Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA MARINGÁ-PR 2011 Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenação de Polos: Diego Figueiredo Dias Coordenação Comercial: Helder Machado Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação de Curso: Rachel Maya Brotherhood Coordenação Administrativa de Curso: Márcia Maria Previato de Souza Assessora Pedagógica: Fabiane Carniel Coordenação de Produção de Materiais: Ionah Beatriz Beraldo Mateus Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Luiz Fernando Rokubuiti e Renata Sguissardi Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Janaína Bicudo Kikuchi e Jaquelina Kutsunugui Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Psicologia da aprendizagem e do desenvolvimento/ Leonardo Pestillo de Oliveira - Maringá - PR, 2011. 68 p. “Curso de Pós-Graduação Educação a Distância - EaD”. 1. Psicologia da aprendizagem. 2. Desenvolvimento huma no. 3.Behaviorismo. 4. EaD. I.Título. CDD - 22 ed. 158.2 CIP - NBR 12899 - AACR/2 “As imagens utilizadas nessa apostila foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira 4 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância APRESENTAÇÃO Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Professor Wilson de Matos Silva Reitor PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 5 Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido. Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento. Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de forma colaborativa. Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária. Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem! Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR 6 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância APRESENTAÇÃO Livro: PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira Olá, prezado aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento. Esta disciplina se torna importante para sua formação, pois aborda temas relevantes para a compreensão de como os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano ocorrem, e principalmente como isso pode ser observado e aplicado no âmbito educacional. O conteúdo desta disciplina foi selecionado com o intuito de levar você a refletir sobre sua prática profissional e assim poder compreender melhor como agir para contribuir com o aprendizado do aluno. Nossa ação no mundo sempre traz mudanças, e mesmo sendo um profissional do Ensino a Distância a influência é direta quando a mediação ocorre. Eu sou o professor Leonardo Pestillo de Oliveira, e meu objetivo é levar até você um referencial teórico que explique como ocorre a aprendizagem e o desenvolvimento humano. Com isso, vamos analisar juntos alguns dos principais referenciais teóricos acerca do tema, para que assim sua atuação profissional seja de qualidade, mesmo porque os aspectos psicológicos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem são fundamentais para uma boa absorção do conteúdo estudado. Este livro é composto por 3 Unidades que correspondem aos temas da nossa disciplina. Portanto, será necessário que você se empenhe em ler o conteúdo e durante este processo seja capaz de identificar os pontos principais de cada uma destas Unidades. Além disso, todo tema aqui trabalhado merece ser pesquisado em outros meios possíveis, pois somente um livro não é suficiente para esgotar todo o conteúdo. Por fim, minha tentativa aqui é levá-lo a se questionar sobre como sua prática profissional pode também colaborar com a aprendizagem do aluno, e como essa aprendizagem ocorre em cada uma das fases do desenvolvimento humano. Então, para iniciar nosso trabalho gostaria que você pensasse sobre a seguinte pergunta: como os conceitos principais da Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento podem colaborar para a minha atuação profissional, para que eu possa oferecer um serviço de qualidade aos que dependem da minha mediação? PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 7 SUMÁRIO UNIDADE I PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM..................................14 A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO............................................................................................................ 20 LINGUAGEM E PENSAMENTO.............................................................................................................. 23 UNIDADE II DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONCEITOS BÁSICOS E PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEORIAS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO.............................................................................. 33 EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET............................................................................................ 38 TEORIA DA MEDIAÇÃO DE VYGOTSKY............................................................................................... 43 UNIDADE III BEHAVIORISMO E PSICANÁLISE INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO.......................................................................................................51 A TEORIA BEHAVIORISTA DE SKINNER.............................................................................................. 52 TEORIA PSICANALÍTICA DE FREUD – PRINCIPAIS CONCEITOS...................................................... 56 CONCLUSÃO.......................................................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 67 UNIDADE I PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira Objetivos de Aprendizagem • Analisar as principais concepções teóricas acerca da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano. • Compreender os aspectos da constituição do sujeito e da subjetividade humana. • Examinar a influência da linguagem e do pensamento do sujeito no processo de aprendizagem. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Aspectos Evolutivos do Desenvolvimento Humano • Teorias da Aprendizagem • Aspectos Evolutivos da constituição do sujeito • Desenvolvimento da Linguagem e do pensamento do ser humano 12 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância INTRODUÇÃO Caro aluno, a Psicologia do Desenvolvimento é a área da Psicologia que se ocupa do estudo das mudanças que ocorrem com o ser humano ao longo de sua vida. Sabe-se que as mudanças na vida do ser humano ocorrem desde sua concepção até o final de sua vida, essas mudanças ocorrem em vários aspectos, tais como cognitivo, físico, afetivo. Além disso, esses aspectos são determinados geneticamente e também sofrem influência direta do contexto social em que o indivíduo está inserido. Nesta primeira unidade, você terá acesso a algumas das principais abordagens teóricas acerca do desenvolvimento humano. O estudo do desenvolvimento humano tem seu início com as publicações de Darwin acerca das suas discussões sobre a evolução da humanidade por meio da seleção natural, dando suporte para estudos posteriores. Mesmo que no início os estudos consideravam apenas o desenvolvimento infantil. Atualmente, temos muitas discussões sobre quais as mudanças que ocorrem na vida do ser humano ao longo de seu desenvolvimento até o fim de sua vida. O homem está sempre em desenvolvimento, e é importante para profissionais que lidam com os aspectos educacionais terem conhecimento sobre quais as mudanças que ocorrem no decorrer da vida do homem, bem como algumas características que permanecem estáveis. Ao longo do desenvolvimento, o sujeito lida com questões que remetem à aprendizagem, que depende tanto de aspectos do indivíduo, ou seja, os fatores biológicos determinados geneticamente, bem como dos fatores do contexto em que ele está inserido. Neste aspecto, também serão abordadas algumas teorias que procuram explicar o processo de aprendizagem dos indivíduos. Com o desenvolvimento do sujeito, este cria elementos que lhe permitem absorver conhecimento, e com isso a aprendizagem ocorre de maneira mais satisfatória. Ao absorver conhecimento sobre elementos científicos que lhes são ensinados, há o conhecimento de si próprio e este autoconhecimento é essencial para a constituição do sujeito. A subjetividade humana permite ao sujeito se reconhecer como alguém no mundo e refletir sobre seu papel como um sujeito ativo no contexto em que vive. A influência do contexto encontra suporte na teoria Sócio-histórica de Vygotsky que apresenta os aspectos do desenvolvimento e da aprendizagem do sujeito influenciados pelas características do ambiente, bem como da ação do sujeito sobre esse ambiente, como um sujeito ativo. Considerando todos estes pontos, o desenvolvimento humano, sua aprendizagem bem como sua ação sobre o ambiente em que vive, o ser humano possui ainda uma característica que é exclusivamente humana e a diferencia dos demais animais. Essa característica é a linguagem, principal canal de comunicação entre as pessoas e que tem papel importante no processo de aprendizagem, visto que a linguagem tem relação direta com o pensamento e o desenvolvimento cognitivo. Além disso, o desenvolvimento da linguagem fornece subsídios para a formação do pensamento e do caráter do ser humano, enquanto ser social. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 13 Fonte: PHOTOS.COM PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM O Campo do Desenvolvimento e da Aprendizagem é vasto quando se tenta compreender os aspectos que envolvem a vida do ser humano. No entanto, alguns autores se dispuseram a estudar esses aspectos e assim instituir maneiras específicas de se trabalhar com as crianças de uma forma que se possa colaborar com o seu desenvolvimento típico, bem como garantir uma aprendizagem satisfatória ao longo de sua vida nos aspectos escolares. O desenvolvimento humano ocorre desde os primórdios da humanidade, mas o aspecto científico do homem só passou a ser estudado por volta do século XIX. Em 1877, Charles Darwin publica um artigo baseado em algumas anotações que fez de seu filho durante os primeiros anos de sua vida, iniciando assim os estudos científicos sobre o desenvolvimento humano. A partir disto, os autores se ocupam em compreender o homem mediante o “estudo científico de como as pessoas mudam, bem como das características que permanecem razoavelmente estáveis durante toda a vida” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p. 47). No início dos estudos sobre o desenvolvimento humano, os responsáveis por esta tarefa consideravam que o desenvolvimento ocorria apenas na fase da infância. Atualmente, a maioria dos cientistas do desenvolvimento reconhece e estuda o desenvolvimento ao longo da vida do sujeito, tendo seu fim apenas com o final da vida do mesmo. É o que se conhece pelo desenvolvimento do ciclo da vida, pois não basta apenas entender como se dá este desenvolvimento durante a infância, mas também como ele continua a ocorrer durante a fase adulta e atualmente, o estudo científico do envelhecimento faz parte deste campo vasto que busca a compreensão cada vez mais detalhada da vida do ser humano. Em todos os campos de estudo sobre o ser humano, há que se considerar as diferenças de pensamentos e abordagens que tentam cada um de sua maneira explicar tais fenômenos. No campo do desenvolvimento, a história se encarrega de mostrar como as discussões evoluíram ao longo do tempo. Mas o que intriga a todos é a relação entre os aspectos individuais do sujeito versus os aspectos do ambiente. O que influencia mais no desenvolvimento humano? Seria suas características individuais, sua personalidade, seus aspectos biológicos? Ou seria os aspectos do ambiente, o contexto em que este sujeito vive que teria 14 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância maior poder de influência sobre sua vida? Mas chegar a uma conclusão não é simples, por isso as diversas abordagens teóricas existem atualmente para que cada uma possa contribuir a sua maneira para a compreensão do desenvolvimento humano. O que há de consenso entre estas abordagens são as etapas em que o desenvolvimento ocorre, cada uma com suas nomenclaturas específicas, porém indicando basicamente as mesmas fases do ciclo vital. Fonte: PHOTOS.COM Griggs (2009) apresenta um conjunto de estágios que considera ser bastante usado principalmente por psicólogos desenvolvimentistas, cada um desses estágios seria constituído por diferentes mudanças biológicas, cognitivas e sociais. Estas fases seriam: Pré-natal (da concepção ao nascimento); Primeira infância (do nascimento aos 2 anos); Infância (2 aos 12 anos); Adolescência (12 aos 18 anos); Idade adulta jovem (18 aos 40 anos); Idade adulta média (40 aos 65 anos); e Idade adulta tardia (acima de 65 anos). Vale ressaltar que essas idades são apenas idades médias, significando que cada pessoa irá passar por essas fases de desenvolvimento em idades específicas para a sua realidade. Ou seja, essa seria a ordem de desenvolvimento que ocorre com todas as pessoas, a direção é a mesma para todos, o que muda é o tempo de mudança de uma fase para outra. Cada indivíduo irá ter seu tempo de desenvolvimento, uns mais rápidos, outros nem tanto. O período pré-natal e a primeira infância é a fase da vida do ser humano que vai desde a concepção até os 2 anos de idade. Essa é uma fase em que as mudanças ocorrem não só para o feto, e em seguida a criança, mas há uma mudança na vida de todos os envolvidos no fato. O desenvolvimento pré-natal se divide em três estágios: germinal, embrionário e fetal. Após a concepção, tanto fatores ambientais quanto genéticos irão influenciar o desenvolvimento. Mas como o ambiente influencia o desenvolvimento? Por meio do ambiente da mãe, ou seja, tudo o que a mãe faz pode influenciar de alguma forma o desenvolvimento do feto. O uso de bebidas alcoólicas, drogas e todos os comportamentos chamados comportamentos de risco podem de alguma forma prejudicar o desenvolvimento sadio da criança. Os principais riscos que uma criança corre neste caso são, entre outros, o retardamento mental e anormalidades faciais (GRIGGS, 2009). A idade da mãe também é um fator a ser considerado no caso de uma gravidez. Existem alguns problemas relacionados à idade da mãe. Uma gravidez antes dos 15 anos, ou acima dos 40 anos pode levar a uma prematuridade, baixo peso. A prematuridade pode ocasionar em problemas pulmonares da criança, PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 15 pois os pulmões não se desenvolvem adequadamente, além de uma prematuridade também no sistema digestivo e imunológico. Logo ao nascerem, as crianças apresentam apenas movimentos reflexos, ou seja, os chamados automatismos primários, em que não há controle sobre os movimentos. Alguns destes movimentos têm características que garantem a sobrevivência da criança, tais como a sucção e a respiração, que são respostas não aprendidas, mas são indispensáveis. Os demais movimentos reflexos tendem a desaparecer em poucos meses de vida. Durante a infância a criança aprende a controlar os movimentos, aprende a sentar, a engatinhar e enfim a andar. O desenvolvimento sensorial/perceptual depende do desenvolvimento do cérebro. Se as trajetórias visuais não se desenvolvem no período de bebê, a visão fica permanentemente perdida. As redes neurais que são utilizadas ficam mais fortes, já as que não são utilizadas são eliminadas. As mudanças que ocorrem ao longo do tempo podem ser entendidas de duas formas, uma quantitativa e outra qualitativa. As mudanças quantitativas durante o desenvolvimento são aquelas que correspondem às mudanças numéricas ou de quantidade como, por exemplo, o peso e a altura da pessoa, aquilo que se pode mensurar ao longo do tempo. Já as mudanças qualitativas são aquelas que ocorrem no nível de estrutura ou organização. São marcadas pelo surgimento de novos mecanismos (cognitivos, por exemplo) que permitem à criança se adaptar aos novos desafios que lhe são impostos (BELSKY, 2010). Concomitante ao estudo do desenvolvimento humano há que se considerar os aspectos da aprendizagem que ocorrem principalmente a partir das mudanças no sujeito. Direta ou indiretamente, as tradicionais áreas da Psicologia da Educação têm estudado e pesquisado situações que possam ser relacionadas à aprendizagem. Pode-se considerar como Teorias da Aprendizagem os diversos modelos existentes que procuram explicar o processo de aprendizagem nos indivíduos. Apesar da existência de diversas teorias que se ocupam de explicar o processo de aprendizagem, as que apresentam maior destaque atualmente na educação são as teorias desenvolvidas por Jean Piaget e Lev Vygotsky. A Epistemologia Genética desenvolvida por Piaget foi desenvolvida por meio da experiência com crianças desde o nascimento até a adolescência, tendo como premissa o fato de que o conhecimento é construído a partir da interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas existentes (PIAGET, 1974). Já os estudos de Vygotsky se baseiam na dialética das interações do sujeito com o outro e com o meio para que possa ocorrer o desenvolvimento sóciocognitivo (VYGOTSKY, 1999). A teoria cognitiva de Piaget é baseada em dois de seus interesses, a filosofia e a biologia, supondo assim que o desenvolvimento cognitivo se originava da adaptação da criança ao seu ambiente, e assim buscando promover sua sobrevivência por meio da tentativa de aprender sobre seu ambiente. Isso transforma a criança em alguém que busca o conhecimento e a compreensão do mundo, mas com uma característica importante para Piaget, que é o fato da criança operar sobre este mundo. O conhecimento da criança é organizado como esquemas, que são estruturas indispensáveis para o 16 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância conhecimento das pessoas, objetos, eventos entre outras coisas. Sendo assim, estes esquemas permitem que o ser humano organize e interprete as informações sobre o mundo. Na memória do ser humano (memória de longo prazo) existem esquemas para conceitos como livros ou cachorros; esquemas para eventos, como ir a um restaurante; e esquemas para ações, como andar de bicicleta. Apesar de Vygotsky e seus seguidores considerarem que a estrutura dos estágios desenvolvida por Piaget seja correta, há que se considerar uma diferença básica entre estes dois autores. Para Piaget a estruturação do organismo ocorre antes do desenvolvimento, já para Vygotsky, o desenvolvimento das estruturas mentais superiores é gerado a partir do processo de aprendizagem do sujeito (PALANGANA, 2001). Os aspectos sociais da abordagem de Vygotsky são claros e diretos. A aprendizagem ocorre com as outras pessoas, sejam os pais, os professores ou as pessoas mais próximas da criança. Para este autor, a cultura influencia tanto quanto os processos do desenvolvimento cognitivo infantil, pelo fato de que o desenvolvimento acontece dentro deste contexto cultural. No geral, o que se entende por aprendizagem é a capacidade que o sujeito apresenta, no seu dia a dia, de dar respostas adaptadas às solicitações e desafios que lhes são impostos durante sua interação com o meio. Atualmente, a aprendizagem é compreendida como um processo global, dinâmico, contínuo, individual, gradativo e cumulativo. De acordo com as características escolares, há a necessidade de que o aluno seja um processador ativo da informação que lhe é transmitida, não basta apenas ser um receptor passivo do conhecimento, o aluno precisa decodificar o que lhe é ensinado e assim absorver este conhecimento. De acordo com Papalia, Olds, Feldman (2006) são duas as principais teorias da aprendizagem: o Behaviorismo e a Teoria da aprendizagem social, mas pode-se considerar o Construtivismo também como uma das mais importantes atualmente. Buhrrus F. Skinner Fonte: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/skinner-428143.shtml> De acordo com o pensamento dos autores behavioristas, a conduta do sujeito é passível de observação e mensuração. O início dos trabalhos desta abordagem ocorreu com John Watson (1878-1958) e Ivan Pavlov PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 17 (1849-1936), porém o estabelecimento dos princípios e da Teoria são creditados à Burruhs Skinner (19041990), fato que representa uma renovação do comportamentalismo watsoniano. Uma das pesquisas mais notável de Skinner é a respeito dos diferentes programas de reforço que foram desenvolvidos a partir da “Caixa de Skinner”, em que o papel necessário do reforço no comportamento operante foi demonstrado a partir das experiências com a pressão na barra pelo rato, que recebia comida toda vez que dava a resposta correta. Mas Skinner deixou claro que o reforço do mundo real nem sempre é consistente ou contínuo, no entanto, a aprendizagem ocorre e os comportamentos persistem, ainda que reforçados só intermitentemente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Para esta Teoria os comportamentos do ser humano são aprendidos, e com isso, o aspecto da aprendizagem passa a ter grande importância. O ambiente passa a ter um papel fundamental, pois o homem passa a ser produto do meio. No aspecto do ensino, ao se seguir as características do Behaviorismo, é preciso preparar e organizar as contingências de reforço que irão facilitar a aquisição dos esquemas e dos diferentes tipos de condutas desejadas. Esse planejamento e organização das contingências ficaria a cargo do professor. As pesquisas comportamentais concentram-se na aprendizagem associativa, em que se forma uma ligação mental entre dois fatos. Dois tipos de aprendizagem associativa são o condicionamento clássico e o condicionamento operante (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Para Skinner (2006), a principal característica do condicionamento clássico é que uma pessoa ou um animal aprende uma resposta reflexiva a um estímulo que originalmente não a provocava, depois que o estímulo é repetidamente associado a outro que provoca a resposta. Este tipo de aprendizagem foi descrito inicialmente a partir dos estudos de Pavlov em seus estudos com cães, que aprendiam a salivar quando ouviam uma sineta que tocava na hora da alimentação. O autor coloca ainda que, no caso do condicionamento operante, um comportamento originalmente acidental (por exemplo, o sorriso), torna-se uma resposta condicionada, ou seja, o sujeito aprende com as consequências de “operar” sobre o ambiente. A partir dos estudos com ratos e pombos, Skinner afirmava que os mesmos princípios poderiam ser aplicados aos seres humanos. Com isso, chegou à conclusão de que o sujeito tende a repetir uma resposta que foi reforçada, e ao contrário, tente a suprimir uma resposta que foi punida. Albert Bandura Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/Albert_Bandura> Em contrapartida surge a Teoria da Aprendizagem Social, que tem como característica considerar que as 18 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância crianças aprendem comportamentos sociais a partir da observação e imitação de modelos. Tem como seu principal representante Albert Bandura (1925), e pode ser considerada uma forma de comportamentalismo menos extrema que a de Skinner, que reflete e reforça o impacto do interesse renovado pelos fatores cognitivos. Outra diferença é que a Teoria da Aprendizagem Social considera o aprendiz como sujeito ativo, com isso, a pessoa atua sobre o ambiente, e em até certo ponto, cria o ambiente (BANDURA; POLYDORO; AZZI, 2008). A abordagem de Bandura estuda o comportamento tal como é formado e modificado em situações sociais, ou seja, na interação com outras pessoas. Reconhece a importância da cognição, consideram as respostas cognitivas às percepções, em vez de respostas basicamente automáticas ao reforço ou à punição, como centrais para o desenvolvimento. Essa imitação realizada pelas crianças no processo de aprendizagem depende do que elas percebem que é valorizado em sua cultura. Nem sempre o reforço está presente, e a criança pode aprender determinado tipo de comportamento na ausência de reforço diretamente vivenciado. Com isso, aprende-se pela observação do comportamento e das consequências deste comportamento de outra pessoa. Consequentemente, esta capacidade de aprender pelo exemplo supõe a aptidão de antecipar e avaliar consequências apenas observadas em outras pessoas e ainda não vivenciadas. As pesquisas de Bandura sobre a autoeficácia trouxeram discussões sobre uma forma de as pessoas enfrentarem as situações cotidianas. Essa autoeficácia seria o sentido de autoestima ou de valor próprio de um sujeito, a sensação de adequação e eficiência em tratar dos problemas da vida. Sujeitos com autoeficácia elevada apresentam a capacidade de lidar com todos os eventos de sua vida, eles esperam superar obstáculos e, como resultado, buscam desafios, perseveram e mantêm um alto nível de confiança em sua aptidão para ter êxito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). A terceira das teorias aqui abordadas é o Construtivismo, que é compreendido como a corrente teórica da educação que explica como a inteligência humana se desenvolve. Neste ponto, suas discussões são construídas partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre indivíduo e meio. Lev Semenovitch Vygotsky Fonte: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml> PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 19 Jean Piaget Fonte: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/jean-piaget-428139.shtml> É uma teoria que surge a partir dos estudos da Epistemologia Genética de Jean Piaget e da Teoria Sócio-histórica de Lev Vygotsky. Estas influências levaram à crença de que o homem não nasce inteligente, mas que também não é um sujeito passivo no mundo. Mesmo sendo estimulado pelo meio externo, o homem é capaz de agir sobre estes estímulos para construir e organizar o seu próprio conhecimento. Quanto mais ele age sobre o meio, mais elaborada será sua organização cognitiva (COLL; SCHILLING, 2004). De acordo com a teoria piagetiana, para conhecer os objetos, o sujeito tem que agir sobre eles e, por conseguinte, transformá-los: tem que deslocá-los, agrupá-los, combiná-los, separá-los e juntá-los. Neste sentido, o conhecimento não é nem uma cópia interior dos objetos, ou acontecimentos do real, nem meros reflexos desses objetos e acontecimentos que se imporiam ao sujeito. Partindo deste princípio, a aprendizagem é considerada uma constante busca do significado das coisas. Esse significado é construído a partir da globalidade e das partes que constituem aquilo que se quer conhecer. Como ponto fundamental de aprendizagem, aprender é construir o seu próprio significado e não encontrar respostas certas dadas por outra pessoa. A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO Com as discussões acerca da construção da inteligência do sujeito a partir de sua interação com o meio, Vygotsky elabora uma análise da capacidade do sujeito em construir e organizar seu conhecimento. Nessas análises o autor apresenta os princípios de sujeito e de subjetividade. De acordo com a perspectiva Sócio-histórica de Vygostsky, a criança nasce em um universo social e cultural, sendo este meio o seu meio natural. Ao longo do tempo esse meio é constituído de produções culturais e de seres humanos, ou seja, um ambiente significativo. Ao descobrir e apropriar-se deste universo a criança entra no processo de constituição do sujeito. Nesse processo, as características individuais (genéticas) herdadas pela criança se tornam insuficientes para garantir o seu desenvolvimento e assim garantir o surgimento das funções superiores, que surgem a partir das reais relações entre os outros seres humanos. Esta teoria parte da concepção de que todo organismo é ativo, e nesta ação 20 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância estabelece interação entre as condições sociais, que são condições mutáveis, e a base biológica do comportamento humano. Alguns estudiosos indicam que a criança se encontra em uma atividade inteligente mesmo antes do aparecimento da fala. Isto, para Piaget, significa a capacidade da criança em usar determinados meios visando determinados fins, por meio de sua coordenação sensório-motora, ou seja, a percepção e os movimentos realizados pela mesma. Neste mesmo contexto Vygotsky concebia a origem social da consciência, ressaltando a importância da linguagem como aspecto constituinte da consciência. Com o aparecimento da linguagem, a criança tem acesso aos signos (signos linguísticos) dessa forma transforma sua atividade prática, e assim dá origem às formas humanas de atividade. Como se daria então a constituição do “eu” de acordo com estas discussões? O “eu” seria construído a partir da relação com o outro, e neste ínterim, a palavra desempenha a função de contato social. Esta perspectiva da constituição do “eu” leva ao à relação constitutiva Eu-Outro, de significado complexo, porém fundamental na constituição do sujeito. O sujeito tem consciência de si (eu) porque tem consciência dos demais (outro), ele é para si o mesmo que os demais são para ele. O sujeito só pode se reconhecer quando é outro para si mesmo (MOLON, 1999). A consciência seria então construída no contato social que o sujeito tem com os outros, mas a consciência é também, um contato social consigo mesmo. Esse contato consigo mesmo é provado pela capacidade de o sujeito estabelecer uma fala silenciosa e uma fala interior. A atividade mental do sujeito é resultante da aprendizagem social, da interiorização da cultura e das relações sociais. A constituição do sujeito durante seu desenvolvimento ocorre por saltos qualitativos que ocorrem em três momentos. O primeiro é o salto da filogênese (origem da espécie) para a sociogênese (origem da sociedade); o segundo é o da sociogênese para a ontogênese (origem do homem); e por fim o salto da ontogênese para a microgênese (origem do indivíduo único) (VYGOTSKY, 2002). Essa concepção da atividade mental do sujeito compartilha da concepção marxista de que o essencialmente humano é constituído por relações sociais, com isso, Vygotsky negou-se a buscar explicações para as funções mentais superiores nas profundezas do cérebro ou nas características imateriais de uma alma separada do corpo. Como o sujeito é constituído a partir das suas relações com o meio, as atividades humanas são operacionalizadas ao longo do desenvolvimento pelos signos, que funcionam como mecanismos de comunicação e conexão das funções psicológicas superiores. Uma das formas de estabelecer o relacionamento com outras pessoas é por meio da linguagem, exemplos de signos submetidos às normas sociais. De acordo com Pino (2000), seguindo os postulados de Vygotsky, o signo é um elemento que representa algo para alguém, tendo como característica a reversibilidade, ou seja, capacidade de representar algo PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 21 tanto para quem recebe, quanto para quem emite. Mas deve-se ficar claro que não necessariamente isso coincide, pois os sujeitos em relação atribuem significados diferentes àquilo que vivenciam. A integração do homem com o meio ocorre mediada pelos sistemas de signos e instrumentos. Ao se apropriar destes sistemas culturais, o homem transforma a si mesmo, dando origem a formas caracteristicamente humanas de pensar e agir. O ser humano não é obra da natureza, nem produto da ação modeladora do meio. Na verdade ele é uma produção social, em que ele participa na condição de sujeito (VYGOTSKY, 2002). O ser humano é um animal social, de modo que grande parte da sua aprendizagem ocorre em interações sociais, o aprendizado ocorre por meio de outras pessoas, pais, irmãos, amigos, professores. A cultura sempre influenciando o conteúdo e os processos de desenvolvimento cognitivo infantil, visto que este desenvolvimento ocorre dentro do contexto cultural (GRIGGS, 2009). Os aspectos da teoria de Vygotsky que se ocupam da análise do sujeito não se limitam ao biológico, mas considera que o sujeito é constituído e é também constituinte de relações sociais. Ou seja, o homem apresenta a capacidade de sintetizar o conjunto das relações sociais e as construir. O ser humano se desenvolve simultaneamente em termos cognitivos, e sociais, como vimos a partir dos estudos de Vygotsky. Sendo assim, é importante considerar a questão de como desenvolve a moralidade do sujeito. A teoria mais influente para discutir sobre o raciocínio moral é a de estágios de Kohlberg (19261987), que se baseou nos estudos de Piaget sobre os dilemas morais que envolviam crianças e adultos. Para explicar melhor os dilemas morais vamos levar em consideração a história mais conhecida de Kohlberg, um dilema envolvendo Heinz, cuja esposa está morrendo de câncer: A esposa de Heinz está morrendo de câncer. Havia apenas uma cura para esse câncer. Um farmacêutico da cidade havia criado um medicamento que o curava, mas cobrava por esse medicamento muito mais do que ele custava e muito mais do que Heinz poderia pagar. Heinz tentou tomar dinheiro emprestado para comprá-lo, mas só conseguiu mais ou menos a metade do que o medicamento custava. Ele implorou ao farmacêutico que lhe vendesse mais barato ou deixasse pagar o restante depois, mas o farmacêutico recusou. Por puro desespero, Heinz invadiu a loja do farmacêutico e roubou o remédio para a esposa. A partir desta história, ele perguntava à pessoa se Heinz deveria ter roubado o medicamento, e por que sim ou por que não. A partir das respostas e explicações, Kohlberg encontrou três níveis de raciocínio moral: pré-convencional, convencional e pós-convencional. Cada um destes níveis apresenta ainda dois estágios. O nível I, ou a moralidade pré-convencional a ênfase do sujeito está em evitar uma punição e buscar o próprio bem-estar e necessidades, sendo assim, o raciocínio moral é auto-orientado. No segundo nível, ou moralidade convencional, a ênfase se baseia em regras e leis sociais, ou seja, ter aprovação social e ser um cidadão que cumpre as regras passa a ser importante. Já no nível II, ou moralidade pós-convencional, o raciocínio moral se baseia em princípios éticos universais autoescolhidos, com os direitos humanos tendo precedência sobre as leis, além da evitação da autocondenação por violar esses princípios. 22 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância O fato interessante para entender esses níveis de desenvolvimento moral de Kohlberg é que não importava para ele se o sujeito respondia sim ou não sobre o fato de Heinz ter roubado o medicamento. O importante era o raciocínio que o sujeito fazia para explicar o dilema. Porém, para Kohlberg, todos na infância apresentam um raciocínio moral pré-convencional, e conforme vão se desenvolvendo, principalmente do ponto de vista cognitivo, sobe-se também na escala de raciocínio moral. A sequência é a mesma, porém nem todos chegam ao último estágio. O ponto de discussão desta teoria é que Kohlberg estava estudando o raciocínio moral, não o comportamento moral, ou seja, um discurso ético não pode ser acompanhado por um comportamento ético. Mais adiante, alguns críticos questionavam a universalidade desta teoria, argumentando que os estágios superiores apresentavam um viés a favor dos valores ocidentais. Para terminar, para compreender a constituição do sujeito, é preciso se atentar para as condições sociais, históricas e econômicas em que este sujeito está inserido. Portanto, as características dos grupos sociais a que ele pertence são importantíssimas para essa compreensão. Mas isso não basta, é preciso também se compreender a atividade mediada, pois é por meio dela que o homem transforma o contexto em que ele está, e apropriando-se de suas significações constitui-se a si mesmo como sujeito. Fonte: PHOTOS.COM LINGUAGEM E PENSAMENTO Só os seres humanos utilizam a palavra para se comunicar. Ninguém nasce falando, porém nossa capacidade de linguagem começa logo após este fato. Independente da cultura, ou do idioma, as crianças passam pelas mesmas etapas de desenvolvimento da linguagem. Griggs (2009) descreve algumas destas etapas na tentativa de explicar como esse desenvolvimento ocorre na criança. Os bebês não falam, mas de alguma forma se comunicam, e isso se dá pelo choro, seja porque estão com fome, ou porque estão com dor. Por volta dos 6 ou 7 meses começam os primeiros balbucios, que são repetições rítmicas de várias sílabas. Ao longo dos próximos meses essas sílabas começam a evoluir para cada vez mais próximo das palavras da língua nativa da criança. As primeiras palavras surgem por volta do primeiro ano de vida, sendo estas dirigidas aos cuidadores e objetos de seu dia a dia. Após um tempo, ocorre a superextensão que é a aplicação de uma palavra PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 23 recentemente aprendida a objetos que não estão incluídos no seu significado, e também ocorre a subextensão, que é a incapacidade de aplicar a nova palavra a objetos que estão incluídos no seu significado. O próximo passo do desenvolvimento da palavra é a combinação das palavras em frases, e isso ocorre por volta dos 18 e os 24 meses (fala telegráfica). Dizem frases de duas palavras, constituídas na maioria das vezes por verbos e substantivos. A criança não consegue desenvolver uma fala normal sem a exposição à fala humana, por isso os cuidadores são fundamentais para este processo, sendo que as experiências vividas pela criança desempenham papel importante na aquisição da linguagem. Por essas e outras, há razões para se acreditar que tanto a natureza quanto o ambiente fornecem influências interativas no processo de desenvolvimento da linguagem. Durante o desenvolvimento infantil, o marco exclusivo do ser humano é a linguagem. Vygotsky (1978) coloca o uso da linguagem como central em tudo o que o sujeito aprende (BELSKY, 2010). Todo o processo de desenvolvimento ocorre com as crianças ouvindo a fala de outras pessoas, na maioria das vezes os pais. A aprendizagem ocorre quando as palavras ouvidas migram para o interior e assim se tornam a fala dirigida a si mesma. Linguagem e comunicação estão ligadas, envolvendo manifestações complexas e diversas da personalidade do ser humano. A comunicação é feita por intermédio dos sinais e símbolos utilizados pela linguagem, neste caso há sempre um transmissor da mensagem, a mensagem propriamente dita, e um receptor. A capacidade de utilizar a linguagem como meio de comunicação avança rapidamente, com as primeiras palavras as crianças adquirem a capacidade de “querer” conversar com todo mundo. Mas a comunicação exatamente como se conhece exige da criança uma capacidade de compreensão de sons, ritmo, e a formação de frases gramaticalmente corretas. Além disso, compreender o significado das palavras é essencial. A linguagem tem a capacidade de possibilitar a formação de uma consciência social, pois ela assegura uma adaptação comum, dos membros da comunidade à realidade exterior, permitindo assim ao indivíduo atualizar os seus conceitos, formular ideias comuns que irão facilitar a comunicação com outras pessoas e com o meio ambiente. Durante seus estudos, Piaget demonstra justamente o que foi dito anteriormente, pois a diferença encontrada por ele entre o pensamento infantil e o pensamento adulto era mais qualitativa do que quantitativa (VYGOTSKY, 2000). Por isso, não é a quantidade de fala que a criança apresenta, mas sim a capacidade de compreensão do que está dizendo que faz com que ela evolua no processo de desenvolvimento de sua linguagem. Assim como Griggs (2009), Belsky (2010) apresenta alguns desafios da linguagem que a criança 24 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância deve superar ao longo do desenvolvimento da linguagem. São cinco tipos de desafios que indicam as características da fala em cada estágio: fonemas, morfemas, sintaxe, semântica, super-regularização, e super/subextensão. Vamos às características principais de cada um destes estágios: - Fonemas: são sons individuais das palavras e a criança tem dificuldade para articular sons, e só consegue articular fonemas isolados. - Morfemas: é a menor unidade de significado em um determinado idioma, por exemplo, a palavra meninos contém dois morfemas: menino e o sufixo do plural “s”. - Sintaxe: é o sistema de regras gramaticais de um determinado idioma, é um momento em que a criança comete erros na aplicação de regras gramaticais para formar frases. - Semântica: mudanças mais surpreendentes, pois é o momento em que se começa a compreender o significado das palavras, as crianças passam de um vocabulário de três ou quatro palavras quando na idade de 1 ano para cerca de 10.000 palavras em torno dos 6 anos. - Super-regularização: os erros mais evidentes nas crianças são a respeito do uso dos plurais nas palavras e também das noções temporais. - Super/subextensão: a superextensão ocorre quando as crianças utilizam excessivamente um rótulo verbal, por exemplo, chamar todos os idosos do sexo masculino de vovô. Já a subextensão se caracteriza por a criança tornar categorias de substantivos demasiado estreitas, como considerar que apenas o seu animal de estimação é um cão, os outros cães da vizinhança devem ser chamados de outra forma. A linguagem funciona como um processo de afirmação do “eu” em relação aos “outros”, sendo este um dos motivos por se considerar importante o diálogo e a comunicação na humanidade. Sendo a linguagem como um conjunto de sinais intencionalmente expressivos, ela é considerada um instrumento de pensamento, de expressão emocional e de interação social (NOVAES, 1978). Vygostky apresenta em seu livro “Pensamento e Linguagem” alguns aspectos da teoria de William Stern sobre o desenvolvimento da linguagem. Stern distingue três raízes da fala, a tendência expressiva, a social e a intencional. As duas primeiras são consideradas a base dos rudimentos de fala que podem ser observadas entre os animais, porém a terceira é especificamente humana. A intencionalidade seria, neste contexto, uma meta voltada para um determinado conteúdo ou significado. Independente da abordagem utilizada para estudar a relação entre pensamento e fala, há a necessidade de se considerar o estudo da fala interior. A fala egocêntrica descrita por Piaget apresenta a função de acompanhar a atividade da criança, bem como função de descarga emocional e função planejadora, transformando-se em pensamento propriamente dito. A fala egocêntrica é a fala interior, é a fala em sua trajetória para a interiorização, ligada à organização do comportamento da criança. Exemplo que pode ser expresso quando uma criança de 3 anos diz “Não toque!” enquanto se aproxima do fogão (BELSKY, 2010). PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 25 Fonte: PHOTOS.COM A interiorização da fala ocorre porque sua função muda. Seu desenvolvimento deveria ter três fases, de acordo com Vygotsky (2000): fala exterior, fala egocêntrica, fala interior. Vygotsky coloca ainda que o desenvolvimento da fala segue a mesma direção e obedece às mesmas leis que permeiam o desenvolvimento das outras operações mentais que envolvem o uso de signos, exemplos dessas operações mentais são o ato de contar e a memorização mnemônica. São quatro os estágios que podem ser atribuídos ao desenvolvimento dessas operações, e serão descritos agora. O primeiro deles é o estágio natural ou primitivo, que corresponde à fala pré-intelectual e ao pensamento pré-verbal. Em seguida, advém o estágio chamado de psicologia ingênua que surge da experiência da criança com as propriedades físicas de seu próprio corpo e dos objetos que estão a sua volta, bem como da aplicação dessa experiência ao uso de instrumentos. O terceiro estágio surge da acumulação gradual da experiência psicológica ingênua e tem como característica os signos exteriores, ou seja, operações externas que são auxiliares na solução de problemas internos. Uma característica marcante neste estágio é a criança contar com o auxílio dos dedos, e no desenvolvimento da fala este estágio se caracteriza pelo uso da fala egocêntrica. O quarto e último estágio é chamado de crescimento interior. Ocorre a interiorização das operações externas e passam por uma profunda mudança no processo. Tem como características a capacidade da criança em contar mentalmente, operando com relações extrínsecas e signos interiores. No desenvolvimento da fala este estágio corresponde ao estágio final da fala interior, silenciosa. Em relação à forma, a fala interior pode se aproximar muito da fala exterior, ou mesmo tornar-se igual a esta, quando serve de preparação para a fala exterior, por exemplo, quando um palestrante repassa mentalmente a conferência que irá proferir (VYGOTSKY, 2000). Ao contrário do que muitos psicólogos pensam, a linguagem interior não é simplesmente uma linguagem para si. Luria (1987) coloca que no ato intelectual, a tomada de decisão transcorre muito rapidamente, às vezes em décimos de segundos. Com essa velocidade se torna impossível dizer a si mesmo toda uma frase e muito menos todo um raciocínio. Durante o estudo genético do pensamento e da fala, a relação entre ambos apresenta algumas mudanças, 26 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância não sendo um progresso paralelo. De acordo com Vygotsky (2000, 149), “o pensamento e a palavra não são ligados por um elo primário. Ao longo da evolução do pensamento e da fala, tem início uma conexão entre ambos, que depois se modifica e se desenvolve”. Porém, o autor acrescenta que o significado de uma palavra representa uma relação tão estreita do pensamento e da linguagem, que é difícil dizer se é um fenômeno da fala ou um fenômeno do pensamento. O significado das palavras é um fenômeno de pensamento apenas na medida em que o pensamento ganha corpo por meio da fala, e só é um fenômeno da fala na medida em que esta é ligada ao pensamento, sendo iluminada por ele. É um fenômeno do pensamento verbal, ou da fala significativa – uma união da palavra e do pensamento (VYGOTSKY, 2000, p. 151). A palavra determina e isola um significado, ela envolve organização de pensamento e direção dos processos mentais para um fim ou propósito estabelecido. Para que a palavra possa funcionar como um estímulo mental e elaboração do pensamento, ela precisa possuir conteúdo afetivo, ou seja, deve ter significado (NOVAES, 1978). Fonte: PHOTOS.COM A comunicação direta entre duas mentes é impossível, esta comunicação ocorre de forma indireta, ou seja, primeiro o pensamento deve passar pelos significados e depois pelas palavras. O pensamento é gerado pela motivação, pelos desejos e pelas necessidades do sujeito. Assim, para compreender a outra pessoa, não basta apenas entender as palavras que são ditas. Há a necessidade de compreender o seu pensamento. Mas em algumas situações nem isto é o suficiente, pois pode ser necessário compreender a motivação desta pessoa. E os deficientes auditivos? Como fica a relação linguagem X pensamento nestes sujeitos? Os deficientes auditivos são destituídos de linguagem, e são exemplo de pensamento sem linguagem. Considerando pessoas que trabalham com arte, criação, essas dizem que em muitos de seus momentos mais inspirados, pensam com imagens mentais, se não com palavras. A partir do exposto, e segundo as discussões realizadas principalmente por Vygotsky, é possível considerar que o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência social e cultural do sujeito em questão. A compreensão das relações entre a linguagem e o pensamento é essencial para se entender o processo de desenvolvimento intelectual. A linguagem não pode ser considerada apenas uma expressão do conhecimento adquirido, a inter-relação existente entre pensamento e linguagem resulta em proporcionar recursos mútuos. A linguagem tem função essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 27 A comunicação é a base de todo progresso e a educação sem ser comunicação deixa de ter sentido, pois o indivíduo se desenvolve e se atualiza na medida em que se comunica com os outros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado aluno, compreender os fatores que influenciam o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano não é uma tarefa fácil. No entanto, esta primeira unidade teve o objetivo de disponibilizar a você um pouco do que algumas abordagens teóricas apresentam acerca desses pontos. Além disso, este tópico é importante para compreender como o contexto influencia no desenvolvimento e na aprendizagem do sujeito, pois apenas os conteúdos genéticos não são suficientes para explicar como isso ocorre ao longo do tempo. O ser humano ao longo de seu desenvolvimento passa também a compreender o significado de sua existência e o desenvolvimento cognitivo é fundamental neste processo. O desenvolvimento da linguagem e do pensamento torna possível sua socialização, bem como a compreensão de fatores que ocorrem em sua vida. Espero que com o conteúdo apresentado você, caro aluno, possa ter compreendido um pouco mais sobre alguns fatores relacionados ao desenvolvimento humano. “O homem, com suas nobres qualidades, ainda carrega no corpo a marca indelével de sua origem modesta” – Charles Darwin. Pesquisa publicada em 2006 na Revista Psicologia em Estudo que trata de analisar as concepções de desenvolvimento e aprendizagem presentes no trabalho de profissionais de uma escola pública. Pesquisa interessante que mostra como os conceitos da Teoria Histórico-cultural podem ser aplicados no cotidiano escolar, bem como a realidade de que há uma coexistência de várias teorias que fundamentam o trabalho dos profissionais entrevistados. Revista: Psicologia em Estudo. Título do Artigo: Concepções de desenvolvimento e aprendizagem no trabalho do professor. Autores: Aline Frollini Lunardelli Lara, Elenita de Ricio Tanamachi, e Jair Lopes Junior. Referência: LARA, A. F. L.; TANAMACHI, E. R.; LOPES JUNIOR, J. Concepções de desenvolvimento e aprendizagem no trabalho do professor. Psicologia em Estudo, v. 11, n. 3, pp. 473-482, set./dez. 2006. Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a02.pdf>. 28 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1- Descreva o que é Psicologia do Desenvolvimento e qual o foco de estudo dos cientistas do desenvolvimento. 2- Existem diversas teorias ou modelos que explicam como ocorre o processo de aprendizagem do ser humano. No entanto, duas delas são destaque atualmente no trabalho educacional. Apresente quais são essas teorias, bem como suas principais ideias. 3- Explique como o desenvolvimento da linguagem funciona como um processo de afirmação do “eu” em relação aos “outros”. 4-No artigo intitulado “Concepções de desenvolvimento e aprendizagem no trabalho do professor”, os autores apresentam dados referentes à realidade encontrada em uma escola quanto da atuação de alguns professores. Apresente, baseado nestes resultados, sua opinião acerca da aplicabilidade da Teoria Histórico-Cultural no ambiente escolar e também na sua prática profissional. Para aumentar seu conhecimento sobre os principais pontos que envolvem o desenvolvimento humano e a constituição do sujeito, recomendo o livro “Educação e Desenvolvimento Humano” que reúne pesquisadores e suas principais contribuições acerca do tema. Nesta obra é possível encontrar um conteúdo interessante acerca das bases psicológicas da pedagogia centrada na criança; as perspectivas pedagógicas sobre o desenvolvimento; o contexto cultural da educação e do desenvolvimento humano; bem como a linguagem e a cultura da escolarização. Livro: Educação e Desenvolvimento Humano Autores: David R. Olson e Nancy Torrance Editora: Artmed PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 29 UNIDADE II DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONCEITOS BÁSICOS E PRINCIPAIS CONCEPÇÕES Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira Objetivos de Aprendizagem • Examinar os conceitos básicos das abordagens teóricas acerca do Desenvolvimento Humano. • Analisar os principais conceitos e aplicações da Epistemologia Genética de Jean Piaget. • Apontar as características da Teoria da Mediação de Lev Vygotsky. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Estudo do desenvolvimento humano: principais teorias • Desenvolvimento humano sob a perspectiva de Jean Piaget • Teoria da Mediação de Lev Vygotsky 32 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância INTRODUÇÃO Prezado aluno, são muitas as discussões acerca do desenvolvimento humano. Algumas abordagens teóricas serão apresentadas nesta segunda unidade, na tentativa de lhe proporcionar um conhecimento básico acerca de cada uma delas. Isso se faz necessário para que fique claro as diferenças e as semelhanças entre cada uma delas. Em cada uma destas abordagens um autor se destaca como principal representante, a partir desta referência sua compreensão fica mais nítida acerca do que se trata uma abordagem ou outra. Para facilitar a compreensão dessas abordagens, serão apresentadas, nesta unidade, teorias de dois autores que na atualidade são muito discutidas também no contexto escolar. Uma delas é a Epistemologia Genética de Jean Piaget, e a outra é a Abordagem Histórico-social de Lev Vygotsky, esta segunda com destaque para o processo de mediação que deve ser realizado principalmente pelo professor durante o processo de aprendizagem. Basicamente, a Epistemologia Genética de Piaget consiste em uma síntese de teorias já existentes, o apriorismo e o empirismo. A partir disto, considera que o conhecimento é resultado da interação do sujeito com o meio em que habita, ou seja, este conhecimento depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com os objetos externos. Já Vygotsky apresenta conceitos com os signos e os instrumentos que são construções da mente humana que estabelecem uma relação de mediação entre o homem e a realidade. Espero que com estes pontos que serão abordados nesta unidade, você, caro aluno, possa compreender melhor alguns aspectos acerca do desenvolvimento humano, principalmente os conceitos-chave presentes nas Teorias de Piaget e Vygotsky. Creio que isto irá levá-lo a uma reflexão acerca de sua prática profissional, a partir dos referenciais teóricos aqui presentes. TEORIAS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO As diversas teorias existentes sobre o desenvolvimento humano se ocupam por explicar como o ser humano vive de acordo com algumas características específicas que o acompanham ao longo da sua vida. Muitas delas apresentam um estudo do comportamento humano baseado em estágios, determinando assim as mudanças que ocorrem em determinadas idades. A grande discussão que gira em torno das explicações acerca do desenvolvimento humano é justamente sobre as questões biológicas e as questões do ambiente. Ou seja, é o ambiente que determina o desenvolvimento do sujeito? Ou são suas características genéticas que moldam as principais características e traços de personalidade? É o grande ponto, natureza (biologia) versus criação (ambiente) (BELSKY, 2010). Sobre as teorias mais estudadas acerca do desenvolvimento humano podem-se citar, de acordo com PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 33 Papalia, Olds e Feldman (2006), as Teorias Psicanalíticas, as Teorias Comportamentalistas/Behavioristas, as Teorias Cognitivas e as Teorias Humanistas. A perspectiva Psicanalítica é responsável pelo estudo do inconsciente, que seria o responsável pelas forças que motivam o comportamento humano. Seu principal representante e criador da Psicanálise foi Sigmund Freud (1856-1939), que tinha o objetivo, por meio da abordagem terapêutica, de fazer o paciente compreender os conflitos emocionais inconscientes (NASIO, 1995). Para explicar o desenvolvimento humano a partir dos atributos da Psicanálise, Freud apresenta algumas fases do seu chamado Desenvolvimento Psicossexual. Acreditava que a personalidade do sujeito era formada nos primeiros anos de vida, momento em que conflitos inconscientes emergem na vida da criança. Esses conflitos ocorrem entre seus impulsos biológicos inatos e as exigências da sociedade em que ele está inserido (GRIGGS, 2009). São cinco as fases apresentadas pelo autor, fase oral (do nascimento aos 12-18 meses), fase anal (12-18 meses aos 3 anos), fase fálica (3 a 6 anos), fase de latência (6 anos até puberdade), e a fase genital (puberdade até fase adulta). Dentre estas, as três primeiras eram consideradas cruciais para o desenvolvimento da personalidade humana. Cruciais porque neste momento é essencial que a criança receba gratificações adequadas, pois ao receber pouca ou excessiva gratificação há a possibilidade de desenvolver uma fixação na fase correspondente. Esta fixação é compreendida como uma interrupção no desenvolvimento que pode aparecer na personalidade adulta. A personalidade, segundo Freud, era composta por três instâncias psíquicas, o id, o ego e o superego. A busca pela satisfação imediata, presente principalmente nos recém-nascidos, ocorre porque nesta fase o que governa o psíquico do sujeito é o id. Já o ego representa a razão ou o senso comum, e este irá se desenvolver por volta do primeiro ano de vida, esta razão se ocupa em satisfazer as necessidades do id desde que sejam aceitáveis para o superego, que se desenvolve aproximadamente aos 5 ou 6 anos. O grau elevado de exigência do superego pode levar o sujeito a se sentir culpado caso suas demandas não sejam atendidas. O método psicanalítico de Freud influenciou muito a psicoterapia atual, que ainda segue seus princípios com propriedade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Como já abordado anteriormente sobre o Behaviorismo, este é o principal representante das Teorias Comportamentalistas. Skinner, discípulo de Watson, se ocupa do papel de explicar a ação voluntária do ser humano, desde a formação de suas primeiras palavras até o domínio de matemática superior, por meio do condicionamento operante. Neste processo, as respostas que são recompensadas (ou reforçadas) são aprendidas, já as respostas que não são reforçadas tendem a desaparecer ou se extinguir (BAUM, 1999). Watson desejava uma psicologia objetiva, uma ciência do comportamento que só lidasse com atos comportamentais que eram possíveis de serem observados, possíveis de serem descritos em termos de estímulo e resposta. Como trabalhava com animais, queria aplicar suas descobertas também nos seres humanos. 34 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância Considerando o reforço como responsável pelas respostas aprendidas, este é um fenômeno desenvolvimental poderoso para o bem e para o mal. A explicação para isso pode ser encontrada em qualquer situação da vida cotidiana. Basta observar como uma pessoa age após receber um elogio. Após o elogio (que neste caso é o reforço) a tendência é de que a pessoa continue com o comportamento que a levou a receber o elogio. Porém, pode-se falar ainda em modificação do comportamento, ou terapia comportamental, que é um exemplo de condicionamento operante utilizado para eliminar um comportamento indesejável ou promover um comportamento positivo. Esta modificação de comportamento pode ser eficaz quando aplicada em crianças com necessidades especiais. O retorno da Psicologia aos aspectos da consciência humana por volta da metade do século XX, caracteriza-se pelo início das discussões sobre a Psicologia Cognitiva, que tem em Jean Piaget (1896-1980) um de seus representantes mais característicos, por meio de seus estudos acerca do desenvolvimento infantil em termos de estágios cognitivos (BELSKY, 2010). A Perspectiva Cognitiva se preocupa com os processos de pensamento e com o comportamento que reflete tais processos. Com isto se diferencia do comportamentalismo em vários pontos. Um deles é o fato de que os cognitivistas concentram-se no processo do conhecimento, e não na simples resposta a estímulos. As respostas, no caso dos cognitivistas, são usadas como fontes para a inferência dos processos mentais que as acompanham. Outro ponto de diferenciação corresponde ao interesse dos psicólogos cognitivistas pela forma como a mente estrutura ou organiza a experiência. Por último, de acordo com a perspectiva cognitiva, o indivíduo organiza ativa e criativamente os estímulos recebidos do ambiente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo do ser humano inicia com uma capacidade inata desse de se adaptar ao ambiente. Esse desenvolvimento ocorre por meio de estágios qualitativamente diferentes, que são: Sensório-motor (do nascimento aos 2 anos); Pré-operatório (2 a 7/8 anos); Operatório-concreto (8 a 11 anos); e Operatório-formal (11 anos a toda idade adulta). Os aspectos específicos da teoria Piagetiana serão melhor discutidos em tópicos posteriores. No final do século XX, os teóricos considerados neopiagetianos começaram a incorporar alguns elementos da teoria de Piaget à abordagem de processamento de informações. Com isso, concentraram-se em conceitos, estratégias e habilidades específicas, ou seja, acreditam que as crianças desenvolvem-se cognitivamente ao se tornarem mais eficientes no processamento de informações. As teorias humanísticas surgiram por volta de 1960, como resposta à abordagem psicanalítica determinista e à abordagem psicológica comportamental que eram as principais teorias que fundamentavam as pesquisas naquela época. Assim, a abordagem humanística se centra nas motivações positivas de nossas ações e desenvolvimento, especialmente o crescimento pessoal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Os principais pontos desta abordagem são a ênfase na experiência consciente; a crença na integralidade PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 35 da natureza e da conduta do ser humano; a concentração no livre arbítrio, na espontaneidade; e o estudo de tudo o que tenha relevância para a condição humana. A partir disto, há uma atenção especial aos fatores internos na personalidade como sentimentos, valores e esperanças. Os representantes mais característicos desta abordagem são Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers (1902-1987) (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Maslow se preocupava em compreender as elevadas realizações que os seres humanos são capazes de alcançar, desencadeando assim em uma teoria da personalidade em que o sujeito se concentra na motivação para crescer, para se desenvolver e realizar o eu a fim de concretizar de modo pleno suas capacidades e potencialidades humanas. A partir de seus estudos, identificou uma hierarquia de necessidades, ou seja, uma ordem das necessidades que motivam o comportamento humano. A partir desta hierarquia as pessoas só podem empenhar-se para atender necessidades superiores depois que satisfizerem necessidades básicas (GRIGGS, 2009). Fonte: <http://novo-mundo.org/opiniao/wth-e-piramide-de-maslow.html> O ponto de partida é a necessidade mais básica (necessidade fisiológica), que considera a busca pelo alimento como necessária, apesar dos riscos, para que em seguida se preocupe com o próximo nível de necessidades, que é a necessidade de segurança. Ao satisfazer a necessidade de segurança o sujeito fica apto a buscar amor e aceitação (necessidade de afiliação e amor), consequentemente há a busca pela satisfação da estima e realização, sendo aceito e reconhecido pelo outro. Por fim, o sujeito vai em busca de autorrealização, que segundo Maslow, as pessoas que conseguem satisfazer esta última necessidade, possuem alta percepção da realidade, aceitam a si mesmas e aos outros. Além disso, características como espontaneidade, criatividade e grande capacidade de resolução de problemas estão presentes nas pessoas que atingem alto grau de autorrealização (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). 36 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância Considerando a constante satisfação de necessidades, fica evidente a visão de Maslow baseada no estudo de pessoas saudáveis. O que não ocorre com Rogers, que formula suas discussões a partir de sujeitos emocionalmente perturbados. Com isto, seus estudos levaram-no a ser conhecido pela terapia centrada na pessoa ou terapia centrada no cliente, que se concentra em uma única motivação avassaladora, semelhante ao conceito de autorrealização de Maslow. No entanto, para Rogers, cada pessoa possui uma tendência inata para atualizar as capacidades e potenciais do eu. A responsabilidade da mudança era atribuída à pessoa, característica presente também na psicanálise ortodoxa, assim, Rogers considera que as pessoas podem alterar consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos indesejáveis, tornando-os desejáveis (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Após a apresentação sucinta de algumas teorias que se ocupam por explicar o desenvolvimento humano, neste momento serão abordadas duas teorias que são as mais utilizadas no contexto escolar para se trabalhar com os processos de desenvolvimento e aprendizagem do sujeito. Serão apresentados os principais conceitos e características da Epistemologia Genética de Piaget e da Teoria da Mediação de Vygotsky. Neste contexto, a aprendizagem deve ser vista como a atividade de indivíduos ou grupos humanos, que mediante a incorporação de informações e o desenvolvimento de experiências promovem modificações na personalidade e na dinâmica do grupo, as quais revertem na transformação daquela realidade, e não a análise do problema apresentado pela criança como fato isolado ou descontextualizado. Iremos ver também como o desenvolvimento e a aprendizagem são fatores que dependem tanto de elementos internos quanto externos ao ser humano. A aprendizagem depende da articulação de fatores internos e externos ao sujeito (os internos referem-se ao funcionamento do corpo como um instrumento responsável pelos automatismos, coordenações e articulações); do organismo: a infraestrutura que leva o indivíduo a registrar, gravar, reconhecer tudo que o cerca por meio dos sistemas sensoriais, permitindo regular o funcionamento total do desejo; entendido como o que se refere às estruturas inconscientes representa o motor da aprendizagem e deve ser trabalhada a partir da relação que com ela estabelece; das estruturas cognitivas, representando aquilo que está na base da inteligência, [...], da dinâmica do comportamento, que diz respeito à realidade que o cerca. Os fatores externos são aqueles que dependem das condições do meio que circunda o indivíduo. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 37 EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET Jean Piaget Fonte: <http://pt.wikipedia.orgwikiJean_Piaget.jpg> A teoria genética apresenta sua característica de estudo da aprendizagem de uma forma peculiar, diferente dos estudos clássicos da aprendizagem. Piaget se envereda pelo campo da psicologia com o objetivo de estudar as questões epistemológicas, buscando responder as dúvidas acerca do conhecimento humano. A Epistemologia Genética é definida como uma disciplina que estuda os mecanismos e os processos mediante os quais o sujeito passa dos estados de menor conhecimento para os estados de conhecimentos mais avançados (PIAGET, 1979). Na tentativa de explicar o desenvolvimento intelectual, parte da ideia que atos biológicos são atos adaptativos ao meio físico na tentativa de manter o equilíbrio. De acordo com este pensamento, o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o desenvolvimento biológico. Segundo Piaget: A infância é considerada como um período particular do processo de formação do pensamento, que só se completa na idade adulta. Em sua concepção conhecer é organizar, estruturar e explicar a realidade a partir daquilo que se vivencia nas experiências com os objetos do conhecimento. No entanto, experiência não é a mesma coisa que conhecimento, pois a inserção de um objeto de conhecimento num sistema de relações ocorre por meio da ação do indivíduo sobre o objeto (apud FONTANA; CRUZ, 1997, p.45). A inteligência pode ser considerada como o resultado da experiência do indivíduo, é por meio da experiência que ele simultaneamente incorpora o mundo exterior e o vai transformando, isto é, o indivíduo transforma-se. De acordo com a teoria piagetiana, a criança passa por mudanças qualitativas desde o estágio inicial de uma inteligência prática (sensório-motor) até o pensamento formal, lógico dedutivo, que se inicia a partir da adolescência. De acordo com seus estudos, Piaget postula que as mudanças que ocorrem com o sujeito entre a primeira infância e a adolescência, ocorrem por estágios qualitativamente diferentes. Durante a passagem por esses estágios, há também uma continuidade básica no desenvolvimento cognitivo, o prazer e a busca pelo aprendizado colaboram para este desenvolvimento. Basicamente, este crescimento mental do ser humano ocorre por meio de mecanismos de Adaptação que são a Assimilação e a Acomodação. 38 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância A Assimilação é o mecanismo de ajustamento do mundo às capacidades individuais e às estruturas cognitivas existentes no sujeito; assim ocorre a Acomodação, que corresponde à mudança do pensamento para que ele se encaixe no mundo em que o sujeito vive (BELSKY, 2010). Para Wadsworth (1997, p.19), assimilação é um “processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra a um novo dado perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de comportamento já existentes”. A criança tenta adaptar esses novos eventos ou estímulos nos esquemas que ela possui naquele momento. Assim, assimilação é uma parte do processo pelo qual o indivíduo cognitivamente se adapta ao ambiente e o organiza. Dessa forma, esse processo de ampliação ou modificação de esquemas (assimilação), ele chama de acomodação, embora estimulado pelo objeto, é também possível graças à atividade do sujeito para elaboração de novos conhecimentos. Em outras palavras, a construção do conhecimento só é possível a partir do momento em que ocorrem ações físicas (ou mentais) sobre objetos que provocam certo desequilíbrio ao ser humano, resultando assim em Assimilação. No entanto, pode ocorrer ainda Acomodação e Assimilação dessas ações que produzirão esquemas ou conhecimento. A experiência prática é fundamental nesta Teoria, visto que o aprendizado do sujeito se dá pelo seu contato e suas ações sobre o mundo. Ou seja, o desenvolvimento cognitivo pode ser considerado um produto dos esforços das crianças para compreender e atuar sobre seu mundo (PIAGET, 1974). As estruturas cognitivas que são modificadas por meio dos processos de Assimilação e Acomodação são chamadas de esquemas. É por meio desses esquemas que os sujeitos intelectualmente se adaptam e organizam o meio em que vivem. A utilização desses esquemas ocorre para se processar e identificar a entrada de estímulos, ou seja, diferenciá-los e generalizá-los. Exemplo disso é a inteligência, pois ela é assimilação, por permitir o indivíduo incorporar os dados da experiência. É também acomodação, pois os novos dados incorporados acabam por produzir modificações no funcionamento cognitivo da pessoa. Ao mesmo tempo em que, por meio do processo de assimilação/ acomodação, o indivíduo adapta-se ao meio (elaborando seu conhecimento sobre ele) e seu próprio funcionamento cognitivo vai se estruturando, se organizando. Uma das primeiras formas de organização cognitiva é o esquema. Estes esquemas são irreversíveis. Portanto, quando o indivíduo executa uma ação no sentido de ida, não tem consciência de que pode efetivamente executar essa mesma ação no sentido de volta (FARIA, 1995). É por meio dos esquemas de ação que a criança começa a conhecer a realidade, assimilando-a e atribuindo-lhe significações. Quando pega a mamadeira, ela a relaciona a seu esquema “pegar” e atribui-lhe o sentido de um objeto “que se pega”. Mas a criança também aplica à mamadeira o esquema “sugar”. Essas assimilações provocam transformações nos esquemas “pegar” e “sugar”, à medida que eles são acomodados ao objeto mamadeira. A criança, ao nascer, é dotada de reflexos, que possibilitam ao bebê lidar com o ambiente, e vão sendo assimilados pela criança. A assimilação provoca uma transformação dos reflexos, que gradativamente PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 39 vão se diferenciando e se tornando mais complexos e flexíveis, ou seja, ao nascer a criança desencadeia reflexos como de sucção e o de preensão, logo passando para reflexos mais complexos, onde se dá o processo de esquemas de ação, tais como: pegar, puxar, sugar, empurrar etc. O desenvolvimento contínuo dos esquemas se dá no sentido de uma adaptação cada vez mais complexa e diferenciada da realidade. Para Piaget (apud WADSWORTH, 1997), o processo de desenvolvimento depende de fatores ligados à maturação da experiência adquirida pela criança em seu contato com o ambiente, de um processo de autorregulação conhecido por equilibração. O Equilíbrio é considerado um estado de balanço entre a assimilação e a acomodação. A equilibração permite que a experiência externa seja incorporada na estrutura interna (esquemas) (WADSWORTH, 1997). Assim, todas as vezes que em nossa relação com o meio surjam conflitos, contradições ou outros tipos de dificuldade, nossa capacidade de autorregulação ou equilibração entra em ação, no sentido de superá-los. A Teoria piagetiana sobre o desenvolvimento da criança apresenta períodos ou estágios definidos, caracterizados pelo surgimento de novas formas de organização mental. Cada estágio se caracteriza por uma maneira típica de agir e de pensar, ou seja, a criança passa de um estágio a outro de seu desenvolvimento cognitivo, quando seus modos de agir e pensar mostram-se insuficientes ou inadequados para enfrentar os novos problemas que surgem em sua relação com o meio. São 4 os estágios sequenciais denominados de fases de transição, os quais são intitulados de Sensóriomotor (do nascimento aos 2 anos); Pré-operatório (2 aos 7, 8 anos); Operatório-concreto (8 aos 11 anos); e Operatório-formal (acima de 12 anos). Neste momento, será mostrada uma sucinta apresentação de cada um desses estágios, de acordo com Coll e Marti (2004). O estágio Sensório-motor é caracterizado pela construção da primeira estrutura intelectual, pois a partir dos movimentos reflexos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para que possa assimilar mentalmente o meio. O contato com a realidade física se dá pela manipulação de objetos, e o final desse estágio tem como característica o desenvolvimento da linguagem. Nesta fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas. É um período anterior à linguagem, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta. Do nascimento até os 2 anos de idade, aproximadamente, a criança passa do nível neonatal (marcado pelo funcionamento dos reflexos inatos) para outro em que ela já é capaz de uma organização perceptiva e motora dos fenômenos do meio. De início, o corpo da criança reflete o mundo e ainda não se diferencia dele, ou seja, a criança age sobre o mundo, ela repetidamente chupa o dedo, suga a pontinha da manga da roupa. São movimentos não intencionais, centralizados no seu próprio corpo, que se repetem sempre. A consciência da criança se expande lentamente, conforme suas ações se deslocam de seu próprio corpo para os objetos. A mão agarra, chega o objeto ao corpo, a boca que experimenta, empurra-o para 40 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância longe de si. Os olhos acompanham os movimentos. Os movimentos ficam mais complexos, mais amplos, como engatinhar, pôr-se de pé, andar (FONTANA; CRUZ, 1997). A criança começa a perceber que os objetos, as pessoas, continuam existindo mesmo quando estão fora do seu campo de visão. Formam-se as primeiras imagens mentais dos objetos ausentes do meio imediato. São elas que possibilitam o desenvolvimento da função simbólica, a criança reproduz, imita, representando o jogo de faz de conta. Ela torna-se capaz de imaginar ações ou fatos sem praticá-los efetivamente. Na fase Pré-operatória as percepções das crianças são capturadas por sua aparência imediata. Este estágio é conhecido como estágio da Inteligência Simbólica, pois a função simbólica na criança é responsável pela capacidade de substituição do objeto por uma representação. As principais características nesta fase são uma criança egocêntrica, centrada em sim mesma, e que quer explicação para tudo, a chamada fase dos “por quês”. Grandes avanços mentais ocorrem pela passagem do estágio sensório-motor para o pré-operatório. É neste período que ela se torna capaz de tratar os objetos como símbolos de outras coisas. O desenvolvimento da representação cria as condições para aquisição da linguagem, pois a capacidade de construir símbolos possibilita aquisição dos significados sociais (das palavras) existentes no contexto em que ela vive. Neste momento, a criança deverá reconstruir no plano da representação aquilo que já havia conquistado no plano de ação prática. Assim, a diferenciação entre o eu e o mundo, que já tinha se completado no plano de ação, deverá ser elaborada no plano da representação. Para Piaget (apud WADSWORTH, 1997, p.65): Nesse estágio, o primeiro passo para a aprendizagem é a passagem da ação para o pensamento, a internalização da ação, realizar uma ação mentalmente em vez de fisicamente. A representação de objetos, pela ordem de aparecimento que são a imitação diferida, o jogo simbólico, o desenho, a imagem mental e a linguagem falada. Distingue fantasia do real podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. As crianças deste estágio são egocêntricas, elas não conseguem ter outro referencial sem serem elas próprias. Ao final do período pré-operatório, o pensamento da criança começa assumir a forma de operações concretas. Este estágio é caracterizado pela capacidade das crianças em raciocinar sobre o mundo de uma forma mais lógica e adulta. É o momento do aparecimento das noções temporais, espaciais, de velocidade e ordem. Neste momento, a criança já não depende mais da questão imediata, mas sim do mundo concreto para abstrair. A criança torna-se capaz de compreender o ponto de vista da outra pessoa e de conceitualizar algumas relações. Portanto, é nessa fase que são estabelecidas as bases para o pensamento lógico, próprio do período final do desenvolvimento cognitivo. Esse período tem como marca a aquisição da noção de reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e habilidade de discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar conceitos de tempo e números. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 41 Essa reversibilidade do pensamento possibilita à criança construir noções de conservação de massa, volume etc. Assim, por meio das operações, inicialmente só aplicáveis a objetos concretos e presentes no ambiente, os conhecimentos construídos anteriormente pela criança vão se transformando em conceitos. O raciocínio do sujeito chega ao seu ápice no estágio Operatório-Formal, pois neste momento há a capacidade de olhar além da simples aparência dos objetos. Essa capacidade dedutiva pode ser observada quando alguém conhecido (por exemplo, a mãe) coloca uma máscara, a criança sabe que ainda continua sendo essa pessoa conhecida por detrás da máscara. O pensamento hipotético ocorre de forma correta também nos adolescentes que já conseguem realizar tarefas de seriação de forma apropriada, pois adquiriram a capacidade de colocar objetos em ordem crescente, do menor para o maior. Para finalizar o pensamento, as estruturas cognitivas do sujeito nesta fase, já alcançaram seu nível mais elevado de desenvolvimento, tornando-se assim aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas. Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita a experimentação mental. Isso implica entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses. O adolescente não tem mais necessidade de estar diante dos objetos concretos ou de operar sobre eles para relacioná-los. Ele transforma os dados da experiência em formulações organizadas e desenvolve conexões lógicas entre elas, enfim, é capaz de pensar sobre o seu próprio pensamento ficando cada vez mais consciente das operações mentais que realiza ou que pode ou deve realizar diante dos mais variados problemas. Na teoria de Piaget, a maioria dos alunos pode ser capaz de usar o pensamento operacional formal em apenas algumas áreas nas quais eles tenham mais experiência ou interesse. Por se tratar de estágios sucessivos, cada um deles tem como ponto marcante o aparecimento de uma etapa de equilíbrio, ou seja, uma etapa de organização das ações e das operações do sujeito, descrita mediante uma estrutura lógico-matemática. Em cada um desses estágios o equilíbrio só é alcançado após uma etapa de preparação. A passagem de um estado de menos conhecimento para um estado de conhecimento mais avançado encontra explicação nos estudos de Piaget quando se considera a ação educativa. A aprendizagem escolar não é uma recepção passiva do conhecimento transmitido, mas sim um processo ativo de elaboração, além disso, o processo de ensino deve favorecer a interação múltipla entre os alunos e os conteúdos que eles têm de aprender. Com isso, o aluno constrói o conhecimento por meio das ações efetivas ou mentais que realiza sobre o conteúdo de aprendizagem (COLL; MARTÍ, 2004). A partir destas discussões há que se considerar que atualmente, os achados da Epistemologia Genética principalmente sobre o funcionamento intelectual, continuam sendo utilizados como referência dos enfoques construtivistas em pedagogia e em educação. 42 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância TEORIA DA MEDIAÇÃO DE VYGOTSKY Lev Semenovitch Vygotsky Fonte: <http://pt.wikipedia.orgwikiLev_Vygotsky.jpg> O interesse de Vygotsky (1896-1934) pela psicologia evolutiva e educação serviu de base para o desenvolvimento de suas obras que são atualmente referência no ensino de base Construtivista. Apresenta preocupação com o contexto sociocultural da criança que é considerado fundamental para o seu desenvolvimento. Não apresenta uma Teoria orientada por etapas como outros estudiosos do desenvolvimento humano, porém dá ênfase à experiência, principalmente por considerar o sujeito como ativo no processo de seu desenvolvimento cognitivo (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). É por meio do contexto histórico, social e cultural que este desenvolvimento cognitivo ocorre. As chamadas atividades cognitivas básicas ocorrem de acordo com sua história social. Assim, as habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento são resultados das atividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo está inserido, e não a partir dos fatores congênitos. Vygotsky (1999) não considera apenas um conceito de desenvolvimento, porém para enfatizar a diferença entre o desenvolvimento relacionado às leis biológicas (maturação) e o desenvolvimento mental (aprendizagem realizada no cotidiano) construído da relação eu-contexto social, o autor formula a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Vygotsky afirmou que as crianças aprendem a utilizar os instrumentos para pensar proporcionados pela cultura, por meio de suas interações com parceiros mais habilidosos na zona de desenvolvimento proximal. [...]. As interações na zona de desenvolvimento proximal permitem que as crianças participem de atividades que lhes seriam impossíveis de realizar sozinhas, utilizando instrumentos culturais que devem ser adaptados, eles próprios, a atividades específica em questão (ROGOFF, 2005, p. 51). A aprendizagem ocorre dentro de uma zona de desenvolvimento proximal, ou seja, há uma diferença entre o que a criança sabe fazer sozinha e seu nível de desenvolvimento potencial, que é determinado por meio de resolução de problemas sob orientação adulta ou em colaboração com seus semelhantes mais capazes (VYGOTSKY, 1999). Em outras palavras, é a diferença entre os níveis de desenvolvimento PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 43 real e potencial. A partir disto, o ideal seria que os professores trabalhassem de acordo com a zona de desenvolvimento proximal. Em seguida, quando a criança se tornar mais competente, é chegada a hora de o professor dar ao aluno um pouco mais de responsabilidade pela direção de uma determinada atividade de aprendizagem. Diferente de Piaget, que apresenta a ideia de que uma criança ao explorar o mundo sozinha constrói uma visão de mundo mais adulta, Vygotsky acreditava que as pessoas é que impulsionavam o crescimento mental. É na zona de desenvolvimento proximal que a interferência de outros indivíduos é mais transformadora. Processos já consolidados, por um lado, não necessitam da ação externa para serem desencadeados, processos ainda nem iniciados, não se beneficiam dessa ação externa. Para a criança que já sabe amarrar sapatos, por exemplo, o ensino desta habilidade seria completamente sem efeito, já para um bebê a ação de um adulto que tenta ensiná-lo a amarrar sapatos, é também sem efeitos, pelo fato de que a habilidade está muito distante do horizonte de desenvolvimento de suas funções psicológicas. Só se beneficiaria do auxílio na tarefa de amarrar sapatos a criança que ainda não aprendeu bem a fazê-lo, mas já desencadeou o processo de desenvolvimento dessa habilidade. O desenvolvimento humano passa, necessariamente pelo outro, portanto, a história de cada uma das funções psíquicas é uma história social. Por isso poderíamos dizer que é por meio dos outros que nos tornamos nós mesmos e esta regra se aplica não só ao indivíduo como um todo, mas também a história de cada função separadamente. Isso também constitui a essência do processo do desenvolvimento cultural traduzido numa forma puramente lógica. O indivíduo torna-se para si o que ele é em si pelo que ele manifesta aos outros (VIGOTSKI, 1997, p. 105 apud PINO, 2005, p. 66). O ser humano torna-se ser humano, de acordo com as explicações de La Taille (1992), a partir de sua relação com o outro social, assim a cultura passa a fazer parte da natureza humana por um processo histórico que molda o psicológico do homem, conforme este se desenvolve. Para o autor, as proposições de Vygotski nos faz entender a natureza dos seres humanos, membros da “espécie biológica que só se desenvolve no interior de um grupo cultural” (p.24). A constituição da criança como ser humano é portanto, algo que depende duplamente do Outro: primeiro, porque a herança genética da espécie lhe vem por meio dele, segundo, porque a internalização das características culturais da espécie passa, necessariamente por ele, como o deixa claro a análise de Vigotski (PINO, 2005, p. 154). As relações sociais dos seres humanos, segundo La Taille (1992), são mediadas por instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente pelos próprios homens, e é a linguagem humana o instrumento de comunicação e síntese do conhecimento, que nos diferencia dos outros animais. Segundo Pino (2005), Vygotsky atribui ao signo ou à palavra um meio de interação fundamental no processo de desenvolvimento da criança, visto que a palavra ou o signo veiculam significados historicamente produzidos, além de serem representações e expressões das ideias dos homens, refletem, ainda, a sua relação com o outro e com a natureza. Vigotski sustenta que a união da atividade prática com o signo ou a palavra constitui ‘o grande momento do desenvolvimento intelectual em que ocorre uma nova reorganização do comportamento da criança’ (VIGOTSKI, 1994, p. 115 apud PINO, 2005, p. 137). De acordo com Shaffer (2005), por meio do diálogo que a criança mantém com as pessoas em diferentes 44 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância ambientes de convívio, a mesma aprende e descobre novos princípios, estimulando assim o crescimento cognitivo. O autor denomina este processo de: aprendizado do pensamento e participação orientada. [...]. A participação orientada é um aprendizado de pensamento de modo informal, no qual a cognição das crianças é moldada à medida que estas façam parte, junto com os adultos ou participantes mais habilidosos, das experiências do dia-a-dia da cultura que estão inseridas (p. 249). Ainda segundo Shaffer (2005), a linguagem do ponto de vista de Vygotsky, possui papel relevante no desenvolvimento cognitivo da criança, primeiro por ser uma forma de transmissão de modelos culturais e segundo por ser uma das “ferramentas mais poderosas de adaptação intelectual em si mesma” (p. 253). Vygotsky, Luria e Leontiev (1998) explicam que o que determina o desenvolvimento da criança é sua própria condição de vida, ou seja, “os processos reais desta vida” (p. 63). Assim, pode-se justificar que a criança se desenvolve a partir das condições do meio, em que está inserida, lhe oferece, por meio de interações que mantém com o outro por meio do diálogo e a imitação. “Ela assimila o mundo objetivo como um mundo de objetos humanos reproduzindo ações humanas com eles” (p. 59). Pesquisadores influenciados pelas ideias de Vygotsky estudam como o contexto cultural influencia as primeiras interações sociais que podem promover competência cognitiva. No caso, há também a responsabilidade dos pais em criarem um ambiente doméstico que possa estimular positivamente as capacidades de processamento de informações dos filhos. O crescimento cognitivo da criança ocorre como um processo cooperativo. Ela aprende a partir da interação social, essencial no seu processo de desenvolvimento, as trocas de experiência e conhecimento vivenciadas constituem uma troca de significados. Nesta perspectiva, o ser humano se constitui enquanto tal na sua relação com o outro, assim, um conceito importante na teoria é a mediação (pressuposto da relação eu-outro), que se dá pela possibilidade de interação com signos, símbolos e objetos (VYGOTSKY, 2002). No caso do professor, este deve ajustar seu nível de ajuda ao nível de desempenho da criança, enquanto dirige o progresso da aprendizagem para o nível superior da sua zona de desenvolvimento proximal. Quando é solicitado para a criança a realização de uma tarefa que aparentemente ela não é capaz de realizar é que se pode observar este processo de mediação. Esta tarefa específica de resolução de problema está dentro da zona de desenvolvimento proximal da criança, porém sozinha ela não consegue resolver. Neste momento, entra o professor como suporte, que irá dividir a tarefa em etapas. Durante o processo de mediação o professor age como um andaime, que dará indicações à criança de como resolver o problema por etapas, consequentemente irá dar apoio a cada progresso da criança. Após cumprir a tarefa pode-se pedir para a criança realizá-la novamente, mas com menos ajuda do que antes. O professor constrói este andaime de apoio que permite a aprendizagem da criança, assim que ela se torna capaz de realizar a PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 45 tarefa sozinha, este andaime deixa de ser necessário (GRIGGS, 2009). Este processo de mediação ocorre pelo uso de instrumentos e signos. Os instrumentos utilizados podem ser aqueles que apresentam alguma utilidade prática para a realização da tarefa, no caso instrumentos físicos. Já os signos são elementos que lembram ou simbolizam algo, traz um significado implícito. Conhecidos também como instrumentos simbólicos têm como exemplo a linguagem, que pode ser considerado um sistema simbólico fundamental em todos os grupos humanos, elaborado ao longo da evolução humana (VYGOTSKY, 2002). O componente contextual da teoria vygotskiana remete-se ao fato de que o desenvolvimento de crianças de uma determinada cultura ou grupo cultural pode não ser uma norma apropriada para crianças de outras sociedades ou grupos culturais. Isso faz menção a respeito de que nenhuma teoria de desenvolvimento humano é universalmente aceita, e nenhuma perspectiva teórica explica todas as facetas do desenvolvimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro aluno, nesta unidade foram apresentadas as principais abordagens teóricas que discutem o desenvolvimento humano, cada uma de acordo com sua perspectiva. As discussões das teorias de Piaget e Vygotsky são as mais utilizadas atualmente no âmbito da Psicologia Educacional para compreender o desenvolvimento humano sob a ótica de cada um destes autores. O conhecimento do ser humano é o foco das discussões dos autores apresentados, seja dependente das estruturas cognitivas e da relação do indivíduo com os objetos que o cercam (Piaget), seja por meio da mediação de alguém próximo a este sujeito (Vygotsky). Espero que a partir do que foi exposto, você possa entender melhor como aplicar estes conceitos no seu cotidiano profissional. “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe” – Jean Piaget. “Através dos outros, nos tornamos nós mesmos” – Lev Vygotsky. 46 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância Para compreender um pouco mais da relação da Teoria Histórico-cultural com a educação, um estudo é apresentado como uma revisão de alguns trabalhos que objetivavam abordar as interlocuções entre o pensamento de Paulo Freire e Lev Vygotsky na educação escolar. O principal ponto de reflexão deste trabalho é examinar algumas articulações entre as ideias de Freire e Vygotsky tais como: linguagem, concepção de conhecimento e mediação. Revista: Pro-Posições (Campinas). Título do Artigo: Freire e Vygotsky: um diálogo com pesquisas e sua contribuição na Educação em Ciências. Autores: Simoni Tormöhlen Gehlen, Otavio Aloisio Maldaner e Demétrio Delizoicov. Referência: GEHLEN, S. T.; MALDANER, O. A.; DELIZOICOV, D. Freire e Vygotsky: um diálogo com pesquisas e sua contribuição na Educação em Ciências. Pro-Posições, Campinas, v. 21, n. 1 (61), pp. 129-148, jan./abr. 2010. Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/pdf/pp/v21n1/v21n1a09.pdf>. SOBRE AS PUBLICAÇÕES ACERCA DA TEORIA DE VYGOTSKY Apresento neste momento um levantamento bibliográfico, ou seja, uma reprodução parcial de um trabalho de pesquisa realizado por Jefferson Mainardes e publicado em J. B. Martin (org.) “Na perspectiva de L. S. Vygotsky”, Londrina: Quebra Nozes, 1999, pp. 81-102. A finalidade de incluí-lo aqui é a de oferecer ao leitor uma visão, mesmo incompleta, de trabalhos produzidos no Brasil em torno das ideias de Vygotsky, o que dá uma leve ideia da sua penetração nos nossos meios. Revista: Educação e Sociedade. Título do Artigo: Publicações brasileiras na perspectiva vygotskiana. Autores: Jefferson Mainardes (Professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa), e Angel Pino (Faculdade de Educação, Unicamp). Referência: MAINARDES, Jefferson; PINO, Angel. Publicações brasileiras na perspectiva vigotskiana. Educ. Soc., Campinas, v. 21, n. 71, jul. 2000. Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302000000200012&script=sci_ arttext&tlng=es>. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1- Nesta unidade foram apresentadas 4 abordagens teóricas que são as mais estudadas quando o assunto é desenvolvimento humano. Cite quais são as 4 abordagens e faça uma explanação acerca de duas delas. 2- Apresente as principais características da Epistemologia Genética de Piaget tendo como foco os mecanismos de adaptação. 3-Explique como o conceito de mediação apresentado por Vygotsky pode ser aplicado atualmente, quanto ao papel do professor que atua na modalidade de Ensino a Distância. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 47 Para saber um pouco mais sobre o que Jean Piaget fala sobre o conhecimento do ser humano, nada melhor do que saber como ele discute isso em uma entrevista que é apresentada no site da Associação Brasileira de Estudos das Inteligências Múltiplas e Emocionais (ABRAE). Este material que se encontra no site da ABRAE foi cedida pela Universidade de Genebra que tem em seu acervo uma entrevista cedida por Jean Piaget e sua colaboradora Barbel Inhelder em que os principais assuntos são o conhecimento e a inteligência. No site da ABRAE as entrevistas estão transcritas com o idioma inglês, e apenas um resumo está traduzido, e este será apresentado aqui neste livro. No entanto, para ter acesso ao texto integral da tradução, o site indica enviar um e-mail para [email protected] e solicitar o mesmo. ENTREVISTA COM JEAN PIAGET E BARBEL INHELDER (cedido pela Universidade de Genebra-Arquivo Jean Piaget) Resumo da Entrevista CONHECIMENTO e INTELIGÊNCIA SEGUNDO PIAGET Segundo Piaget o desenvolvimento da inteligência é explicada pela relação recíproca com a gênese da inteligência e do conhecimento. Piaget criou um modelo epistemológico com base na interação sujeito-objeto. Pelo modelo epistemológico o conhecimento não está nem no sujeito, nem no objeto, mas na interação entre ambos. A formação do conhecimento depende da ação simultânea do sujeito e objeto, um sobre o outro e, portanto é possível afirmar que o conhecimento se forma enquanto o sujeito e o objeto também vão se formando. A ação tem a função de estabelecer o equilíbrio rompido entre o sujeito e seu meio ambiente, ou seja, é o elo entre o indivíduo e o mundo exterior. Este elo envolve o aspecto energético (afetividade) e o estrutural (cognição), portanto, a formação do conhecimento, segundo Piaget, envolve a vida cognitiva que se completam no processo. Para Piaget existem duas formas de conhecimento: a. Conhecimento Físico – consiste no sujeito explorando os objetos; b. Conhecimento lógico-matemático – consiste no sujeito estabelecendo novas relações com os objetos. INTELIGÊNCIA para Piaget é o processo interacional entre o sujeito e o objeto, ou seja, inteligência é a capacidade do sujeito em adaptar-se à realidade num processo dinâmico no qual o sujeito modifica os objetos e é modificado por eles. Sob o ponto de vista da Epistemologia Genética a inteligência é um processo dinâmico que surge no início de sua gênese, de processos orgânicos e aí inicia sua elaboração que evolui e passa a recorrer a funções cognitivas como memória, percepção, hábitos que formam os primeiros instrumentos de trocas funcionais. Essas trocas funcionais passam a integrar operações, ou seja, transformações que engendram pensamento e raciocínio. Em síntese, inteligência é um processo ativo de interação entre sujeito e objeto, a partir de ações que iniciam no organismo biológico e chegam à operações reversíveis entre o sujeito e sua relação com os objetos, portanto é algo construído e em permanente processo de transformação. Link para acessar a entrevista: <http://www.abrae.com.br/entrevistas/entr_pia.htm>. 48 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância UNIDADE III BEHAVIORISMO E PSICANÁLISE Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira Objetivos de Aprendizagem • Analisar as contribuições da Teoria Behaviorista de Skinner para o desenvolvimento humano. • Apresentar os principais conceitos da Teoria Psicanalítica de Freud. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A Teoria Behaviorista de Skinner • Principais conceitos da Teoria Psicanalítica de Freud INTRODUÇÃO Caro aluno, nesta unidade serão apresentadas a você duas teorias da Psicologia que há muito tempo são consideradas as principais influenciadoras das questões atuais quanto ao conhecimento do ser humano. Primeiro as ideias de Skinner acerca de um ponto principal de sua teoria que é o comportamento, considerado por ele, o objeto de estudo mais adequado da Psicologia. Por meio das investigações feitas por ele, o comportamento pode ser definido por meio das unidades analíticas estímulo e resposta, que são também utilizados pela ciência chamada Análise do Comportamento. Já Freud desenvolve a Psicanálise como um campo clínico e de investigação da psique humana. Sua contribuição para a Psicologia engloba a compreensão do homem enquanto um sujeito do inconsciente. A partir deste objetivo, a Psicanálise se torna uma teoria da personalidade humana, e Freud define 5 fases do desenvolvimento do homem que são importantes para compreender quais as principais características que o sujeito apresenta em cada uma delas. Além disso, todas as fases que são apresentadas no que Freud define como Desenvolvimento Psicossexual, contêm zonas erógenas, instâncias de personalidade e complexos ou conflitos. A partir do que será apresentado a você, espero que contribua para seu maior conhecimento acerca do ser humano, bem como compreender que são duas teorias com ideais diferentes, e também com aplicações diferentes. É claro que não objetivo aqui esgotar os conteúdos das teorias apresentadas, mas espero que contribua tanto para seu desempenho profissional, quanto para sua evolução enquanto ser humano. INTRODUÇÃO AO BEHAVIORISMO O behaviorismo antigo era baseado no realismo, ou seja, defendia que há um comportamento real, que ocorre no mundo real, e que nossos sentidos nos fornecem apenas dados sensoriais sobre aquele comportamento real que nunca conhecemos diretamente (BAUM, 1999). Em 1930 Watson escreveu sobre como o Behaviorismo Radical atuava: “Dê-me uma dúzia de bebês saudáveis... e eu garanto escolher qualquer um aleatoriamente e treiná-lo para ser qualquer especialista de minha escolha – médico, advogado, artista, comerciante e, sim, até mendigo e ladrão”. O Behaviorismo Radical pode ser considerado como tendo uma visão de mundo comportamental que se concentra no registro e modificação apenas de comportamentos “objetivos” que são visíveis externamente. Já na metade do século XX, os trabalhos de Edward Tolman, Edwin Guthrie, Clark Hull e Burrhus Skinner deram início ao segundo estágio do chamado neocomportamentalismo. Estes trabalhos tinham como objetivo promover o progresso e a consolidação da abordagem comportamentalista na psicologia PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 51 (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). O principal representante desta área é Skinner, que com suas obras atraiu muitos seguidores que se interessavam pelo estudo do comportamento humano. A TEORIA BEHAVIORISTA DE SKINNER Nos primórdios do Behaviorismo, Watson afirmava que a psicologia deveria restringir-se aos dados das ciências naturais, ou seja, àquilo que era passível de ser observado, em outras palavras, o comportamento. Para isso, utilizava-se de alguns métodos de investigação que eram: 1) Observação; 2) Métodos de Teste; 3) Método de Relato Verbal; 4) Método do Reflexo Condicionado. 1) Método de Observação – Observação por si só, sem necessidade de mais explicações. É a base de todos os outros métodos. 2) Métodos de Teste – Já eram utilizados, mas Watson colocou que os resultados tivessem o tratamento de amostras de comportamento, e não medidas de qualidades mentais. Isto porque, para ele, os testes não poderiam medir a inteligência e nem a personalidade de uma pessoa. Mas a única coisa que os testes poderiam medir eram as respostas dadas pelo sujeito diante de uma situação de estímulo. 3) Método de Relato Verbal - As reações verbais, por serem objetivamente observáveis, são tão significativas para o behaviorismo quanto qualquer outro tipo de reação motora. Método passa a ser limitado para situações passíveis de verificação, isso ocorreu ao perceber que este método inexato e não substituía satisfatoriamente outros métodos que eram mais objetivos no processo de observação. 4) Método do Reflexo Condicionado – Mais importante método de investigação, dizendo que o comportamento seria o substituto do estímulo. Esta abordagem proporcionava a Watson um método objetivo de análise do comportamento, ou seja, a redução do comportamento as suas unidades elementares, os vínculos estímulo-resposta. Watson não conseguiu transformar a Psicologia de uma hora para outra, como ele queria. Porém, livros sobre Watson foram importantes para Skinner levar seu interesse literário pelas pessoas para um interesse mais científico. Skinner se manteve ativo na ciência até a morte, em seus últimos anos de vida, construiu no porão de sua casa, a sua própria “caixa de Skinner”. Nascido em 1904, na Pensilvânia, Skinner é considerado por alguns o mais famoso psicólogo americano do mundo, e ainda um dos mais importantes psicólogos da história da Psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Skinner foi um comportamentalista ardente, convencido da importância do método objetivo, do rigor experimental, da capacidade da experimentação cuidadosa e da ciência indutiva para resolver os problemas comportamentais mais complexos. A teoria de Skinner foi muitas vezes descrita como uma teoria de estímulo-resposta, mas ele próprio não aceitava essa denominação, visto que a marca registrada do condicionamento operante de Skinner é que o controle reside nas consequências do comportamento. A meta da ciência de Skinner é o controle, a predição e a interpretação do comportamento (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Os princípios de Skinner foram derivados de experimentações precisas, e ele demonstrava mais respeito 52 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância por dados bem controlados do que qualquer teórico comparável. Em seus estudos de esquemas de reforço, Skinner apresentou achados que têm uma regularidade e especificidade que rivalizam com os de qualquer cientista físico. Com foco no estudo de sujeitos individuais, a crença era de que o controle da lei pode ser visto no comportamento individual. Assim, dizia que a Psicologia deveria centrar-se em eventos comportamentais simples, antes de tentar entender eventos mais complexos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). De acordo com Skinner (2006), o comportamento é o produto de forças que agem sobre o indivíduo, não de uma escolha pessoal. O interesse pelo comportamento tem origem no seu desejo de manipulá-lo, por meio do que ele chama de controle (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Devido seu grande interesse pelo comportamento e pouco interesse pelo que ocorre no interior do organismo, este comportamentalismo descritivo tem sido chamado de “abordagem do organismo vazio”. Porém, ao contrário do que muitos pensam, Skinner não propõe que os estados internos do organismo não existam, apenas postula que eles não podem servir como as causas em uma análise científica do comportamento. Pois para ele, a melhor maneira de estudar o comportamento é examinar como ele se relaciona a eventos que já ocorreram, assim seria possível explicar e controlar esse comportamento puramente pela manipulação do ambiente em que o organismo se comporta (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Além disso, Skinner não afirmou que o comportamento de um indivíduo é produto unicamente do ambiente, reconhece que alguns comportamentos podem ter uma base genética. Durante seus estudos e publicações, um aspecto que merece ser destacado na Teoria de Skinner é a distinção entre Comportamento Operante e Comportamento Respondente, sendo o foco de Skinner no comportamento operante, visto que é emitido na ausência de qualquer estímulo motivador. Descrito nos experimentos de Pavlov, o comportamento respondente é uma resposta comportamental provocada por um estímulo observável específico. Já o comportamento operante, como já dito, ocorre sem nenhum estímulo externo observável, sendo a resposta do organismo aparentemente espontânea. Porém, isso não significa que não exista de fato um estímulo, apenas não se detecta nenhum quando da ocorrência da resposta (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Quando uma resposta operante é condicionada, é essencial que o reforço seja apresentado depois da ocorrência da resposta, só dessa maneira a frequência da resposta irá aumentar. Além disso, o comportamento operante opera no ambiente do organismo, e o respondente não. Nos estudos de laboratório de Pavlov, com o cão preso em arreios o comportamento respondente pode ser observado. O cão preso, não pode fazer mais nada a não ser responder quando o pesquisador lhe apresenta o estímulo, ele não pode agir por sua própria conta para conseguir o estímulo. Já o comportamento operante é visível nos experimentos de Skinner com o rato. Quando o rato pressiona a barra, recebe comida, ele não recebe nenhuma comida enquanto não pressionar a barra, ou seja, com isso ele opera no ambiente. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 53 O rato, privado de comida, era colocado na caixa e ficava livre para explorar o ambiente, durante esta exploração ele acidentalmente pressionava uma alavanca que ativava um mecanismo que liberava uma pelota de alimento em uma bandeja. O recebimento da comida funcionava como reforço, e após algumas ocorrências o condicionamento costumava ser rápido. Confirmando assim que a força de um comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresentação de um reforço adicional (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). No que tange à aprendizagem, Skinner considerava que respostas que são recompensadas, ou seja, reforçadas, serão aprendidas, ao contrário, respostas que não são reforçadas vão desaparecer. Os reforços são esquemas que apresentam algumas características. A importância dos vários esquemas é, por um lado, que eles apresentam correspondência com muitas situações de aprendizagem que interessam ao investigador ou teórico da personalidade. Por outro lado, eles se relacionam a determinados padrões de aquisição e extinção das respostas que estão sento aprendidas (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Duas contingências operantes na teoria de Skinner são o Reforço Positivo e o Reforço negativo. No Reforço positivo há a apresentação de um estímulo agradável após a emissão de um comportamento tido como desejável. Com isso, aumenta-se a frequência deste comportamento desejável. Já no Reforço Negativo ocorre a remoção de um evento desagradável após o comportamento desejado, assim como o primeiro, este tem o objetivo de aumentar a frequência do comportamento, porém não é tão simples de ser compreendido. Exemplo de como isso ocorre no cotidiano é o caso do doente que toma o remédio. Se ele tomar o remédio (comportamento) a dor (evento desagradável) irá passar. Serão descritos agora alguns programas de reforço que demonstram como Skinner desenvolveu seus conceitos a partir de experimentos com animais. Em seu experimento com um pombo faminto, se o alimento (que neste caso é o reforço) for apresentado todas as vezes que ele bicar o disco, o bicar o disco irá ocorrer rapidamente em ocasiões seguintes, este esquema é chamado de reforço contínuo. Outro tipo de reforço ocorre quando o alimento é apresentado somente em algumas ocasiões em que o pombo bica o disco. Se esse reforço for contingente a um intervalo de tempo é chamado de reforço de intervalo, mas se este intervalo for imutável tem-se um esquema de reforço de intervalo fixo. Skinner investigou ainda o reforço de razão, neste caso o reforço é apresentado depois de um número determinado de respostas do animal, ou seja, o comportamento do animal determina a frequência do reforço. Para que se fique mais compreensível a questão do Reforço na teoria de Skinner serão apresentados agora os tipos de reforço de forma mais detalhada. Porém, vale ressaltar, que é sempre importante variar o tipo de reforço, para que se obtenha maior eficácia. Reforço contínuo – o reforço ocorre toda vez em que o comportamento é emitido. Considerado o melhor tipo de reforço usado para fortalecer um comportamento quando ele está em seu início. Assim, toda resposta desejada, ou todo comportamento desejado, é reforçado. É também a forma mais rápida de estabelecer um novo comportamento. Para resultar em saciação, o reforço contínuo pode ser utilizado 54 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância em alta frequência. Reforço de Intervalo – os esquemas de intervalo são contingentes à passagem de tempo entre uma resposta e outra. Este intervalo pode ser fixo, ou seja, o tempo entre uma resposta e outra é o mesmo, independentemente da quantidade de respostas dadas. Mas também pode ser variado, neste caso, o reforço ocorre depois da primeira resposta em um intervalo médio e resulta em resposta em frequência baixa. A melhor maneira de se manter o comportamento por um longo período de tempo é a utilização do reforço por intervalo, pois você evita a saciação do organismo, tendo sempre a necessidade de emitir um comportamento para se obter o reforço desejado. Entretanto, além das questões de reforço, Skinner (2006) apresenta os chamados estímulos adversativos, que produzem uma série de condições corporais sentidas ou introspectivamente observadas. No caso do condicionamento respondente, se um estímulo anteriormente neutro, como uma campainha, for frequentemente seguido, após um intervalo, de um estímulo noviço, tal como um choque elétrico, a campainha acaba por suscitar reações, principalmente no sistema nervoso autônomo, que são sentidas como ansiedade (p. 55). Neste caso, a campainha se torna um estímulo adversativo condicionado, modificando a probabilidade de um comportamento positivamente reforçado que esteja em andamento. A ansiedade sentida pela pessoa não é a responsável pela mudança de comportamento, e sim as contingências adversativas que geram a condição sentida como ansiedade. Outro ponto analisado ainda por Skinner (2006) é a punição, muito confundida com o reforço negativo. O reforço negativo gera um comportamento, já a punição tem como objetivo a extinção de um comportamento. Quando o sujeito é punido ele continua “inclinado” a comportar-se de forma punível, mas está sempre tentando evitar a punição, fazendo outra coisa, talvez por teimosia, não faz nada. De acordo com a frequência, a severidade e o esquema de punição imprimido, pode-se gerar outros aspectos do comportamento, que são geralmente atribuídos a sentimentos ou traços de caráter. Quanto à punição também existem dois tipos: Punição Positiva – neste caso ocorre a apresentação de uma consequência desagradável após a realização de um comportamento tido como não desejado. Utilizado para a diminuição de um comportamento. Pais repreendem (punição) seus filhos quando eles fazem birra (comportamento não desejado). Punição Negativa – neste caso há a retirada de um evento agradável após a realização de um comportamento que é tido como não desejável. Também utilizado para diminuir a frequência do comportamento. Assistir televisão é algo que as crianças gostam muito, e isso é um evento agradável, mas caso a criança quebre o controle da televisão (comportamento não desejável) ela pode receber como castigo ficar uma semana sem assistir ao seu desenho preferido (retirada do evento agradável). Segundo os especialistas, a técnica mais eficaz e recomendada para alterar o comportamento é a extinção e não a punição, visto que a punição pode gerar consequências adversas. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 55 Faz-se importante, neste momento, discutir algo sobre a noção de personalidade para Skinner. Ao se considerar a análise do comportamento por meio da seleção natural, do condicionamento operante e das contingências sociais, que são os três níveis de seleção pelas consequências, as diferentes contingências de reforço podem levar a diferentes pessoas, inclusive sob a mesma pele. Ou seja, o nível de seleção por condicionamento operante permite ao organismo tornar-se pessoa, enquanto repertório de comportamentos. Concluindo, em uma análise behaviorista radical, não cabe a noção de uma entidade interna, personificada e implementadora de ações externamente observáveis (SKINNER, 1994). Ainda sobre personalidade, Skinner (2006) argumentou persuasivamente que ela não é nada além de uma coleção de padrões de comportamento e que, quando nos perguntamos sobre o desenvolvimento da personalidade, estamos apenas perguntando sobre o desenvolvimento desses padrões de comportamento. Acreditava ainda que se possa predizer, controlar e explicar os desenvolvimentos, examinando como o princípio do reforço funciona para explicar o comportamento atual de um indivíduo como um resultado de reforço de respostas prévias. A maioria dos aspectos da personalidade é demonstrada em um contexto social, e o comportamento social é uma característica muito importante do comportamento humano em geral. Skinner não atribuiu nenhuma importância especial ao comportamento social como distinto de outros comportamentos, o comportamento social caracteriza-se apenas pelo fato de envolver uma interação entre duas ou mais pessoas. Em cada caso o organismo em desenvolvimento interage com o ambiente e, como parte dessa interação, recebe um feedback que reforça positiva ou negativamente ou pune aquele comportamento. Para finalizar, o Behaviorismo de Skinner postula que o ponto a ser atacado no ser humano é de fácil acesso, no caso é o ambiente que deve ser mudado. O homem pode controlar seu próprio destino porque sabe o que deve ser feito e como ser feito. TEORIA PSICANALÍTICA DE FREUD – PRINCIPAIS CONCEITOS Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg na Moravia, filho de Jacob e Amalie Nathansohn (terceira esposa de Jacob). Seu pai Jacob era um comerciante de lã e antes de se casar com Amalie já havia se casado outras duas vezes. Em 1865 Freud iniciou sua educação formal no Leopoldstaedter Realgymnasium (Manchester, Inglaterra) e ingressou na Universidade de Viena para estudar medicina em 1873. Durante os anos na Universidade Freud foi influenciado pelos pensamentos de vários filósofos como Schopenhauer cujo conceito de vontade deu forma às ideias de Freud sobre o inconsciente. Em 1881 qualificou-se como doutor em Medicina e ficou noivo de Martha Bernays. O primeiro trabalho de Freud como médico ocorreu no Hospital Geral de Viena onde foi apresentado à Psiquiatria. Os estudos sob a orientação de Jean-Martin Charcot iniciaram-se em 1885 quando Freud ganhou uma bolsa de estudos que lhe permitiu desenvolver pesquisas no Salpêtrière, em Paris. A influência de Charcot em Freud foi tanto intelectual, exemplo da hipnose no tratamento da histeria, quanto pessoal, visto que Freud deu o nome de Jean-Martin ao seu primeiro filho. 56 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância Ao retornar de Paris Freud especializou-se em doenças do sistema nervoso chegando até o cargo de diretor da seção de neurologia do Instituto Max Kassowitz para Doenças Infantis. Seu método terapêutico baseado na hipnose começou a se tornar limitado após alguns estudos e isso voltou sua atenção para um método que lhe foi apresentado por um médico vienense chamado Josef Breuer, método que consistia em encorajar os pacientes histéricos a falar livremente sobre as primeiras ocorrências de seus sintomas, porém os pacientes em geral se recusavam. Freud desenvolveu esse método e sugeriu que muitas neuroses como fobias e paralisias histéricas tinham origem em experiências bastante traumáticas, há muito esquecidas. Assim que essas experiências eram trazidas de volta à consciência e confrontadas de maneira abrangente, as causas subjacentes seriam removidas e os sintomas desapareceriam. A Psicanálise e Freud são conhecidos em todo o mundo. Em termos históricos a Psicanálise surge e se desenvolve em meio às outras abordagens teóricas da psicologia. Freud foi influenciado, durante seus estudos, por filósofos como Schopenhauer, cujo conceito de vontade deu forma às ideias de Freud sobre o inconsciente. O método inicial de seu trabalho era baseado na hipnose, porém, após algum tempo este método começou a ficar limitado, dando lugar ao que se conhece por associação livre, que consiste em encorajar os pacientes a falar livremente sobre as primeiras ocorrências de seus sintomas. Mas no início do seu uso, os pacientes histéricos tinham dificuldade e se recusavam a falar (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Seu contato com o médico Breuer deu origem a este método, porém, esta parceria terminou após a publicação do texto de Freud “Estudos sobre a Histeria”, o que causou em Breuer um descontentamento, pois considerava a ênfase no conteúdo sexual das neuroses como excessiva e injustificada. O interesse pelos assuntos sexuais em Viena, cidade em que viveu a maior parte de sua vida, era visível no cotidiano e na literatura científica (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). A teoria da Psicanálise teve seu início no final do século XIX. Alguns dos pontos mais importantes desta teoria são muito utilizados e considerados na atualidade. Conceitos como id, ego, superego, mecanismos de defesa, conflito edípico são importantes também para diferenciar a teoria psicanalítica das outras teorias psicodinâmicas da atualidade, as chamadas teorias neofreudianas (GRIGGS, 2009). A preocupação de Freud pelas forças inconscientes que motivam o comportamento humano colaborou para desenvolver uma abordagem terapêutica com o objetivo de fazer o paciente compreender seus conflitos emocionais inconscientes. Isso era feito por meio de perguntas destinadas a evocar lembranças que já haviam sido esquecidas pelo sujeito. Com isso, Freud concluiu que a origem das perturbações emocionais está nas experiências traumáticas reprimidas da primeira infância (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). A partir de sua prática profissional, Freud descobriu que utilizando o método de tratamento da Psicanálise alguns pacientes não apresentavam propensão à associação livre, esses tinham resistência ao tratamento. Essas resistências indicavam que o paciente em questão havia evocado em seu inconsciente alguma PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 57 lembrança ou ideia considerada repulsiva, horrível, vergonhosa para ser enfrentada. Esse aspecto poderia ser considerado uma proteção contra um sofrimento emocional causado pela lembrança de algo ruim. Mas esta lembrança, que levava à dor, indicava também que a análise estava se aproximando da fonte real do problema. Por meio da resistência, Freud formulou o princípio da repressão, processo que indicava ejetar ou excluir ideias, lembranças ou desejos inaceitáveis da percepção consciente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Mas por que a repressão? Porque era a única explicação para a ocorrência das resistências. Assim, os pensamentos e as ideias que são consideradas desagradáveis são expulsos da consciência e mantidos à força fora dela. O papel do terapeuta, neste caso, é fazer com que o paciente traga de volta estes impulsos para a consciência, e assim poder enfrentá-los e aprender a conviver com eles. Ao começar seu trabalho com pacientes com transtornos emocionais Freud teve certeza de que o sexo era uma causa primordial de problemas emocionais. Assim, o sexo, incluindo a sexualidade infantil, tornou-se um componente essencial da teoria da personalidade de Freud (GRIGGS, 2009). Para se compreender melhor a Psicanálise de Freud serão abordados agora os três elementos principais dessa abordagem: 1 – o papel do inconsciente, 2 – as três instâncias psíquicas, id, ego e superego, 3 – a teoria do desenvolvimento da personalidade que é baseada na sexualidade humana (GRIGGS, 2009). Fonte: PHOTOS.COM As tópicas freudianas podem ser descritas neste momento. Tópica seria uma teoria ou um ponto de vista que supõe uma diferenciação do aparelho psíquico do ser humano em alguns sistemas dotados de características ou funções diferentes e dispostos em uma ordem, uns em relação a outros. Assim, é possível caracterizá-lo como lugares psíquicos de que se pode fornecer uma representação figurada espacialmente. As duas tópicas de Freud são as considerações da primeira abordagem (Inconsciente) e da segunda (Id, ego e superego). Sobre o primeiro destes elementos, Freud considerava 3 níveis de consciência do ser humano: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Sendo comparado a um iceberg, o consciente seria a pontinha deste, ou seja, aquilo que fica visível, acima da superfície. A parte do iceberg que fica logo abaixo da superfície é a mente pré-consciente, neste caso corresponde aquilo que está armazenado na memória do sujeito, não se tem consciência deste conteúdo, mas podemos acessá-lo. Mas o investimento de Freud foi mesmo nos achados sobre o inconsciente, é a parte oculta do iceberg, é no inconsciente que segundo Freud, existiam 58 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância as motivações essenciais de todas as nossas ações e sentimentos. Tendo como objetivo trazer à percepção consciente lembranças ou pensamentos reprimidos (que estão no inconsciente), a Psicanálise supõe que essas lembranças e pensamentos eram a fonte do comportamento anormal do paciente. Por meio da associação livre, técnica desenvolvida após o abandono da hipnose, as lembranças do paciente iam invariavelmente à infância, e muitas destas experiências reprimidas que são recordadas têm relação com questões sexuais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Inconsciente é muitas vezes utilizado para exprimir o conjunto dos conteúdos não presentes no campo efetivo da consciência. No inconsciente estão os conteúdos recalcados, ou seja, aqueles conteúdos aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente-consciente, isso pela questão do recalque. As principais características do inconsciente são: conteúdos que representam as pulsões. Esses conteúdos são controlados por mecanismos como a condensação e o deslocamento. Esses conteúdos são ainda muito investidos de energia pulsional, procuram sempre retornar à consciência e à ação. A segunda tópica freudiana corresponde à estrutura da personalidade que para Freud era constituída por três instâncias psíquicas, id, ego e superego, que correspondem ao segundo elemento da Psicanálise. A personalidade do sujeito é o produto da interação dinâmica desses três elementos (GRIGGS, 2009). O id é a personalidade original, é a única das três instâncias presentes no nascimento, pois é dela que emergem as outras duas. Ele inclui impulsos instintivos biológicos, partes primitivas da personalidade localizadas no inconsciente. O id contém energia psíquica e tenta a todo o momento satisfazer os impulsos instintivos de acordo com o princípio do prazer, como se fosse uma criança mimada. Como não podemos sair por aí satisfazendo todas as nossas necessidades, nossa personalidade se desenvolve na medida que encontramos maneiras de atender às nossas necessidades dentro de certas limitações sociais (FREUD, 1923). O id constitui o elemento pulsional da personalidade do ser humano, sendo que seus conteúdos são inconscientes. Neste ínterim, o ego surge como o mediador entre o id e o mundo exterior, facilitando esta interação. Ele representa o que se chama por razão ou racionalidade, por isso opera pelo que Freud denominou princípio da realidade. O ego deriva da força do id, por isso sempre busca sua satisfação desde que seja encontrada uma forma apropriada para isso (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). O ego se encontra em uma relação de dependência tanto das reivindicações do id (satisfação do prazer) quanto dos imperativos do superego (exigências da realidade). Como o ego funciona como o gerente da personalidade, ele precisa ser um mediador não apenas entre os impulsos instintivos do id e da realidade, mas tem a função também de mediar os impulsos da terceira instância psíquica da personalidade, o superego, que representa a consciência e os padrões de comportamento que são idealizados em determinada cultura. O superego também deriva da energia do id, porém se desenvolve durante a infância e alcança todos os níveis da consciência. Neste caso, o superego age de acordo com o princípio da moralidade (GRIGGS, 2009). PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 59 O papel do superego pode ser assimilado ao de um juiz. Muitos autores definem que o superego é herdeiro do Complexo de Édipo, pois é constituído pela interiorização das exigências e das interdições parentais. O desenvolvimento do superego ocorre por meio do sistema de recompensas e punições colocadas pelos pais. Seja para receber a recompensa, seja para evitar a punição, as crianças aprendem a se comportar de acordo com as normas que são estabelecidas pelos pais. O conflito do superego com o id é constante, pois o primeiro tenta sempre inibir por completo a satisfação do segundo. A consequência disso é um conflito interminável no interior da personalidade humana, sendo que o ego está em uma posição nada confortável, pressionado por todos os lados. Ao mesmo tempo que precisa adiar os anseios incessantes do id, deve perceber e manipular a realidade para aliviar as tensões das pulsões do id, mas também precisa lidar com o anseio de perfeição do superego (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Para que o ego não seja esmagado pela ansiedade de mediar a relação entre o id e o superego, ele utiliza o que Freud denominou de mecanismos de defesa, que são alguns processos que distorcem a realidade e protegem o sujeito da ansiedade. São muitos os mecanismos de defesa utilizados pelo ego, tais como a repressão, deslocamento e racionalização (GRIGGS, 2009). Por fim, o terceiro elemento principal da obra de Freud é a teoria do desenvolvimento da personalidade que é baseada na sexualidade humana. Freud denominou de estágios psicossexuais do desenvolvimento da personalidade. Essa teoria se desenvolveu das suas lembranças da própria infância, dos anos de interação com seus pacientes e dos estudos de casos desses pacientes. Os primeiros anos de vida, que consistem nos três primeiros estágios, são cruciais para o desenvolvimento da personalidade do sujeito. Caso a criança receba pouquíssima gratificação de suas necessidades em qualquer uma das etapas do desenvolvimento, há a possibilidade de desenvolverem a chamada fixação, ou seja, uma interrupção no desenvolvimento. Ela preferirá permanecer no estágio, em vez de seguir em frente porque suas necessidades não foram satisfeitas. O mesmo vale para a pessoa que recebe gratificação em excesso (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). No decorrer dos estágios do desenvolvimento psicossexual, as crianças são consideradas autoeróticas, pois obtêm prazer erótico ou sensual ao estimular as chamadas zonas erógenas do seu corpo, ou ao serem estimuladas pelos pais. Cada estágio do desenvolvimento tende a se localizar em uma zona erógena específica. São cinco as fazes do desenvolvimento psicossexual de Freud: 1. Fase oral, 2. Fase anal, 3. Fase fálica, 4. Fase de latência, e 5. Fase genital (FREUD, 1905). Na fase oral, que corresponde do nascimento aos 18 meses, as principais zonas erógenas são a boca, os lábios e a língua, sendo que a criança sente prazer em atividades como morder, sugar ou mastigar. Caso a satisfação ocorra de forma inadequada, as consequências para essa criança podem ser hábitos como fumar, mascar chiclete, comer demais e até ser uma pessoa muito falante (GRIGGS, 2009). Outros comportamentos adultos, como otimismo exagerado, sarcasmo, cinismo, podem ser atribuídos a incidentes ocorridos no curso do estágio oral de desenvolvimento. 60 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância A característica que permite a passagem da primeira para a segunda fase é a mudança também da zona erógena, que passa da boca para o ânus. A fase anal (18 meses a 3 anos) é o período em que os esfíncteres são os locais de prazer, no caso, a expulsão das fezes remove o desconforto e produz um sentimento de alívio para a criança. As principais preocupações desta fase é aprender a usar o vaso sanitário e o controle dos esfíncteres. As fixações nesta fase dependem de como os pais fazem o treinamento, podendo levar ao desenvolvimento de duas famosas personalidades adultas, a anal retentiva e a anal expulsiva, que são resultados de um treinamento esfincteriano severo caracterizado por censura e castigo por parte dos pais quando a criança fracassa (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). O terceiro estágio é o estágio fálico que ocorre dos 3 aos 6 anos, e a zona erógena está localizada nos genitais, e a consequência é a sensação de prazer vivenciada pelas crianças quando da estimulação genital. Além de manipular há também muita exibição dos órgãos genitais. Um dos conflitos vividos neste estágio é o conflito edípico para os meninos. O Complexo de Édipo caracteriza-se pela atração sexual que o filho sente pela mãe e também o temor do pai que é seu “rival”, que tem a função de castrar. A superação do Complexo de Édipo ocorre com a identificação do filho com o genitor do mesmo gênero e substituindo o desejo sexual em relação ao genitor do gênero oposto por afeição. Uma má resolução deste conflito pode resultar em problemas de relacionamento com o sexo oposto e possivelmente, uma orientação homossexual. O superego é formado durante este processo de identificação, em que ocorre o desenvolvimento de um senso de moralidade em que os filhos adquirem um senso de moralidade adotando as atitudes e os valores dos pais (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). O Complexo de Édipo foi constituído por Freud a partir da lenda grega de Sófocles (496-406 a.C.) Édipo Rei, em que Édipo mata inadvertidamente o pai e se casa com a mãe. Após descobrir que sua esposa era na verdade sua mãe, Édipo fura os próprios olhos e sua mãe comete suicídio. Com o passar do tempo, e com a resolução da ansiedade pela identificação com o genitor do mesmo gênero, as crianças entram na fase de latência (dos 6 anos à puberdade). Essa fase corresponde ao momento em que não há zona erógena, e os impulsos sexuais se encontram menos ativos, sendo que o foco é o desenvolvimento cognitivo e social. Com o fim da puberdade, começa o estágio genital, que se estende por toda a vida. A zona erógena volta para os genitais e com o passar do tempo começam a ocorrer as relações sexuais, progredindo para os relacionamentos íntimos entre os adultos. Neste momento, o comportamento heterossexual se torna evidente, ocorrendo a preparação para o casamento e a formação de uma família (GRIGGS, 2009). Freud precisou revisar sua teoria algumas vezes, pois novas descobertas não podiam ser explicadas adequadamente por suas teorias correntes. Muitas críticas também foram recebidas ao longo de seu desenvolvimento e aplicação, sendo atacada de todos os lados e por todos os motivos concebíveis, principalmente em relação à atribuição de desejos sensuais e destrutivos aos bebês, impulsos incestuosos e pervertidos a todos os seres humanos, além das explicações do comportamento humano em termos da motivação sexual (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Algumas críticas são dirigidas a Freud e à Psicanálise, mas algumas dessas críticas surgem de pessoas PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 61 que não são ligadas à Psicologia. Uma dessas críticas se dava pelo método de coleta de informações, enquanto os psicólogos experimentais coletavam dados objetivos em condições controladas de observação, Freud coletou seus dados de forma não sistemática e não controlada. Alguns dos dados se perdiam ao longo do tempo, pois suas anotações eram feitas horas após o atendimento do paciente, ou seja, os dados consistiam apenas naquilo que Freud lembrava. Outra crítica se dá a respeito das diferenças entre as anotações de Freud e as histórias dos casos que ele publicava com base nessas anotações. Entre as diferenças encontradas por alguns estudiosos estão o alongamento do tempo de análise, inversão da sequência dos fatos, e até a afirmação não fundamentada de que o paciente estava curado. Não que essas descobertas sejam realmente verdadeiras, pois Freud destruiu a maioria dos arquivos de seus pacientes. Freud pode não ter sido um cientista rigoroso ou um teórico de primeira linha, mas ele foi um observador paciente, meticuloso e penetrante, e um pensador tenaz, disciplinado, corajoso e original. Freud morreu em Londres no dia 23 de setembro de 1939. Há que se considerar que Freud começou a desenvolver sua teoria há mais de 100 anos, em que o estado da pesquisa psicológica era diferente da atual, fato que às vezes a torna insatisfatória atualmente. Porém, é preciso reconhecer que ele criou esta teoria a partir de uma base de conhecimento muito limitada, e que ela ainda hoje influencia o pensamento do homem (GRIGGS, 2009). CONSIDERAÇÕES FINAIS Skinner e Freud são dois estudiosos da Psicologia com propostas distintas da análise do ser humano. Enquanto o primeiro foca todas as atenções ao comportamento do homem, o segundo se interessa por saber o que se passa na cabeça do ser humano, por meio de técnicas que possam acessar conteúdos que estão latentes, ou seja, estão no inconsciente da pessoa. A importância de se estudar teorias que apresentam ideias e forma de atuação distintas é devido ao fato de que com isso você possa pensar mais sobre como o ser humano se desenvolve sob a ótica de cada uma delas. Essas duas teorias apresentadas existem há muitos anos, por isso, a intenção aqui foi de apenas discutir alguns pontos que são considerados os principais de cada uma delas. “A educação é aquilo que sobrevive depois que tudo o que aprendemos foi esquecido” – B. F. Skinner. “Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos” – Sigmund Freud. 62 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância Para compreender melhor a visão de Skinner sobre o condicionamento operante: <http://www.youtube.com/watch?v=iPZdg1S1nL8&feature=player_embedded#!>. <http://www.youtube.com/watch?v=9XumLBjBCaQ&feature=player_embedded>. <http://www.youtube.com/watch?v=uT6frsnW3NM&feature=player_embedded>. Livros e filme relacionado à Psicanálise. Para começar a entender psicanálise não é preciso enfrentar textos tortuosos. O próprio Freud tem uma das mais claras e concisas introduções ao tema: “Resumo da Psicanálise”, de 1924, publicado pela Companhia das Letras em volume que traz também sua autobiografia. Outra ótima introdução à psicanálise é o filme de 1962 “Freud Além da Alma”, de John Huston, com Montgomery Clift no papel de Freud. Filme: Freud Além da Alma Diretor John Huston Distribuidora: Versátil Sinopse: biografia romanceada do pai da psicanálise, mostrando seus casos mais célebres e seu envolvimento com os pacientes. A história da elaboração da teoria psicanalítica, que procura explicar nossa constituição psíquica. Reconstrói a vivência e as descobertas de seu criador, Sigmund Freud, em Paris e na cidade de Viena, entre os anos de 1885 e 1890. Livro: Freud, Além da Alma - Roteiro para um Filme Autor: Jean-Paul Sartre Editora: Nova Fronteira Descrição: em 1958, o cineasta americano John Huston - já familiarizado com a obra de Sartre após montar Entre quatro paredes -, convida o autor a escrever o roteiro de um longa-metragem sobre os anos de formação do pai da psicanálise. Desse convite nasce Freud, além de alma, uma apaixonada biografia que traça a trajetória dos primeiros contatos de Freud com tratamentos neurológicos até o início do desenvolvimento da teoria psicanalítica. O livro, que reúne ainda o segundo tratamento dado ao texto, além de uma sinopse e um quadro comparativo, é o único documento que registra o trabalho de Sartre sobre Freud, uma vez que, após tantas mudanças no roteiro, Sartre não permitiu que seu nome constasse nos créditos do filme. Livro: Folha Explica Freud Autor: Luiz Tenório Oliveira Lima Editora: Publifolha Descrição: o livro conta a vida e a obra do psicanalista austríaco e traz conceitos fundamentais para o entendimento da psicanálise tais como “inconsciente”, “narcisismo” e “complexo de Édipo”. O livro também descreve o trabalho de Freud com Charcot, médico francês que usava hipnotismo para tratar pacientes de histeria, e como a partir de suas pesquisas descobriu o inconsciente e tentou desvendar seu funcionamento. Em linguagem clara e acessível, o título também mostra como Freud chegou à ideia de mal-estar da civilização após observar a Primeira Guerra e discute a evolução da psicanálise a partir dos discípulos de Freud. O volume é escrito por Luiz Tenório Oliveira Lima, psicanalista e professor do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 63 Livro: Freud - A Conquista do Proibido Autor: Renato Mezan Editora: Ateliê Editorial Descrição: livro introdutório ao estudo de Freud. Foi escrito originalmente em 1982 para a coleção Encanto Radical da editora Brasiliense. Nesta edição aparece atualizado, com novas indicações para leitura. Livro: O Eu e o Id, Autobiografia e Outros Textos Autor: Sigmund Freud Editora: Companhia das Letras Descrição: O Eu e o Id, “Autobiografia” e Outros Textos (1923 - 1925): Obras Completas: Volume 16. O volume 16 contém os textos publicados por Freud entre 1923 e 1925, dos quais se destaca O Eu e o Id, um de seus principais trabalhos teóricos, no qual faz a mais detalhada exposição da estrutura e do funcionamento da psique, lançando a hipótese de que ela se dividiria em três partes: Id, Eu (ou “ego”) e Supereu (ou “superego”). O segundo texto, “Autobiografia”, contém, na verdade, poucas informações pessoais. É um relato do desenvolvimento intelectual do autor e de suas contribuições para o surgimento e a elaboração da psicanálise. Ensaios de menor extensão incluídos no volume, mas bastante influentes, são, entre outros, “A Dissolução do Complexo de Édipo” e “A Negação”. Livro: Freud - Uma Vida para o Nosso Tempo Autor: Peter Gay Editora: Companhia das Letras Descrição: este livro é uma viagem pelo mundo de Sigmund Freud: sua família, suas relações, a cidade onde viveu, sua formação, suas dificuldades profissionais, suas inovações teóricas, seus casos clínicos, sua vida extraordinariamente produtiva e o contexto social e histórico em que ela foi vivida. Nenhum outro biógrafo conseguiu relacionar as concepções de Freud à sua vida com tamanha perspicácia. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO 1- Explique como a Teoria Behaviorista de Skinner colabora com o processo de aprendizagem do sujeito. 2- Apresente a diferença entre comportamento respondente e comportamento operante. 3- Descreva, de acordo com a Teoria Psicanalítica, como se dá o desenvolvimento da personalidade do sujeito ao longo das fases do desenvolvimento psicossexual propostas por Freud. Como complemento para compreender a ação docente sob a perspectiva de um dos autores apresentados nesta unidade, é necessário que se aprofunde em uma das teorias e além de conhecer, possa colocar em prática alguns dos pontos mais importantes de tal teoria. Neste caso, uma pesquisa publicada em 2008 traz como objetivo a reflexão sobre a tarefa docente tendo como foco as vicissitudes a que a relação docente-discente está submetida e que podem tirar o foco de alunos e professores. Interessante discussão acerca da aplicabilidade da Psicanálise do sistema educacional. Revista: Educação e Pesquisa. Título do Artigo: Sala de aula e teceduras subjetivas. 64 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância Autores: Vera Lúcia Blum. Referência: BLUM, V. L. Sala de aula e teceduras subjetivas. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.34, n.3, pp. 545-556, set./dez. 2008. Link para acesso do artigo: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v34n3/v34n3a09.pdf>. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância 65 CONCLUSÃO Para concluir este trabalho, é necessário relembrar alguns aspectos que foram trabalhados neste livro e que servem de base para a disciplina de Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento. Basicamente as unidades tratavam de questões voltadas para o desenvolvimento humano, que tinham relação com o processo de aprendizagem. Na unidade I foram apresentadas algumas teorias que se propõem a avaliar as questões humanas e também como a aprendizagem ocorre no indivíduo, a partir de conceitos básicos. O processo de constituição do sujeito a partir da linguagem e do pensamento também são pontos importantes que deixam claro como o sujeito se relaciona com os outros e consigo mesmo. Já na unidade II, o primeiro ponto foi discutir as principais características de algumas teorias que abordam a questão do desenvolvimento humano, cada uma dentro de suas especificidades. A ênfase maior foi dada à Epistemologia Genética de Piaget e também à Teoria da Mediação de Vygotsky que são importantes para a compreensão de como o sujeito adquire conhecimento. E por fim a unidade III, que tem como principal conteúdo a Teoria Behaviorista de Skinner e a Teoria Psicanalítica de Freud. São duas abordagens que trabalham a compreensão do ser humano de formas distintas, a primeira considera o comportamento como carro-chefe de discussão, enquanto a segunda se volta para as questões que ocorrem internamente no sujeito, ou seja, a constante busca pelos conteúdos do inconsciente, como sendo responsáveis pelo comportamento humano. Com isso chegamos ao fim de mais uma disciplina, espero que este material, junto com suas discussões possam ter colaborado com o seu conhecimento acerca de alguns aspectos que envolvem o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano. Muito sucesso!! Professor Me. Leonardo Pestillo de Oliveira 66 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO | Educação a Distância REFERÊNCIAS BANDURA, A.; POLYDORO, S.; AZZI, R. G. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008. BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. BELSKY, J. 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