Monografia doença de Parkinson - Departamento de Ciências do

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Instituto Superior de Ciências da Saúde do Norte
Projecto Tutorial
DOENÇA DE PARKINSON
AS SUAS BASES BIOQUÍMICAS
Projecto Tutorial
Tutora: Professora Odília Queirós
Trabalho Elaborado por: Inês Jales Sousa Monteiro
Curso: Bioquímica
Ano: 2º
Ano Lectivo: 2007/08
Índice
1. Introdução ......................................................................................................... pág. 3
2. Doenças Neurodegenerativas .......................................................................... pág. 5
3. Doença de Parkinson ........................................................................................ pág. 6
Definição ................................................................................................ pág. 6
Bioquímica da Doença de Parkinson ...................................................... pág. 7
Teoria do Stress Oxidativo ................................................................ pág. 7
Teoria da Excitotoxicidade ................................................................ pág. 8
Dopamina .......................................................................................... pág. 9
Interacção da Dopamina com a Acetilcolina ...................... pág. 11
Biossíntese da dopamina ................................................... pág. 13
Coenzimas envolvidas na biossíntese da dopamina ......... pág. 15
Inactivação e degradação da dopamina ............................ pág. 16
Proteínas G ....................................................................................... pág. 17
Sintomas ................................................................................................. pág. 18
Causas .................................................................................................... pág. 20
Tratamento .............................................................................................. pág. 22
Perspectivas Futuras .............................................................................. pág. 24
Curiosidades ........................................................................................... pág. 25
4. Bibliografia
2
Introdução
A doença de Parkinson é actualmente uma das doenças degenerativas com
prevalência mais elevada na população mundial. Descrita primeiramente em 1817 por
James Parkinson em “An Essay on the Shaking Pulse”, tem uma incidência de 187 casos
em cada 100 mil pessoas. Esta doença degenerativa não escolhe sexo, etnia, religião,
classes sociais ou geografia, atacando as mais variadas pessoas. Aparece mais
frequentemente em pessoas com idade superior a 50 anos, havendo no entanto raras
excepções. O aumento da esperança média de vida na população humana conduz ao
aumento da degeneração dos neurónios dopaminérgicos, principal causa do aparecimento
da doença de Parkinson.
Esta doença é definida como uma doença neurodegenerativa caracterizada por um
distúrbio crónico e progressivo do sistema nervoso central e que tem início com a morte de
células responsáveis pela produção de dopamina (neurónios dopaminérgicos), um
mensageiro químico cerebral que tem a função de transmitir sinais que coordenam a
funcionalidade dos músculos corporais e do movimento.
Os sintomas da doença, nomeadamente, tremores, lentidão do movimento, rigidez
muscular e dificuldade de manter o equilíbrio, aparecem quando aproximadamente 80% das
células produtoras de dopamina se degeneram.
A doença de Parkinson é uma doença multifactorial, encontrando-se associadas á
doença diferentes possíveis causas do seu aparecimento, nomeadamente, causas de teor
bioquímico, factores ambientais e genéticos.
Esta patologia não tem cura, mas os seus sintomas podem ser atenuados e
retardados pela administração de medicamentos ao doente que, ou pela realização de uma
operação. No entanto, raramente se utiliza esta última opção devido aos riscos que esta
implica. Os medicamentos receitados visam restabelecer os níveis de dopamina no cérebro
e, são receitados mal o paciente mostre diminuição da qualidade de vida devido aos
sintomas. Existe também um tratamento fisioterápico que actua em todas as fases da
doença de modo a melhorar as forças musculares, coordenação motora e equilíbrio.
3
Existem alguns projectos de investigação nesta área a decorrer no nosso país. Um
exemplo é um trabalho de investigação liderado pela professora Cláudia Fragão Pereira do
Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra. Este projecto consiste em investigar
o papel da disfunção mitocondrial na agregação da alfa-sinucleína induzida pela
despolimerização dos microtúbulos, bem como o envolvimento do sistema ubiquitinaproteossoma na perda de função da alfa-sinucleína. (http://www.cnbc.pt/research/areaA3_1m.asp).
4
Doenças Neurodegenerativas
As doenças degenerativas do sistema nervoso central são caracterizadas por morte
neuronal de evolução gradual e insidiosa, mas progressiva e irreversível. Na grande maioria
dos casos os factores desencadeantes são ainda desconhecidos pela ciência médica. Um
grande número de doenças degenerativas está associado a uma transmissão genética, com
herança dominante ou recessiva enquanto que outras doenças ocorrem de forma
esporádica em casos isolados de uma família.
(www.cafeesaude.com.br/cafeesaude/doencas_neuro.htm)
As doenças neurodegenerativas apresentam-se como um grupo de doenças,
caracterizadas pela disfunção do sistema nervoso central, relacionadas com a morte de
neurónios e com redução da capacidade cognitiva. Costumam-se manifestar nos idosos,
causando problemas de memória, incapacidade de se cuidar sozinho, dificuldades motoras,
problemas de fala, entre outros sintomas.
5
Doença de Parkinson
Definição
A doença de Parkinson foi primeiramente descrita por James Parkinson em 1817. É
uma doença neurológica degenerativa, incurável e progressiva. É uma desordem cerebral
que se manifesta devido á perda de neurónios que produzem o neurotransmissor dopamina
na substância negra. A dopamina é um mensageiro químico responsável pela coordenação
motora. Esta patologia tem como consequência uma série de danos motores. Podem
também ocorrer algumas manifestações não motoras, tais como: comprometimento da
memória, depressão, alterações do sono e distúrbios do sistema nervoso autónomo.
Aparece em qualquer idade mas é pouco comum em pessoas com idade inferior a 30
anos. A incidência em homens é ligeiramente maior que nas mulheres, numa proporção de 3
homens para 2 mulheres.
Não é uma doença contagiosa, não afecta a memória ou a capacidade intelectual.
Não escolhe raça, etnia, classe social ou geografia.
6
Bioquímica da Doença de Parkinson
Como em todas as doenças, há sempre uma parte bioquímica relacionada com o
desenvolvimento da patologia.
A doença de Parkinson é provocada pela destruição dos neurónios que produzem a
dopamina, que é um neurotransmissor importante na coordenação motora. As bases
bioquímicas da doença estão também relacionadas com o funcionamento de algumas
proteínas envolvidas nesta doença, assim como com algumas teorias estudadas, de seguida
mencionadas.
Teoria do Stress Oxidativo
•
Esta teoria baseia-se na formação de radicais livres, que são caracterizados por
serem moléculas instáveis que reagem com outras moléculas existentes, dando-se assim,
um fenómeno de oxidação.
Para diversos elementos da célula, como é o caso de mitocôndrias e membrana
celular, este fenómeno é nocivo podendo mesmo levar á morte das próprias células. A
produção destes radicais é muitas das vezes provenientes do metabolismo normal do
organismo. A dopamina é metabolizada essencialmente no cérebro por acção da enzima
monoaminaoxidase (MAO) e catecol-o-aminotransferase (COMT) em ácido homovelínico
(HVA) e ácido 3,4-dihidrofenilacético
O metabolismo normal da dopamina produz radicais hidroxilo e peróxido de
hidrogénio, os quais na presença de depósitos de ferro no cérebro podem resultar em
neurotoxicidade por interferência na cadeia respiratória celular. A degradação da dopamina
em ácido 3,4-dihidroxifenilacético pela MAO gera peróxido de hidrogénio, que na presença
de Fe , abundante nos gânglios da base, pode gerar radicais livres hidroxilo (OH.).
2+
Em condições normais o organismo elimina estas moléculas indesejáveis através de
defesas antioxidantes que possui, porém, por alguma razão, na Doença de Parkinson, há
um acumular destes radicais na substância negra, o que poderá levar a desencadeamento
ou agravamento do processo degenerativo.
7
•
Teoria da Excitotoxicidade
É através de mensageiros químicos, denominados de neurotransmissores, que é
possível a comunicação entre células cerebrais.
Existem dois tipos de neurotransmissores:
Excitatórios ( por exemplo: glutamato);
Inibitórios (por exemplo: GABA)
Figura 1:
Retirada de: http://www.dq.fct.unl.pt/cadeiras/qpn1/proj/dopamina/s%C3%ADntese_da_dopamina.htm
Mecanismos de sintese da dopamina através da tirosina, passando pela L-dopa e mostrando as
enzimas envolvidas no processo
Existem, porém, outros tipos de neurotransmissores que tanto podem ser excitatórios
como inibitórios, dependendo do receptor que irá responder ao estimulo. A dopamina é
considerada um neurotransmissor misto.
Perante algumas situações, poderá haver um aumento da actividade da via
excitatória, o que leva a um aumento de quantidade de cálcio dentro da célula e
consequentemente a um desenrolar de fenómenos que levam á morte da célula. Estes
fenómenos são, então, denominados por excitotoxicidade.
A excitotoxicidade, na doença de Parkinson, não parece constituir um evento primário
responsável pela morte celular, mas pode contribuir para amplificar e perpetuar o processo
degenerativo.
8
•
Dopamina
A dopamina é produzida em certas partes do cérebro chamada de substância negra e
desempenha funções tanto de hormona como de neurotransmissor. Existe em diversos
animais, sendo eles vertebrados ou não. A sua estrutura química indica-nos a estrutura de
uma pentilamina. A dopamina é uma catecolamina derivada da tirosina.
A tirosina é convertida em L-DOPA por acção da enzima tirosina hidroxilase, uma
mono-oxigenase que utiliza como substrato a tetrahidro-biopterina ((tirosina + O2 +
tetrahidro-biopterina → L-dopa + dihidro-biopterina +H2O). Por sua vez, a L-DOPA é
convertida em dopamina por acção da enzima da enzima DOPA descarboxilase (L-DOPA →
Dopamina + CO2).
Figura 2:
Retirada de: http://www.dq.fct.unl.pt/cadeiras/qpn1/proj/dopamina/s%C3%ADntese_da_dopamina.htm
Mecanismos de sintese da dopamina através da tirosina, passando pela L-dopa e mostrando as
enzimas envolvidas no processo
9
A dopamina é também uma neurohormona libertada pelo hipotálamo que tem como
maior função inibir a libertação da prolactina.
Já no cérebro a dopamina funciona como neurotransmissor activando os 5 tipos de
receptores dopaminérgicos (D1, D2, D3, D4 e D5). Os subtipos conhecidos de receptores da
dopamina encontram-se ligados à proteína G e actuam viam AMPc. Os receptores da família
D1(subtipos D1 e D5) estimulam a actividade da enzima adenilatociclase, aumentando os
níveis de AMPc, enquanto que os receptores D2 inibem a actividade desta enzima,
activando canais de K+ e reduzindo a entrada de iões Ca2+. Os receptores dopaminérgicos
encontram-se amplamente distribuídos pelo SNC, sendo responsáveis pelas diferentes
acções fisiológicas da dopamina
(Bahena-Trujillo, R., Flores, G. e Arias-Montano J.A.,
2000).
Figura 3:
Retirada de Bahena-Trujillo, R., Flores, G. e Arias-Montano J.A., 2000
Mecanismos de transdução de sinal acoplado às famílias de receptores dopaminérgicos D1 e D2: AC,
adenilato ciclase; AMPc, AMP cíclico; ATP, Adenosina trifosfato; ADP, Adenosina difosfato; DAG, diacilglicerol;
IP3, 1,4,5-e inosito trifosfato ; PIP2, fosfatidilinositol 4,5-difosfato; PKA, cinase activada por AMPc; PKC, cinase
C; PLC, fosfolipasa C.
10
Interacção da dopamina e da acetilcolina (http://viartis.net/parkinsons.disease/biochemistry.htm)
A acetilcolina é um neurotransmissor sintetizado a partir de acetil-CoA e colina, numa
reacção catalisada pela colina acetil transferase (CAT) e participa em diversas funções,
nomeadamente no processo de contracção muscular. É através de 5 vias de receptores
coloenergéticos (m1, m2, m3, m4 e m5) que acetilcolina controla a contracção muscular. Tal
como para a dopamina, existem dois tipos de receptores, localizados em diversas áreas do
SNC e SNP: ionotrópicos (nicotínicos) e metabotrópicos (muscarínicos), associados à
proteína G.
Figura 4:
Retirada de:
file:///C:/Documents%20and%20Settings/TEMP/Defini%E7%F5es%20locais/Temporary%20Internet%20Files/C
ontent.IE5/OH6F4NYH/278,13,Figura tipos de receptores
Tipos de receptores metabotrópicos e ionotrópicos, respectivamente
Os receptores m1, m3 e m5 são estimulatórios, ao contrário dos receptores m2 e m4
que são inibitórios (Soto, M.E.F. e Torres, J.E.S. 2005).
Na combinação destes dois efeitos, o efeito estimulatório de m1, m3 e m5 é mais forte
que o efeito inibitório de m2 e m4. Assim, concluiu-se que a acetilcolina estimula a
contracção muscular.
Como referido, a dopamina funciona de forma semelhante á acetilcolina, na maneira
em que funciona através de 5 vias, mas em vez de serem vias coloenergéticas são
dopaminérgicas (D1, D2, D3, D4 e D5). Os receptores D2, D3 e D4 são inibitórios, enquanto
que os receptores D1 e D5 são estimulatórios.
11
Mais uma vez, juntando os efeitos, o efeito inibitório de D2, D3, e D4 será mais forte
que o efeito D1 e D5, o que indica que a dopamina actua na inibição da contracção
muscular.
Quando o efeito da dopamina é menor que o da acetilcolina, a Doença de Parkinson,
tende a manifestar-se. Na doença de Parkinson, a falta de dopamina resulta num aumento
global
da
actividade
da
acetilcolina,
levando
a
um
desequilíbrio
entre
estes
neurotransmissores e activando o processo de contracção muscular. Tal acontece quando
há uma redução de 25% da actividade dos neurónios dopaminérgicos.
Figura 5:
Retirada de http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0506/paraquato/parkinson.html
Diferença da quantidade de dopamina e acetilcolina na Doença de Parkinson
12
Biossíntese da dopamina (http://viartis.net/parkinsons.disease/biochemistry.htm)
A dopamina forma-se nos neurónios dopaminérgicos através da via:
L-tirosina L-dopa dopamina
Figura 6:
Retirada de http://en.wikipedia.org/wiki/Dopamine
Via de síntese da dopamina
13
1ª ETAPA – Biossíntese pela enzima tirosina 3-monoxigenase (tirosina hidroxilase)
L-tirosina + THFA + O2 + Fe2+ L-dopa + DHFA + H2O + Fe2+
Para a produção de L-dopa, a L-tirosina, THFA e o ferro são essenciais. Na doença
de Parkinson a actividade desta enzima encontra-se abaixo de 25% e em casos severos
abaixo dos 10%, o que nos indica que um ou mais elementos precisos para a formação de
L-dopa se encontram em quantidades insuficientes.
2ª ETAPA – Biossíntese pela enzima DOPA descarboxilase
L-dopa + fosfato piridoxal dopamina + fosfato piridoxal + CO2
Assim, L-dopa e fosfato piridoxal são essenciais para a formação de dopamina. A
actividade desta enzima é regulada pela quantidade existente de piridoxal fosfato. Na
doença de Parkinson o nível desta enzima é de 25% ou menos.
14
Coenzimas envolvidas na biossíntese da dopamina
As enzimas são substâncias que vão activar reacções químicas especificas
necessárias no nosso organismo. As coenzimas são substâncias que assistem as enzimas.
Algumas enzimas, como as que são usadas na biossíntese de dopamina, não funcionam
sem coenzimas.
Apesar de para a formação de dopamina a partir de L-tirosina, serem apenas,
necessário 2 enzimas, são também indispensáveis as seguintes 3 coenzimas: a THFA (para
a passagem de L-tirosina para L-dopa), o fosfato piridoxal (para a passagem de L-dopa a
dopamina) e NADH (para a formação de THFA e fosfato piridoxal).
Estas coenzimas são obtidas a partir de vitaminas hidrossolúveis pelas seguintes
vias:
•
ácido fólico ácido dihidrofólico ácido tetrahidrofólico (THFA)
•
piridoxina piridoxal fosfato 5-piridoxal
•
nicotinamida MNM NAD NADH (ou NADP) NADPH
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Inactivação e degradação da dopamina
(http://en.wikipedia.org/wiki/Dopamine#Inactivation_and_degradation)
A dopamina é inactivada por recaptação da via transportadora de dopamina, que é
enzimaticamente destruída pelo COMT (catecol-O-metil transferase) e pela MAO
(momoamina oxidase). A dopamina que não é destruída por enzimas é reempacotada
dentro de vesículas para uso posterior.
Esta também pode simplesmente difundir-se na sinapse.
Figura 7:
Retirada de http://en.wikipedia.org/wiki/Dopamine
Via de degradação e inactivação da dopamina por acção da monoamina oxidase (MAO) e catacol-Otransferase (COMT)
16
•
Proteínas G
De maneira a aliviar a doença de Parkinson, deve ocorrer estimulação dos receptores
de dopamina que irão consequentemente estimular as proteínas G.
L-tirosina L-dopa dopamina receptores de dopamina (D2,D3,D4) > proteínas G
As proteínas G são formadas por 3 partes (α,β,γ) interligadas. Existem 3 tipos de
subunidades beta e 7 subunidades gama. Porém não são estas as subunidades que estão
envolvidas na doença de Parkinson.
As subunidades alfa são as que estão relacionadas com a doença de Parkinson,
porque são estas que aliviam ou agravam a doença. Existem 5 tipos de subunidades alfa:
•
Proteínas G que agravam a doença: α Gs1;
•
Proteínas G que aliviam a doença: α Gi1, α Gi2, α Gi3;
•
Proteínas G que têm um pequeno efeito na doença: α Go;
O único propósito da dopamina ao estimular os receptores de dopamina é fazer com
que a subunidade α (a parte activa das proteínas G) se separe do resto da proteína. Se isto
não acontecesse então todos teríamos a doença de Parkinson. Quando a parte α é libertada
da restante proteína G, toma lugar a acção final da série de eventos, via AMPc, que leva à
inibição da contracção muscular. (http://viartis.net/parkinsons.disease/biochemistr y.htm)
Figura 8:
Retirada de
Proteínas G, subunidades α, β e γ
17
Sintomas
Hoje em dia, devido ao acesso á informação que temos a partir da internet, revistas,
jornais, entre outros, conseguimos distinguir uma pessoa com Parkinson de uma que não
padece da mesma doença.
Os sintomas de Parkinson traduzem-se em: tremores, rigidez, bradicinesia ou lentidão
do movimento e instabilidade postural.
Os tremores são um dos sintomas mais característico da Doença de Parkinson. O
tremor típico afecta dedos ou as mãos, mas pode-se também estender ao queixo, cabeça e
pés. Pode só aparecer de um lado do corpo como também pode ser dos dois, e pode ser
muito intenso ou pouco intenso, varia de pessoa para pessoa. O tremor aparece quando não
está a ser executado nenhum movimento, chamando-se assim de tremor de repouso. Este
sintoma varia de intensidade durante o dia, podendo piorar quando o paciente está nervoso
e melhorar quando este se encontra descontraído e desaparece durante o sono. Observa-se
bem os tremores quando a pessoa pega em objectos leves, como por exemplo, jornal.
A rigidez é uma dificuldade de relaxamento muscular. Este sintoma é característico da
doença de Parkinson, devido ao desequilíbrio entre os níveis de acetilcolina (que promove a
contracção muscular) e a dopamina (que inibe a contracção muscular). Este sintoma
aumenta durante o movimento e pode atingir qualquer grupo muscular do tronco ou dos
membros. Começa geralmente num só membro podendo ser influenciado ao longo do dia
através de pequenos factores como: humor, stress e medicamentos. Em alguns pacientes a
rigidez muscular pode levar a uma sensação de dor e desconforto. A menos que seja
administrado medicamentos anti-Parkinson, a rigidez será sempre um sintoma presente. Os
parkinsonianos quando se sentam, mantém sempre a mesma posição, enquanto que as
outras pessoas mudam: cruzam as pernas, coçam a cara ou fazem outros pequenos
movimentos.
A bradicinesia, também denominada por lentidão de movimento, é caracterizado por
um atraso em iniciar movimentos devido á dificuldade do corpo transmitir as instruções
necessárias ás partes apropriadas do corpo. Quando as instruções são recebidas, o corpo
demora a responder. Uma das principais coisas que a família de um doente nota é o tempo
a mais que ele demora a fazer algo que antes demorava a fazer em menos tempo. Pode-se
pensar que é velhice, mas a verdade é que, num doente de Parkinson, a lentidão de
movimentos torna-se mais acentuada, e evolui mais rapidamente do que uma pessoa que
envelhece normalmente. O parkinsoniano perde uma certa automação dos movimentos. Um
doente de Parkinson, quando quer abotoar uma camisa, tem que guiar os dedos para o
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conseguir, como se fosse um robô a guiar uma máquina. Este sintoma também explica
porque é que as pessoas que padecem da doença de Parkinson não piscam tanto os olhos
como uma pessoa normal, parecendo que estão a olhar fixamente para nós.
A instabilidade postural, ou por assim dizer, o desequilíbrio, está maioritariamente
presente nos casos com maior tempo de evolução. Os pacientes tomam uma postura
bastante característica, com a cabeça em ligeira flexão, tronco ligeiramente inclinado para a
frente, flexão moderada da perna sobre a coxa e do antebraço sobre o braço. É um
desequilíbrio que se torna patente durante a marcha ou quando o doente muda de direcção.
Uma vez que o doente perde a capacidade de fazer rapidamente uma correcção da sua
postura, a tendência é cair para a frente ou para trás.
Todos os sintomas de Parkinson variam de pessoa para pessoa. Os maioritários são
os que foram agora descritos, podendo no entanto aparecer outros como: hipersecreção
sebácea, edema dos membros inferiores, depressão do humor ou quadro de instabilidade
muscular.
Figura 9:
Retirada de http://www.fotosearch.com.br/ilustracao/lentid%C3%A3o.html
Sintomas derivados da evolução da doença de Parkinson
19
Causas (http://www.hoops.pt/saude/parkinson.htm)
Diversas hipóteses têm sido propostas para explicar a origem da doença de
Parkinson. Para cada uma delas há pontos a favor e pontos contrários, de modo que se
pode pensar que a origem desta doença se deva a uma combinação, talvez, destes factores
aliados a outros que possam vir a ser descobertos.
Entretanto há 5 linhas de raciocínio para a possíveis causas da doença de Parkinson.
Sendo essas a:
•
Acção de neurotoxinas ambientais;
•
Produção de radicais livres;
•
Anormalidades mitocondriais;
•
Predisposição genética;
•
Envelhecimento cerebral;
A acção de neurotoxinas ambientais ganhou maior fôlego quando em 1971 se
descobriu que um toxico, MPTP (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina), provocava um
síndroma parkinsónico em tudo semelhante á doença de Parkinson. Esta substância destrói
selectivamente neurónios dopaminérgicos da substância negra compacta.
Para a MPTP ser neurotóxica tem que ser oxidada a MPP+ pela enzima MAO-B
(momoamina oxidase B). O MPP+ é captado por terminais dopaminérgicos e após ser
interiorizada inibe a enzima NADH Co Q1 redutase (enzima mitocondrial que actua na
cadeia respiratória).
Há, entretanto, drogas que bloqueiam a MAO-B, como é o caso da selegilina, o que
leva a um bloqueio da toxicidade do MPTP.
Alguns estudos têm constatado uma maior incidência da doença e Parkinson em
populações expostas a toxinas agro-industriais e água do poço.
O metabolismo normal da dopamina produz radicais hidroxilo e peróxido de
hidrogénio, os quais na presença de depósitos de ferro no cérebro, poderiam resultar em
neurotoxicidade por interferência na cadeia respiratória, suportando assim, a teoria de que a
produção de radicais livres poder ser uma causa da doença de Parkinson.
Como já referido anteriormente, o NADH Co Q1 redutase é importante na respiração
celular. A teoria de que anormalidades mitocondriais é também uma das possíveis causas
do desenvolvimento da doença de Parkinson, tem como fundamentos que a inibição do
NADH Co Q1 leva á produção excessiva de radicais peróxido. Neste caso, uma deficiência
na cadeia respiratória poderia gerar produtos de oxidação e desencadear uma série de
processos que levaria á toxicidade celular.
20
Já a nível genético, a susceptibilidade geneticamente determinada a toxinas
ambientais e o defeito capaz de gerar toxinas endógenas e/ou dificultar a sua remoção são
mecanismos pelo qual os factores genéticos podem contribuir para a degeneração celular.
A substância negra compacta é particularmente sensível ao envelhecimento em
relação a outras estruturas cerebrais. A fase pré-sintomática são nos primeiros 5 anos, a
perda neuronal na substância negra compacta é cerca de 45%, ao contrário de uma pessoa
normal que é de 4,7%.
Em suma, há 5 vias de explicação das possíveis causas de doença de Parkinson. E
ao contrário do que a maioria das pessoas pensa não é uma doença de apenas
predisposição genética.
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Tratamento
Algo que é importante referir quando se fala no tratamento da doença de Parkinson é
que não existe cura para esta patologia, apenas medicamentos que combatem os sintomas,
retardando assim a sua progressão.
As células cerebrais, ao contrário das células do resto do nosso organismo, não
sofrem renovação. A partir do momento que as células produtoras de dopamina morrem,
não há forma de as regenerar. Assim, os grandes trunfos da medicina perante esta doença
são os medicamentos, cirurgias, e fisioterapia e terapia ocupacional.
O medicamento mais importante para suavizar os sintomas da doença de Parkinson é
a Levodopa ou L-Dopa. Como não se pode administrar dopamina pois esta não consegue
ultrapassar a barreira hemato-encefálica, é administrada levodopa pois esta já consegue
ultrapassar tal barreira. A levodopa é transformada em dopamina no cérebro através de
descarboxilações, restabelecendo assim os níveis em deficiência daquele neurotransmissor.
Porém, como todos os medicamentos, tem efeitos secundários que resultam em
movimentos involuntários anormais.
Figura 10:
Retirada de http://pt.wikipedia.org/wiki/Levodopa#Mecanismo_de_Ac.C3.A7.C3.A3o
Estrutura química de Le vodopa
As cirurgias para certos doentes também poderão tornar-se benéficas. Estas cirurgias
traduzem-se em lesões provocadas no núcleo pálido interno, denominando-se assim
palidotomia, ou lesões do tálamo ventro-lateral, chamando-se então de talamotomia. Estas
estão envolvidas nos mecanismos da rigidez e tremores. Contudo, apesar de as cirurgias
serem eficientes para a rigidez e tremores, a lentidão do movimento reage melhor a
medicamentos.
22
A fisioterapia é um tratamento tão importante quanto os medicamentos. É através da
fisioterapia que se faz a manutenção da actividade física e de reeducação dos movimentos.
Os músculos quando estão inactivos têm tendência a atrofiar, consequentemente a contrairse e a sua força diminuir. A rigidez característica na doença de Parkinson limita a amplitude
dos gestos.
A terapia ocupacional é bom no sentido em que o profissional orienta o paciente com
o objectivo de facilitar as actividades diárias, assim como ajuda na independência para a
higiene pessoal e a sua reinserção na actividade profissional.
23
Perspectivas futuras
(http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/novos_movimentos_em_parkinson_imprimir.html)
Com o avançar da tecnologia torna-se mais fácil a investigação de soluções para
determinadas doenças. Assim, actualmente, investigam-se novas terapias para combater a
doença de Parkinson.
Michael Kaplitt, da universidade Cornell, está a estudar uma terapia genética para
desactivar as regiões do cérebro que se tornam hiperactivas quando os níveis de dopamina
decrescem em demasia. O decréscimo de dopamina permite que os neurónios que
produzem glutamato (neurotransmissor excitatório) trabalhem em demasia, estimulando
demais os seus alvos, o que leva a transtornos motores. Kaplitt, pretende com o seu
trabalho utilizar um vírus que levará o gene do ácido glutâmico decarboxilase (essencial
para a produção do neurotransmissor inibitório GABA) para esses locais.
Steve Gill e os seus colegas do Hospital Frenchay, em Bristol, Inglaterra, estudam o
efeito de administrar GDNF (factor neurotrófico derivado de células gliais) aos pacientes,
através de um cateter colocado no corpo estriado esquerdo e direito, os principais
receptores dos gânglios da base de dopamina secretada pelos neurónios da substância
negra. As quantidades diminutas de GDNF são enviadas continuamente para o cérebro
através de uma bomba colocada no abdómen ou peito.
Figura 11:
Retirada de http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0506/paraquato/parkinson.html
Esquema de um projecto em desenvolvimento que consiste em colocar um generador de impulsos que
emite através de um eléctrodo estímulos para o cérebro
24
Curiosidades
(http://www.mundoportugues.com/artman/publish/entrevistas/article_000156.shtml)
Tiago Outeiro, um jovem cientista português, que realizou o seu projecto de
doutoramento nos EUA e que se encontra de momento a trabalhar no Instituto de Medicina
Molecular, fez uma descoberta importante em direcção á descoberta de uma cura para as
doenças neurodegenerativas, como por exemplo, a doença de Parkinson, que levou à
publicação de um artigo na revista Science
Segundo uma entrevista dada ao “Mundo Português”, Tiago Outeiro explica em que
consiste a sua investigação, passando agora a citá-lo: “O modelo consiste em usar um
organismo mais simples, mais fácil de manipular, mais barato - células de leveduras. O que
nós fizemos foi produzir uma das proteínas (alfa-sinucleína) envolvidas na doença de
Parkinson nas leveduras e estudar quais os efeitos nas células quando variávamos os níveis
de produção. Deste estudo resultam novas ideias sobre a função da proteína bem como
aspectos relacionados com os mecanismos celulares que levam aos problemas que
eventualmente causam a doença. Houve várias conclusões importantes desta investigação.
Por um lado demonstramos que se a célula não for capaz de controlar os níveis de produção
e acumulação da proteína, por ter problemas nos seus mecanismos de controlo de
qualidade, isso pode ter efeitos dramáticos e prejudiciais para as células. Por outro lado
vimos que esses efeitos se centram principalmente ao nível do transporte intracelular e
também do metabolismo de lípidos. Finalmente, no segundo trabalho publicado na mesma
revista, identificamos genes que estão envolvidos nestes problemas e que estamos agora a
estudar se poderão ser factores de risco para a doença de Parkinson e também para a
doença de Huntington.”
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