobre quais as mudanças que ocorrem na vida do ser humano ao longo de seu
desenvolvimento até o fim de sua vida. O homem está sempre em desenvolvimento, e é importante para
profissionais que lidam com os aspectos educacionais terem conhecimento sobre quais as mudanças que
ocorrem no decorrer da vida do homem, bem como algumas características que permanecem estáveis.
Ao longo do desenvolvimento, o sujeito lida com questões que remetem à aprendizagem, que depende
tanto de aspectos do indivíduo, ou seja, os fatores biológicos determinados geneticamente, bem como dos
fatores do contexto em que ele está inserido. Neste aspecto, também serão abordadas algumas teorias
que procuram explicar o processo de aprendizagem dos indivíduos.
Com o desenvolvimento do sujeito, este cria elementos que lhe permitem absorver conhecimento, e com
isso a aprendizagem ocorre de maneira mais satisfatória. Ao absorver conhecimento sobre elementos
científicos que lhes são ensinados, há o conhecimento de si próprio e este autoconhecimento é essencial
para a constituição do sujeito.
A subjetividade humana permite ao sujeito se reconhecer como alguém no mundo e refletir sobre seu
papel como um sujeito ativo no contexto em que vive. A influência do contexto encontra suporte na teoria
Sócio-histórica de Vygotsky que apresenta os aspectos do desenvolvimento e da aprendizagem do sujeito
influenciados pelas características do ambiente, bem como da ação do sujeito sobre esse ambiente, como
um sujeito ativo.
Considerando todos estes pontos, o desenvolvimento humano, sua aprendizagem bem como sua ação
sobre o ambiente em que vive, o ser humano possui ainda uma característica que é exclusivamente humana
e a diferencia dos demais animais. Essa característica é a linguagem, principal canal de comunicação
entre as pessoas e que tem papel importante no processo de aprendizagem, visto que a linguagem
tem relação direta com o pensamento e o desenvolvimento cognitivo. Além disso, o desenvolvimento da
linguagem fornece subsídios para a formação do pensamento e do caráter do ser humano, enquanto ser
social.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Fonte: PHOTOS.COM
PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM
O Campo do Desenvolvimento e da Aprendizagem é vasto quando se tenta compreender os aspectos que
envolvem a vida do ser humano. No entanto, alguns autores se dispuseram a estudar esses aspectos e
assim instituir maneiras específicas de se trabalhar com as crianças de uma forma que se possa colaborar
com o seu desenvolvimento típico, bem como garantir uma aprendizagem satisfatória ao longo de sua
vida nos aspectos escolares.
O desenvolvimento humano ocorre desde os primórdios da humanidade, mas o aspecto científico do
homem só passou a ser estudado por volta do século XIX. Em 1877, Charles Darwin publica um artigo
baseado em algumas anotações que fez de seu filho durante os primeiros anos de sua vida, iniciando
assim os estudos científicos sobre o desenvolvimento humano. A partir disto, os autores se ocupam
em compreender o homem mediante o “estudo científico de como as pessoas mudam, bem como
das características que permanecem razoavelmente estáveis durante toda a vida” (PAPALIA; OLDS;
FELDMAN, 2006, p. 47).
No início dos estudos sobre o desenvolvimento humano, os responsáveis por esta tarefa consideravam
que o desenvolvimento ocorria apenas na fase da infância. Atualmente, a maioria dos cientistas do
desenvolvimento reconhece e estuda o desenvolvimento ao longo da vida do sujeito, tendo seu fim apenas
com o final da vida do mesmo. É o que se conhece pelo desenvolvimento do ciclo da vida, pois não basta
apenas entender como se dá este desenvolvimento durante a infância, mas também como ele continua a
ocorrer durante a fase adulta e atualmente, o estudo científico do envelhecimento faz parte deste campo
vasto que busca a compreensão cada vez mais detalhada da vida do ser humano.
Em todos os campos de estudo sobre o ser humano, há que se considerar as diferenças de pensamentos e
abordagens que tentam cada um de sua maneira explicar tais fenômenos. No campo do desenvolvimento,
a história se encarrega de mostrar como as discussões evoluíram ao longo do tempo. Mas o que intriga
a todos é a relação entre os aspectos individuais do sujeito versus os aspectos do ambiente. O que
influencia mais no desenvolvimento humano? Seria suas características individuais, sua personalidade,
seus aspectos biológicos? Ou seria os aspectos do ambiente, o contexto em que este sujeito vive que teria
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
maior poder de influência sobre sua vida?
Mas chegar a uma conclusão não é simples, por isso as diversas abordagens teóricas existem atualmente
para que cada uma possa contribuir a sua maneira para a compreensão do desenvolvimento humano. O
que há de consenso entre estas abordagens são as etapas em que o desenvolvimento ocorre, cada uma
com suas nomenclaturas específicas, porém indicando basicamente as mesmas fases do ciclo vital.
Fonte: PHOTOS.COM
Griggs (2009) apresenta um conjunto de estágios que considera ser bastante usado principalmente por
psicólogos desenvolvimentistas, cada um desses estágios seria constituído por diferentes mudanças
biológicas, cognitivas e sociais. Estas fases seriam: Pré-natal (da concepção ao nascimento); Primeira
infância (do nascimento aos 2 anos); Infância (2 aos 12 anos); Adolescência (12 aos 18 anos); Idade
adulta jovem (18 aos 40 anos); Idade adulta média (40 aos 65 anos); e Idade adulta tardia (acima
de 65 anos). Vale ressaltar que essas idades são apenas idades médias, significando que cada pessoa
irá passar por essas fases de desenvolvimento em idades específicas para a sua realidade. Ou seja,
essa seria a ordem de desenvolvimento que ocorre com todas as pessoas, a direção é a mesma para
todos, o que muda é o tempo de mudança de uma fase para outra. Cada indivíduo irá ter seu tempo de
desenvolvimento, uns mais rápidos, outros nem tanto.
O período pré-natal e a primeira infância é a fase da vida do ser humano que vai desde a concepção até
os 2 anos de idade. Essa é uma fase em que as mudanças ocorrem não só para o feto, e em seguida a
criança, mas há uma mudança na vida de todos os envolvidos no fato. O desenvolvimento pré-natal se
divide em três estágios: germinal, embrionário e fetal.
Após a concepção, tanto fatores ambientais quanto genéticos irão influenciar o desenvolvimento. Mas
como o ambiente influencia o desenvolvimento? Por meio do ambiente da mãe, ou seja, tudo o que a mãe
faz pode influenciar de alguma forma o desenvolvimento do feto. O uso de bebidas alcoólicas, drogas
e todos os comportamentos chamados comportamentos de risco podem de alguma forma prejudicar
o desenvolvimento sadio da criança. Os principais riscos que uma criança corre neste caso são, entre
outros, o retardamento mental e anormalidades faciais (GRIGGS, 2009).
A idade da mãe também é um fator a ser considerado no caso de uma gravidez. Existem alguns problemas
relacionados à idade da mãe. Uma gravidez antes dos 15 anos, ou acima dos 40 anos pode levar a
uma prematuridade, baixo peso. A prematuridade pode ocasionar em problemas pulmonares da criança,
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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pois os pulmões não se desenvolvem adequadamente, além de uma prematuridade também no sistema
digestivo e imunológico.
Logo ao nascerem, as crianças apresentam apenas movimentos reflexos, ou seja, os chamados
automatismos primários, em que não há controle sobre os movimentos. Alguns destes movimentos têm
características que garantem a sobrevivência da criança, tais como a sucção e a respiração, que são
respostas não aprendidas, mas são indispensáveis. Os demais movimentos reflexos tendem a desaparecer
em poucos meses de vida.
Durante a infância a criança aprende a controlar os movimentos, aprende a sentar, a engatinhar e enfim a
andar. O desenvolvimento sensorial/perceptual depende do desenvolvimento do cérebro. Se as trajetórias
visuais não se desenvolvem no período de bebê, a visão fica permanentemente perdida. As redes neurais
que são utilizadas ficam mais fortes, já as que não são utilizadas são eliminadas.
As mudanças que ocorrem ao longo do tempo podem ser entendidas de duas formas, uma quantitativa e
outra qualitativa. As mudanças quantitativas durante o desenvolvimento são aquelas que correspondem
às mudanças numéricas ou de quantidade como, por exemplo, o peso e a altura da pessoa, aquilo que
se pode mensurar ao longo do tempo. Já as mudanças qualitativas são aquelas que ocorrem no nível de
estrutura ou organização. São marcadas pelo surgimento de novos mecanismos (cognitivos, por exemplo)
que permitem à criança se adaptar aos novos desafios que lhe são impostos (BELSKY, 2010).
Concomitante ao estudo do desenvolvimento humano há que se considerar os aspectos da aprendizagem
que ocorrem principalmente a partir das mudanças no sujeito. Direta ou indiretamente, as tradicionais
áreas da Psicologia da Educação têm estudado e pesquisado situações que possam ser relacionadas à
aprendizagem. Pode-se considerar como Teorias da Aprendizagem os diversos modelos existentes que
procuram explicar o processo de aprendizagem nos indivíduos.
Apesar da existência de diversas teorias que se ocupam de explicar o processo de aprendizagem, as que
apresentam maior destaque atualmente na educação são as teorias desenvolvidas por Jean Piaget e Lev
Vygotsky. A Epistemologia Genética desenvolvida por Piaget foi desenvolvida por meio da experiência
com crianças desde o nascimento até a adolescência, tendo como premissa o fato de que o conhecimento
é construído a partir da interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas existentes (PIAGET,
1974). Já os estudos de Vygotsky se baseiam na dialética das interações do sujeito com o outro e com o
meio para que possa ocorrer o desenvolvimento sóciocognitivo (VYGOTSKY, 1999).
A teoria cognitiva de Piaget é baseada em dois de seus interesses, a filosofia e a biologia, supondo assim
que o desenvolvimento cognitivo se originava da adaptação da criança ao seu ambiente, e assim buscando
promover sua sobrevivência por meio da tentativa de aprender sobre seu ambiente. Isso transforma a
criança em alguém que busca o conhecimento e a compreensão do mundo, mas com uma característica
importante para Piaget, que é o fato da criança operar sobre este mundo.
O conhecimento da criança é organizado como esquemas, que são estruturas indispensáveis para o
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
conhecimento das pessoas, objetos, eventos entre outras coisas. Sendo assim, estes esquemas permitem
que o ser humano organize e interprete as informações sobre o mundo. Na memória do ser humano
(memória de longo prazo) existem esquemas para conceitos como livros ou cachorros; esquemas para
eventos, como ir a um restaurante; e esquemas para ações, como andar de bicicleta.
Apesar de Vygotsky e seus seguidores considerarem que a estrutura dos estágios desenvolvida por
Piaget seja correta, há que se considerar uma diferença básica entre estes dois autores. Para Piaget a
estruturação do organismo ocorre antes do desenvolvimento, já para Vygotsky, o desenvolvimento das
estruturas mentais superiores é gerado a partir do processo de aprendizagem do sujeito (PALANGANA,
2001).
Os aspectos sociais da abordagem de Vygotsky são claros e diretos. A aprendizagem ocorre com as
outras pessoas, sejam os pais, os professores ou as pessoas mais próximas da criança. Para este autor,
a cultura influencia tanto quanto os processos do desenvolvimento cognitivo infantil, pelo fato de que o
desenvolvimento acontece dentro deste contexto cultural.
No geral, o que se entende por aprendizagem é a capacidade que o sujeito apresenta, no seu dia a dia,
de dar respostas adaptadas às solicitações e desafios que lhes são impostos durante sua interação com
o meio. Atualmente, a aprendizagem é compreendida como um processo global, dinâmico, contínuo,
individual, gradativo e cumulativo. De acordo com as características escolares, há a necessidade de
que o aluno seja um processador ativo da informação que lhe é transmitida, não basta apenas ser um
receptor passivo do conhecimento, o aluno precisa decodificar o que lhe é ensinado e assim absorver
este conhecimento. De acordo com Papalia, Olds, Feldman (2006) são duas as principais teorias da
aprendizagem: o Behaviorismo e a Teoria da aprendizagem social, mas pode-se considerar o
Construtivismo também como uma das mais importantes atualmente.
Buhrrus F. Skinner
Fonte: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/skinner-428143.shtml>
De acordo com o pensamento dos autores behavioristas, a conduta do sujeito é passível de observação e
mensuração. O início dos trabalhos desta abordagem ocorreu com John Watson (1878-1958) e Ivan Pavlov
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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(1849-1936), porém o estabelecimento dos princípios e da Teoria são creditados à Burruhs Skinner (19041990), fato que representa uma renovação do comportamentalismo watsoniano. Uma das pesquisas mais
notável de Skinner é a respeito dos diferentes programas de reforço que foram desenvolvidos a partir da
“Caixa de Skinner”, em que o papel necessário do reforço no comportamento operante foi demonstrado
a partir das experiências com a pressão na barra pelo rato, que recebia comida toda vez que dava a
resposta correta. Mas Skinner deixou claro que o reforço do mundo real nem sempre é consistente ou
contínuo, no entanto, a aprendizagem ocorre e os comportamentos persistem, ainda que reforçados só
intermitentemente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Para esta Teoria os comportamentos do ser humano são aprendidos, e com isso, o aspecto da aprendizagem
passa a ter grande importância. O ambiente passa a ter um papel fundamental, pois o homem passa a ser
produto do meio. No aspecto do ensino, ao se seguir as características do Behaviorismo, é preciso preparar
e organizar as contingências de reforço que irão facilitar a aquisição dos esquemas e dos diferentes
tipos de condutas desejadas. Esse planejamento e organização das contingências ficaria a cargo do
professor. As pesquisas comportamentais concentram-se na aprendizagem associativa, em que se forma
uma ligação mental entre dois fatos. Dois tipos de aprendizagem associativa são o condicionamento
clássico e o condicionamento operante (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Para Skinner (2006), a principal característica do condicionamento clássico é que uma pessoa ou um
animal aprende uma resposta reflexiva a um estímulo que originalmente não a provocava, depois que
o estímulo é repetidamente associado a outro que provoca a resposta. Este tipo de aprendizagem foi
descrito inicialmente a partir dos estudos de Pavlov em seus estudos com cães, que aprendiam a salivar
quando ouviam uma sineta que tocava na hora da alimentação.
O autor coloca ainda que, no caso do condicionamento operante, um comportamento originalmente
acidental (por exemplo, o sorriso), torna-se uma resposta condicionada, ou seja, o sujeito aprende com as
consequências de “operar” sobre o ambiente. A partir dos estudos com ratos e pombos, Skinner afirmava
que os mesmos princípios poderiam ser aplicados aos seres humanos. Com isso, chegou à conclusão de
que o sujeito tende a repetir uma resposta que foi reforçada, e ao contrário, tente a suprimir uma resposta
que foi punida.
Albert Bandura
Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Bandura>
Em contrapartida surge a Teoria da Aprendizagem Social, que tem como característica considerar que as
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
crianças aprendem comportamentos sociais a partir da observação e imitação de modelos. Tem como seu
principal representante Albert Bandura (1925), e pode ser considerada uma forma de comportamentalismo
menos extrema que a de Skinner, que reflete e reforça o impacto do interesse renovado pelos fatores
cognitivos. Outra diferença é que a Teoria da Aprendizagem Social considera o aprendiz como sujeito
ativo, com isso, a pessoa atua sobre o ambiente, e em até certo ponto, cria o ambiente (BANDURA;
POLYDORO; AZZI, 2008).
A abordagem de Bandura estuda o comportamento tal como é formado e modificado em situações
sociais, ou seja, na interação com outras pessoas. Reconhece a importância da cognição, consideram
as respostas cognitivas às percepções, em vez de respostas basicamente automáticas ao reforço ou à
punição, como centrais para o desenvolvimento.
Essa imitação realizada pelas crianças no processo de aprendizagem depende do que elas percebem
que é valorizado em sua cultura. Nem sempre o reforço está presente, e a criança pode aprender determinado tipo de comportamento na ausência de reforço diretamente vivenciado. Com isso, aprende-se pela observação do comportamento e das consequências deste comportamento de outra pessoa.
Consequentemente, esta capacidade de aprender pelo exemplo supõe a aptidão de antecipar e avaliar
consequências apenas observadas em outras pessoas e ainda não vivenciadas.
As pesquisas de Bandura sobre a autoeficácia trouxeram discussões sobre uma forma de as pessoas
enfrentarem as situações cotidianas. Essa autoeficácia seria o sentido de autoestima ou de valor próprio
de um sujeito, a sensação de adequação e eficiência em tratar dos problemas da vida. Sujeitos com
autoeficácia elevada apresentam a capacidade de lidar com todos os eventos de sua vida, eles esperam
superar obstáculos e, como resultado, buscam desafios, perseveram e mantêm um alto nível de confiança
em sua aptidão para ter êxito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
A terceira das teorias aqui abordadas é o Construtivismo, que é compreendido como a corrente teórica
da educação que explica como a inteligência humana se desenvolve. Neste ponto, suas discussões são
construídas partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações
mútuas entre indivíduo e meio.
Lev Semenovitch Vygotsky
Fonte: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml>
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Jean Piaget
Fonte: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/jean-piaget-428139.shtml>
É uma teoria que surge a partir dos estudos da Epistemologia Genética de Jean Piaget e da Teoria Sócio-histórica de Lev Vygotsky. Estas influências levaram à crença de que o homem não nasce inteligente,
mas que também não é um sujeito passivo no mundo. Mesmo sendo estimulado pelo meio externo, o homem é capaz de agir sobre estes estímulos para construir e organizar o seu próprio conhecimento. Quanto mais ele age sobre o meio, mais elaborada será sua organização cognitiva (COLL; SCHILLING, 2004).
De acordo com a teoria piagetiana, para conhecer os objetos, o sujeito tem que agir sobre eles e, por
conseguinte, transformá-los: tem que deslocá-los, agrupá-los, combiná-los, separá-los e juntá-los. Neste
sentido, o conhecimento não é nem uma cópia interior dos objetos, ou acontecimentos do real, nem meros
reflexos desses objetos e acontecimentos que se imporiam ao sujeito.
Partindo deste princípio, a aprendizagem é considerada uma constante busca do significado das coisas.
Esse significado é construído a partir da globalidade e das partes que constituem aquilo que se quer
conhecer. Como ponto fundamental de aprendizagem, aprender é construir o seu próprio significado e
não encontrar respostas certas dadas por outra pessoa.
A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
Com as discussões acerca da construção da inteligência do sujeito a partir de sua interação com o meio,
Vygotsky elabora uma análise da capacidade do sujeito em construir e organizar seu conhecimento.
Nessas análises o autor apresenta os princípios de sujeito e de subjetividade.
De acordo com a perspectiva Sócio-histórica de Vygostsky, a criança nasce em um universo social e
cultural, sendo este meio o seu meio natural. Ao longo do tempo esse meio é constituído de produções
culturais e de seres humanos, ou seja, um ambiente significativo. Ao descobrir e apropriar-se deste
universo a criança entra no processo de constituição do sujeito. Nesse processo, as características
individuais (genéticas) herdadas pela criança se tornam insuficientes para garantir o seu desenvolvimento
e assim garantir o surgimento das funções superiores, que surgem a partir das reais relações entre os
outros seres humanos. Esta teoria parte da concepção de que todo organismo é ativo, e nesta ação
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
estabelece interação entre as condições sociais, que são condições mutáveis, e a base biológica do
comportamento humano.
Alguns estudiosos indicam que a criança se encontra em uma atividade inteligente mesmo antes do
aparecimento da fala. Isto, para Piaget, significa a capacidade da criança em usar determinados meios
visando determinados fins, por meio de sua coordenação sensório-motora, ou seja, a percepção e os
movimentos realizados pela mesma.
Neste mesmo contexto Vygotsky concebia a origem social da consciência, ressaltando a importância da
linguagem como aspecto constituinte da consciência. Com o aparecimento da linguagem, a criança tem
acesso aos signos (signos linguísticos) dessa forma transforma sua atividade prática, e assim dá origem
às formas humanas de atividade.
Como se daria então a constituição do “eu” de acordo com estas discussões? O “eu” seria construído a
partir da relação com o outro, e neste ínterim, a palavra desempenha a função de contato social. Esta
perspectiva da constituição do “eu” leva ao à relação constitutiva Eu-Outro, de significado complexo,
porém fundamental na constituição do sujeito. O sujeito tem consciência de si (eu) porque tem consciência
dos demais (outro), ele é para si o mesmo que os demais são para ele. O sujeito só pode se reconhecer
quando é outro para si mesmo (MOLON, 1999).
A consciência seria então construída no contato social que o sujeito tem com os outros, mas a consciência
é também, um contato social consigo mesmo. Esse contato consigo mesmo é provado pela capacidade
de o sujeito estabelecer uma fala silenciosa e uma fala interior.
A atividade mental do sujeito é resultante da aprendizagem social, da interiorização da cultura e das
relações sociais. A constituição do sujeito durante seu desenvolvimento ocorre por saltos qualitativos que
ocorrem em três momentos. O primeiro é o salto da filogênese (origem da espécie) para a sociogênese
(origem da sociedade); o segundo é o da sociogênese para a ontogênese (origem do homem); e por fim o
salto da ontogênese para a microgênese (origem do indivíduo único) (VYGOTSKY, 2002).
Essa concepção da atividade mental do sujeito compartilha da concepção marxista de que o essencialmente
humano é constituído por relações sociais, com isso, Vygotsky negou-se a buscar explicações para as
funções mentais superiores nas profundezas do cérebro ou nas características imateriais de uma alma
separada do corpo.
Como o sujeito é constituído a partir das suas relações com o meio, as atividades humanas são
operacionalizadas ao longo do desenvolvimento pelos signos, que funcionam como mecanismos
de comunicação e conexão das funções psicológicas superiores. Uma das formas de estabelecer o
relacionamento com outras pessoas é por meio da linguagem, exemplos de signos submetidos às normas
sociais.
De acordo com Pino (2000), seguindo os postulados de Vygotsky, o signo é um elemento que representa
algo para alguém, tendo como característica a reversibilidade, ou seja, capacidade de representar algo
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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tanto para quem recebe, quanto para quem emite. Mas deve-se ficar claro que não necessariamente isso
coincide, pois os sujeitos em relação atribuem significados diferentes àquilo que vivenciam. A integração
do homem com o meio ocorre mediada pelos sistemas de signos e instrumentos. Ao se apropriar destes
sistemas culturais, o homem transforma a si mesmo, dando origem a formas caracteristicamente humanas
de pensar e agir.
O ser humano não é obra da natureza, nem produto da ação modeladora do meio. Na verdade ele é uma
produção social, em que ele participa na condição de sujeito (VYGOTSKY, 2002). O ser humano é um
animal social, de modo que grande parte da sua aprendizagem ocorre em interações sociais, o aprendizado
ocorre por meio de outras pessoas, pais, irmãos, amigos, professores. A cultura sempre influenciando o
conteúdo e os processos de desenvolvimento cognitivo infantil, visto que este desenvolvimento ocorre
dentro do contexto cultural (GRIGGS, 2009).
Os aspectos da teoria de Vygotsky que se ocupam da análise do sujeito não se limitam ao biológico, mas
considera que o sujeito é constituído e é também constituinte de relações sociais. Ou seja, o homem
apresenta a capacidade de sintetizar o conjunto das relações sociais e as construir.
O ser humano se desenvolve simultaneamente em termos cognitivos, e sociais, como vimos a partir dos
estudos de Vygotsky. Sendo assim, é importante considerar a questão de como desenvolve a moralidade
do sujeito. A teoria mais influente para discutir sobre o raciocínio moral é a de estágios de Kohlberg (19261987), que se baseou nos estudos de Piaget sobre os dilemas morais que envolviam crianças e adultos.
Para explicar melhor os dilemas morais vamos levar em consideração a história mais conhecida de
Kohlberg, um dilema envolvendo Heinz, cuja esposa está morrendo de câncer:
A esposa de Heinz está morrendo de câncer. Havia apenas uma cura para esse câncer. Um
farmacêutico da cidade havia criado um medicamento que o curava, mas cobrava por esse
medicamento muito mais do que ele custava e muito mais do que Heinz poderia pagar. Heinz tentou
tomar dinheiro emprestado para comprá-lo, mas só conseguiu mais ou menos a metade do que o
medicamento custava. Ele implorou ao farmacêutico que lhe vendesse mais barato ou deixasse
pagar o restante depois, mas o farmacêutico recusou. Por puro desespero, Heinz invadiu a loja do
farmacêutico e roubou o remédio para a esposa.
A partir desta história, ele perguntava à pessoa se Heinz deveria ter roubado o medicamento, e por que
sim ou por que não. A partir das respostas e explicações, Kohlberg encontrou três níveis de raciocínio
moral: pré-convencional, convencional e pós-convencional. Cada um destes níveis apresenta ainda dois
estágios.
O nível I, ou a moralidade pré-convencional a ênfase do sujeito está em evitar uma punição e buscar o
próprio bem-estar e necessidades, sendo assim, o raciocínio moral é auto-orientado. No segundo nível, ou
moralidade convencional, a ênfase se baseia em regras e leis sociais, ou seja, ter aprovação social e ser
um cidadão que cumpre as regras passa a ser importante. Já no nível II, ou moralidade pós-convencional,
o raciocínio moral se baseia em princípios éticos universais autoescolhidos, com os direitos humanos
tendo precedência sobre as leis, além da evitação da autocondenação por violar esses princípios.
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
O fato interessante para entender esses níveis de desenvolvimento moral de Kohlberg é que não importava
para ele se o sujeito respondia sim ou não sobre o fato de Heinz ter roubado o medicamento. O importante
era o raciocínio que o sujeito fazia para explicar o dilema. Porém, para Kohlberg, todos na infância
apresentam um raciocínio moral pré-convencional, e conforme vão se desenvolvendo, principalmente do
ponto de vista cognitivo, sobe-se também na escala de raciocínio moral. A sequência é a mesma, porém
nem todos chegam ao último estágio.
O ponto de discussão desta teoria é que Kohlberg estava estudando o raciocínio moral, não o
comportamento moral, ou seja, um discurso ético não pode ser acompanhado por um comportamento
ético. Mais adiante, alguns críticos questionavam a universalidade desta teoria, argumentando que os
estágios superiores apresentavam um viés a favor dos valores ocidentais.
Para terminar, para compreender a constituição do sujeito, é preciso se atentar para as condições sociais,
históricas e econômicas em que este sujeito está inserido. Portanto, as características dos grupos sociais
a que ele pertence são importantíssimas para essa compreensão. Mas isso não basta, é preciso também
se compreender a atividade mediada, pois é por meio dela que o homem transforma o contexto em que
ele está, e apropriando-se de suas significações constitui-se a si mesmo como sujeito.
Fonte: PHOTOS.COM
LINGUAGEM E PENSAMENTO
Só os seres humanos utilizam a palavra para se comunicar. Ninguém nasce falando, porém nossa
capacidade de linguagem começa logo após este fato. Independente da cultura, ou do idioma, as crianças
passam pelas mesmas etapas de desenvolvimento da linguagem. Griggs (2009) descreve algumas destas
etapas na tentativa de explicar como esse desenvolvimento ocorre na criança.
Os bebês não falam, mas de alguma forma se comunicam, e isso se dá pelo choro, seja porque estão
com fome, ou porque estão com dor. Por volta dos 6 ou 7 meses começam os primeiros balbucios, que
são repetições rítmicas de várias sílabas. Ao longo dos próximos meses essas sílabas começam a evoluir
para cada vez mais próximo das palavras da língua nativa da criança.
As primeiras palavras surgem por volta do primeiro ano de vida, sendo estas dirigidas aos cuidadores
e objetos de seu dia a dia. Após um tempo, ocorre a superextensão que é a aplicação de uma palavra
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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recentemente aprendida a objetos que não estão incluídos no seu significado, e também ocorre
a subextensão, que é a incapacidade de aplicar a nova palavra a objetos que estão incluídos no seu
significado.
O próximo passo do desenvolvimento da palavra é a combinação das palavras em frases, e isso ocorre
por volta dos 18 e os 24 meses (fala telegráfica). Dizem frases de duas palavras, constituídas na maioria
das vezes por verbos e substantivos.
A criança não consegue desenvolver uma fala normal sem a exposição à fala humana, por isso os
cuidadores são fundamentais para este processo, sendo que as experiências vividas pela criança
desempenham papel importante na aquisição da linguagem. Por essas e outras, há razões para
se acreditar que tanto a natureza quanto o ambiente fornecem influências interativas no processo de
desenvolvimento da linguagem.
Durante o desenvolvimento infantil, o marco exclusivo do ser humano é a linguagem. Vygotsky (1978)
coloca o uso da linguagem como central em tudo o que o sujeito aprende (BELSKY, 2010). Todo o
processo de desenvolvimento ocorre com as crianças ouvindo a fala de outras pessoas, na maioria das
vezes os pais. A aprendizagem ocorre quando as palavras ouvidas migram para o interior e assim se
tornam a fala dirigida a si mesma.
Linguagem e comunicação estão ligadas, envolvendo manifestações complexas e diversas da
personalidade do ser humano. A comunicação é feita por intermédio dos sinais e símbolos utilizados pela
linguagem, neste caso há sempre um transmissor da mensagem, a mensagem propriamente dita, e um
receptor.
A capacidade de utilizar a linguagem como meio de comunicação avança rapidamente, com as primeiras
palavras as crianças adquirem a capacidade de “querer” conversar com todo mundo. Mas a comunicação
exatamente como se conhece exige da criança uma capacidade de compreensão de sons, ritmo, e a
formação de frases gramaticalmente corretas. Além disso, compreender o significado das palavras é
essencial.
A linguagem tem a capacidade de possibilitar a formação de uma consciência social, pois ela assegura
uma adaptação comum, dos membros da comunidade à realidade exterior, permitindo assim ao indivíduo
atualizar os seus conceitos, formular ideias comuns que irão facilitar a comunicação com outras pessoas
e com o meio ambiente.
Durante seus estudos, Piaget demonstra justamente o que foi dito anteriormente, pois a diferença
encontrada por ele entre o pensamento infantil e o pensamento adulto era mais qualitativa do que
quantitativa (VYGOTSKY, 2000). Por isso, não é a quantidade de fala que a criança apresenta, mas
sim a capacidade de compreensão do que está dizendo que faz com que ela evolua no processo de
desenvolvimento de sua linguagem.
Assim como Griggs (2009), Belsky (2010) apresenta alguns desafios da linguagem que a criança
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
deve superar ao longo do desenvolvimento da linguagem. São cinco tipos de desafios que indicam as
características da fala em cada estágio: fonemas, morfemas, sintaxe, semântica, super-regularização, e
super/subextensão. Vamos às características principais de cada um destes estágios:
- Fonemas: são sons individuais das palavras e a criança tem dificuldade para articular sons, e só
consegue articular fonemas isolados.
- Morfemas: é a menor unidade de significado em um determinado idioma, por exemplo, a palavra meninos
contém dois morfemas: menino e o sufixo do plural “s”.
- Sintaxe: é o sistema de regras gramaticais de um determinado idioma, é um momento em que a criança
comete erros na aplicação de regras gramaticais para formar frases.
- Semântica: mudanças mais surpreendentes, pois é o momento em que se começa a compreender o
significado das palavras, as crianças passam de um vocabulário de três ou quatro palavras quando na
idade de 1 ano para cerca de 10.000 palavras em torno dos 6 anos.
- Super-regularização: os erros mais evidentes nas crianças são a respeito do uso dos plurais nas palavras
e também das noções temporais.
- Super/subextensão: a superextensão ocorre quando as crianças utilizam excessivamente um rótulo
verbal, por exemplo, chamar todos os idosos do sexo masculino de vovô. Já a subextensão se caracteriza
por a criança tornar categorias de substantivos demasiado estreitas, como considerar que apenas o seu
animal de estimação é um cão, os outros cães da vizinhança devem ser chamados de outra forma.
A linguagem funciona como um processo de afirmação do “eu” em relação aos “outros”, sendo este
um dos motivos por se considerar importante o diálogo e a comunicação na humanidade. Sendo a
linguagem como um conjunto de sinais intencionalmente expressivos, ela é considerada um instrumento
de pensamento, de expressão emocional e de interação social (NOVAES, 1978).
Vygostky apresenta em seu livro “Pensamento e Linguagem” alguns aspectos da teoria de William Stern
sobre o desenvolvimento da linguagem. Stern distingue três raízes da fala, a tendência expressiva, a
social e a intencional. As duas primeiras são consideradas a base dos rudimentos de fala que podem ser
observadas entre os animais, porém a terceira é especificamente humana. A intencionalidade seria, neste
contexto, uma meta voltada para um determinado conteúdo ou significado.
Independente da abordagem utilizada para estudar a relação entre pensamento e fala, há a necessidade
de se considerar o estudo da fala interior. A fala egocêntrica descrita por Piaget apresenta a função de
acompanhar a atividade da criança, bem como função de descarga emocional e função planejadora,
transformando-se em pensamento propriamente dito. A fala egocêntrica é a fala interior, é a fala em sua
trajetória para a interiorização, ligada à organização do comportamento da criança. Exemplo que pode
ser expresso quando uma criança de 3 anos diz “Não toque!” enquanto se aproxima do fogão (BELSKY,
2010).
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Fonte: PHOTOS.COM
A interiorização da fala ocorre porque sua função muda. Seu desenvolvimento deveria ter três fases,
de acordo com Vygotsky (2000): fala exterior, fala egocêntrica, fala interior. Vygotsky coloca ainda
que o desenvolvimento da fala segue a mesma direção e obedece às mesmas leis que permeiam o
desenvolvimento das outras operações mentais que envolvem o uso de signos, exemplos dessas
operações mentais são o ato de contar e a memorização mnemônica. São quatro os estágios que podem
ser atribuídos ao desenvolvimento dessas operações, e serão descritos agora.
O primeiro deles é o estágio natural ou primitivo, que corresponde à fala pré-intelectual e ao pensamento
pré-verbal. Em seguida, advém o estágio chamado de psicologia ingênua que surge da experiência da
criança com as propriedades físicas de seu próprio corpo e dos objetos que estão a sua volta, bem como
da aplicação dessa experiência ao uso de instrumentos. O terceiro estágio surge da acumulação gradual
da experiência psicológica ingênua e tem como característica os signos exteriores, ou seja, operações
externas que são auxiliares na solução de problemas internos. Uma característica marcante neste estágio
é a criança contar com o auxílio dos dedos, e no desenvolvimento da fala este estágio se caracteriza pelo
uso da fala egocêntrica.
O quarto e último estágio é chamado de crescimento interior. Ocorre a interiorização das operações externas
e passam por uma profunda mudança no processo. Tem como características a capacidade da criança
em contar mentalmente, operando com relações extrínsecas e signos interiores. No desenvolvimento da
fala este estágio corresponde ao estágio final da fala interior, silenciosa. Em relação à forma, a fala interior
pode se aproximar muito da fala exterior, ou mesmo tornar-se igual a esta, quando serve de preparação
para a fala exterior, por exemplo, quando um palestrante repassa mentalmente a conferência que irá
proferir (VYGOTSKY, 2000).
Ao contrário do que muitos psicólogos pensam, a linguagem interior não é simplesmente uma linguagem
para si. Luria (1987) coloca que no ato intelectual, a tomada de decisão transcorre muito rapidamente, às
vezes em décimos de segundos. Com essa velocidade se torna impossível dizer a si mesmo toda uma
frase e muito menos todo um raciocínio.
Durante o estudo genético do pensamento e da fala, a relação entre ambos apresenta algumas mudanças,
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
não sendo um progresso paralelo. De acordo com Vygotsky (2000, 149), “o pensamento e a palavra não
são ligados por um elo primário. Ao longo da evolução do pensamento e da fala, tem início uma conexão
entre ambos, que depois se modifica e se desenvolve”. Porém, o autor acrescenta que o significado de
uma palavra representa uma relação tão estreita do pensamento e da linguagem, que é difícil dizer se é
um fenômeno da fala ou um fenômeno do pensamento.
O significado das palavras é um fenômeno de pensamento apenas na medida em que o pensamento
ganha corpo por meio da fala, e só é um fenômeno da fala na medida em que esta é ligada ao
pensamento, sendo iluminada por ele. É um fenômeno do pensamento verbal, ou da fala significativa
– uma união da palavra e do pensamento (VYGOTSKY, 2000, p. 151).
A palavra determina e isola um significado, ela envolve organização de pensamento e direção dos
processos mentais para um fim ou propósito estabelecido. Para que a palavra possa funcionar como
um estímulo mental e elaboração do pensamento, ela precisa possuir conteúdo afetivo, ou seja, deve ter
significado (NOVAES, 1978).
Fonte: PHOTOS.COM
A comunicação direta entre duas mentes é impossível, esta comunicação ocorre de forma indireta, ou
seja, primeiro o pensamento deve passar pelos significados e depois pelas palavras. O pensamento é
gerado pela motivação, pelos desejos e pelas necessidades do sujeito. Assim, para compreender a outra
pessoa, não basta apenas entender as palavras que são ditas. Há a necessidade de compreender o seu
pensamento. Mas em algumas situações nem isto é o suficiente, pois pode ser necessário compreender
a motivação desta pessoa.
E os deficientes auditivos? Como fica a relação linguagem X pensamento nestes sujeitos? Os deficientes
auditivos são destituídos de linguagem, e são exemplo de pensamento sem linguagem. Considerando
pessoas que trabalham com arte, criação, essas dizem que em muitos de seus momentos mais inspirados,
pensam com imagens mentais, se não com palavras.
A partir do exposto, e segundo as discussões realizadas principalmente por Vygotsky, é possível considerar
que o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, pelos instrumentos linguísticos do
pensamento e pela experiência social e cultural do sujeito em questão. A compreensão das relações entre
a linguagem e o pensamento é essencial para se entender o processo de desenvolvimento intelectual. A
linguagem não pode ser considerada apenas uma expressão do conhecimento adquirido, a inter-relação
existente entre pensamento e linguagem resulta em proporcionar recursos mútuos. A linguagem tem
função essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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A comunicação é a base de todo progresso e a educação sem ser comunicação deixa de ter sentido, pois
o indivíduo se desenvolve e se atualiza na medida em que se comunica com os outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado aluno, compreender os fatores que influenciam o desenvolvimento e a aprendizagem do ser
humano não é uma tarefa fácil. No entanto, esta primeira unidade teve o objetivo de disponibilizar a você
um pouco do que algumas abordagens teóricas apresentam acerca desses pontos. Além disso, este
tópico é importante para compreender como o contexto influencia no desenvolvimento e na aprendizagem
do sujeito, pois apenas os conteúdos genéticos não são suficientes para explicar como isso ocorre ao
longo do tempo.
O ser humano ao longo de seu desenvolvimento passa também a compreender o significado de sua
existência e o desenvolvimento cognitivo é fundamental neste processo. O desenvolvimento da linguagem
e do pensamento torna possível sua socialização, bem como a compreensão de fatores que ocorrem em
sua vida. Espero que com o conteúdo apresentado você, caro aluno, possa ter compreendido um pouco
mais sobre alguns fatores relacionados ao desenvolvimento humano.
“O homem, com suas nobres qualidades, ainda carrega no corpo a marca indelével de sua origem modesta” –
Charles Darwin.
Pesquisa publicada em 2006 na Revista Psicologia em Estudo que trata de analisar as concepções de desenvolvimento e aprendizagem presentes no trabalho de profissionais de uma escola pública. Pesquisa interessante
que mostra como os conceitos da Teoria Histórico-cultural podem ser aplicados no cotidiano escolar, bem como
a realidade de que há uma coexistência de várias teorias que fundamentam o trabalho dos profissionais entrevistados.
Revista: Psicologia em Estudo.
Título do Artigo: Concepções de desenvolvimento e aprendizagem no trabalho do professor.
Autores: Aline Frollini Lunardelli Lara, Elenita de Ricio Tanamachi, e Jair Lopes Junior.
Referência: LARA, A. F. L.; TANAMACHI, E. R.; LOPES JUNIOR, J. Concepções de desenvolvimento e aprendizagem no trabalho do professor. Psicologia em Estudo, v. 11, n. 3, pp. 473-482, set./dez. 2006.
Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a02.pdf>.
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1- Descreva o que é Psicologia do Desenvolvimento e qual o foco de estudo dos cientistas do desenvolvimento.
2- Existem diversas teorias ou modelos que explicam como ocorre o processo de aprendizagem do ser
humano. No entanto, duas delas são destaque atualmente no trabalho educacional. Apresente quais
são essas teorias, bem como suas principais ideias.
3- Explique como o desenvolvimento da linguagem funciona como um processo de afirmação do “eu” em
relação aos “outros”.
4-No artigo intitulado “Concepções de desenvolvimento e aprendizagem no trabalho do professor”, os
autores apresentam dados referentes à realidade encontrada em uma escola quanto da atuação de
alguns professores. Apresente, baseado nestes resultados, sua opinião acerca da aplicabilidade da
Teoria Histórico-Cultural no ambiente escolar e também na sua prática profissional.
Para aumentar seu conhecimento sobre os principais pontos que envolvem o desenvolvimento humano e a constituição do sujeito, recomendo o livro “Educação e Desenvolvimento Humano” que reúne pesquisadores e suas
principais contribuições acerca do tema. Nesta obra é possível encontrar um conteúdo interessante acerca das
bases psicológicas da pedagogia centrada na criança; as perspectivas pedagógicas sobre o desenvolvimento;
o contexto cultural da educação e do desenvolvimento humano; bem como a linguagem e a cultura da escolarização.
Livro: Educação e Desenvolvimento Humano
Autores: David R. Olson e Nancy Torrance
Editora: Artmed
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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UNIDADE II
DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONCEITOS BÁSICOS E
PRINCIPAIS CONCEPÇÕES
Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira
Objetivos de Aprendizagem
• Examinar os conceitos básicos das abordagens teóricas acerca do Desenvolvimento Humano.
• Analisar os principais conceitos e aplicações da Epistemologia Genética de Jean Piaget.
• Apontar as características da Teoria da Mediação de Lev Vygotsky.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Estudo do desenvolvimento humano: principais teorias
• Desenvolvimento humano sob a perspectiva de Jean Piaget
• Teoria da Mediação de Lev Vygotsky
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
INTRODUÇÃO
Prezado aluno, são muitas as discussões acerca do desenvolvimento humano. Algumas abordagens
teóricas serão apresentadas nesta segunda unidade, na tentativa de lhe proporcionar um conhecimento
básico acerca de cada uma delas. Isso se faz necessário para que fique claro as diferenças e as
semelhanças entre cada uma delas. Em cada uma destas abordagens um autor se destaca como principal
representante, a partir desta referência sua compreensão fica mais nítida acerca do que se trata uma
abordagem ou outra.
Para facilitar a compreensão dessas abordagens, serão apresentadas, nesta unidade, teorias de dois
autores que na atualidade são muito discutidas também no contexto escolar. Uma delas é a Epistemologia
Genética de Jean Piaget, e a outra é a Abordagem Histórico-social de Lev Vygotsky, esta segunda com
destaque para o processo de mediação que deve ser realizado principalmente pelo professor durante o
processo de aprendizagem.
Basicamente, a Epistemologia Genética de Piaget consiste em uma síntese de teorias já existentes, o
apriorismo e o empirismo. A partir disto, considera que o conhecimento é resultado da interação do sujeito
com o meio em que habita, ou seja, este conhecimento depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito
como de sua relação com os objetos externos. Já Vygotsky apresenta conceitos com os signos e os
instrumentos que são construções da mente humana que estabelecem uma relação de mediação entre o
homem e a realidade.
Espero que com estes pontos que serão abordados nesta unidade, você, caro aluno, possa compreender
melhor alguns aspectos acerca do desenvolvimento humano, principalmente os conceitos-chave
presentes nas Teorias de Piaget e Vygotsky. Creio que isto irá levá-lo a uma reflexão acerca de sua prática
profissional, a partir dos referenciais teóricos aqui presentes.
TEORIAS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO
As diversas teorias existentes sobre o desenvolvimento humano se ocupam por explicar como o ser
humano vive de acordo com algumas características específicas que o acompanham ao longo da sua
vida. Muitas delas apresentam um estudo do comportamento humano baseado em estágios, determinando
assim as mudanças que ocorrem em determinadas idades.
A grande discussão que gira em torno das explicações acerca do desenvolvimento humano é justamente
sobre as questões biológicas e as questões do ambiente. Ou seja, é o ambiente que determina o
desenvolvimento do sujeito? Ou são suas características genéticas que moldam as principais características
e traços de personalidade? É o grande ponto, natureza (biologia) versus criação (ambiente) (BELSKY,
2010).
Sobre as teorias mais estudadas acerca do desenvolvimento humano podem-se citar, de acordo com
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Papalia, Olds e Feldman (2006), as Teorias Psicanalíticas, as Teorias Comportamentalistas/Behavioristas,
as Teorias Cognitivas e as Teorias Humanistas.
A perspectiva Psicanalítica é responsável pelo estudo do inconsciente, que seria o responsável pelas
forças que motivam o comportamento humano. Seu principal representante e criador da Psicanálise foi
Sigmund Freud (1856-1939), que tinha o objetivo, por meio da abordagem terapêutica, de fazer o paciente
compreender os conflitos emocionais inconscientes (NASIO, 1995).
Para explicar o desenvolvimento humano a partir dos atributos da Psicanálise, Freud apresenta algumas
fases do seu chamado Desenvolvimento Psicossexual. Acreditava que a personalidade do sujeito era
formada nos primeiros anos de vida, momento em que conflitos inconscientes emergem na vida da
criança. Esses conflitos ocorrem entre seus impulsos biológicos inatos e as exigências da sociedade em
que ele está inserido (GRIGGS, 2009).
São cinco as fases apresentadas pelo autor, fase oral (do nascimento aos 12-18 meses), fase anal
(12-18 meses aos 3 anos), fase fálica (3 a 6 anos), fase de latência (6 anos até puberdade), e a fase
genital (puberdade até fase adulta). Dentre estas, as três primeiras eram consideradas cruciais para o
desenvolvimento da personalidade humana. Cruciais porque neste momento é essencial que a criança
receba gratificações adequadas, pois ao receber pouca ou excessiva gratificação há a possibilidade de
desenvolver uma fixação na fase correspondente. Esta fixação é compreendida como uma interrupção no
desenvolvimento que pode aparecer na personalidade adulta.
A personalidade, segundo Freud, era composta por três instâncias psíquicas, o id, o ego e o superego. A
busca pela satisfação imediata, presente principalmente nos recém-nascidos, ocorre porque nesta fase
o que governa o psíquico do sujeito é o id. Já o ego representa a razão ou o senso comum, e este irá se
desenvolver por volta do primeiro ano de vida, esta razão se ocupa em satisfazer as necessidades do id
desde que sejam aceitáveis para o superego, que se desenvolve aproximadamente aos 5 ou 6 anos. O
grau elevado de exigência do superego pode levar o sujeito a se sentir culpado caso suas demandas não
sejam atendidas. O método psicanalítico de Freud influenciou muito a psicoterapia atual, que ainda segue
seus princípios com propriedade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Como já abordado anteriormente sobre o Behaviorismo, este é o principal representante das Teorias
Comportamentalistas. Skinner, discípulo de Watson, se ocupa do papel de explicar a ação voluntária do
ser humano, desde a formação de suas primeiras palavras até o domínio de matemática superior, por meio
do condicionamento operante. Neste processo, as respostas que são recompensadas (ou reforçadas) são
aprendidas, já as respostas que não são reforçadas tendem a desaparecer ou se extinguir (BAUM, 1999).
Watson desejava uma psicologia objetiva, uma ciência do comportamento que só lidasse com atos
comportamentais que eram possíveis de serem observados, possíveis de serem descritos em termos de
estímulo e resposta. Como trabalhava com animais, queria aplicar suas descobertas também nos seres
humanos.
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
Considerando o reforço como responsável pelas respostas aprendidas, este é um fenômeno
desenvolvimental poderoso para o bem e para o mal. A explicação para isso pode ser encontrada em
qualquer situação da vida cotidiana. Basta observar como uma pessoa age após receber um elogio. Após
o elogio (que neste caso é o reforço) a tendência é de que a pessoa continue com o comportamento que
a levou a receber o elogio.
Porém, pode-se falar ainda em modificação do comportamento, ou terapia comportamental, que é um
exemplo de condicionamento operante utilizado para eliminar um comportamento indesejável ou promover
um comportamento positivo. Esta modificação de comportamento pode ser eficaz quando aplicada em
crianças com necessidades especiais.
O retorno da Psicologia aos aspectos da consciência humana por volta da metade do século XX, caracteriza-se pelo início das discussões sobre a Psicologia Cognitiva, que tem em Jean Piaget (1896-1980) um
de seus representantes mais característicos, por meio de seus estudos acerca do desenvolvimento infantil
em termos de estágios cognitivos (BELSKY, 2010).
A Perspectiva Cognitiva se preocupa com os processos de pensamento e com o comportamento que
reflete tais processos. Com isto se diferencia do comportamentalismo em vários pontos. Um deles é o
fato de que os cognitivistas concentram-se no processo do conhecimento, e não na simples resposta
a estímulos. As respostas, no caso dos cognitivistas, são usadas como fontes para a inferência dos
processos mentais que as acompanham. Outro ponto de diferenciação corresponde ao interesse dos
psicólogos cognitivistas pela forma como a mente estrutura ou organiza a experiência. Por último, de
acordo com a perspectiva cognitiva, o indivíduo organiza ativa e criativamente os estímulos recebidos do
ambiente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo do ser humano inicia com uma capacidade inata
desse de se adaptar ao ambiente. Esse desenvolvimento ocorre por meio de estágios qualitativamente
diferentes, que são: Sensório-motor (do nascimento aos 2 anos); Pré-operatório (2 a 7/8 anos);
Operatório-concreto (8 a 11 anos); e Operatório-formal (11 anos a toda idade adulta). Os aspectos
específicos da teoria Piagetiana serão melhor discutidos em tópicos posteriores.
No final do século XX, os teóricos considerados neopiagetianos começaram a incorporar alguns elementos
da teoria de Piaget à abordagem de processamento de informações. Com isso, concentraram-se em
conceitos, estratégias e habilidades específicas, ou seja, acreditam que as crianças desenvolvem-se
cognitivamente ao se tornarem mais eficientes no processamento de informações.
As teorias humanísticas surgiram por volta de 1960, como resposta à abordagem psicanalítica determinista
e à abordagem psicológica comportamental que eram as principais teorias que fundamentavam as
pesquisas naquela época. Assim, a abordagem humanística se centra nas motivações positivas de nossas
ações e desenvolvimento, especialmente o crescimento pessoal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Os principais pontos desta abordagem são a ênfase na experiência consciente; a crença na integralidade
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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da natureza e da conduta do ser humano; a concentração no livre arbítrio, na espontaneidade; e o estudo
de tudo o que tenha relevância para a condição humana. A partir disto, há uma atenção especial aos
fatores internos na personalidade como sentimentos, valores e esperanças. Os representantes mais
característicos desta abordagem são Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers (1902-1987) (HALL;
CAMPBELL; LINDZEY, 2000).
Maslow se preocupava em compreender as elevadas realizações que os seres humanos são capazes
de alcançar, desencadeando assim em uma teoria da personalidade em que o sujeito se concentra
na motivação para crescer, para se desenvolver e realizar o eu a fim de concretizar de modo pleno
suas capacidades e potencialidades humanas. A partir de seus estudos, identificou uma hierarquia de
necessidades, ou seja, uma ordem das necessidades que motivam o comportamento humano. A partir
desta hierarquia as pessoas só podem empenhar-se para atender necessidades superiores depois que
satisfizerem necessidades básicas (GRIGGS, 2009).
Fonte: <http://novo-mundo.org/opiniao/wth-e-piramide-de-maslow.html>
O ponto de partida é a necessidade mais básica (necessidade fisiológica), que considera a busca pelo
alimento como necessária, apesar dos riscos, para que em seguida se preocupe com o próximo nível de
necessidades, que é a necessidade de segurança. Ao satisfazer a necessidade de segurança o sujeito
fica apto a buscar amor e aceitação (necessidade de afiliação e amor), consequentemente há a busca
pela satisfação da estima e realização, sendo aceito e reconhecido pelo outro. Por fim, o sujeito vai
em busca de autorrealização, que segundo Maslow, as pessoas que conseguem satisfazer esta última
necessidade, possuem alta percepção da realidade, aceitam a si mesmas e aos outros. Além disso,
características como espontaneidade, criatividade e grande capacidade de resolução de problemas estão
presentes nas pessoas que atingem alto grau de autorrealização (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
36
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
Considerando a constante satisfação de necessidades, fica evidente a visão de Maslow baseada no estudo
de pessoas saudáveis. O que não ocorre com Rogers, que formula suas discussões a partir de sujeitos
emocionalmente perturbados. Com isto, seus estudos levaram-no a ser conhecido pela terapia centrada
na pessoa ou terapia centrada no cliente, que se concentra em uma única motivação avassaladora,
semelhante ao conceito de autorrealização de Maslow. No entanto, para Rogers, cada pessoa possui uma
tendência inata para atualizar as capacidades e potenciais do eu.
A responsabilidade da mudança era atribuída à pessoa, característica presente também na psicanálise
ortodoxa, assim, Rogers considera que as pessoas podem alterar consciente e racionalmente seus
pensamentos e comportamentos indesejáveis, tornando-os desejáveis (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Após a apresentação sucinta de algumas teorias que se ocupam por explicar o desenvolvimento humano,
neste momento serão abordadas duas teorias que são as mais utilizadas no contexto escolar para se
trabalhar com os processos de desenvolvimento e aprendizagem do sujeito. Serão apresentados os
principais conceitos e características da Epistemologia Genética de Piaget e da Teoria da Mediação de
Vygotsky.
Neste contexto, a aprendizagem deve ser vista como a atividade de indivíduos ou grupos humanos, que
mediante a incorporação de informações e o desenvolvimento de experiências promovem modificações
na personalidade e na dinâmica do grupo, as quais revertem na transformação daquela realidade, e não
a análise do problema apresentado pela criança como fato isolado ou descontextualizado.
Iremos ver também como o desenvolvimento e a aprendizagem são fatores que dependem tanto de
elementos internos quanto externos ao ser humano. A aprendizagem depende da articulação de fatores
internos e externos ao sujeito (os internos referem-se ao funcionamento do corpo como um instrumento
responsável pelos automatismos, coordenações e articulações); do organismo: a infraestrutura que leva
o indivíduo a registrar, gravar, reconhecer tudo que o cerca por meio dos sistemas sensoriais, permitindo
regular o funcionamento total do desejo; entendido como o que se refere às estruturas inconscientes
representa o motor da aprendizagem e deve ser trabalhada a partir da relação que com ela estabelece;
das estruturas cognitivas, representando aquilo que está na base da inteligência, [...], da dinâmica do
comportamento, que diz respeito à realidade que o cerca. Os fatores externos são aqueles que dependem
das condições do meio que circunda o indivíduo.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
37
EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET
Jean Piaget
Fonte: <http://pt.wikipedia.orgwikiJean_Piaget.jpg>
A teoria genética apresenta sua característica de estudo da aprendizagem de uma forma peculiar, diferente
dos estudos clássicos da aprendizagem. Piaget se envereda pelo campo da psicologia com o objetivo de
estudar as questões epistemológicas, buscando responder as dúvidas acerca do conhecimento humano.
A Epistemologia Genética é definida como uma disciplina que estuda os mecanismos e os processos
mediante os quais o sujeito passa dos estados de menor conhecimento para os estados de conhecimentos
mais avançados (PIAGET, 1979).
Na tentativa de explicar o desenvolvimento intelectual, parte da ideia que atos biológicos são atos
adaptativos ao meio físico na tentativa de manter o equilíbrio. De acordo com este pensamento, o
desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o desenvolvimento biológico.
Segundo Piaget:
A infância é considerada como um período particular do processo de formação do pensamento,
que só se completa na idade adulta. Em sua concepção conhecer é organizar, estruturar e explicar
a realidade a partir daquilo que se vivencia nas experiências com os objetos do conhecimento. No
entanto, experiência não é a mesma coisa que conhecimento, pois a inserção de um objeto de
conhecimento num sistema de relações ocorre por meio da ação do indivíduo sobre o objeto (apud
FONTANA; CRUZ, 1997, p.45).
A inteligência pode ser considerada como o resultado da experiência do indivíduo, é por meio da
experiência que ele simultaneamente incorpora o mundo exterior e o vai transformando, isto é, o indivíduo
transforma-se. De acordo com a teoria piagetiana, a criança passa por mudanças qualitativas desde o
estágio inicial de uma inteligência prática (sensório-motor) até o pensamento formal, lógico dedutivo, que
se inicia a partir da adolescência.
De acordo com seus estudos, Piaget postula que as mudanças que ocorrem com o sujeito entre a primeira
infância e a adolescência, ocorrem por estágios qualitativamente diferentes. Durante a passagem por
esses estágios, há também uma continuidade básica no desenvolvimento cognitivo, o prazer e a busca
pelo aprendizado colaboram para este desenvolvimento. Basicamente, este crescimento mental do ser
humano ocorre por meio de mecanismos de Adaptação que são a Assimilação e a Acomodação.
38
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
A Assimilação é o mecanismo de ajustamento do mundo às capacidades individuais e às estruturas
cognitivas existentes no sujeito; assim ocorre a Acomodação, que corresponde à mudança do pensamento
para que ele se encaixe no mundo em que o sujeito vive (BELSKY, 2010).
Para Wadsworth (1997, p.19), assimilação é um “processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra a um
novo dado perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de comportamento já existentes”. A
criança tenta adaptar esses novos eventos ou estímulos nos esquemas que ela possui naquele momento.
Assim, assimilação é uma parte do processo pelo qual o indivíduo cognitivamente se adapta ao ambiente
e o organiza. Dessa forma, esse processo de ampliação ou modificação de esquemas (assimilação), ele
chama de acomodação, embora estimulado pelo objeto, é também possível graças à atividade do sujeito
para elaboração de novos conhecimentos.
Em outras palavras, a construção do conhecimento só é possível a partir do momento em que ocorrem
ações físicas (ou mentais) sobre objetos que provocam certo desequilíbrio ao ser humano, resultando
assim em Assimilação. No entanto, pode ocorrer ainda Acomodação e Assimilação dessas ações que
produzirão esquemas ou conhecimento. A experiência prática é fundamental nesta Teoria, visto que o
aprendizado do sujeito se dá pelo seu contato e suas ações sobre o mundo. Ou seja, o desenvolvimento
cognitivo pode ser considerado um produto dos esforços das crianças para compreender e atuar sobre
seu mundo (PIAGET, 1974).
As estruturas cognitivas que são modificadas por meio dos processos de Assimilação e Acomodação são
chamadas de esquemas. É por meio desses esquemas que os sujeitos intelectualmente se adaptam e
organizam o meio em que vivem. A utilização desses esquemas ocorre para se processar e identificar a
entrada de estímulos, ou seja, diferenciá-los e generalizá-los.
Exemplo disso é a inteligência, pois ela é assimilação, por permitir o indivíduo incorporar os dados da
experiência. É também acomodação, pois os novos dados incorporados acabam por produzir modificações
no funcionamento cognitivo da pessoa. Ao mesmo tempo em que, por meio do processo de assimilação/
acomodação, o indivíduo adapta-se ao meio (elaborando seu conhecimento sobre ele) e seu próprio
funcionamento cognitivo vai se estruturando, se organizando. Uma das primeiras formas de organização
cognitiva é o esquema.
Estes esquemas são irreversíveis. Portanto, quando o indivíduo executa uma ação no sentido de ida,
não tem consciência de que pode efetivamente executar essa mesma ação no sentido de volta (FARIA,
1995). É por meio dos esquemas de ação que a criança começa a conhecer a realidade, assimilando-a e
atribuindo-lhe significações. Quando pega a mamadeira, ela a relaciona a seu esquema “pegar” e atribui-lhe o sentido de um objeto “que se pega”. Mas a criança também aplica à mamadeira o esquema “sugar”.
Essas assimilações provocam transformações nos esquemas “pegar” e “sugar”, à medida que eles são
acomodados ao objeto mamadeira.
A criança, ao nascer, é dotada de reflexos, que possibilitam ao bebê lidar com o ambiente, e vão sendo
assimilados pela criança. A assimilação provoca uma transformação dos reflexos, que gradativamente
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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vão se diferenciando e se tornando mais complexos e flexíveis, ou seja, ao nascer a criança desencadeia
reflexos como de sucção e o de preensão, logo passando para reflexos mais complexos, onde se dá o
processo de esquemas de ação, tais como: pegar, puxar, sugar, empurrar etc.
O desenvolvimento contínuo dos esquemas se dá no sentido de uma adaptação cada vez mais complexa
e diferenciada da realidade. Para Piaget (apud WADSWORTH, 1997), o processo de desenvolvimento
depende de fatores ligados à maturação da experiência adquirida pela criança em seu contato com o
ambiente, de um processo de autorregulação conhecido por equilibração.
O Equilíbrio é considerado um estado de balanço entre a assimilação e a acomodação. A equilibração
permite que a experiência externa seja incorporada na estrutura interna (esquemas) (WADSWORTH,
1997). Assim, todas as vezes que em nossa relação com o meio surjam conflitos, contradições ou outros
tipos de dificuldade, nossa capacidade de autorregulação ou equilibração entra em ação, no sentido de
superá-los.
A Teoria piagetiana sobre o desenvolvimento da criança apresenta períodos ou estágios definidos,
caracterizados pelo surgimento de novas formas de organização mental. Cada estágio se caracteriza
por uma maneira típica de agir e de pensar, ou seja, a criança passa de um estágio a outro de seu
desenvolvimento cognitivo, quando seus modos de agir e pensar mostram-se insuficientes ou inadequados
para enfrentar os novos problemas que surgem em sua relação com o meio.
São 4 os estágios sequenciais denominados de fases de transição, os quais são intitulados de Sensóriomotor (do nascimento aos 2 anos); Pré-operatório (2 aos 7, 8 anos); Operatório-concreto (8 aos 11
anos); e Operatório-formal (acima de 12 anos). Neste momento, será mostrada uma sucinta apresentação
de cada um desses estágios, de acordo com Coll e Marti (2004).
O estágio Sensório-motor é caracterizado pela construção da primeira estrutura intelectual, pois a partir
dos movimentos reflexos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para que possa assimilar
mentalmente o meio. O contato com a realidade física se dá pela manipulação de objetos, e o final desse
estágio tem como característica o desenvolvimento da linguagem.
Nesta fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos para que gerem
ações prazerosas ou vantajosas. É um período anterior à linguagem, no qual o bebê desenvolve a
percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta.
Do nascimento até os 2 anos de idade, aproximadamente, a criança passa do nível neonatal (marcado
pelo funcionamento dos reflexos inatos) para outro em que ela já é capaz de uma organização perceptiva
e motora dos fenômenos do meio. De início, o corpo da criança reflete o mundo e ainda não se diferencia
dele, ou seja, a criança age sobre o mundo, ela repetidamente chupa o dedo, suga a pontinha da manga
da roupa. São movimentos não intencionais, centralizados no seu próprio corpo, que se repetem sempre.
A consciência da criança se expande lentamente, conforme suas ações se deslocam de seu próprio
corpo para os objetos. A mão agarra, chega o objeto ao corpo, a boca que experimenta, empurra-o para
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
longe de si. Os olhos acompanham os movimentos. Os movimentos ficam mais complexos, mais amplos,
como engatinhar, pôr-se de pé, andar (FONTANA; CRUZ, 1997).
A criança começa a perceber que os objetos, as pessoas, continuam existindo mesmo quando estão
fora do seu campo de visão. Formam-se as primeiras imagens mentais dos objetos ausentes do meio
imediato. São elas que possibilitam o desenvolvimento da função simbólica, a criança reproduz, imita,
representando o jogo de faz de conta. Ela torna-se capaz de imaginar ações ou fatos sem praticá-los
efetivamente.
Na fase Pré-operatória as percepções das crianças são capturadas por sua aparência imediata. Este estágio
é conhecido como estágio da Inteligência Simbólica, pois a função simbólica na criança é responsável
pela capacidade de substituição do objeto por uma representação. As principais características nesta
fase são uma criança egocêntrica, centrada em sim mesma, e que quer explicação para tudo, a chamada
fase dos “por quês”. Grandes avanços mentais ocorrem pela passagem do estágio sensório-motor para
o pré-operatório.
É neste período que ela se torna capaz de tratar os objetos como símbolos de outras coisas. O
desenvolvimento da representação cria as condições para aquisição da linguagem, pois a capacidade de
construir símbolos possibilita aquisição dos significados sociais (das palavras) existentes no contexto em
que ela vive.
Neste momento, a criança deverá reconstruir no plano da representação aquilo que já havia conquistado
no plano de ação prática. Assim, a diferenciação entre o eu e o mundo, que já tinha se completado no
plano de ação, deverá ser elaborada no plano da representação. Para Piaget (apud WADSWORTH, 1997,
p.65):
Nesse estágio, o primeiro passo para a aprendizagem é a passagem da ação para o pensamento,
a internalização da ação, realizar uma ação mentalmente em vez de fisicamente. A representação
de objetos, pela ordem de aparecimento que são a imitação diferida, o jogo simbólico, o desenho,
a imagem mental e a linguagem falada. Distingue fantasia do real podendo dramatizar a fantasia
sem que acredite nela. As crianças deste estágio são egocêntricas, elas não conseguem ter outro
referencial sem serem elas próprias.
Ao final do período pré-operatório, o pensamento da criança começa assumir a forma de operações
concretas. Este estágio é caracterizado pela capacidade das crianças em raciocinar sobre o mundo de
uma forma mais lógica e adulta. É o momento do aparecimento das noções temporais, espaciais, de
velocidade e ordem. Neste momento, a criança já não depende mais da questão imediata, mas sim do
mundo concreto para abstrair.
A criança torna-se capaz de compreender o ponto de vista da outra pessoa e de conceitualizar algumas
relações. Portanto, é nessa fase que são estabelecidas as bases para o pensamento lógico, próprio
do período final do desenvolvimento cognitivo. Esse período tem como marca a aquisição da noção de
reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e habilidade de discriminar os objetos
por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar conceitos de tempo e números.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Essa reversibilidade do pensamento possibilita à criança construir noções de conservação de massa,
volume etc. Assim, por meio das operações, inicialmente só aplicáveis a objetos concretos e presentes no
ambiente, os conhecimentos construídos anteriormente pela criança vão se transformando em conceitos.
O raciocínio do sujeito chega ao seu ápice no estágio Operatório-Formal, pois neste momento há a
capacidade de olhar além da simples aparência dos objetos. Essa capacidade dedutiva pode ser
observada quando alguém conhecido (por exemplo, a mãe) coloca uma máscara, a criança sabe que
ainda continua sendo essa pessoa conhecida por detrás da máscara. O pensamento hipotético ocorre
de forma correta também nos adolescentes que já conseguem realizar tarefas de seriação de forma
apropriada, pois adquiriram a capacidade de colocar objetos em ordem crescente, do menor para o maior.
Para finalizar o pensamento, as estruturas cognitivas do sujeito nesta fase, já alcançaram seu nível mais
elevado de desenvolvimento, tornando-se assim aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de
problemas.
Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do
pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita a experimentação mental. Isso implica entre outras coisas,
relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses.
O adolescente não tem mais necessidade de estar diante dos objetos concretos ou de operar sobre eles
para relacioná-los. Ele transforma os dados da experiência em formulações organizadas e desenvolve
conexões lógicas entre elas, enfim, é capaz de pensar sobre o seu próprio pensamento ficando cada
vez mais consciente das operações mentais que realiza ou que pode ou deve realizar diante dos mais
variados problemas. Na teoria de Piaget, a maioria dos alunos pode ser capaz de usar o pensamento
operacional formal em apenas algumas áreas nas quais eles tenham mais experiência ou interesse.
Por se tratar de estágios sucessivos, cada um deles tem como ponto marcante o aparecimento de uma
etapa de equilíbrio, ou seja, uma etapa de organização das ações e das operações do sujeito, descrita
mediante uma estrutura lógico-matemática. Em cada um desses estágios o equilíbrio só é alcançado após
uma etapa de preparação.
A passagem de um estado de menos conhecimento para um estado de conhecimento mais avançado
encontra explicação nos estudos de Piaget quando se considera a ação educativa. A aprendizagem escolar
não é uma recepção passiva do conhecimento transmitido, mas sim um processo ativo de elaboração,
além disso, o processo de ensino deve favorecer a interação múltipla entre os alunos e os conteúdos que
eles têm de aprender. Com isso, o aluno constrói o conhecimento por meio das ações efetivas ou mentais
que realiza sobre o conteúdo de aprendizagem (COLL; MARTÍ, 2004).
A partir destas discussões há que se considerar que atualmente, os achados da Epistemologia Genética
principalmente sobre o funcionamento intelectual, continuam sendo utilizados como referência dos
enfoques construtivistas em pedagogia e em educação.
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
TEORIA DA MEDIAÇÃO DE VYGOTSKY
Lev Semenovitch Vygotsky
Fonte: <http://pt.wikipedia.orgwikiLev_Vygotsky.jpg>
O interesse de Vygotsky (1896-1934) pela psicologia evolutiva e educação serviu de base para o
desenvolvimento de suas obras que são atualmente referência no ensino de base Construtivista.
Apresenta preocupação com o contexto sociocultural da criança que é considerado fundamental para
o seu desenvolvimento. Não apresenta uma Teoria orientada por etapas como outros estudiosos do
desenvolvimento humano, porém dá ênfase à experiência, principalmente por considerar o sujeito como
ativo no processo de seu desenvolvimento cognitivo (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
É por meio do contexto histórico, social e cultural que este desenvolvimento cognitivo ocorre. As chamadas
atividades cognitivas básicas ocorrem de acordo com sua história social. Assim, as habilidades cognitivas
e as formas de estruturar o pensamento são resultados das atividades praticadas de acordo com os
hábitos sociais da cultura em que o indivíduo está inserido, e não a partir dos fatores congênitos.
Vygotsky (1999) não considera apenas um conceito de desenvolvimento, porém para enfatizar a
diferença entre o desenvolvimento relacionado às leis biológicas (maturação) e o desenvolvimento mental
(aprendizagem realizada no cotidiano) construído da relação eu-contexto social, o autor formula a Zona
de Desenvolvimento Proximal (ZDP).
Vygotsky afirmou que as crianças aprendem a utilizar os instrumentos para pensar proporcionados
pela cultura, por meio de suas interações com parceiros mais habilidosos na zona de desenvolvimento
proximal. [...]. As interações na zona de desenvolvimento proximal permitem que as crianças
participem de atividades que lhes seriam impossíveis de realizar sozinhas, utilizando instrumentos
culturais que devem ser adaptados, eles próprios, a atividades específica em questão (ROGOFF,
2005, p. 51).
A aprendizagem ocorre dentro de uma zona de desenvolvimento proximal, ou seja, há uma diferença
entre o que a criança sabe fazer sozinha e seu nível de desenvolvimento potencial, que é determinado
por meio de resolução de problemas sob orientação adulta ou em colaboração com seus semelhantes
mais capazes (VYGOTSKY, 1999). Em outras palavras, é a diferença entre os níveis de desenvolvimento
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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real e potencial. A partir disto, o ideal seria que os professores trabalhassem de acordo com a zona
de desenvolvimento proximal. Em seguida, quando a criança se tornar mais competente, é chegada a
hora de o professor dar ao aluno um pouco mais de responsabilidade pela direção de uma determinada
atividade de aprendizagem. Diferente de Piaget, que apresenta a ideia de que uma criança ao explorar
o mundo sozinha constrói uma visão de mundo mais adulta, Vygotsky acreditava que as pessoas é que
impulsionavam o crescimento mental.
É na zona de desenvolvimento proximal que a interferência de outros indivíduos é mais transformadora.
Processos já consolidados, por um lado, não necessitam da ação externa para serem desencadeados,
processos ainda nem iniciados, não se beneficiam dessa ação externa. Para a criança que já sabe
amarrar sapatos, por exemplo, o ensino desta habilidade seria completamente sem efeito, já para um
bebê a ação de um adulto que tenta ensiná-lo a amarrar sapatos, é também sem efeitos, pelo fato de que
a habilidade está muito distante do horizonte de desenvolvimento de suas funções psicológicas. Só se
beneficiaria do auxílio na tarefa de amarrar sapatos a criança que ainda não aprendeu bem a fazê-lo, mas
já desencadeou o processo de desenvolvimento dessa habilidade.
O desenvolvimento humano passa, necessariamente pelo outro, portanto, a história de cada uma
das funções psíquicas é uma história social. Por isso poderíamos dizer que é por meio dos outros
que nos tornamos nós mesmos e esta regra se aplica não só ao indivíduo como um todo, mas
também a história de cada função separadamente. Isso também constitui a essência do processo
do desenvolvimento cultural traduzido numa forma puramente lógica. O indivíduo torna-se para si o
que ele é em si pelo que ele manifesta aos outros (VIGOTSKI, 1997, p. 105 apud PINO, 2005, p. 66).
O ser humano torna-se ser humano, de acordo com as explicações de La Taille (1992), a partir de sua
relação com o outro social, assim a cultura passa a fazer parte da natureza humana por um processo
histórico que molda o psicológico do homem, conforme este se desenvolve. Para o autor, as proposições
de Vygotski nos faz entender a natureza dos seres humanos, membros da “espécie biológica que só se
desenvolve no interior de um grupo cultural” (p.24).
A constituição da criança como ser humano é portanto, algo que depende duplamente do Outro:
primeiro, porque a herança genética da espécie lhe vem por meio dele, segundo, porque a
internalização das características culturais da espécie passa, necessariamente por ele, como o
deixa claro a análise de Vigotski (PINO, 2005, p. 154).
As relações sociais dos seres humanos, segundo La Taille (1992), são mediadas por instrumentos e
símbolos desenvolvidos culturalmente pelos próprios homens, e é a linguagem humana o instrumento de
comunicação e síntese do conhecimento, que nos diferencia dos outros animais.
Segundo Pino (2005), Vygotsky atribui ao signo ou à palavra um meio de interação fundamental no processo
de desenvolvimento da criança, visto que a palavra ou o signo veiculam significados historicamente
produzidos, além de serem representações e expressões das ideias dos homens, refletem, ainda, a sua
relação com o outro e com a natureza.
Vigotski sustenta que a união da atividade prática com o signo ou a palavra constitui ‘o grande
momento do desenvolvimento intelectual em que ocorre uma nova reorganização do comportamento
da criança’ (VIGOTSKI, 1994, p. 115 apud PINO, 2005, p. 137).
De acordo com Shaffer (2005), por meio do diálogo que a criança mantém com as pessoas em diferentes
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
ambientes de convívio, a mesma aprende e descobre novos princípios, estimulando assim o crescimento
cognitivo.
O autor denomina este processo de:
aprendizado do pensamento e participação orientada. [...]. A participação orientada é um aprendizado
de pensamento de modo informal, no qual a cognição das crianças é moldada à medida que estas
façam parte, junto com os adultos ou participantes mais habilidosos, das experiências do dia-a-dia
da cultura que estão inseridas (p. 249).
Ainda segundo Shaffer (2005), a linguagem do ponto de vista de Vygotsky, possui papel relevante no
desenvolvimento cognitivo da criança, primeiro por ser uma forma de transmissão de modelos culturais e
segundo por ser uma das “ferramentas mais poderosas de adaptação intelectual em si mesma” (p. 253).
Vygotsky, Luria e Leontiev (1998) explicam que o que determina o desenvolvimento da criança é sua
própria condição de vida, ou seja, “os processos reais desta vida” (p. 63). Assim, pode-se justificar que
a criança se desenvolve a partir das condições do meio, em que está inserida, lhe oferece, por meio de
interações que mantém com o outro por meio do diálogo e a imitação. “Ela assimila o mundo objetivo
como um mundo de objetos humanos reproduzindo ações humanas com eles” (p. 59).
Pesquisadores influenciados pelas ideias de Vygotsky estudam como o contexto cultural influencia
as primeiras interações sociais que podem promover competência cognitiva. No caso, há também a
responsabilidade dos pais em criarem um ambiente doméstico que possa estimular positivamente as
capacidades de processamento de informações dos filhos.
O crescimento cognitivo da criança ocorre como um processo cooperativo. Ela aprende a partir da
interação social, essencial no seu processo de desenvolvimento, as trocas de experiência e conhecimento
vivenciadas constituem uma troca de significados. Nesta perspectiva, o ser humano se constitui enquanto
tal na sua relação com o outro, assim, um conceito importante na teoria é a mediação (pressuposto da
relação eu-outro), que se dá pela possibilidade de interação com signos, símbolos e objetos (VYGOTSKY,
2002).
No caso do professor, este deve ajustar seu nível de ajuda ao nível de desempenho da criança, enquanto
dirige o progresso da aprendizagem para o nível superior da sua zona de desenvolvimento proximal.
Quando é solicitado para a criança a realização de uma tarefa que aparentemente ela não é capaz de
realizar é que se pode observar este processo de mediação. Esta tarefa específica de resolução de
problema está dentro da zona de desenvolvimento proximal da criança, porém sozinha ela não consegue
resolver.
Neste momento, entra o professor como suporte, que irá dividir a tarefa em etapas. Durante o processo de
mediação o professor age como um andaime, que dará indicações à criança de como resolver o problema
por etapas, consequentemente irá dar apoio a cada progresso da criança. Após cumprir a tarefa pode-se
pedir para a criança realizá-la novamente, mas com menos ajuda do que antes. O professor constrói este
andaime de apoio que permite a aprendizagem da criança, assim que ela se torna capaz de realizar a
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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tarefa sozinha, este andaime deixa de ser necessário (GRIGGS, 2009).
Este processo de mediação ocorre pelo uso de instrumentos e signos. Os instrumentos utilizados podem
ser aqueles que apresentam alguma utilidade prática para a realização da tarefa, no caso instrumentos
físicos. Já os signos são elementos que lembram ou simbolizam algo, traz um significado implícito.
Conhecidos também como instrumentos simbólicos têm como exemplo a linguagem, que pode ser
considerado um sistema simbólico fundamental em todos os grupos humanos, elaborado ao longo da
evolução humana (VYGOTSKY, 2002).
O componente contextual da teoria vygotskiana remete-se ao fato de que o desenvolvimento de
crianças de uma determinada cultura ou grupo cultural pode não ser uma norma apropriada para
crianças de outras sociedades ou grupos culturais. Isso faz menção a respeito de que nenhuma teoria
de desenvolvimento humano é universalmente aceita, e nenhuma perspectiva teórica explica todas as
facetas do desenvolvimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro aluno, nesta unidade foram apresentadas as principais abordagens teóricas que discutem o
desenvolvimento humano, cada uma de acordo com sua perspectiva. As discussões das teorias de Piaget
e Vygotsky são as mais utilizadas atualmente no âmbito da Psicologia Educacional para compreender o
desenvolvimento humano sob a ótica de cada um destes autores.
O conhecimento do ser humano é o foco das discussões dos autores apresentados, seja dependente das
estruturas cognitivas e da relação do indivíduo com os objetos que o cercam (Piaget), seja por meio da
mediação de alguém próximo a este sujeito (Vygotsky). Espero que a partir do que foi exposto, você possa
entender melhor como aplicar estes conceitos no seu cotidiano profissional.
“A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente
repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda
meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas
se propõe” – Jean Piaget.
“Através dos outros, nos tornamos nós mesmos” – Lev Vygotsky.
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
Para compreender um pouco mais da relação da Teoria Histórico-cultural com a educação, um estudo é apresentado como uma revisão de alguns trabalhos que objetivavam abordar as interlocuções entre o pensamento
de Paulo Freire e Lev Vygotsky na educação escolar. O principal ponto de reflexão deste trabalho é examinar
algumas articulações entre as ideias de Freire e Vygotsky tais como: linguagem, concepção de conhecimento e
mediação.
Revista: Pro-Posições (Campinas).
Título do Artigo: Freire e Vygotsky: um diálogo com pesquisas e sua contribuição na Educação em Ciências.
Autores: Simoni Tormöhlen Gehlen, Otavio Aloisio Maldaner e Demétrio Delizoicov.
Referência: GEHLEN, S. T.; MALDANER, O. A.; DELIZOICOV, D. Freire e Vygotsky: um diálogo com pesquisas
e sua contribuição na Educação em Ciências. Pro-Posições, Campinas, v. 21, n. 1 (61), pp. 129-148, jan./abr.
2010.
Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/pdf/pp/v21n1/v21n1a09.pdf>.
SOBRE AS PUBLICAÇÕES ACERCA DA TEORIA DE VYGOTSKY
Apresento neste momento um levantamento bibliográfico, ou seja, uma reprodução parcial de um trabalho de
pesquisa realizado por Jefferson Mainardes e publicado em J. B. Martin (org.) “Na perspectiva de L. S. Vygotsky”,
Londrina: Quebra Nozes, 1999, pp. 81-102. A finalidade de incluí-lo aqui é a de oferecer ao leitor uma visão,
mesmo incompleta, de trabalhos produzidos no Brasil em torno das ideias de Vygotsky, o que dá uma leve ideia
da sua penetração nos nossos meios.
Revista: Educação e Sociedade.
Título do Artigo: Publicações brasileiras na perspectiva vygotskiana.
Autores: Jefferson Mainardes (Professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa), e Angel Pino (Faculdade
de Educação, Unicamp).
Referência: MAINARDES, Jefferson; PINO, Angel. Publicações brasileiras na perspectiva vigotskiana. Educ.
Soc., Campinas, v. 21, n. 71, jul. 2000.
Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302000000200012&script=sci_
arttext&tlng=es>.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1- Nesta unidade foram apresentadas 4 abordagens teóricas que são as mais estudadas quando o assunto é desenvolvimento humano. Cite quais são as 4 abordagens e faça uma explanação acerca de
duas delas.
2- Apresente as principais características da Epistemologia Genética de Piaget tendo como foco os mecanismos de adaptação.
3-Explique como o conceito de mediação apresentado por Vygotsky pode ser aplicado atualmente,
quanto ao papel do professor que atua na modalidade de Ensino a Distância.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Para saber um pouco mais sobre o que Jean Piaget fala sobre o conhecimento do ser humano, nada melhor
do que saber como ele discute isso em uma entrevista que é apresentada no site da Associação Brasileira de
Estudos das Inteligências Múltiplas e Emocionais (ABRAE). Este material que se encontra no site da ABRAE
foi cedida pela Universidade de Genebra que tem em seu acervo uma entrevista cedida por Jean Piaget e sua
colaboradora Barbel Inhelder em que os principais assuntos são o conhecimento e a inteligência.
No site da ABRAE as entrevistas estão transcritas com o idioma inglês, e apenas um resumo está traduzido, e
este será apresentado aqui neste livro. No entanto, para ter acesso ao texto integral da tradução, o site indica
enviar um e-mail para [email protected] e solicitar o mesmo.
ENTREVISTA COM JEAN PIAGET E BARBEL INHELDER
(cedido pela Universidade de Genebra-Arquivo Jean Piaget)
Resumo da Entrevista
CONHECIMENTO e INTELIGÊNCIA SEGUNDO PIAGET
Segundo Piaget o desenvolvimento da inteligência é explicada pela relação recíproca com a gênese da inteligência e do conhecimento. Piaget criou um modelo epistemológico com base na interação sujeito-objeto. Pelo
modelo epistemológico o conhecimento não está nem no sujeito, nem no objeto, mas na interação entre ambos.
A formação do conhecimento depende da ação simultânea do sujeito e objeto, um sobre o outro e, portanto é
possível afirmar que o conhecimento se forma enquanto o sujeito e o objeto também vão se formando. A ação
tem a função de estabelecer o equilíbrio rompido entre o sujeito e seu meio ambiente, ou seja, é o elo entre o
indivíduo e o mundo exterior. Este elo envolve o aspecto energético (afetividade) e o estrutural (cognição), portanto, a formação do conhecimento, segundo Piaget, envolve a vida cognitiva que se completam no processo.
Para Piaget existem duas formas de conhecimento:
a. Conhecimento Físico – consiste no sujeito explorando os objetos;
b. Conhecimento lógico-matemático – consiste no sujeito estabelecendo novas relações com os objetos.
INTELIGÊNCIA para Piaget é o processo interacional entre o sujeito e o objeto, ou seja, inteligência é a capacidade do sujeito em adaptar-se à realidade num processo dinâmico no qual o sujeito modifica os objetos e é
modificado por eles.
Sob o ponto de vista da Epistemologia Genética a inteligência é um processo dinâmico que surge no início de
sua gênese, de processos orgânicos e aí inicia sua elaboração que evolui e passa a recorrer a funções cognitivas
como memória, percepção, hábitos que formam os primeiros instrumentos de trocas funcionais. Essas trocas
funcionais passam a integrar operações, ou seja, transformações que engendram pensamento e raciocínio.
Em síntese, inteligência é um processo ativo de interação entre sujeito e objeto, a partir de ações que iniciam no
organismo biológico e chegam à operações reversíveis entre o sujeito e sua relação com os objetos, portanto é
algo construído e em permanente processo de transformação.
Link para acessar a entrevista: <http://www.abrae.com.br/entrevistas/entr_pia.htm>.
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UNIDADE III
BEHAVIORISMO E PSICANÁLISE
Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira
Objetivos de Aprendizagem
• Analisar as contribuições da Teoria Behaviorista de Skinner para o desenvolvimento humano.
• Apresentar os principais conceitos da Teoria Psicanalítica de Freud.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• A Teoria Behaviorista de Skinner
• Principais conceitos da Teoria Psicanalítica de Freud
INTRODUÇÃO
Caro aluno, nesta unidade serão apresentadas a você duas teorias da Psicologia que há muito tempo são
consideradas as principais influenciadoras das questões atuais quanto ao conhecimento do ser humano.
Primeiro as ideias de Skinner acerca de um ponto principal de sua teoria que é o comportamento,
considerado por ele, o objeto de estudo mais adequado da Psicologia. Por meio das investigações feitas
por ele, o comportamento pode ser definido por meio das unidades analíticas estímulo e resposta, que são
também utilizados pela ciência chamada Análise do Comportamento.
Já Freud desenvolve a Psicanálise como um campo clínico e de investigação da psique humana. Sua
contribuição para a Psicologia engloba a compreensão do homem enquanto um sujeito do inconsciente.
A partir deste objetivo, a Psicanálise se torna uma teoria da personalidade humana, e Freud define 5 fases
do desenvolvimento do homem que são importantes para compreender quais as principais características
que o sujeito apresenta em cada uma delas. Além disso, todas as fases que são apresentadas no que
Freud define como Desenvolvimento Psicossexual, contêm zonas erógenas, instâncias de personalidade
e complexos ou conflitos.
A partir do que será apresentado a você, espero que contribua para seu maior conhecimento acerca
do ser humano, bem como compreender que são duas teorias com ideais diferentes, e também com
aplicações diferentes. É claro que não objetivo aqui esgotar os conteúdos das teorias apresentadas, mas
espero que contribua tanto para seu desempenho profissional, quanto para sua evolução enquanto ser
humano.
INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO
O behaviorismo antigo era baseado no realismo, ou seja, defendia que há um comportamento real,
que ocorre no mundo real, e que nossos sentidos nos fornecem apenas dados sensoriais sobre aquele
comportamento real que nunca conhecemos diretamente (BAUM, 1999).
Em 1930 Watson escreveu sobre como o Behaviorismo Radical atuava:
“Dê-me uma dúzia de bebês saudáveis... e eu garanto escolher qualquer um aleatoriamente e treiná-lo
para ser qualquer especialista de minha escolha – médico, advogado, artista, comerciante e, sim, até
mendigo e ladrão”.
O Behaviorismo Radical pode ser considerado como tendo uma visão de mundo comportamental que se
concentra no registro e modificação apenas de comportamentos “objetivos” que são visíveis externamente.
Já na metade do século XX, os trabalhos de Edward Tolman, Edwin Guthrie, Clark Hull e Burrhus
Skinner deram início ao segundo estágio do chamado neocomportamentalismo. Estes trabalhos tinham
como objetivo promover o progresso e a consolidação da abordagem comportamentalista na psicologia
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). O principal representante desta área é Skinner, que com suas obras atraiu
muitos seguidores que se interessavam pelo estudo do comportamento humano.
A TEORIA BEHAVIORISTA DE SKINNER
Nos primórdios do Behaviorismo, Watson afirmava que a psicologia deveria restringir-se aos dados das
ciências naturais, ou seja, àquilo que era passível de ser observado, em outras palavras, o comportamento.
Para isso, utilizava-se de alguns métodos de investigação que eram: 1) Observação; 2) Métodos de Teste;
3) Método de Relato Verbal; 4) Método do Reflexo Condicionado.
1) Método de Observação – Observação por si só, sem necessidade de mais explicações. É a base de
todos os outros métodos.
2) Métodos de Teste – Já eram utilizados, mas Watson colocou que os resultados tivessem o tratamento
de amostras de comportamento, e não medidas de qualidades mentais. Isto porque, para ele, os testes não poderiam medir a inteligência e nem a personalidade de uma pessoa. Mas a única coisa que
os testes poderiam medir eram as respostas dadas pelo sujeito diante de uma situação de estímulo.
3) Método de Relato Verbal - As reações verbais, por serem objetivamente observáveis, são tão significativas para o behaviorismo quanto qualquer outro tipo de reação motora. Método passa a ser limitado
para situações passíveis de verificação, isso ocorreu ao perceber que este método inexato e não
substituía satisfatoriamente outros métodos que eram mais objetivos no processo de observação.
4) Método do Reflexo Condicionado – Mais importante método de investigação, dizendo que o comportamento seria o substituto do estímulo. Esta abordagem proporcionava a Watson um método objetivo
de análise do comportamento, ou seja, a redução do comportamento as suas unidades elementares,
os vínculos estímulo-resposta.
Watson não conseguiu transformar a Psicologia de uma hora para outra, como ele queria. Porém, livros
sobre Watson foram importantes para Skinner levar seu interesse literário pelas pessoas para um interesse
mais científico. Skinner se manteve ativo na ciência até a morte, em seus últimos anos de vida, construiu
no porão de sua casa, a sua própria “caixa de Skinner”.
Nascido em 1904, na Pensilvânia, Skinner é considerado por alguns o mais famoso psicólogo americano
do mundo, e ainda um dos mais importantes psicólogos da história da Psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ,
2009).
Skinner foi um comportamentalista ardente, convencido da importância do método objetivo, do rigor
experimental, da capacidade da experimentação cuidadosa e da ciência indutiva para resolver os
problemas comportamentais mais complexos. A teoria de Skinner foi muitas vezes descrita como uma
teoria de estímulo-resposta, mas ele próprio não aceitava essa denominação, visto que a marca registrada
do condicionamento operante de Skinner é que o controle reside nas consequências do comportamento.
A meta da ciência de Skinner é o controle, a predição e a interpretação do comportamento (HALL;
CAMPBELL; LINDZEY, 2000).
Os princípios de Skinner foram derivados de experimentações precisas, e ele demonstrava mais respeito
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
por dados bem controlados do que qualquer teórico comparável. Em seus estudos de esquemas de
reforço, Skinner apresentou achados que têm uma regularidade e especificidade que rivalizam com os de
qualquer cientista físico. Com foco no estudo de sujeitos individuais, a crença era de que o controle da lei
pode ser visto no comportamento individual. Assim, dizia que a Psicologia deveria centrar-se em eventos
comportamentais simples, antes de tentar entender eventos mais complexos (SCHULTZ; SCHULTZ,
2009).
De acordo com Skinner (2006), o comportamento é o produto de forças que agem sobre o indivíduo, não
de uma escolha pessoal. O interesse pelo comportamento tem origem no seu desejo de manipulá-lo, por
meio do que ele chama de controle (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Devido seu grande interesse
pelo comportamento e pouco interesse pelo que ocorre no interior do organismo, este comportamentalismo
descritivo tem sido chamado de “abordagem do organismo vazio”.
Porém, ao contrário do que muitos pensam, Skinner não propõe que os estados internos do organismo
não existam, apenas postula que eles não podem servir como as causas em uma análise científica do
comportamento. Pois para ele, a melhor maneira de estudar o comportamento é examinar como ele se
relaciona a eventos que já ocorreram, assim seria possível explicar e controlar esse comportamento
puramente pela manipulação do ambiente em que o organismo se comporta (HALL; CAMPBELL; LINDZEY,
2000). Além disso, Skinner não afirmou que o comportamento de um indivíduo é produto unicamente do
ambiente, reconhece que alguns comportamentos podem ter uma base genética.
Durante seus estudos e publicações, um aspecto que merece ser destacado na Teoria de Skinner é a
distinção entre Comportamento Operante e Comportamento Respondente, sendo o foco de Skinner no
comportamento operante, visto que é emitido na ausência de qualquer estímulo motivador.
Descrito nos experimentos de Pavlov, o comportamento respondente é uma resposta comportamental
provocada por um estímulo observável específico. Já o comportamento operante, como já dito, ocorre
sem nenhum estímulo externo observável, sendo a resposta do organismo aparentemente espontânea.
Porém, isso não significa que não exista de fato um estímulo, apenas não se detecta nenhum quando da
ocorrência da resposta (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Quando uma resposta operante é condicionada, é
essencial que o reforço seja apresentado depois da ocorrência da resposta, só dessa maneira a frequência
da resposta irá aumentar. Além disso, o comportamento operante opera no ambiente do organismo, e o
respondente não.
Nos estudos de laboratório de Pavlov, com o cão preso em arreios o comportamento respondente pode
ser observado. O cão preso, não pode fazer mais nada a não ser responder quando o pesquisador lhe
apresenta o estímulo, ele não pode agir por sua própria conta para conseguir o estímulo.
Já o comportamento operante é visível nos experimentos de Skinner com o rato. Quando o rato pressiona
a barra, recebe comida, ele não recebe nenhuma comida enquanto não pressionar a barra, ou seja, com
isso ele opera no ambiente.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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O rato, privado de comida, era colocado na caixa e ficava livre para explorar o ambiente, durante esta
exploração ele acidentalmente pressionava uma alavanca que ativava um mecanismo que liberava
uma pelota de alimento em uma bandeja. O recebimento da comida funcionava como reforço, e após
algumas ocorrências o condicionamento costumava ser rápido. Confirmando assim que a força de um
comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresentação de um reforço adicional
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
No que tange à aprendizagem, Skinner considerava que respostas que são recompensadas, ou seja,
reforçadas, serão aprendidas, ao contrário, respostas que não são reforçadas vão desaparecer. Os reforços
são esquemas que apresentam algumas características. A importância dos vários esquemas é, por um
lado, que eles apresentam correspondência com muitas situações de aprendizagem que interessam ao
investigador ou teórico da personalidade. Por outro lado, eles se relacionam a determinados padrões de
aquisição e extinção das respostas que estão sento aprendidas (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000).
Duas contingências operantes na teoria de Skinner são o Reforço Positivo e o Reforço negativo. No
Reforço positivo há a apresentação de um estímulo agradável após a emissão de um comportamento
tido como desejável. Com isso, aumenta-se a frequência deste comportamento desejável. Já no Reforço
Negativo ocorre a remoção de um evento desagradável após o comportamento desejado, assim como o
primeiro, este tem o objetivo de aumentar a frequência do comportamento, porém não é tão simples de
ser compreendido. Exemplo de como isso ocorre no cotidiano é o caso do doente que toma o remédio.
Se ele tomar o remédio (comportamento) a dor (evento desagradável) irá passar.
Serão descritos agora alguns programas de reforço que demonstram como Skinner desenvolveu seus
conceitos a partir de experimentos com animais.
Em seu experimento com um pombo faminto, se o alimento (que neste caso é o reforço) for apresentado
todas as vezes que ele bicar o disco, o bicar o disco irá ocorrer rapidamente em ocasiões seguintes, este
esquema é chamado de reforço contínuo. Outro tipo de reforço ocorre quando o alimento é apresentado
somente em algumas ocasiões em que o pombo bica o disco. Se esse reforço for contingente a um
intervalo de tempo é chamado de reforço de intervalo, mas se este intervalo for imutável tem-se um
esquema de reforço de intervalo fixo. Skinner investigou ainda o reforço de razão, neste caso o reforço
é apresentado depois de um número determinado de respostas do animal, ou seja, o comportamento do
animal determina a frequência do reforço.
Para que se fique mais compreensível a questão do Reforço na teoria de Skinner serão apresentados
agora os tipos de reforço de forma mais detalhada. Porém, vale ressaltar, que é sempre importante variar
o tipo de reforço, para que se obtenha maior eficácia.
Reforço contínuo – o reforço ocorre toda vez em que o comportamento é emitido. Considerado o melhor
tipo de reforço usado para fortalecer um comportamento quando ele está em seu início. Assim, toda
resposta desejada, ou todo comportamento desejado, é reforçado. É também a forma mais rápida de
estabelecer um novo comportamento. Para resultar em saciação, o reforço contínuo pode ser utilizado
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
em alta frequência.
Reforço de Intervalo – os esquemas de intervalo são contingentes à passagem de tempo entre uma
resposta e outra. Este intervalo pode ser fixo, ou seja, o tempo entre uma resposta e outra é o mesmo,
independentemente da quantidade de respostas dadas. Mas também pode ser variado, neste caso, o
reforço ocorre depois da primeira resposta em um intervalo médio e resulta em resposta em frequência
baixa. A melhor maneira de se manter o comportamento por um longo período de tempo é a utilização do
reforço por intervalo, pois você evita a saciação do organismo, tendo sempre a necessidade de emitir um
comportamento para se obter o reforço desejado.
Entretanto, além das questões de reforço, Skinner (2006) apresenta os chamados estímulos adversativos,
que produzem uma série de condições corporais sentidas ou introspectivamente observadas.
No caso do condicionamento respondente, se um estímulo anteriormente neutro, como uma
campainha, for frequentemente seguido, após um intervalo, de um estímulo noviço, tal como um
choque elétrico, a campainha acaba por suscitar reações, principalmente no sistema nervoso
autônomo, que são sentidas como ansiedade (p. 55).
Neste caso, a campainha se torna um estímulo adversativo condicionado, modificando a probabilidade de
um comportamento positivamente reforçado que esteja em andamento. A ansiedade sentida pela pessoa
não é a responsável pela mudança de comportamento, e sim as contingências adversativas que geram a
condição sentida como ansiedade.
Outro ponto analisado ainda por Skinner (2006) é a punição, muito confundida com o reforço negativo.
O reforço negativo gera um comportamento, já a punição tem como objetivo a extinção de um
comportamento. Quando o sujeito é punido ele continua “inclinado” a comportar-se de forma punível, mas
está sempre tentando evitar a punição, fazendo outra coisa, talvez por teimosia, não faz nada. De acordo
com a frequência, a severidade e o esquema de punição imprimido, pode-se gerar outros aspectos do
comportamento, que são geralmente atribuídos a sentimentos ou traços de caráter.
Quanto à punição também existem dois tipos:
Punição Positiva – neste caso ocorre a apresentação de uma consequência desagradável após a realização
de um comportamento tido como não desejado. Utilizado para a diminuição de um comportamento. Pais
repreendem (punição) seus filhos quando eles fazem birra (comportamento não desejado).
Punição Negativa – neste caso há a retirada de um evento agradável após a realização de um comportamento
que é tido como não desejável. Também utilizado para diminuir a frequência do comportamento. Assistir
televisão é algo que as crianças gostam muito, e isso é um evento agradável, mas caso a criança quebre
o controle da televisão (comportamento não desejável) ela pode receber como castigo ficar uma semana
sem assistir ao seu desenho preferido (retirada do evento agradável).
Segundo os especialistas, a técnica mais eficaz e recomendada para alterar o comportamento é a extinção
e não a punição, visto que a punição pode gerar consequências adversas.
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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Faz-se importante, neste momento, discutir algo sobre a noção de personalidade para Skinner. Ao se
considerar a análise do comportamento por meio da seleção natural, do condicionamento operante
e das contingências sociais, que são os três níveis de seleção pelas consequências, as diferentes
contingências de reforço podem levar a diferentes pessoas, inclusive sob a mesma pele. Ou seja, o nível
de seleção por condicionamento operante permite ao organismo tornar-se pessoa, enquanto repertório de
comportamentos. Concluindo, em uma análise behaviorista radical, não cabe a noção de uma entidade
interna, personificada e implementadora de ações externamente observáveis (SKINNER, 1994).
Ainda sobre personalidade, Skinner (2006) argumentou persuasivamente que ela não é nada além de
uma coleção de padrões de comportamento e que, quando nos perguntamos sobre o desenvolvimento da
personalidade, estamos apenas perguntando sobre o desenvolvimento desses padrões de comportamento.
Acreditava ainda que se possa predizer, controlar e explicar os desenvolvimentos, examinando como o
princípio do reforço funciona para explicar o comportamento atual de um indivíduo como um resultado de
reforço de respostas prévias.
A maioria dos aspectos da personalidade é demonstrada em um contexto social, e o comportamento
social é uma característica muito importante do comportamento humano em geral. Skinner não atribuiu
nenhuma importância especial ao comportamento social como distinto de outros comportamentos, o
comportamento social caracteriza-se apenas pelo fato de envolver uma interação entre duas ou mais
pessoas. Em cada caso o organismo em desenvolvimento interage com o ambiente e, como parte dessa
interação, recebe um feedback que reforça positiva ou negativamente ou pune aquele comportamento.
Para finalizar, o Behaviorismo de Skinner postula que o ponto a ser atacado no ser humano é de fácil
acesso, no caso é o ambiente que deve ser mudado. O homem pode controlar seu próprio destino porque
sabe o que deve ser feito e como ser feito.
TEORIA PSICANALÍTICA DE FREUD – PRINCIPAIS CONCEITOS
Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg na Moravia, filho de Jacob e Amalie Nathansohn
(terceira esposa de Jacob). Seu pai Jacob era um comerciante de lã e antes de se casar com Amalie
já havia se casado outras duas vezes. Em 1865 Freud iniciou sua educação formal no Leopoldstaedter
Realgymnasium (Manchester, Inglaterra) e ingressou na Universidade de Viena para estudar medicina
em 1873. Durante os anos na Universidade Freud foi influenciado pelos pensamentos de vários filósofos
como Schopenhauer cujo conceito de vontade deu forma às ideias de Freud sobre o inconsciente.
Em 1881 qualificou-se como doutor em Medicina e ficou noivo de Martha Bernays. O primeiro trabalho de
Freud como médico ocorreu no Hospital Geral de Viena onde foi apresentado à Psiquiatria. Os estudos
sob a orientação de Jean-Martin Charcot iniciaram-se em 1885 quando Freud ganhou uma bolsa de
estudos que lhe permitiu desenvolver pesquisas no Salpêtrière, em Paris. A influência de Charcot em
Freud foi tanto intelectual, exemplo da hipnose no tratamento da histeria, quanto pessoal, visto que Freud
deu o nome de Jean-Martin ao seu primeiro filho.
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
Ao retornar de Paris Freud especializou-se em doenças do sistema nervoso chegando até o cargo de
diretor da seção de neurologia do Instituto Max Kassowitz para Doenças Infantis. Seu método terapêutico
baseado na hipnose começou a se tornar limitado após alguns estudos e isso voltou sua atenção para um
método que lhe foi apresentado por um médico vienense chamado Josef Breuer, método que consistia
em encorajar os pacientes histéricos a falar livremente sobre as primeiras ocorrências de seus sintomas,
porém os pacientes em geral se recusavam.
Freud desenvolveu esse método e sugeriu que muitas neuroses como fobias e paralisias histéricas tinham
origem em experiências bastante traumáticas, há muito esquecidas. Assim que essas experiências eram
trazidas de volta à consciência e confrontadas de maneira abrangente, as causas subjacentes seriam
removidas e os sintomas desapareceriam.
A Psicanálise e Freud são conhecidos em todo o mundo. Em termos históricos a Psicanálise surge e se
desenvolve em meio às outras abordagens teóricas da psicologia.
Freud foi influenciado, durante seus estudos, por filósofos como Schopenhauer, cujo conceito de vontade
deu forma às ideias de Freud sobre o inconsciente. O método inicial de seu trabalho era baseado na
hipnose, porém, após algum tempo este método começou a ficar limitado, dando lugar ao que se conhece
por associação livre, que consiste em encorajar os pacientes a falar livremente sobre as primeiras
ocorrências de seus sintomas. Mas no início do seu uso, os pacientes histéricos tinham dificuldade e se
recusavam a falar (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000).
Seu contato com o médico Breuer deu origem a este método, porém, esta parceria terminou após a
publicação do texto de Freud “Estudos sobre a Histeria”, o que causou em Breuer um descontentamento,
pois considerava a ênfase no conteúdo sexual das neuroses como excessiva e injustificada. O interesse
pelos assuntos sexuais em Viena, cidade em que viveu a maior parte de sua vida, era visível no cotidiano
e na literatura científica (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
A teoria da Psicanálise teve seu início no final do século XIX. Alguns dos pontos mais importantes desta
teoria são muito utilizados e considerados na atualidade. Conceitos como id, ego, superego, mecanismos
de defesa, conflito edípico são importantes também para diferenciar a teoria psicanalítica das outras
teorias psicodinâmicas da atualidade, as chamadas teorias neofreudianas (GRIGGS, 2009).
A preocupação de Freud pelas forças inconscientes que motivam o comportamento humano colaborou para
desenvolver uma abordagem terapêutica com o objetivo de fazer o paciente compreender seus conflitos
emocionais inconscientes. Isso era feito por meio de perguntas destinadas a evocar lembranças que já
haviam sido esquecidas pelo sujeito. Com isso, Freud concluiu que a origem das perturbações emocionais
está nas experiências traumáticas reprimidas da primeira infância (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
A partir de sua prática profissional, Freud descobriu que utilizando o método de tratamento da Psicanálise
alguns pacientes não apresentavam propensão à associação livre, esses tinham resistência ao tratamento.
Essas resistências indicavam que o paciente em questão havia evocado em seu inconsciente alguma
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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lembrança ou ideia considerada repulsiva, horrível, vergonhosa para ser enfrentada. Esse aspecto poderia
ser considerado uma proteção contra um sofrimento emocional causado pela lembrança de algo ruim.
Mas esta lembrança, que levava à dor, indicava também que a análise estava se aproximando da fonte
real do problema.
Por meio da resistência, Freud formulou o princípio da repressão, processo que indicava ejetar ou excluir
ideias, lembranças ou desejos inaceitáveis da percepção consciente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Mas por que a repressão? Porque era a única explicação para a ocorrência das resistências. Assim, os
pensamentos e as ideias que são consideradas desagradáveis são expulsos da consciência e mantidos
à força fora dela. O papel do terapeuta, neste caso, é fazer com que o paciente traga de volta estes
impulsos para a consciência, e assim poder enfrentá-los e aprender a conviver com eles.
Ao começar seu trabalho com pacientes com transtornos emocionais Freud teve certeza de que o sexo era
uma causa primordial de problemas emocionais. Assim, o sexo, incluindo a sexualidade infantil, tornou-se
um componente essencial da teoria da personalidade de Freud (GRIGGS, 2009).
Para se compreender melhor a Psicanálise de Freud serão abordados agora os três elementos principais
dessa abordagem: 1 – o papel do inconsciente, 2 – as três instâncias psíquicas, id, ego e superego, 3 – a
teoria do desenvolvimento da personalidade que é baseada na sexualidade humana (GRIGGS, 2009).
Fonte: PHOTOS.COM
As tópicas freudianas podem ser descritas neste momento. Tópica seria uma teoria ou um ponto de
vista que supõe uma diferenciação do aparelho psíquico do ser humano em alguns sistemas dotados
de características ou funções diferentes e dispostos em uma ordem, uns em relação a outros. Assim,
é possível caracterizá-lo como lugares psíquicos de que se pode fornecer uma representação figurada
espacialmente. As duas tópicas de Freud são as considerações da primeira abordagem (Inconsciente) e
da segunda (Id, ego e superego).
Sobre o primeiro destes elementos, Freud considerava 3 níveis de consciência do ser humano: o consciente,
o pré-consciente e o inconsciente. Sendo comparado a um iceberg, o consciente seria a pontinha deste,
ou seja, aquilo que fica visível, acima da superfície. A parte do iceberg que fica logo abaixo da superfície é
a mente pré-consciente, neste caso corresponde aquilo que está armazenado na memória do sujeito, não
se tem consciência deste conteúdo, mas podemos acessá-lo. Mas o investimento de Freud foi mesmo nos
achados sobre o inconsciente, é a parte oculta do iceberg, é no inconsciente que segundo Freud, existiam
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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
as motivações essenciais de todas as nossas ações e sentimentos.
Tendo como objetivo trazer à percepção consciente lembranças ou pensamentos reprimidos (que estão no
inconsciente), a Psicanálise supõe que essas lembranças e pensamentos eram a fonte do comportamento
anormal do paciente. Por meio da associação livre, técnica desenvolvida após o abandono da hipnose, as
lembranças do paciente iam invariavelmente à infância, e muitas destas experiências reprimidas que são
recordadas têm relação com questões sexuais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Inconsciente é muitas vezes utilizado para exprimir o conjunto dos conteúdos não presentes no campo
efetivo da consciência. No inconsciente estão os conteúdos recalcados, ou seja, aqueles conteúdos aos
quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente-consciente, isso pela questão do recalque.
As principais características do inconsciente são: conteúdos que representam as pulsões. Esses conteúdos
são controlados por mecanismos como a condensação e o deslocamento. Esses conteúdos são ainda
muito investidos de energia pulsional, procuram sempre retornar à consciência e à ação.
A segunda tópica freudiana corresponde à estrutura da personalidade que para Freud era constituída por
três instâncias psíquicas, id, ego e superego, que correspondem ao segundo elemento da Psicanálise. A
personalidade do sujeito é o produto da interação dinâmica desses três elementos (GRIGGS, 2009). O id é
a personalidade original, é a única das três instâncias presentes no nascimento, pois é dela que emergem
as outras duas. Ele inclui impulsos instintivos biológicos, partes primitivas da personalidade localizadas
no inconsciente. O id contém energia psíquica e tenta a todo o momento satisfazer os impulsos instintivos
de acordo com o princípio do prazer, como se fosse uma criança mimada. Como não podemos sair
por aí satisfazendo todas as nossas necessidades, nossa personalidade se desenvolve na medida que
encontramos maneiras de atender às nossas necessidades dentro de certas limitações sociais (FREUD,
1923). O id constitui o elemento pulsional da personalidade do ser humano, sendo que seus conteúdos
são inconscientes.
Neste ínterim, o ego surge como o mediador entre o id e o mundo exterior, facilitando esta interação.
Ele representa o que se chama por razão ou racionalidade, por isso opera pelo que Freud denominou
princípio da realidade. O ego deriva da força do id, por isso sempre busca sua satisfação desde que seja
encontrada uma forma apropriada para isso (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
O ego se encontra em uma relação de dependência tanto das reivindicações do id (satisfação do prazer)
quanto dos imperativos do superego (exigências da realidade). Como o ego funciona como o gerente da
personalidade, ele precisa ser um mediador não apenas entre os impulsos instintivos do id e da realidade,
mas tem a função também de mediar os impulsos da terceira instância psíquica da personalidade,
o superego, que representa a consciência e os padrões de comportamento que são idealizados em
determinada cultura. O superego também deriva da energia do id, porém se desenvolve durante a infância
e alcança todos os níveis da consciência. Neste caso, o superego age de acordo com o princípio da
moralidade (GRIGGS, 2009).
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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O papel do superego pode ser assimilado ao de um juiz. Muitos autores definem que o superego é herdeiro
do Complexo de Édipo, pois é constituído pela interiorização das exigências e das interdições parentais. O
desenvolvimento do superego ocorre por meio do sistema de recompensas e punições colocadas pelos
pais. Seja para receber a recompensa, seja para evitar a punição, as crianças aprendem a se comportar
de acordo com as normas que são estabelecidas pelos pais.
O conflito do superego com o id é constante, pois o primeiro tenta sempre inibir por completo a satisfação
do segundo. A consequência disso é um conflito interminável no interior da personalidade humana, sendo
que o ego está em uma posição nada confortável, pressionado por todos os lados. Ao mesmo tempo
que precisa adiar os anseios incessantes do id, deve perceber e manipular a realidade para aliviar as
tensões das pulsões do id, mas também precisa lidar com o anseio de perfeição do superego (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009).
Para que o ego não seja esmagado pela ansiedade de mediar a relação entre o id e o superego, ele utiliza
o que Freud denominou de mecanismos de defesa, que são alguns processos que distorcem a realidade
e protegem o sujeito da ansiedade. São muitos os mecanismos de defesa utilizados pelo ego, tais como
a repressão, deslocamento e racionalização (GRIGGS, 2009).
Por fim, o terceiro elemento principal da obra de Freud é a teoria do desenvolvimento da personalidade
que é baseada na sexualidade humana. Freud denominou de estágios psicossexuais do desenvolvimento
da personalidade. Essa teoria se desenvolveu das suas lembranças da própria infância, dos anos de
interação com seus pacientes e dos estudos de casos desses pacientes. Os primeiros anos de vida, que
consistem nos três primeiros estágios, são cruciais para o desenvolvimento da personalidade do sujeito.
Caso a criança receba pouquíssima gratificação de suas necessidades em qualquer uma das etapas
do desenvolvimento, há a possibilidade de desenvolverem a chamada fixação, ou seja, uma interrupção
no desenvolvimento. Ela preferirá permanecer no estágio, em vez de seguir em frente porque suas
necessidades não foram satisfeitas. O mesmo vale para a pessoa que recebe gratificação em excesso
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
No decorrer dos estágios do desenvolvimento psicossexual, as crianças são consideradas autoeróticas,
pois obtêm prazer erótico ou sensual ao estimular as chamadas zonas erógenas do seu corpo, ou ao
serem estimuladas pelos pais. Cada estágio do desenvolvimento tende a se localizar em uma zona
erógena específica. São cinco as fazes do desenvolvimento psicossexual de Freud: 1. Fase oral, 2. Fase
anal, 3. Fase fálica, 4. Fase de latência, e 5. Fase genital (FREUD, 1905).
Na fase oral, que corresponde do nascimento aos 18 meses, as principais zonas erógenas são a boca,
os lábios e a língua, sendo que a criança sente prazer em atividades como morder, sugar ou mastigar.
Caso a satisfação ocorra de forma inadequada, as consequências para essa criança podem ser hábitos
como fumar, mascar chiclete, comer demais e até ser uma pessoa muito falante (GRIGGS, 2009).
Outros comportamentos adultos, como otimismo exagerado, sarcasmo, cinismo, podem ser atribuídos a
incidentes ocorridos no curso do estágio oral de desenvolvimento.
60
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A característica que permite a passagem da primeira para a segunda fase é a mudança também da
zona erógena, que passa da boca para o ânus. A fase anal (18 meses a 3 anos) é o período em que
os esfíncteres são os locais de prazer, no caso, a expulsão das fezes remove o desconforto e produz
um sentimento de alívio para a criança. As principais preocupações desta fase é aprender a usar o
vaso sanitário e o controle dos esfíncteres. As fixações nesta fase dependem de como os pais fazem o
treinamento, podendo levar ao desenvolvimento de duas famosas personalidades adultas, a anal retentiva
e a anal expulsiva, que são resultados de um treinamento esfincteriano severo caracterizado por censura
e castigo por parte dos pais quando a criança fracassa (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000).
O terceiro estágio é o estágio fálico que ocorre dos 3 aos 6 anos, e a zona erógena está localizada nos
genitais, e a consequência é a sensação de prazer vivenciada pelas crianças quando da estimulação
genital. Além de manipular há também muita exibição dos órgãos genitais. Um dos conflitos vividos neste
estágio é o conflito edípico para os meninos. O Complexo de Édipo caracteriza-se pela atração sexual
que o filho sente pela mãe e também o temor do pai que é seu “rival”, que tem a função de castrar. A
superação do Complexo de Édipo ocorre com a identificação do filho com o genitor do mesmo gênero
e substituindo o desejo sexual em relação ao genitor do gênero oposto por afeição. Uma má resolução
deste conflito pode resultar em problemas de relacionamento com o sexo oposto e possivelmente, uma
orientação homossexual. O superego é formado durante este processo de identificação, em que ocorre
o desenvolvimento de um senso de moralidade em que os filhos adquirem um senso de moralidade
adotando as atitudes e os valores dos pais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
O Complexo de Édipo foi constituído por Freud a partir da lenda grega de Sófocles (496-406 a.C.) Édipo
Rei, em que Édipo mata inadvertidamente o pai e se casa com a mãe. Após descobrir que sua esposa era
na verdade sua mãe, Édipo fura os próprios olhos e sua mãe comete suicídio.
Com o passar do tempo, e com a resolução da ansiedade pela identificação com o genitor do mesmo
gênero, as crianças entram na fase de latência (dos 6 anos à puberdade). Essa fase corresponde ao
momento em que não há zona erógena, e os impulsos sexuais se encontram menos ativos, sendo que
o foco é o desenvolvimento cognitivo e social. Com o fim da puberdade, começa o estágio genital, que
se estende por toda a vida. A zona erógena volta para os genitais e com o passar do tempo começam
a ocorrer as relações sexuais, progredindo para os relacionamentos íntimos entre os adultos. Neste
momento, o comportamento heterossexual se torna evidente, ocorrendo a preparação para o casamento
e a formação de uma família (GRIGGS, 2009).
Freud precisou revisar sua teoria algumas vezes, pois novas descobertas não podiam ser explicadas
adequadamente por suas teorias correntes. Muitas críticas também foram recebidas ao longo de seu
desenvolvimento e aplicação, sendo atacada de todos os lados e por todos os motivos concebíveis,
principalmente em relação à atribuição de desejos sensuais e destrutivos aos bebês, impulsos incestuosos
e pervertidos a todos os seres humanos, além das explicações do comportamento humano em termos da
motivação sexual (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000).
Algumas críticas são dirigidas a Freud e à Psicanálise, mas algumas dessas críticas surgem de pessoas
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância
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que não são ligadas à Psicologia. Uma dessas críticas se dava pelo método de coleta de informações,
enquanto os psicólogos experimentais coletavam dados objetivos em condições controladas de
observação, Freud coletou seus dados de forma não sistemática e não controlada. Alguns dos dados se
perdiam ao longo do tempo, pois suas anotações eram feitas horas após o atendimento do paciente, ou
seja, os dados consistiam apenas naquilo que Freud lembrava.
Outra crítica se dá a respeito das diferenças entre as anotações de Freud e as histórias dos casos que ele
publicava com base nessas anotações. Entre as diferenças encontradas por alguns estudiosos estão o
alongamento do tempo de análise, inversão da sequência dos fatos, e até a afirmação não fundamentada
de que o paciente estava curado. Não que essas descobertas sejam realmente verdadeiras, pois Freud
destruiu a maioria dos arquivos de seus pacientes.
Freud pode não ter sido um cientista rigoroso ou um teórico de primeira linha, mas ele foi um observador
paciente, meticuloso e penetrante, e um pensador tenaz, disciplinado, corajoso e original. Freud morreu
em Londres no dia 23 de setembro de 1939. Há que se considerar que Freud começou a desenvolver
sua teoria há mais de 100 anos, em que o estado da pesquisa psicológica era diferente da atual, fato que
às vezes a torna insatisfatória atualmente. Porém, é preciso reconhecer que ele criou esta teoria a partir
de uma base de conhecimento muito limitada, e que ela ainda hoje influencia o pensamento do homem
(GRIGGS, 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Skinner e Freud são dois estudiosos da Psicologia com propostas distintas da análise do ser humano.
Enquanto o primeiro foca todas as atenções ao comportamento do homem, o segundo se interessa por
saber o que se passa na cabeça do ser humano, por meio de técnicas que possam acessar conteúdos
que estão latentes, ou seja, estão no inconsciente da pessoa.
A importância de se estudar teorias que apresentam ideias e forma de atuação distintas é devido ao fato
de que com isso você possa pensar mais sobre como o ser humano se desenvolve sob a ótica de cada
uma delas. Essas duas teorias apresentadas existem há muitos anos, por isso, a intenção aqui foi de
apenas discutir alguns pontos que são considerados os principais de cada uma delas.
“A educação é aquilo que sobrevive depois que tudo o que aprendemos foi esquecido” – B. F. Skinner.
“Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos” – Sigmund Freud.
62
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Para compreender melhor a visão de Skinner sobre o condicionamento operante:
<http://www.youtube.com/watch?v=iPZdg1S1nL8&feature=player_embedded#!>.
<http://www.youtube.com/watch?v=9XumLBjBCaQ&feature=player_embedded>.
<http://www.youtube.com/watch?v=uT6frsnW3NM&feature=player_embedded>.
Livros e filme relacionado à Psicanálise.
Para começar a entender psicanálise não é preciso enfrentar textos tortuosos. O próprio Freud tem
uma das mais claras e concisas introduções ao tema: “Resumo da Psicanálise”, de 1924, publicado
pela Companhia das Letras em volume que traz também sua autobiografia. Outra ótima introdução à
psicanálise é o filme de 1962 “Freud Além da Alma”, de John Huston, com Montgomery Clift no papel de
Freud.
Filme: Freud Além da Alma
Diretor John Huston
Distribuidora: Versátil
Sinopse: biografia romanceada do pai da psicanálise, mostrando seus casos mais célebres e seu envolvimento
com os pacientes.
A história da elaboração da teoria psicanalítica, que procura explicar nossa constituição psíquica. Reconstrói a
vivência e as descobertas de seu criador, Sigmund Freud, em Paris e na cidade de Viena, entre os anos de 1885
e 1890.
Livro: Freud, Além da Alma - Roteiro para um Filme
Autor: Jean-Paul Sartre
Editora: Nova Fronteira
Descrição: em 1958, o cineasta americano John Huston - já familiarizado com a obra de Sartre após montar
Entre quatro paredes -, convida o autor a escrever o roteiro de um longa-metragem sobre os anos de formação
do pai da psicanálise. Desse convite nasce Freud, além de alma, uma apaixonada biografia que traça a trajetória
dos primeiros contatos de Freud com tratamentos neurológicos até o início do desenvolvimento da teoria psicanalítica. O livro, que reúne ainda o segundo tratamento dado ao texto, além de uma sinopse e um quadro comparativo, é o único documento que registra o trabalho de Sartre sobre Freud, uma vez que, após tantas mudanças
no roteiro, Sartre não permitiu que seu nome constasse nos créditos do filme.
Livro: Folha Explica Freud
Autor: Luiz Tenório Oliveira Lima
Editora: Publifolha
Descrição: o livro conta a vida e a obra do psicanalista austríaco e traz conceitos fundamentais para o entendimento da psicanálise tais como “inconsciente”, “narcisismo” e “complexo de Édipo”. O livro também descreve o
trabalho de Freud com Charcot, médico francês que usava hipnotismo para tratar pacientes de histeria, e como
a partir de suas pesquisas descobriu o inconsciente e tentou desvendar seu funcionamento.
Em linguagem clara e acessível, o título também mostra como Freud chegou à ideia de mal-estar da civilização
após observar a Primeira Guerra e discute a evolução da psicanálise a partir dos discípulos de Freud. O volume é
escrito por Luiz Tenório Oliveira Lima, psicanalista e professor do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise
de São Paulo.
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Livro: Freud - A Conquista do Proibido
Autor: Renato Mezan
Editora: Ateliê Editorial
Descrição: livro introdutório ao estudo de Freud. Foi escrito originalmente em 1982 para a coleção Encanto
Radical da editora Brasiliense. Nesta edição aparece atualizado, com novas indicações para leitura.
Livro: O Eu e o Id, Autobiografia e Outros Textos
Autor: Sigmund Freud
Editora: Companhia das Letras
Descrição: O Eu e o Id, “Autobiografia” e Outros Textos (1923 - 1925): Obras Completas: Volume 16.
O volume 16 contém os textos publicados por Freud entre 1923 e 1925, dos quais se destaca O Eu e o Id, um de
seus principais trabalhos teóricos, no qual faz a mais detalhada exposição da estrutura e do funcionamento da
psique, lançando a hipótese de que ela se dividiria em três partes: Id, Eu (ou “ego”) e Supereu (ou “superego”).
O segundo texto, “Autobiografia”, contém, na verdade, poucas informações pessoais. É um relato do desenvolvimento intelectual do autor e de suas contribuições para o surgimento e a elaboração da psicanálise.
Ensaios de menor extensão incluídos no volume, mas bastante influentes, são, entre outros, “A Dissolução do
Complexo de Édipo” e “A Negação”.
Livro: Freud - Uma Vida para o Nosso Tempo
Autor: Peter Gay
Editora: Companhia das Letras
Descrição: este livro é uma viagem pelo mundo de Sigmund Freud: sua família, suas relações, a cidade onde
viveu, sua formação, suas dificuldades profissionais, suas inovações teóricas, seus casos clínicos, sua vida
extraordinariamente produtiva e o contexto social e histórico em que ela foi vivida. Nenhum outro biógrafo conseguiu relacionar as concepções de Freud à sua vida com tamanha perspicácia.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
1- Explique como a Teoria Behaviorista de Skinner colabora com o processo de aprendizagem do sujeito.
2- Apresente a diferença entre comportamento respondente e comportamento operante.
3- Descreva, de acordo com a Teoria Psicanalítica, como se dá o desenvolvimento da personalidade do
sujeito ao longo das fases do desenvolvimento psicossexual propostas por Freud.
Como complemento para compreender a ação docente sob a perspectiva de um dos autores apresentados
nesta unidade, é necessário que se aprofunde em uma das teorias e além de conhecer, possa colocar em prática alguns dos pontos mais importantes de tal teoria. Neste caso, uma pesquisa publicada em 2008 traz como
objetivo a reflexão sobre a tarefa docente tendo como foco as vicissitudes a que a relação docente-discente está
submetida e que podem tirar o foco de alunos e professores. Interessante discussão acerca da aplicabilidade da
Psicanálise do sistema educacional.
Revista: Educação e Pesquisa.
Título do Artigo: Sala de aula e teceduras subjetivas.
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Autores: Vera Lúcia Blum.
Referência: BLUM, V. L. Sala de aula e teceduras subjetivas. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.34, n.3, pp.
545-556, set./dez. 2008.
Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v34n3/v34n3a09.pdf>.
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65
CONCLUSÃO
Para concluir este trabalho, é necessário relembrar alguns aspectos que foram trabalhados neste livro e
que servem de base para a disciplina de Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento. Basicamente
as unidades tratavam de questões voltadas para o desenvolvimento humano, que tinham relação com o
processo de aprendizagem.
Na unidade I foram apresentadas algumas teorias que se propõem a avaliar as questões humanas e também
como a aprendizagem ocorre no indivíduo, a partir de conceitos básicos. O processo de constituição do
sujeito a partir da linguagem e do pensamento também são pontos importantes que deixam claro como o
sujeito se relaciona com os outros e consigo mesmo.
Já na unidade II, o primeiro ponto foi discutir as principais características de algumas teorias que abordam
a questão do desenvolvimento humano, cada uma dentro de suas especificidades. A ênfase maior foi dada
à Epistemologia Genética de Piaget e também à Teoria da Mediação de Vygotsky que são importantes
para a compreensão de como o sujeito adquire conhecimento.
E por fim a unidade III, que tem como principal conteúdo a Teoria Behaviorista de Skinner e a Teoria
Psicanalítica de Freud. São duas abordagens que trabalham a compreensão do ser humano de formas
distintas, a primeira considera o comportamento como carro-chefe de discussão, enquanto a segunda se
volta para as questões que ocorrem internamente no sujeito, ou seja, a constante busca pelos conteúdos
do inconsciente, como sendo responsáveis pelo comportamento humano.
Com isso chegamos ao fim de mais uma disciplina, espero que este material, junto com suas
discussões possam ter colaborado com o seu conhecimento acerca de alguns aspectos que envolvem o
desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano.
Muito sucesso!!
Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira
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