ação e visão – construindo um novo olhar para novas

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AÇÃO E VISÃO – CONSTRUINDO UM NOVO OLHAR PARA NOVAS
COMPENTÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
STIVAL, Maísa do Rocio
[email protected]
RICETTI, Miriam Aparecida
[email protected]
Eixo Temático: Cultura, Currículo e Saberes
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
O presente artigo apresenta uma breve reflexão acerca da Educação de Jovens e Adultos,
referenciando alguns autores da área de psicologia e teóricos da aprendizagem.,como Skinner,
Piaget, Gardner, Pichon-Rivière, fazendo-se um paralelo entre suas teorias e as situações
cotidianas no espaço físico da escola, objetivando fomentar uma discussão acerca desta
modalidade de ensino. O estudo apresenta um recorte da história, referenciando a Paulo
Freire, um dos precurssores da educação para adultos, e apresentando algumas concepções
que acabaram tornando esta modalidade de ensino muito aquém do que confere a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação 9394/96. Em torno deste tema, buscou-se nas teorias dos
autores referenciandos fazer uma aproximação com a educação ao qual se atua, de forma a
aprimorar o trabalho concomitantemente com os professores, bem como a articulação que se
faz necessário com as questões do mercado do trabalho e as respostas dadas para as inúmeras
exigências da sociedade ao tratar-se da empregabilidade e as habilidades e competências para
o século XXI. Nota-se que a Educação de Jovens e Adultos ao longo das décadas, acompanha
as mudanças estratégicas que impulsionam muitas vezes a construção política e econômica
das sociedades, bem como a evolução tecnológica e utilização de diferentes tecnologias
trazendo novos e complexos desafios, evidenciando-se a necessidade da formação
educacional não apenas no puro letramento da Língua Portuguesa e da Matemática, mas
voltada para a formação profissional e de certa forma para a empregabilidade. Portanto, o que
se exige do aluno ingresso na Educação de Jovens e Adultos, em geral é que apresente e
desenvolva certas qualidades que vão muito além daquelas habilidades gerais ou técnicas que
os processos educativos convencionais podem oferecer. Requer-se uma nova postura, que seja
mais geral, versátil, criativa e permanente, que vai de encontro às mudanças que estão sendo
presenciadas neste século.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; Competências; Aprendizagem
6359
Introdução
O Século XXI está iniciando com grandes inovações tecnológicas e agravamento do
desemprego. A melhor forma de superar o problema do desemprego é o crescimento
econômico, mas isso, embora condição necessária, não é suficiente. É preciso investir na
educação e na qualificação das pessoas e flexibilizar as regras de contratação. A introdução de
novas tecnologias provoca fortes deslocamentos entre ocupações e aumenta as exigências de
qualificação dos trabalhadores. (LACOMBE,2005).
A questão da preparação profissional e as constantes mudanças do mercado de
trabalho têm aparecido insistentemente nos discursos educacionais oficiais dos últimos
tempos e também como preocupação da maioria dos educadores, órgãos afins e da sociedade
em geral.
As diferentes políticas educacionais e governamentais, no entanto, tem tratado essa
problemática de maneira descontextualizada. Essas políticas, de um lado, têm superestimado a
importância do trabalho nas empresas e, de outro lado, não tem levado em consideração as
transformações do processo e as novas exigências da sociedade moderna. (MELLO,1993)
As Instituições de Ensino têm como seu produto: informação, o seu cliente: o aluno,
portanto devem investir em habilidades e competências, transformando-o em um cidadão
pleno. A definição de uma pedagogia fundada “sobre os objetivos e as competências aparece
particularmente ajustada a essas novas exigências sociais”(ROPÉ E TANGUY, 1997)
O resgate da qualificação entendido como recuperação e valorização da competência
profissional dos trabalhadores em geral, não é apenas uma questão de desempenho técnico,
envolve também uma dimensão de cidadania, que extrapola os muros da empresa: ler,
interpretar a realidade, expressar-se verbalmente e por escrito, lidar com conceitos científicos
e matemáticos abstratos, trabalhar em equipe na resolução de problemas, enfim, tudo que se
define como perfil de trabalhadores, tende a torna-se requisito para a vida na sociedade
moderna. Se o mercado exige empresas competitivas, a sociedade exige cidadãos
competentes.
O fato é que as novas realidades do mundo do trabalho requerem trabalhadores com
mais conhecimento, cultura, preparo técnico. Sendo assim, a falta de educação (incluindo
novas habilidades cognitivas e competências sociais) passa a ser determinante da condição de
6360
inclusão ou exclusão social, porque o mercado de trabalho não aceita mais mão-de-obra não
qualificada. A escola não pode sozinha ser concebida como a impulsionadora das
transformações sociais. As tarefas de construção de uma democracia econômica e política
pertencem a várias esferas de atuação da sociedade, e a escola é apenas uma delas. Mas a
escola tem um papel insubstituível quando se trata de preparação cultural e científica das
novas gerações para enfrentamento das exigências postas pela sociedade do conhecimento. A
escola tem o compromisso de reduzir a distância entre a ciência cada vez mais complexa e a
formação cultural básica a ser provida pela escolarização. O fortalecimento das lutas sociais e
a conquista da cidadania dependem de ampliar, cada vez mais, o número de pessoas que
possam participar das decisões primordiais que dizem respeito aos seus interesses.
(LIBÃNEO, 2001)
O novo perfil do trabalhador identifica-o como sendo um agente do conhecimento,
pois detecta, resolve e intercambia problemas e suas soluções, manipulando símbolos e
conteúdos com vistas à simplificação da realidade, transformando-a em imagens concretas
que podem ser reordenadas, comunicadas e alteradas de novo em realidade. (BASTOS, 2002).
A riqueza passa a ser gerada mais pela aplicação do conhecimento do que pelo próprio
trabalho, e as oportunidades de crescimento e desenvolvimento residem na transformação das
organizações em negócios ligados ao conhecimento. As pessoas nas organizações devem ser
capazes de aprender com rapidez e continuidade, de inovar incessantemente e de assumir
novos imperativos estratégicos com maior velocidade e naturalidade. (GIL, 2001).
Diante do exposto a EJA - Educação de Jovens e Adultos necessita de uma roupagem
nova, que dê conta de contribuir não somente com conteúdos programáticos conceitudinais,
mas também atitudinais, que promovam mudanças e novos perfis dos alunos inseridos.
Em função das novas tecnologias, hoje, não somente o mercado de trabalho, mas as
escolas também demandam de profissionais da educação que despertem o espírito criativo,
empreendedor e desafiador nos alunos da Educação de Jovens e Adultos.
Educação De Jovens E Adultos – Uma Olhar No Passado
Falar da EJA - Educação de Jovens e Adultos, num contexto atual se faz necessário
reportamos a definições que deram conotações diferenciadas ao longo dos anos, para esta
modalidade de ensino.
6361
O autor Gadotti (2006) coloca-nos que “a educação de adultos muitas vezes é definida
por aquilo que ela não é. Ressalta o autor que os termos educação de adultos, educação
popular, educação não formal e educação comunitária, são muitas vezes usadas como
sinônimo, mas não são”.
Segundo o mesmo autor, os termos “educação de adultos e educação não formal
referem-se à mesma área disciplinar, teórica e prática da educação”.
Na Lei Diretrizes e Bases, 9394/96 – seção V da Educação de Jovens e Adultos,
preconiza o Art.37 “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram
acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.
Da mesma forma, em seu artigo ”Visões da Educação de Jovens e Adultos no Brasil” a
autora Dipierro(2009) acentua que a educação de jovens e adultos se constitui como tema de
política educacional, sobretudo a partir dos anos 40. Destaca que a educação de jovens e
adultos é um campo de práticas e reflexão que inevitavelmente transborda os limites da
escolarização em sentido estrito.
Todas estas colocações não se assemelham com o enfoque dado na Conferência
Internacional sobre Educação de Adultos,em 1963, em que a educação de adultos é concebida
como uma continuação da educação formal, como educação permanente, e, de outro lado, a
educação de base comunitária.
A complexidade que hoje se apresenta a Educação de Jovens e Adultos, já era nos
auges da década de 40 vista por Paulo Freire, um dos precursores nesta área de estudo no
Brasil, que resulta numa análise sempre contemporânea da sociedade e sua capacidade de
proporcionar ao homem o pleno desenvolvimento de suas habilidades sociais, políticas e
econômicas.
Freire (1983) reporta as relações que os homens travam no mundo, impulsionando
para um debate além das paredes das escolas. Portanto:
As relações que o homem trava no mundo com o mundo (pessoais, impessoais,
corpóreas e incorpóreas) apresentam uma ordem tal de características que as
distinguem totalmente dos puros contatos, típicos da outra esfera animal. (...) Há
uma pluralidade nas relações do homem com o mundo, na medida em que responde
à ampla variedade dos seus desafios. (FREIRE, 1983, p. 39 e 38).
6362
Nesse sentido, cabe uma reflexão acerca do que tem sido a Educação de Jovens e
Adultos, num contexto mais atual, de que forma esta modalidade de ensino tem buscado
dignificar a ausência de um tempo, deixado por inúmeras razões, e que, benefícios reais tem
conseguido aqueles que retomam seus estudos.
Corroborando com as idéias de Fávero (2004, p.17) “a educação de adultos desde os
primórdios foi vista como uma ação ampliada, não restrita à alfabetização, a ação educativa
tendia a concretizar-se em ações práticas vistas no que se entendia naqueles anos como
desenvolvimento de comunidades”.
Isto posto, ao longo dos anos a Educação de Jovens e Adultos, tem sido ofertada com
o intuito primeiro de diminuir um alto índice do analfabetismo e posteriormente a ascensão
destes alunos num mercado de trabalho, e conseqüentemente o desenvolvimento de sua
cidadania.
Da mesma forma, Paiva (2004, p.29) afirma que ”a educação de jovens e adultos, na
contemporaneidade, adquire um novo sentido. Este sentido é fruto das práticas que se vão
fazendo nos espaços que educam nas sociedades: escolas, movimentos sociais, trabalho,
práticas cotidianas”.
Sendo assim, nota-se que a Educação de Jovens e Adultos ao longo das décadas,
acompanha as mudanças estratégicas que impulsionam muitas vezes a construção política e
econômica das sociedades, bem como a evolução tecnológica e utilização de diferentes
tecnologias trazendo novos e complexos desafios a esta modalidade de ensino, evidenciandose a necessidade da formação educacional não apenas no puro letramento da Língua
Portuguesa e da Matemática, mas voltada para a formação profissional e de certa forma para a
empregabilidade.
Algumas Reflexões Sobre As Teorias Da Psicologia Da Aprendizagem Para O Contexto
Da Educação De Jovens E Adultos.
Os paradigmas que permeiam as Teorias da Psicologia da Aprendizagem, bem como
estudos voltados para análise do comportamento do individuo, deram suporte para uma
análise reflexiva acerca da aprendizagem que se estabelece na Educação de Jovens e Adultos.
O contexto educacional atual nos mostra situações cotidianas que refletem em ações
que levam a inúmeros problemas de aprendizagem, mas ao retomar-se a literatura específica,
6363
apura-se que o contexto social, político e econômico em que estão inseridos nossos alunos da
Educação de Jovens e Adultos, também interferem na sua aprendizagem.
É necessário compreender os mecanismos sociais e individuais, que estão além do
letramento, que passa pelas emoções, pelo pensamento, pelas ações que completam o
indivíduo em sua vivência.
O ato de aprender denota a possibilidade de intervir-se numa sociedade supostamente
apreendida, a partir de um conjunto de informações aplicadas ao desenvolvimento cognitivo,
social e cultural de cada um.
A educação está em plena transformação e solicita mudanças, tanto em sua
organização como no pensar daqueles que estão à frente desse processo de transformação do
homem em cidadão pleno, bem como a articulação que se faz necessário com as questões do
mercado do trabalho e as respostas dadas para as inúmeras exigências da sociedade ao tratarse da empregabilidade e as habilidades e competências neste novo século.
Para Ross (2003, p.9) “anular a capacidade de trabalho de um indivíduo é roubar-lhe a
própria essência de viver. Eliminar as dificuldades e os problemas que lhe cercam a
sobrevivência é privar o seu raciocínio e inibir sua criatividade. (...) Dos desafios nasce à
capacidade de pensar, compreender, produzir, realizar e escolher o caminho”.
Segundo Coleman (2005 apud SENGE, 2005, p.290) “o ímpeto para formar parcerias
entre empresas e a educação tem ficado cada vez mais forte desde a década de 1980, mas,
recentemente, está se tornando mais relevante entre empresas orientadas para a
aprendizagem”.
Esta parceria, empresa e escola, têm promovido no âmbito da psicologia e da educação
uma gama de análises e reflexões relevantes para o aprimoramento tanto de uma quanto da
outra.
Jean Piaget analisou por muitos anos o psiquismo infantil, e concluiu que:
Cada criança constrói ao longo do processo de desenvolvimento, o seu próprio
modelo de mundo, é possível determinar o quanto o conhecimento é relevante para a
compreensão, muitas vezes de atitudes, e a seqüência de desenvolvimento do
modelo de mundo que uma criança vai desenvolvendo ao longo de sua vida. (
PIAGET, apud GOULART 1983, 21,22)
Segundo Piaget (1988 apud LAKOMY, 2003, p.27) há quatro fatores como sendo
responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo da criança: “fator biológico, em particular o
6364
crescimento orgânico e a maturação do sistema nervoso; o exercício e as experiências
adquiridas na ação da criança sobre os objetos; as intenções sociais que ocorrem através da
linguagem e da educação; e o fator de equilibração das ações”.
Da mesma forma Piaget elencou em sua obra quatro períodos de desenvolvimento:
cognitivo, sensório-motor, pré-operacional, operacional-concreto, operacional-formal, que até
hoje fazem parte dos estudos acerca da aprendizagem, bem como os conceitos de assimilação,
acomodação e equilibração. É importante destacar que para Piaget o individuo passa por esses
períodos, não de forma estanque, mas com pré-requisitos, para a construção mental, que o
indivíduo aperfeiçoa no decorrer da vida.(PIAGET, 1977, apud MOREIRA, 1999, p.95-101)
Portanto, ao falar-se do fator aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos, buscase estabelecer um elo entre a teoria de Piaget, na medida em que tanto o aluno quanto
professor se utiliza da relação com o outro para aprender, bem como, a importância da ação
no desenvolvimento da inteligência que cada um constrói com a interação com o meio, e
passam a ser sujeitos construtores de seus próprios conhecimentos.
Para Piaget (1983) a inteligência depende da ação do sujeito sobre os objetos, numa
espécie de diálogo entre estruturas internas e a realidade externa, portanto educar não se refere
tanto à transmissão de conteúdos quanto a favorecer a atividade mental do aluno.
No que concerne as Teorias Behavioristas, encontraremos em Skinner
uma
análise funcional de relações entre estímulos e respostas, ou seja, comportamentos
observáveis.
O autor Moreira (1999) destaca que existem várias abordagens à teoria E-R (estímuloresposta) algumas datando inclusive, de fins do século XIX e inicio do século XX. Tais
abordagens são chamadas teorias conexionistas, no sentido que supõem que todas as respostas
(comportamentos) são eliciadas por estímulos, ou seja, parte da idéia de conexão entre
estímulo e resposta.
Vista para o campo educacional e conseqüentemente do campo do trabalho, é uma
relação sempre presente tanto na escola quanto na empresa, na medida em que a escola
oferece muitas vezes o conhecimento elaborado (estímulo) e o aluno por sua vez elabora suas
(respostas) diante do que aprendeu. No campo do trabalho, a ação gerada a partir da força
física ou mental – transforma-se em trabalho(estímulo), e este tem como retorno sua
remuneração, a (resposta).
6365
Ross (2003, p.30), em estudo realizado acerca das teorias afirma que segundo os
behavioristas “é possível modificar o comportamento humano manipulando os elementos
presentes em seu ambiente fazendo com que ele aumente ou diminua sua freqüência”.
Portanto para Skinner a educação deve ser planejada passo a passo, de modo a obter os
resultados desejados na “modelagem” dos alunos, pois só é possível teorizar e agir sobre o
que é cientificamente observável, concreto. Da mesma forma, levar o aluno a emitir
comportamentos progressivamente próximos do objetivo final, sem que para isso precise
cometer erros. (SKINNER apud NOVA ESCOLA, 2008, p.102).
Na Educação de Jovens e Adultos na sua maioria, classe trabalhadora que retornaram à
escola, após terem sido excluídos no seu período regular de estudos, há a necessidade de
realizar o processo de aprendizagem como um agente de mudança do comportamento, sendo
tarefa fundamental do professor levar o aluno a pensar que ações são pertinentes nas relações
que ali desencadeiam.
Da mesma forma não se poderia deixar de elencar Vygotsky, para completar a análise
acerca do processo de aprendizagem que envolve a Educação de Jovens e Adultos.
Para o autor Vygotsky (1992, apud OLIVEIRA, p.77) “o pensamento tem sua origem
na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e
emoção. Nesta esfera estaria à razão última do pensamento e, assim, só é possível quando se
compreende sua base afetivo-volitiva”.
Para o mesmo autor (1992 apud OLIVEIRA, p.79 ) a cultura não é pensada como um
sistema estático ao qual o indivíduo se submete mais como uma espécie de “palco de
negociações” em que seus membros estão em constante processo de recriação e
reinterpretação de informações, conceitos e significados. Ao tomar posse do material cultural,
o indivíduo o torna seu, passando a utilizá-lo como instrumento pessoal de pensamento e ação
no mundo, da mesma forma a linguagem, que por ser sempre polissêmica, sempre requer
interpretações com base em fatores lingüísticos e extralingüísticos. Segundo Vygotsky:
Para compreender a fala de outro não basta entender as suas palavras – temos que
compreender o seu pensamento. Mas nem mesmo isso é suficiente – também é
preciso que conheçamos a sua motivação. Nenhuma análise psicológica de um
enunciado estará completa antes de se ter atingido esse plano. (Vygotsky, 1989
p.130)
6366
As palavras desempenham um papel central não só no desenvolvimento do
pensamento, mas também na evolução histórica da consciência como um todo. Uma palavra é
um microcosmo da consciência humana. (VYGOTSKY, 1989, p.132)
Para Vygotsky é uma constante em seu pensamento a importância das conexões,
profundas, entre as dimensões cognitivas e afetivas do funcionamento psicológico do homem.
Portanto sua contribuição para a Educação de Jovens e Adultos se dá no fato de que o
aprendizado decorre da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a
sociedade. Para o autor “na ausência do outro, o homem não se constrói homem”. A formação
se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor – ou seja, o homem
modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem, e é esta interação que cada pessoa
estabelece com determinado ambiente que chamamos de experiência pessoalmente
significativa. Todo aprendizado é necessariamente mediado e isso torna o papel do ensino e
do professor mais ativo e determinante, para quem cabe à escola facilitar um processo que só
pode ser conduzido pelo próprio aluno. (VYGOTSKY apud NOVA ESCOLA, 2008 p.92.93)
Ainda não há uma formação específica para professores atuarem com a Educação de
Jovens e Adultos, porém, é fundamental que aqueles que estão à frente, se preparem para que
possam desenvolver um trabalho com a qualidade desejada, principalmente, pelo fato que
estes alunos, em muitos casos são oriundos de uma parcela da sociedade, que tiverem seu
tempo escolar interrompido, ou que nunca iniciaram.
Por esta linha de raciocínio, cabe ressaltar a importância dos estudos realizados por
Vygotsky , sobre a zona proximal que diz respeito ao caminho entre o que o aluno consegue
fazer sozinho e o que ele está perto de conseguir fazer sozinho. E saber identificar essas duas
capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas é para o autor, as duas
principais habilidades que um professor precisa ter.(VYGOTSKY apud NOVA ESCOLA,
2008,p.94.).
A estas habilidades também agregamos, a do professor promover um laço de
afetividade com seus alunos, condição necessária para que alunos da Educação de Jovens e
Adultos sintam-se pertencentes e este grupo social, tal proposição vem de encontro a Teoria
do Vínculo, elucidada por Pichon-Rivière.
Toda ação requer primeiramente que seja estabelecido um vínculo, ao qual segundo
Pichon-Rivière (1988), define como “uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um
objeto, e sua mútua inter-relação com processos de comunicação e aprendizagem. O vínculo
6367
não necessariamente se dá de forma individual (duas pessoas), ele pode acontecer de forma
grupal, chegando a se estender a uma nação.
Através da noção de vínculo, abordamos a relação entre a estrutura social e a
configuração do mundo interno do sujeito. O sujeito é um ser de necessidade que somente se
satisfaz através de relações que o determinam.
Outro aspecto relevante da teoria de Pichon-Rivière, e que vem de encontro a
situações presentes no contexto da Educação de Jovens e Adultos é a relação que os alunos
trazem em função de suas famílias. Segundo Motta (2008), Pichon-Rivière, quando ainda era
estudante de medicina, com suas primeiras investigações sobre o grupo familiar de crianças
oligofrênicas (lesões orgânicas), eram produto de retardos afetivos, causado, nesses casos, por
carências afetivas sofridas na infância, no seio do grupo familiar.
Muitos dos alunos ingressos na Educação de Jovens e Adultos apresentam
características como esta descrita por (PICHON-RIVIÈRE apud MOTTA, 2008), o que levanos a apreciar uma nova metodologia para atuar com estes alunos.
Acerca da aprendizagem, Pichon-Rivière considera que é uma rede de contradições,
por tudo que é heterogêneo. No grupo operativo, técnica criada pelo autor, o sujeito deve ser o
autor de sua aprendizagem, por meio da apropriação da realidade e de sua identidade
construída historicamente e, por isso, ao mesmo tempo em que a aprendizagem é um
fenômeno psicológico, é também social. Pichon-Rivière também possui um conceito muito
importante para compreendermos a aprendizagem: o ECRO - Esquema Conceitual
Referencial e Operativo, que representa a orientação para o ato de aprender, as experiências e
a afetividade do aluno, ou do sujeito como um todo. Portanto, ele é único e não há um ECRO
igual ao outro.
Para que essa aprendizagem se configure, é necessário que haja o vínculo, que se
define como a estrutura de complexidade que inclui um sujeito, um objeto e a relação que
ocorre entre ambos, logo, cabe ao professor que atua na Educação de Jovens e Adultos
estabelecer o vínculo afetivo com seus alunos, a fim de promover uma mudança significativa
de comportamento. Nesse sentido, seria função da escola enfatizar uma educação centrada no
aluno, seus interesses, aptidões e objetivos, possibilitando se tornar um cidadão integrado em
sua comunidade. Ajustar-se às mudanças dessa grandeza requer capacidade de adaptação,
primeiramente da escola e posteriormente do aluno.
6368
Referenciando a Gardner, todos nós temos potenciais diferentes, mas todos nascem
com capacidade para desenvolver todas as inteligências. Algo que ocorre naturalmente e
deve-se considerar também que a carga genética pode ser decisiva e possuem-se capacidades
que podem e devem ser estimuladas e desenvolvidas.
Gardner (1996) descreve que há oito tipos de inteligências percebíveis: lingüística,
lógica-matemática, musical, espacial, corporal-cinestésica, interpessoal, intrapessoal e a
naturalista que são competências que se desenvolvem ao longo da nossa vida.
A escola deve ter como objetivo desenvolver as várias inteligências do aluno, bem
como auxiliá-los a encontrar seu próprio equilíbrio e entender que todo aluno tem o potencial
para desenvolver suas “inteligências” desde que adequadamente estimulado. Para isso é
necessário que a escola considere as diferenças entre os alunos em vez de ignorá-las. Nesse
sentido seria função da escola enfatizar uma educação centrada no aluno, seus interesses,
aptidões e objetivos, possibilitando se tornar um cidadão integrado em sua comunidade.
Numa mesma linha de pensamento, Lakomy (2003, p.43) “a escola deve proporcionar
um ambiente positivo, que incentive o aluno a criar soluções, explorar possibilidades, levantar
hipóteses, explicar seu raciocínio e testar suas próprias conclusões”.
O professor em sala de aula deve ser um questionador, instigador de situações e
resoluções de problemas, e nunca pensar pelo aluno, pois se isso acontecer não se cria
autonomia de pensamento nos alunos e desenvolvimento das competências necessárias para o
século XXI.
Corroborando com Gardner (2006) “não adianta mudar o comportamento sem
transformar o pensamento, quando mudamos simplesmente um hábito, em pouco tempo
voltamos a fazer o que fazíamos antes, porque nosso pensamento não mudou”.
Partindo-se para uma analise mais estrutural acerca da Educação de Jovens e Adultos é
possível retirar da teoria de Gardner, a necessidade de uma visão integral de cada indivíduo e
a valorização da multiplicidade e da diversidade na sala de aula, que levarão a culminância da
transformação do pensamento e não somente de comportamento.
É fundamental que os professores atuantes nesta modalidade de ensino, tenham clareza
que os alunos não vão para escola como uma tela vazia ou um computador sem memória, mas
sim, com teorias interessantes, embora não necessariamente corretas. Promover a mudança é
tarefa que tanto professores quanto alunos precisam estar em consonância, para que as
habilidades exigidas além dos muros da escola sejam realmente alcançadas.
6369
Considerações Finais
As organizações vivem uma “era de descontinuidade”, caracterizada por constantes
mudanças, em decorrência de processos de modernização tecnológica, privatizações,
redefinições de políticas econômicas e outras formas de reestruturação produtiva, ou seja, o
mundo caminha rapidamente para uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e
na tecnologia.
Portanto, o que se exige do aluno ingresso na Educação de Jovens e Adultos, em geral
é que apresente e desenvolva certas qualidades que vão muito além daquelas habilidades
gerais ou técnicas que os processos educativos convencionais podem oferecer. Requer-se uma
nova postura, que seja mais geral, versátil, criativa e permanente, que vai de encontro às
mudanças que estão sendo presenciadas.
Mudanças não apenas quantitativa, mas uma mudança qualitativa na relação do ser
humano com a realidade. Enquanto a primeira e a segunda revoluções significaram uma
potencialização fantástica da força física humana, a terceira amplia a capacidade mental e
intelectual. (FRIGOTTO,1997).
Portanto as instituições de ensino devem deixar de ser sinônimo de transferência de
conhecimentos para as gerações mais jovens e transformar-se em renovação constantes das
necessidades ao longo de toda vida do indivíduo, tornando-se uma educação continuada. O
indivíduo se sente perdido e profundamente inseguro nesse ritmo prodigioso de mudança
tecnológica e implantação de novas mídias. A realidade é que as estruturas sociais e a cultura
organizacional evoluem em ritmo muito mais lento que as tecnologias.
A escola é a única entidade credenciada para trabalhar o conhecimento científico e a
norma culta. Não podemos desconsiderar o que os alunos trazem para sala de aula, como
vivências com a sociedade (mundo real), e a aprendizagem, enquanto construção do
conhecimento pressupõe entendê-la tanto como produto, quanto como processo. Assim não
importa apenas a quantidade de conteúdo, mas a competência, aquilo que é capaz de fazer,
interpretar e compreender. A qualidade do conhecimento liga-se à possibilidade de continuar
aprendendo.
Da mesma forma os alunos demonstram competência quando estabelecem relações
entre diversos objetos, identificam semelhanças e diferenças com base em critérios objetivos e
6370
éticos, pois se pode afirmar que o conhecimento é produzido mediante um processo de
elaboração pessoal, isto é, ninguém pode realizar em seu lugar. (ROSS, 2003, 97 e 98)
O desenvolvimento dessas capacidades mentais dependerá dos objetivos do professor,
dos conhecimentos prévios dos alunos e das ajudas que recebem no processo de elaboração. O
que é o objeto de aprendizagem dos alunos são conhecimentos de natureza cultural, os quais
devem ser objeto de planejamento para o ensino. Assim, pode-se dizer que a atividade mental
do aluno é uma atividade social culturalmente mediada.
Podemos concluir que para o aluno da Educação de Jovens e Adultos seja inserido no
mercado de trabalho em busca de sua empregabilidade é necessário que a Escola, Sociedade e
Estado, desenvolvam políticas de inclusão destes alunos e criem mecanismos de incentivo e
permanência dos mesmos na escola para desenvolvimento das competências necessárias para
o século XXI.
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