09/32-05/205 Rev. bras. alerg. imunopatol. Copyright © 2009 by ASBAI CARTAS AO EDITOR Mesmo com o amplo conhecimento da epidemiologia da rinite alérgica em todo o mundo, avaliada pela aplicação de questionário escrito, padronizado e validado, há um grupo, em que ainda não se conhece a prevalência, que é das crianças em idade pré-escolar. O objetivo deste estudo foi verificar a frequência de rinite alérgica em lactentes com asma. Foi realizado estudo retrospectivo de dados coletados da ficha clínica padronizada para primeira consulta com questões específicas sobre rinite alérgica. Foram selecionadas crianças com asma no Serviço de Alergia e Imunologia Pediátrica da Universidade Federal do Paraná no período entre Janeiro/2001 e Janeiro/2006, com idade entre zero e 14 anos. Foram formados dois grupos conforme a idade do diagnóstico da rinite: Grupo I (zero a <2 anos) e Grupo II (≥2 anos a 14 anos). O diagnóstico médico de rinite alérgica foi baseado na presença de dois ou mais sintomas nasais como espirros, coriza, prurido e obstrução. Sensibilização alérgica foi avaliada por testes cutâneos alérgicos (TCA) com extratos alergênicos glicerinados (IPI-ASAC do Brasil) para Dermatophagoides pteronyssinus (Dp), Blomia tropicalis (Bt), Blattella germanica (Bla), Lolium perenne (Lol), e epitélios de cão e gato. O teste foi considerado positivo se o diâmetro da pápula fosse maior ou igual a 3mm e a criança considerada atópica se reagisse a pelo menos um alérgeno. Foram avaliadas 1543 crianças com idade entre zero e 14 anos, sendo 493 (32%) do Grupo I. Destas, trezentos e sessenta e sete (74%) tiveram diagnóstico de rinite e cento e trinta e uma (36%) apresentaram TCA positivo a pelo menos um alérgeno. (Figura 1) Rinite alérgica é frequente em lactentes com asma Rinite é a doença crônica mais comum das vias aéreas superiores, caracterizada por sintomas como coriza, espirros, obstrução e prurido nasal1,2. O International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) fase III envolveu 193.404 crianças com idade de 6-7 anos de 37 países e 304.679 adolescentes com idade de 13-14 anos de 56 países, e evidenciou variação na prevalência de sintomas nasais, associados a prurido ocular e lacrimejamento de 2,2% a 24,2% nos escolares e de 4,5% a 45,1% entre os adolescentes3. No Brasil, em 20 cidades, 23.422 escolares e 58.144 adolescentes participaram da fase III do ISAAC, e a média de prevalência de rinoconjuntivite foi 12,6% entre 6-7 anos e de 14,6% entre 13-14 anos de idade, com ampla variação observada nas diferentes regiões avaliadas4. Na década de 1990, além das semelhanças histológicas, iniciou-se a observação que as funções nasais e pulmonares são integradas, que cerca de 80% dos asmáticos têm rinite e que 10%-40% daqueles com rinite também apresentam asma, criando assim o conceito de vias aéreas unidas, uma única doença. Por este motivo, uma reunião de pesquisadores e especialistas com apoio da Organização Mundial de Saúde, resultou na organização de documento baseado em extensa revisão sistemática denominado ARIA (sigla do inglês: Rinite Alérgica e seu Impacto na Asma), visando atualização do conhecimento da rinite alérgica, impacto na asma e propor abordagem no tratamento da doença2. Figura 1 - freqüência de rinite alérgica em asmáticos sensibilizados a pelo menos um aero-alérgeno. 205 206 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 32, Nº 5, 2009 Teste cutâneo alérgico não foi realizado em 150 (30,4%) no Grupo I e 160 (11%) no Grupo II por diferentes razões. A sensibilização mais freqüente abaixo de dois anos foi para Dp (43%) e Bt (27%). Apesar de retrospectivo, este estudo demonstrou que rinite está presente em pré-escolares, e que rinite alérgica nos lactentes asmáticos é freqüente, ainda que inferior ao número encontrado nas crianças maiores. A realização de TCA nos lactentes pode ter sido determinante para a diferença de rinite alérgica encontrada entre os grupos, demonstrando a importância da realização, mesmo em faixas de idade inferiores. Estudos têm demonstrado que o desenvolvimento de rinite alérgica no início da vida é um fator preditor para o desenvolvimento de asma aos seis anos e na fase adulta5,6. Concluímos que a freqüência de rinite alérgica em lactentes asmáticos é elevada. Teste cutâneo deve ser realizado em todas as crianças com suspeita de rinite. A presença de sintomas nasais pode ser útil no diagnóstico da asma mesmo em lactentes. Herberto José Chong Neto – Pós-doutorando em Saúde da Criança e do Adolescente – Universidade Federal do Paraná - Hospital de Clínicas - Universidade Federal do Paraná. Gabriela Cardozo Westphal – Especialista em Alergia Pediátrica – Hospital de Clínicas – Universidade Federal do Paraná. Nelson Augusto Rosário Filho – Professor Titular de Pediatria, Chefe do Serviço de Alergia e Imunologia Pediátrica – Hospital de Clínicas – Universidade Federal do Paraná. Carlos Antônio Riedi – Professor Adjunto de Pediatria, Universidade Federal do Paraná Hevertton Luiz Bozzo Santos - Especialista em Alergia Pediátrica – Hospital de Clínicas – Universidade Federal do Paraná. 1. 2. 3. 4. 5. 6. "Eficácia clínica da imunoterapia nasal comparada com imunoterapia sublingual em pacientes com rinite alérgica" Prezado editor, No recente artigo “Eficácia clínica da imunoterapia nasal comparada com imunoterapia sublingual em pacientes com rinite alérgica” (Rev. bras. alerg. imunopatol. 2009; 32: 13-17) de Medeiros Jr e col., foi relatado um estudo prospectivo, duplo-cego com 25 indivíduos tratados de forma randômica com imunoterapia tópica nasal e tópica sublingual por 12 meses. O estudo é original e mostrou evidências da validade da imunoterapia sublingual como uma alternativa ao tratamento específico da rinite alérgica. O trabalho menciona 2 tipos de extratos alergênicos, um para aplicação tópica nasal “Imunospray Nasal®” e outro para aplicação sublingual “Plusvac SL®”, ambos do Laboratório de Extratos Alergênicos, Rio De Janeiro, Brasil. O artigo menciona apenas que estas soluções contém “extratos alergênicos da poeira domiciliar”. Falta especificar os antígenos utilizados e a sua padronização. Os extratos dispensados aos pacientes tinham doses crescentes dos alérgenos? Qual foi a dose máxima ou a dose cumulativa dos alérgenos? Também não menciona qual é o critério utilizado para o esquema das aplicações (no grupo I um jato na narina em dias alternados e no grupo II duas gotas sublinguais duas vezes ao dia). Também não há referência quanto aos possíveis efeitos colaterais da aplicação dos extratos diretamente na mucosa. Atentamente, Miguel Croce e Eliúde Costa Manso Serviço de Alergologia e Imunologia Clínica do Hospital das Clínicas Samuel Libânio, Pouso Alegre, MG. Resposta à Carta ao Editor Referências II Consenso Brasileiro sobre Rinites. Rev. bras. alerg. imunopatol. 2006; 29: 29-58. Bousquet J, Khaltaev N, Cruz AA, Denburg J, Fokkens WJ, Togias A, et al. Allergic rhinitis and its impact on asthma (ARIA) 2008 update (in collaboration with the World Health Organization, GA(2)LEN and AllerGen). Allergy 2008; 63 (suppl): 8160. Björkstén B, Clayton T, Ellwood P, Stewart A, Strachan D; ISAAC Phase III Study Group. Worldwide time trends for symptoms of rhinitis and conjunctivitis: Phase III of the International Study of Asthma and Allergies in Childhood. Pediatr Allergy Immunol 2008; 19: 110-24. Solé D, Wandalsen GF, Camelo-Nunes IC, Naspitz CK; ISAAC Grupo Brasileiro. Prevalence of symptoms of asthma, rhinitis, and atopic eczema among Brazilian children and adolescents identified by the International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) – Phase 3. J Pediatr (Rio J.) 2006; 82:3416. Wright AL, Holberg CJ, Martinez FD, Halonen M, Morgan W, Taussig LM. Epidemiology of physician-diagnosed allergic rhinitis in childhood. Pediatrics 1994; 94: 895-901. Shaaban R, Zureik M, Soussan D, et al. Rhinitis and onset of asthma: a longitudinal population-based study. Lancet 2008; 372: 1049-57. Correspondencia: Herberto José Chong Neto Rua General Carneiro, 181 80060-900 - Curitiba – Paraná E-mail: [email protected] Fone: 0XX-41-3360.7938 Fax: 0XX-41-3363.0436 Cartas ao Editor - Brasil Do trabalho publicado por Medeiros Jr e colaboradores, Rev. bras. alerg. imunopatol. 2009; 32: 13-17, intitulado “Eficácia clínica da imunoterapia nasal comparada com imunoterapia sublingual em pacientes com rinite alérgica”. Caros Dr. Miguel Croce e Dra. Eliúde Costa Manso Quanto à questão sobre os extratos utilizados no estudo conterem “...extratos alergênicos da poeira domiciliar...”, os autores designaram este termo como descrito pelo fabricante (Laboratório de Extratos Alergênicos, Rio De Janeiro, Brasil), com a seguinte composição: Ácaros Mix 40% + Fungos do Ar 30% + Poeira Ambiental 30% + Lisado de Germes Respiratórios 10%. Apesar da intensa discussão sobre padronização de extratos alergênicos, entretanto, sua padronização, nos termos idealizados por Paul C. Tureltau e Suresh C. Rastogi (FDA/CBER/DAPP), ainda é de difícil aplicação na prática laboratorial. Neste contexto, os perfis dos alérgenos nos extratos de diferentes laboratórios são diferentes tanto em variedade quanto na potência entre os diversos fabricantes. O seu conteúdo na sua íntegra pode ser consultado no website1:. Além disso, os americanos têm um método e os europeus têm outro método de padronização, este último baseado na reação à histamina. As unidades de apresentação e comercialização também são diferentes (PNU, P/V, mg). Pode-se consultar o website2, no qual há uma lista bastante atualizada sobre os alérgenos em estudo atualmente divididos por grupos de importância. Cartas ao Editor Os medicamentos administrados aos pacientes são discriminados por Série, com concentrações crescentes em potencia de 10, ou seja, o ImunoSpray de 2ª Série é dez vezes mais concentrado que o ImunoSpray de 1ª Série, o ImunoSpray de 3ª Série é dez vezes mais concentrado que o ImunoSpray de 2ª Série, e assim sucessivamente para o ImunoSpray de 4ª Série. O mesmo vale para o medicamento PLusvac SL 1ª , 2ª e 3ª Séries. Foi seguido no estudo o esquema padrão proposto na bula de cada medicamento, ou seja, para o início do tratamento com ImunoSpray 1ª Série, é recomendado um jato em cada narina, uma vez ao dia, em dias alternados, durante os primeiros sete dias; a partir daí, segue para todas as outras séries, um jato em cada narina, duas vezes ao dia, em dias consecutivos. A dose máxima aplicada do ImunoSpray de 4ª Série (dose de manutenção) foi de 100 mcg / um jato em cada narina a cada 20 dias. No medicamento sublingual os autores optaram pela dose de duas gotas, duas vezes ao dia, apesar da recomendação do fabricante de três gotas sob a língua, duas vezes ao dia em intervalos de doze horas. A dose máxima para o Plusvac SL 3ª Série (dose de manutenção) foi de 100 mcg / 4 gotas ao dia. Foi recomendado que, após a utilização do medicamento, o paciente permanecesse pelo Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 32, Nº 5, 2009 207 menos 30 minutos sem ingerir líquidos ou alimentos. Não foi necessário jejum para a aplicação das gotas sublinguais. O efeito colateral esperado sobre a mucosa é praticamente o mesmo que o de uma inflamação causada pelos alérgenos que o paciente está comumente exposto e não houve alterações na mucosa a longo prazo. Em outro estudo com dois anos de duração não houve qualquer indicação de efeitos colaterais a longo prazo3. Referências 1. 2. 3. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/1425797/US-Foodand-Drug-Administration-94n0012bkg000101vol1) Disponível em: http://www.allergen.org/ Kägi MK, Wüthrich B. Different methods of local allergenspecific immunotherapy. Allergy 2002: 57: 379-388 Prof. Dr. Ernesto Akio Taketomi Autor correspondente Professor Titular de Imunologia Chefe do Laboratório de Alergia e Imunologia Clínica Universidade Federal de Uberlândia