UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO PROFISSIONAL EM FARMÁCIA ALESSANDRA MARA DA SILVEIRA CAPPELARO DESENVOLVIMENTO DE NANOEMULSÃO COMBINANDO OS FÁRMACOS LEISHMANICIDAS MILTEFOSINA E FLUCONAZOL PARA USO ORAL Dissertação apresentada à Universidade Bandeirante de São Paulo, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestra em Farmácia, na Área de Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos. Orientadora: Profa. Dra. Claudete Justina Valduga. Co-orientadora: Profa. Dra. Isis Amaral Zainaghi Arvati. SÃO PAULO 2012 BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Claudete Justina Valduga (Presidente – Orientadora) Profa. Dra. Elizabeth Igne Ferreira Prof. Dr. Niraldo Paulino Ao meu grande amor, Amarildo, meu amigo e companheiro na vida e nos sonhos e aos frutos deste nosso amor, Victor e Camila, que nos dão força para caminhar. Aos meus tios Glória e Lúcio, que sempre estiveram no papel de meus pais. À minha mãe Rosa, que em todo o meu tempo de estudo ensinava-me a coragem do aprender. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela saúde, fé, perseverança e Seu socorro, que nunca me faltaram. Às minhas amigas e irmãs, Vanessa e Renata por todo apoio e por sempre acreditarem em mim. Sentirei saudades dos nossos cafés nas madrugadas, acompanhados de lágrimas e risos. Agradeço ao meu esposo Amarildo, pela força e apoio que tornaram meu sonho possível. E aos meus filhos Victor e Camila, por terem doado o tempo que lhes pertencia, para que eu pudesse estudar. À minha querida professora, orientadora e amiga, Profa. Dra. Claudete Justina Valduga, por compartilhar seu conhecimento para que eu pudesse crescer: Obrigada, por não ter desistido de mim, mesmo quando eu mesma já havia desistido. Agradeço a todos os professores do mestrado desta universidade que me apoiaram para a realização deste trabalho. À Profa. Dra. Márcia Regina Machado dos Santos por sua constante disposição em contribuir com este trabalho. À Profa. Dra. Iolanda Cuccovia (INCT-FCx) do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, pela colaboração nos testes de Light Scattering. Aos colegas Oseraldo e Alessandra Fagioli, pela colaboração durante os experimentos e por todo companheirismo. Ao responsável pelo laboratório de farmacologia experimental Msc. Ivair Donizeti Gonçalves, por sua colaboração. À minha mãe Rosa e à minha querida amiga Claudia por cuidarem dos meus filhos e da minha casa, durante minhas ausências. A toda minha família, representada aqui por seus núcleos, Rosana, Ivana, Jorge e Guilherme pelo carinho e incentivo que fizeram parte desta caminhada. Família é a base que sustenta e impulsiona o crescimento humano. Não terminaria nunca de agradecer individualmente, aqueles que participaram desta etapa da minha vida, por isto finalizo agradecendo a todos aqueles que participaram direta e indiretamente deste trabalho. A todos, minha eterna gratidão... “Só sei que nada sei”. Sócrates RESUMO CAPPELARO, A. M. S. Desenvolvimento de nanoemulsão combinado os fármacos leishmanicidas miltefosina e fluconazol para uso oral. 76p. Dissertação de mestrado – Mestrado Profissional em Farmácia, Universidade Bandeirante de São Paulo, 2012. O emprego de nanomateriais na indústria farmacêutica confere vantagens como: proteção do fármaco contra possíveis instabilidades no organismo, manutenção de níveis plasmáticos, aumento da eficácia terapêutica e diminuição da toxicidade pela redução de doses. Os principais nanomateriais utilizados são: lipossomas, nanopartículas poliméricas (nanocápsula e nanoesfera), nanoemulsões e complexos lipídicos. Esta ciência tem despertado interesse no desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de doenças negligenciadas, como a leishmaniose devido ao fato de os medicamentos usados para o tratamento desta patologia serem antigos e restritos. A miltefosina é um leishmanicida ativo, administrado por via oral, que teve seu uso aprovado em março de 2002, para o tratamento da Leishmaniose Visceral (LV) na índia. O fluconazol é um antifúngico utilizado isoladamente ou como coadjuvante no tratamento da leishmaniose. O objetivo deste estudo foi o de combinar o fármaco miltefosina com o fluconazol e veiculá-los em nanoemulsões com a expectativa de obter um produto com vantagens em relação aos comercializados, caracterizar físico-quimicamente o produto e avaliar sua estabilidade. O produto nanotecnológico foi obtido por homogeneização à alta pressão, atingindo bons resultados quanto às propriedades organolépticas, tamanho da partícula, polidispersidade, potencial zeta, variação de temperatura e comportamento enzimático frente a fluidos gastrintestinais simulados in vitro. Os resultados sugerem a viabilidade farmacotécnica da nanoemulsão com miltefosina e fluconazol associados para administração oral. Palavras-chave: Nanoemulsão. Miltefosina. Fluconazol. Leishmaniose. ABSTRACT CAPPELARO, A. M. S. Development of a nanoemulsion combining the leishmanicide drugs miltefosine and fluconazole for oral use. 76p. Dissertação de mestrado – Mestrado Profissional em Farmácia, Universidade Bandeirante de São Paulo, 2012. The use of nanomaterials in the pharmaceutical industry provides advantages as protection against possible instabilities of the drug in the body, maintenance of plasma levels, increasing the therapeutic efficacy and decreasing toxicity by reducing the doses. The main nanomaterials used are: liposomes, polymeric nanoparticles (nanospheres and nanocapsules), nanoemulsions and lipid complex. This science has aroused interest in the development of new drugs for neglected diseases such as leishmaniasis, since the drugs used to treat this disease are old and narrow. Miltefosine is an effective anti-leishmanial drug, administered by oral via, which was approved for oral use in March of 2002, for treatment of Visceral Leishmaniasis (VL) in India. Fluconazole is an antifungal agent used alone or as adjuvant in the treatment of leishmaniasis. The objective of this study was to combine fluconazole with miltefosine and to associate them to nanoemulsions with the aim of obtaining a product with advantages over currently marketed, physicochemicaly characterize the product and to evaluate its stability. The nanotechnological product was obtained by high pressure homogenization and showed good organoleptic properties, particle size, polydispersity, zeta potential, temperature variation and behavior under enzymatic action in simulated gastrointestinal fluids in vitro. These results suggest the pharmacotechnical viability of the fluconazole and miltefosine-loaded nanoemulsion for oral administration. Keywords: Nanoemulsion. Miltefosine. Fluconazole. Leishmaniasis. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Representação de uma escala nanométrica. ........................................... 18 Figura 2 - Representação esquemática de um lipossoma. ....................................... 21 Figura 3 - Representação esquemática da estrutura química de um fosfolipídio. ..... 21 Figura 4 - Representação esquemática de nanocápsulas (a) e nanoesferas (b). ..... 23 Figura 5 - Representação de uma nanopartícula lipídica sólida. .................................... 24 Figura 6 - Representação de um fulereno. ............................................................... 25 Figura 7 - Representação de nanopartículas de dióxido de titânio (a); Representação de nanopartículas de óxido de zinco (b). .................................................................. 25 Figura 8 - Representação de uma nanoemulsão (à esquerda) e de uma emulsão convencional (à direita). .............................................................................................. 26 Figura 9 - Representação de uma nanopartícula lipídica – Nanoemulsão. ............... 27 Figura 10 - Principais áreas endêmicas de leishmaniose cutânea no mundo. .......... 31 Figura 11 - Principais áreas endêmicas de leishmaniose visceral no mundo. .......... 32 Figura 12 - Ciclo parasitário da leishmaniose. .......................................................... 34 Figura 13 - Estrutura química do ergosterol e do colesterol. .................................... 40 Figura 14 - Representação esquemática (a) e imagem (b) do estado de transição da coalescência de duas partículas de emulsão. .......................................................... 52 Figura 15 - Formulação 5 (a) e formulação 6 (b). ..................................................... 53 Figura 16 - Cromatograma do fluconazol padrão (a) e do precipitado da formulação 5 (b). ........................................................................................................................... 54 Figura 17 - Formulações 13 (A) – com os fármacos; e 14 (B) – sem os fármacos. .. 56 Figura 18 - Tamanho das partículas da formulação 13 (a) e do controle, formulação 14 (b). ...................................................................................................................... 57 Figura 19 - Representação gráfica da polidispersidade da formulação 13 (a) e do controle, formulação 14 (b). ..................................................................................... 58 Figura 20 - Histograma da freqüência de distribuição do tamanho de partícula da formulação 13 e do controle, formulação 14. ........................................................... 59 Figura 21 - Distribuição porcentual por tamanho de partícula para a formulação 13 e controle, formulação 14. ........................................................................................... 60 Figura 22 - Representação gráfica da distribuição das partículas por tamanho para a formulação 13 e o controle, formulação 14. ............................................................. 61 Figura 23 - Representação gráfica do potencial zeta da formulação 13 (a) e do controle, formulação 14 (b). ..................................................................................... 62 Figura 24 - Variação da transmitância em função do aumento da temperatura para a formulação 13. ......................................................................................................... 63 Figura 25 - Comportamento da formulação 13 (contendo os fármacos) em fluido gástrico simulado (a) e fluido intestinal simulado (b). ............................................... 64 Figura 26 - Comportamento da formulação 14 (controle) em fluido gástrico simulado (a) e fluído intestinal simulado (b). ........................................................................... 65 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Estrutura química de antimoniais pentavalentes empregados na clínica médica, com os respectivos nomes químicos e comerciais. ..................................... 36 Tabela 2 - Outros fármacos empregados na terapia da leishmaniose, com os respectivos nomes químicos e comerciais. .............................................................. 38 Tabela 3 - Composição das nanoemulsões. ........................................................ 46 Tabela 4 - Características gerais das nanoemulsões preparadas. ....................... 51 Tabela 5 - Análise de pH das Formulações 13 e 14 durante o período de 20 dias, armazenadas sob refrigeração (2 - 4 ºC). ................................................................ 56 Tabela 6 - Resultados de tamanho de partícula, polidispersidade e potencial zeta para as formulações 13 e 14, obtidos por Laser Light-Scattering. .................... 57 LISTA DE ABREVIATURAS dC Depois de Cristo DNA Ácido Desoxinucleico DNDi Iniciativa de Desenvolvimento de Medicamentos para Doenças Negligenciadas Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz IMIQ Imiquimode LC Leishmaniose cutânea LM Leishmaniose mucosa LTA Leishmaniose Tegumentar Americana LV Leishmaniose visceral MS Ministério da Saúde OMS Organização Mundial da Saúde ONG Organização Não Governamental PCR Proteína C Reativa PDP Parceria para Desenvolvimento de Produtos RNA Ácido Desoxirribonucleico Sbv Antimoniais Pentavelentes SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida WHO World Health Organization SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14 2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 18 2.1 NANOTECNOLOGIA ......................................................................................... 18 2.1.1 Principais nanopartículas utilizadas na área de saúde .................................... 20 2.1.1.1 Lipossomas .................................................................................................. 20 2.1.1.2 Nanopartículas poliméricas .......................................................................... 22 2.1.1.3 Nanopartículas lipídicas sólidas ................................................................... 23 2.1.1.4 Nanopartículas insolúveis............................................................................. 24 2.1.1.5 Nanoemulsões ............................................................................................. 26 2.2 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS ......................................................................... 28 2.3 LEISHMANIOSE ................................................................................................ 30 2.3.1 Tratamento da Leishmaniose .......................................................................... 35 2.3.1.1 Miltefosina .................................................................................................... 39 2.3.1.2 Fluconazol .................................................................................................... 40 3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 43 3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 43 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 43 4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 44 4.1 MATERIAL ......................................................................................................... 44 4.2 EQUIPAMENTOS .............................................................................................. 44 4.2.1 Espectrofotômetro UV-Visível ......................................................................... 44 4.2.2 Laser Light-scattering ...................................................................................... 44 4.2.3 Processador ultrassônico ................................................................................ 45 4.2.4 Homogeneizador de alta pressão .................................................................... 45 4.2.5 Phmetro .......................................................................................................... 45 4.2.6 Cromatógrafo gasoso (CG) ............................................................................. 45 4.3 MÉTODOS ......................................................................................................... 46 4.3.1 Preparo das nanoemulsões............................................................................. 46 4.3.2 Caracterização físico-química das formulações .............................................. 47 4.3.2.1 Acidez .......................................................................................................... 47 4.3.2.2 Tamanho de partícula, polidispersidade e potencial zeta ............................. 48 4.3.2.3 Análise calorimétrica .................................................................................... 48 4.3.3 Estabilidade preliminar das formulações ......................................................... 48 4.3.3.1 Estabilidade em fluidos gastrointestinais simulados ..................................... 49 4.3.4 Análise Estatística ........................................................................................... 49 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................. 50 6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 67 14 1 INTRODUÇÃO A nanotecnologia tem como escala valores de 1 a 100 nanômetros (nm), se focaliza em materiais de tamanho atômico, molecular e supramolecular, apontando o controle e manipulação desses novos materiais em escala celular ou menor, que não seria possível através da tecnologia convencional (MÉNDEZ CONTRERAS, 2010). As propriedades da nanoescala permitem proteger materiais em pequenos pacotes para minimizar invasibilidade e facilitar intervenções terapêuticas inteligentes com aumento da especificidade de liberação e ação, diminuição de efeitos secundários e capacidade de resposta a estímulos externos e de interagir com receptores externos (MÉNDEZ CONTRERAS, 2010). O uso de nanopartículas em medicina foi primeiramente realizado no tratamento do câncer e progrediu rapidamente, sendo bem utilizadas para resolver as limitações que apresentam os sistemas de liberação de fármacos convencionais, tais como a biodistribuição inespecífica e falta de seletividade, baixa solubilidade em água, pobre biodisponibilidade oral e baixos índices terapêuticos. Uma forma efetiva para obter eficiência na liberação de fármacos é desenvolver de forma racional nanossistemas baseados no conhecimento de suas interações com o ambiente biológico, a população de células-alvo, as mudanças dos receptores celulares que acontecem com a progressão da doença, o mecanismo e sítio de ação e a retenção do fármaco, a administração de múltiplos medicamentos, o mecanismo molecular e a fisiopatologia da doença em consideração (SURI et al., 2007). Nanoemulsões constituem uma classe de emulsões com gotículas uniformes e de dimensões muito diminutas, na faixa entre 50-200 nm. Estas estão se tornando cada vez mais populares como veículos para a liberação controlada e dispersão otimizada de princípios ativos. Muitas vezes são referidas como microemulsões, emulsões submícron, emulsões ultrafinas, etc. As minúsculas dimensões dessas gotículas reduzem o impacto sofrido pela força da gravidade, evitando a formação de sedimentos durante o armazenamento do produto. O pequeno tamanho das gotículas também evita a floculação, mantendo o sistema disperso, sem separação. As gotículas também evitam a coalescência por não serem deformáveis e não apresentarem as alterações da superfície. Além disso, a fina espessura da película 15 (em relação ao diâmetro da gotícula) evita qualquer afinamento ou ruptura da película de líquido entre as gotículas (TADROS et al., 2004; GARG; KOKKOLI, 2005). A leishmaniose é uma doença negligenciada, existindo poucas pesquisas relacionadas a novos fármacos, pois não há interesse comercial por parte das indústrias farmacêuticas. A elaboração de novas formas farmacêuticas e/ou a associação de fármacos com comprovada eficácia é, a curto prazo, uma opção viável. Alguns dos problemas que os medicamentos utilizados atualmente para o tratamento da leishmaniose apresentam são toxicidade e resistência, que poderiam ser diminuídos com a administração de formas farmacêuticas com maior poder de absorção e a associação de fármacos com diferentes mecanismos de ação que podem levar a resultados mais satisfatórios que as terapias convencionais. Além disso, é importante desenvolver uma formulação estável e de fácil utilização para contribuir com a adesão ao tratamento. A leishmaniose é considerada uma das seis mais importantes doenças infecciosas, tornando-se um problema de saúde pública em 88 países das Américas, Europa, África e Ásia, com registro anual de 1 a 1,5 milhões de casos (BRASIL, 2007). A incidência mundial de leishmaniose é de dois milhões de casos. Destes, 1 a 1,5 milhões de novos casos correspondem à leishmaniose cutânea (LC) (SAMPAIO; RIVITTI, 2008). A LC é um grave problema de saúde no Brasil, com 388.155 casos relatados nos últimos 15 anos (FUNASA, 2000). O traçado clínico da LC em humanos incluem leishmaniose mucosa (LM), a leishmaniose cutânea disseminada e leishmaniose cutânea difusa (NASSIRI-KASHANI et al., 2005). Ainda há o tipo mais grave de leishmaniose que é a visceral (LV), podendo levar o paciente a óbito. Mais recentemente, houve um grande aumento de casos de LV associada a indivíduos portadores de Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA) (WHO, 2012a). A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é um dos tipos mais graves de leishmaniose, que pode ser fatal para o homem, cuja letalidade pode alcançar 10% quando não se institui o tratamento adequado. É causada por espécies do gênero Leishmania, pertencentes ao complexo Leishmania (Leishmania) donovani (LAINSON; SHAW, 1987). O arsenal terapêutico contra a leishmaniose é ainda muito restrito (MACHADO-PINTO, 2002). Antimôniais pentavalentes têm sido os fármacos de 16 escolha para o tratamento da leishmaniose por mais de 50 anos. Os compostos disponíveis para utilização são o antimoniato de N-metil-glucamina (Glucantime®) e estibogluconato de sódio (Pentostam®) (LIMA; PORTO; MOTTA, 2007). A anfotericina B é o fármaco de segunda escolha quando não há resposta ao tratamento com antimoniato de N-metil-glucamina ou meglumina ou quando não é possível usá-lo. A eficácia de pentamidina, que é um fármaco de terceira escolha, é bem pouco conhecida (MACHADO-PINTO, 2002). Os fármacos de segunda e terceira escolha são menos usuais devido aos problemas associados com o custo e à toxicidade (GUERIN et al., 2002). A miltefosina é um leishmanicida ativo, administrado por via oral (SEIFERT et al., 2003) que teve seu uso aprovado em março de 2002 para o tratamento da LV na Índia (SUNDAR et al., 1998; BHATTACHARYA; SUNDAR, 2004). Os principais efeitos colaterais relacionados ao uso de miltefosina constituem-se em náuseas, vômitos e aumento da creatinina. É um fármaco que apresenta teratogenicidade e apesar dos bons resultados terapêuticos obtidos foram encontrados parasitas resistentes ao fármaco em testes laboratoriais, o que pode indicar grande potencial em desenvolver resistência ao tratamento com o mesmo (SEIFERT et al., 2003). Alguns fármacos que possuem atividade contra outros parasitas também são utilizados no combate à leishmaniose, tais como os antifúngicos cetoconazol, itraconazol, fluconazol e terbinafina, que bloqueiam a síntese de ergosterol. Foram realizados estudos com azitromicina (SILVA-VERGARA; SILVA; MANEIRA, 2004) e imiquimode (IMIQ) (SEEBERGER; DAOUD; PAMMER, 2003), que apresentaram eficácia terapêutica em alguns casos. As enzimas envolvidas no metabolismo de esterol da Leishmania têm sido estudadas como um alvo potencial para a terapia nos últimos anos. Parasitas da Leishmania contêm predominantemente esteróis baseados em ergostano, como o ergosterol, que difere do colesterol, o principal esterol nas células dos mamíferos, pela presença de um grupo metila na posição 24 (JIMÉNEZ-JIMÉNEZ et al., 2008). O fluconazol é o composto triazóico mais conhecido; é uma alternativa terapêutica habitual no tratamento de infecções fúngicas sistêmicas específicas (FICA, 2004). Estudos preliminares com o fluconazol no tratamento de leishmaniose causada por L. major (que não ocorre no Brasil) indicam eficácia de 79% quando comparado ao placebo (34%), sugerindo que o fluconazol constitui uma valiosa alternativa terapêutica, podendo ser usado isoladamente ou como coadjuvante no 17 tratamento, pois inibe a síntese de esteróides específicos e indispensáveis para o crescimento e viabilidade celular do parasita (ALRAJHI et al., 2002; MONTE NETO; VERAS, 2006). A proposta deste trabalho foi a de combinar o fármaco miltefosina com o fluconazol e veiculá-los em nanoemulsão para obter um produto com vantagens em relação aos utilizados, tais como: menor toxicidade e maior eficiência para o tratamento da leishmaniose. 18 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 NANOTECNOLOGIA Desde a antiguidade, o homem tem se preocupado em entender e explicar o comportamento da matéria do ponto de vista filosófico e a ciência se encarregou de estudar os elementos da matéria do ponto de vista macroscópico. A manipulação em escala nanométrica de átomos e/ou moléculas teve seu ponto inicial numa palestra realizada em 29 de dezembro de 1959, por Richard Feynman ganhador do prêmio Nobel de Física . Neste evento foi proposto que há manipulação de átomos, e que o homem não necessita aceitar os materiais da forma que a natureza provê, desde que as leis da natureza sejam respeitadas. Não obstante, avanços significativos só ocorreram no início da década de 1980, quando surgiram instrumentos que possibilitaram a nanomanipulação (DURÁN; MATTOSO; MORAIS, 2006). Nanotecnologia é a técnica de fabricação ou manipulação de entidades que tenham, pelo menos, dimensão menor que 100 nanômetros. Um nanômetro (nm) é a medida que corresponde à bilionésima parte do metro ou milionésima do milímetro. Esse tamanho de escala é aproximadamente 700 vezes menor que um glóbulo vermelho ou 100 mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo (Figura 1) (USKOKOVIĆ, 2007; ABDI, 2010). Figura 1 - Representação de uma escala nanométrica. Fonte: Adaptado de NANOTECNOLOGIA (2012). 19 A nanotecnologia brasileira tem produzido resultados promissores nas áreas farmacêuticas e de interface com a biotecnologia, como os nanotransportadores, utilizados no tratamento do câncer (SILVA, 2004a). O uso de nanomateriais oferece uma liberação controlada e inteligente, porque pode modular a velocidade da liberação da substância no organismo e favorecer, em alguns casos, no direcionamento do fármaco evitando seu acúmulo em tecidos não específicos. Além disto, reduz a toxicidade sistêmica em relação ao fármaco convencional, por permitir menor dosagem e/ou diminuir o número de doses para se atingir o mesmo objetivo (RESCIA et al., 2010). Outro ganho é o aumento de estabilidade do próprio fármaco quando encapsulado em sistemas que são biodegradáveis, biocompatíveis, atóxicos (LASIC, 1998). Outras vantagens são oferecidas pelos nanossistemas destacando-se: a proteção do fármaco no sistema terapêutico contra possíveis instabilidades no organismo, a manutenção de níveis plasmáticos em concentração constante; aumento da eficácia terapêutica; liberação progressiva e controlada do fármaco pelo condicionamento a estímulos do meio em que se encontram (sensíveis à variação de pH ou de temperatura); diminuição expressiva da toxicidade pela redução de picos plasmáticos de concentração máxima; diminuição da instabilidade e decomposição de fármacos sensíveis; possibilidade de direcionamento a alvos específicos (sítio-especificidade); possibilidade de incorporação tanto de substâncias hidrofílicas quanto lipofílicas nos dispositivos; diminuição da dose terapêutica e do número de administrações e aumento da aceitação da terapia pelo paciente (VERMA, GARG, 2001; DUNNE et al., 2003; TAO, DESAI, 2003). Os principais nanomateriais utilizados são: lipossomas, nanopartículas poliméricas (nanocápsula e nanoesfera), nanoemulsões e complexos lipídicos. Cada um dos nanomateriais permite a associação de substâncias conforme sua natureza e composição química, e podem ser administrados pelas vias intravenosa, tópica, intramuscular, ocular e oral. A grande vantagem destas nanopartículas é que elas modificam a circulação intracelular de fármacos, o que conduz ao aumento da eficácia e adesão do paciente ao tratamento em razão da diminuição das doses pois, com a liberação controlada, o intervalo entre as doses pode ser maior (MARQUES, 2009). A indústria farmacêutica tem demonstrado interesse nas pesquisas e estudos de nanopartículas, para modernizar e desenvolver novos sistemas de liberação. 20 Essa tecnologia representa importante avanço no setor farmacêutico e em várias outras áreas, devido á sua versatilidade, tais como: indústria farmacêutica, cosmética e de diagnósticos, onde são fabricados medicamentos fundamentados em nanoestruturas e kits de auto diagnósticos; na indústria automobilística é utilizada na fabricação de pneus mais resistentes; no setor de fabricação, na construção de equipamentos para a manipulação de materiais a nível atômico e de novos microscópios; na indústria de eletrônicos, está sendo utilizada no aumento da velocidade de processamento; no setor de meio-ambiente, em novos métodos de reciclagem; na área de defesa, em circuitos de segurança mais eficientes e novos detectores de agentes químicos (MCTI, 2008). Sistemas de liberação controlada como nanosferas, nanocápsulas, lipossomas e nanoemulsões são os principais veículos para incorporação de princípios ativos. Permitem incorporar mais de um princípio ativo no sistema, com controle na velocidade de permeação, profundidade e liberação de cada substância, diminuição da quantidade de princípio ativo e melhor aproveitamento, portanto, diminuição no custo final do produto. Por isso, o interesse cada vez maior em sistemas nanométricos, que potencializam de forma significativa os efeitos desejados em tratamentos farmacêuticos e cosméticos (SILVA, 2004b; NEVES, 2008). 2.1.1 Principais nanopartículas utilizadas na área de saúde As nanopartículas são classificadas em: nanopartículas lábeis, como os lipossomas e nanoemulsões, que se dissolvem química e fisicamente após sua aplicação; e as nanopartículas insolúveis, como os fulerenos e óxidos metálicos, os quais são incapazes de se desestruturarem nos meios biológicos (ERENO, 2008). 2.1.1.1 Lipossomas Os lipossomas (Figura 2) são vesículas esféricas compostas de uma ou mais bicamadas de fosfolipídios (Figura 3), contendo ácidos graxos que constituem a porção hidrofóbica ou apolar da molécula, capazes de encapsular compostos 21 lipofílicos e a porção hidrofílica ou polar da molécula, formada pelo glicerol, grupo fosfato e a colina, capaz de encapsular compostos hidrofílicos (LASIC, 1998; POLOZOVA et al., 1999; VRIES; MARK; MARRINK, 2004; DURÁN et al., 2006). Embora a fosfatidilcolina seja o principal fosfolipídio utilizado na preparação de lipossomas, outros fosfolipídios com serina, etanolamina ou inositol ao invés da colina, também são utilizados. Na figura 2, deixar o núcleo todo em azul e tirar a palavra “water”, já que você colocou a indicação do centro aquoso! Centro aquoso Bicamada fosfolipídica Figura 2 - Representação esquemática lipossoma. Fonte: Adaptado de Daniels (2001). de um Figura 3 - Representação esquemática da estrutura química de um fosfolipídio. Fonte: Daniels (2001). A sua estrutura permite a encapsulação de substâncias ativas lipofílicas e hidrofílicas, sendo formadas por compostos anfifílicos possuem em sua estrutura uma região apolar e uma região polar, os fosfolipídios (SCARPA, 2004). A bicamada 22 tem propriedades de membrana plasmática, admitindo a permeação dos compostos encapsulados. As formulações lipossômicas têm sido de grande utilidade no setor de cosméticos, visto que estão sendo empregadas na prevenção da queda dos cabelos, em produtos de rejuvenescimento, clareamento cutâneo, para prevenção e o tratamento de lipodistrofia ginóide, mais conhecida como celulite, e aumento da hidratação da pele (PARDEIKE; HOMMOSS; MULLER, 2009). As principais vantagens dos lipossomas são: transportar substâncias com propriedades físico-químicas diferentes, como é o caso das hidrofílicas e lipofílicas; possuir elevada afinidade por membranas biológicas; promover a liberação gradual das substâncias encapsuladas; proporcionar a entrada mais eficaz através da camada córnea. Além disso, são compostos biocompatíveis, biodegradáveis, atóxicos, além de permitir melhor estabilidade química da substância ativa (SCARPA, 2004). Os lipossomas, apesar de suas vantagens, apresentam algumas restrições, tais como: os problemas relacionados à estabilidade, devido à interação dos fosfolipídios com os componentes do veículo, afetando a estabilidade dos produtos; a existência de tensoativos em certas concentrações do veículo (superior a 5%), que resulta na falta de organização da bicamada dos lipossomas, causando seu rompimento e a formação de micelas mistas (STRÖHER; ARMIJO; RAFFIN, 2010). 2.1.1.2 Nanopartículas poliméricas As nanopartículas poliméricas (Figura 4) são sistemas transportadores de substâncias compostas por polímeros biodegradáveis (STRÖHER; ARMIJO; RAFFIN, 2010). São divididas em nanocápsulas e nanoesferas, que se diferem em suas organizações estruturais e composições (FRONZA, 2006). As nanocápsulas são constituídas por um revestimento polimérico biodegradável ao redor de um núcleo oleoso, podendo a substância veiculada estar dissolvida nesse núcleo ou adsorvida na parede polimérica. Enquanto a nanoesfera, que não apresenta propriedades oleosas em sua composição, é formada por uma 23 matriz polimérica, na qual a substância veiculada pode ficar retida, adsorvida ou molecularmente dispersa (FRONZA, 2006). Figura 4 - Representação esquemática de nanocápsulas (a) e nanoesferas (b). Fonte: Nanomedicina (2012); Diário da saúde (2011). As principais vantagens das nanopartículas poliméricas usadas como sistemas transportadores estão ligadas à proteção e à preservação da substância ativa nelas incorporadas. Isto confere estabilidade frente à degradação enzimática e química, controle da liberação gradual do ativo em doses favoráveis, aumento da especificidade de ação, aumento da atividade terapêutica das substâncias, resultando em doses terapêuticas menores, e conseqüentemente na redução dos efeitos tóxicos (STRÖHER; ARMIJO; RAFFIN, 2010). As principais desvantagens são a citotoxicidade dos polímeros, resíduos de solvente orgânico usado no processo de produção, causando efeito tóxico, problemas relacionados à estabilidade dos polímeros ou de excipientes, até mesmo o ativo, devido à agregação de nanopartículas no meio, durante o armazenamento (STRÖHER; ARMIJO; RAFFIN, 2010). 2.1.1.3 Nanopartículas lipídicas sólidas As nanopartículas lipídicas sólidas (Figura 5) tem estrutura semelhante à das nanoemulsões e seu tamanho varia de 5-10 nanômetros, a diferença entre elas está no núcleo lipídico que se encontra no estado sólido. As nanopartículas lipídicas sólidas foram desenvolvidas na década de 90 para atuar como um sistema 24 transportador na forma de emulsões, lipossomas, nanopartículas poliméricas e nanoemulsões; as nanopartículas lipídicas sólidas foram produzidas pela troca do núcleo oleoso líquido das emulsões por um oleoso sólido (FRONZA, 2006). Lipídeo (sólido) Figura 5 - Representação de uma nanopartícula lipídica sólida. Fonte: Adaptado de Daniels (2001). Uma nova geração de nanopartículas lipídicas sólidas, foi desenvolvida, devido às limitações das mesmas. Os transportadores lipídicos nanoestruturados, formados a partir da mistura de lipídeos líquidos e lipídeos sólidos, apresentam maior capacidade de incorporação dos compostos ativos. Além disso, podem impedir ou diminuir eventuais expulsões de compostos ativos durante o armazenamento (STRÖHER; ARMIJO; RAFFIN, 2010). As desvantagens estão no estado físico do lipídeo, na possibilidade de fusão por superaquecimento e a capacidade de associação de substâncias, que podem causar problema na estabilidade durante o armazenamento e administração, com o aumento do tamanho de partícula, gelificação e a saída do ativo (STRÖHER; ARMIJO; RAFFIN, 2010). 2.1.1.4 Nanopartículas insolúveis Existem dois tipos de sistemas nesta classe de nanopartículas: fulerenos (Figura 6) e óxidos metálicos (dióxido de titânio e óxido de zinco). 25 Figura 6 - Representação de um fulereno. Fonte: Mundo vestibular (2012). Os fulerenos, formas alotrópicas do carbono, são moléculas estruturais que parecem com uma bola de futebol e são formadas por anéis de cinco e seis carbonos (SOUSA, 2006). Os fulerenos e seus derivados têm sido alvo de grande investigação nos últimos anos. Pelo fato de apresentarem dimensões semelhantes às das moléculas biológicas, podem transportar várias substâncias, com aplicações farmacêuticas e cosméticas (LENS, 2011). Nanopartículas de dióxido de titânio e óxido de zinco (Figura 7a e 7b) são amplamente utilizadas nos protetores solares. Sua função é refletir a luz ultravioleta e manter a transparência à luz visível, preservando as características de um protetor solar comum. Sua maior vantagem é deixar apenas uma camada transparente na pele, se diferenciando dos protetores convencionais, que deixam um aspecto esbranquiçado (FUNDACENTRO, 2012). Figura 7 - Representação de nanopartículas de dióxido de titânio (a); Representação de nanopartículas de óxido de zinco (b). Fonte: Nanoproduto (2011). 26 2.1.1.5 Nanoemulsões Uma emulsão (Figura 8) é feita à base de água, óleo e tensoativo ou agente emulsificante. Macroscopicamente a emulsão é homogênea. Microscopicamente é composta por gotículas minúsculas dispersas no meio líquido externo contínuo. Entre as partículas e o meio líquido contínuo está disposto o emulsificante, o intermediador entre os dois líquidos imiscíveis. O diâmetro das partículas de emulsão pode ser de alguns poucos nanômetros até alguns micrometros, dependendo de seus constituintes e, principalmente, de como o emulsificante consegue estabilizar esta interface (ALMEIDA, TEIXEIRA, KOESTER, 2008; NANOTECNOLOGIA HOJE, 2011). Figura 8 - Representação de uma nanoemulsão (à esquerda) e de uma emulsão convencional (à direita). Fonte: Nanotecnologia Hoje (2011). Um dos grandes desafios da indústria farmacêutica é o desenvolvimento de medicamentos contendo princípios ativos insolúveis em água. Neste contexto, as emulsões tornam-se uma ferramenta extremamente útil para aprimoramento de formulações já existentes, e a introdução de novos fármacos no mercado, uma vez que, na sua grande maioria, as novas substâncias ativas são insolúveis em água. As nanoemulsões facilitam a passagem por barreiras biológicas e permitem a liberação seletiva de fármacos ao tecido. Esta propriedade confere redução dos efeitos colaterais, que geralmente são decorrentes da ação do fármaco em tecidos onde este não deveria atuar, e aumento de eficiência. 27 As nanoemulsões (Figura 9) podem ser definidas como uma dispersão nanométrica de gotículas oleosas em uma fase aquosa externa estabilizada por um sistema de tensoativos adequados e são utilizadas na fabricação de cosméticos ou medicamentos (FRONZA; CAMPOS; TEIXEIRA, 2004). Lipídeo (Líquido) Figura 9 - Representação de uma nanopartícula lipídica – Nanoemulsão. Fonte: Adaptado de Daniels (2001). O tamanho reduzido do diâmetro das gotículas faz com que a ação da força de gravidade se reduza, evitando a formação de sedimentos e floculados durante o armazenamento do produto, aumentando sua estabilidade (NEVES, 2008; STRÖHER; ARMIJO; RAFFIN, 2010). Dentre os procedimentos mais empregados na preparação de nanoemulsões, tem-se a emulsificação clássica, seguida da redução do diâmetro médio através de métodos físicos (FRONZA; CAMPOS; TEIXEIRA, 2004; ALMEIDA, TEIXEIRA, KOESTER, 2008). Este procedimento divide-se em duas etapas: na primeira etapa, as fases aquosa e oleosa, contendo os componentes hidro ou lipofílicos, são aquecidas separadamente (a aproximadamente 70 °C); na segunda etapa, as fases são misturadas e emulsionadas através do uso de homogeneizadores. A emulsão primária obtida apresenta um diâmetro de gotícula submicrométrico (NAVEH; MUCHTAR; BENITA, 1994; ALMEIDA, TEIXEIRA, KOESTER, 2008), influenciado pelo equipamento utilizado e pelas condições operacionais. 28 2.2 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS O vocábulo “negligenciada” tem sua origem de um conjunto formado por “nec” (latim) e “lego” (grego), “nec” está transformado em “neg” e significa “não”; é um prefixo negativo; já a raiz grega “lego” é “reunir para si”, “escolher”e também “ler”; portanto, neg-lego é “não reúno para mim”, “não escolho”, “não leio”; e assim “negligenciada” representa “não escolhida”, “não eleita”. Ocorridas mudanças o vocábulo assume o papel de definição interpretado por “menosprezo”, “pouca atenção” e “descaso” (SOUZA, 2010). As doenças negligenciadas, muitas vezes denominadas doenças tropicais negligenciadas, correspondem a um grupo de doenças causadas por agentes infecciosos e parasitários (vírus, bactérias, protozoários e helmintos) que se tornam endêmicas em locais de clima tropical e subtropical e em populações que vivem em condições de pobreza. Estabelece-se um ciclo de perpetuação da pobreza, desigualdade e exclusão social em razão do impacto na saúde infantil, no comprometimento da população trabalhadora e na marginalização, promovendo estigmas sociais (BRASIL, 2010; HOTEZ, 2007). São raras em países desenvolvidos e de alta prevalência em paises em desenvolvimento de continentes como África, Ásia e América, sendo a pobreza, o saneamento básico precário e o baixo acesso à saúde, pontos comuns entre estas regiões. As infecções relacionadas ao grupo de doenças negligenciadas podem causar deficiência e desconfiguração, causando marginalização e redução da produtividade produzindo impacto econômico, social e político e refletindo diretamente na saúde, educação, agricultura e economia. A Organização Mundial da Saúde, OMS, classifica as doenças negligenciadas em três categorias, levando em consideração a urgência do controle e a disponibilidade de medicamentos. Na primeira categoria estão as doenças que não estão sob controle, sendo estas dengue, tripanossomíase africana e leishmaniose. Na segunda categoria estão as doenças que embora apresentem uma estratégia de controle disponível permanecem prevalentes como a malária, esquistossomose e tuberculose. Na terceira categoria encontram-se as doenças com decréscimo na prevalência como a hanseníase, doença de Chagas, filariose linfática e oncocercose (COHEN; DIBNER; WILSON, 2010; LINDOSO; LINDOSO, 2009). 29 Algumas das doenças negligenciadas como a tuberculose, afetam a população global, outras, como a tripanossomíase africana, têm sua disseminação mais geograficamente confinada (WHO, 2009). Tais doenças não despertam interesse da indústria farmacêutica para investir seus recursos financeiros em pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos destinados ao seu tratamento, uma vez que o interesse industrial é orientado pelo lucro e estas doenças atingem populações marginalizadas, de baixa renda, pouca influência política e com prevalência nos países em desenvolvimento (WHO, 2009; TROUILLER et al., 2002; WERNECK; HASSELMANN; GOUVÊA, 2010). O interesse no desenvolvimento de novos produtos para tratar ou prevenir essas doenças, é ressaltado na comunidade acadêmica e necessário para resolver sérios problemas de saúde, que afligem uma grande parcela da população mundial. No entanto, os limitados orçamentos da Saúde Pública impossibilitam grandes avanços na pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, testes diagnósticos, vacinas e outras tecnologias para esses mercados (COHEN, DIBNER, WILSON, 2010; YAMEY, 2002). No Brasil, em 2008, o Ministério da Saúde juntamente com o Ministério da Ciência e Tecnologia promoveram a segunda Oficina de Prioridades de Pesquisa em Doenças Negligenciadas, onde estabeleceram a dengue, doença de Chagas, leishmanioses, hanseníase, malária, esquistossomose e tuberculose como as sete prioridades de atuação do programa em doenças negligenciadas (WERNECK; HASSELMANN; GOUVÊA, 2010). Em 2003, foi criada pela Organização Não Governamental - ONG Médicos Sem Fronteiras, a DNDi (Iniciativa de Desenvolvimento de Medicamentos para Doenças Negligenciadas), que tem como parceiros fundadores, o Instituto Pasteur na França, a Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz no Brasil, o Ministério da Saúde da Malásia e os institutos de pesquisa clínica da Índia e do Quênia. É uma parceria para desenvolvimento de produtos (PDP) sem fins lucrativos, que trabalha para pesquisar e desenvolver novos tratamentos para as doenças mais negligenciadas. O principal objetivo da organização é fornecer, até 2014, de seis a oito novos tratamentos que atendam às necessidades dos pacientes. Além disso, a DNDi se esforça também para utilizar e fortalecer a capacidade de pesquisa existente nos países endêmicos e, também de conscientizar a opinião pública, despertando maior 30 responsabilidade dos governos sobre a necessidade de se desenvolver novos tratamentos para as doenças negligenciadas (PONTES, 2009). Em 2012, foi firmada uma parceria entre empresas privadas e a Organização Mundial da Saúde e Banco Mundial, para incentivar a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos para o tratamento e a prevenção para erradicar 17 doenças negligenciadas com estimativa de alcançar metas até 2020. Dentre estas doenças estão a leishmaniose, doença de Chagas e hanseníase, presentes também no Brasil (WHO, 2012). As doenças negligenciadas requerem esforços mútuos para que resultados desejáveis sejam alcançados. É necessária educação sanitária visto que muitas destas doenças são transmitidas por insetos, água e alimentos contaminados, características presentes nos países em desenvolvimento. Saneamento efetivo, acesso à água tratada e intervenções não farmacológicas são fatores essenciais para a prevenção, combate e diminuição de re-infecção dessas doenças. 2.3 LEISHMANIOSE A falta de conhecimento, o pouco interesse comercial e a falta de incentivo à pesquisa fazem com que doenças tão antigas, como a leishmaniose, continuem afetando a população mundial nos dias de hoje. A leishmaniose é uma doença tropical infecciosa, não contagiosa, causada por parasitas do gênero Leishmania sp, que invadem e se reproduzem dentro das células que fazem parte do sistema fagocitário, os macrófagos da pessoa infectada (MAIA et al.,2007). As leishmanioses são antropozoonoses consideradas um grande problema de saúde pública, representam um complexo de doenças com importante espectro clinico e diversidade epidemiológica, contaminando os animais vertebrados por meio da picada das fêmeas de mosquitos pertencentes ao gênero Phlebotomus sp, presente na Europa, Norte da África, Oriente Médio e Ásia e ao gênero Lutzomya presente na América. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco de contaminação, com registro de aproximadamente dois milhões de novos casos das diferentes formas clínicas ao 31 ano. É considerada uma das seis mais importantes doenças infecciosas pelo seu alto coeficiente de detecção e capacidade de produzir deformidades (BRASIL, 2007). Com o desenvolvimento que acompanha a evolução da humanidade, a construção de novas estradas e a expansão das cidades, levam o homem a invadir o ambiente natural de numerosas zoonoses, como é o caso da leishmaniose, tendo como conseqüência a inclusão do homem no ciclo de desenvolvimento da doença. O hábito de se criar animais domésticos aumenta ainda mais a probabilidade de contaminação humana de certas zoonoses (KRAUSS et al., 2003). A epidemiologia e as características clínicas da leishmaniose variam conforme a interação de diversos fatores nos parasitas, vetores, hospedeiros e os ambientes envolvidos e é considera endêmica em 88 países e territórios, conforme mostrado nas Figuras 10 e 11 (WHO, 2010; TONIN et al., 2010). Figura 10 - Principais áreas endêmicas de leishmaniose cutânea no mundo. Fonte: Adaptado (BAILEY; LOCKWOOD, 2007). 32 Figura 11 - Principais áreas endêmicas de leishmaniose visceral no mundo. Fonte: Adaptado de WHO (2012a). A Leishmania é um protozoário pertencente ao Reino Protista, Sub-reino Protozoa ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae, gênero Leishmania subgênero Leishmania e Viannia (REY, 2008). Existem relatos e descrições encontradas na literatura desde o século I depois de Cristo (d.C.) da existência da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA). Nas Américas, foram encontradas cerâmicas datadas de 400 a 900 anos d.C., feitas por índios do Peru, que representam mutilações de lábios e nariz, característico na leishmaniose mucocutânea. Mais tarde, com os estudos de paleomedicina, foram descobertas múmias com lesões de pele e mucosa características da leishmaniose (BASANO; CAMARGO, 2004). Na Índia, em 1885, Cunningham fez a primeira observação do parasita do gênero Leishmania, em casos de leishmaniose visceral. Ross, em 1903 também observou o gênero Leishmania e no mesmo ano, Wright descobriu o agente etiológico do botão do oriente incluindo-o no mesmo gênero com o nome de Leishmania tropica (MELO et al., 2005). A leishmaniose foi identificada no Brasil em 1855, ano em que Cerqueira observou e constatou a existência da moléstia na pele, identificando-a clinicamente como “botão da Bahia” ou “botão de Briska”. Na Itália, em 1895, Breda descreveu a moléstia em italianos provenientes de São Paulo. Durante a construção da Estrada de Ferro no Brasil ocorreram vários casos, especialmente na região de Bauru, o que levou a doença a ser conhecida como úlcera de Bauru, classificada, em 1911, por 33 Gaspar Vianna como sendo Leishmania braziliensis (BASANO; CAMARGO, 2004; MELO et al., 2005). Até a década de 1970, todos os casos de LTA eram classificados como L. braziliensis. Com o avanço e aprimoramento das técnicas diagnósticas e o maior conhecimento da doença, outras espécies foram descritas totalizando seis espécies causadoras da LTA (BASANO; CAMARGO, 2004). No Brasil, a LTA é uma doença com diversidade de agentes, de reservatórios e de vetores que apresenta diferentes padrões de transmissão e conhecimento ainda limitado sobre alguns aspectos, o que a torna de difícil controle. É uma das afecções dermatológicas que demanda maior atenção devido à sua magnitude, assim como pelo risco de ocorrência de deformidades que pode produzir no ser humano (BRASIL, 2007). As leishmanioses são causadas por parasitas que podem ser de diversas espécies pertencentes ao gênero Leishmania sp.e a família Trypanossomatidae e estão entre as principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo e podem ser classificadas conforme seus sintomas clínicos em Leishmaniose Cutânea (LC), Leishmaniose Mucocutânea (LMC) e Leishmaniose Visceral (LV), sendo comum a classificação das formas cutâneas e mucocutâneas em uma única forma a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) ( BOSE et al., 2007; REY, 2008). Nas Américas, são atualmente reconhecidas 11 espécies dermotrópicas de Leishmania causadoras de doença humana e oito espécies descritas, somente em animais. No entanto, no Brasil já foram identificadas sete espécies, sendo seis do subgênero Viannai e uma do subgênero Leishmania. As três principais espécies são: L. (V.) braziliensis, L.(V.) guyanensis e L.(L.) amazonensis e, mais recentemente, as espécies L. (V.) lainsoni, L. (V.) naiffi, L. (V.) lindenberg e L. (V.) shawi foram identificadas em estados das regiões Norte e Nordeste (BRASIL, 2007). Os vetores da leishmaniose são insetos denominados flebotomíneos, pertencentes à ordem Díptera, Família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, gênero Lutzomyia, conhecidos popularmente, dependendo da localização geográfica, como mosquito palha, tatuquira, birigui, entre outros. No Brasil, as principais espécies envolvidas na transmissão da doença são: Lutzomyia flaviscutellata, L. whitmani, L. umbratilis, L. intermedia, L. wellcome e, L. migonei (SVS/MS, 2007). Cerca de 500 espécies diferentes, de tamanho menor que os pernilongos comuns e que, geralmente, não ultrapassam 0,5 cm de comprimento. 34 Devido aos seus hábitos hematófagos, apenas as fêmeas transmitem o parasita (BASANO; CAMARGO, 2004). Durante seu ciclo de vida, o parasita possui dois hospedeiros, sendo um invertebrado, um inseto, e outro vertebrado, podendo afetar uma grande parte de mamíferos. No hospedeiro vertebrado a Leishmania sp. é encontrada na sua forma amastigota e no hospedeiro invertebrado o parasita se desenvolve no tubo digestório assumindo sua forma promastigota (REY, 2008). A transmissão acontece quando a fêmea do flebotomíneo pica hospedeiros vertebrados contaminados, adquirindo a forma amastigota do parasita, que no tubo digestório do inseto evolui para a forma promastigota. Ao ingerir o sangue de um novo animal vertebrado, o inseto regurgita e inocula a forma promastigota transmitindo a doença (REY, 2008). Na pele do hospedeiro, os macrófagos fagocitam o parasita, que retorna à sua forma amastigota, que se multiplica até o rompimento da célula, liberando os parasitas na corrente sanguínea e infestando outros macrófagos, desencadeando uma reação inflamatória (MAIA et al., 2007). A Figura 12 ilustra o ciclo parasitário da leishmaniose. Figura 12 - Ciclo parasitário da leishmaniose. Fonte: Adaptado de DPDx (2009). 35 O diagnóstico da leishmaniose é realizado pela avaliação dos aspectos epidemiológicos, clínicos e laboratoriais. O diagnóstico clínico baseia-se nas características da lesão associadas à anamnese e o diagnóstico laboratorial depende da identificação de amastigotas em tecido ou da forma promastigota em meios de cultura (GONTIJO; CARVALHO, 2003). O diagnóstico da LTA é realizado por meio de testes parasitológicos com a biópsia de lesões cutâneas e provas imunológicas (REY, 2008). O diagnóstico da LV é realizado em material coletado do baço, medula óssea ou linfonodo, assim como a pesquisa de Leishmania no sangue pela presença de leucócitos. Ambos os testes não garantem 100% de certeza clínica, pois seus sinais e sintomas clínicos são comuns a outras doenças negligenciadas como doença de Chagas, malária, esquistossomose e febre tifóide o que dificulta o diagnóstico (REY, 2008). As dificuldades de diagnóstico da LV dificultam sua identificação com rapidez, tornando-o complexo (BRASIL, 2006). 2.3.1 Tratamento da Leishmaniose Existe grande necessidade de se investir na busca de novos tratamentos para as leishmanioses, visto que, os atuais modelos consistem na utilização de fármacos que apresentam toxicidade, alto custo e são comumente administrados por via parenteral, dificultando a administração, uma vez que estas doenças são endêmicas nas áreas rurais. Novos fármacos, assim como veículos especiais, e formas não parenterais de administração devem ser valorizados na tentativa de alcançar um número maior de doentes. Os fármacos de primeira escolha para o tratamento das leishmanioses são os antimoniais pentavalentes como a glucamina e o estibogluconato de sódio sendo a anfotericina B, miltefosina e pentamidina segunda escolha nos casos em que os antimoniais não sejam viáveis. O fluconazol e os demais antifúngicos azóis, apresentam-se como perspectivas para novos tratamentos. O tratamento da LTA mantém-se com pouca alteração, desde que o médico brasileiro Gaspar Vianna, em 1912, descobriu a atividade antileishmaniose dos tártaros eméticos antimoniais trivalentes (RATH et al., 2003). 36 Os antimoniais pentavalentes (SbV) permanecem como os fármacos de primeira escolha para o tratamento das leishmanioses, utilizados há mais de 50 anos. Dois tipos são comercializados, o antimoniato de N-metilglucamina (Glucantime®) e o estibogluconato de sódio (Pentostam®) não disponível no Brasil, conforme mostra a Tabela 1 (LIMA et al., 2007; BRASIL, 2007). Sua taxa de cura é de 30 a 90% na América, dependendo do tipo e da dosagem utilizada (AMATO et al., 2008). Tabela 1 - Estrutura química de antimoniais pentavalentes empregados na clínica médica, com os respectivos nomes químicos e comerciais. FÓRMULA ESTRUTURAL OH OH H N HO OH OH NOME QUÍMICO / NOME COMERCIAL Antimoniato de Nmetilglucamina Glucantime®; OH O O Sb Antimoniato de meglumina OH OH O O Gluconato de antimônio (V) HO OH sódico ou Estibogluconato de HO OH OH Sb O Sb sódio O Na3 .9H2 O O O O - COO - COO Pentostam® Solustibosan® OH O Sb CH3 Uréia estibamina Estibamine® NHCONH2 Fonte: Adaptado Rath et al. (2003). A administração recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil é de 10 a 20 mg/kg/dia de Glucantime® intravenoso ou intramuscular, por um período de 20 dias, no tratamento das formas cutâneas localizadas e disseminadas. Caso não 37 ocorra a cicatrização completa três meses após o término do tratamento, o esquema deverá ser repetido por um período de 30 dias. Persistindo o insucesso terapêutico, deve ser utilizado um dos fármacos de segunda escolha (FUNASA, 2000). O mecanismo de ação dos Sbv é pouco conhecido. Nos testes in vitro apresentam pouca eficácia contra a Leishmania, contrastando com os bons resultados clínicos, possivelmente devido a estímulo do sistema imunológico (SILVA, 2006). Os antimoniais provocam diversos efeitos colaterais, que incluem alterações gastrintestinais, hepáticas, renais e cardíacas (RATH et al., 2003; SAMPAIO et al., 1988). As queixas citadas são geralmente discretas ou moderadas e raramente exigem a suspensão do tratamento, porém, doses de 20 mg/Sb v/kg/dia podem atingir o limiar de toxicidade, podendo alterar as funções cardíacas ou renais sendo necessário o abandono do tratamento (FUNASA, 2002). A anfotericina B, é um fármaco de segunda escolha, quando não se obtém resposta ao tratamento com antimonial, ou na impossibilidade de seu uso. O desoxicolato de anfotericina B, é um antibiótico poliênico utilizado em infecções fúngicas sistêmicas. O fármaco é eficaz in vitro e in vivo contra os parasitas do gênero Leishmania (BERMAN, 1997). O produto comercial que contém o fármaco é o Fungizon®, forma farmacêutica comercializada, que consiste em uma infusão intravenosa, apresentada em frasco de 50mg. A dose inicial é de 0,5 mg/kg/dia e deve ser aumentada gradativamente, conforme a tolerância do paciente. A administração é feita em dias alternados, respeitando o limite máximo de 50 mg por aplicação, e o medicamento deve ser diluído em soro glicosado, um empecilho para pacientes diabéticos (GONTIJO et al., 2003; FUNASA 2002). Buscando formulações menos tóxicas e mais eficazes de anfotericina B foram desenvolvidos lipossomas e complexos lipídicos. Dois produtos, anfotericina B lipossômica (Ambisome ®, Nextar, San Dimas, Califórnia, EUA) e complexo lipídico de anfotericina B (ABLC anteriormente, agora Abelcet®, da empresa Liposome, Princeton, New Jersey, EUA) também foram estudados na leishmaniose. Outras preparações incluem anfotericina B lipossômica produzida na Índia e de dispersão coloidal de anfotericina B (Amphocil®, Sequus Pharmaceuticals Menlo Park, Califórnia, EUA) (BODHE, 1999). 38 A anfotericina B liga-se a esteróis na membrana plasmática de fungos e também do parasita da leishmaniose. Os efeitos colaterais variam entre febre e calafrios a anemia grave, hipocalemia e insuficiência renal, que pode ser reduzida por hidratação adequada e infusão mais lenta do fármaco (BERMAN, 1997). O isotionato de pentamidina é a terceira opção de tratamento. Devido à sua toxicidade, longos ciclos de tratamento e resultados duvidosos, este é um fármaco de reserva para o tratamento da leishmaniose visceral (THAKUR; KUMAR; PANDEY, 1991). São apresentadas na forma de isotionato de pentamidina (Tabela 2) e mesilato de pentamidina. No Brasil é comercializado o isotionato de pentamidina. A dose recomendada é de 4 mg/kg/dia, por via intramuscular profunda, de 2 em 2 dias e os efeitos colaterais relatados são: dor no local da aplicação, náuseas, vômitos, tontura, mialgias, cefaleias, hipotensão, lipotimias e hiperglicemia (FUNASA, 2002). O fármaco danifica o DNA do cinetoplasto do complexo mitocondrial e blocos de RNA e síntese protéica. A toxicidade da pentamidina impede a sua ampla aplicação (GOA; CAMPOLI-RICHARDS, 1987). Tabela 2 - Outros fármacos empregados na terapia da leishmaniose, com os respectivos nomes químicos e comerciais. FÓRMULA ESTRUTURAL NOME QUÍMICO / NOME COMERCIAL HN NH Isotionato de pentamidina NH2 Lomidina® OCH2(CH2)3CH2O H2N OH H3C H3C HO OH O O OH OH OH OH OH O H3C O COOH NH2 OH HO O Anfotericina B Fungizone® CH3 - O O P O + N (CH3)3 Miltefosina O Fluconazol Fonte: Adaptado Rath et al. (2003). 39 Aminosidina é um antibiótico aminoglicosídeo idêntico à paramomicina produzido por Strepromyces. Apresenta atividade contra a Leishmania in vitro e em animais. Seu mecanismo de ação ainda é desconhecido (SCOTT, 1992). Estudos no Quênia, Sudão e Índia demonstraram a eficácia da aminosidina na dose de 16 a 20 mg/kg/dia, durante 21 dias, apresentando eficácia de 93-97%; a avaliação da toxicidade está limitada ao pequeno número de estudos (THAKUR et al., 1993). Parece um fármaco seguro e eficaz, mas a produção e comercialização não estão disponíveis (SUNDAR, 2001; LOCKWOOD, 1998). 2.3.1.1 Miltefosina A miltefosina (Tabela 2) é um alquilfosfolipídio, cuja substância química é denominada hexadecilfosfocolina, inicialmente desenvolvido como agente antineoplásico. Apresentou bons resultados em estudos, primeiramente, com LV na Índia e posteriormente com a LC no Velho Mundo, sendo que nos últimos dez anos tem sido estudado contra a LTA na América Latina, apresentando bons resultados. Sua atividade antileishmaniose foi demonstrada in vitro e in vivo, em estudos realizados em animais, tanto para as formas amastigotas como promastigotas do parasita (MORE et al., 2003). Sua ação sobre as formas amastigotas está relacionada ao efeito sobre os macrófagos ou sobre a resposta imune dependente da ativação das células T (KUHLENCORD et al., 1992). A miltefosina, comercializada como Impavido®, está disponível em caixas com 56 cápsulas com apresentação de 10 e 50 mg. O fármaco foi aprovado pelas autoridades indianas em março de 2002, para o tratamento da LV. Autoridades sanitárias da Alemanha e da Colômbia também aprovaram sua comercialização. É o primeiro medicamento oral, eficaz contra leishmaniose visceral (GUTTERIDGE, 2006). O estudo de Dorlo e colaboradores (2008), realizado em militares holandeses que contraíram a LC durante os combates no Afeganistão, e que foram tratados com doses de 150 mg/dia durante 28 dias, relata que a extrapolação desta dose pode causar graves efeitos colaterais gastrointestinais. 40 A farmacocinética da miltefosina no tratamento das leishmanioses é escassa. A ligação às proteínas plasmáticas é de aproximadamente 95% sendo metabolizada principalmente por fosfolipase D colina, liberando colina contendo metabólitos e hexadecanol. A meia vida do fármaco é de aproximadamente 7 dias, sendo excretada principalmente nas fezes (BERMAN, 2005). No estudo realizado nos militares holandeses, concentrações de miltefosina foram detectadas no sangue num período de cinco meses após o término do tratamento. Este fator, provavelmente, contribui para o surgimento de parasitas resistentes (DORLO et al., 2008). O efeito colateral mais importante apresentado é o vômito, que não ocorre logo depois da ingestão do fármaco, e, geralmente, desaparece dentro de poucos dias. Estudos em animais indicam que o uso durante a gravidez deve ser evitado e que a influência sobre o sistema reprodutivo masculino é possível (SEIFERT et al., 2003). A miltefosina tem sido utilizada no tratamento da leishmaniose canina, porém no Brasil, o procedimento comum é o de sacrificar o animal, o que reduz o número de reservatórios do parasita e evita o desenvolvimento de resistência ao medicamento (CROFT; ENGEL, 2006). 2.3.1.2 Fluconazol Antibióticos antifúngicos azólicos, como fluconazol, cetoconazol, itraconazol e terbinafina vêm sendo estudados quanto à sua atividade antileishmaniose, pois bloqueiam a síntese de ergosterol (Figura 13). A Leishmania contém predominantemente esteróis baseados em ergostano, como o ergosterol, que difere do colesterol (Figura 13), o principal esterol presente nas células dos mamíferos (JIMÉNEZ et al., 2008). HO Ergosterol HO Figura 13 - Estrutura química do ergosterol e do colesterol. Colesterol 41 O ergosterol é um esterol precursor da Vitamina D2, constituinte da membrana celular dos fungos, com funções semelhantes às do colesterol em células animais. O fato de os componentes da parede celular de muitos fungos patogênicos não estarem presentes nas células mamíferas, faz com que a membrana celular dos fungos se tornem um alvo para o desenvolvimento de antifúngico de menor impacto para os humanos (REY, 2008). Os azóis são compostos sintéticos cujo mecanismo de ação consiste na inibição da esterol-14α-desmetilase, um sistema enzimático microssômico dependente do citocromo P450, alterando a síntese do ergosterol na membrana citoplasmática e levando ao acúmulo de 14 α-metilesteróis. Esses metilesteróis não possuem a mesma forma e propriedades físicas que o ergosterol, levando à formação da membrana com propriedades alteradas, que não desempenha as funções básicas necessárias ao desenvolvimento do fungo. Apresentam ação fungistática ou fungicida (GOODMAN; GILMAN, 1996). A Leishmania lembra um fungo quanto à síntese de ergosterol na membrana celular, por isso esta via de ação vem sendo explorada para o tratamento da doença. O fluconazol não apresenta diferenças significativas quando administrado por via intravenosa e oral. Os níveis plasmáticos, após administração oral, é cerca de 90% dos níveis obtidos após administração intravenosa. A absorção oral não é afetada pela ingestão concomitante de alimentos. Em jejum, os picos de concentração plasmática ocorrem entre 0,5 e 1,5 h após a dose, com meia-vida de eliminação plasmática de aproximadamente 30 h. As concentrações plasmáticas são proporcionais à dose. Após 4-5 dias com doses únicas diárias, são alcançados 90% dos níveis de equilíbrio (PDAMED; 2012). Tem boa penetração nos fluidos corpóreos e baixa ligação às proteínas plasmáticas. A principal via de excreção é a renal, com aproximadamente 80% da dose administrada é encontrada como fármaco inalterado na urina. O clearance do fluconazol é proporcional ao clearance da creatinina. Não há evidência de metabólitos circulantes (PDAMED; 2012). Os efeitos colaterais são geralmente leves e incluem náusea, cefaléia e dor abdominal. 42 Alguns trabalhos e estudos clínicos têm demonstrado que o fluconazol pode ser promissor no tratamento da leishmaniose. O fluconazol está sendo testado para a forma cutânea com resultados favoráveis, devido à sua alta concentração na pele. O mecanismo de ação destes compostos consiste na inibição da síntese do lanosterol (PEREIRA; SACRAMENTO; MARQUES, 2011). Conforme relatado anteriormente, existem vários problemas relacionados ao tratamento da leishmaniose, como carência de novas entidades moleculares, desenvolvimento exclusivamente de resistência endovenosa, aos medicamentos, toxicidade dos via fármacos de administração utilizados e baixo investimento em pesquisa. Por isso, o uso de sistemas nanotecnológicos, como nanoemulsões baseadas em lipídios e a combinação de fármacos leishmanicidas, como a miltefosina e o fluconazol, apresentados neste trabalho, representam uma expectativa promissora quanto ao desenvolvimento de novas formas farmacêuticas de uso oral mais eficientes e com menor toxicidade. 43 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Desenvolver uma nova formulação para administração por via oral, combinando os fármacos fluconazol e miltefosina, estudar suas propriedades físicoquímicas e estabilidade preliminar. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Desenvolver nanoemulsões para veicular os fármacos miltefosina e fluconazol; Caracterização físico-química das formulações; Avaliar a estabilidade preliminar da formulação durante o armazenamento; Avaliar o comportamento das formulações desenvolvidas em fluidos gástricos e intestinais simulados; 44 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 MATERIAL Os reagentes pepsina A, pancreatina, óleo de semente de algodão, ácido oléico, Monooleato de Sorbitan Etoxilado 20 EO (Tween® 80), ácido acético, clorofórmio e metanol foram adquiridos da Sigma Aldrich. A miltefosina foi adquirida da Hangzhou Dayangchem Co., LTD. (China), fosfatidilcolina e Phosal 53® da Lipoid GmbH; glicerina da Gerbras Química Farmacêutica Ltda. O fluconazol, butilidroxitolueno (BHT), ácido dietilaminotetracético (EDTA) e manitol da Deg Importação e Exportação Ltda. Todos os reagentes e solventes foram disponibilizados pelo Laboratório de Síntese e Formulações. 4.2 EQUIPAMENTOS 4.2.1 Espectrofotômetro UV-Visível Foi empregado espectrofotômetro da marca FEMTO (São Paulo, Brasil), localizado no Laboratório de Síntese de Compostos de Coordenação da UNIBAN, sob responsabilidade da Profa. Regina Mara Pereira. Foram realizadas leituras de absorbância e transmitância, na região do ultravioleta/visível (UV-VIS) no modo varredura e em comprimento de onda específico. 4.2.2 Laser Light-scattering A medida de diâmetro das partículas de emulsão foi realizada por espalhamento de luz em analisador de potencial Zeta, Zetasizer Nano da marca Malvern Instruments (Malvern, Reino Unido), no Laboratório coordenado pela Profa. 45 Iolanda Midea Cuccovia (INCT-FCx), Instituto de Química da Universidade de São Paulo – USP. 4.2.3 Processador ultrassônico A emulsão foi obtida através da homogeneização em ultrassom, da marca Sonics® (Alemanha) no Laboratório Síntese e Formulações da Universidade Bandeirante de São Paulo. 4.2.4 Homogeneizador de alta pressão O emulsificador Emulsiflex 05 da Avestin (Canadá) foi utilizado para preparação das formulações a alta pressão. 4.2.5 Phmetro Foi utilizado para avaliar a estabilidade das formulações quanto à variação de pH durante o processo de armazenamento, foi utilizado pHmetro Quimis, modelo Q488RS, do laboratório do professor José Agustín Quincoces Suarez. 4.2.6 Cromatógrafo gasoso (CG) A análise qualitativa de precipitados presentes nas formulações foi realizada por cromatografia gasosa em aparelho Agilent 6850, utilizando-se coluna HP-1 (metilsiloxano) de 30 metros, com diâmetro interno de 0,320 mm e espessura do filme 0,25 µm, com temperatura inicial de 50 ºC, com variação de 30 ºC/min até 300 ºC, permanecendo nesta temperatura por 5 minutos. Utilizou-se nitrogênio como gás 46 de arraste a um fluxo constante de 50 mL/min. As amostras foram diluídas em metanol para serem injetadas. 4.3 MÉTODOS 4.3.1 Preparo das nanoemulsões Para se obter uma formulação contendo os fármacos miltefosina e fluconazol, que apresentasse propriedades organolépticas e físico-químicas adequadas, foram realizados vários experimentos utilizando as composições descritas na Tabela 3. Tabela 3 - Composição das nanoemulsões. SUBSTÂNCIA FORMULAÇÃO (mg) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Glicerina 100 100 - 200 100 - 100 500 500 - - - 500 500 Óleo semente de algodão 100 100 - 200 100 - 100 500 500 - - 100 500 500 Ácido oleico 100 100 - 200 100 - 100 500 500 - - 100 500 500 Fosfatidilcolina 200 200 - 400 200 - 200 1000 1000 - - 200 1000 1000 Tween 80 100 100 - 200 100 - 100 500 500 - - 100 500 500 miltefosina 150 82 82 165 165 165 150 750 - 750 - 150 750 - fluconazol 75 62 62 125 125 125 50 375 - 375 - 75 375 - Phosal 53® - - 500 - - 500 - - - 2500 2500 - - - Manitol - - - - - - - - - - - 180 900 900 BHT - - - - - - - - - - - 5 25 25 EDTA - - - - - - - - - - - 20 100 100 10 g 10 g 10 g 10 g 10 g 10 g 10 g 50 g 50 g 50 g 50 g 10 g 50 g 50 g Água (qsp) Foram pesados em um béquer de 10 mL, glicerina, óleo de semente de algodão, ácido oléico, que correspondem à fase oleosa, e os fármacos fluconazol e miltefosina. Em outro béquer de 10 mL, foram pesados a fosfatidilcolina, Tween 80® e a água em quantidade suficiente para perfazer o total da formulação (fase aquosa). A 47 solubilização da fosfatilcolina foi feita com auxílio do agitador magnético a 60 °C. A fase oleosa foi vertida sobre a fase aquosa. A mistura foi pré-homogeneizada em agitador magnético e posteriormente em ultrassom durante 1 minuto, a uma freqüência de 20 kHz e potência de 130 W. A mistura foi emulsificada em homogeneizador mantendo-se a pressão entre 10.000 e 25.000 Psi. Durante todo o processo de emulsificação, a temperatura foi monitorada de modo a permanecer na faixa de 50 a 65 °C. Após o processo de emulsificação, as formulações foram transferidas para tubos plásticos com tampa e centrifugadas durante 30 minutos a 2.500 rpm. As formulações produzidas foram armazenadas em condição específica de temperatura, sendo: sob refrigeração, em temperatura ambiente e/ou incubadas a 40 ºC. As nanoemulsões 8-11, 13 e 14 foram submetidas a testes de estabilidade (Tabela 3). 4.3.2 Caracterização físico-química das formulações As formulações foram caracterizadas através das seguintes análises: características organolépticas, pH, tamanho das partículas, polidispersidade, potencial zeta e calorimetria (variação de temperatura para observar transição de fase). 4.3.2.1 Acidez A acidez da emulsão é causada pela hidrólise dos triglicerídeos, originando ácidos graxos livres. O pH das formulações foi medido diretamente através de pHmetro e por titulação com solução de hidróxido de sódio 0,005N em presença de fenolftaleína. Diluíram-se 0,25 mL das formulações em 5,0 mL de etanol e titulados até o aparecimento da coloração rosa. 48 4.3.2.2 Tamanho de partícula, polidispersidade e potencial zeta Quando ocorre variação nas propriedades físico-químicas das partículas de emulsão, há variação do tamanho e aumento da polidispersidade, devido à coalescência entre partículas que pode ocorrer com perda de alguns dos componentes da emulsão. Para avaliar o tamanho, polidispersidade e potencial zeta foram diluídos 50 μL das formulações 13 e 14 em 4,0 mL de água purificada. Adicionou-se 1,0 mL desta solução em cubeta de vidro e realizou-se a análise no equipamento de Laser Light-scattering. 4.3.2.3 Análise calorimétrica Uma alíquota de 5,0 mL da formulação 13, nanoemulsão contendo os ativos miltefosina e fluconazol, foi submetida à variação de temperatura de 20-80 oC. Foi realizada uma primeira leitura no UV a 20 oC e, em seguida, a amostra foi aquecida até alcançar 25 oC, sendo mantida nesta temperatura por 5 minutos, e realizando-se nova leitura no UV. Este mesmo processo foi repetido sucessivamente até atingir 80.oC, elevando-se a temperatura a cada 5 oC. 4.3.3 Estabilidade preliminar das formulações A estabilidade preliminar foi analisada através da centrifugação das formulações imediatamente após o preparo (item 4.3.1 - preparo das nanoemulsões), comportamento em fluidos gastrointestinais simulados e variações de pH (item 4.3.2.1 - acidez) e propriedades organolépticas durante o período de 3 semanas, armazenadas sob refrigeração (4 a 8 oC). 49 4.3.3.1 Estabilidade em fluidos gastrointestinais simulados As formulações 13 e 14 na concentração de 1% (m/v) foram incubadas a 37°C, sob agitação branda em meio gástrico simulado (USP XXIV; pH.1,2; pepsina 0,32% m/v) e em meio intestinal simulado (USP XXIV; pH 7,5; pancreatina 1% m/v). Foram coletadas amostras nos tempos 0, 1, 2, 3 e 4 h, as quais foram analisadas em UV-Vis. 4.3.4 Análise Estatística Os valores obtidos nas análises de caracterização físico-química referentes ao pH, tamanho de partícula e polidispersidade foram representados como valor médio. O conjunto de dados referente às populações com diferentes tamanhos de partículas (polidispersidade) foi analisado pelo teste Mann-Whitney e Levene’s, utilizando software Minitab versão 16. 50 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para o desenvolvimento deste projeto, as matérias-primas foram selecionadas considerando-se a disponibilidade e viabilidade técnica, sendo: fase oleosa: glicerina 1%, óleo de semente de algodão 1%, ácido oléico 1%; fase aquosa: fosfatidilcolina 2%, Tween 80® 1% e água purificada em quantidade suficiente para completar o volume da formulação. Foram testadas diferentes concentrações das substâncias ativas miltefosina e fluconazol. A Tabela 3 (página 46) apresenta a composição das nanoemulsões. O trabalho de Bitencourt (2011) descreve estabilidade físico-química satisfatória da formulação base, fase oleosa e fase aquosa supracitada, e que foi adotada para o desenvolvimento desta pesquisa. Neste mesmo trabalho, também foi demonstrado que o uso de miltefosina na concentração de 150 mg possui, além de sua ação terapêutica, uma função auxiliar de co-emulsificante, resultando em formulação com aspecto translúcido. O uso de fluconazol 75 mg, em associação com miltefosina 150 mg, foi proposto a fim de obter uma formulação em nanoemulsão, que em geral, apresenta maior biodisponibilidade e menor toxicidade. A estabilidade físico-química da formulação mostrou-se satisfatória para concentração máxima de 0,75 % (p/v) de fluconazol, a qual poderá ser futuramente estudada quanto à sua aplicação clínica. Foram produzidas 14 formulações (Tabela 3 – página 46), das quais, as sete primeiras tiveram caráter preliminar para definição de composição. As formulações de 8 a 11 formam submetidas a diferentes condições de armazenamento. A formulação 12 foi preparada para estudo informativo, sem adição de glicerina, não fazendo parte do escopo de testes deste trabalho. As formulações 13 (amostra) e 14 (controle) mostraram-se promissoras ao estudo e foram submetidas a testes de controle de qualidade, que incluíram: aspecto; pH; acidez; tamanho de partícula; polidispersidade; potencial zeta; calorimetria e estabilidade em fluidos gastrointestinais simulados, ambos com leitura em UV-Vis. A Tabela 4 mostra uma visão geral dos resultados obtidos para as diferentes formulações estudadas. 51 Tabela 4 FORMULAÇÃO Características gerais das nanoemulsões preparadas. FORMOU FORMOU NANOPRECIPIEMULSÃO? TADO? HOUVE CONDIÇÃO DE SEPARAÇÃO ARMAZENADE FASE? MENTO COMENTÁRIO 1 sim Sim Não Ref Formou ppt de cor cinza, que foi analisado por CCD, que demonstrou ausência dos ativos. 2 sim Sim Não Ref Após 5 dias, formou ppt branco, característico de um aglomerado e flóculos brancos em suspensão. 3 sim Sim Não Ref Após 5 dias, formou ppt branco, característico de um aglomerado e flóculos brancos em suspensão. 4 não n/a n/a n/a Foi descartada devido a não formação de nanoemulsão. 5 sim Sim Não Ref Após 5 dias, formou cristais finos, bem definidos, de tamanho aproximado de 0,5 a 1 cm. 6 sim Sim Não Ref Após 5 dias, formou cristais finos, bem definidos, de tamanho aproximado de 0,5 a 1 cm. 7 sim Não Não Ref Após 15 dias, foi observada coalescência, formando aglomerados. 8 sim Sim Sim Ref; TAmb T 40°C Após 15 dias, formou ppt nas amostras armazenadas a 40°C, e por isto, o estudo foi interrompido. 9 sim Não Não Ref; TAmb T 40°C Formulação controle referente à formulação 8, cujo estudo foi interrompido conjuntamente. 10 sim Sim Sim Ref; TAmb T 40°C Após 15 dias, formou ppt nas amostras armazenadas a 40°C, e por isto, o estudo foi interrompido. 11 sim Não Não Ref; TAmb T 40°C 12 sim Não Não Ref; TAmb T 40°C Formulação controle referente à formulação 10, cujo estudo foi interrompido conjuntamente. Formulação sem o uso da glicerina, para estudo informativo, formou ppt após 10 dias, sem aplicação de controle de qualidade. 13 sim Não Não Ref Apresenta estabilidade físico-química. 14 sim Não Não Ref Apresenta estabilidade físico-química. NOTA: Ref; sob refrigeração; TAmb: temperatura ambiente; n/a: não aplicável. Na formulação 1 o precipitado foi analisado por cromatografia de camada delgada (CCD), e não se identificou miltefosina ou fluconazol. A característica cinza do precipitado foi atribuída à formação de um possível complexo de coordenação entre algum dos componentes da nanoemulsão e o titânio liberado do equipamento de ultrassom. As concentrações de miltefosina e fluconazol foram diminuídas na formulação 2, com o propósito de obter um equilíbrio molar de 0,2 mmol entre os fármacos. A formulação produzida apresentou-se límpida e translúcida com coloração esbranquiçada, de odor característico das substâncias que a compõem e não houve formação de precipitado. Isto reforça o estudo prévio (BITENCOURT, 2011), o qual 52 demonstra que a miltefosina, na sua dose terapêutica, também age como coemulsificante. Esta formulação foi acondicionada em tubo plástico fechado e armazenada sob refrigeração. Após cinco dias observou-se a formação de pequeno precipitado de cor branca, característico de um aglomerado e a presença de pequenos flóculos brancos em suspensão. Isto demonstra que houve coalescência das partículas de nanoemulsão. A coalescência é um fenômeno de instabilidade que ocorre quando a interface de duas partículas interage e se fundem, formando uma nova partícula (Figura 14). Este processo pode produzir agregados macromoleculares e levar à perda dos fármacos ou outros componentes dissolvidos na fase oleosa do interior da partícula (SAITO et al., 1999). W O O W (a) (b) Figura 14 - Representação esquemática (a) e imagem (b) do estado de transição da coalescência de duas partículas de emulsão. A figura superior representa duas partículas de emulsão lipídica o/a em contato. Na figura inferior, a superfície da monocamada está curvada negativamente. “O” representa a fase oleosa e “W” a fase aquosa. Fonte: Saito et al. (1999) (a) e Laboratório de Síntese e Formulações (b). Para avaliar uma alternativa de formulação base, foi usado o produto comercial Phosal 53®, da empresa Lipoid, a qual não fornece as porcentagens de cada componente presente na fórmula (Formulação 3). Sabe-se que o Phosal 53®é composto por lecitina, triglicerídeos dos ácidos capróico e caprílico, etanol, estearato de glicerila e palmitato de ascorbila, e que a fração de fosfolipídios supera 50%. 53 O uso da base pronta Phosal 53® resultou em formulação sem alterações macroscópicas, quando comparado com o uso da base preparada para este estudo, no momento da preparação. Porém, cinco dias após a preparação observou-se um precipitado branco, característico de um aglomerado e flóculos brancos em suspensão. Na formulação 4, ambas as fases foram concentradas, na tentativa de melhorar a estabilidade físico-química, esperando-se reduzir a migração do fármaco de dentro da partícula para a fase contínua. Mesmo após o preparo tecnológico, no emulsificador, a formulação permaneceu com cor branca leitosa e muito opaca, sugerindo que a formulação não apresentava características de uma nanoemulsão. Esta formulação foi descartada, pois macroscopicamente, suas características foram insatisfatórias. Nos estudos subseqüentes (Formulação 5, com base preparada e Formulação 6, com base pronta) foram mantidas as concentrações iniciais dos componentes base da formulação, aumentando-se as massas da miltefosina para 165 mg e do fluconazol 125 mg. Após cinco dias observou-se a formação de precipitado, característico de cristais, bem definidos, de tamanho aproximado de 0,5 a 1 cm, que estão mostrados na Figura 15. (a) Figura 15 - Formulação 5 (a) e formulação 6 (b). (b) O precipitado formado foi analisado em cromatógrafo a gás e foi confirmado tratar-se do fluconazol (Figura 16). Esta observação foi de suma importância, pois se constatou que a característica anfifílica do fluconazol favorece a migração e/ou incorporação parcial da substância na partícula. Em decorrência deste resultado os estudos foram conduzidos com propósito de diminuir a força iônica da fase contínua, e as interações intermoleculares do tipo ligações de hidrogênio entre o fluconazol e a fase aquosa e do tipo Van der Waals. 54 Figura 16 - Cromatograma do fluconazol padrão (a) e do precipitado da formulação 5 (b). De acordo com a figura anterior (Figura 16a), o tempo de retenção do fluconazol utilizado no desenvolvimento das formulações é de 6,9 minutos e o precipitado da formulação 5 (Figura 16b), apresenta um pico no mesmo tempo de retenção, confirmando tratar-se do fluconazol. A análise foi apenas de caráter qualitativo. 55 Na formulação 7, diminuiu-se a massa de ambos os fármacos, sendo miltefosina 150 mg e fluconazol 50 mg, respectivamente, na tentativa de evitar a formação de precipitado. Após 15 dias observou-se coalescência das partículas levando à formação de aglomerados. Como inicialmente a formulação permaneceu estável, foram preparados lotes maiores para estudos de estabilidade. Portanto, foram produzidos lotes de 50 g para as formulações 8, 9, 10 e 11 (Tabela 3). Os lotes produzidos foram submetidos a diferentes temperaturas de armazenamento (Ambiente, refrigeração e 40 ºC) e durante o período de incubação a 40 ºC, as formulações precipitaram. Desta forma, os estudos foram focados na investigação das interações intermoleculares entre o fluconazol com a fase aquosa e com os demais componentes da formulação. No intuito de minimizar a atração do fluconazol pela fase aquosa e melhorar a retenção do mesmo nas partículas de emulsão, foi proposto a adição de manitol, que interage com os grupos hidroxila da fase aquosa. As interações intermoleculares do manitol com a água, por meio de ligações de hidrogênio, são mais fortes quando comparadas com as interações intermoleculares do fluconazol com a água, devido à maior eletronegatividade do oxigênio (grupos hidroxila do manitol) em relação ao nitrogênio, presente nos anéis azólicos do fluconazol. Desta forma, o fármaco mantém-se no interior das partículas ou entrelaçado na monocamada. A estabilidade do sistema como um todo, depende da interação entre as moléculas que formam as partículas e a fase contínua. Com base nas considerações anteriores foram produzidas as formulações 13 (15 mg/mL de miltefosina e 7,5 mg/mL de fluconazol) e 14 (controle sem os fármacos) (Figura 17), com adição de manitol, butilidroxitolueno (BHT) e ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). Obtiveram-se formulações com as seguintes características: Formulação 13, contendo os fármacos: límpida, translúcida de cor levemente esbranquiçada, característica de uma nanoemulsão e de odor característico dos componentes. Formulação 14, controle sem os fármacos: límpida, opaca, leitosa, de cor branca, não apresentando características visuais de uma nanoemulsão; o odor é característico dos componentes da formulação. 56 Figura 17 - Formulações 13 (A) – com os fármacos; e 14 (B) – sem os fármacos. As formulações 13 e 14 foram acondicionadas em frascos plásticos fechados, armazenadas sob refrigeração e submetidas à caracterização físico-química e estabilidade preliminar. Variações de pH são um indicativo de instabilidade química dos componentes da formulação passíveis de hidrólise, como é o caso dos triglicerídeos e fosfatidilcolina, além dos próprios fármacos. Isto pode afetar a estabilidade das nanopartículas levando à coalescência e posterior separação de fases. Por isso, dados de variação de pH são de extrema importância para prever fenômenos de instabilidade em sistemas nanoemulsionados. A análise direta de pH, com auxílio de pHmetro, mostrou que durante o período analisado não houve alteração (Tabela 5). Tabela 5 - Análise de pH das Formulações 13 e 14 durante o período de 20 dias, armazenadas sob refrigeração (2 - 4 ºC). pH Inicial Após 10 dias Após 20 dias Formulação 13 4,2 4,2 4,2 Formulação 14 4,2 4,2 4,3 Nos experimentos para avaliação do pH através da acidez titulável, utilizando hidróxido de sódio como base, observou-se que os valores de pH são inferiores àqueles encontrados na medida direta, indicando que por esta metodologia o índice de acidez é maior. Por este método, ocorre quebra das partículas e é medida a acidez total do sistema. Porém, a maior acidez pode ser conferida pela hidrólise dos 57 triglicerídeos a ácidos graxos livres, sendo, portanto, um método inadequado para esta análise. O tamanho da partícula é um parâmetro importante no processo de controle de qualidade, pois a estabilidade física de dispersões depende do tamanho e distribuição das partículas (MULLER-GOYMANN, 2004). As análises de tamanho de partícula medidas através de espalhamento de luz a Lazer em equipamento Light-Scattering mostraram que o tamanho das partículas é de ordem nanométrica para ambas as formulações, com e sem os fármacos. A presença do miltefosina, na formulação 13, favoreceu a formação de partículas menores quando comparadas com a formulação 14 (Tabela 6), atingindo o objetivo proposto de formular uma nanoemulsão conforme ilustrado no gráfico da Figura 18. Tabela 6 - Resultados de tamanho de partícula, polidispersidade e potencial zeta para as formulações 13 e 14, obtidos por Laser Light-Scattering. Parâmetros analisados Formulação 13 Formulação 14 Tamanho de partículas (nm) 49,75 202,5 Polidispersidade 0,256 0,227 Potencial Zeta (mV) -24,3 -44,3 (a) (b) Figura 18 - Tamanho das partículas da formulação 13 (a) e do controle, formulação 14 (b). 58 A polidispersidade é uma característica importante para a estabilidade físico-química da formulação. Quanto menos polidispersas estiverem as partículas, mais estável a formulação se apresenta, evitando a agregação e a coalescência (MULLER-GOYMANN, 2004). Numericamente, o valor da polidispersidade da nanoemulsão controle (14) é um pouco menor que da nanoemulsão contendo os fármacos (Tabela 6). A polidispersidade das formulações 13 e 14 está representada na Figura 19. (a) (b) Figura 19 - Representação gráfica da polidispersidade da formulação 13 (a) e do controle, formulação 14 (b). O equipamento Light-Scattering faz a medição do tamanho de partículas presentes na porção analisada da amostra ou do controle. A partir dos resultados obtidos, o software realiza uma extrapolação estatística para fornecer a polidispersidade correspondente ao tamanho de partículas. O gráfico obtido para a Formulação 14, controle (Figura 18b), apresenta-se mais afinado em relação ao gráfico correspondente à Formulação 13, indicando menor polidispersidade para a formulação controle do que para a formulação contendo os fármacos, conforme apresentado na Tabela 6. Conforme preconizado para o teste de polidispersidade, a interpretação gráfica deve ser avaliada frente à significância técnica em relação às 59 formulações farmacêuticas. Com o objetivo de comparar os resultados obtidos para o controle e para a amostra, foi realizado tratamento estatístico, empregando software Minitab®, a partir dos dados de tamanho de partícula e correspondente freqüência fornecidos pelo software de análise de Light-Scattering. Inicialmente, foram construídos os gráficos tipo histograma para as duas formulações (Figura 20). A normalidade dos dados foi avaliada e então foi feita análise de variação do tamanho de partícula da formulação controle e da formulação contendo os fármacos e foi feita a comparação da média de tamanho de partícula entre estes dois grupos. A Figura 20 mostra que a formulação que contém as substâncias ativas, apresenta menor média estatística de tamanho de partícula e menor variação entre os tamanhos de partícula. Histograma da Formulação 13; Formulação 14 Frequência da distribuição de tamanho de partícula 0 Formulação 13 14 25 100 200 300 400 500 Formulação 14 12 20 10 Formulação 13 Média 67,20 Desv io padrão 38,05 N 89 Formulação 14 Média 248,9 Desv io Padrão 110,8 N 97 15 8 6 10 4 5 2 0 0 30 60 0 90 120 150 Tamanho de partícula (nm) Figura 20 - Histograma da freqüência de distribuição do tamanho de partícula da formulação 13 e do controle, formulação 14. Foi verificado que o tamanho de partícula segue distribuição não normal para ambas as formulações (Figura 21). Esta informação foi considerada para a escolha da estatística a ser empregada para a comparação da variação do tamanho de partícula entre os grupos. 60 Gráfico de probabilidade - Formulação 13; Formulação 14 99,9 Variáv el Formulação 13 Formulação 14 Número de partículas (%) 99 Desv io Média padrão N A D v alor-p 67,20 38,05 89 1,921 <0,005 248,9 110,8 97 1,540 <0,005 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 0,1 -200 -100 0 100 200 300 400 500 600 700 Tamanho de partícula (nm) Figura 21 - Distribuição porcentual por tamanho de partícula para a formulação 13 e controle, formulação 14. Para a comparação da variabilidade do conjunto de dados, foi empregado o teste de Levene's, por se tratar de distribuição não normal do tamanho de partícula. O teste retornou valor p < 0,05, o que demonstra que a variação do tamanho de partícula da Formulação 14 é maior do que a variação do tamanho de partícula da Fórmula 13, que contém as substâncias ativas. Isto indica que a presença dos fármacos, em especial da miltefosina, em razão de sua conhecida função de coemulsificador, contribui para a obtenção de nanoemulsão com tamanho de partícula mais uniforme. A Figura 22 representa a variabilidade do tamanho de partícula para cada formulação. Observa-se que o tamanho de partícula da Formulação 13, além de mais uniforme, apresenta menor variação, também apresenta valor médio significativamente menor do que a média de tamanho de partícula da formulação controle, a qual não contém os ativos. 61 Gráfico de valores individuais - Formulação 14; Formulação 13 600 Tamanho de partícula (nm) 500 400 300 200 100 0 Formulação 14 Formulação 13 Figura 22 - Representação gráfica da distribuição das partículas por tamanho para a formulação 13 e o controle, formulação 14. A obtenção de partículas de tamanho menor na nanoemulsão que contém os fármacos foi estatisticamente demonstrada empregando teste não paramétrico de Mann-Whitney, o qual retornou significância nula para a igualdade das medianas para o tamanho de partícula. As análises de tamanho de partícula e polidispersidade, em conjunto com o tratamento estatístico indicam que, embora a dispersão entre as partículas presentes na nanoemulsão controle seja menor, a nanoemulsão contendo os fármacos possui tamanho de partícula médio menor e mais uniforme, com menor variabilidade entre elas. O arranjo de íons ao redor das partículas, potencial zeta, é importante para a manutenção da estabilidade das nanoemulsões. Por isso, é ideal que o valor de potencial zeta seja superior a +30 mV ou inferior a -30 mV para que haja a máxima repulsão entre partículas de emulsão e as mesmas tenham maior estabilidade . As formulações 13 e 14 apresentaram valor médio de potencial zeta de -24,3 mV e -44,3 mV, respectivamente (Figura 23). Valores elevados de potencial zeta contribuem para estabilidade das nanoemulsões, porém existem outros parâmetros como polidispersidade, temperatura, pressão, incidência de luz, pH do meio e estabilidade química dos componentes, que também contribuem para a estabilidade das mesmas. 62 (a) (b) Figura 23 - Representação gráfica do potencial zeta da formulação 13 (a) e do controle, formulação 14 (b). Nanopartículas lipídicas podem ser sólidas ou líquidas, porém existem estados físicos intermediários pelos quais elas podem passar com a variação da temperatura. Na transição de fase ocorre reorganização das moléculas que compõem as partículas, podendo levar à perda de material do seu interior, ou ainda coalescência, dando início a um processo de progressivo de decomposição das partículas. Ao submeter a nanoemulsão contendo os fármacos (Formulação 13) à variação de temperatura observou-se que a transmitância diminui com o aumento da temperatura (Figura 24). 63 Figura 24 - Variação da transmitância em função do aumento da temperatura para a formulação 13. Analisando o gráfico anterior, observa-se que a partir de 50 oC a transmitância começa a diminuir mais rapidamente e na faixa entre 55 e 70 oC devem ocorrer transições de fase. Até 40 oC não se observa variação expressiva na transmitância, portanto dentro desta faixa de temperatura é possível boa estabilidade da nanoemulsão com os fármacos associados, quanto às transições de fase. Avaliou-se a estabilidade das formulações em fluidos gastrintestinais simulados, os quais podem degradar as partículas da nanoemulsão liberando os fármacos, que na forma livre podem sofrer agregação, ou outros fenômenos de instabilidade, como alteração no tamanho das partículas por coalescência (aumento) ou contração das mesmas pela ação enzimática (FATOUROS; MULLERTZ, 2007). Na formulação contendo os fármacos observou-se apenas pequena variação da absorbância em presença do fluido gástrico simulado (Figura 25a), enquanto que em presença do fluido intestinal simulado não se observou variação (Figura 25b). De acordo com estes dados, é possível prever boa estabilidade para a nanoemulsão em ambas as situações. 64 3,5 Formulação 13 - Em fluido gástrico simulado. 3 2,5 2 ABS 0h 1h 2h 1,5 3h 4h 1 0,5 0 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 Comprimento de onda (nm) (a) 3 Formulação 13 - Em fluido intestinal simulado. 2,5 2 0h 1h ABS 2h 1,5 3h 4h 1 0,5 0 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Comprimento de onda (nm) (b) Figura 25 - Comportamento da formulação 13 (contendo os fármacos) em fluido gástrico simulado (a) e fluido intestinal simulado (b). A nanoemulsão controle sofreu maior ação das enzimas, principalmente da pepsina, presente em fluido gástrico simulado (Figura 26a), isto provavelmente se deve ao maior tamanho das partículas, que sofrem maior influência da enzima. Já, no fluido intestinal simulado, a variação foi muito pequena (Figura 26b). 65 3,5 Formulação 14 - Em fluido gástrico simulado. 3 2,5 2 ABS T0 T1 T2 T3 T4 1,5 1 0,5 0 200 250 300 350 400 450 Comprimento de onda (nm) 500 550 600 (a) 3,5 Formulação 14 - Em fluido intestinal simulado. 3 2,5 2 ABS T0 T1 T2 1,5 T3 T4 1 0,5 0 200 250 300 350 400 450 500 550 600 Comprimento de onda (nm) (b) Figura 26 - Comportamento da formulação 14 (controle) em fluido gástrico simulado (a) e fluído intestinal simulado (b). Os resultados obtidos mostram que as formulações 13 e 14 apresentam boa estabilidade, podendo ter uso promissor para administração dos fármacos estudados em nanoemulsão. Os resíduos oriundos das atividades laboratoriais da presente pesquisa foram recolhidos, segundo protocolo estabelecido pela instituição, encaminhados para tratamento específico contribuindo com o meio ambiente e a biossegurança. 66 6 CONCLUSÃO O objetivo de desenvolver uma nanoemulsão contendo a combinação dos fármacos miltefosina e fluconazol foi alcançado. Ultrapassar o desafio farmacotécnico de manter os fármacos associados às partículas foi possível com a adição do manitol, que diminuiu a afinidade do fluconazol impedindo sua migração para fase aquosa. Os testes de caracterização físico-química e estabilidade preliminar demonstraram que as formulações 13 (contendo os fármacos associados) e 14 (controle) se organolépticas apresentaram e estáveis físico-químicas, quando tais como: avaliadas pH, as tamanho características da partícula, polidispersidade, potencial zeta e calorimetria. Considerando o impacto das leishmanioses nas sociedades atuais, e por se tratarem de doenças que afetam endemicamente as populações carentes dos países em desenvolvimento, são necessárias alternativas novas e urgentes para tratamento da doença, como via de administração facilitada, melhora da biodisponibilidade e diminuição da toxicidade dos fármacos. Portanto, a nanoemulsão contendo os fármacos miltefosina e fluconazol, para uso oral, desenvolvida neste trabalho, representa uma alternativa promissora a ser explorada no tratamento da leishmaniose, pois pode contribuir para sanar uma necessidade de melhora da saúde pública nas regiões afetadas. O desafio farmacotécnico de se obter uma formulação oral na forma de nanoemulsão combinando os fármacos miltefosina e fluconazol, promissora para tratamento de uma doença negligenciada importante como a leishmaniose, foi alcançado neste trabalho. Como perspectiva de continuidade dos estudos envolvendo a formulação obtida, será avaliada a atividade leishmanicida in vitro e posteriormente in vivo, em modelo animal. 67 REFERÊNCIAS ABDI. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Cartilha sobre a Nanotecnologia. p. 9-11; p. 17-18. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Estudo/Cartilha%20nanotecnologia.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2012. ALMEIDA, M. E.; TEIXEIRA, H. F.; KOESTER, L. S. Preparação de emulsões submicrométricas: Aspectos teóricos sobre os métodos empregados na atualidade. Lat Am J Pharm, v. 5, n. 27, p. 780-788, 2008. ALRAJHI, A.A.; IBRAHIM, E.A.; DE VOL, E.B.; KHAIRAT, M.; FARIS, R.M.; MAGUIRE, J.H. fluconazol for the treatment of cutaneous leishmaniasis caused by Leishmania major. N Engl J Med, 346: 891-5, 2002. AMATO, V.S.; TUON, F.F.; BACHA, H.A.; et al. A leishmaniose mucosa: cenário atual e as perspectivas para o tratamento. Acta Trop, 2008; 105:1-9. 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