Monografia

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL
ANAZIR LOCATELLI
SÍNDROME DO PÂNICO: REVENDO CONCEITOS,
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS
CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010
ANAZIR LOCATELLI
SÍNDROME DO PÂNICO: REVENDO CONCEITOS,
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS
Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul
Catarinense- UNESC, para a obtenção do título
de especialista em.Saúde Mental.
Orientador: Prof. MSc. Patrícia Jantsch Fiuza
CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010
Para Adriano, meus pais, minha irmã e a
orientadora Patrícia.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer à Deus pelo dom da sabedoria que
concebi e que ele me proporcione até o último dia de minha vida;
Ao meu marido Adriano, pelas idas e vindas da faculdade sem reclamar e
me apoiar em todos os meus passos;
Agradeço aos meus pais, pelo dom da vida, do ensinamento de
compreender o próximo, a respeitar as pessoas, ao estudo que proporcionaram para
que eu chegasse até aqui;
À minha irmã, pela sua alegria de viver e algumas brigas casuais que nos
faz rir do acaso;
Agradeço à minha orientadora Patrícia, pela dedicação em me orientar e
paciência a cada passo que o trabalho se formalizava.
Enfim, agradeço a mim mesma, pela persistência em fazer a faculdade de
Psicologia e quatro anos depois resolvo fazer pós-graduação em saúde mental, mas
é por uma causa nobre...principalmente este trabalho.
“Pânico: é como explicar a cor vermelha
para um cego.”
Baker
RESUMO
O trabalho relatado a seguir consistiu em demonstrar, por meio de uma revisão
bibliográfica o que é a Síndrome ou Transtorno do Pânico, como surgiu o termo,
como acontece o desenrolar dos sintomas. Os objetivos do trabalho foram realizar
uma revisão bibliográfica sobre a Síndrome ou Transtorno de Pânico (S.P.) nas
bases literárias existentes e artigos científicos, revisando os conceitos de Síndrome
do Pânico, identificando a prevalência do transtorno na população, bem como
esclarecendo a sintomatologia e demonstrando os tratamentos mais eficazes no
S.P. Percebeu-se que há uma necessidade crescente de informações sobre esta
questão que ainda é muito nova na literatura brasileira, além de apresentar poucos
dados de como ocorre o tratamento, tanto por meio de psicoterapias como de
medicamentos. Apresentam-se dados importantes sobre a epidemiologia desde
transtorno entre as pessoas a nível mundial, além de descrever como o CID-10 e
DSM-IV tratam o termo Síndrome do Pânico que para muitos ainda é um termo
desconhecido e uma patologia com pouca informação científica divulgada. O
trabalho finaliza com a ilustração de casos descritos na literatura que exemplificam
bem o assunto estudado.
Palavras-chave: Síndrome
Tratamentos; Epidemiologia.
do
Pânico;
Transtorno
do
Pânico;
Sintomas;
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8
2 SÍNDROME DO PÂNICO.......................................................................................10
2.1 A historicidade do pânico.................................................................................10
2.2 O que é a Síndrome do Pânico.........................................................................12
2.3 Síndrome do Pânico segundo DSM-IV-TR ......................................................15
2.4 Transtorno do Pânico segundo CID-10 ...........................................................16
2.5 Sintomas no Transtorno de Pânico .................................................................17
2.6 Epidemiologia....................................................................................................19
2.7 Teorias Psicológicas e suas contribuições ...................................................22
2.7.1 Teorias Psicodinâmicas.................................................................................22
2.7.2 Teorias Comportamentais .............................................................................24
2.8 Tratamentos.......................................................................................................26
2.8.1 Tratamento Farmacológico ...........................................................................26
2.8.2 Tratamento Psicoterápico .............................................................................28
2.9 Relatos de casos de Transtorno de Pânico ....................................................31
3 CONCLUSÃO ........................................................................................................34
REFERÊNCIAS.........................................................................................................36
8
1 INTRODUÇÃO
De onde vem a Síndrome do Pânico?
Através de séculos as pessoas sofrem atormentadas pelos calafrios,
tremores, palpitações, medo de enlouquecer, de perder o controle. Aos olhos de
quem sofre, surge a pergunta? O que será que eu tenho? Estamos falando de
Síndrome do Pânico, algo que ainda é novo em nossa literatura e mesmo em nossa
população. Muitos sofrem, sem saber do que realmente se trata, migram de
hospitais em hospitais à procura de uma solução, que muitas vezes ficam a espera
de informações.
A terminologia Síndrome do Pânico é a que está descrita no DSM-IV e que
será conceituada em uma sessão própria, já o termo Transtorno do Pânico está
definido no CID-10 e também será detalhado mais adiante. O que cabe destacar
aqui é que ambas as definições se referem ao mesmo quadro patológico e por isso
serão abordadas com o mesmo sentido ao longo do trabalho, embora nas suas
definições possuam especificidades que as diferenciem.
Na Síndrome do Pânico há períodos súbitos de pavor com uma sensação
inexplicável de desgraça iminente acompanhadas de vários sintomas físicos e
cognitivos, como taquicardia, tremores, sensação de que o ambiente está alterado
ou irreal e medo de morrer. Estes sintomas se desenvolvem abruptamente e têm
seu pico em torno de 10 minutos.
A Síndrome do Pânico vem crescendo na população mundial, sendo um
problema importante a ser averiguado. Atualmente a maioria dos novos casos não é
reconhecida, diagnosticada ou tratada de forma apropriada. Procuras acentuadas de
9
emergências hospitalares vêm crescendo na população mundial que rumam a
procura de um diagnóstico que muitas vezes demoram a ser definidos.
O Transtorno de Pânico implica a vivência inadequada e um elevado estado
de excitação emocional que leva a pessoa a sentir sintomas físicos associados em
situações cotidianas completamente inofensivas. O Transtorno pode surgir no
entanto, sem nenhum estímulo externo em pessoas que sofrem com este transtorno.
As pessoas tendem a interpretar os processos que acontecem com seu
próprio corpo de maneira irracional e catastrófica. Isso pode resultar em problemas
como: medo de desmaiar, medo de perder o controle e até mesmo ter medo de ter
um ataque do coração e morrer.
O trabalho a seguir busca de uma forma abrir uma gama de informações
possíveis para esclarecer dúvidas e procurar ao máximo demonstrar como a
Síndrome ocorre. O trabalho teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica
sobre a Síndrome ou Transtorno de Pânico nas bases literárias existentes e artigos
científicos. Especificamente revisar os conceitos de Síndrome ou Transtorno do
Pânico; Procurar a prevalência do T.P na população; Esclarecer a sintomatologia
real ocorrente no T.P; Demonstrar os tratamentos mais eficazes no T.P.
A pesquisa foi realizada por um estudo bibliográfico e de caráter descritivo e
exploratório, utilizando a coleta de informações em livros e artigos científicos em
bases de dados indexadas. A partir de palavras-chave que foram definidas no início
da pesquisa, tais como Síndrome do Pânico, Transtorno do Pânico, Sintomas,
Tratamentos e Epidemiologia, buscou-se melhor compreender os aspectos
envolvidos na definição, conceituação, caracterização, sintomatologia e tratamento
da síndrome ou transtorno de pânico.
10
2 SÍNDROME DO PÂNICO
2.1 A historicidade do pânico
Conforme Abrão (2004), o sentimento de pânico tem uma explicação
mitológica. Pã, um dos deuses da Grécia Antiga – e que “emprestou” o nome para o
transtorno - costumava pregar sustos que deixavam as vítimas, literalmente, em
pânico. Pã era um deus diferente. Ao contrario contrário dos outros deuses, não
habitava o cume do monte Olimpo. Vivia no campo, cuidando dos rebanhos, das
manadas, das colméias. Ajudava os caçadores a encontrar suas presas e
participava das orgias realizadas pelas ninfas. Personificava a potência sexual e a
fecundidade.
Apesar de sedutor, alegre e bem-humorado, Pã era feio. Tão feio, que dizem
que a mãe, ao vê-lo pela primeira vez, fugiu dele, morta de medo da criatura de
chifre, barba, pernas de bode e rabo que acabara de vir ao mundo. Em vez de
maldizer esta sina, ele brincava com a própria feiúra – usava-a para pregar peças
nos humanos. Saltava às costas das vítimas de repente, apavorando-as. Quando o
viam, com aquele aspecto horrível, elas ficavam ainda mais aterrorizadas. E fugiam
em disparada.
Pã se divertia muito com isso. Gargalhava enquanto observava as pessoas
correndo, assustadas, pelos bosques. Ele tinha uma vida simples. Modesto, nem de
longe lembrava a imponência e a vaidade dos outros deuses. Só fazia questão de
tirar uma soneca à tarde. Quando pertubado nessa hora, vingava-se, assustando
11
quem o incomodava. Os deuses o desprezavam, embora se divertissem com ele.
Mas reconheciam seu grande talento, sua criatividade e seus poderes.
O interessante é que se pode encontrar pontos em comum entre o mito de
Pã e a Síndrome do Pânico. Como Pã, o pânico ataca de repente e apavora. Como
Pã, o pânico revela a face feia, terrível, da vida.
No mundo atual, Hetem e Graeff (2004), mencionam que as primeiras
descrições do quadro nosológico hoje classificado como Transtorno do Pânico
datam do século XIX. Em 1871, Jacob Mendes da Costa descreveu um quadro
observado em soldados durante a guerra civil americana, caracterizado por dor
torácica intensa, palpitações e outros sintomas cardíacos, sem a presença de lesões
estruturais identificáveis. Este diagnóstico passou a ser conhecido como “síndrome
do coração irritável”, ou “síndrome DaCosta”.
De acordo com Kaplan (1999), durante a Primeira Guerra Mundial, o coração
irritável retornou como “distúrbio da atividade cardíaca”, o termo oficial do Exército
Britânico para o transtorno. Em 1918, Sir Thomas Lewis propôs o termo “síndrome
do esforço” para refletir a resposta forçada do indivíduo a esforços moderados. Mais
tarde, B. S. Oppennheimer sugeriu que o termo “astenia neurocirculatória”
representava melhor os sintomas cardíacos e a exaustão física.
Barlow (1999), exemplifica remetendo para um discurso atual, de que o
pânico pode ser tão comum, tão difundido e uma parte tão importante na experiência
que se consegue esquecer sua importância. Em termos leigos, “entrar em pânico”
faz parte das vidas das pessoas, geralmente ocorrendo diante de algum prazo que
parece impossível cumprir, ou quando subitamente se defrontam com o perigo. Mas,
entender o fenômeno do pânico pode ser fundamental, para se revolver muitos
enigmas em torno dos transtornos de ansiedade.
12
2.2 O que é a Síndrome do Pânico
De acordo com Kapczinski (2003), podem-se encontrar descrições
anteriores ao século XIX de pessoas que apresentavam “estados de angústia”. Os
sintomas de ansiedade são conhecidos pela medicina desde muito tempo. No
entanto, esses sintomas só foram reunidos e caracterizados como uma doença em
1890.
O transtorno de pânico já foi chamado de transtorno do ‘coração irritável’,
quando descrito em soldados norte-americanos durante a guerra civil, na
década de 1890, considerando a importância do sintoma de aceleração do
ritmo cardíaco no quadro. Desde então, já recebeu diversos nomes como
‘neurose de ansiedade’, ‘síndrome do esforço’, dentre outros.
(KAPCZINSKI, 2003, p. 13).
Kapczinski (2003) menciona que embora descrições de ansiedade tenham
sido publicadas há mais de 100 anos, o transtorno do pânico só se tornou um
diagnóstico oficialmente reconhecido em 1980. Antes, todos os transtornos de
ansiedade eram considerados uma mesma doença. Com o avanço da psiquiatria e
das medicações, percebeu-se que cada grupo com características específicas
melhorava com determinado fármaco ou psicoterapia, sendo necessário diferenciar
cada tipo de ansiedade.
Conforme Leal (2010), o Transtorno de Pânico é uma entidade clínica
recente chamada, antigamente era conhecida por neurastenia cardiocirculatória.
Seus sintomas foram descritos pela primeira vez por Freud sendo classificada pelo
mesmo, como neurose ansiosa. O quadro foi agrupado sob o título de “neurose de
ansiedade” até 1980.
Sheehan (2000) explana:
13
O transtorno ou síndrome do pânico implica a vivência inadequada de um
elevado estado de excitação equivalente ao que o corpo produziria na
preparação para enfrentar um perigo real ou fugir dele. Essa resposta
hiper-reativa do sistema nervoso autônomo pode levar a pessoa a sentir
sintomas físicos associados à reação de ‘lutar ou fugir’ em situações
cotidianas completamente inofensivas. (SHEEHAN, 2000, p. 15).
Seguindo as ideias de Sheehan (2000), o autor comenta que os ataques de
pânico podem ocorrer em resposta a determinados objetos, atividades ou situações
nos transtornos fóbicos. No entanto, também podem surgir sem nenhum estímulo
externo em pessoas que sofrem de fobias e nas que sofrem de sintomas de pânico.
O transtorno do pânico é uma doença crônica e comum, associada com
considerável morbidade e custo social. Seus aspectos centrais são ataques
de pânico inesperados e recorrentes, esquiva e preocupações associadas
relacionadas à possível recorrência, conseqüências ou implicações dos
ataques sobre a saúde ( KAPLAN, 1999, p.1300).
Holmes (2001) descreve que o transtorno de pânico envolve breves períodos
de ansiedade espontânea excepcionalmente intensa. Tais períodos vêm e vão
subitamente, via de regra, durante apenas alguns minutos, e sua ocorrência é
imprevisível. Eles parecem “vir do nada” e podem até mesmo começar durante o
sono. Além de sentimentos psicológicos intensos de apreensão, medo e terror, o
indivíduo experimenta sintomas físicos que podem incluir respiração curta,
palpitações cardíacas, dores no peito, sensações de asfixia ou sufocação, tontura,
sentimentos de irrealidade, formigamento das extremidades, calafrios e calores,
suor, fraqueza e tremor.
Holmes (2001) ainda alerta que:
É importante não confundir ataques de pânico com os períodos intensos de
estimulação que estão associados a esgotamento ou estresse físico devido
a situações reais ameaçadoras da vida. Além disso, durante muitos anos,
os ataques de pânico foram erroneamente diagnosticados como problemas
14
cardíacos ou respiratórios e tratados como tanto sem, é claro, qualquer
benefício. Felizmente, agora que os ataques de pânico são reconhecidos
como um transtorno psicológico, estão recebendo atenção amplamente
difundida na imprensa médica e pública, e a propensão para o diagnóstico
errôneo foi reduzida de forma significativa (HOLMES, 2001, p. 88).
Para Marot (2004), o transtorno de pânico é definido como crises recorrentes
de forte ansiedade ou medo. As crises de pânico são entendidas como intensas,
repentinas e inesperadas que provocam nas pessoas, sensação de mal estar físico
e mental juntamente a um comportamento de fuga do local onde se encontra, seja
indo para um pronto socorro, seja buscando ajuda de quem está próximo.
Conforme Baker (2007), os ataques de pânico ou ataques de ansiedade
ocorrem primeiramente do nada, por nenhuma razão óbvia. Uma pessoa pode ter
vivido sempre exatamente como qualquer outra, com os estresses e desgastes
comuns da vida, quando, um dia, ela experiência um ataque de pânico que é o
começo de um longo período de miséria e mudança. A época mais comum para os
primeiros ataques é entre os quinze e os trinta anos de idade, embora possam
ocorrer ataques em qualquer idade.
As pessoas também podem tender a interpretar os processos que
acontecem em seu próprio corpo, de maneira irracional e catastrófica. Isso pode
resultar em problemas com o medo de desmaiar, ou o medo de perder o controle e
criar uma situação constrangedora para si mesma, ou até o medo de ter um ataque
do coração e morrer.
“O Transtorno de Pânico é caracterizado pela presença de ataques súbitos
de ansiedade, recorrentes, acompanhados de sintomas físicos e afetivos.”
(MANFRO apud CORDIOLI, 2000, p. 279).
15
De acordo com Yano et al (2003), muitas pessoas já ouviram falar no
Transtorno do Pânico, até por ele ser o mais comum dentre os pacientes com
transtornos ansiosos, que buscam tratamento, apesar de não ser o mais freqüente.
Em geral, as pessoas com transtorno de pânico têm preocupações
excessivas em ter uma doença grave (por exemplo, ter um infarto do miocárdio ou
acidente vascular cerebral), morrer, enlouquecer ou ter uma reação grave após o
uso de medicamentos. Por isso, é bastante comum procurarem sistematicamente os
serviços de saúde antes do quadro de transtorno de pânico ser diagnosticado.
2.3 Síndrome do Pânico segundo DSM-IV-TR
A característica essencial de um ataque de pânico é um período distinto de
intenso medo ou desconforto acompanhado por pelo menos 4 a 13 sintomas
somáticos ou cognitivos. O ataque tem um início súbito e aumenta rapidamente,
atingindo um pico (em geral em 10 minutos ou menos), sendo com freqüência
acompanhado por um sentimento de perigo ou catástrofe iminente e um anseio por
escapar. Os 13 sintomas somáticos ou cognitivos são:
(1) Palpitações ou taquicardia;
(2) Sudorese;
(3) Tremores ou abalos;
(4) Sensações de falta de ar ou sufocamento;
(5) Sensações de asfixia;
(6) Dor ou desconforto torácico;
(7) Náusea ou desconforto abdominal;
16
(8) Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio;
(9) Desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (estar
distanciado de si mesmo);
(10) Medo de perder o controle ou enlouquecer;
(11) Medo de morrer;
(12) Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento);
(13) Calafrios ou ondas de calor.
2.4 Transtorno do Pânico segundo CID-10
Transtorno do Pânico: F41.O – Ansiedade Paroxística Episódica)
Os aspectos essências são ataques recorrentes de ansiedade grave
(pânico), os quais não estão restritos a qualquer situação ou conjunto de
circunstâncias em particular e que são, portanto, imprevisíveis. Assim como em
outros transtornos de ansiedade, os sintomas dominantes variam de pessoa para
pessoa, porém com início de súbito de palpitações, dor no peito, sensações de
choque, tontura e sentimentos de irrealidade (despersonalização ou desrealização)
são comuns. Quase invariavelmente há um medo secundário de morrer, perder o
controle ou ficar louco. Os ataques individuais usualmente duram apenas minutos,
ainda que às vezes sejam mais prolongados; sua freqüência e o curso do transtorno
são, ambos, muito variáveis. Um indivíduo em um ataque de pânico freqüentemente
experimenta um crescendo de medo e sintomas autonômicos, o que resulta em uma
saída, usualmente apressada, de onde quer que ele esteja. Se isso ocorre numa
situação específica, tal como em ônibus ou em uma multidão, o paciente pode evitar
17
aquela situação. De modo similar, ataques de pânico constantes e imprevisíveis
produzem o medo de ficar sozinho ou ir a lugares públicos. Um ataque de pânico
com freqüência é seguido por um medo persistente de ter outro ataque.
2.5 Sintomas no Transtorno de Pânico
De acordo com Abrão (2004), os sinais e sintomas de um ataque de pânico
variam. Às vezes é possível perceber que ele se aproxima, mas às vezes a crise
vem sem nenhum aviso.
Os ataques também variam de pessoa para pessoa. Embora o conjunto de
sintomas e de sentimentos seja comum a todos, o modo como eles se
manifestam muda de acordo com a história e o momento de cada um. Por
isso, há variação também na intensidade e no tipo de sintoma.
Basicamente, um ataque de pânico é caracterizado por alguns sintomas.
(ABRÃO, 2004, p. 23).
Abrão (2004), especifica alguns sintomas:
- medo intenso e inexplicável;
- terror;
- palpitações;
- sudorese;
- boca seca;
- dificuldade para respirar (sensação de sufocamento);
- tontura, vertigem;
- sensação de desmaio;
- dor de cabeça;
18
- dor na nuca;
- dor no peito;
- alterações na menstruação;
- diarréia;
- vontade constante de urinar;
- atordoamento;
- fraqueza, sensação de debilidade física;
- ondas de calor e calafrios;
- formigamento;
- tremores;
- tensão muscular;
- náusea;
- sensação de estar sonhando;
- sensação de não ser a pessoa que se é;
- medo de enlouquecer;
- medo de perder o controle;
- confusão mental;
- pensamento rápido;
- medo de morrer (sensação de morte iminente), etc.
De acordo com Kapczinski (2003), os ataques de pânico em geral têm uma
duração de 20 a 40 minutos e são seguidos de sensação de cansaço, fraqueza,
pernas bambas, como após um esforço físico intenso ou um grande susto. Depois
de chorar, descansar ou dormir um pouco, o indivíduo volta ao normal.
19
Os ataques de pânico podem ocorrer em qualquer local, contexto ou hora,
inclusive durante o sono. Nesses casos, a pessoa acorda passando muito mal, com
os sintomas referidos anteriormente.
Aquino (2000), esclarece:
Essas pessoas se percebem inteiramente tomadas por sensações
assustadoras descritas de maneira muito semelhante: aflição no peito,
taquicardia, sudorese, contrações musculares, medo de perder o controle,
sensação de morte iminente. São manifestações físicas e psíquicas que
reunidas formam o quadro sintomatológico da Síndrome do Pânico.”
(AQUINO, 2000, p. 01).
Conforme Leal (2010), dos distúrbios de ansiedade, o transtorno de pânico
tem como características a presença de ataques de pânico que consiste em crises
espontâneas, súbitas, de mal-estar e sensação de perigo ou morte iminente, com
vários sintomas e sinais de alerta e hiperatividade autonômica, chegando ao
máximo, em cerca de dez minutos. As crises podem levar a uma busca desesperada
de escape (fuga) ou ajuda (ida imediatamente a um pronto-socorro), sendo este
comportamento chamado de ‘pânico’.
2.6 Epidemiologia
Hollander e Simeon (2004) descrevem que os transtornos de ansiedade
foram todos incluídos nos grandes estudos epidemiológicos nacionais de doenças
mentais durante os anos de 1982-2002, e por isso pode-se estar bastante confiantes
com relação às estimativas de prevalência desses transtornos na população geral
dos Estados Unidos. Em um estudo anterior, o do National of Mental Health
20
Epidemiologic Catchment (ECA), os pesquisadores examinaram a prevalência da
população com transtornos de ansiedade em cinco locais, tendo como base os
critérios do DSM-III (American Psychiatric Association, 1980) e usando o Diagnostic
Interview Shedule (DIS). As taxas de prevalência ao longo de um mês, seis meses e
a vida toda para o transtorno de pânico foram, respectivamente, 0,5%, 0,8% e 1,6%
As mulheres apresentaram um índice de prevalência ao longo de um mês
de 0,7% que foi significativamente mais elevado do que o índice de 0,3%
encontrado entre os homens; as mulheres também tenderam a apresentar
um maior aumento do transtorno de pânico entre os 25 e os 44 anos de
idade, e seus ataques tendiam a perdurar mais tempo até a idade
avançada. (HOLLANDER e SIMEON, 2004, p.19).
De acordo com Leal (2010), pesquisas realizadas nos Estados Unidos
demonstraram que para cada 1000 indivíduos, cerca de um a três são afetados pelo
transtorno de pânico. Ocorre, sobretudo em adultos jovens na faixa etária entre 20 e
45 anos de ambos os sexos, com predileção pelo feminino na proporção de 3:1.
nesta faixa etária, os pacientes estão na plenitude de seu potencial de trabalho e ao
apresentarem a doença são geradas conseqüências desastrosas voltadas tanto para
o desenvolvimento profissional quanto social. É muito incomum iniciar depois dos 50
anos. Quanto mais cedo se inicia a doença, maior será o impedimento e grau de
comorbidade e cronicidade.
Hollander e Simeon (2004) comentam que não foi claramente estabelecido
se os tipos específicos de personalidade estão correlacionados com transtorno de
pânico, e os estudos confundem mais ainda porque a presença de transtorno de
pânico pode ter efeitos secundários na personalidade.
De acordo com Mineiro (2005 apud LEAL, 2010), a incidência da síndrome
do pânico, na população mundial é de 2% a 5% enquanto no Brasil, é de 4%; 50%
dos portadores desenvolvem depressão; 90% agorafobia. A proporção é maior na
21
faixa de idade entre 20 e 35 anos, mas em menores proporções, em qualquer idade.
Atinge três mulheres para cada homem. Filhos e irmãos têm 25% de possibilidade
de ter transtorno de pânico; o indivíduo urbano está mais propenso do que do rural.
Não parece haver uma variação na prevalência ao redor do mundo, mas
isso não se pode afirmar ao certo em função das diferentes abordagens
metodológicas dos diversos estudos. O transtorno de pânico é cerca de
duas vezes mais comum em mulheres e, geralmente, inicia no final da
adolescência ou no início da vida adulta, com média de aparecimento entre
os 20 e 30 anos; raramente, há casos de aparecimento na infância.
(SALUM et al, 2009, p. 87).
Sartorelli Neto (2010) explica que pesquisas realizadas nos Estados Unidos
demonstraram que para cada 1.000 indivíduos cerca de 1 a 3 são afetados pelo
Transtorno do Pânico. No Brasil, infelizmente, as estatísticas são inconclusivas.
Kapczinski (2003) menciona que o transtorno de pânico é bastante
freqüente, cerca de 3,5% da população apresentam esta doença em algum
momento de sua vida. As mulheres têm duas a três vezes mais chances de serem
afetadas pelo transtorno de pânico do que os homens. A idade de início situa-se
tipicamente entre o final da adolescência e a quarta década de vida. Um pequeno
número de casos começa na infância, e o início após os 45 anos é incomum, mas
pode ocorrer.
Qualquer pessoa pode ter um ataque de pânico. Eles são a causa de 20%
das consultas de saúde mental nos Estados Unidos e podem ocorrer em
até 10% da população, mesmo sem qualquer diagnóstico de transtorno
mental. O transtorno do pânico, por outro lado, é caracterizado pela
presença de ataques de pânico recorrentes ou pelo desenvolvimento de
extensas modificações comportamentais após um único ataque.
(KAPCZINSKI, 2004, p. 205).
Muotri (2007) refere que o transtorno de pânico é diagnosticado em
aproximadamente 10% dos indivíduos encaminhados para consultas de saúde
mental. Em contextos de clínica médica, as taxas de prevalência variam de 10 a
22
30% em clínicas de neurologia, otorrinolaringologia e doenças respiratórias, e até
60% nos consultórios de cardiologia.
De acordo com Hetem e Graeff (2004), a prevalência estimada pelo DSM-IV,
é de 1,5% a 3,5%, sendo duas a três vezes mais freqüente em mulheres. Não
existem diferenças significativas entre os sexos quanto a idade de início, perfil de
sintomas durante os ataques de pânico e comorbidades, com exceção de agorafobia
que é mais presente em mulheres. Cerca de três quartos dos pacientes com
agorafobia são do sexo feminino, mas não foram encontradas diferenças clínicas
significativas entre os sexos quanto à gravidade do comportamento evitativo e às
situações evitadas.
2.7 Teorias Psicológicas e suas contribuições
2.7.1 Teorias Psicodinâmicas
Conforme Hollander e Simeon (2004), Freud em seu conceito inicial da
formação da ansiedade, postulou que esta se originaria da transformação fisiológica
direta da energia libidinal1 nos sintomas somáticos da ansiedade, sem a mediação
dos mecanismos psíquicos. Ele encontrou evidência para esse processo nas
práticas e experiências sexuais de pacientes com ansiedade, que eram
caracterizadas por excitação sexual perturbada, continência e coito interrompido.
1
Energia postulada por Freud como substrato das transformações da pulsão sexual quanto ao objeto,
quanto à meta e quanto a fonte de excitação sexual. (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001).
23
Freud denominou esse tipo de ansiedade neurose2 atual, em oposição à
psiconeurose, devido à postulada ausência de processos psíquicos. Tal ansiedade,
originada de impulsos instintivos opressivos, seria chamada atualmente de id3 ou de
ansiedade do impulso.
Embora as teorias psicanalíticas do pânico não sejam universalmente aceitas
hoje, elas permanecem como uma ferramenta valiosa no entendimento e no
tratamento de pelo menos alguns pacientes. Além disso, poderia ser
apontado que a teoria freudiana da formação da ansiedade não é
incompatível com as teorias biológicas da ansiedade. Embora o primeiro
modelo de ansiedade de Freud tenha sido mais tarde ofuscado pelo modelo
de conflito, as teorias biológicas modernas do pânico são, de muitas
maneiras, mais reminiscentes da sua formulação fisiológica original.
(HOLLANDER E SIMEON, 2004, p.145).
Hollander e Simeon (2004), explicam que em uma tentativa de conciliar a
imprevisibilidade na escolha dos sintomas com a teoria psicodinâmica clássica, os
teóricos postularam que os pacientes com conflito inconsciente e uma predisposição
neural para o pânico podem talvez manifestar sua ansiedade na forma de ataques
de pânico, enquanto os indivíduos sem essa predisposição neural possivelmente
manifestam formas mais brandas de ansiedade. Paralelamente a essas linhas de
pensamento mais contemporâneas, os resultados de um estudo psicodinâmico de
pacientes com transtorno de pânico sugeriram que, em pacientes que são
neurofisiologicamente predispostos ao medo desde tenra idade, a exposição a
comportamentos paternos que aumentam esse medo pode resultar em perturbações
das relações objetais4, persistência de conflitos envolvendo dependência e medos
2
Afecção psicogênica em que os sintomas são a expressão simbólica de um conflito psíquico que
tem raízes na história infantil do sujeito e constitui compromissos entre o desejo e a defesa.
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2001).
3
Pólo pulsional da personalidade. Os seus conteúdos, são expressão psíquica das pulsões, são
inconscientes, por um lado hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos. (LAPLANCHE;
PONTALIS, 2001).
4
Designa o modo de relação do sujeito com o seu mundo. (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001)
24
catastróficos de desamparo, que podem ser todos acessíveis no tratamento
psicodinâmico.
2.7.2 Teorias Comportamentais
Os teóricos comportamentais sustentam que a ansiedade é condicionada
pelo medo de alguns estímulos ambientais. Pode-se dizer que os ataques de
ansiedade são reações condicionadas a situações temidas.
Grande parte desse prejuízo é decorrente do comportamento de fuga ou
esquiva das situações que, potencialmente, poderiam provocar uma crise.
Assim, fugir das situações ameaçadoras aumenta a ansiedade a médio e
longo prazo. Todavia, no momento em que esses comportamentos são
apresentados, ocorre alivio, o que mantém tais comportamentos. (RANGÉ,
2001, p. 25).
De acordo com Rangé (2001), a lembrança do ataque vivenciado e as
fantasias catastróficas aumentadas pela fuga e pela esquiva tornam a vida desses
clientes limitada, porque qualquer hora pode ser a hora de ter o pânico. Não há
esquiva que o controle totalmente. Essa constatação, que demora a acontecer,
provoca uma sensação ruim, denominada desamparo, em que a pessoa percebe
que não há o que possa fazer para ficar livre do problema.
De acordo com o mesmo autor, outra experiência que causa sofrimento para
os indivíduos que apresentam pânico é o descontrole emocional vivenciado nessa
situação. As reações corporais, as sensações corporais, as sensações e as
respostas psicofisiológicas do medo são tão intensas e inesperadas que se tornam
aversivas e impossíveis de eliminar. Elas só param quando têm que parar. A
25
tentativa de controle das reações corporais é inútil e a lembrança da experiência
surge na presença de outras respostas psicofisiológicas mais leves, mas que
lembram as vividas durante o ataque.
Qualquer mudança nas sensações corporais provoca medo de ter o ataque e
medo do medo. O indivíduo adquire medo e desconfiança do próprio corpo;
relata medo de enlouquecer, de perder a noção de si mesmo. [...] Assim,
querendo parar de sofrer, a pessoa tenta fugir das situações e das sensações
corporais que possam levar ao desencadeamento da crise. (RANGÉ, 2001,
p.26).
De acordo com Kapczinski (2003), a abordagem cognitiva propõe que as
pessoas ansiosas percebam as situações como extremamente ameaçadoras
quando, na verdade, não há ameaça real séria. Esta distorção seria de pensamentos
denominados automáticos, visto que surgem rapidamente e sem motivo real
desencadeando ansiedade. Os temas específicos relacionados aos conteúdos
desses pensamentos podem ser as preocupações com a própria saúde ou a de
familiares, com o emprego ou com situação financeira, com a avaliação das outras
pessoas, etc.
Conforme o mesmo autor, o modelo cognitivo para o transtorno de pânico
afirma que os indivíduos têm ataques de pânico devido a sua tendência a interpretar
uma variedade de sensações corporais de forma catastrófica. As sensações que
normalmente são mal-interpretadas são aquelas que, em geral, estão presentes em
reações de ansiedade normal (por exemplo, palpitação, falta de ar, tontura), além de
outras.
26
2.8 Tratamentos
2.8.1 Tratamento Farmacológico
De acordo com Abreu (2006), os tratamentos preconizados para o transtorno
de pânico estão vinculados às bases biológicas, ao curso da doença e ao
desempenho funcional das pessoas acometidas. Levando-se em conta que há
alterações nos receptores, nos intermediadores químicos e nas estruturas neuronais
envolvidas, faz-se necessário o tratamento medicamentoso e psicoterápico nas
fases agudas e na manutenção de longo prazo, no sentido de prevenir recaídas e
cronificação do quadro clínico.
Os medicamentos atualmente mais utilizados são os antidepressivos, que
tem a função de melhorar a disponibilização dos mediadores químicos nos
receptores
pré
e
pós-sinápticos. Não menos
importante,
os
benzodiazepínicos de alta potencia devem assumir papel temporário no
tratamento,sendo mais utilizados no início e associados aos antidepressivos,
porque seu uso por longos períodos pode levar as pessoas predispostas à
dependência. (ABREU, 2006, p. 78).
Conforme Hetem e Graeff (2004), duas classes de drogas tem sido
amplamente
empregadas
no
tratamento
farmacológico:
antidepressivos
e
benzodiazepínicos.
Entre os antidepressivos tricíclicos, a imipramina é a droga mais estudada,
com vários estudos reproduzindo os resultados iniciais na década de 1960 sobre sua
eficácia superior ao placebo no transtorno de pânico. Alguns resultados sugerem
que a clomipramina seria superior à imipramina na redução de ocorrência de
27
ataques de pânico, da gravidade de ansiedade antecipatória e de comportamento
evitativo.
Os mesmos autores salientam que entre os antidepressivos, alprazolam,
clonazepam e diazepam mostraram-se mais eficazes do que o placebo e
comparáveis entre si na diminuição da ansiedade antecipatória e comportamento
fóbico e evitativo. No entanto, o perfil dos efeitos colaterais dos benzodiazepínicos,
como risco de queda, especialmente em pacientes idosos, e de acidentes
automobilísticos, além do potencial para dependência, limitam seu uso a longo
prazo.
Uma das desvantagens do uso do medicamento é a demora do seu inicio de
ação, que se dá em torno de quatro semanas, com alguns pacientes
apresentando melhora clinica apenas depois de oito ou 12 semanas de
tratamento. Além disso, o inicio do tratamento está associado com piora dos
sintomas ansiosos. Um recurso muito utilizado na pratica clinica para
contornar estes problemas é a associação de benzodizapenícos nas
primeiras semanas de tratamento. Se por um lado, esta associação tem a
vantagem de agilizar a melhora do quadro clinico e controlar a exacerbação
inicial dos sintomas ansiosos, ela não deve ser mantida por período superior
a quatro ou seis semanas, pelo risco de desenvolvimento de dependência
aos benzodiazepínicos. (HETEM e GRAEFF, 2004, p. 226).
Segundo Kaplan (1999), o contexto em se administra a medicação é tão
crucial para o sucesso do tratamento farmacológico do transtorno do pânico quanto
a escolha da dosagem correta do medicamento. No inicio do tratamento é
importante estabelecer uma relação médico-paciente que assegure a atenção e
respeito para com muito das preocupações do paciente, particularmente os
apreensivos em relação a tomar medicamentos. Portanto, é importante determinar
cuidadosamente o medo de cada indivíduo com relação á medicação. É enfatizada a
tranqüilização do paciente, particularmente com relação á segurança da medicação
e à disponibilidade e responsividade do médico, caso ocorram problemas.
28
De acordo com Yano (2003), o uso de antidepressivos no controle dos
ataques do pânico pode ser considerado a estratégia principal de controle
psicofarmacológico
do
transtorno
do
pânico.
Drogas
como
clomipramina,
imipramina, fluoxetina e, mais recentemente, a paroxetina, têm eficácia comprovada
no controle do transtorno do pânico. As drogas consideradas atualmente de primeira
escolha seriam os inibidores seletivos de recaptura de serotonina (ISRS), Pela sua
maior eficácia e boa tolerabilidade.
O tratamento inicia-se com doses baixas e, posteriormente, são elevadas
gradualmente até a melhora ou controle das crises. Em alguns casos, pode-se ter o
controle com o uso de benzodiazepínicos. Quando as crises passam a ser
controladas
com
o
antidepressivo,
o
benzodiazepínico
pode
ser
retirado
gradualmente. Mesmo assim, o tratamento com antidepressivo deve continuar por
vários meses, após a remissão das crises, sendo sugerido um período mínimo de
seis meses e, idealmente, de dezoito meses.
2.8.2 Tratamento Psicoterápico
Conforme Eid (1994), o paciente chega ao consultório com um pedido de
ajuda urgente. Como queixa central traz a sensação de fragmentação da vontade e
uma falta de confiança em si mesmo e nos outros. A pessoa se sente absolutamente
perdida, não sabe o que está acontecendo, não se reconhece mais. Descreve
também os sintomas físicos que provocam um cansaço desmedido, além de toda a
insegurança que acompanha o quadro.
29
De acordo com Aquino (2010), as psicoterapias auxiliam na compreensão
dos motivos do pânico e estimula as mudanças de atitudes necessárias para
eliminá-lo. O processo terapêutico, em geral, leva alguns meses. Quando bem
conduzido, num primeiro momento, evita as crises ou pelo menos reduz
substancialmente a intensidade e a freqüência delas, trazendo alivio significativo. Na
medida em que vão ocorrendo as sessões psicoterapêuticas o paciente vai
aprendendo mais sobre seus sintomas, sobre si mesmo e, sobretudo, aprendendo a
agir em conformidade com essas descobertas ou novas percepções. Por seguinte,
ao familiarizar-se com suas potencialidades o paciente se tornará o próprio agente
da mudança de seu estado ao invés de envergonhar-se dele.
Conforme Abrão (2004), é quase impossível “descrever” e “provar”, de
acordo com o método científico tradicional, o modo como as psicoterapias ajudam a
mudar estados mentais. O fato é que mudam - e que o digam as pessoas que já se
beneficiaram desses tratamentos.
Ainda o mesmo autor salienta que existem evidencias de que tratamento
psicoterápico pode provocar mudanças no funcionamento do cérebro. Um exemplo
disso é o estudo realizado por psiquiatras tchecos (Prazko, Horacek e colegas), que
submeteu doze pacientes à tomografia por emissão de pósitrons (PET), que fornece
imagens do cérebro. (ABRÃO, 2004).
Depois de três meses de tratamento psicoterápico, a PET foi repetida.
Resultado: as imagens mostraram modificações em algumas estruturas dos
hemisférios direito e esquerdo do cérebro.
Isso significa que tratamentos psicoterápicos, promovem, sim, alterações
cerebrais. Só não se sabe como isso acontece. Não se pode afirmar com
certeza, mas provavelmente outras linhas terapêuticas obtêm resultados
semelhantes. [...] A escolha do método psicoterápico vai depender dos
desejos e das expectativas de cada um. (ABRÃO, 2004, p. 70).
30
De acordo com Abrão (2004), outros métodos de psicoterapia auxiliam:
terapias breves, focalizam a dificuldade atual do paciente e ajudam-no a lidar com
ela. Outros métodos exigem mais tempo. A Psicanálise (criada por Freud), a
psicologia analítica (criada por Carl Gustav Jung), a análise lacaniana (criada por
Lacan) levam o paciente a mergulhar na própria biografia e a entender os motivos
pelos quais “escreve” sua historia de determinadas maneiras.
Há também outro tipo de terapia, a cognitivo-comportamental, uma das mais
utilizadas em pacientes com síndrome do pânico. O método auxilia a alteração de
padrões de pensamento, o que ajuda a pessoa a superar seus medos. Além disso,
procura mudar as reações dos pacientes diante de situações que provocam
ansiedade.
De acordo com Hetem e Graeff (2004), os objetivos das psicoterapias
podem variar para cada tipo de paciente, de acordo com suas necessidades e
recursos disponíveis, e também variar no decorrer da evolução do tratamento.
Quanto mais realística a determinação de objetivos para paciente, terapeuta e
familiares, maior a chance de que sejam alcançados. Para que isto seja possível, é
necessária a avaliação cuidadosa do quadro clínico apresentado, as circunstâncias
em que se iniciou, como se insere dentro do atual contexto de vida do paciente e
quais as suas conseqüências. É também importante conhecer o desenvolvimento
pessoal e vida familiar do paciente, salientando as áreas em que conseguiu
desempenho satisfatório e onde houve dificuldades, além da qualidade dos
relacionamentos interpessoais. As condições de saúde também devem ser
avaliadas, pois, além do risco de confusão com sintomas somáticos de ansiedade,
patologias clínicas podem alterar a perspectiva de ganhos no processo psicoterápico
ou exigir abordagens específicas.
31
2.9 Relatos de casos de Transtorno de Pânico
Holmes (2001, p. 84) relata um caso que ilustra bem o transtorno de pânico:
Há quatro meses, enquanto Eliane estava em uma loja de roupas,
começou a tremer e ter ondas de calor. Subitamente, ela desenvolveu uma
dor aguda no peito e seu coração começou a bater muito rápido. Ela estava
tonta, com a respiração curta e sentia-se como se fosse perder os sentidos
ou morrer. Tudo estava fora de foco e parecia girar. Ela estava apavorada!
Uma vendedora chamou a ambulância e Elaine foi levada a sala de
emergência de um hospital próximo. Os testes de coração e sangüíneo não
revelaram qualquer evidência de um ataque cardíaco ou qualquer
anomalia. Desde o primeiro acesso ela teve outros dois, um no cinema e
outro em casa, quando estava lendo. Estes acessos “simplesmente
aparecem do nada” e são assustadores. Elaine sofre de um transtorno de
pânico, um tipo de estado de ansiedade.
Outro caso interessante de transtorno de pânico é relatado por Sheehan,
(2000, p.15):
Catherine toda noite dormia com a televisão e a luz do quarto acesa. Era
uma tentativa de não deixar a mente pensar nos ataques de pânico que
tomariam conta de todo o seu ser. O seu coração disparava em ritmo tão
rápido e forte que parecia que ia saltar do peito. Ficava sem ar e sentia
suores quentes e gelados. Sentia-se tão só e pensava que ninguém
poderia passar pelo que ela estava passando. É quase impossível para
uma pessoa começar a entender o que é sentir isso se ela também não
vivenciou uma experiência como essa.
Abreu (2006, p. 80) descreve as falas de R.C, 35 anos, casada, que há dois
meses vem mudando sua vida drasticamente em função do pânico. A paciente
relata:
Estou tendo ataques de pânico duas ou três vezes ao dia, com falta de ar,
tremores nas mãos e no corpo, sensação de asfixia, taquicardia, sensação
de desmaio e de que estou ficando louca. Sinto também que estou prestes
a morrer e poderá ocorrer a qualquer hora do dia ou da noite. Tenho a
sensação de que estou só no mundo, que ninguém pode me ajudar,
mesmo meu marido estando comigo. Já fui atendida algumas vezes no
pronto-socorro, mas todos os exames estão normais, será que tenho uma
doença rara?”.
32
No livro “Ataques de Pânico e Medo: mitos, verdades e tratamento”, Baker
(2007, p. 22) descreve o caso de R.H. com as seguintes palavras:
(...) quando estava em um exame, no dia 12 de março, suas mãos ficaram
trêmulas, começou a suar frio e sentir-se fisicamente mal. Sentia que iria
perder o controle e temia que iria começar a gritar. Ele tinha um sentimento
de pânico...tinha vontade de correr.
Outros casos relatado por Baker (2007, p. 22) é o de A. P. que:
(...) em um domingo foi ao bingo e não podia concentrar-se. Suas mãos
começaram a tremer. Tentava marcar os números no cartão. Ela não
conseguia fazê-lo. Não conseguia ver os números. As mãos começaram a
tremer, seu estômago começou a roncar e seu pescoço começou a
contrair-se. Ela afirmou que não iria mais ao bingo, porque sentia que
algumas pessoas estavam a olhando.
P. começou a agitar-se, tremer e a sentir náuseas durante reuniões em seu
trabalho em uma indústria petrolífera. Ele tinha a certeza que vomitaria ou
seu tremor seria visto por seus colegas, e havia dado tantas desculpas
para abandonar reuniões que sentia que seu trabalho estava em perigo.
(BAKER, 2007, p.10).
Outro caso que Baker (2007, p. 22) é o de A. e a seguir de M.:
A sra. A. foi para o caixa para pagar algumas compras e sentia seu
coração começar a acelerar e a boca ficar seca. Ela não conseguia tirar o
dinheiro da bolsa porque suas mãos tremiam demais. Correu para casa.
Depois disto, ela era dominada pela ansiedade todas as vezes em que saía
de casa sozinha. Ela precisava ser acompanhada por alguém de sua
família. Mesmo agora, anos depois, ela apavora-se em sair de casa, e faz
de tudo para assegurar que nunca seja deixada a sós em casa.
M, adorava seu trabalho como agente de viagens, mas, depois de um
ataque de pânico em um trem lotado na Itália, desistiu totalmente de seu
trabalho, e depois de um longo período conseguia trabalhar somente em um
serviço bem pouco exigente que não envolvia viagens.
Um caso interessante é mencionado por Eid (1994, p.66) em seu livro “O
medo e o pânico”;
33
Quando Ana Rita começou a apresentar os primeiros sinais de Pânico, além
dos sintomas somáticos e alterações metabólicas características, ela pôde
observar posteriormente que as crises apareciam em situações ou ambientes
em que deveria desempenhar o papel de mãe: isso aumentava ainda mais a
ansiedade. Seu senso de dever e as exigências que fazia a si própria ficaram
abaladas pelas crises de pânico. Sem tratamento psicoterápico, Ana Rita
contornava as sucessivas ameaças de pânico, procurando evitar situações
em que era exigida. Delegou muitas tarefas domésticas ao marido, que se
sentiu bastante sobrecarregado. Foi largado o cuidado com as duas crianças,
tentando lidar com a distância, sentindo-se protegida e à vontade só em sua
casa. As qualidades do contato afetivo e a vida familiar foram ficando cada
vez mais restritas. Chegou a parar de trabalhar. [...] Foi sugerido um
tratamento psicoterápico no qual ela poderia trabalhar os conteúdos surgidos
com o distúrbio do pânico. [...] a terapia ajudou-a no sentido de ampliar sua
pessoa, e a descobrir que era ela que não cabia mais no mundinho.
Conseguiu romper com o ambiente patriarcal que a cercava e percebeu que a
vida merecia muito mais. Já não era mais capaz de guardar todas as
emoções na gaveta. Foi longo e duro o processo, mas Ana Rita atravessou o
escuro e saiu mais bonita do outro lado.
Os casos descritos acima são fragmentos encontrados em algumas
literaturas. De acordo com Eid (1994), o ideal é associar o atendimento médico com
o tratamento psicoterápico. São atuações em paralelo que têm por objetivo melhorar
a qualidade de vida do paciente, isso porque os transtornos não se resolvem
simplesmente com o desaparecimento dos sintomas. Os portadores dos quadros de
pânico tem em comum características ansiosas em sua personalidade. E, ao longo
do processo de cura, o apoio dado por outros pacientes e a qualidade de vínculo
estabelecido com o médico são elementos de grande ajuda.
34
3 CONCLUSÃO
A pesquisa bibliográfica realizada sobre a Síndrome ou Transtorno do
Pânico veio com o intuito de esclarecer esta doença que aflige muitas pessoas,
embora ainda seja desconhecida ou pouco divulgada para a população em geral. O
objetivo principal foi realizar uma revisão bibliográfica sobre Transtorno de Pânico
nas bases literárias existentes, destacando livros e artigos científicos, além de
buscar descrever especificamente sobre a Síndrome do Pânico, sua epidemiologia,
caracterizar a sintomatologia e opções de tratamento.
Durante o desenrolar do trabalho constatou-se a falta de informações de
dados brasileiros, principalmente epidemiológicos, a respeito da Síndrome do
Pânico. Os dados encontrados em relação a epidemiologia baseiam-se em estudos
com a população americana, o que é um fato preocupante pois ainda não são
divulgados, dados sobre incidência, tratamentos, recaídas, entre outros, na
população brasileira. A pesquisa bibliográfica encontrou apenas alguns artigos que
explanam um pouco sobre o assunto.
Esse cenário destaca a importância de aprofundar estudos na população
brasileira a respeito da Síndrome do Pânico, pois seus dados epidemiológicos ainda
são uma incógnita. Ou seja, não há precisão de quantos casos vem ocorrendo sem
conhecimento, registro ou tratamento adequados. Estes registros são necessários
até mesmo para desenvolver trabalhos focados neste transtorno que afeta um
percentual considerável da população (2% a 5%) e que por não serem quantificados
adequadamente no Brasil ficam a esperar pelo diagnóstico correto após longas e
várias buscas em pronto atendimentos sem respostas para o caso.
35
Nos estudos encontrados durante a pesquisa pôde-se perceber o quanto é
importante a utilização de tratamento combinado associando a psicoterapia e a
farmacoterapia. Ambos tratamentos propiciam efeitos benéficos e também em curto
prazo. Os dois tratamentos juntos revelam um grande avanço no tratamento da
Síndrome do Pânico e fornecem os meios necessários para que os indivíduos
acometidos se percebam capacitados para enfrentar tal situação e se dêem conta de
que são capazes de viver suas vidas.
Os objetivos propostos nesta pesquisa foram alcançados, pois foi possível
realizar uma revisão bibliográfica sobre Transtorno de Pânico revisando seus
conceitos, sua prevalência na população, bem como esclarecendo a sintomatologia.
Foi possível também demonstrar os tratamentos psicológicos e farmacológicos mais
eficazes. Destaca-se novamente que há uma carência na pesquisas com dados
brasileiros e este vácuo científico deve ser preenchido por pesquisas na população
brasileira.
36
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