UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS Trabalho de Conclusão de Curso Diogo Beck Franken Santa Maria, RS, Brasil 2015 MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS Diogo Beck Franken Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura Matemática da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentado como requisito final para obtenção do grau de Licenciado em Matemática. Orientadora: Professora Dra. Carmen Vieira Mathias Santa Maria, RS, Brasil 2015 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Naturais e Exatas Departamento de Matemática A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a conclusão de curso MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS elaborado por Diogo Beck Franken como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Matemática COMISSÃO EXAMINADORA: Carmen Vieira Mathias, Dra. (Presidente/Orientador) AntonioCarlos Lírio Bidel,Dr. (UFSM) Karine FaverzaniMagnago, Dra. (UFSM) Santa Maria, 03 de Dezembro de 2015. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida e me possibilitar um novo dia todo amanhecer. Por me dar força e me guiar nos momentos de dúvidas e aflições. Aos meus pais, que estão sempre ao meu lado e ao de meus irmãos nos apoiando, incentivando e dando o suporte necessário para que alcancemos nossos objetivos. Por nunca faltar amor na nossa família, que é o que nos sustenta em todos os momentos. Aos meus irmãos e irmãs por estarmos sempre juntos, mesmo que não fisicamente, sempre torcendo uns pelos outros. Queria agradecer ao meu pai em especial, por me ensinar a tocar violão com 10 anos e sempre me incentivou no desenvolvimento do raciocínio lógico despertando o interesse pela matemática. Aos amigos, por compartilhar inúmeros momentos de alegria durante toda a minha trajetória em Santa Maria, me tornando uma pessoa melhor e mais feliz. Sem vocês eu nada seria. À minha orientadora Carmen Vieira Mathias, por aceitar este desafio junto a mim, que sempre me incentivou, apoiou e acreditou na construção desta ideia, com muita paciência não me deixando desistir e contribuindo muito para a realização deste trabalho, além de um grande exemplo como docente. RESUMO Trabalho de Graduação Curso de Matemática Licenciatura MÚSICA, MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS: UM CAMINHO PARA O ENSINO DE FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS AUTOR: Diogo Beck Franken ORIENTADORA: Carmen Vieira Mathias. Data e local da defesa: Santa Maria, 03 de Dezembro de 2015. Esse trabalho trata-se de uma pesquisa do tipo bibliográfica que relaciona matemática e música, assuntos que geralmente são tratados como saberes completamente isolados um do outro. Pretende-se apresentar as proximidades desses dois conhecimentos, utilizando aplicações como uma estratégia para o ensino da matemática. Mostraremos a música como um elemento motivador para se estudar funções trigonométricas no Ensino Médio, a partir da introdução da teoria musical, tendo como principal relação o som, sendo representado por uma onda senoidal. Faz-se o uso do aplicativo Geogebra como recurso tecnológico como facilitador das representações e transformações gráficas das funções trigonométricas, além de poder reproduzir os sons descritos por produto das funções estudadas. Palavras-Chave: Música e Matemática. Geogebra. Funções Trigonométricas. ABSTRACT Undergraduate Final Work GraduateProgram in Mathematics Federal Universityof Santa Maria MUSIC , MATHEMATICS AND TECHNOLOGY : A PATH TO TEACHING FUNCTIONS TRIGONOMETRIC AUTHOR: Diogo Beck Franken INSTRUCTOR: Carmen Vieira Mathias. Date anddefense site: Santa Maria,December 03, 2015. This work it is a survey of bibliographic type that relates Mathematics and Music, subjects which are usually treated like know ledge completely isolated from one another. It is intended present the vicinity of both know ledges, using applications as a strategy for teaching mathematics. We show music as a motivator to studying trigonometric functions in high school, from the introduction of music theory with the main relationship sound, it is represented by a sine wave. It makes the use of Geogebra application as technological resources as a facilitator of representations and graphical transformations of trigonometric functions, and can reproduce the sounds described by product of the studied functions. Key-Words: Music and Mathematics. Geogebra. Trigonometric Functions. Sumário INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8 1.TEORIA MUSICAL .......................................................................................... 10 2.REVISANDO AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS ....................................... 17 2.1 Função Seno ...................................................................................................... 17 2.2 Função Cosseno: .............................................................................................. 21 3. A ONDA COMO FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS ....................................... 25 3.1. Soma e Produto de Funções Trigonométricas .............................................. 25 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 29 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 31 8 INTRODUÇÃO As relações entre matemática e música, embora sejam consideradas por muitos, áreas totalmente distantes, são conhecidas e estudadas desde a antiguidade e sempre se mantiveram muito próximas uma da outra (BIBBY, 2003). A matemática grega só pode ser interpretada juntamente à filosofia, à astronomia, à moral, à música, enfim, na Paideia - nome dado para o conjunto de conhecimentos organizados de forma circular, ou seja, não hierárquica, formando um todo necessário à formação do indivíduo (JAEGER, 2013). Segundo Abdounur (2002), o primeiro matemático a relacionar razões de cordas vibrantes a intervalos musicais foi Pitágoras. Este experimento foi feito no monocórdio - Instrumento composto por uma única corda estendida entre dois cavaletes fixos sobre uma prancha ou mesa, possuindo um cavalete móvel colocado sob a corda para dividi-la em duas seções. Resultando no quarto ramo da matemática, compondo o quadrivium, que são as quatro ciências matemáticas: álgebra, geometria, astronomia e música. Acredita-se importante mencionar BRASIL (2008), que se refere à lei nº 11.769, na qual fica determinado que a música deva ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica. Segundo Craveiro (2012) "O objetivo não é formar músicos, mas desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos”. A partir não somente desta obrigatoriedade em termos de lei, mas também da consciência da importância de um trabalho interdisciplinar, julga-se profícuo ter a música como disciplina escolar. Ela está presente no dia a dia dos alunos e isso faz com que possamos ter este despertar para a matemática por meio da música, mostrando aplicações da matemática no cotidiano. Além disso, acredito que seja relevante mencionar meu histórico já que minha relação com a música e a matemática começou cedo, a partir da figura do meu pai, que me “tomava” a tabuada quando podia me levar para a escola e também ao me ensinar alguns acordes no violão. Desde o início quando escolhi a licenciatura pensei que poderia utilizar de alguma forma a música para despertar o interesse nos alunos. Pelo fato de estar em sala de aula, pude observar a dificuldade que os alunos têm em fazer uma ligação entre as relações trigonométricas e as funções trigonométricas, ou seja, é muito complicado para o aluno estipular semelhanças e diferenças e entre seno ou cosseno de um ângulo (trigonometria no triângulo retângulo) e seno ou cosseno de um número real (funções trigonométricas). Nesse sentido, vem a proposta desse trabalho de conclusão de curso, que foi realizar uma pesquisa sobre as relações existentes entre matemática e música e verificar, onde essa relação poderia ser encaixada dentro do currículo escolar. Verificamos que, uma vez que a música esta presente na vida de todos diariamente, ela pode ser um objeto motivador para se trabalhar não só as funções trigonométricas como também, fazer o estudo do conjunto dos números racionais no Ensino Fundamental. Observamos nas escolas a dificuldade de os alunos aprenderem esse conteúdo, e a música pode tornar o assunto mais interessante e proporcionar uma melhoria no entendimento do mesmo. Essas duas áreas, em geral, são tratadas como campos de saber distintos e isolados um do outro. Acreditando que a utilização do saber da música pode ser uma ferramenta motivadora para o ensino da matemática, pretende-se mostrar as similaridades e ligações entre elas, que podemos utilizar no intuito de desenvolver o ensino de matemática. Além disso, utilizaremos como apoio o software GeoGebra com o objetivo de facilitar a construção dos gráficos das funções trigonométricas e suas transformações. A primeira parte deste trabalho expõe uma pequena introdução à teoria musical e sua relação com a matemática a partir de Pitágoras que fez medições em um instrumento de uma corda e relacionou com números fracionários, formalizando a construção desta teoria. Apresenta também as frequências sonoras para relacionar estas com as funções trigonométricas. Em seguida, apresentam-se as funções trigonométricas seno e cosseno, realiza-sea construção de seus gráficos com o auxilio do aplicativo GeoGebra. Utilizando os recursos do software se faz possível verificar de forma simples, as transformações desses gráficos, que são descritas de forma detalhada neste trabalho. Na terceira parte, apresenta-se algumas especificidades do aplicativo Geogebra, que permite, a partir de combinações de funções trigonométricas, tocar alguns sons. E para finalizar, são descritas as conclusões do trabalho. 1. TEORIA MUSICAL Segundo Abdounur (2002), poucos filósofos, muito menos cientistas, souberam adaptar elementos sensíveis às suas teorias com tanto acerto como Pitágoras. A famosa teoria Pitagórica da harmonia das esferas era muito mais profunda que a mera conjectura da consonância das notas que os astros produzem nos seus movimentos regulares. A música era, para os pitagóricos, um símbolo de harmonia do cosmos e, simultaneamente, um meio de alcançar o equilíbrio interno do espírito do homem. Observa-se que a harmonia que Pitágoras descobriu nos números, 1, ½, 1/3, ¼, fez com que acreditasse que todo o Universo era controlado por música, motivo pelo qual cunhou a expressão “música das esferas” (CAMPOS, 2009). Nesse trabalho é importante deter-se no inventor de um aparelho capaz de relacionar a harmônica musical com os números. Tal instrumento, inventado por Pitágoras é o monocórdio, que era composto por uma única corda estendida entre dois cavaletes fixos sobre uma prancha ou mesa possuindo um cavalete móvel colocado sob a corda para dividi-la em duas seções. (ABDOUNUR, 2002) Esta corda produzia um som que Pitágoras tomou como som fundamental: o tom.Fez, a seguir, marcas na corda, as quais a dividiam em doze partes iguais, conforme apresenta a Figura 1. Figura 1: Marcações feitas por Pitágoras no Monocórdio Fonte: Camargos (2003) Cunha (2006) relata que Pitágoras tocou a corda na 6ª marca e observou que se produzia a oitava. Tocou depois na 9ª marca e resultava na quarta. Ao tocar na 8ª marca, obtinha-se a quinta. Além disso, segundo o mesmo autor, Pitágoras verificou, ainda, que os sons produzidos, ao tocar em outras marcas, resultavam discordes, ou, pelo menos, não tão acordes como os anteriores. Isso significa que os números 1, 2, 3 e 4, cuja soma é 10, formavam a beleza do som, pois consideravam o 10 um número mágico, evidenciando uma interconexão entre a Matemática e a Música. De acordo com Abdounur (2002) e Cunha (2006), atribui-se o descobrimento dos intervalos consonantes a Pitágoras, embora provavelmente esses já fossem conhecidos desde muito antes em distintas culturas antigas. Os intervalos pitagóricos, tomando como ponto inicial uma corda cujo valor hipotético de comprimento é 1, percorrem a escala por quintas ascendentes e transpõem as notas obtidas à oitava relativa, obtendo frações, representando as notas musicais em relação ao tamanho da corda (figura 2). Figura 2: Escala de Notas Fonte: Camargos (2010) De acordo com Rodrigues (1999), para os pitagóricos, a harmonia dos sons estava em correspondência direta com a aritmética das proporções, o produto de 2/3 (fração associada à quinta) por 3/4 (fração associada à quarta) dá a fração 1/2 associada à oitava; a sua divisão está associada à fração 8/9 = (2/3):(3/4) que representa um tom. Contudo, podemos deduzir que, como citado anteriormente, pelo percurso das quintas e pelas médias aritméticas dos intervalos, os pitagóricos chegaram às frações anteriores. Por exemplo, ao pensarmos em um piano, composto de oito oitavas (sequência de Dó à Si), se tomarmos o Dó central como referência, verificamos que o Dó uma oitava abaixo, terá uma fração de 8/9 em relação ao tamanho do Dó central, o que implica na frequência sonora e, portanto, ouvimos a mesma nota porém mais aguda. Hipoteticamente, tomemos o tamanho da corda como igual a uma unidade, logo já teria o Dó igual a 1. Pitágoras teria também a quarta, a quinta e a oitava notas, respectivamente, 3/4, 2/3 e 1/2. Isso possibilitou que obtivessem as frações correspondentes às outras notas, utilizando o que chamamos de “Ciclo de Quintas” conforme a Figura 3. Figura 3: Ciclo de Quintas (Sentido Anti-horário) Fonte: Garland e Kahn (1995), pg. 61. Garland e Kahn (1995) observaram que os pitagóricos haviam obtido suas gamas, correspondentes às notas musicais, utilizando o ciclo ou percurso das quintas, como nos mostra a Figura 4. Figura 4: Sequência das Notas Fonte: O Autor É importante observar que, na Figura 3, a quinta de Dó (C) é a nota Sol (G); e que a quinta de Sol é a nota Ré (D); logo, como Sol corresponde a 2/3 de Dó, a nota Ré será correspondente a 2/3 de Sol (G); logo, como Sol corresponde a 2/3 de Dó, a nota Ré será correspondente a Ré = 2/3.(Sol) = (2/3).(2/3) = 4/9 (C). Como a fração 4/9 não está entre Dó = 1 e sua oitava Dó = 1/2, os pitagóricos poderiam ter multiplicado seu valor por 2 e obtido a nota Ré, correspondente a 8/9. Em seguida, para obter a quinta da nota Ré, o Lá,usou-se o mesmo procedimento: Lá =2/3(Ré) = (2/3).(8/9) = 16/27 (C) . Continuando pelo mesmo processo: Mi = 2/3 (Lá) = (2/3).(16/27) = 32/81, que não está entre 1 e 1/2, logo, multiplicando também por 2 teremos, Mi = 64/81. Si = 2/3 (Mi) = (2/3).(64/81) = 128/243 . Segundo Abdounur (2002), que a influência das gamas pitagóricas percorreu toda a Idade Média, sendo substituída, gradativamente, a partir do século XVI, com a descoberta dos logaritmos e com o chamado Temperamento Musical. Isso está de acordo com Rodrigues (1999), ao relatar sobre essa gama cromática pitagórica, que foi aperfeiçoada a partir de Zarlino (1517-1590), quando ele acrescentou o número 5 às relações de frequências pitagóricas. Assim, construía-se a escala de maneira que o intervalo de terça maior passava a possuir relação de frequências 5/4, existente na série harmônica. Supondo-se que a primeira nota, dó, tenha frequência 1, obteremos para as outras notas as frequências conforme a Figura 5. Figura 5: Frequência das Notas. Fonte: Autor Ainda de acordo com Rodrigues (1999), as primeiras aproximações numéricas das gamas, daquilo que viria a ser chamado de Temperamento musical, eram geométricas e mecânicas, e os matemáticos da época utilizavam um instrumento chamado de Mesolábio (Figura 6). Figura 6 :O Mesolábio, Fonte: RODRIGUES (1999) Segundo Rodrigues (1999), o instrumento apresentado na Figura 6, foi inventado pelos gregos e foi reproduzido da edição de 1573 de Institutioniarmoniche, de F. Zarlino foi um dos três métodos que ele expôs na sua obra “Sopplimentimusicali” (Veneza, 1588), para “dividir a oitava diretamente em 12 partes ou semitons iguais e proporcionais”. Este instrumento, descrito em textos gregos antigos, consiste em três paralelogramos retangulares móveis e permite obter as linhas CD e EF como duas médias proporcionais de AB e GH epoderia ter sido utilizado por Zarlino, na tentativa de achar mecanicamente médias proporcionais das notas correspondentes à escala musical da época. Além disso, podemos pensar na música como ondas sonoras, que segundo Halliday (2009) ondas são movimentos causados por uma perturbação que se propagam no meio. As ondas sonoras são ditas ondas mecânicas e se propagam com a variação de pressão do meio. Dependendo da fonte emitente, as ondas sonoras podem apresentar qualquer frequência, desde poucos Hertz (Hz) (como as ondas produzidas por abalos sísmicos), até valores extremamente elevados (comparáveis às frequências da luz visível). Porém, nós, seres humanos, só conseguimos ouvir ondas sonoras cujas frequências estejam compreendidas entre 20 Hz e 20.000 Hz, sendo chamadas, genericamente, de sons. A representação geométrica de uma onda sonora origina gráficos que podem ser utilizados para estudar conceitos de funções trigonométricas. A Figura 7 ilustra um gráficocom componentes básicos de uma onda, realizado com o auxílio do software GeoGebra. Figura 7: Representação geométrica de uma onda sonora Fonte: O Autor Observando o gráfico, temos que crista é a parte mais alta da onda e o vale a parte mais baixa da onda. A distância do eixo x com uma crista ou vale é denominada amplitude (A). A distância entre duas cristas ou dois vales consecutivos é chamada de Comprimento de Onda (λ) equivale a uma volta completa no ciclo trigonométrico. O número de vezes que o comprimento de onda se repete é denominada frequência e medida em Hertz. Segundo Halliday (2009), a função trigonométrica que representa uma onda é uma senóide do tipo f x A sin Bx C D, em que A é amplitude da onda e caracteriza a Intensidade sonora, e B a frequência, calculada por B 2π , λ responsável pela altura do som. Como veremos a seguir, se modificamos a frequência, o som ficará mais agudo (frequência alta) ou mais grave (frequência baixa). A figura 8ilustra as frequências da escala musical. Figura 8: Frequências da escala Musical (em Hertz) Fonte:Simões (2015) Podemos observar estas frequências a partir do que apresenta Bortolossi (2013) que utiliza um applet1 que reproduz sons. Esse applet (Figura 9) mostra o que descrevemos acima, de forma interativa. Ou seja, alterando o controle deslizante aumentando ou diminuindo as frequências é possível ouvir o som mais grave ou mais agudo. A figura 8 apresenta a variação de frequência de 440Hz (Lá) para 550Hz (Dó). Com o auxílio do applet o aluno pode ouvir cada uma das frequências além de visualizar as alterações no gráfico. Figura 9: Ouvindo uma onda Senoidal Fonte Bortolossi (2013) No que segue, apresentaremos de forma detalhada as transformações que os coeficientes A, B, C e D da função f x A sin Bx C D, realiza nos gráficos das funções trigonométricas seno e cosseno, bem como a relação existente entre a onda sonora e essas funções a fim de realizar uma ligação entre os conteúdos específicos vistos no Ensino Médio e a Música. 1 Applet é um pequeno software que executa uma atividade específica, dentro (do contexto) de outro programa maior (como por exemplo um web browser), geralmente como um Plugin. O termo foi introduzido pelo AppleScript em 1993. 2 REVISANDO AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS Como vimos no capítulo anterior, uma onda pode ser representada pelo gráfico da função trigonométrica seno. Seguiremos aqui o estudo das funções trigonométricas, conforme CARMO, MORGADO e WAGNER (2001). 2.1 Função Seno Seja a função trigonométrica y sen x. Por meio do Geogebra, pode-se construir o gráfico desta função e utilizando o recurso Controle Deslizante, é possível realizar um estudo do comportamento da mesma. A figura 10 apresenta o gráfico da função construída no aplicativo acima citado, assim como ocorre com todos os demais gráficos apresentados nesse capítulo. Figura 10: Gráfico da função y Fonte: O Autor senx O recurso Controle Deslizante no Geogebra permite modificar valores numéricos por um meio de controle visual de valores, que podemos definir conforme configurações do applet. É importante salientar a relação que o gráfico da função tem como ciclo trigonométrica de raioum, que pode ser explorado a partir de um applet construído no Geogebra, conforme o apresentado na Figura 11. Figura 11: O ciclo trigonométrico- Função seno Fonte: Lutz (2015) Por meio desta construção podemos observar que o conjunto imagem é o intervalo compreendido entre -1 e 1, ou seja, o intervalo [-1, 1], pois percorrendo um ciclo inteiro (360°ou2πrad) o gráfico não ultrapassa os valores indicados acima. Temos também que o Período da função é igual a 360°ou2πrad. Podemos ainda ampliar nosso estudo, analisando agora variações da função Seno dadas por funções do tipof x A sin Bx C D, em que A, B, C e D são números reais.Com o auxílio da ferramenta Controle Deslizante do software, podemos analisar a influência que cada um dos coeficientes A, B, C e D possuem no comportamento do gráfico da função. Primeiramente consideremos uma função do tipo f x A sin x . Ao tomarmos valores para 0<A<1 notamos que o gráfico comprime no sentido do eixo y, Quando tomamos valores para A<-1 ou A>1o gráfico da função se expande no sentido do eixo y, interferindo diretamente na imagem da função, conforme a Figura 12. Figura 12: Gráfico da função y 2senx à esquerda e y Fonte: O Autor Consideremos a seguir a função do tipof x senxà direita sen Bx . De maneira análoga ao gráfico anterior, ao tomarmos valores distintos para B modificamos o gráfico da função f x sen x , agora no sentido do seu período. Com 0<B<1 temos que o gráfico da função expande no sentido do eixo x, e para B>1 o gráfico se comprime, conforme a Figura 13. Figura 13: Gráfico da função y sen x! à esquerda e y Fonte: O Autor sen 4x Seguindo a análise, agora vamos observar o comportamento do gráfico da função f x sen x C , conforme as Figura 14. Figura 14: Gráfico da função y sen x 3 à esquerda e y Fonte: O Autor sen x − 4 à direita Observamos que a tomarmos valores distintos de C o gráfico desloca no sentido do eixo x, quando o valor tomado for positivo desloca o gráfico para esquerda enquanto que para valor negativo desloca o gráfico para direita.Para finalizar a análise do gráfico vamos considerar a função f x sen x D, cujo gráfico está ilustrado na Figura15. Figura 15: Gráfico da função y sen x 1 à esquerda e y Fonte: O Autor senx − 2 à direita Assim, verificamos que ao obtermos valores distintos para o coeficiente D o gráfico desloca todo o gráfico no sentido vertical, do eixo y, também influenciando na imagem da função. Analogamente faremos o estudo da função cosseno. 2.2 Função Cosseno: Seja a função trigonométrica y cos x. Por meio do GeoGebra, pode-se construir o gráfico desta função e utilizando alguns recursos do software é possível realizar o estudo detalhado do comportamento da mesma. A figura 16 apresenta nosso objeto de estudo. Figura 16: Gráfico da função y Fonte: O Autor cos x Pode-se utilizar aqui o mesmo aplicativo anterior, Porém, ao invés de escolher a função seno, escolhemos a função cosseno e se pode realizar a investigação anterior, conforme ilustra a Figura 17. Figura 17: O ciclo trigonométrico- Função cosseno Fonte: Lutz (2015) Assim, por meio do aplicativo podemos observar que o conjunto imagem também é o intervalo compreendido entre -1 e 1, ou seja, o intervalo [-1, 1], pois percorrendo um ciclo inteiro (360°ou2πrad) o gráfico não ultrapassa os valores indicados acima. Temos também que o Período da função é igual a 360°ou2πrad. Podemos ainda ampliar nosso estudo, analisando agora variações da função Cosseno dadas por funções do tipo f x A cos Bx C D, onde A, B, C e D são números reais. Com o auxílio das ferramentas do software, podemos analisar a influência que cada um dos coeficientes A, B, C e D possuem no comportamento do gráfico da função.Primeiramente consideremos uma função do tipo f x A cos x . Ao tomarmos qualquer valor para A, notamos que o gráfico pode ampliar ou diminuir no sentido do eixo y, interferindo diretamente na imagem da função, conforme a Figura 18. Figura 18:Gráfico da função y cos x à esquerda ey Fonte: O Autor Consideremos a seguir a função do tipof x 2cos x à direita cos Bx . De maneira análoga ao gráfico anterior, ao tomarmos valores distintos para B modificamos o gráfico da função f x sin x , agora no sentido do seu período, conforme a Figura 19. Figura 18:Gráfico da funçãoy cos x à esquerda e y Fonte: O Autor cos 4x à direita Seguindo a análise, agora vamos observar o comportamento do gráfico da função f x cos x C , conforme a Figura 20. Figura 20: Gráfico da função y cos x 3 à direita e y Fonte: O Autor cos x − 2 à esquerda Observamos que a tomarmos valores distintos de C o gráfico desloca no sentido do eixo x, quando o valor tomado for positivo desloca o gráfico para esquerda enquanto que para valor negativo desloca o gráfico para direita. Para finalizar a análise vamos considerar o gráfico da função f x D. Conforme a Figura 21. sin x Figura 21: Gráfico da funçãoy cos x − 1à esquerda e y Fonte: O Autor cos x 1à direita Assim, verificamos que ao obtermos valores distintos para o coeficiente D o gráfico desloca todo o gráfico no sentido vertical, do eixo y, também influenciando na imagem da função. 3. A ONDA COMO FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS Segundo Bortolossi (2012) a Análise de Fourier é usada no estudo de sinais: funções que trazem consigo informações sobre o comportamento ou a natureza de um fenômeno que varia com o tempo ou com o espaço. Sons são exemplos de fenômenos que geram sinais: ondas sonoras produzem variações de pressão cujos valores mudam com o tempo. Citando o mesmo autor para o caso de fenômenos periódicos, a ideia básica da Análise de Fourier é a seguinte: sinais periódicos podem ser aproximados por somas de funções trigonométricas da formay Asen Bx C , com A,Be Cconstantes. É justamente esse princípio que vamos investigar aqui, usando, para isso, experimentos sonoros. Veremos como os parâmetros A, Be C afetam o gráfico da função y Asen Bx C e as propriedades do som correspondente e, também, como somas de funções desse tipo podem ser usadas para representar sons mais complexos. 3.1. Soma e Produto de Funções Trigonométricas Como já observamos, uma das ondas mais simples é a onda senoidal, ou seja, aquela que é descrita por uma função do tipo y Asen Bx C . Podemos reescrever essa equação conforme Benson (2008)como uma onda senoidal com freqüência ν em Hertz, amplitude ce fase φ de forma: y A quantidade ω csen 2πνt φ 2πν é chamada a velocidade angular . A função do ângulo φ é para nos dizer onde a onda senoidal atravessa o eixo de tempo (eixo horizontal). Por, exemplo, uma onda do tipo cosseno está relacionada com uma onda senoidal pela equaçãocos x sin x * !, de modo que uma onda “cosseno” é realmente apenas uma onda senoidal com uma fase diferente. Por exemplo, a nota Lá (A) de 440hz, pode ser representada pela onda da forma: csin 880πt φ . Isto pode ser convertido como uma combinação linear de senos e cossenos, utilizando fórmulas conhecidas, como a de soma de arcos, para o seno e cosseno: sen A B senA. cosB cosA. senB (1) cos A B cosA. cosB − senA. senB (2) Então função que representa a onda fica: y csen ωt φ a cos ωt bsen ωt , com a c. senφ e b c. cosφ. Podemos nos questionar o que ocorre quando duas ondas senoidais ou cossenoidais “puras” são jogados no mesmo tempo? Por exemplo, por que é que quando duas notas muito próximas são jogados simultaneamente, ouvimos ”beats2”? Uma vez que este é o método pelo qual cordas em um piano, por exemplo, estão sintonizadas, é importante entender as origens dessas batidas. A resposta a esta questão também está nas identidades trigonométricas (1) e (2). Desde que o sen (-B) = -senB e cos (-B) = cosB , substituindoB por -B nas equações citadas temos sen A − B cos A − B senAcosB − cosAsenB cosAcosB Adicionando as equaçõessen A B B senAsenB. senA. cosB cosA. senB e sen A − senAcosB − cosAsenB temos: sen A B sen A − B 2senAcosB. O que podemos reescrever como: senAcosB 1 .sen A 2 B sen A − B /. Da mesma forma, adicionando e subtraindo as expressões cos A B cos A − B cos A − B − cos A 2 B 2cosAcosB 2sinAsinB Beats são vibrações ocasionadas por ondas sonoras de frequências muito próximas, o que popularmente entendemos por “batida da música”. obtemos cosAcosB 1 cos A 2 sinAsinB 1 .cos A − B − cos A 2 B cos A − B e B /. Isso nos permite escrever qualquer produto de senos e cossenos como uma soma ou diferençade senos e cossenos.Porém, estamos interessados no processo oposto. Então, tomamos u v eB A Bev A − B. Para A e B, resultaA 1/2 u 1/2 u − v . Substituindo nas equações sen A B sen A − B 2sinAcosB, cos A B cos A − B 2cosAcosB e cos A − B − cos A B 2sinAsinB obtemos: u−v 2 2 u v u−v cosu cosv 2cos cos 2 2 u−v u v sen . cosv − cosu 2sen 2 2 senu senv 2sen u v cos Isso nos permite escrever qualquer soma ou a diferença de ondas senoidais e ondas senocomo um produto de senos e cossenos. Por exemplo, ao plotarmos as funções y sen 12x sen 10x ou a função y 2sen 11x cos x (Figura 22) obtemos o mesmo gráfico, o que ocorre exatamente pelo que foi exposto anteriormente. Figura 22: Gráfico das funções y sen 12x sen 10x à esquerda e y direita Fonte: O Autor 2sen 11x cos x à Assim, por exemplo, suponha que um afinador de piano afinou uma das três cordas correspondentes à nota Lá (A) acima do Dó(C) central a 440 Hz. O segundo string (cadeia) ainda está fora de sintonia, de modo que ela ressoa em 436 Hz. A terceira está sendo amortecida, de modo a não interferir com o ajuste da segunda cadeia. Ignorando fase e amplitude por um momento, as duas cordas junto soarão como sin 880πt Usando a equação senu senv sin 872πt . 2sen 456 cos 476 podemos reescrever esta soma como 2sin 876πt . cos 4πt . O GeoGebra possui a ferramenta TocarSom, que permite gerar um som a partir de um produto de funções seno e cosseno como esta citado acima. Assim ao digitar o comando TocarSom[2sen 876πx cos 4πx ,0,2π]na caixa de entrada (figura 23) o Geogebra literalmente toca o som correspondente a essa expressão. Figura 23: Comando Tocar Som Fonte: OAutor. Ainda é possível, utilizar alguns recursos já elaborados e divulgados, como o apresentado em Bortolossi (2012). O autor denomina o applet produzido de “gerando sons mais complexos com a superposição de duas ondas”. Nesse aplicativo é possívelmodificar as amplitudes (A1 e A2 ), frequências (k1 e k2 ) e fases (C1 e C2 ) de duas ondas sonoras e, então, ouvir o som da superposição correspondente. O autor apresenta vários exemplos de como realizar atividades a partir do aplicativo que tem um apelo didático muito interessante, tratando de ondas no sentido da Física. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao pensar nesse trabalho, em um primeiro momento, a ideia era apresentar uma proposta de ensino das funções trigonométricas no Ensino Médio, tendo como motivador o estudo da teoria musical e a relação da música com a matemática. Porém, ao amadurecer o conceito do que de fato deveria ser um Trabalho Final de Graduação, resolvemos delimitar o trabalho para realizar uma pesquisa sobre as relações existentes entre matemática e música e verificar, em que essa relação poderia ser encaixada dentro do currículo escolar. Além de encontrar a relação apresentada, percebemos que as funções trigonométricas não estão presentes apenas nas ondas sonoras, mas tambémnas frequências e tons de discagem de telefones: Os telefones e celulares modernos possuem o sistema de discagem DTMF (Dual-ToneMulti-Frequency). Nesse sistema, cada tecla emite um som que é resultante da superposição de duas ondas senoidais, uma de frequência baixa, outra de frequência alta Bortolossi(2012). Também podemos encontrar aplicações das funções trigonométricas nosbatimentos cardíacos, que conforme Bortolossi(2012), o fenômeno de batimento ocorre quando duas ondas senoidais com frequências próximas são superpostas. Assim, percebemos que esse trabalho ampliou nossos horizontes, pois percebemos outras formas de apresentar o conteúdo de funções trigonométricas para os alunos.Além disso,acreditamos que o uso do aplicativo Geogebra, pode dinamizar e concretizaros conceitos matemáticos estudados, tornando literalmente audível e visual o que o professor pode propor. Também, com a utilização deste recurso foi permitido a construção, manipulação e análise do comportamento das funções trigonométricase suas transformações, o que acreditamos que possa auxiliar no processo de ensinar e aprender. Acredita-se, enquanto professor, que é possível utilizar esse aplicativo em sala de aula, bem como as relações e aplicações aqui apresentadas. Pois, uma vez que as tecnologias estão cada vez mais presentes na vida dos alunos, ao entrar em uma sala com algo diferente do usual, espera-se despertar maior interesse aos mesmos. A tecnologia como ferramenta para auxiliar o ensino, pode ser muito satisfatória, já que aplicativos como o apresentado permitem que o aluno possa ter mais elementos de aprendizagem, saindo do mundo abstrato, do campo das ideias, indo para a parte prática, do cotidiano, tornando a aprendizado mais atrativo de forma interdisciplinar e dinâmico. REFERÊNCIAS ABDOUNUR, O. J. Matemática e música : o pensamento analógico na construção de significados. 2ª ed. São Paulo: Escrituras, 2002. BENSON, D. Music: A MathematicalOffering -DepartmentofMathematics, MestonBuilding, Universityof Aberdeen, Scotland, UK. 2008. BIBBY, N. Tuningandtemperament: closingthespiral. In FAUVEL, J.; FLOOD, R.; WILSON, R. (Ed.). Music andmathematics :FromPythagorastoFractals. Oxford University Press, Oxford, cap1, p. 13–27. 2003. BORTOLOSSI, H. Projeto EM Ação- Ensino Médio em Ação - SEC - Secretaria de Educação do Estado da Bahia, 2012. CAMARGOS, C. B. R. Música e Matemática: A harmonia dos números revelada em uma estratégia de Modelagem. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto – MG.2010. CAMPOS, G. P. S., Dissertação de mestrado, Matemática e Música: práticas pedagógicas em oficinas interdisciplinares, UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, 2009. CARMO, M.; MORGADO, A.; WAGNER, E. Trigonometria e Números Complexos. Publicação SBM, 2001. CRAVEIRO, C., Música: entenda porque a disciplina se tornou obrigatória na escola, Revista Educar para Crescer, 2013 . Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/musica-escolas-432857.shtml. Acesso: mai 2014. CUNHA, N. P. da.Matemática & música: diálogo interdisciplinar. Recife, PE: Ed. Universitária da UFPE, 132 p.2006. GARLAND, T. H.; KAHN, C. V. Mathand Music: Harmonious Connections. Parsippany, NJ: Dale Seymour Publications, 162 p.1995. GIRALDO, V.,CAETANO, P. e FRANCISCO, M., Recursos Tecnológicos no ensino da Matemática. Rio de Janeiro: SBM, 2012. HALLIDAY, R.; RESNICK,R.; WALKER, J.. Fundamentos de Física, Volume 2: Gravitação, Ondas e Termodinâmica. Rio de Janeiro: LTC, 2009. JAEGER, W. Paideia - A Formação do Homem Grego - 6ª Ed. Editora Wmf Martins Fontes.2013. LUTZ, M. R.Ciclo e gráfico função trigonométrica, 2015. Disponível em: https://tube.geogebra.org/m/1229803. Acesso: nov.2015. RODRIGUES, J.F.; A matemática e a Música. Revista Colóquio/Ciência, n° 23,p.17-32. 1999. SIMÕES, P., Conceitos Básicos de Música, 2015. Disponível em:http://simoes.pro.br/pierangela/aulas/conceitos_basicos.htm. acesso: ago.2015 .