Conversando com vocês… Muitas questões fazem pertinência para que sua criança seja falante da Língua Inglesa. Embora pareça banal o ato de falar – afinal todo mundo fala!... Quando chega o nosso momento, bem que complica tudo; complica porque a fala diz respeito a um imenso sistema do qual somos agentes causadores e agentes conseqüentes em plena transfusão de sangue, tanto arterial quanto venoso. Sendo bem genuínos, poderíamos comparar a linguagem ao nosso sistema circulatório e a Língua ao sangue. Enfim, a mais nobre capacidade do homem é o poder de comunicar-se. Comunicar é viver... Vemos a importância de priorizar o caso especial da aquisição do INGLÊS ESCRITO. Desde já e é condição básica compreender que, independentemente de qual for o idioma em questão (materno ou segundos), o sangue (o idioma) só pode circular pelo sistema circulatório (fala) certo?! Vamos tentar esclarecer ao máximo, através da própria prática com as atividades feitas pelas crianças, alguns questionamentos acima. Providenciamos este livreto que, lido sob o seu olho inteligente e curioso, esperamos alcançar, com muita objetividade, as questões mais intrigantes sobre o processo de aquisição da Língua Escrita que toda criança do planeta deve transpor para tornar-se intérprete de sua própria língua assim como de qualquer outra. Continuaremos, permanentemente, à sua disposição, no que pudermos contribuir para seu pleno entendimento sobre o assunto de nossa “expertise” para juntos agirmos, com a mesma coerência e obtermos resultados seguros e felizes no DICE. O caso particular da língua escrita é o de ser a aquisição dos objetos culturais. A escrita tem um imenso valor escolar e social. A escrita é um conjunto de marcas sobre uma superfície e o homem é o produtor destas marcas. Essas marcas, quando são intencionais, definem o ser humano. Porém, não é qualquer marca que “lemos” mas sim marcas que são organizadas de um jeito coerente com as da língua. A escrita teve quatro vezes a oportunidade de ser inventada na humanidade em diversos períodos: na China*, na Suméria*, no Egito e na Mesopotâmia - * nessas duas primeiras civilizações os sistemas primitivos foram tão bem sucedidos que subsistem até hoje! O Chinês, com poucas variações, e o Sumério que sofreu grandes transformações e ramificações, sendo uma delas, a escrita alfabética. Voltando, da história ao comportamento, vemos que as crianças (nós já fomos essas crianças), quando estão se desenvolvendo são produtoras de marcas. Marcas estas, vistas pelo social e escolar, com as quais as crianças devem deparar-se no cotidiano de suas vidas, com marcas anteriormente produzidas sobre uma superfície. Marcas uma após as outras, em linha reta, organizadas dentro de um espaço com fronteiras definidas: a folha de papel. Para a criança pequena, essas marcas não têm “vida” são obscuras e sem “valor”, até que surja um intérprete que mostre a ela os poderes destas marcas: olhando para elas, simplesmente a criança imagina que o “moço” produz linguagem. – Uma linguagem diferente da que usa cara a cara, não sendo aquela de todo o dia. Quem lê, fala para o outro, que pode se tornar milhares de outros, saídos de todos os lugares. Somente nos atos sociais de um intérprete que é possível ocorrer a transformação simbólica de marcas em objetos lingüísticos. A criança que pede ao intérprete que lhe conte a história ou que leia a estória, já é capaz de saber que efeitos mágicos constituem essas marcas. Que as marcas permitem provocar a linguagem é uma coisa. Compreender de que maneira o fazem, é outra bem diferente. Para atingir este grau analítico, é preciso muito mais tempo... Não bastam as “falações” dos professores. [Milhares de crianças passam o ano escolar sem compreender esse “discurso pedagógico”: falação de um adulto já alfabetizado], para alcançar este entendimento (entre as marcas escritas e a língua oral) é preciso uma atividade estruturante do sujeito (a criança), uma longa e continua inter + ação entre o sujeito (a criança) e o objeto (a escrita) a ser conhecido. A escrita não existe no vazio [sobre o que eu desconheço]. A escrita (marcas “linkadas”) existe em um contexto! As crianças urbanas, embora rodeadas de escrita desde que nascem, nem sempre têm intérpretes disponíveis. Portanto, chegam a escola já tendo feito esforços múltiplos para comparar, ordenar e reproduzir estas marcas uma vez que nem todas podem ter sido contagiadas pela magia de um intérprete – leitor em voz alta antes de irem a escola. Ao invés de lá encontrarem uma professora na função de intérprete, ela está ali como decodificadora, que diz que M é “eme”, que B é “bê” ou seja, “B + E” – não encontrando nada de linguagem nisso, sem mistérios a serem desvendados, sem desafios, sem o que ser domesticado, perdem todo o encanto da descoberta da utilidade da Língua Escrita. A leitura deve dar o leitor prazer, alegria e cultura. À criança isto deve ser de imediato. E é neste universo que Piaget transmite terra firme ao educador. Apenas a presença do objeto não garante o conhecimento humano. O simples fato de apresentar à criança uma bicicleta e demonstrá-la sem subir no celim nem pedalá-la, acaba por não mostrar a finalidade e o prazer da própria bicicleta. As marcas isoladas (de letras, sílabas ou palavras) não “ensinam” as crianças a língua escrita, são meros desenhos sem sentido. As experiências que a criança vive são prontamente criadas pelo seu ambiente social e (estas) aparecem em contextos que lhes dão significações especiais (sentido). Não assimilamos objetos “puros” mas, objetos desempenhando certos papéis e não outros. Trazem carga cultural, social, emocional e etc, tudo influencia. Como as marcas (a escrita) dão lugar a esforços e tentativas das crianças em compreendêlas? Estes são resultados de uma série de construções conceituais até que se torne também outro intérprete e, nessa tentativa de interpretar as marcas, a criança percebe que se mudar as letras na ordem linear, ela obtém outra marca – enfrentando, portanto, problemas de análise combinatória. Essa combinatória proporciona muitas marcas novas e para que essas marcas novas façam sentido para a criança, ela tem de experimentar um longo e minucioso caminho cognitivo (conhecer em contextos aquela coisa = objeto = concreto ou abstrato) e esse caminho é feito na língua oral = fonetização da língua escrita. O período de fonetização (conhecer e saber dizer) deve ocorrer em todas as línguas estudadas. Veja que curioso: Apesar da criança receber informação alfabética (pelas letras) a criança constrói uma escrita silábica. As crianças lêem por assemelhações (igualdades e diferenças) por relação entre o todo e as partes, por corresponder termo a termo. Lê pelo desenho, lê pelo uso, lê pela cor, lê pelo desenho da marca, lê pelo tamanho, lê pelo desenho próximo do signo (palavra). Quando os intérpretes interagem, eles aumentam as possibilidades de compreensão do objeto. A escrita não é simplesmente uma técnica de transcrição, mas uma concepção cheia de conseqüências pedagógicas. Alfabetizar não basta, é preciso “letrar” o individuo – letrismo significa as cargas conceptuais, culturais, que correm ao largo da leitura, implicadas naquela palavra, naquele conceito. Ler + compreender + aculturar-se para modificar-se. É preciso ler para: Aprender a solicitar, aprender a questionar, aprender a informar, aprender a contar, aprender a argumentar, aprender a aprender entre tantas maravilhas que só aos homens pertencem. Então a escrita é objeto cultural de 1ª ordem, mas é preciso interessar-se pela linguagem, pela semiótica, pelas interações sociais, sem as quais a escrita perde seu teor, não faz sentido. Um exemplo bem comum: Aprender um idioma estrangeiro durante anos e não ter autoria (autonomia) de usá-lo pela sua forma oral, indo direto a escrita deste – metodologia amplamente utilizada. Observemos que a criança “lê” e “escreve” antes de saber ler e escrever no sentido escolar do termo. A escrita não deve ser confundida com um traçado. Portanto LER para ESCREVER é fato de primordial distinção no processo de aprendizagem vivido pela sua criança no DICE. Falar Ler = Interpretar Conhecer Compreender Para “autorizar-se” a produzir = escrever = transmitir (transmissão científica, que se baseia apenas no escrito). Uma língua escrita não é a oral transcrita, mas um fenômeno tanto lingüístico como cultural. A escrita fixa a língua. A escrita é a “cumieira” da construção das etapas de aquisição da linguagem. O problema da aquisição de Língua Escrita não está na capacidade (idade mental) do individuo, mas nas construções anteriores compondo o cenário e fazendo sentido em si mesmo e para o indivíduo. Bibliografia: FERREIRO, Emília – “Atualidade de Jean Piaget”, Ed. Artmed – ano 2001.