PORTUGAL•25.qxd D e 17/12/06 18:16 Page 1 I m u n o t e r a p i a A l e r g E' n i c a Alergenos recombinantes: pontos fortes em 2006 N° 25 - Dezembro de 2006 L. Van Overtvelt (França) R. Carbonnel (França) PONTOS IMPORTANTES Zoom sobre a EAACI DOSSIER CLÍNICO Dessensibilização sublingual em pediatria PORTUGAL•25.qxd 18:17 Stalia 14/12/06 17/12/06 13:53 Page 8 Page 2 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 3 Caros Colegas, Já não é segredo para ninguém: as doenças alérgicas começam muito cedo na vida, em muitos casos logo na infância. Ficou claro durante a última década que, embora uma percentagem significativa de crianças afectadas possa evoluir para uma situação de remissão ou tolerância sem intervenção médica, um número considerável poderá continuar um percurso atópico e acabar por ter sintomas crónicos persistentes, que deverão afectá-los ao longo de toda a sua vida. Os alergologistas pediátricos têm responsabilidades específicas: precisam de identificar o problema, o mais cedo possível na vida; precisam de encarar uma intervenção imediata, capaz não só de reduzir os sintomas, mas também de modular o resultado, a longo prazo, da doença atópica. Além disso, têm também de ter em conta as mais recentes estratégias da intervenção primária. No último congresso da EAACI, que é amplamente coberto nesta edição, foram referidos novos dados de extrema importância. É óbvio que o progresso da investigação alergológica deverá abrir novas e amplas vias para uma intervenção prematura, facto que deverá justificar as nossas esperanças e as esperanças dos nossos doentes, quer sejam jovens ou idosos. Pr. Ulrich Wahn, Alemanha Índice TÓPICOS 4 Zoom sobre a EAACI DOSSIER CIENTÍFICO Alergenos Recombinantes: pontos fortes em 2006 7 Dos extractos naturais às vacinas de recombinantes Dr. L. Van Overtvelt (França) Alergenos recombinantes: novas ferramentas biológicas R. Carbonnel (França) DOSSIER CLÍNICO Dessensibilização sublingual em pediatria 12 Prof. C.P. Bauer (Alemanha) SOBRE O PACIENTE Escutar os pacientes e as suas famílias 14 “Serviço de Informação sobre Asma e Alergias” C. Rolland (França) FORUM 16 A posição da ITSL no tratamento da rinite alérgica Pr. T. Zuberbier (Alemanha) REVISTA DE IMPRENSA EXPRESSionS 18 Departamento de comunicação de Stallergenes Director de publicação: Christophe Bourdon. Editores-Chefes: Michèle Lhéritier-Barrand, Lise Lemonnier. Editor-Chefe Adjunto: Chantal Didiot. Quadro editorial: Victor Alvà, Olivier de Beaumont, Riad Fadel, Franco Frati, Michèle Lhéritier-Barrand, Philippe Moingeon, Paola Puccinelli, François Saint-Martin, Jochen Sieber, Thao Tran Xuan. Produzido por: Ektopic. Gestores de edição: Christiane Mura, Arielle le Masne. Subeditores: Catherine Huzer, Estelle Pasquier. Fotografias: Laurent/BSIP, GOODSHOOT/JupiterImages (página 1), DR (páginas 5-1015), Stallergenes (páginas 4-7-9-13-16-17). PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 4 ' PI C O S T0 Zoom sobre o o Um olhar sobre congresso da EAACI (Viena, Áustria, 10-14 de Junho 2006) Este ano, o congresso da EAACI (European Academy of Allergology and Clinical Immunology – Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica) realizou-se sob os auspícios dos avanços da investigação, tal como ilustrado pelo título desta 25.ª edição: “Investigação básica no campo das alergias e da imunologia clínica – um pré-requisito para a melhoria dos cuidados”. Congresso de 2006 da EAACI merece destaque devido ao manancial de notícias em matéria de epidemiologia. Na verdade, foram apresentados os novos resultados decorrentes do estudo ISAAC de Fase III, em que se colocou a tónica na evolução contínua da incidência e prevalência das doenças alérgicas. Estas apresentações foram também a ocasião adequada para debates enriquecedores à volta da hipótese higienista: aparentemente, a redução das doenças infecciosas coincide com um aumento da prevalência da asma. Os avanços terapêuticos recentes, relativos sobretudo à imunoterapia sublingual, foram objecto de muitas palestras. A prevenção das O alergias foi igualmente debatida, tendo-se atribuído um papel especial à amamentação na prevenção secundária. Não obstante, sobreveio uma controvérsia referente à prevenção terciária da alergia aos ácaros, com discussões animadas à volta do rácio custo/eficácia de uma evicção total e efectiva dos ácaros do pó. A evolução das alergias A abertura do encontro foi dedicada à evolução da especialização desde que, há cem anos, o pediatra austríaco, Clemens von Pirquet, introduziu o termo “alergia”. O Professor Johansson (Suécia) descreveu os progressos consideráveis ocorridos no estudo das alergias durante o século XX, com incidência particular no papel fundamental desempenhado pela IgE, na extrema diversidade dos alergenos potencialmente implicados e na compreensão das interacções celulares complexas, características das manifestações alérgicas. Mais recentemente, estes últimos anos foram marcados por avanços terapêuticos importantes, como os novos métodos de imunomodulação da resposta da IgE, o desenvolvimento dos alergenos recombinantes, o uso de anticorpos monoclonais anti-IgE e a acção nos receptores de alta afinidade da IgE. Para o Professor Valovirta (Finlândia), as repercussões das alergias na qualidade de vida, especialmente da rinite alérgica, o papel desempenhado pelo paciente na gestão do próprio tratamento e os problemas sociais relacionados com as alergias são os principais desafios a abordar pelos alergologistas europeus no futuro próximo. Johansson SGO, Valovirta E. The Evolution of allergy. [Sessão plenária 1] 4 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 5 A dermatite alérgica de contacto na criança: não é tão rara assim! Uma equipa de dermatologistas eslovenos estudou a prevalência das alergias de contacto nas crianças, bem como os principais alergenos envolvidos, numa população de 97 crianças, com idades compreendidas entre os 0 e os 12 anos de idade. Os resultados foram comparados com os de um grupo de adultos (n = 3.440). Os testes com pensos foram positivos para 40,2% destas crianças (64,1% no caso das raparigas) com suspeita de dermatite alérgica de contacto, versus 43,9% de adultos. Os alergenos envolvidos com mais frequência incluíram níquel (12), perfume (mistura de fragrâncias) (10), cobalto (9), lanolina (7) e látex (mistura de mercapto) (5). Os sintomas cutâneos localizaram-se, regra geral, nas mãos (30,7%) e nos pés (23,1%). Neste estudo, a dermatite atópica não pareceu constituir um factor de risco para a dermatite alérgica de contacto. Concluindo, a alergia de contacto é uma causa mais frequente de dermatite em crianças do que se poderia supor: a sua prevalência é comparável à observada nos adultos. Uma das hipóteses avançadas pelos autores é que, nos dias de hoje, as crianças estão mais expostas a alergenos variados devido, por exemplo, a uma maior higiene e a novos padrões estéticos. Lunder T et al. Epidemiology of contact allergy in children. [Abstract 1421] Primeiros resultados do estudo ISAAC III A terceira fase do programa de investigação epidemiológica ISAAC (International Study of Asthma e Allergies in Childhood – Estudo Internacional da Asma e Alergias na Infância) foi levada a cabo em 2002 e 2003.Teve por objectivo principal evidenciar a evolução da epidemiologia da asma, das alergias e da rinoconjuntivite em comparação com a Fase I do estudo, o que corresponde a uma média de 7 anos de avaliação. O ISAAC III recolheu dados de 193.404 crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 7 anos (66 centros em 37 países), e em 304.679 adolescentes, entre os 13 e os 14 anos de idade (106 centros em 56 países). Na maior parte dos centros de investigação, a evolução da prevalência é de, pelo menos, um desvio padrão para, pelo menos, uma das doenças. Os aumentos da prevalência são duas vezes mais frequentes do que as reduções, sendo observados mais frequentemente na faixa etária dos 6 aos 7 anos do que em adolescentes. Os aumentos mais notados estão relacionados com o eczema nas crianças mais pequenas e com a rinoconjuntivite alérgica em todas as faixas etárias. Uma excepção reconfortante é representada pelos sintomas da asma nos adolescentes, nos quais se observa mais vezes reduções do que aumentos, pelo menos nos centros com os níveis de prevalência mais altos. A heterogeneidade dos resultados consoante os países e as diferentes regiões do mundo é um sinal do envolvimento de múltiplos factores na epidemiologia das doenças alérgicas na criança. Asher M et al; ISAAC Phase Three Study Group. Worldwide time trends in the prevalence of symptoms of asthma, allergic rhinoconjunctivitis, and eczema in childhood: ISAAC Phases One and Three repeat multicountry crosssectional surveys. Lancet 2006; 368: 733-43. Rinite alérgica: a ITSL melhora a qualidade de vida O impacto da rinite alérgica na qualidade de vida (QdV) pode ser considerável. Como tal, é fundamental ser possível avaliar a eficácia dos tratamentos disponíveis neste parâmetro. Este estudo italiano envolveu 452 pacientes com rinite alérgica. Os alergenos principais foram os ácaros do pó (208 pacientes) e os pólenes das gramíneas (196 pacientes) ou pólenes de Parietária (104 pacientes). As repercussões da rinite na qualidade de vida foram determinadas por meio de um questionário específico, o RQLQ (Rhinoconjunctivitis Quality of Life Questionnaire – Questionário acerca da Qualidade de Vida com Rinoconjuntivite), e o estado clínico por meio da auto-avaliação dos pacientes, numa escala visual analógica (EVA), de 0 (muito mau) a 10 (excelente). Estes dois parâmetros foram avaliados antes e depois de um ano de imunoterapia sublingual (ITSL) (fase de iniciação de 11 dias seguida por 300 IR x 3/semana). Antes do tratamento, o nível da QdV era idêntico no caso dos três alergenos principais. A deterioração média da QdV, avaliada pelo RQLQ, diminuiu de 2,93 ± 1,04 antes da ITSL para 1,50 ± 0,98 depois da ITSL, o que representa uma melhoria significativa (p < 0,001). Na EVA, as classificações obtidas corresponderam, respectivamente, a 4,47 ± 2,11 e 6,92 ± 1,64 (p < 0,001). A ITSL administrada em doses altas proporciona uma melhoria significativa da QdV nos pacientes com rinite alérgica. Amoroso S et al. Quality of life in allergic rhinitis and impact of high dose sublingual immunotherapy. [Abstract 1399] 5 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 6 ' PI C O S T0 ' PI C O S T0 Probióticos e imunidade Foram incluídas neste estudo treze crianças com dermatite atópica e alergias alimentares, a receber probióticos (n = 7) ou um placebo (n = 6) ao longo de 3 meses. Os resultados in vitro (estimulação por extracto de amendoim cru) vieram demonstrar que a adição de probióticos a culturas de células sanguíneas mononucleares induz um aumento da proliferação celular e da produção do interferão-γ, da IL-10 e do TNF-α. Após a administração oral de probióticos, a proliferação celular sofre igualmente um aumento in vitro ao passo que a produção de IgE diminui. Não obstante, ex vivo, observa-se uma redução da produção do interferão-γ, da IL-10 e do TNF-α. As classificações de gravidade da dermatite atópica e o grau de sensibilização a esta doença (IgE específica e testes cutâneos por picada) permanecem inalterados. Logo, apesar de apelarem a uma certa prudência aquando da extrapolação dos resultados obtidos in vitro para in vivo, estes resultados mostram, ainda assim, que os probióticos podem ter um potencial efeito imunomodulador in vivo. van Hoffen et al. Differences in the immunomodulatory potential of probiotics in vitro versus ex vivo upon oral administration in children with atopic dermatitis and food allergy. [Abstract 300] Eficácia e tolerância da ITSL no protocolo co-sazonal ultra-rápido O estudo multicêntrico alemão ECRIT (Efficacy of Coseasonal Rush sublingual Immunotherapy in patients with allergic rhinoconjunctivitis to grass pollen – Eficácia da Imunoterapia Sublingual CoSazonal Rápida em pacientes com rinoconjuntivite alérgica ao pólen das gramíneas) teve por propósito a avaliação, em larga escala, da eficácia e tolerância da imunoterapia sublingual (ITSL) administrada no decorrer da estação dos pólenes para o tratamento da rinoconjuntivite alérgica. Os resultados foram obtidos na primeira estação de tratamento com 173 pacientes. A ITSL foi administrada após uma fase de titulação de 60 minutos (30-90-150-300 IR), com uma dose 300 IR por dia, ao longo da estação inteira do pólen (duração média do tratamento: 87,7 dias [21 500 IR]). Em comparação com o estado inicial, a classificação combinada (sintomas e tratamentos de recurso) aumentou 8,9% no grupo do placebo e diminuiu 28,2% no grupo da ITSL (p = 0,033). Não se observou qualquer reacção anafiláctica ou sistémica grave durante o tratamento. Do mesmo modo, não se constatou a existência de qualquer diferença em termos de incidência dos efeitos adversos entre os grupos do placebo e da ITSL. Este estudo, realizado numa grande coorte de pacientes, vem mostrar que a ITSL, com uma titulação ultra-rápida, é eficaz logo na primeira estação do tratamento, além de ser bem tolerada. Constitui, pois, uma opção terapêutica interessante para os pacientes com rinoconjuntivite alérgica. Ott H et al. ECRIT-study : safety and efficacy of coseasonal SLIT in patients with grass pollen allergy. [Abstract 1685] 6 Rumo à produção do recombinante Der p 1 No caso da alergia a ácaros do pó doméstico, a imunoterapia usa, actualmente, extractos biológicos complexos. Para abrir caminho para uma nova geração de tratamentos que empreguem alergenos recombinantes, uma equipa franco-alemã interessou-se pela produção do principal alergeno, o Dermatophagoides pteronyssinus (Der p 1), pelas plantas do tabaco. Assim, foi possível expressar várias formas do Der p 1 (glicosiladas ou não, com ou sem actividade da cisteína protease, com ou sem propéptido) em folhas de tabaco. A configuração, a capacidade de ligação da IgE e a indução da proliferação das células linfóides das moléculas recombinantes do Der p 1 assim obtidas são, pois, comparáveis às da molécula nativa. Esta técnica de produção económica pode estar na origem dos alergenos recombinantes em configuração nativa, a utilizar para propósitos de diagnóstico ou terapêutica. Burtin D et al. Expression of the house dust mite major allergen Der p 1 in tobacco-plants. [Abstract 193] PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 7 ` DOSSIER CIENTiFICO Os alergenos recombinantes: pontos fortes em 2006 Até à data foram identificados e caracterizados mais de 500 alergenos, graças às técnicas da biologia molecular (clonagem e sequenciação). Passou assim a ser possível substituir os extractos biológicos naturais por alergenos recombinantes, produzidos pela engenharia genética, e que podem ser utilizados para fins diagnósticos e terapêuticos. Dos extractos naturais às vacinas recombinantes A produção de alergenos recombinantes, pela aplicação de técnicas de biotecnologia, abre o caminho a novas terapêuticas de dessensibilização. imunoterapia específica (ITE) é o único tratamento curativo específico das alergias mediadas pela IgE (tipo I). Este método tem provado ser particularmente benéfico na rinite alérgica, na asma ligeira a moderada e na hipersensibilidade aos venenos de himenópteros. A Os extractos naturais são misturas proteicas complexas Actualmente, a ITE consiste na administração, por via subcutânea ou sublingual, de extractos solúveis, preparados a partir de uma fonte natural de alergenos (culturas de ácaros, pólenes, fungos epitélios de animais, etc). Estes extractos alergénicos são efectivamente misturas proteicas complexas, constituídas, por um lado, por alergenos principais e secundários e, por outro, por componentes biologicamente inactivos, como outras proteínas, glicoproteínas e hidratos de carbono. Esta heterogeneidade exige a implementação de processos de standardização específicos, por forma a assegurar uniformidade entre os vários lotes de produto. A standardização baseia-se principalmente na medição da capacidade global do extracto para se ligar às IgE (ou seja, na sua actividade alergénica total). Hoje em dia, são utilizadas novas tecnologias (SELDI-TOF, electroforese com gel a 2D e PF2D) para obter um perfil exacto das proteínas presentes no extracto. No entanto, estes métodos não são quantitativos e, por conseguinte, não podem ser utilizados como base para a calibração ou o controlo de qualidade dos lotes farmacêuticos [1]. Principais características dos alergenos recombinantes Propriedades Contributo dos alergenos recombinantes para as terapêuticas alergológicas do futuro Um estudo multicêntrico europeu, que utilizou a via subcutânea, demonstrou pela primeira vez que os alergenos recombinantes (e mais particularmente o Bet v 1) eram tão eficazes como os alergenos naturais [2]. Estão actualmente em curso ensaios clínicos com o comprimido sublingual de Bet v 1. Futuramente, a optimização do adjuvante e da fórmula deverão permitir uma melhoria apreciável do tratamento das alergias respiratórias. É com base neste conceito que estão a ser desenvolvidos os “Enhanced Allergens”, que têm como objectivo definir o protótipo de uma terapêutica sublingual recombinante. Comparativamente aos extractos alergénicos, os alergenos recombinantes apresentam muitas vantagens [1]: - perfeitamente caracterizados ao nível molecular e imunoquímico; - altamente purificados; - fáceis de standardizar; - permitem um diagnóstico e um tratamento mais precisos. Selvagens ou hipoalergénicos? Os alergenos recombinantes conhecidos sob a designação de “tipo selvagem” são produzidos para mimar os alergenos naturais nos seus mais ínfimos pormenores. O As vantagens dos alergenos recombinantes são expressas em termos de pureza, replicabilidade, traçabilidade e rendimento. 7 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 8 ` DOSSIER CIENTiFICO Na ITSL, a estratégia baseia-se na utilização de alergenos recombinantes numa conformação nativa, afim de facilitar o seu reconhecimento e a captura pelas células dendríticas do tipo Langerhans existentes na mucosa da boca. termo “selvagem” é utilizado por oposição ao termo “hipoalergénico”, que caracteriza os alergenos modificados, por mutagénese dirigida ou alteração da estrutura tridimensional, afim de reduzir a sua capacidade de ligação às IgE. Teoricamente, as formas hipoalergénicas deveriam levar à produção de vacinas subcutâneas mais seguras, embora o seu interesse na imunoterapia sublingual (ITSL) se mantenha mal definido. De facto, a apresentação dos alergenos recombinantes na sua configuração natural parece preferível, na medida em que, por um lado, existem poucos mastócitos ao nível da mucosa sublingual e, por outro, o reconhecimento pelas IgE permite atingir as células dendríticas do tipo Langerhans FcεRI+, capazes de produzir TGF-ß e IL-10 [3]. Métodos de produção A partir de uma fonte de alergenos, o ARN mensageiro (ARNm) é isolado e utilizado como matriz para a síntese do ADN complementar (ADNc) ( Figura 1 ). A etapa seguinte é a ampliação através da técnica da reacção da cadeia de polimerase PCR (polymerase chain reaction) do gene codificado para o alergeno identificado (lista disponível em www.allergome.org). O gene que interessa é depois inserido num vector adequado, geralmente um plasmídeo, afim de facilitar a sua expressão num organismo hospedeiro. Os diversos sistemas hospedeiros Os sistemas de expressão procariota, como as bactérias (Escherichia coli) produzem proteínas recombinantes, sem qualquer modificação pós-traducional. É assim possível obter, na maioria dos casos, alergenos cuja reactividade é comparável à da forma nativa, de um modo pouco dispendioso, simples e rápido. No entanto, quando é necessária uma determinada conformação espacial ou modificações pós-traducionais – como é o caso da glicosilação – pode ser utilizado um sistema de expressão eucariota, como as leveduras (Pichia pastoris, Saccharomyces cerevisiae), os Baculovirus de insectos, e diversas espécies vegetais, como o tabaco Nicotiana tabacum ou a cevada. Todavia, estes sistemas não induzem necessariamente uma glicosilação idêntica à da glicoproteína nativa. A escolha do sistema de expressão depende portanto da natureza da proteína a exprimir e da sua utilização posterior. 8 Purificação No final do processo de fermentação e indução da expressão do gene, a proteína recombinante é purificada através da aplicação de métodos cromatográficos adequados. Os níveis de caracterização e standardização obtidos com os alergenos recombinantes serão, teoricamente, muito mais elevados do que aqueles que podem ser obtidos com extractos alergénicos: homologia, pureza, concentração alergénica, actividade e potenciais níveis de contaminação. Adjuvantes e galénicos As proteínas altamente purificadas ou recombinantes são pouco imunogénicas, razão porque é necessário um adjuvante para induzir a resposta imune adequada através de um co-sinal que é enviado às células imunes [1, 4]. Em latim, 'adjuvare' significa “ajudar”; assim, um adjuvante pode ser definido como qualquer molécula biológica ou sintética que contribui para modular a resposta imune, quando combinada com um antigene. O interesse dos adjuvantes O uso de adjuvantes tem diversos objectivos: - aumentar a eficácia da vacina; - permitir a redução das doses com manutenção da eficácia; - simplificar a administração. Qual o adjuvante a escolher? O papel das células T reguladoras e das citoquinas imunosupressoras (IL-10 e TGF-ß), como mediadoras da ITE e da resposta imune normal aos alergenos, está bem estabelecido [5]. É por isso que os adjuvantes capazes de induzir células dendríticas tolerogénicas e/ou linfócitos T reguladores poderiam ser bons candidatos [1, 4]. Os modelos humanos (cocultura de células dendríticas derivadas de monócitos e de linfócitos T) e os modelos animais (ratinhos Balb/C sensibilizados com albumina do ovo) foram preparados para a selecção de candidatos adjuvantes (Figura 2). Os resultados do nosso trabalho sugerem que a combinação de 1α,25-di-hidroxivitamina D3 e dexametasona ou bactérias lácticas, como a Lactobacillus plantarum, pode induzir uma forte produção de IL-10 pelas células T humanas e aumentar a eficácia da ITSL nos ratinhos sensibilizados, após a administração de albumina do ovo. PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 9 Figura 1: Principais fases da produção de alergenos recombinantes Formas galénicas As formas galénicas inovadoras, como comprimidos, biopelículas ou pós mucoadesivos podem também ser utilizadas para aumentar o tempo de contacto com a mucosa sublingual e tornar mais fácil atingir as células dendríticas locais [1, 4]. O nosso trabalho demonstrou que a forma mucoadesiva da albumina do ovo aumenta a eficácia da ITSL nos ratinhos sensibilizados com esta substância. Fontes de alergenos Purificação de ARNm Transcrição reversa de ADNc Sonda = iniciador de oligo-nucleótido Dr. L. Van Overtvelt Antony (França) Amplificação do gene de interesse por PCR Vectores Conclusão A produção de alergenos recombinantes abre o caminho ao desenvolvimento de testes de diagnóstico e a novas terapêuticas de dessensibilização. Os alergenos recombinantes estão já disponíveis in vitro para a realização de testes diagnósticos e são uma boa ajuda para os pacientes que necessitam de várias sensibilizações, ao mesmo tempo que permitem uma melhor identificação das alergias cruzadas e uma orientação mais correcta da ITE. Podem ainda ser utilizados futuramente para testes de diagnóstico in vivo: cutâneos e de provocação. Os tratamentos com base nos alergenos recombinantes irão certamente constituir um passo em frente no tratamento das doenças alérgicas nos anos mais próximos. Inserção no vector (clonagem) Vectores de recombinante Transformação do hospedeiro P. pastoris E. coli Produção, selecção e purificação dos transformantes Proteína de interesse do recombinante Figure 2: Selecção de candidatos a adjuvantes IL-12R Modelo humano in vitro CD4+ Tbet IFN-γ Th1 Adjuvantes iDC 1- Moingeon P. Sublingual immunotherapy: from biological extracts to recombinant allergens. Allergy 2006; 61 (Suppl. 81): 15-9. 2- Pauli G, Mallin H, Rak S et al. Clinical efficacy of subcutaneous immunotherapy in birch pollen allergic patients: a randomized, double-blind, placebo-controlled study with recombinant Bet v 1 versus natural Bet v 1 or standardized birch extract. XXVe EAACI, Vienna, 10-14 junho 2006 [Abstract 83]. 3- Novak N. Targeting dendritic cells in allergen immunotherapy. Immunol Allergy Clin North Am 2006; 26: 307-19. 4- Mascarell L, Van Overtvelt L, Moingeon P. Novel ways for immune intervention in immunotherapy: Mucosal allergy vaccines. Immunol Allergy Clin North Am 2006; 26: 283306. 5- Moingeon P, Batard T, Fadel R, Frati F, Sieber J, Van Overtvelt L. Immune mechanisms of allergen-specific sublingual immunotherapy. Allergy 2006; 61: 151-65. DC + 24 h CD4+ Th0 naif CD4+ 7 días Th2 GATA 3 IL-4 ICOS DC imaturo DC modulado CD4+ Treg Análise do fenotipo e da produção de citoquinas Foxp3 TGFβ IL-10 Análise de expressão de genes Modelo de murino in vivo Análise da função respiratória, da resposta humoral e celular e da inflamação 0 14 i.p. OVA+Alum 21 22 23 24 25 Aerosol OVA Sensibilização 28 88 93 Terapêutica sublingual Sacrifício 2 x semana durante 2 meses OVA +/- adjuvante ou formulação Dessensibilização 9 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 10 ` DOSSIER CIENTiFICO Alergenos recombinantes: novas ferramentas biológicas Atendendo às suas características, sobretudo no que se refere à sua pureza, os alergenos recombinantes são considerados ferramentas de grande utilidade para o estudo dos extractos alergénicos, o diagnóstico, etiologia e tratamento das doenças alérgicas. m alergeno recombinante é uma molécula produzida com técnicas biotecnológicas que tornam possível a identificação e posteriormente a reprodução de proteínas específicas a partir de um extracto alergénico. A maior parte dos alergenos recombinantes existentes são expressos com Escherichia coli, além de que são geralmente comparáveis às moléculas nativas, quer do ponto de vista estrutural, quer da respectiva sequência de aminoácidos. A sua designação foi estabelecida em conformidade com a nomenclatura oficial (www.allergen.org) e estão agrupados de acordo com as respectivas funções bioquímicas. Assim, encontramos grupos de proteínas estruturais, proteínas reguladoras, proteínas de reserva, proteínas PR (relacionadas com a patogénese), etc. U Comprender melhor a epidemiologia das alergias Testes in vitro com alergenos recombinantes permitem o estudo de fenómenos complexos, designadamente diferenças na reactividade Determinar os perfis de reactividade e analisar as reacções cruzadas Os alergenos recombinantes abrem um novo campo de investigação e fornecem, desde logo, informações anteriormente inacessíveis. É este, por exemplo, o caso quando, num quadro Os alergenos da bétula Alergeno rBet v 1 rBet v 2 rBet v 3 rBet v 4 rBet v 6 rBet v 7 Peso molecular 17kDa 15kDa 23kDa 8kDa 34kDa 18kDa Sim Sim Não Sim Sim Não PR-10 Profilina CBPPolcalcina Polcalcina Isoflavona reductasa Ciclofilina Pólenes de árvores: Ordem das fagáceas, carvalho, castanheiro Alimentos de origem vegetal: cenouras, aipo, maçãs, peras, cerejas, avelãs, etc. Muitos pólenes e alimentos de origem vegetal Só pólenes Alimentos de origem vegetal: peras, pêssegos, laranjas, líchias, curgetes, cenouras ImunoCAP disponível Nome Reacções cruzadas 10 clínica, de acordo com a geografia e a existência de reacções cruzadas entre fontes alergénicas aparentemente distantes. Mais concretamente, a possibilidade oferecida pelos doseamentos de IgE específicos dos alergenos recombinantes, para evidenciar perfis de sensibilização, permitiu explicar por que razão, no Norte da Europa, os sintomas característicos da alergia a certos frutos e vegetais se manifestam muitas vezes através de síndromas orais, enquanto que os pacientes do Sul da Europa apresentam mais frequentemente sintomas de etiologia sistémica. Efectivamente, o estudo destes perfis demonstra que a sensibilização ao Bet v 1 (principal alergeno da bétula) é dominante no Norte da Europa, dirigindo a sensibilização para a reactividade aos homólogos desta proteína também presente noutras espécies, enquanto que, nas regiões mediterrânicas, são mais dominantes as sensibilizações às LTP (proteínas de transferência de lípidos), o que leva à predominância de verdadeiras alergias alimentares. PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 11 Glossário de alergia ao pólen de bétula, se abre a possibilidade de especificar a(s) molécula(s) responsável(eis) pelos sintomas alérgicos (Quadro da página 10). Dão ainda a possibilidade de, quando as espécies vegetais são taxonomicamente próximas e polinizam durante o mesmo período, determinar qual é a fonte alergénica realmente responsável pelos sintomas. Em breve, utilizando uma análise dos alergenos recombinantes, será possível compreender quais as proteínas capazes de induzir reactividade clínica e quais as responsáveis pelas reacções cruzadas, a fim de deduzir as fases a implementer para um melhor tratamento do paciente. No entanto, é já possível, utilizando doseamentos de IgE específicos para os alergenos recombinantes, para complementar as medidas tradicionais, obter perfis de reactividade que possibilitem compreender a etiologia das reacções e analisar as interacções potentialmente heteroespecíficas. Também já é possível determinar o perfil de sensibilização antes de um tratamento por imunoterapia específica, a fim de avaliar se as reacções alérgicas do paciente são ou não causadas por sensibilização ao principal alergeno de uma fonte alergénica (por exemplo Bet v 1 no pólen de bétula). Neste caso, o paciente é efectivamente susceptível de responder melhor à imunoterapia, uma vez que os extractos contêm percentagens elevadas e controladas do principal alergeno. Aumentar a sensibilidade dos testes de diagnóstico Finalmente, os alergenos recombinantes também são actualmente utilizados para aumentar a sensibilidade dos testes in vitro. Em alguns casos, quando a extracção não permite representar em quantidade suficiente um componente alergénico específico, adicionando ao extracto esta proteína específica, obtida por recombinação genética, permite aumentar a sensibilidade clínica. A melhoria do látex através da adição do alergeno recombinante rHev b 5, ou, mais recentemente, o processo de melhoria da avelã, enriquecida em rCor a 1, são exemplos concretos da utilização dos alergenos recombinantes. R. Carbonnel Medical business and development, Phadia, St Quentin en Yvelines (França) Conclusão Foi há 10 anos que foi apresentado o primeiro alergeno recombinante sobre o ImmunoCAP®. Desde então, foram realizados alguns estudos in vitro, estando actualmente disponíveis mais de 30 alergenos recombinantes. Os nossos cientistas prosseguem as suas investigações, estudando o impacto clínico e explorando novas vias para uma melhor utilização destas novas ferramentas. Estamos convictos de que os alergenos recombinantes não são apenas elementos importantes de investigação, como têm também aplicações correntes para o diagnóstico in vitro das manifestações alérgicas, o que representa um benefício para os alergologistas e os seus pacientes. ● Alergenos principais/secundários Dentro de cada fonte de alergenos (pólenes, alimentos, etc), podemos distinguir: - alergenos principais, contra os quais pelo menos 50% dos indivíduos sensibilizados com a substância desenvolveram anticorpos IgE específicos detectáveis no soro. Exemplo: O Bet v 1 é o principal alergeno do polen de bétula - alergenos secundários, que atingem menos de 50% dos indivíduos. ● Citoquinas São proteínas solúveis que transmitem mensagens entre as células e que actuam como mediadores intercelulares ao ligarem-se a receptores específicos nas células-alvo. As citoquinas incluem as linfoquinas, monoquinas, interleuquinas e interferões. ● Dessensibilização, imunoterapia específica, vacinoterapia alergénica Termos sinónimos, todos eles correspondentes ao mesmo tratamento que actua directamente ao nível dos linfócitos T, através da reorientação da resposta imunológica do paciente alérgico. ● IL-10 A Interleuquina-10 é uma citoquina que diminui a resposta pró-inflamatória. ● Mutagénese dirigida Introdução de mutações no ADN para induzir a modificação dirigida dos amino-ácidos na sequência de uma proteína. ● Plasmídeo Pequeno fragmento circular de ADN extracromossómico, capaz de replicar de forma autónoma na célula de origem e na célula hospedeira. Os plasmídeos são o principal veículo de inserção para novas informações genéticas nos microrganismos ou nas plantas. ● SELDI-TOF A espectrometria de massa do tipo SELDI-TOF (Surface Enhanced Laser Desorption Ionisation – Time Of Flight) distingue-se dos outros tipos de espectrometria de massa pela possibilidade de reter selectivamente as proteínas de uma amostra em superficies químicas diversas. ● PF2D Sistema de fraccionamento bidimensional. ● TGF-ß O Transforming Growth Factor-beta (Factor beta de crescimento e transformação) é uma citoquina com efeitos pleiotrópicos. Inibe, em especial, a proliferação de células linfóides e tem um efeito imunosupressor. ● Traçabilidade É a possibilidade de seguir ou acompanhar um produto nas várias fases da sua produção, transformação e marketing. 11 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 12 ` Dossier CLiNICO Dessensibilização sublingual em pediatria: experiência de mais de 10 anos A imunoterapia sublingual (ITSL) é uma opção terapêutica que pode ser administrada a partir dos 5 anos de idade, nos casos de rinite alérgica ou de asma ligeira a moderada devidamente controlada. esde o desenvolvimento da imunoterapia subcutânea específica (ITSC) que têm vindo a ser testadas outras formas de tratamento, em especial a administração oral de alergenos, com vista a melhorar e facilitar o tratamento dos doentes alérgicos. Entre essas formas de tratamento, a administração sublingual revelou-se particularmente interessante e superior à via digestiva, em termos de resposta imunológica e de eficácia. A ITSL consiste em depositar algumas gotas de alergenos debaixo da lingua e em mantê-las durante dois ou três minutos, a fim de permitir a absorção do fármaco pela mucosa oral. Nas crianças, a imunoterapia sublingual é utilizada há cerca de dez anos. D Durante a ITSL, o alergeno actua sobre as células dendríticas da mucosa oral, estimulando a produção de linfócitos Treg. 12 A ITSL contribui para o reequilíbrio Th1/Th2 A ITSL permite tratar as alergias dependentes da IgE. O aumento da produção de IgE, que está na origem destas alergias, está relacionado com um certo desequilíbrio a favor dos linfócitos Th2 sobre os linfócitos Th1. A regulação do equilíbrio entre Th1/Th2 é efectuada pelos linfócitos de regulação T (Treg), cuja actividade é reduzida nos indivíduos atópicos. A ITSL induz uma captação do alergeno pelas células dendríticas da mucosa sublingual, induzindo por sua vez uma estimulação dos linfócitos Treg. Esta estimulação resulta numa multiplicação das células Treg e numa maior produção de citoquinas, como a interleuquina-10 (IL-10), que induz a síntese da IgG4 e uma redução da produção de IgE através do aumento relativo da população de Th1. Estes fenómenos contribuem para restabelecer o equilíbrio Th1/Th2 [1]. Indicações e efeitos a longo prazo da ITSL nas crianças A eficácia da ITSL no tratamento da rinoconjuntivite alérgica e da asma ligeira a moderada controlada está agora comprovada nas crianças [2]. Os dados recolhidos ao longo de mais de dez anos em crianças asmáticas ou alérgicas aos ácaros têm demonstrado uma eficácia comprovada, que se mantém ao longo do período de tratamento e perdura após o final do mesmo [3]. De facto, diversos estudos abertos realizados demonstraram que o risco de agravamento da doença alérgica e, em especial, da sensibilização a novos alergenos, pode ser reduzido graças à ITSL após o final do tratamento. Alergenos disponíveis Os alergenos mais habitualmente utilizados na ITSL são os pólenes e os ácaros [4]. A imunoterapia deve, sempre que possível, ser efectuada apenas com um único grupo de alergenos; o efeito parece ser em função da dose administrada (dose terapêutica cumulativa). A ITSL como tratamento das alergias alimentares actualmente apenas é utilizada em casos isolados, não fazendo parte da prática clínica standard. Embora tenha sido implementada em alguns estudos [5], o seu interesse requer confirmação através de estudos posteriores. A ITSL nas crianças asmáticas A imunoterapia administrada por via sublingual ou subcutânea é compatível com os tratamentos básicos da asma. Assim a administração concomitante de uma ITSL e de corticosteróides inaláveis, anti-histamínicos ou antagonistas dos receptors de leucotrienos, é perfeitamente possível. O impacto destes fármacos sobre a eficácia da ITSL não é ainda PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 13 bem conhecido, embora se saiba que estes tratamentos médicos são por vezes a condição necessária para a aplicação de uma ITSL ou uma ITE por via subcutânea, uma vez que a imunoterapia pode ser encarada nos períodos de estabilidade da doença (asmática, por exemplo). O interesse de um tratamento precoce A imunoterapia deve ser iniciada numa fase precoce da doença alérgica, sem esperar pelo aparecimento de sintomas secundários (evolução espontânea). Assim, teoricamente, é possível utilizar a ITSL nas crianças, ainda na primeira infância, embora a aplicação da terapêutica dependa essencialmente da adesão dos doentes e dos respectivos pais ao tratamento. O momento óptimo para iniciar a terapêutica deve ser definido caso a caso, em função da gravidade das manifestações alérgicas, das capacidades da criança e do seu ambiente familiar. Na prática, a imunoterapia começa geralmente a ser aplicada um a dois anos após o início da doença. A questão da melhoria dos resultados terapêuticos através de uma indução mais precoce, mantém-se em aberto e deverá constituir o objecto de estudos futuros. A importância dos dados de segurança Na medida em que a ITSL é administrada em casa e sem necessidade de vigilância médica, a sua inocuidade reveste-se da maior importância. Os inúmeros estudos até agora publicados, tal como os dados resultantes da prática clínica nunca fizeram referência a qualquer efeito secundário de tipo alérgico (choque anafiláctico, por exemplo), nas doses recomendadas pelos fabricantes [6]. Estes dados de segurança aplicam-se às crianças com idades a partir dos 5 anos; porém, os dados clínicos disponíveis relativamente às crianças de menor idade são, por enquanto, insuficientes. De um modo geral, a ITSL é bem tolerada, apesar dos habituais efeitos secundários no local de aplicação. A avaliação global da ITSL pelas famílias e pelo pessoal médico é geralmente muito positiva. Nas crianças, que geralmente têm medo de injecções e preferem ser tratadas no seu ambiente familiar, a ITSL está particularmente indicada e apresenta grandes hipóteses de êxito, desde que sejam dadas explicações claras e seja aplicada uma abordagem adaptada. A imunoterapia deve ser realizada num período de estabilidade da doença asmática. Pr. C.P. Bauer Munique (Alemanha) Um diálogo de confiança, explicações detalhadas e uma informação completa e clara são algumas das condições indispensáveis para o êxito do tratamento. 1- Akdis CA, Barlan B, Bahceciler N, Akdis M. Immunological mechanisms of sublingual immunotherapy. Allergy 2006; 61 (suppl. 81): 11-14. 2- Pham-Thi N, de Blic J, Scheinmann P. Sublingual immunotherapy in the treatment of children. Allergy 2006; 61 (suppl. 81): 7-10. 3- Di Rienzo V, Marcucci F, Puccinelli P et al. Long-lasting effect of sublingual immunotherapy in children with asthma due to house dust mite: a 10-year prospective study. Clin Exp Allergy 2003; 33: 206-10. 4- Wilson DR, Torres Lima M, Durham SR. Sublingual immunotherapy for allergic rhinitis: systematic review and meta-analysis. Allergy 2005; 60: 4-12. 5- Enrique E, Pineda F, Malek T et al. Sublingual immunotherapy for hazelnut food allergy: a randomized, double-blind, placebo-controlled study with a standardized hazelnut extract. J Allergy Clin Immunol 2005; 116 : 1073-9. 6- Passalacqua G, Guerra L, Fumagalli F, Canonica GW. Safety profile of sublingual immunotherapy. Treat Respir Med 2006; 5: 225-34. 13 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 14 Sobre o paciente Escutar os pacientes e as suas famílias aber como responder às expectativas e às exigências dos pacientes faz parte integrante do tratamento da asma e das alergias. O diálogo médico-paciente durante a consulta é um elemento principal na abordagem total, essencial para, de uma forma personalizada, atribuir um lugar à doença e aos tratamentos no dia a dia de cada paciente. No entanto, mesmo que este diálogo seja aberto e atento, um certo número de pacientes mantém-se ansioso e incapaz de reagir perante as consequências da doença na sua vida diária: os receios quanto aos tratamentos e a incompreensão da necessidade de administrar um tratamento quando “está tudo OK”, preocupações quanto ao ambiente, angústia quanto ao facto de ter uma nova reacção alérgica grave (sobretudo no caso de uma alergia alimentar na criança), etc. Ao darem resposta a estas perguntas e preocupações, as associações de pacientes, juntamente com os profissionais de saúde, têm um papel essencial a cumprir. De facto, é muitas vezes através das questões colocadas por estes grupos que as reflexões sobre os cuidados totais têm sido capazes de evoluir com acções construtivas, como a introdução de conselheiros de ambiente interno, a generalização de projectos de acolhimento individualizado nas comunidades, a integração no projecto terapêutico de cada paciente de um plano de acção terapêutico escrito e personalizado, etc. S QUARTIS : Questionário sobre a Alergia Respiratória Tratada através da Imunoterapia Sublingual Hoje em dia, a maioria dos pacientes quer participar nas decisões terapêuticas que lhes dizem respeito. No contexto da imunoterapia sublingual (ITSL), a adesão do paciente ao tratamento e o cumprimento da terapêutica são factores essenciais. É neste sentido que foi desenvolvido em França um questionário específico, o QUARTIS, destinado a pacientes com rinite alérgica sazonal ou persistente. O QUARTIS é uma ferramenta que pode ser utilizada ao longo do período de tratamento, a partir da decisão de iniciar uma dessensibilização, e até ao final do tratamento. Os diferentes pontos do questionário são concebidos para fornecer, por um lado, uma informação sintética mas completa, incluindo da percepção da gravidade da doença (score de sintomas e score de alergias no dia a dia) e, por outro, a percepção quanto ao tratamento pela ITSL: razões que justificam a administração do tratamento, vantagens e desvantagens esperadas, facilidade de aplicação, inconvenientes sentidos, satisfação quanto ao tratamento, efeitos secundários. Um estudo apresentado no EAACI, em Junho de 2006*, possibilitou a validação da relevância do QUARTIS, tornando este questionário uma ferramenta promissora para uma melhor gestão do tratamento em total concordância com o paciente. Um estudo de observação longitudinal está actualmente a ser realizado, com vista à confirmação do valor previsível do QUARTIS na prática clínica diária. Actualmente disponível em língua francesa, o QUARTIS está a ser traduzido para Inglês, Italiano, Alemão e Espanhol. Associações de pacientes em toda a Europa Além do nível individual, as associações de pacientes desempenham um papel chave no diálogo com os profissionais de saúde e as instituições públicas, no sentido de implementarem medidas de Saúde Pública (luta contra o tabagismo e a poluição, segurança alimentar, etiquetagem de alimentos, etc.). A EFA (European Federation of Allergy and Airway Diseases Patients Association – Associação de Pacientes da Federação Europeia de Doenças Alérgicas e Respiratórias), fundada em 1991, inclui hoje cerca de quarenta associações espalhadas pela maior parte dos países europeus: Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Noruega, Holanda, República Checa, Reino Unido, Eslovénia, Suécia e Suíça. As organizações membros da EFA congregam assim mais de 400.000 pessoas: pacientes alérgicos, asmáticos ou com BPCO e profissionais de saúde. Esta forte representação confere à EFA uma importância inquestionável para intervir nas políticas sanitárias à escala europeia, com vista a uma melhoria do estado de saúde e da qualidade de vida dos pacientes. Entre as inúmeras acções levadas a cabo ao longo dos últimos anos pela EFA, não podemos deixar de citar a sua participação em diversos inquéritos de grande envergadura à população. Assim, o “Fighting for breath” contribuíu com dados muito importantes sobre como os pacientes asmáticos sentem a sua doença. Ao nível da rinite alérgica, o “Patient Voice Allergy Survey” permitiu avaliar o impacto desta doença sobre a qualidade de vida e as actividades diárias de mais de 3.500 pacientes e evidenciar os principais factores desencadeantes (figura abaixo). A EFA participa igualmente no “EuroPrevall”, um estudo europeu alargado sobre a prevalência e as causas das alergias alimentares. @ Factores desencadeantes da rinite alérgica (“Patient Voice Allergy Survey”, 3.562 participantes) Sabão 8 Frio 11 Calor 14 16 Humidade Poluição industrial 17 Poluição automóvel 20 21 Alimentos 21 Detergentes domésticos Edredons e cortinados 22 24 Perfumes Fungos 27 Fumo de cigarros 30 Pêlos de animais 36 Pó * Didier A et al. Development and validation of a questionnaire dedicated to the management of adults patients treated with sublingual immunotherapy for allergic rhinitis. XXVe Congresso da Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica, Viena (Áustria), 10–14 de Junho de 2006 [Abstract 1398]. 14 57 Pólenes 75 Para mais informações sobre a EFA, visite o site: www.efanet.org te: PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 15 “Serviço de Informação sobre Asma e Alergias” esde Fevereiro de 2002 que, em França, a linha de atendimento do “Serviço de Informação sobre Asma e Alergias” recebe chamadas de pacientes asmáticos e/ou alérgicos e das respectivas famílias. Este serviço foi criado por iniciativa da Direcção Geral de Saúde, que confiou a respectiva gestão à Associação Asma e Alergias (Association Asthme & Allergies) e vem colmatar uma verdadeira necessidade, conforme demonstrado pelo seu êxito actual, em que conta já com mais de 13.500 contactos resolvidos. D A maioria das chamadas (90%) para o “Serviço de Informação sobre Asma e Alergias” (Asthme & Allergies Infos Services) é feita pelos próprios pacientes e pelas suas famílias e um em cada dez pedidos parte de profissionais de saúde. Embora ambos os grupos estejam muitas vezes relacionados, 59% das chamadas referem-se a problemas de asma e 41% a problemas alérgicos. Os pedidos recebidos, que são variados, podem ser agrupados conforme as razões que levam a fazer as chamadas e que resumem bem as preocupações dos pacientes e das suas famílias (figura abaixo). Mireille Landucci Conselheira da Linha de Atendimento Estar melhor informado, principalmente sobre os tratamentos Os pedidos de informação específica constituem a principal razão das chamadas para este serviço. De facto, depois de uma consulta com o seu médico, o doente tem muitas vezes necessidade de esclarecer alguns pontos abordados durante a consulta e de ter ao seu dispor alguma documentação que possa consultar. • As perguntas sobre os tratamentos vêm na primeira posição, representando 21% dos pedidos de informação. As perguntas sobre os riscos de efeitos secundários dos medicamentos, a curto prazo, mas em especial os riscos a longo prazo, e principalmente nas crianças, continuam Razões que levam a contactar o a ser a principal preocupação. De modo idêntico, a necessidade de um trata“Serviço de Informação sobre mento de longo prazo nem sempre é bem compreendida ou aceite, e os conseAsma e Alergias” lheiros dedicam muito do seu tempo a tranquilizar as pessoas e a explicar-lhes (2002-2006: 13.500 chamadas) a importância deste tipo de tratamento. • As recomendações úteis para evitar os alergenos, e em especial os ácaros 11% do pó doméstico, ocupam a segunda posição dos contactos (17%). • As alergias alimentares constituem a terceira principal razão dos pedidos de informação (15%). A percentagem de chamadas sobre este tema tem vindo a 57% 32% aumentar consideravelmente desde o lançamento da linha gratuita e vem confirmar a angústia dos pais que têm um filho com uma alergia alimentar e que procuram soluções práticas para o problema: interpretação dos rótulos dos alimentos, conselhos dietéticos, conselhos práticos para a substituição de um determinado alimento alergénico por outro inócuo, etc. • Por último, muitas das chamadas referem-se a casos de dermatite atópica, rinite alérgica, etc. Informações específicas Orientação para uma opção de tratamento Necessidade de ser ouvido e apoiado Praticamente um terço das chamadas para o “Serviço de Informação sobre Asma e Alergias” deve-se a um pedido de informação sobre um determinado tipo de Aconselhamento profissional de saúde ou um estabelecimento de assistência. Estes pedidos referem-se principalmente a uma orientação quanto aos especialistas a consultar (49%) e às Escolas da Asma (31%). A verdade é que estas escolas constituem uma verdadeira extensão das consultas médicas especializadas, e são um apoio apreciável para uma melhor gestão da doença pelos pacientes. Falar, testemunhar Um número considerável de pessoas que contactam este Serviço sentem necessidade de serem ouvidas, em especial sobre o seu tratamento, e de discutirem as suas apreensões sobre a doença, que nem sempre é bem compreendida por aqueles que estão à sua volta, quer se trate de membros da família ou de colegas de trabalho ou da escola. São muitas vezes pais de crianças asmáticas ou alérgicas, que se sentem particularmente ansiosos quanto à doença do seu filho e que têm um enorme sentimento de solidão e incompreensão. Christine Rolland, Directora da Associação da Asma e Alergias, Paris (França) 15 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 16 ForUM O papel da ITSL no tratamento da rinite alérgica A novas perspectivas terapêuticas da rinite alérgica podem certamente ser consideradas do ponto de vista do paciente, mas também do ponto de vista da relação médico-paciente. De facto, o progresso terapêutico deve ser acompanhado por informações e explicações claras, para que estas novas opções possam ser adaptadas aos requisitos da nossa prática diária. número de doentes com rinite alérgica no mundo ocidental é considerável, qualquer que seja o tipo de estudo analisado. Os mais recentes dados publicados sobre o estudo ECHRS ( European Community Health Respiratory Survey) demonstram uma prevalência da rinite alérgica na população europeia em geral de cerca de 20% [1]. O Para uma utilização óptima dos diversos tratamentos Oferecer aos nossos pacientes com rinite alérgica uma qualidade de vida próxima da normalidade é um dos nossos objectivos terapêuticos. O controlo dos sintomas pelas soluções terapêuticas medicamentosas actualmente disponíveis (corticosteróides nasais e antihistamínicos) é bastante satisfatório, mas provavelmente não é a melhor solução para o controlo dos pacientes [2]. Uma melhoria desta situação poderia passar pela utilização combinada e sinérgica dos diferentes tratamentos sem uma fórmula universal, mas com estratégias individualizadas e adaptadas a cada caso. No consenso da ARIA (Allergic Rhinitis and its Impact on 16 Asthma) [3], a rinite alérgica é um factor de risco reconhecido da asma, e estas duas patologias respiratórias devem ser abordadas segundo uma mesma metodologia em termos de reconhecimento da doença “rinite” e do seu controlo. Passar as mensagens correctas O diálogo com o paciente é um elemento importante para o cuidado das doenças alérgicas, mas deve ir além de simples questões sobre a sintomatologia nasal. A rinite alérgica provoca, efectivamente, uma verdadeira cascata de incómodos que, no dia a dia, ultrapassam a simples esfera nasal. A importância dos efeitos da alergia sobre a vida quotidiana, tanto do ponto de vista prático como social, deve igualmente ser tida em conta. É bem conhecida de todos nós uma quebra de rendimento no trabalho de qualquer indivíduo que sofra de rinite alérgica [4] e pode ser comprovada pelo cálculo dos custos indirectos gerados, por exemplo, pela alergia aos pólenes (tabela da pág. 17). É essencial explicar aos doentes a importância e a base dos tratamentos. Para a rinite e a dessensibilização, esta informação passa por uma explicação das funções do sistema imunitário (a distinção entre “estranho” e “perigoso”) e eventuais disfunções observadas na alergia. Uma explicação simples dos mecanismos de reorientação da relação Th1/Th2 pode permitir obter uma melhor adesão do doente ao tratamento a administrar. Níveis de eficácia dos tratamentos Conforme recomendado no relatório de 1998 da Organização Mundial de Saúde (OMS), a imunoterapia deve ser considerada no tratamento global das doenças alérgicas e ocupa o seu lugar no arsenal terapêutico disponível, juntamente com outros tratamentos [5]. A via de administração sublingual justifica-se, do ponto de vista fisiopatológico, pela densidade dos PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 17 receptores FcεRI nas células de Langerhans da mucosa oral humana, que é superior nos indivíduos atópicos, comparativamente aos indivíduos saudáveis. Os estudos sobre os tratamentos sintomáticos revelaram um efeito versus placebo de cerca de 10% para os anti-histamínicos [6] e de 15 a 20% para os corticosteróides nasais [7]. Trabalhos recentes para avaliação da dessensibilização pela via sublingual, administrados sob a forma de comprimidos, demonstraram uma melhoria superior a 35% do score dos sintomas versus placebo e uma redução de mais de 45% do score sintomático medicamentoso. Estes resultados são ainda mais importantes na medida em que os pacientes do grupo do placebo podiam ter acesso aos tratamentos sintomáticos (anti-histamínicos e corticosteróides). Extraído de um relatório de Pr. T. Zuberbier Berlim (Alemanha), EAACI 2006 A imunoterapia sublingual representa actualmente um meio seguro e eficaz de aplicação das recomendações da OMS para o cuidado das doenças alérgicas. Custos indirectos das alergias. Redução da actividade na sequência da alergia aos pólenes (exemplo de uma empresa com 15.000 trabalhadores) Número de Tempo de trabalho trabalhadores perdido alérgicos (horas/homem/ano) Tempo de trabalho perdido (total anual) Prejuízos anuais devidos às alergias (base de €30/h) Poucas hipóteses 60 dias de polinização e 10% de perda de eficácia 3 000 34,30 102 900 3 087 000 € Muitas hipóteses 120 dias de polinização e 30 % de perda de eficácia 3 000 205,80 617 400 18 522 000 € 1- Bauchau V, Durham SR. Prevalence and rate of diagnosis of allergic rhinitis in Europe. Eur Respir J 2004 ; 24 : 758–64. 2- White P et al. Symptom control in patients with hay fever in UK general practice: how well are we doing and is there a need for allergen immunotherapy? Clin Exp Allergy 1998 ; 28 : 266–70. 3- World Health Organization. Allergic rhinitis and its impact on asthma. Allergy 2002 ; 57 : 841–55. 4- Crystal-Peters J, Crown WH, Goetzel RZ, Schutt DC. The cost of productivity losses associated with allergic rhinitis. Am J Manag Care 2000 ; 6 : 373-8. 5- Allergen immunotherapy: therapeutic vaccines for allergic diseases. World Health Organization. American academy of Allergy, Asthma and Immunology. Ann Allergy Asthma Immunol 1998 ; 81 (5 Pt 1) : 401–5. 6- Philip G, Malmstrom K, Hampel Jr FC et al. Montelukast for treating seasonal allergic rhinitis: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial performed in the spring. Clin Exp Allergy 2002 ; 32 : 1020–8. 7- van Drunen C, Meltzer EO, Bachert C et al. Nasal allergies and beyond: a clinical review of the pharmacology, efficacy, and safety of mometasone furoate. Allergy 2005 ; 60 (Suppl. 80) : 5–19. 17 PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 18 Revista de Imprensa Venter C, Pereira B, Grundy J, Clayton CB, Arshad SH, Dean T. Pediatr Allergy Immunol 2006; 17: 356–63. A prevalência das alergias alimentares nas crianças E ste estudo abrange uma população de crianças de 6 anos de idade, residentes na Ilha de Wight (Reino Unido) e avaliou a prevalência de alergias alimentares, fazendo a distinção entre os dados referidos pelos pais e as alergias alimentares diagnosticadas objectivamente. Foi igualmente analisada a prevalência de dessensibilizações aos alergenos alimentares mais frequentes. De uma população total de 1.440 crianças com 6 anos de idade, 798 participaram no estudo. Os pais referiram alergia a pelo menos um alimento e/ou um componente alimentar em 94 casos, o que representa uma prevalência de 11,8% (CI 95%: 9.6-14.2). Os alimentos ou componentes mais frequentemente referidos foram o leite e os produtos lácticos (40%), os amendoins (16%), os ovos (16%), os aditivos e corantes (13%), as nozes e outros frutos secos (12%) e o trigo (11%). Foram realizados testes cutâneos por picada (ou prick-tests cutâneos) (PTC) com um painel pré-definido de alergenos alimentares e aeroalergenos em 700 crianças, tendo a taxa de sensibilização a este painel de alergenos alimentares sido de 3,6% (25/700; CI 95%: 2.3-5.2). A prevalência de alergias alimentares foi de 2,5% (CI 95%: 1.5-3.8), com base em testes de provocação oral (TPO), abertos, e/ou numa história clínica evocadora, associada a testes cutâneos positivos. A prevalência diminuiu assim para 1,6% (CI 95%: 0.9-2.7) quando o diagnóstico foi efectuado através de um TPO em dupla ocultação, com um diagnóstico clínico ou baseado na associação de uma história clínica evocadora e em PTCs positivos. Deste modo, as taxas de percepção da alergia alimentar são definitivamente mais elevadas que a prevalência de sensibilização aos principais alergenos alimentares, conforme comprovado por testes cutâneos ou testes de provocação oral. Franchi M, Carrer P, Kotzias D et al. Allergy 2006; 61: 864–8. Lutar contra a poluição interior A gora que a poluição do ar no local de trabalho foi bem estudada, as consequências da poluição doméstica são muito bem conhecidas, sobretudo em termos de alergias, asma e outras patologias respiratórias. O projecto europeu THADE (Towards Healthy Air in Dwellings in Europe), realizado pela EFA (European Federation of Allergy and Airway Diseases Patients Associations-Associação de Pacientes da Federação Europeia de doenças Alérgicas e Respiratórias), teve por objectivo o estudo deste vasto material, através dos dados referidos na literatura. As lições a extrair deste trabalho são muitas. Vamos ver alguns exemplos: Os cidadãos europeus passam mais de 85% do seu tempo em espaços fechados: casa, escola, escritório, lojas, etc. Nos espaços fechados, os principais poluentes do ar (componentes aromáticos e carbonilos) são 2 a 5 vezes superiores aos do ar exterior. Os ambientes interiores têm vindo a mudar profundamente com a chegada dos tecidos modernos, dos tapetes e alcatifas sintéticos e dos sistemas de ventilação. As principais fontes de poluição interior com um impacto negativo sobre a saúde são: o fumo do tabaco, os ácaros, os alergenos 18 dos animais domésticos, as baratas, os fungos, os pólenes, os óxidos de azoto (ácido nítrico), o formaldeído, etc. Os efeitos nocivos dos poluentes interiores podem manifestar-se a três níveis: - sensibilização inicial por activação do sistema imunitário; - sintomas desencadeados em indivíduos já sensibilizados; - perenização do estado inflamatório das mucosas respiratórias. As medidas para o controlo da poluição interior estão ainda numa fase muito prematura na Europa e há ainda muito a fazer: melhoria dos sistemas de aquecimento e ventilação, luta contra a humidade e os fungos, evolução dos métodos de limpeza e higiene doméstica, remoção dos papéis ou tecidos das paredes, controlo das fontes de poluição, como o tabaco, etc. Pode consultar o relatório THADE completo no site www.efanet.org/activities/documents/THADEReport.pdf PORTUGAL•25.qxd 17/12/06 18:17 Page 19 Passalacqua G, Guerra L, Fumagalli F, Canonica GW. Treat Respir Med 2006; 5: 225-34. Perfil de tolerância da imunoterapia sublingual A imunoterapia sublingual (ITSL) é utilizada na prática clínica há cerca de 20 anos. O seu principal objectivo é aumentar a tolerância e evitar os efeitos secundários do tratamento tradicional das doenças respiratórias alérgicas. Até agora foram publicados 32 estudos aleatorizados e controlados e 6 estudos de farmacovigilância, os quais permitiram estabelecer, graças a uma documentação sólida, o perfil de tolerância da ITSL. De acordo com estes estudos aleatorizados, os efeitos secundários mais frequentemente observados na ITSL são o prurido e o edema da mucosa oral, seguidos de perturbações gastrointestinais. Estes efeitos secundários são sempre descritos como moderados e de fácil controlo, bastando um simples ajustamento das doses. Os efeitos secundários sistémicos (asma, urticária, angio- edema) são referidos apenas esporadicamente e, à excepção dos efeitos secundários do foro oral e gastrointestinal, a incidência de outros efeitos secundários parece não ser muito diferente entre os grupos do placebo e da ITSL. O perfil de tolerância da ITSL é comparável entre o adulto e a criança. Os estudos de farmacovigilância demonstram consistentemente que a incidência de efeitos secundários associados à ITSL é inferior a 10%, ou menos de um evento por cada 1000 doses, atribuindo à ITSL um perfil de tolerância muito mais vantajoso que o da imunoterapia subcutânea. Por fim, dados muito recentes demonstram que a incidência de efeitos secundários da ITSL não aumenta nas crianças com idade inferior a 5 anos. Niggemann B, Jacobsen L, Dreborg S et al ; The PAT investigator group. Allergy 2006; 61: 855-9. Imunoterapia específica e prevenção de longo prazo da asma em pediatria O s primeiros resultados do estudo do PAT (Preventive Allergy Treatment – Tratamento de Prevenção da Alergia) demonstrou que os três anos de dessensibilização por imunoterapia específica (ITE) nas crianças com rinite alérgica sazonal aos pólenes das gramineas e da bétula reduziu significativamente o risco de desenvolvimento de asma durante o período de tratamento (OR = 2.52 [CI 95%: 1.3–5.1]), comparativamente com um tratamento puramente sintomático (J Allergy Clin Immunol 2002; 109: 251–6). O que é que acontece dois anos após o final da imunoterapia? Dois anos após a interrupção da ITE, foram avaliadas 183 crianças de um grupo inicial de 205, com idades entre os 11 e os 20 anos (media etária: 15,6). Para além da avaliação clínica, os testes de provocação conjuntival (TPC) e os testes de provocação brônquica com metacolina, foram realizados durante a estação dos pólenes e também no Inverno. A melhoria significativa da rinite alérgica sazonal e dos resultados observados após 3 anos persiste decorridos 5 anos de follow-up. As 142 crianças sem asma no momento da inclusão no estudo foram analisados especificamente quanto ao desenvolvimento de sintomatologia asmática no final do período de 5 anos: o risco de desenvolvimento de asma é significativamente reduzido no grupo tratado pela ITE, comparativamente com os controlos (15/75 vs. 29/67; OR = 2.68 [CI 95%: 1.3–5.7]); o número de crianças com agravamento dos seus scores da asma foi significativamente mais baixo (p< 0,01) do que no grupo de controlo. Não se observou qualquer diferença na resposta brônquica à metacolina, atendendo à melhoria espontânea dos elementos do grupo de controlo durante o período de follow-up. Os resultados preliminares do follow-up dos indivíduos do estudo PAT, 7 anos após o final da ITE, foram comunicados durante o último congresso AAAAI (J. Allergy Clin Immunol 2006; 117: 721 [abstract LB6]). O follow-up total a 10 anos abrangeu 157 crianças. Entre as que não apresentavam asma no momento da inclusão no estudo, 24 de um total de 29 (83%) desenvolveram asma no grupo de controlo, comparativamente com apenas 16 de um total de 48 (33%) no grupo tratado com ITE: OR = 2,48 (CI 95%: 1.1–5.4). A ITE parece assim constituir uma opção terapêutica que permite assegurar também a prevenção de longo prazo contra o desenvolvimento de asma. 19 17/12/06 18:17 Page 20 Confar – Centro de Atendimento Stallergenes-IPI Rua Félix Correia Nº 1-A - 1500-271 Lisboa Portugal - Telefone 21 774 28 48 www.stallergenes.com Realização : Ektopic -7575 - 12/06 - Stallergenes Departamento de comunicação PORTUGAL•25.qxd