Genética e Bioquímica – Bioquímica Potencial Antidiabético de Chalconas Derivadas Apocinina: Inibidores de Alfa-Glicosidases 1 1 1 de 2 Beatriz C. Marques , Mariana B. Santos ,Gabriela M. Ayusso , Mario Senger , Floriano P. Silva2 1 Junior ,Luis O. Regasini 1 Universidade Estadual Paulista – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, São José do Rio 2 Preto. Grupo de Pesquisa em Estrutura de Sistemas Biomoleculares - Fundação OswaldoCruz – Rio de Janeiro INTRODUÇÃO O diabetes melitus é um dos maiores e mais dispendiosos problemas de saúde pública em crescimento no mundo, afetando aproximadamente dez milhões de brasileiros (Skyler, 2004; Marcondes, 2003). A prevalência dessa síndrome em adultos com idade acima de 20 anos era de 4 % em 1995, sendo esperado um aumento de 5,4% até 2030 em todo mundo, principalmente de diabetes tipo II (Virallyet al., 2007). Desde o descobrimento da insulina por Banting e Best no início do século XX, o tratamento medicamentoso do diabetes tem sofrido mudanças significativas. A última década foi marcada por um grande avanço na terapia farmacológica, com uma série de fármacos novos, sendo disponibilizados na clínica para o tratamento da diabetes tipo II. A descoberta de agentes hipoglicemiante constitui ainda um grande desafio no tratamento do diabetes, devido ao elevado índice de efeitos adverso e à baixa eficácia dos fármacos existentes (Uwaifo&Ratner, 2005). As glicosidases, enzimas essenciais ao metabolismo dos carboidratos, são alvos terapêuticos estratégicos para a descoberta e-ou desenvolvimento de fármacos antidiabéticos (De Melo, Gomes & Carvalho, 2006). Chalconassão uma das maiores classes de flavonoides, com distribuição ampla nos plantas, sendo precursores comuns dos demais flavonoides (Nowakowska, 2007). Segundo a Química dos Produtos Naturais, as chalconassão consideradas flavonoides de cadeia aberta, nos quais dois anéis aromáticos encontram-se ligados por uma cetona α,β-insaturada, compondo um esqueletobiossintético C6C3C6 (Batovska et al, 2009). OBJETIVOS O presente trabalho objetivou a síntese e avaliação do potencial antidiabético de quinzechalconasderivadas de apocinina contra maltase e amilase. METODOLOGIA Procedimentos Químicos Foram sintetizadas dozechalconas pela reação de condensação aldólica de ClaisenSchmidt por catálise básica, utilizando derivados de benzaldeídos (estrutura em azul) e apocinina (estrutura em vermelho) (Figura 1). A síntese dessas chaclonasdemonstraram rendimentos satisfatórios (15 à 70%). A purificação dessas substâncias foi realizada por precipitações, cristalizações e cromatografia em coluna de gel de sílica. A confirmação da estrutura molecular foi realizada a partir da análise dos espectros de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio e Carbono 13. Figura 1. Reação de Claisen-Schmidt para Obtenção de ChalconasDerivadas de Apocinina O O O CH3 O O EtOH, refluxo H + NaOH HO HO Procedimentos Bioquímicos Ensaio com Maltase de Saccharomycescerevisiae (MAL12) A atividade anti-maltase foi determinada segundo Ferreira e colaboradores (Ferreiraet al., 2010). Uma mistura reacional de volume final de 200 μL, contendo 50 mmol L-1 de tampão fosfato, 100 mmol L-1 de cloreto de sódio e 1,0 mmol L-1 de para-nitrofenil-αglicosídeo (PNP-G)(pH 7,0) foram pré-incubadas a 37 oC por cinco minutos. A reação foi iniciada pela adição de 25 μL (100 μgmL-1) de maltase. A absorvância foi observada em 405 nm, o que corresponde à liberação de para-nitrofenol. Ensaio com Alfa-Amilase Pancreática de Porco (PPA) A atividade anti-alfa-amilase foi determinada segundo Senger e colaboradores (Sengeret al., 2012). Uma mistura reacional de volume final de 200 μL, contendo 50 mmol L -1 de tampão Hepes, 5mmol L-1 de cloreto de cálcio, 100 mol L-1 de cloreto de sódio, e 1,0 mmol L-1 de 2-cloro-para-nitrofenil-α-glicosídeo CNPG3 (pH 7,0) foram pré-incubadas a 37 oC por cinco minutos. A reação foi iniciada pela adição de 20 μL de PPA. A absorvância foi observada em 405 nm, o que corresponde à liberação de 2-clorofenol-paranitrofenol. RESULTADOS Foram ensaiadas dozechalconas, contendo diferentes anéis arílicos, sendo que cinco chalconas derivadas de apocinina apresentaram inibição significativa na concentração de 100 mmol L-1 (Figura 2). Figura 2. Chalconas Derivadas de Apocinina com Ação Inibitória sobre Alfa-Glicosidases NO 2 HO H 3 CO O HO HO H 3CO H 3CO O O 2 apocinina O HO H 3CO O 4 3 S HO HO H 3CO H 3CO O 5 N O 6 Os resultados dos ensaios para inibição de α-glicosidases (amilase e maltase), Tabela 1, demonstraram que a chalcona2apresentou uma boa porcentagem de inibição de amilase, 55%, assim como apresentou também inibição para maltase (10%), valorescomparáveis a acarbose, fármaco utilizado clinicamente no tratamento de diabetes melitus tipo II. Tabela 1. Inibição de Alfa-Glicosidases Chalconas Porcentagem de Inibição Amilase Maltase 55 10 2 zero 27 3 11 16 4 zero 14 5 10 zero 6 48 Não testada acarbose CONCLUSÕES Dentre as quinze chalconas derivadas de apocinina , cinco demostraram atividade antialfa-glicosidase, sendo que a chalcona2 apresentou ação simultânea em amilase e maltase, podendo agir sinergicamente in vivo, atuando em dois pontos diferentes do metabolismo de carboidratos. Contudo, as chalconasbioativastiveram sua estrutura baseada na apocinina, uma acetofenona presente em plantas do gênero Apocynum, o que corrobora a importância de modelos estruturais presentes na natureza para o desenvolvimento de fármacos. BIBLIOGRAFIA Batovska, D. et al.European Journal of Medicinal Chemistry, 44, 2211−2218, 2009. De Melo, E. B.; Gomes, A. S.; Carvalho, I. Tetrahedron, 62, 10277−10302, 2006. Marcondes, J. A. M. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba,5, 18−26, 2003. Nowaskowska, Z.European Journal of Medicinal Chemistry, 42, 125−137, 2007. Ferreira, S. B. et al.European Journal of Medicinal Chemistry,53,2364−2375, 2010. Singer, M. R et al. ChemBioChem, 13, 1584−1593, 2012 Skyler, J. S. Journal of Medicinal Chemistry, 47, 4113−4117, 2004. Uwaifo, G. I. & Ratner, R. E. Endocrinology and Metabolism Clinics of North America, 34, 155−197, 2005. Virally M. et al..Diabetes Metabolism,33, 231–244, 2007.