Proteção de fármacos oxidáveis: formulação e processo Joana Carreira Bicho Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Farmacêutica Orientadores: Professora Doutora Helena Margarida Ribeiro Professora Maria Matilde Soares Duarte Marques Júri Presidente: Professor Doutor José Monteiro Cardoso de Menezes Orientador: Professora Doutora Helena Margarida Ribeiro Vogais: Professora Doutora Isabel Filipa Martins de Almeida, Doutora Sara Raposo Novembro 2015 Agradecimentos À Professora Doutora Helena Margarida Ribeiro, minha orientadora científica, agradeço a amizade, disponibilidade, paciência, ensinamento, colaboração, incentivo e o positivismo transmitidos ao longo deste trabalho, essenciais para a elaboração deste projeto. À Doutora Sara Raposo, minha coorientadora, agradeço o apoio, disponibilidade, paciência, orientação e ensinamento prestados ao longo deste projeto. Ao Laboratório Edol, Produtos Farmacêuticos S.A, agradeço o acolhimento e disponibilização de todos os recursos necessários para a realização deste trabalho. À Mestre Ana Salgado, pela amizade, todo o apoio e disponibilidade prestados ao longo destes meses, bem como a ajuda prestada na elaboração de metodologias realizadas ao longo do trabalho prático. À Mestre Integrada Joana Marto, agradeço a amizade, apoio, ensinamento, disponibilidade e ajuda prestadas na elaboração de trabalhos práticos realizados ao longo do projeto. À Doutora Sandra Simões, por todo o conhecimento científico prestado, disponibilidade e ajuda na realização de alguns trabalhos práticos laboratoriais. Agradeço a todos os funcionários do Controlo de Qualidade, do Laboratório Edol, Produtos Farmacêuticos S.A., pelo apoio e disponibilidade na elaboração dos trabalhos práticos laboratoriais realizados na empresa. À técnica Carla Eleuterio e à auxiliar Fernanda Carvalho, por todo o apoio e disponibilidade prestados. Agradeço aos meus colegas de laboratório, principalmente à Diana Gaspar e Bárbara Gregorí, pela amizade e apoio prestado, ao longo deste projeto. Aos meus pais e irmã, agradeço o apoio, amor e ensinamento, motivação e dedicação que ofereceram e continuam a presentear, ao longo da minha vida. Por todo o esforço realizado ao longo destes anos para me proporcionarem condições para um futuro melhor a nível profissional e pessoal. A eles devo-lhes quem sou, muito obrigada. Aos diretores de curso, Professor José Cardoso de Menezes e Professor António Almeida, todo o apoio prestado ao longo destes dois anos. A todos aqueles que, diretamente ou indiretamente, cooperaram para a finalização desta etapa importante na minha vida. II Resumo O presente trabalho centrou-se na melhoria e desenvolvimento de preparações tópicas contendo um antifúngico. Um dos objetivos foi a reformulação de uma preparação tópica contendo 2% de cetoconazol de forma a melhorar a estabilidade físico-química e microbiológica de um produto já existente. O outro objetivo foi o desenvolvimento de sistemas inovadores aplicando nanotecnologia e micro encapsulação. Foram estudadas três formulações distintas, para a sua caracterização foram realizados diversos ensaios como: ensaios físico-químicos, avaliação in vitro da cedência, permeação e retenção do cetoconazol e estudo microbiológico da eficácia das formulações. Na reformulação da preparação tópica foram utilizados diversos tipos de conservantes, antioxidantes e um quelante. BHT e EDTA originaram resultados favoráveis na estabilidade do cetoconazol e a estabilidade microbiológica da reformulação foi conseguida com o conservante imidazolidinil ureia. Os resultados obtidos nos ensaios in vitro da cedência e permeação do cetoconazol foram promissores. As formulações inovadoras desenvolvidas, emulsão e lipossomas, apresentaram resultados promissores na avaliação in vitro e na eficácia microbiológica apesar do teor de cetoconazol incorporado ter sido bastante baixo (0,13% e 0,09% para a emulsão e lipossomas) quando comparado com formulações convencionais. Estes resultados provavelmente estão associados à dissolução do cetoconazol e à presença do promotor cutâneo, etoxidiglicol. Os lipossomas foram excluídos devido à permeação do cetoconazol para além do EC. Os estudos da eficácia antifúngica das formulações, em C.albicans, revelaram que a melhor formulação foi a emulsão, apesar de apresentar o menor halo de inibição o teor de cetoconazol é muito menor em comparação com a formulação convencional. Palavras-chave: cetoconazol, preparações tópicas, infeções fúngicas da pele, emulsões e lipossomas. III Abstract This study was focused on the improvement and development of topical preparations containing an antifungal drug. One of the objectives was reformulation of a topical preparation containing 2% of ketoconazole in order to improve the physical-chemical and microbiological stability of an existing product. The other objective was to develop innovative systems applying nanotechnology and micro encapsulation. Three different formulations were developed, for their characterization were carried out several tests such as: physical-chemical tests, in vitro evaluation of the release, permeation and retention of ketoconazole and the microbiological efficacy study of the formulations. Several types of preservatives, antioxidants and a chelant were used in the reformulation of topical preparation. BHT and EDTA originated favorable results concerning ketoconazole stability, moreover imidazolidinyl urea presented promising results in terms of microbiological stability. Based on the results of in vitro assays the release and permeation of ketoconazole were promising. The developed innovative formulations, emulsion and liposomes, showed promising results in in vitro studies and microbiological efficacy although the percentage of ketoconazole incorporation achieved has been quite low (0.13% and 0.09% for emulsion and liposomes) when compared with traditional formulations. These results are likely associated with dissolution of ketoconazole and the presence of cutaneous promoter, ethoxydiglycol. Liposomes were excluded due to permeation of ketoconazole in the deeper layers of the skin. The studies of the efficacy of antifungal formulations, in C.albicans, revealed that best formulation was the emulsion, although it has lowest inhibition halo the amount of ketoconazole is much smaller compared to the traditional formulation. Keywords: ketoconazole, topical preparation, fungal skin infections, emulsions, liposomes. IV Índice Agradecimentos ..................................................................................................................................II Resumo .............................................................................................................................................III Abstract ............................................................................................................................................ IV Índice................................................................................................................................................. V Índice de Figuras ............................................................................................................................. VII Índice de Tabelas............................................................................................................................ VIII Lista de Abreviaturas ......................................................................................................................... X Capítulo 1 - Introdução........................................................................................................................1 1.1. A Pele .................................................................................................................................1 1.2. Infeções fúngicas da pele ....................................................................................................2 1.2.1. 1.2.1.1. Dermatofitoses .....................................................................................................3 1.2.1.2. Infeções por Malassezia spp ................................................................................4 1.2.1.3. Candidíases .........................................................................................................5 1.2.2. 1.3. Tratamento das infeções fúngicas superficiais..............................................................5 Azóis ...................................................................................................................................5 1.3.1. 1.4. Micoses cutâneas ........................................................................................................3 Cetoconazol .................................................................................................................6 1.3.1.1. Ação antifúngica do cetoconazol ..........................................................................7 1.3.1.2. Mercado Nacional ................................................................................................7 Formas Farmacêuticas ........................................................................................................8 1.4.1. Emulsões .....................................................................................................................8 1.4.2. Microemulsões e Nanoemulsões ..................................................................................9 1.4.3. Lipossomas................................................................................................................ 11 1.5. Objetivos da tese ............................................................................................................... 13 1.6. Formulação convencional - Pesquisa ................................................................................. 13 1.6.1. Seleção do conservante ............................................................................................. 15 1.6.2. Seleção do antioxidante ............................................................................................. 16 1.7. Formulação Inovadora - Pesquisa...................................................................................... 17 Capítulo 2 - Reformulações............................................................................................................... 20 2.1. Matérias-primas ................................................................................................................. 20 2.2. Equipamentos utilizados para a preparação das reformulações ......................................... 20 2.3. Métodos ............................................................................................................................ 21 2.4. Desenvolvimento galénico - Ensaios preliminares .............................................................. 24 2.4.1. Lotes laboratoriais...................................................................................................... 28 2.4.2. Formulações finais ..................................................................................................... 29 2.4.3. Eficácia dos conservantes .......................................................................................... 34 2.4.3.1. 2.5. Resultados ......................................................................................................... 35 Discussão dos resultados .................................................................................................. 36 V Capítulo 3 - Formulações inovadoras ................................................................................................ 38 3.1. Emulsões .......................................................................................................................... 38 3.1.1. Matérias-primas ......................................................................................................... 38 3.1.2. Equipamentos utilizados para a preparação da formulação ........................................ 38 3.1.3. Métodos ..................................................................................................................... 39 3.1.4. Desenvolvimento galénico - Ensaios preliminares ...................................................... 41 3.1.5. Discussão dos resultados .......................................................................................... 52 3.2. Lipossomas ....................................................................................................................... 54 3.2.1. Matérias-primas ......................................................................................................... 54 3.2.2. Equipamentos utilizados para a preparação da formulação ........................................ 55 3.2.3. Métodos ..................................................................................................................... 55 3.2.4. Desenvolvimento galénico - Ensaios preliminares ...................................................... 56 3.2.5. Discussão dos Resultados ......................................................................................... 73 Capitulo 4 - Eficácia das formulações................................................................................................ 75 4.1. Método .......................................................................................................................... 75 4.2. Resultados..................................................................................................................... 75 4.3. Discussão dos resultados .............................................................................................. 77 Capítulo 5 - Conclusão ...................................................................................................................... 79 Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 81 Anexos ............................................................................................................................................. 87 VI Índice de Figuras Figura 1 - Pele e estruturas anexas [1]. ..............................................................................................1 Figura 2 - Camadas da epiderme [1]. .................................................................................................2 Figura 3 - Estrutura química da substância ativa cetoconazol [25]. .....................................................6 Figura 4 - Representação esquemática da estrutura do lipossoma demonstrando os fosfolípidos, a sua organização, as bicamadas lipídica e a estrutura tridimensional, adaptado de Bruschi (2015) [39]. ......................................................................................................................................................... 11 Figura 5 - Os quatro mecanismos de ação de sistema de libertação do fármaco através de lipossomas na pele, adaptado de Guo, et al. (2015) [52]. .................................................................. 13 Figura 6 - Processo de fabrico das reformulações (F1 a F9). ............................................................ 25 Figura 7 - Representação gráfica do tamanho de gotícula. a) reformulações finais com cetoconazol e produtos de referência no mercado. b) reformulações finais placebo................................................. 29 Figura 8- Perfil reológico das reformulações F2, F7 e F8. ................................................................. 32 Figura 9 - Perfis de cedência de cetoconazol das reformulações finais e dos cremes comerciais (média ± DP, n=6). ............................................................................................................................ 32 Figura 10 – Permeação in vitro através da pele de cetoconazol das reformulações finais e dos cremes comerciais em percentagem de cetoconazol (média ± DP, n=6)............................................ 34 Figura 11 - Método de produção das formulações emul líquida 1, 2, 3 e 4. ....................................... 42 Figura 12 - Representação gráfica do tamanho de gotícula da formulação emul líquida 2 no tempo zero e após 5 dias. ............................................................................................................................ 42 Figura 13 - a) Processo de fabrico melhorado da formulação emul líquida 2. b) Processo de fabrico da formulação emul líquida 2A. ......................................................................................................... 43 Figura 14 - Método de fabrico para a formação do creme O/A. ......................................................... 44 Figura 15 - Processo de fabrico das formulações emul creme 5 e 6.................................................. 46 Figura 16 - Tamanho de gotícula da formulação emul líquida 9. ....................................................... 47 Figura 17 - Imagem da formulação 9 com 0,13 % de cetoconazol (esquerda) e o respetivo placebo (direita). ............................................................................................................................................ 48 Figura 18 - Representação da distribuição de tamanhos de gotícula da formulação final com cetoconazol. ..................................................................................................................................... 49 Figura 19 - Perfil de cedência in vitro de cetoconazol da formulação emul 9 gel e creme comercial (média ± DP, n=3). a) Quantidade de cetoconazol (µg/cm2) cedido. b) Percentagem de cetoconazol cedido. .............................................................................................................................................. 50 Figura 20 - Permeação da pele in vitro de cetoconazol da formulação emul 9 gel e creme comercial (média ± DP, n=6). a) Quantidade de cetoconazol (µg/cm2) permeado. b) Percentagem de cetoconazol permeado. ..................................................................................................................... 51 Figura 21 - Quantidade (esquerda) e percentagem (direita) de cetoconazol retido no EC e camadas viáveis da pele, da formulação emul 9 gel e de um creme comercial (média ± DP, n=3). ................... 52 Figura 22 - Esquema representativo da formação dos lipossomas instantâneos [84]. ....................... 57 Figura 23 - Representação do processo de fabrico de lipossomas instantâneos para substâncias ativas hidrossolúveis e lipossolúveis [84]........................................................................................... 57 Figura 24 - Processo de Fabrico do placebo (formulação lipo 1). ...................................................... 58 Figura 25 - Processo de produção da formulação lipo 2 e 3. ............................................................. 59 Figura 26 - Processo de fabrico utilizado para a formulação lipo 4, 5, 6, 7 e 9. ................................. 61 Figura 27 - Processo de fabrico usado nas formulações lipo 9(a) e 10. ............................................. 61 Figura 28 - Fotografia das quatro formulações lipo 4, 5, 6 e 7. .......................................................... 62 Figura 29 - Representação gráfica da distribuição do tamanho das partículas das formulações lipo 4 e 6, n=3. .............................................................................................................................................. 63 Figura 30 - Processo de fabrico utilizado nas formulações lipo 8, 9.1 e 9.2. ...................................... 64 Figura 31 - Processo de fabrico usado nas formulações lipo 8.1, 9.1.1, 9.2.1, 10.1, 10.2 e 11. ......... 64 Figura 32 - Representação gráfica do tamanho de partícula das formulações lipo representadas na Tabela 41, n=3. ................................................................................................................................. 66 Figura 33 - Processo de fabrico do placebo da formulação lipo 11. ................................................... 68 Figura 34 - Representação gráfica da formulação lipo 11 e respetivo placebo, n=3. ......................... 69 Figura 35 - Imagem da formulação lipo 11 e respetivo placebo. ........................................................ 69 VII Figura 36 - Ilustração da morfologia dos lipossomas. A: Formulação lipo 11 com 0,094 % cetoconazol. B: Formulação placebo. ................................................................................................ 70 Figura 37 - Morfologia dos lipossomas da formulação placebo. ........................................................ 70 Figura 38 - Permeação da pele in vitro de cetoconazol da formulação lipo 11 (a) e creme comercial (b) em percentagem de cetoconazol (média ± DP, n=6). ................................................................... 71 Figura 39 - Permeação da pele in vitro de cetoconazol da formulação lipo 11 (a) e creme comercial (b) em quantidade de cetoconazol (média ± DP, n=6). ...................................................................... 71 Figura 40 - Quantidade (esquerda) e percentagem (direita) retida de cetoconazol na EC e camadas viáveis da pele da formulação lipo 11 e creme comercial (média ± DP, n=3). .................................... 72 Figura 41 - CMI obtida através do método Etest®. ............................................................................ 75 Figura 42 - Resultados obtidos do método Kirby-Bauer para os discos de papel (a) e de pele (b). .... 76 Figura 43 - Cromatograma da formulação F8 placebo. ..................................................................... 88 Índice de Tabelas Tabela 1 - Medicamentos comercializados em Portugal [31]. ..............................................................8 Tabela 2 - Classificação morfológica e tamanho dos lipossomas, adaptado de Bruschi (2015) [39]. .. 12 Tabela 3 - Vantagens e desvantagens de alguns conservantes [55], [56], [57]. ................................. 15 Tabela 4 - Vantagens e desvantagens de dois antioxidantes [55]...................................................... 16 Tabela 5 - Características gerais de matérias-primas usadas no desenvolvimento galénico [55], [69]. ......................................................................................................................................................... 20 Tabela 6 - Constituição de cada reformulação (%, m/m). .................................................................. 24 Tabela 7 - Características das reformulações desenvolvidas. ........................................................... 26 Tabela 8 - Resultados da estabilidade das reformulações à temperatura ambiente (25 ± 2°C). ......... 27 Tabela 9 - Resultados da estabilidade das reformulações sujeitas à temperatura de 40 ± 2°C e a 75 ± 2 % HR. ............................................................................................................................................ 27 Tabela 10 - Composição da reformulação F10 (%, m/m). .................................................................. 28 Tabela 11 - Características organoléticas das reformulações finais. .................................................. 29 Tabela 12 - Tamanho de gotículas e o respetivo span, das reformulações finais com cetoconazol e placebo e de dois cremes comerciais (média ± DP, n=5). .................................................................. 29 Tabela 13 - Resultado do pH das reformulações finais e das formulações de referência. .................. 30 Tabela 14 - Percentagem de recuperação de cetoconazol das reformulações finais e nos produtos comerciais (média ± DP, n=2). .......................................................................................................... 30 Tabela 15 - Resultado do ensaio separação de fases, para as reformulações finais e cremes comerciais. ....................................................................................................................................... 31 Tabela 16 - Viscosidade aparente da reformulação F2, F7, F8, creme comercial 1 e 2. ..................... 31 Tabela 17 - Parâmetros cinéticos obtidos no modelo de Ordem Zero e no modelo de Higuchi para as reformulações finais e de referência (média ± DP, n=6)..................................................................... 33 Tabela 18 - Parâmetros da permeação cutânea das reformulações finais e das formulações de referência (média ± DP, n=6). ........................................................................................................... 34 Tabela 19 - Critérios de aceitação [24]. ............................................................................................. 35 Tabela 20 - Ensaio da eficácia dos conservantes da reformulação F8, em redução logarítmica. ....... 35 Tabela 21 - Características gerais de matérias-primas usadas no desenvolvimento galénico [55], [78]. ......................................................................................................................................................... 38 Tabela 22 - Constituição da formulação emul líquida 1 (%, m/m). ..................................................... 41 Tabela 23 - Composição das formulações emul líquida 2, 3 e 4 (%, m/m). ........................................ 41 Tabela 24 - Tamanho de gotícula da formulação emul líquida 2 e 2A a tempos de homogeneização diferentes (média ± DP, n=5)............................................................................................................. 43 Tabela 25 - Composição da formulação emul creme 2A (%, m/m). ................................................... 44 Tabela 26 - Composição da formulação emul creme 5 e 6 (%, m/m). ................................................ 45 Tabela 27 - Resultado da análise do tamanho de gotícula das formulações emul creme 5 e 6 (média ± DP, n=5). .......................................................................................................................................... 46 Tabela 28 - Composição da formulação emul líquida 7, 8, 9 e 10 (%, m/m). ...................................... 47 Tabela 29 - Características da formulação emul líquida 7, 8, 9 e 10. ................................................. 47 VIII Tabela 30 - Resultados das características físico-químicas da formulação final com cetoconazol e respetivo placebo. ............................................................................................................................. 49 Tabela 31 - Parâmetros cinéticos obtidos no modelo de Ordem Zero e no modelo de Higuchi para a formulação final e de referência (média ± DP, n=3). .......................................................................... 50 Tabela 32 - Parâmetros da permeação cutânea da formulação final e do creme comercial (média ± DP, n=6). .......................................................................................................................................... 51 Tabela 33 - Características gerais das matérias-primas utilizadas no desenvolvimento galénico das formulações lipossomais [55], [83], [84]. ............................................................................................ 55 Tabela 34 - Composição da formulação lipo 2 e 3 (%, m/m). ............................................................. 58 Tabela 35 – Ensaio de dispersão do cetoconazol.............................................................................. 60 Tabela 36 - Constituição da formulação lipo 4 e 5 (%, m/m). ............................................................. 60 Tabela 37 - Eficiência de Incorporação (EI) de cetoconazol nas formulações lipo 4 e 6. .................... 62 Tabela 38 - Tamanho de partícula das formulações lipo 4 e 6 (média ± DP, n=3).............................. 62 Tabela 39 - Constituição da formulação lipo 8 e 8.1 (%, m/m). .......................................................... 63 Tabela 40 - Composição da formulação lipo 9, 9.1 e 9.2 (%, m/m). ................................................... 65 Tabela 41 - Constituição das formulações lipo 9(a), 9.1.1 e 9.2.1 (%, m/m). ...................................... 65 Tabela 42 - Eficiência de incorporação (EI) e tamanho de partícula das formulações lipo 9(a), 9.1.1 e 9.2.1 (média ± DP, n=3). ................................................................................................................... 66 Tabela 43 - Composição das formulações lipo 10, 10.1 e 10.2 (%, m/m). .......................................... 66 Tabela 44 - Eficiência de Incorporação (EI) da formulação lipo 10, 10.1 e 10.2 (média ± DP, n=3). ... 67 Tabela 45 - Constituição da formulação lipo 11 e respetivo placebo (%, m/m). .................................. 67 Tabela 46 – A Eficiência de Incorporação (EI) e o tamanho de partícula da formulação lipo 11 e respetivo placebo (média ± DP, n=3)................................................................................................. 68 Tabela 47 - Resultado do doseamento de cetoconazol e do pH da formulação lipo 11 e respetivo placebo (média ± DP, n=3)................................................................................................................ 70 Tabela 48 - Parâmetros da permeação cutânea da formulação lipo 11 e do creme comercial (média ± DP, n=6). .......................................................................................................................................... 72 Tabela 49 - Fases recetoras estudadas para os ensaios in vitro........................................................ 87 IX Lista de Abreviaturas A/O - Água em Óleo b - Interceção BHT - Butil-hidroxitolueno CDs - Ciclodextrina EC - Estrato Córneo E.H.L - Equilíbrio Hidrofilo-Lipofilo EI - Eficiência de Incorporação HPLC - Cromatografia líquida de alta eficiência, do inglês High-performance liquid chromatography HPMC - Hidroxipropilmetilcelulose HR - Humidade Relativa k - Taxa de libertação constante kp - Coeficiente de permeabilidade lag time - Tempo de latência CMI - Concentração mínima inibitória NLC - Vetores lipídicos nanoestruturados, do inglês Nanostructured Lipid Carriers O/A - Óleo em Água PdI - Índice de polidispersão, do inglês Polydispersity Index q.b - Quanto baste R2 - Coeficiente de determinação SDA - Agar Sabouraud Dextrose, do inglês Sabouraud Dextrose Agar SLN - Nanopartículas lipídicas sólidas, do inglês Solid Lipid Nanoparticles Span - Medida da distribuição TSA - Agar Triptona de Soja, do inglês Tryptic Soy Agar UV - Ultravioleta VML - Vesículas Multilamelares VUG - Vesículas Unilamelares Grandes VUL - Vesículas Unilamelares VUP - vesículas Unilamelares Pequenas X Capítulo 1 - Introdução 1.1. A Pele O sistema tegumentar constitui a fronteira entre o corpo e o meio exterior. É composto pela pele e por todas as estruturas anexas a esta. As principais funções deste sistema são: proteção, sensação, regulação de temperatura, produção de vitamina D e excreção [1]. A Figura 1 ilustra a pele e as estruturas anexas, como o pêlo e as glândulas. Figura 1 - Pele e estruturas anexas [1]. A pele é composta por três camadas, a hipoderme, a derme e a epiderme. A hipoderme é por vezes designada por tecido celular subcutâneo ou fáscia superficial. É esta camada que une as outras duas camadas da pele aos ossos e músculos subjacentes e lhes fornece vasos sanguíneos e nervos. Na hipoderme encontra-se cerca de metade da gordura armazenada no corpo, que funciona como acolchoado e isolante. A derme é a camada que está unida à hipoderme. É uma camada de tecido conjuntivo responsável pela maior parte da resistência estrutural da pele. A epiderme é uma camada de tecido epitelial e assenta na derme. Esta camada não é tão espessa como a derme e é avascular. A maior parte das células da epiderme são designadas por queratinócitos, as restantes são os melanócitos, as células de Langerhans e as células de Merkel. Os queratinócitos produzem uma mistura proteica denominada queratina. As camadas de células da epiderme são divididas em cinco estratos/camadas: camada basal, espinhosa, granulosa, translúcida e córnea. Na camada basal as células dividem-se por mitose e algumas destas células recém-formadas incorporam-se nas camadas mais superficiais, onde serão queratinizadas. A camada espinhosa é constituída por 8 a 10 camadas de células e à medida que estas células vão ascendendo para a superfície vão-se achatando. Neste estrato há acumulação de fibras de queratina e formação de corpos lamelares dentro dos queratinócitos. Na camada granulosa forma-se a queratohialina e um invólucro de queratina dura. Nas células mais superficiais deste estrato, o núcleo e outros organelos degeneram e a célula morre, no entanto, as fibras de queratina e os grânulos de queratohialina não degeneram. A camada translúcida 1 é constituída por células mortas que contêm a queratohialina dispersa em torno das fibras de queratina. O estrato córneo (EC) sofre descamação pela sua localização mais superficial, onde as células queratinizadas mortas são eliminas continuamente à medida que a roupa fricciona o corpo ou quando a pele é lavada. Esta camada é constituída por células queratinizadas mortas rodeadas por um invólucro proteico duro e preenchidas com queratina. A queratina é uma mistura de fibras de queratina e queratohialina. O tipo de queratina que se encontra na pele é a queratina mole, o outro tipo é a queratina dura encontrada nas unhas e porções exteriores dos pêlos. Em torno destas células queratinizadas encontram-se lípidos, libertados pelos corpos lamelares, que são responsáveis pela coesão destas células [1]. A Figura 2 representa as cinco camadas da epiderme. Camada córnea Camada translúcida Camada granulosa Camada espinhosa Camada basal Figura 2 - Camadas da epiderme [1]. 1.2. Infeções fúngicas da pele A partir de 1840, a micologia médica humana começou a surgir com observações feitas por parte de Schoenlein, Langenbeck e Grub sobre micoses superficiais, exibindo pela primeira vez que fungos podem causar doença [2],[3]. No final do século XIX, as causas das infeções fúngicas foram descobertas e foram realizadas várias pesquisas, tendo sido Saboraud um dos micologistas mais importantes da micologia dermatológica. Apesar do começo precoce da micologia médica, o desenvolvimento terapêutico de antifúngicos evoluiu lentamente [2]. Os fungos são células eucariotas, desprovidas de clorofila e reproduzem-se por esporos. Estes microrganismos apresentam-se de forma e dimensões muito variadas e são conhecidos como leveduras, bolores, mofo, morrão e cogumelos. Os fungos leveduriformes são unicelulares e os restantes são fungos filamentosos ou pluricelulares [4]. Este microrganismo não precisa de parasitar o homem para sobreviver, apenas poucas espécies atacam casualmente o organismo humano causando, em geral, micoses, intoxicações ou envenenamentos. 2 As micoses são infeções provocadas por fungos e a sua classificação em humanos depende da localização da infeção. Estas infeções fúngicas são classificadas como: micoses superficiais ou cutâneas e mucocutâneas, subcutâneas e sistémicas ou profundas [4],[5]. As micoses superficiais são infeções limitadas à camada superficial da pele (epiderme), unhas, cabelo e membranas mucosas. As micoses subcutâneas são infeções que envolvem a derme, tecidos subcutâneos e osso adjacente [4], [6]. Estas ocorrem, em resultado da implantação traumática de fungos que crescem no solo e em vegetação em decomposição. As micoses sistémicas podem ocorrer em pacientes comprometidos. Infeções oportunistas e confinadas a áreas endémicas específicas, micoses endémicas ou respiratórias. Estas podem infetar qualquer pessoa independentemente de alguma doença implícita. Estas infeções ocorrem devido à disseminação do fungo pelos pulmões, depois da sua inalação da natureza [7],[5]. 1.2.1. Micoses cutâneas As micoses cutâneas estão entre as doenças de maior prevalência. Afetam cerca de 20 - 25 % da população mundial e a sua ocorrência continua a aumentar [2], [8], [9]. Estas infeções variam com a idade, o sexo, a etnia e os hábitos socioculturais. Como micoses superficiais consideram-se as dermatofitoses, doenças causadas por dermatófitos, as candidíases e as infeções fúngicas causadas por Malassezia spp [4], [10]. 1.2.1.1. Dermatofitoses As dermatofitoses são infeções provocadas por um grupo definido de fungos, os dermatófitos. Estes são fungos filamentosos septados que consoante as caraterísticas dos seus macroconídios são classificados em três grupos: Trichophyton spp, Microsporum spp e Epidermophyton spp [4],[10]. Estes tipos de fungos podem ser classificados como antropofílicos, zoofílicos e geofílicos de acordo com o seu habitat natural [4], [9]. As características deles são: - Antropofílicos: têm como único hospedeiro o Homem e provocam dermatofitoses de atividade inflamatória baixa devido ao seu habitat natural. Exemplos: Epidermophyton floccosum, Microsporum audouinii, Trichophyton tonsurans [4], [9]. - Zoofílicos: vivem normalmente em animais, mas podem parasitar também o Homem, causam infeções muito inflamatórias e muito contagiosas. Exemplos: Microsporum canis, Trichophyton equinum [4], [9]. - Geofílicos: fungos usualmente isolados do solo, ocasionalmente são patogénicos para o Homem ou animais e provocam infeções que podem ter atividade inflamatória baixa ou alta. Exemplos: Microsporum gypseum, Microsporum fulvum, Trichophyton simii [4],[9]. 3 A dermatofitose é uma infeção da pele e das estruturas que apresentam queratina na sua constituição, como o cabelo/pêlo e as unhas [10]. Ao contrário das leveduras e dos fungos patogénicos não dermatófitos, estas infeções não se propagam sistemicamente, portanto não são letais [9]. A transmissão dos dermatófitos pode ser indireta através de escamas da epiderme e do couro cabeludo parasitado, ou de objetos contaminados. O contágio também pode ser direto, por contacto com a área afetada, mas é uma forma de transmissão rara [4], [10]. Os dermatófitos provocam infeções comummente designadas por tinhas, esta lesão caracteriza-se pelo seu aspeto circular, bordos irregulares e inflamatórios, designada impigem [4]. Existem vários tipos de tinhas que correspondem à localização das lesões no corpo, como: tinha dos pés (tinea pedis, também conhecida por pé-de-atleta), tinha das unhas (tinea unguium), tinha corporal (tinea corporis), tinha genital (tinea cruris) e tinha do couro cabeludo (tinea capitis) [9]. A infeção dá-se, normalmente, pelo contato de um artrósporo com a queratina da pele de um hospedeiro vulnerável. Após a incubação, o esporo germina e desenvolve-se na camada córnea, dando origem às impigens [4]. Para além das tinhas, os dermatófitos podem infetar as unhas, originando as onicomicoses dermatofíticas. Esta infeção deve-se à existência de lesões em áreas próximas que atuam como fonte de infeção [4]. 1.2.1.2. Infeções por Malassezia spp Malassezia spp é uma levedura lipofílica que pertence à flora normal da pele, sobretudo nas zonas mais oleosas [10]. Está associada a doenças como a pitiríase versicolor e a dermatite seborreica [10]. Pitiríase versicolor é considerada a dermatomicose mais disseminada em todo o mundo, particularmente em climas tropicais e subtropicais. Em climas temperados, como Portugal, é no verão que se verifica a maior prevalência [4]. É uma doença causada pelo excessivo crescimento da Malassezia furtur, também conhecida como Pityrosporum orbiculare, este excesso é devido a fatores como temperaturas quentes e humidade elevada, imunossupressão, desnutrição, elevada secreção de sebo e uso de corticoides [11], [9]. Esta levedura provoca manchas descamativas na pele, de contornos bem delimitados e de tamanho e formas variáveis, que podem apresentar tonalidades de coloração variadas, indo da hipopigmentação à hiperpigmentação [4], [9]. Aparece habitualmente no tronco, mas com o avança da infeção pode afetar o pescoço, axilas, braços e abdómen [4]. A dermatite seborreica é uma doença inflamatória superficial que afeta cerca de 2 - 5 % da população mundial. Esta micose afeta regiões da pele com uma elevada densidade de glândulas sebáceas, como a face, couro cabeludo e tranco superior. Os sintomas desenvolvem-se gradualmente e a dermatite provoca uma descamação seca ou gordurosa do couro cabeludo, conhecida como caspa, com prurido variável associado, mas sem queda de cabelo. Num estadio mais avançado, ocorre o aparecimento de pápulas amarelas/avermelhadas ao longo do risco penteado no cabelo, atrás das orelhas, ouvido externo, sobrancelhas, axilas, na cana do nariz e peito [12], [13]. 4 1.2.1.3. Candidíases A candidíase é uma infeção causada pelas espécies de Candida spp. Este género pertence à flora normal do corpo humano, mas são patogénicos oportunistas [9]. A Candida albicans faz parte da flora normal da boca, vagina e trato gastrointestinal de indivíduos saudáveis [14]. Esta infeta tipicamente a pele, unhas, mucosas e o trato gastrointestinal [9]. Existem três tipos de candidíase superficial, a orofaríngea, a vaginal e a da pele [14]. Em populações normais, estas infeções ocorrem devido a uma deficiência da barreira da pele e à acumulação da levedura endógena [9]. 1.2.2. Tratamento das infeções fúngicas superficiais O tratamento de infeções fúngicas superficiais pode ser executado através de administração tópica ou oral de fármacos antifúngicos [6]. A seleção da terapia é feita de acordo com extensão da infeção, entre outros fatores. O tratamento com um antifúngico oral, em termos de segurança de terapia, está associada a desvantagens como a toxicidade hepática grave e a possível interação com outros fármacos [6]. As formas galénicas de apresentação dos antifúngicos tópicos são cremes, pomadas, loções ou “sprays”, que se aplicam na camada córnea para matar os fungos (fungicidas) ou pelo menos torná-los incapazes de se dividirem ou crescerem (fungistáticos). Posto isto, as terapias tópicas demostraram eficácia para eliminar da pele os fungos e as leveduras tópicas [6]. A aplicação do antifúngico localmente tem grandes vantagens como sejam: a exposição do fármaco na pele é limitada à zona afetada, a absorção sistémica do fármaco é impedida ou minimizada, o que faz com que os efeitos colaterais do fármaco sejam evitados [6], [15]. Para além do que foi referido, este tipo de tratamento tem maior aceitação por parte dos pacientes [15]. Relativamente às desvantagens, esta terapia pode levar a uma reação da pele no local da aplicação e é muito demorada [9]. Neste tipo de infeções, em que o microrganismo patogénico atua sobre ou dentro da camada mais externa da pele, o antifúngico deve atingir o EC em concentrações suficientes para inibir o crescimento do agente patogénico [16]. Existem diversos antifúngicos tópicos que têm sido utilizados no tratamento de infeções da pele. As principais classes destes fármacos são polienos, azóis e alilamina/benzilaminas [15]. 1.3. Azóis Foi na década de 60 que surgiram os primeiros derivados de azóis. Estes derivados apresentam um largo espectro de ação, sendo ativos contra fungos filamentosos, dimorfos e leveduras [17], [18]. Os azóis dividem-se em imidazóis e triazóis. Pertencem aos derivados de imidazóis os antifúngicos cetoconazol, miconazol e clotrimazol. No caso do grupo dos triazóis, os mais antigos são o fluconazol 5 e o itraconazol e os derivados mais recentes são o voriconazol, o ravuconazol, o posaconazol e o albaconazol [18], [19]. Os antifúngicos azóis são utilizados para tratar os vários tipos de micoses como espécies de candida, micoses endémicas, dermatófitos e infeções fúngicas caudadas por Malassezia spp [20]. Este grupo de antifúngicos baseiam-se na inibição da via de biossíntese do ergosterol, sendo este o principal componente da membrana celular dos fungos. O principal mecanismo de ação dos azóis, é a inibição das enzimas oxidativas associadas ao Citocromo P450, como lanosterol 14-α-desmetilase, o que origina o bloqueio da conversão de lanosterol em ergosterol, levando à morte do fungo [18], [21]. Para ocorrer uma ação fúngica é necessária uma quantidade determinada de fármaco que depende da sua CMI, podendo ocorrer recaídas caso a dose terapêutica não seja aplicada durante tempo suficiente. Existem diversos tipos de formas galénicas com este tipo de antifúngicos como, pós, comprimidos e cápsulas, injetáveis, soluções, cremes e pomadas [20]. 1.3.1. Cetoconazol Cetoconazol é um antifúngico de largo espectro e é um derivado do imidazol [22], [23]. Quimicamente é designado por 1-Acetil-4-[4[[(2RS,4SR)-(2,4-diclorofenil)-2-(1H-imidazol-1-ilmetil)-1,3dioxolan-4-il]-metoxi]fenil]piperazina, apresenta a fórmula química C26H28CI2N4O4 e a sua massa molecular é de 531,43092 g/mol [24],[25]. A Figura 3 representa a estrutura química do composto [25]. Figura 3 - Estrutura química da substância ativa cetoconazol [25]. O cetoconazol é um fármaco quiral clinicamente utilizado como uma mistura racémica na configuração cis [26]. Existem quatro impurezas deste composto, de acordo com a Farmacopeia Europeia: - Impureza I: trans-cetoconazol; - Impureza II: 1-acetyl-4-[4-[[(2R,4R)- 2-(2,4-dichlorophenyl)-2-(1H-imidazol-1-ylmethyl)-1,3dioxolan-4-yl]methoxy]phenyl]1,2,3,4-tetrahydropiperazine; 6 - Impureza III: 1-acetyl-4-[4-[[(2R,4R)-2-(2,4-dichlorophenyl)-2- (1H-imidazol-1-ylmethyl)1,3-dioxolan-4-yl]methoxy]-3[4-(4-acetylpiperazin-1-yl)phenoxy]phenyl]piperazine; - Impureza IV: 1-[4-[[(2R,4S)-2-(2,4-dichlorophenyl)-2-(1H-imidazol- 1-ylmethyl)-1,3- dioxolan-4-yl]methoxy]phenyl]piperazine) [26]. Cetoconazol é uma base fraca com dois pKa 6,51 e 2,94 e apresenta um log P de 4,34. Este composto pode sofrer degradação, incluindo oxidação e hidrólise, especialmente em meios aquosos, caso não seja devidamente formulado [22], [25]. A substância ativa em estudo é um pó branco ou quase branco. Em termos de solubilidade é praticamente insolúvel em água, facilmente solúvel em cloreto de metileno, solúvel em metanol e ligeiramente solúvel em etanol a 96 % [24]. 1.3.1.1. Ação antifúngica do cetoconazol Foi no início dos anos 80 que o cetoconazol foi comercializado e utilizado para o tratamento de infeções fúngicas sistémicas, por administração oral, onde se obtiveram resultados positivos. Este imidazol é considerado um antifúngico de segunda linha, porque quando comparado com os triazóis exibem um espectro de atividade mais restrito e um perfil de reações adversas menos favoráveis [20]. O cetoconazol pode ser administrado por via oral ou por via tópica. Por via oral é utilizado para o tratamento de candidíase mucocutânea crónica, infeções fúngicas do trato gastrointestinal, infeções sistémicas como blastomicose, candidíase, coccidioidomicose, histoplasmose e paracoccidioidomicose [27], [28]. Também é utilizado em dermatofitoses e infeções nas unhas quando a administração tópica não é suficiente [27], [28]. No caso da administração tópica o imidazol é usado para dermatofitoses, pitiríase versicolor, dermatite seborreica e candidíase cutânea [2], [6], [20], [29], [30]. Em adultos, quando o derivado imidazol é administrado por via oral deve ser em doses de 200 mg de 24 em 24 horas durante 14 dias, no caso de candidíase vaginal resistente a dose deve ser de 400 mg por dia durante 5 dias. Alguns dos efeitos adversos aquando da utilização de comprimidos são disfunção hepática grave, náuseas, vómitos e erupções cutâneas [20]. Existem no mercado várias formas farmacêuticas tópicas como champô, creme e solução, normalmente com 20 mg/g e 20 mg/ml por dose, que devem ser aplicados 2/3 vezes por dia, continuando mais 14 dias após a cura das lesões. Apenas poderá ocorrer irritação dérmica ocasional ou sensibilidade [20]. 1.3.1.2. Mercado Nacional Na Tabela 1 estão indicados os medicamentos com a substância ativa cetoconazol atualmente autorizados em Portugal [31]. 7 Tabela 1 - Medicamentos comercializados em Portugal [31]. Nome do medicamento Forma Farmacêutica Dosagem Titular da AIM Genérico Champô 20 mg/g Actavis A/S Sucursal Sim Champô 20 mg/g Generis Farmacêutica, S.A. Sim Comprimido 200 mg Laboratoire HRA Pharma Não Nizoral® Champô 20 mg/g Johnson & Johnson, Lda. Não Nizoral® Creme 20 mg/g Johnson & Johnson, Lda. Não Tedol® Champô 20 mg/g Tedol® Creme 20 mg/g Tedol® Líquido cutâneo 20 mg/ml Cetoconazol Actavis Cetoconazol Generis Ketoconazole HRA Laboratório Edol - Produtos Farmacêuticos, S.A. Laboratório Edol - Produtos Farmacêuticos, S.A. Laboratório Edol - Produtos Farmacêuticos, S.A. Não Não Não Observa-se que a maior parte dos medicamentos com cetoconazol comercializados em Portugal são formas farmacêuticas tópicas, como champô, creme e líquido cutâneo. 1.4. Formas Farmacêuticas 1.4.1. Emulsões As emulsões são sistemas heterogéneos constituídos pelo menos por dois líquidos imiscíveis, água e óleo, onde uma das fases é geralmente dispersa uniformemente como gotículas finas na outra fase líquida por um processo de agitação mecânica. Estes sistemas apresentam duas fases distintas, as gotículas que se designam por fase dispersa ou interna e o líquido que as rodeia por fase contínua ou externa. Existem dois tipos de emulsões dependendo se é a fase aquosa ou oleosa predominante na fase dispersa. Se as gotículas de óleo estão dispersas numa fase contínua, estamos perante uma emulsão O/A, se pelo contrário o óleo é a fase contínua a emulsão designa-se de A/O [32], [33], [34]. As emulsões são sistemas termodinamicamente instáveis, devido à existência de uma elevada energia livre à superfície das gotículas. Por norma as gotículas tendem a combater este fenómeno formando agregados para diminuir a área interfacial que leva assim à diminuição da energia livre. A adição de um agente emulsionante atenua a instabilidade das emulsões, uma vez que forma um filme ao redor das gotículas, levando à diminuição da energia interfacial entre a fase dispersa e contínua [32],[33]. Os tipos de emulsões podem ser dependentes do tensioativo adicionado à emulsão. A tendência de um agente emulsionante ser mais hidrofílico e lipofílico forma emulsões O/A e A/O, respetivamente. Através da escala criada por Griffin, que se baseia no equilíbrio hidrofílico e lipofílico (E.H.L.), é possível escolher um ou mais tensioativos para formar o tipo de emulsão pretendido. Esta escala indica que 8 tensioativos hidrofílico têm um E.H.L. de 8 - 16 e os tensioativos lipofílico apresentam um valor de E.H.L de 3 - 8 [32], [35]. A instabilidade das emulsões pode ser evidenciada pela cremagem, floculação e / ou coalescência. A cremagem ocorre quando as partículas suspensas ou as gotículas tendem a sobrenadar ou sedimentar, dependendo das diferenças de densidades entre as duas fases, sob influência da gravidade. A agregação reversível das gotículas da fase interna designa-se de floculação, e está relacionada com as forças de atração e repulsão. A coalescência está diretamente relacionada com a junção das gotículas da fase interna, que leva à separação de fases da emulsão [32]. As emulsões podem ser classificadas de acordo com o local de administração, isto é, oral, parentéricas e tópicas. Os cremes O/A são facilmente laváveis e não deixam uma película gordurosa na pele, sendo uma das caraterísticas desejadas por parte dos doentes [32]. Os cremes são sistemas semi-sólidos emulsionados de aparência branca. Podem ser emulsões O/A ou A/O [32]. 1.4.2. Microemulsões e Nanoemulsões Tem sido dada bastante importância aos sistemas micro e nanoestruturados com tensioativo, pela sua capacidade de aumentar a eficácia terapêutica de fármacos, permitindo reduzir a dose administrada e diminuir os efeitos adversos de fármacos [36] Estes sistemas têm capacidade de incorporar substâncias ativas nas gotículas presentes na fase interna, induzindo modificações nas propriedades biológicas dos fármacos incorporados. Além do mencionado, melhoram a solubilização de fármacos lipofílicos em água e protegem-nos contra hidrólise enzimática, para além de aumentar a permeação cutânea devido à presença do tensioativo [36]. A microemulsão é constituída por dois líquidos imiscíveis, óleo e água, e um tensioativo, que na maioria dos casos pode ser complementado por um co-tensioativo, a fim de estabilizar a interface [37], [38]. A junção destes constituintes, independentemente da ordem de adição, origina um sistema líquido de forma espontânea, termodinamicamente estável, transparente e de baixa viscosidade [39]. Em relação ao tamanho de gotícula, este tipo de sistema é caracterizado por ter gotículas de 100 a 200 nm [33]. Este sistema pode ser de três tipos, O/A, onde a água é a fase dispersante; A/O, onde o óleo é a fase dispersante e microemulsão bicontínua, onde a água e o óleo apresentam quantidades quase iguais [40]. A orientação do tensioativo na interface é diferente, depende do tipo de microemulsão, isto é depende das propriedades físico-químicas do tensioativo e do óleo, bem como das proporções água/óleo [36], [40]. A razão entre o grupo hidrófilo e hidrófobo das moléculas de tensioativo, que é o seu equilíbrio hidrófilo-lipófilo, também é importante na determinação da película interfacial e, consequentemente, na estrutura da microemulsão [40]. As microemulsões são formadas por emulsificação espontânea que normalmente requerem pouca energia [41]. 9 As microemulsões têm sido amplamente exploradas para a entrega de fármacos através de várias vias, como a dérmica, transdérmica, ocular, nasal, vaginal, rectal, bucal, periodontal, e parentérica [41]. No caso da via tópica, este sistema coloidal, apresenta vantagens na administração de fármacos com fraca solubilidade em água pois, melhora a solubilização de fármacos e consequentemente a permeação na pele para além da estabilidade a longo prazo. Para além do mencionado, este sistema pode ter a capacidade de reduzir a irritação da pele [37], [42]. As nanoemulsões podem ser consideradas emulsões convencionais que contêm gotículas muito pequenas. As nanoemulsões também são designadas de mini-emulsões, emulsões ultrafinas ou emulsões submicrons. Tal como no caso das macroemulsões e microemulsões, podem considerar-se dois tipos de nanoemulsões, as do tipo O/A e A/O. Os excipientes utilizados para a formação desta forma farmacêutica não diferem dos constituintes usados nas emulsões convencionais. Em comparação com as microemulsões, as nanoemulsões são cineticamente estáveis, termodinâmicamente instáveis e a sua formação depende da temperatura, da pressão, da composição e dos procedimentos experimentais. Este sistema pode ser preparado envolvendo o fornecimento de energia, por ação de dispositivos mecânicos, ou mediante a ação do potencial químico dos seus componentes. Em ambos aos métodos é possível obter uma formulação com tamanho de gotículas uniformes e de escala nanométrica [39], [43]. As nanoemulsões, dependendo do tamanho de gotícula, dividem-se em dois grupos: as transparentes/ translúcidas e as de cor branca, designada de leitosas. O primeiro grupo enquadra-se na gama de tamanho de gotícula de 50 - 200 nm e o segundo até aos 500 nm [43]. As nanoemulsões apresentam propriedades superiores comparativamente com as macroemulsões como: pequeno tamanho de gotícula permite uma distribuição uniforme sobre a pele, elevada área de superfície, melhor oclusividade, sensação agradável quando aplicado topicamente [43]. A utilização de nanoemulsões como transportadores coloidais está documentada, para a administração tópica de fármacos e em cosmética [44], [45], como sistemas de libertação ocular [46], para a administração oral de fármacos pouco hidrossolúveis e/ou aumento da absorção gastrintestinal, que está relacionada com o tamanho de gotícula [47], para alimentação parenteral, pelo facto de serem necessárias gotículas de tamanho nanométrico e de permitir administrar nutrientes lipófilos por via endovenosa [48]. As nanoemulsões são utilizadas em produtos dermocosméticos e cosméticos para aplicação na pele e nos cabelos. Estas formulações apresentam tamanho de gotícula reduzido e permitem obter preparações que fluem facilmente sobre pele, separando-se nos seus constituintes após aplicação. Assim, não se espera toxicidade associada a estes sistemas, os quais beneficiam ainda da redução da quantidade do tensioativo quando comparadas com as microemulsões [49]. 10 1.4.3. Lipossomas Os lipossomas são vesículas constituídas por bicamadas compostas por fosfolípidos. Estes sistemas são constituídos por duas regiões distintas: um espaço interno aquoso rodeado por uma ou mais bicamadas dispostas concentricamente (Figura 4). O diâmetro dos lipossomas pode variar entre alguns nanómetros e alguns micrómetros [39]. As bicamadas podem ser compostas por moléculas lipídicas sintéticas ou naturais. No entanto, os fosfolípidos geralmente utilizados para preparar os lipossomas são considerados matérias-primas “geralmente reconhecido como seguros” (GRASGenerally Recognized As Safe) e, consequentemente, minimizam potenciais efeitos adversos da sua utilização [39], [50]. Fosfolípidos Cabeça polar Cauda hidrofóbica Organização Bicamada lipídica Espaço interno aquoso Região hidrofóbica Lipossoma Figura 4 - Representação esquemática da estrutura do lipossoma demonstrando os fosfolípidos, a sua organização, as bicamadas lipídica e a estrutura tridimensional, adaptado de Bruschi (2015) [39]. Os lipossomas são classificados de acordo com a sua dimensão e número de bicamadas, unilamelares ou multilamelares, característica muito importante no controlo do sistema de libertação do fármaco. As vesículas unilamelares (VUL) podem ser classificadas em vesículas unilamelares pequenas (VUP) e vesículas unilamelares grandes (VUG) [39], [50]. As vesículas multilamelares são designadas por VML. A classificação dos lipossomas está demostrado na Tabela 2 [39]. 11 Tabela 2 - Classificação morfológica e tamanho dos lipossomas, adaptado de Bruschi (2015) [39]. Classificação Morfologia Diâmetro (nm) Estrutura VML 100 – 5000 Número variado de bicamadas VUP < 100 Vesículas unilamelares pequenas preenchidas com solução aquosa VUG 100 – 2000 Vesículas unilamelares grandes preenchidas com solução aquosa Geralmente a preparação dos lipossomas envolve a dispersão de fosfolípidos e outros componentes num solvente, que posteriormente é removido. A evaporação deste solvente leva à formação de uma película fina de lípidos, agarrada às paredes do recipiente. A adição de uma solução aquosa e da substância ativa (no caso de ser hidrófilica) ao recipiente leva ao deslocamento da película lipídica, formando esferas ou cilindros, aprisionando a solução aquosa no interior [39]. A incorporação de uma substância ativa lipofílica faz-se, geralmente, por solubilização conjunta com os fosfolípidos. Os lipossomas são capazes de incorporar nas bicamadas concêntricas substâncias ativas hidrofílicas e lipofílicas. Os fármacos hidrofílicos são geralmente retidos no espaço interno aquoso, e as moléculas lipofílicas são incorporadas nas bicamadas lipídicas [39], [51]. Este tipo de vesículas têm sido estudadas com o propósito de modificar e controlar a libertação de fármacos a ser administrados numa ampla gama de vias, por exemplo parentérica, tópica e por inalação. Os fármacos incorporados nos lipossomas são protegidos do ambiente externo, além de que a estrutura única destes veículos permite incorporar os dois tipos de fármacos, hidrófobos e hidrofílicos, sem modificação química [39], [50]. Os lipossomas poderão ser utilizados como veículos para libertar os fármacos na pele. Estes atuam como potenciadores de permeação por causa dos fosfolípidos que penetram no EC e alteram as camadas da pele. Estas vesículas são conhecidas por favorecerem a deposição do fármaco na pele, reduzirem potenciais irritações locais causadas pelo fármaco e melhorarem a estabilidade do fármaco [51]. Existem diferentes mecanismos de ação dos lipossomas que permitem a penetração do fármaco através da pele, como ilustrado na Figura 5. No primeiro mecanismo, (a), ocorre a alteração da bicamada lipossomal e a interação com os lípidos da pele levando a um aumento da fluidez. Em segundo lugar, (b), sucede a adsorção e /ou fusão da vesícula com o EC, onde o fármaco é transferido diretamente para a pele, ou as vesículas podem fundir-se e misturar-se com os lípidos do EC. No mecanismo (C), ocorre a penetração da vesícula intacta na pele, ou seja, a elevada deformabilidade destas vesículas invade e percorre profundamente a pele. O último mecanismo, (d), mostra a penetração da vesícula no folículo piloso, no entanto, tem sido demostrado que este mecanismo não tem um papel importante na libertação de vesículas na pele [52]. 12 Lipossoma Cetoconazol EC Epiderme viável Derme Figura 5 - Os quatro mecanismos de ação de sistema de libertação do fármaco através de lipossomas na pele, adaptado de Guo, et al. (2015) [52]. 1.5. Objetivos da tese O presente trabalho centrou-se no desenvolvimento e melhoria de formas farmacêuticas tópicas convencionais e no desenvolvimento de novos sistemas de veiculação de fármacos, contendo um antifúngico. Os principais objetivos do atual trabalho consistiram em: - Reformular uma preparação tópica contendo cetoconazol por forma a melhorar a estabilidade físico-química e microbiológica do produto; - Desenvolver formulações inovadoras aplicando nanotecnologias e micro encapsulação do antifúngico em estudo. 1.6. Formulação convencional - Pesquisa Como mencionado anteriormente, pretendeu-se reformular uma formulação tópica convencional contendo cetoconazol, com o intuito de solucionar as questões da estabilidade físico-química e microbiológica. O problema associado à estabilidade físico-química prende-se na alteração das características organoléticas, concretamente na alteração da cor inicial, branca, para rosa. Atualmente sabe-se que o aparecimento da cor rosa se deve à degradação do cetoconazol e que esta deterioração está relacionada com a presença de alguns conservantes. Para além da instabilidade físico-química, existe a questão dos conservantes presentes no produto não serem eficazes durante a validade do produto. Assim sendo, foi necessário encontrar soluções para aumentar a estabilidade do produto, a 13 incorporação de antioxidantes e estabilizantes de fármaco, e conservantes que sejam eficazes durante todo o prazo de validade do produto. Os conservantes presentes na formulação convencional são: o metilparabeno sódico e o propilparabeno sódico. Em estudos anteriores foram estudados outros conservantes na tentativa de ultrapassar o aumento da contaminação microbiana como: metilpropanodiol, caprililglicol, fenilpropanol; imidazolidinil ureia e o sulfito de sódio. As formulações que apresentaram resultados conformes, de acordo com as especificações da Farmacopeia Portuguesa (FP) em vigor, foram: - Metilparabeno sódico (0,18 %) e o propilparabeno sódico (0,02 %) + metilpropanodiol, caprililglicol, fenilpropanol (2,00 % ou 3,00 %); - Metilparabeno sódico (0,18 %) e o propilparabeno sódico (0,02 %) + imidazolidinil ureia (0,28 %); - Metilpropanodiol, caprililglicol, fenilpropanol (2,00 % e 3,00 %); - Imidazolidinil ureia (0,30 % e 0,60 %); - Sulfito de sódio (0,10 %). Apesar destes conservantes apresentarem resultados conformes com os requisitos da eficácia microbiana para as formulações tópicas [24], a utilização do metilpropanodiol, caprililglicol, fenilpropanol alterou a viscosidade das formulações, mostrando que este não era ideal. Para além do referido, à exceção da formulação com 0,10 % de sulfito de sódio, as restantes formulações apresentaram coloração rosa ao fim de um tempo relativamente curto (< a 6 meses). Peraro (2011) estudou a estabilidade física de formulações farmacêuticas tópicas com o princípio ativo cetoconazol. Neste estudo, foram feitas várias formulações com conservantes distintos e com o antioxidante BHT [53]. As formulações que tinham na sua constituição os conservantes metilparabeno sódico e propilparabeno sódico apresentaram coloração rosa, até mesmo as formulações que para além destes continham na sua composição o antioxidante BHT. Os autores verificaram que a coloração rosa podia estar relacionada com a interação do cetoconazol com os conservantes referidos a altas temperaturas [53]. Foram produzidas outras formulações com a mesma percentagem de antioxidante mas com conservantes distintos, como: imidazolidinil ureia, diazolidinil ureia e mistura de isotiazolinonas. Estas formulações foram submetidas à temperatura de 50C e mantidas à temperatura ambiente, durante 1 mês. Os autores observaram que as formulações não sofreram alteração de cor durante o ensaio de estabilidade [53]. Ainda é referido que nas formulações estudadas o pH foi de 5,6 e a concentração de BHT foi de 0,05 %, onde também se utilizou o conservante imidazolidinil ureia e o quelante EDTA. Estes podem aumentar a estabilidade química e microbiológica da formulação [53]. Wiechers, et al. (2012) quando usaram o cetoconazol nas formulações adicionaram um antioxidante, sulfito de sódio ou dl--tocoferol, para evitar a descoloração rápida [54]. Skiba, et al. (2000) estudaram os efeitos de fatores como o pH e as quantidades de antioxidante (BHT) na estabilidade do cetoconazol em meio aquoso. Os resultados mostraram que a quantidade de cetoconazol na formulação aquosa diminuiu de forma mais rápida à medida que o pH diminuiu. Deste 14 estudo foi concluído que o aumento do antioxidante, 0,05 - 0,40 %, teve efeito na estabilidade da substância ativa particularmente a pH 1,0. Também foi concluído que a formulação final desenvolvida, a pH 7,0 e com 0,10 % de BHT, mostrou ser estável, com uma vida útil de cerca de 15 meses [22]. 1.6.1. Seleção do conservante A existência de excipientes contribuem para o crescimento de uma variedade de microrganismos, mesmo na ausência deste tipo de excipientes a presença de lípidos e água em contacto íntimo permite o desenvolvimento de microrganismos. Como consequência a adição de um conservante na formulação é um fator importante para garantir a estabilidade das preparações farmacêuticas. Um ou mais conservantes devem proteger o produto contra todas as possíveis contaminações, desde as matérias-primas até à duração da aplicação do produto farmacêutico [32]. Na Tabela 3 estão indicadas algumas vantagens e desvantagens dos conservantes, anteriormente referidos. Tabela 3 - Vantagens e desvantagens de alguns conservantes [55], [56], [57]. Conservante Metilparabeno sódico Propilparabeno sódico Metilpropanodiol , caprililglicol, fenilpropanol Sulfito de Sódio Vantagens Utilizados como conservantes antimicrobianos em cosméticos e formulações farmacêuticas orais e tópicas; Preparação Tópica: 0,02–0,30 %; Atividade antimicrobiana a pH 4-8; Mais ativos contra leveduras e bolores do que contra bactérias; A atividade pode ser aumentada usando combinações de parabenos com outros conservantes antimicrobianos, como a imidureia; Solubilidade: 1 em 50 de etanol (95 %); 1 em 2 de água. Usado como um conservante antimicrobiano ou antifúngico, em medicamentos orais e em produtos cosméticos à base de água. É geralmente utilizado com outros ésteres de parabeno; Solubilidade: 1 em 1 de água, 1 em 2 de etanol (50 %) e 1 em 50 de etanol (95 %). Combinação de álcoois; Regula a viscosidade de produtos transparentes; pH de estabilidade indefinido; Espectro antimicrobiano; Dosagem recomendada: 2,5 - 4,0 %. Conservante antimicrobiano e antioxidante. Usado em produtos cosméticos, produtos alimentares e aplicações farmacêuticas, como formulações parentéricas, para inalação, formulações orais e preparações tópicas. Eficaz especialmente contra fungos, a pH baixo; Usado em aplicações alimentares e farmacêuticas como antioxidante; É geralmente considerado como relativamente não tóxico e não irritante quando utilizado como um excipiente; Solubilidade: 1 em 3,2 de água, solúvel em glicerina. Desvantagens Eficácia conservante diminui com o aumento de pH; É o menos ativo dos parabenos; São mais ativos contra as bactérias Gram-positivas do que contra Gram-negativas; Absorção de metilparabeno por plásticos, a quantidade absorvida depende do tipo de plástico e do veículo; Solubilidade: praticamente insolúvel em óleos fixos. Decompõe-se quando aquecido; Solubilidade: praticamente insolúvel em óleos fixos. --- Incompatível com ácidos; Solubilidade: praticamente insolúvel em etanol. 15 Tabela 3 - Vantagens e desvantagens de alguns conservantes [55], [56], [57] (continuação). Conservante Imidazolidinil ureia Vantagens Conservante antimicrobiano de largo espectro; Utilizado em formulações cosméticas e farmacêuticas para aplicação tópica; Concentrações típicas: 0,03-0,50 % m/m; Eficaz entre pH 3-9; Atividade conservante é consideravelmente melhorada, particularmente contra fungos, quando usados em combinação com parabenos. Solubilidade: 1 em 0,5 de água, 1 em 1 de glicerina. Desvantagens Diazolidinil ureia Semelhante a imidureia; É o mais ativo da família de conservante imidazolidinil; Usado em concentrações: 0,1-0,5 % m/m, a pH 3-9; Tem propriedades predominantemente antibacterianas; Solubilidade: muito solúvel em água. Solubilidade: insolúvel em gorduras. Mistura de isotiazolinonas Proteção de largo espectro em baixas concentrações; Eficaz contra bactérias Gram-positivas e Gramnegativas, fungos e leveduras; Ampla gama de pH; --- É compatível com outros conservantes que incluem o ácido sórbico e compostos de amónio quaternário. Solubilidade: muito pouco solúvel em etanol e óleo de sésamo, praticamente insolúvel em óleo mineral e propan-2-ol. 1.6.2. Seleção do antioxidante Alguns compostos estão sujeitos a auto-oxidação quando expostos ao ar. A auto-oxidação pode ser inibida pela ausência de oxigénio por substâncias que inibam a formação de radicais livres ou por um agente redutor. Os antioxidantes são capazes de atuar contra a auto-oxidação de matérias-primas [32]. Na Tabela 4 estão representadas algumas vantagens e desvantagens de dois antioxidantes. Tabela 4 - Vantagens e desvantagens de dois antioxidantes [55]. Antioxidante B.H.T. (Butilhidroxitolueno) dl--tocoferol Vantagens Usado como um antioxidante em cosméticos, alimentos e produtos farmacêuticos; Utilizado para assegurar a estabilidade de cor, em concentrações 0,5-1,0 % m/m; Considerado como não irritante e não sensibilizante, nos níveis utilizados como antioxidante; Solubilidade: Livremente solúvel em acetona, benzeno, etanol (95 %), éter, metanol, tolueno, óleos fixos, e óleo mineral. Mais solúvel do que hidroxianisole butilado em óleos e gorduras alimentares. Reconhecido primeiramente como uma fonte de vitamina E; Apresenta propriedades antioxidantes; Composto altamente lipofílico; Excelente solvente para muitas drogas fracamente solúveis; São de valor em produtos farmacêuticos à base de óleo ou de gordura; Concentração: 0,001-0,050 % v/v; Praticamente insolúvel em água; solúvel em etanol (95 %). Miscível com acetona, clorofórmio, éter e óleos vegetais. Desvantagens A exposição à luz, a humidade e o calor provocam a descoloração e a perda de atividade; Solubilidade: Praticamente insolúvel em água, glicerina, propileno-glicol, soluções de hidróxidos de metais alcalinos, e ácidos minerais diluídos aquosos. Tocoferóis são oxidados lentamente pelo oxigénio atmosférico. 16 Os antioxidantes BHT e tocoferol são utilizados para evitar a auto-oxidação de lípidos. Ambos são considerados antioxidantes primários. No entanto, o BHT é um antioxidante sintético e o tocoferol um antioxidante natural. Os antioxidantes primários são compostos fenólicos que promovem a remoção ou inativação dos radicais livres formados durante o processo de auto-oxidação, na etapa de iniciação ou propagação da reação, através da doação de átomos de hidrogénio interrompendo a reação em cadeia. O átomo de hidrogénio ativo do antioxidante é doado aos radicais livres, assim, formam-se espécies inativas para a reação em cadeia e um radical inerte, procedente do antioxidante [58]. 1.7. Formulação Inovadora - Pesquisa A eficácia de um antifúngico, aplicado topicamente, é influenciada pelas suas propriedades antifúngicas e pela sua capacidade de penetrar o tecido queratinizado [6]. Para a inibição eficaz do crescimento dos patogénicos, causadores de infeções superficiais da pele localizadas principalmente na camada epiderme, as formulações tópicas devem libertar a quantidade adequada de fármaco no local da infeção em concentrações terapeuticamente eficazes [6]. O tipo de formulação bem como as propriedades físico-químicas do fármaco são parâmetros que influenciam o sistema de libertação do fármaco por via tópica [15]. A administração de antifúngicos por outras vias, que não as já existentes no mercado, têm sido utilizados na tentativa de proporcionar uma terapia dirigida, reduzir efeitos adversos e melhorar a penetração do fármaco nos locais de infeção [59]. É necessário que as formulações e a substância ativa sejam adaptadas da melhor forma para poderem percorrer uma determinada barreira biológica. Portanto, é vital desenvolver um sistema de formulação que garanta os níveis terapêuticos do fármaco no local de infeção [6]. O desenvolvimento de abordagens alternativas para o tratamento de infeções fúngicas da pele por tratamento tópico engloba novos sistemas de transporte para os antifúngicos como sistemas coloidais, transportadores vesiculares e nanopartículas [15]. Como muitos dos antifúngicos da classe dos azóis são pouco solúveis em água, os produtos atualmente comercializados podem não ser o ideal para o sucesso da terapia. Assim, novas formulações têm sido estudadas para otimizar a entrega tópica e por sua vez os efeitos antifúngicos. O objetivo dos novos produtos tópicos é possuírem uma boa adesão, o que proporciona o encurtamento do período de tratamento, alta penetração do fármaco na camada córnea, cabelo e unhas e elevada afinidade para as células, a fim de manter uma concentração elevada do fármaco na zona afetada [6]. O antifúngico de interesse, o cetoconazol, tem sido estudado em alguns dos novos sistemas de transporte para tratamento de infeções da pele. Um desses sistemas são os veículos coloidais que têm chamado à atenção porque são sistemas promissores para o efeito localizado. Estes acumulam-se na camada córnea, não trespassando para a pele viável. As microemulsões, um tipo de sistemas coloidais, oferecem várias vantagens para o uso farmacêutico devido às suas caraterísticas especiais, como a facilidade de preparação, estabilidade a longo prazo, alta capacidade de solubilização para fármacos lipofílicos e hidrofílicos e melhoria no sistema de libertação do fármaco [60]. Patel, et al. (2011) desenvolveram microemulsões de óleo em água (O/A) com 2 % de cetoconazol. Foi demonstrado que a eficiência do sistema de libertação do fármaco topicamente é dependente do conteúdo de água e 17 álcool laurílico (fase oleosa) e da relação entre mistura Labrasol®/etanol. Os autores concluíram que a microemulsão com cetoconazol não é tóxica quando aplicada na pele nem quando o contato é prolongado, para além disto, mostrou atividade antifúngica para a candidíase. Dos ensaios de estabilidade feitos durante três meses, os autores indicaram que a formulação não mostrou nenhuma evidência de separação de fases, precipitação ou floculação. Os investigadores referiram a necessidade de estudar os mecanismos de sistema de libertação do fármaco na pele por este veículo [60]. Os lipossomas também têm sido utilizados como veículos de fármacos para o tratamento tópico de doenças dermatológicas. Os lipossomas podem incorporar substâncias ativas hidrófilas ou hidrófobas, que permitem uma libertação sustentada e/ou controlada, bem como elevada acumulação do fármaco na pele. A incorporação do cetoconazol neste veículo pode gerar uma entrega prolongada do fármaco e minimizar os efeitos colaterais [61]. Patel, et al. (2009) estudaram várias formulações que pretendiam a incorporação de 2 % de cetoconazol em lipossomas. Os autores concluíram que a eficiência máxima de cetoconazol incorporado nos lipossomas foi, aproximadamente, de 54 % e a mínima de 28 %. Foi demostrada a estabilidade das formulações a temperaturas diferentes e foi concluído que a retenção máxima de cetoconazol estava presente nas formulações testadas à temperatura de refrigeração [62]. Niossomas são outro veículo onde o cetoconazol foi incorporado [63]. É um veículo que possui ação controlada e direciona o fármaco. As suas principais vantagens são a estabilidade química, pureza elevada, uniformidade do conteúdo, baixo custo, armazenamento de tensioativos não-iónicos e possibilidade de utilizar vários tensioativos [63]. A incorporação da substância ativa em niossomas pode minimizar a degradação do fármaco e a inativação após administração, impedir efeitos secundários, aumentar a biodisponibilidade do fármaco e ação direcionada ao local da zona afetada [63]. Shirsand, et al. (2012) desenvolveram e caraterizaram uma formulação gel niossomal com 1 % de cetoconazol. De acordo com a constituição das formulações foi demonstrada uma eficácia de incorporação do fármaco entre 55 % e 78 %. No perfil de libertação in vitro de fármaco, após 24 horas a percentagem máxima de fármaco libertado foi de 72 %. De acordo com os autores, na formulação em gel os niossomas atuam como veículos no sistema de libertação do fármaco no local de ação e o cetoconazol incorporado desempenha atividade antifúngica. O estudo demostrou, ainda, que esta formulação tem ação prolongada em relação às formulações de fármaco na forma livre [63]. As nanopartículas lipídicas dividem-se em dois tipos, as nanopartículas de lípidos sólidos (SLN) e vetores lipídicos nanoestruturados (NLC). São sistemas de interesse para a libertação controlada, por forma a originar a libertação do fármaco a longo prazo e podem promover a difusão do fármaco na pele devido ao seu efeito oclusivo [64], [65]. Estas nanopartículas são diferentes, as SLN possuem apenas um lípido sólido na sua composição, enquanto que as NLC caracterizam-se por apresentarem uma matriz constituída por uma mistura de lípidos sólidos e lípidos líquidos, aumentando assim a incorporação do fármaco e impedindo a sua expulsão. São produzidas pela técnica de homogeneização a alta pressão [64]. Estes dois tipos de nanopartículas lipídicas podem aumentar a estabilidade do fármaco quando incorporados nestes veículos e podem diminuir a irritação da pele e reações alérgicas, uma vez que são lípidos naturais [65]. As SLN e as NLC podem ser introduzidas em formas 18 farmacêuticas tópicas convencionais, como cremes, loções ou hidrogéis. Podem ser adicionadas durante o processo de produção das formas farmacêuticas convencionais, ou simplesmente misturadas com as formulações [65]. Souto e Müller (2006) elaboraram um estudo sobre a incorporação de alguns imidazóis em transportadores NLC e SLN para aplicação tópica. Concluíram que as nanopartículas lipídicas são adequadas para antifúngicos imidazóis. No entanto, a retenção do fármaco cetoconazol nas nanopartículas após um ano foi muito baixo. À temperatura ambiente, os autores observaram 15 % de cetoconazol na SLN e 22 % na NLC, à temperatura de refrigeração (4C) as SLN apresentavam 44 % e as NLC 54 % de cetoconazol, sendo a concentração inicial de fármaco de 0,75 %. Souto e Müller (2006) destacaram o efeito da natureza do lípido bem como do fármaco na estabilidade do sistema. Referindo ainda a conhecida instabilidade do cetoconazol [65]. Outro estudo feito pelos mesmos autores, demonstrou a instabilidade química do cetoconazol em nanopartículas SLN, uma vez que neste veículo ocorreu alteração de cor para roxo. Nas nanopartículas NLC, o cetoconazol demonstrou estabilidade química, no entanto, ocorreu um aumento significativo do tamanho das partículas durante o tempo de armazenamento (90 dias) [64]. As ciclodextrinas são outro veículo onde o cetoconazol tem vindo a ser estudado. As ciclodextrinas (CDs) são oligossacáridos cíclicos que compreendem 6, 7 e 8 moléculas de glicose, designadas por CD, -CD e -CD, respetivamente. As ciclodextrinas apresentam um ambiente hidrófobo no seu interior e a superfície externa é hidrófila. As principais vantagens deste veículo na área farmacêutica são: melhorar a solubilidade, a estabilidade e a biodisponibilidade de fármacos [66]. Estes veículos têm recebido uma atenção acrescida devido à capacidade de formar complexos de inclusão com vários fármacos lipofílicos [67]. As ciclodextrinas atuam como verdadeiros veículos mantendo as moléculas hidrofóbicas em solução, não tendo a capacidade de modificar a permeabilidade de barreiras biológicas [68]. A complexação entre os derivados do imidazol e as ciclodextrinas já foi estudada e a atividade antifúngica destes complexos foi superior à atividade do fármaco sem complexo [67]. Devido à fraca solubilidade do cetoconazol em água é necessária a utilização de um veículo para que o cetoconazol se torne solúvel em solução, sendo as ciclodextrinas apropriadas para tal. [68]. Esclusa-Diaz, et al. (1996) fizeram um estudo para investigar a termodinâmica da complexação do cetoconazol com dois tipos de ciclodextrinas. Os autores concluíram que a hidroxipropil-β-ciclodextrina (HP-B-CD) apresenta uma maior solubilidade e taxa de dissolução em relação aos complexos β-ciclodextrinas (BCD), apesar de a estabilidade ser maior em BCD [67]. Zhang, et al. (2008) compararam a utilização de cetoconazol (KET) para aplicação ocular, em ciclodextrina HP--CD (KET-CD) e em suspensão (KET-SP). O estudo demonstrou que a preparação KET-CD é a mais adequada porque apresentou níveis muito mais elevados de cetoconazol na camada córnea e no humor aquoso do que a formulação KET-SP. Assim, os autores concluíram que a formulação de gotas oculares de cetoconazol complexado com a HP-CD é a formulação mais adequada para o tratamento ocular [68]. 19 Capítulo 2 - Reformulações Neste capítulo, foi retratada a reformulação de uma formulação convencional com 2 % de cetoconazol para aplicação tópica. Procedeu-se ao desenvolvimento galénico de formulações com o intuito de prevenir a degradação do fármaco e originar preparações farmacêuticas eficazes contra contaminação microbiana, tendo em conta os resultados obtidos na pesquisa realizada anteriormente (alínea 1.5 - Capítulo 1). As reformulações desenvolvidas foram avaliadas em relação às suas propriedades físico-químicas, assim como a sua estabilidade físico-química e microbiológica. Também foram realizados ensaios in vitro utilizando como referência dois cremes comerciais, o creme comercial 1 e o creme comercial 2. 2.1. Matérias-primas As matérias-primas usadas no desenvolvimento das reformulações estão indicadas na Tabela 5. Tabela 5 - Características gerais de matérias-primas usadas no desenvolvimento galénico [55], [69]. Matéria-prima Cetoconazol Álcool cetílico Monoestearato glicerilo Álcool ceto estearílico etoxilado 20 eo Octildodecanol BHT Sulfito de sódio Imidazolidinil ureia EDTA Undecilenoil glicina Capriloil glicina Ácido Láctico Hidróxido de sódio INCI name Ketoconazole Cetyl Alcohol Função Antifúngico Tensioativo Glyceryl Stearate Tensioativo Ceteareth-20 Tensioativo Octyldodecanol Butylated hydroxytoluene sodium sulfite Imidazolidinyl urea EDTA Undecylenoyl glycine Capryloyl Glycine Lactic Acid Sodium hydroxide Emoliente Antioxidante Conservante Conservante Quelante Tensioativo Tensioativo Tampão Tampão 2.2. Equipamentos utilizados para a preparação das reformulações Os equipamentos utilizados para o desenvolvimento galénico foram: - Balanças Analíticas: modelo AE260 Delta Range® - Mettler Tolero®; modelo PB303 Delta Range® - Mettler Toledo®; modelo AG204, Mettler Tolero®; - Banho-maria termostatizado: GERHARTT; - Banho de Ultra-sons: modelo Bransonic® Ultrasonic cleaner B-5200 E1-Sotel; - Placa de agitação magnética: Variomag Telesystem, Thermo scientific; - Câmara de fluxo laminar: SterilGard®, Baker, US; 20 2.3. Métodos Distribuição do tamanho de gotícula A distribuição de tamanho foi medida por difração laser utilizando o equipamento Malvern Mastersizer 2000 (Malvern Instruments Ltd, Worcestershire, UK) em conjunto com o acessório Hydro 2000 S. A difração laser mede as distribuições de tamanho das gotículas por medição da variação angular na intensidade da luz difundida à medida que um feixe de laser interage com as partículas dispersas da amostra. Os parâmetros utilizados para a análise das amostras foram: uma gama de obscuração de 10 - 20 %, água como dispersante, agitação de 750 rpm sem ultra-sons. A quantidade de amostra utilizada foi a suficiente para obter uma obscuração dentro da gama selecionada. Cada amostra foi lida 5 vezes. Os dados são expressos em termos de distribuição relativa de volume de partículas na gama de classe de tamanhos (média ± DP, n=5). A estatística de distribuição utilizada ao longo do trabalho foi representada pelo percentil padrão d(0,9), onde 90 % da amostra apresenta um tamanho de partícula inferior a esse valor. Também foi expresso o valor Span, que representa a medida da largura da distribuição, quanto mais pequeno for este valor mais homogénea será a amostra. O Span é calculado da seguinte forma: 𝑆𝑝𝑎𝑛 = 𝑑(0,9)−𝑑(0,1) 𝑑(0,5) (Eq. 1) Doseamento substância ativa Para o doseamento de cetoconazol foi utilizado o equipamento HPLC (Hitachi Elite Lachrom Organizer (VWR, EUA): Detetor UV: L-2400; Forno de coluna: L-2300; Injetor automático: L-2200; Bomba: L-2130). A coluna utilizada foi Lichrospher 100 RP-18 5 micra (250 milímetros x 4mm). Para este método, a fase móvel foi constituída por 55 % (v / v) de acetonitrilo e 45 % (v / v) de tampão fosfato. Uma taxa de fluxo de 1,5 ml/minuto foi usada com um volume de injeção de 20 µL. Foi utilizado um comprimento de onda de 254 nm. O tempo de execução foi de 6 minutos para cada injeção. Na preparação das amostras foi utilizado como solvente, o metanol. Determinação da viscosidade e do perfil reológico A viscosidade aparente, das reformulações iniciais desenvolvidas da F1 à F8, foi determinada com recurso ao viscosímetro LVDV-E (Brookfield® Engeneering Laboratories, EUA), na velocidade de corte de 14,64 s-1 e 24,47 s-1 e com a agulha 64, após um tempo de estabilização de 30 segundos, à temperatura ambiente (25 ± 2°C). Nas reformulações finais (F2, F7 e F8) e os dois cremes comerciais, a viscosidade aparente foi determinada com o auxílio do viscosímetro RVTDV-II (Brookfield® Engeneering Laboratories, EUA), na velocidade de corte de 61,18 s-1 para as formulações finais, de 12,24 s-1 para o creme comercial 1 e de 24,47 s-1 para o creme comercial 2, com a agulha 7 para todas as formulações, após um tempo de estabilização de 30 segundos, à temperatura ambiente (25 ± 2°C). O perfil reológico das reformulações finais foi determinado com o viscosímetro RVTDV-II (Brookfield® Engeneering Laboratories, EUA). Todas as leituras foram efetuados com o auxílio da 21 agulha 7, em rampa crescente e descendente de velocidades de corte, ao fim de 30 segundos, à temperatura ambiente (25 ± 2°C). Determinação do pH O pH foi determinado, para todas as formulações desenvolvidas, por leitura direta, com recurso a um potenciómetro (modelo Mettler Tolero®: Elétrodo: InLab® Expert Pro pH, Mettler Toledo®), à temperatura ambiente (25 ± 2°C). Determinação da estabilidade física- separação de fases À centrífuga (Medifuge, Heraeus Spatech) foram adicionados tubos adequados com as amostras das reformulações finais e dos cremes comerciais. Procedeu-se à centrifugação das amostras a 4000 rpm durante 30 minutos, faseados em três períodos de 10 minutos, à temperatura ambiente (25 ± 2°C). A cada 10 minutos as amostras foram observadas por forma a detetar alterações de separação de fases. Avaliação in vitro da cedência de cetoconazol O perfil de cedência de cetoconazol foi realizado em células de difusão de Franz de 1 cm2. A membrana sintética utilizada foi a membrana polissulfona hidrofílica de 0,45 µm (Tuffryn®) da Pall Corporation (EUA). A fase recetora usada foi constituída por propilenoglicol / etanol 96 % (1:1) (AnexoI). Esta fase recetora foi colocada no compartimento recetor por forma a ficar em contacto com a membrana sintética. As amostras das formulações em estudo (0,2 - 0,4 g) foram aplicadas na superfície da membrana sintética no compartimento dador, após a adição da amostra o compartimento dador foi selado com Parafilm ®. As células de Franz foram imersas num sistema de banho a 32 ± 2°C sob agitação (200 rpm). Foram recolhidas amostras (200 µl) a partir do fluido recetor em tempos prédeterminados: 1, 2, 3, 4, 5, 6 horas; de seguida foi reposta a mesma quantidade em fase recetora fresca. O teor de cetoconazol nas amostras recolhidas foi analisado pelo método de HPLC (Sistema Beckman: Detetor: 166 Detectro, System Gold®; Bomba: 126 Solvent Module, System Gold®; Injetor automático: MIDAS, Holland Spark). Para cada formulação foram realizadas seis réplicas. Os dados obtidos neste estudo foram ajustados a dois modelos cinéticos diferentes: - Ordem Zero 𝑄𝑡 = 𝑄0 + 𝐾0 𝑡 (Eq. 2) onde 𝑄𝑡 é a quantidade de fármaco dissolvido no tempo 𝑡 e 𝐾0 é a constante de libertação de ordem zero. - Modelo Higuchi 𝑄𝑡 = 𝑘 √𝑡 (Eq. 3) onde 𝑄𝑡 é a quantidade de fármaco libertada no tempo 𝑡 e 𝑘 a constante de libertação. 22 O coeficiente de determinação (R2) foi determinado para cada modelo, uma vez que é um indicador da adequação de cada modelo a um dado conjunto de dados. Avaliação in vitro da permeação de cetoconazol A permeação através da pele de formulações tópicas com cetoconazol foi realizado em células de difusão de Franz de 1 cm2. A membrana utilizada foi pele de porco recém-nascido, obtida a partir de um matadouro. A pele inteira foi cortada em segmentos por forma a revestir a zona de permeação. A fase recetora usada foi constituída por propilenoglicol / etanol 96 % (1:1) (Anexo-I). Esta fase recetora foi colocada no compartimento recetor por forma a ficar em contacto com a membrana biológica. As amostras das formulações em estudo (0,2 - 0,4 g) foram aplicadas na superfície da pele, no compartimento dador, após a adição da amostra o compartimento dador foi selado com Parafilm®. As células de Franz foram imersas num sistema de banho a 32 ± 2°C sob agitação (200 rpm). Foram recolhidas amostras (200 µl) a partir do fluido recetor em tempos pré-determinados: 1, 2, 4, 6, 8, 12, 24 horas; de seguida foi reposta a mesma quantidade em fase recetora fresca. O teor de cetoconazol nas amostras recolhidas foi analisado pelo método de HPLC (Sistema Beckman: Detetor: 166 Detectro, System Gold®; Bomba: 126 Solvent Module, System Gold®; Injetor automático: MIDAS, Holland Spark). Para cada formulação foram realizadas seis réplicas. A quantidade cumulativa de cetoconazol permeada (𝑄𝑡 ) através da pele de porco recém-nascido foi representada graficamente em função do tempo e determinada pela seguinte equação: 𝑄𝑡 = 𝑉𝑟×𝐶𝑡 +∑𝑡−1 𝑡=0 𝑉𝑠×𝐶𝑖 𝑆 (Eq. 4) onde 𝑄𝑡 é a concentração de fármaco da solução recetora em cada tempo de amostragem, 𝐶𝑖 a concentração da amostra de cetoconazol aplicada na compartimento dador, e 𝑉𝑟 e 𝑉𝑠 os volumes da solução recetora e da amostra, respetivamente. S representa a área de superfície da pele (1 cm 2). Análise estatística Os dados foram expressos como média e desvio padrão (média ± DP). A avaliação estatística dos dados foi realizada por meio da análise de uma via de variância (ANOVA), p <0,05 foi considerado como sendo estatisticamente significativo. Eficácia dos conservantes Este método foi realizado de acordo com o descrito na FP em vigor - 5.1.3 - Eficácia dos conservantes antimicrobianos. Cada formulação foi inoculada com 4 microrganismos estabelecidos (P. aeruginosa, S. aureus, C. albicans e A. niger), com um inóculo de 105 a 106 µg/ml, e incubadas à temperatura de 20°C a 25°C durante a durabilidade do ensaio (28 dias). Tratando-se de uma formulação tópica, os tempos estabelecidos são 2, 7, 14, 28 dias, para cada dia estão determinados os microrganismos inoculados que têm que ser analisados. Assim, de uma forma geral, foi retirada 1 g de amostra, da preparação inoculada, que foi adicionada a 9 ml de meio de cultura LTB (Letheen Broth Base Modified) + 5,0 % Tween 80, procedeu-se de seguida à realização de diluições decimais sucessivas com o mesmo meio de cultura, até à diluição 10-6. Procedeu-se à sementeira, pelo método 23 em profundidade, com contagem em placas, descrito pela FP em vigor na seção 2.6.12. As diluições foram semeadas em duplicado com o meio de cultura TSA (bactérias) e SDA (fungos e leveduras) e incubadas a 32,5 ± 2,5°C (Incudigit, JP Selectra S.A) e 22,5 ± 2,5°C (240 KB, Binder), respetivamente. Para este ensaio foi efetuada a neutralização da formulação, onde se utilizou um desactivador (LTB + 5,0 % Tween 80), que tem de ter a capacidade de permitir o crescimento dos microrganismos utilizados no ensaio. Os critérios de aceitação estão descritos na secção 5.1.3 da FP em vigor. 2.4. Desenvolvimento galénico - Ensaios preliminares Foram efetuadas reformulações de acordo com a pesquisa realizada, estas preparações encontram-se na Tabela 6. Para impedir a degradação do fármaco foi introduzido o antioxidante BHT em algumas formulações, uma vez que a adição deste excipiente originou resultados favoráveis numa formulação idêntica. De acordo com a pesquisa realizada, os conservantes que foram utilizados para a reformulação foram o sulfito de sódio e a imidazolidinil ureia, também foi utilizada a junção de dois conservantes, que nunca foram testados para esta formulação, o undecilenoil glicina mais o capriloil glicina. Para a preparação das reformulações foi tido em conta os limites máximos permitidos [70]. Tabela 6 - Constituição de cada reformulação (%, m/m). Matérias-primas F1 F2 F3 F4 F5 Fase Oleosa F6 F7 F8 F9 Álcool cetílico Monoestearato glicerilo Álcool ceto estearílico etoxilado 20 eo Octildodecanol BHT Fase Aquosa Sulfito de sódio Imidazolidinil ureia EDTA Undecilenoil glicina Capriloil glicina Água purificada Substância Ativa Cetoconazol Acerto pH Ácido láctico / NAOH Para além dos excipientes, foi tido em conta o pH das reformulações, isto é, para averiguar a influência do pH na estabilidade do cetoconazol foram preparadas as reformulações a diferentes pH. O processo de fabrico utilizado para a preparação das reformulações indicadas na Tabela 6, encontra-se esquematizado na Figura 6. 24 Excipientes da fase oleosa Excipientes da fase aquosa Aqueceu-se até aos 70°C, em banho termostatizado Aqueceu-se até aos 70°C, em banho termostatizado Fase Oleosa Adicionou-se a fase oleosa à fase aquosa Fase Aquosa Agitou-se vigorosamente até completa homogeneização Emulsão O/A Arrefeceu-se a emulsão até aos 40°C, sob agitação vigorosa. Cetoconazol Adicionou-se o cetoconazol à emulsão Emulsão O/A Agitou-se até homogeneização da emulsão Emulsão O/A Acertou-se o pH com ácido láctico/ NaOH Acondicionamento Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 6 - Processo de fabrico das reformulações (F1 a F9). A reformulação F9 foi excluída porque apresentou consistência mais fluida que o esperado, em comparação com as restantes reformulações. Foram determinados alguns parâmetros para as 8 reformulações em estudo, apresentados na Tabela 7. 25 Tabela 7 - Características das reformulações desenvolvidas. Características organoléticas F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Cor branca, aspeto brilhante e homogéneo Viscosidade Aparente (Pa.s) Parâmetro tamanho de gotícula Tamanho das Span gotículas d(0,9) (µm) (média ± DP, n=5) (média ± DP, n=5) 14,3 20,3 ± 0,7 1,8 ± 0,0 25,3 20,3 ± 0,7 1,8 ± 0,0 22,1 27,3 ± 1,1 2,0 ± 0,0 14,7 27,3 ± 1,1 2,0 ± 0,0 24,3 23,8 ± 0,6 2,0 ± 0,0 21,2 23,8 ± 0,6 2,0 ± 0,0 14,9 27,0 ± 0,9 2,1 ± 0,1 15,9 32,3 ± 1,5 2,2 ± 0,0 As reformulações foram expostas à temperatura ambiente (25 ± 2°C) e colocadas numa estufa (Votsch industrietechnik, VC2033) a 40 ± 2°C e a 75 ± 2 % de HR, em frascos de vidro incolor. Os resultados estão expressos na Tabela 8 e Tabela 9, respetivamente. É notório, analisando a Tabela 8, que as reformulações com pH 5,5 foram as primeiras a sofrer degradação do fármaco, alteração de cor de branca para rosa, em comparação com o seu par com pH 7,0. No caso do par F5 e F6, à temperatura de 40 ± 2°C não foi possível afirmar qual iniciou primeiro a degradação do fármaco. No entanto, à temperatura ambiente (25 ± 2°C) foi a reformulação com pH 5,5, F5, que iniciou primeiro o processo de deterioração. As reformulações F1, F2, F5 e F6, contêm a mesma quantidade de sulfito de sódio. No entanto, as formulações F5 e F6 possuem mais um conservante, a imidazolidinil ureia. A degradação do cetoconazol provavelmente foi mais acentuado nas reformulações F5 e F6 devido à presença de imidazolidinil ureia, porque a reformulação F2 não sofreu alteração de cor para rosa. A reformulação F5, como mencionado anteriormente, foi a que sofreu alteração de cor mais rapidamente porque, para além da imidazolidinil ureia, apresenta pH 5,5 igual à reformulação F1, que apresentou indícios de degradação um pouco mais tarde. 26 Tabela 8 - Resultados da estabilidade das reformulações à temperatura ambiente (25 ± 2°C). F1 F2 F3 F4 18/2 a 22/2 Branca Branca Branca Branca 23/2 a 1/03 Branca Branca Branca Branca 2/3 a 8/3 Branca Branca Branca Branca Ligeira mente Rosa 9/3 a 15/3 Branca Branca Branca Branca Ligeira mente Rosa F5 Branca Branca F6 Branca Branca Branca Branca F7 F8 Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Semanas 16/3 a 23/3 a 22/3 29/3 Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca 30/3 a 5/4 Bege Branca Bege Bege 6/4 a 12/4 Bege Bege Bege Bege Bege Bege Bege Bege 31/8 Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Manch as rosas Branca Branca Manch as rosas Branca Branca Manch as rosas Branca Branca Manch as rosas Branca Branca Rosa c/ manchas rosa Branca Branca Tabela 9 - Resultados da estabilidade das reformulações sujeitas à temperatura de 40 ± 2°C e a 75 ± 2 % HR. Semanas 6/3 a 9/3 9/3 a 15/3 F1 Branca Branca F2 Branca Branca F3 Branca Branca F4 Branca Branca Branca Rosa Rosa Rosa Branca Branca F5 F6 F7 F8 Ligeiramente Rosa Ligeiramente Rosa Branca Branca 30/3 a 5/4 6/4 a 12/4 18/6 Rosa Rosa Rosa Bege Bege Bege Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Rosa Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca 16/3 a 22/3 23/3 a 29/3 Ligeiramente Rosa Branca Ligeiramente Rosa Ligeiramente Rosa Branca Ligeiramente Rosa Ligeiramente Rosa As reformulações F3 e F4 diferem das reformulações F1 e F2 apenas na quantidade de sulfito de sódio, que é ligeiramente superior. As reformulações F3 e F1 apresentam o mesmo pH (5,5) e os sinais de degradação começaram na mesma altura. No entanto, a ligeira diferença na quantidade de conservante provavelmente influenciou a degradação do fármaco, uma vez que as reformulações F4 e F2 apresentam o mesmo pH (7,0) e a reformulação com maior quantidade de sulfito de sódio apresentou sinais de degradação de cetoconazol. A reformulação F7 apenas difere da reformulação F2 no acréscimo de um antioxidante, BHT. Ambas as reformulações não sofreram degradação do fármaco, porém, a reformulação F2 apresentou cor bege com o passar do tempo à temperatura de 40 ± 2°C. Podemos concluir que a adição de um antioxidante ajuda a manter a estabilidade da reformulação. 27 A reformulação F8 apresentou melhores resultados, uma vez que não se verificou alteração de cor. A maior percentagem de conservante (0,50 % de imidazolidinil ureia) e a adição do antioxidante (BHT) e do quelante (EDTA) podem explicar estes resultados. Sendo a F8 uma das reformulações promissoras, decidiu-se alterar o conservante desta formulação para sulfito de sódio. A nova reformulação (F10) encontra-se na Tabela 10. Tabela 10 - Composição da reformulação F10 (%, m/m). Matérias-primas Fase Aquosa Álcool cetílico Monoestearato glicerilo Álcool ceto estearílico etoxilado 20 eo Octildodecanol BHT Fase Oleosa Sulfito de sódio EDTA Água purificada Substância Ativa Cetoconazol Acerto de pH Ácido láctico/NaOH F10 A reformulação F10 apresentou cor branca e aspeto brilhante e homogéneo. Porém, ao fim de um mês a reformulação apresentou degradação do fármaco, à temperatura ambiente (25 ± 2°C). Assim, o BHT e EDTA nesta reformulação não foram eficazes na estabilização do cetoconazol. Para tal não suceder, é de fato necessário ter 0,10 % de BHT e pH 7,0, como acontece na reformulação promissora com o mesmo conservante, F7. As reformulações promissoras obtidas nos estudos preliminares foram a F2, a F7 e a F8. Foram estas que ao longo de três meses a 40 ± 2°C não sofreram alteração de cor para rosa, logo não ocorreu degradação do fármaco. 2.4.1. Lotes laboratoriais Foram realizados lotes de 1500 g para as reformulações finais, F2, F7 e F8. As preparações tópicas foram fabricadas num misturador planetário (Miniplant Reactor System, IKA® LR 2 ST) com capacidade máxima de 3 kg. Durante o processo de fabrico foi necessária a introdução de um homogeneizador, Ultra-turrax® T25 (IKA®, Deutschland,Germany: Haste: S25N – 25F) a 15000 rpm, para homogeneizar a preparação, de forma a obter a consistência de um creme, e suspender o cetoconazol de forma homogénea (Figura 6). Na indústria farmacêutica, o produto estudado é produzido num misturador planetário com homogeneizador e sistema de vácuo, permitindo a emulsificação e a suspensão do fármaco adequadamente. 28 2.4.2. Formulações finais As reformulações finais foram avaliadas em relação às propriedades físico-químicas e microbiológicas e também foram realizados ensaios in vitro. Características químicas e físicas Características organoléticas As características organoléticas estão indicadas na Tabela 11. Tabela 11 - Características organoléticas das reformulações finais. F2 F7 F8 Cor Branca Branca Branca Aspeto Brilhante e homogéneo Brilhante e homogéneo Brilhante e homogéneo Odor Inodoro Inodoro Inodoro As três reformulações apresentam macroscopicamente as características pretendidas. Apesar do cetoconazol estar disperso no creme, as reformulações apresentaram um aspeto homogéneo. Distribuição do tamanho de gotícula O resultado do tamanho de gotícula das reformulações em estudo, incluindo os placebos e as formulações de referência estão expressos na Tabela 12 e na Figura 7. Tabela 12 - Tamanho de gotículas e o respetivo span, das reformulações finais com cetoconazol e placebo e de dois cremes comerciais (média ± DP, n=5). Tamanho de gotícula d (0,9) (µm) 60,4 ± 0,9 59,6 ± 2,1 85,0 ± 3,4 102,0 ± 1,5 114,1 ± 3,1 104,8 ± 1,3 122,6 ± 22,6 24,2 ± 0,8 F2 F7 F8 Placebo F2 Placebo F7 Placebo F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 10 a Volume (%) Volume (%) 10 5 0 0 1 100 10000 Tamanho de partícula (µm) F7 F2 Creme comercial 1 F8 Creme comercial 2 Span 4,0 ± 0,1 2,5 ± 0,1 4,2 ± 0,1 3,5 ± 0,0 3,6 ± 0,1 3,3 ± 0,0 2,3 ± 0,1 2,4 ± 0,1 b 5 0 0 1 100 10000 Tamanho de partícula (µm) Placebo_F2 Placebo_F7 Placebo_F8 Figura 7 - Representação gráfica do tamanho de gotícula. a) reformulações finais com cetoconazol e produtos de referência no mercado. b) reformulações finais placebo. 29 Através da Tabela 12, é notória a discrepância das reformulações com fármaco e os respetivos placebos. Estes resultados poderão estar relacionados com o tipo de agitação durante a fase de emulsificação, as reformulações placebo sofreram apenas agitação manual enquanto que nas reformulações com fármaco foi utilizado um homogeneizador após a adição da fase oleosa à aquosa. Uma agitação mais vigorosa forma gotículas mais pequenas. Há uma diferença significativa no tamanho de gotícula do creme comercial 1. Este creme em termos de características organoléticas é diferente das restantes formulações, apresentando um aspeto granuloso e mais consistente. Determinação do pH A Tabela 13 mostra o pH de cada formulação. Os pH das reformulações finais são os esperados, como é indicado na Tabela 6. Tabela 13 - Resultado do pH das reformulações finais e das formulações de referência. F2 F7 F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 pH 7,2 6,9 5,7 7,6 5,5 Temperatura (°C) 27,6 26,3 27,5 24,0 24,5 Doseamento Substância Ativa Na Tabela 14, estão indicados os resultados obtidos no doseamento de cetoconazol tanto para as reformulações laboratoriais como para os produtos de referência. No Anexo-II, está representado o cromatograma do placebo da reformulação F8 a título de exemplo. Tabela 14 - Percentagem de recuperação de cetoconazol das reformulações finais e nos produtos comerciais (média ± DP, n=2). F2 F7 F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 % Recuperação 99,37 ± 0,53 105,44 ± 1,04 106,23 ± 2,11 100,75 ± 1,27 98,14 ± 1,29 As formulações de referência não ultrapassam os 100 %, no entanto, a reformulação F7 e F8 ultrapassam este valor. Porém, à que ter em conta que os cremes comerciais foram feitos numa escala industrial, em equipamentos fechados onde as perdas são menores, ao passo que as reformulações 2, 7 e 8 em escala laboratorial. Apesar disto, os valores médios do teor de cetoconazol das reformulações estudadas, à exceção da reformulação F8, estão dentro do limite especificado, 95-100 % [71]. 30 Estabilidade física - separação de fases As condições de stress a que estas formulações foram sujeitas permitiram verificar a sua estabilidade do ponto de vista físico, originando ou não a separação de fases. A tabela seguinte (Tabela 15) mostra que não houve separação de fases em nenhum dos cremes estudados. O que é um bom indicador da estabilidade das reformulações, sendo menos provável a separação de fases durante os estudos de estabilidade a longo termo. Tabela 15 - Resultado do ensaio separação de fases, para as reformulações finais e cremes comerciais. F2 F7 F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 10 minutos SSF SSF SSF SSF SSF 20 minutos SSF SSF SSF SSF SSF 30 minutos SSF SSF SSF SSF SSF SSF- Sem Separação de Fases Determinação da viscosidade aparente A Tabela 16 apresenta a viscosidade das reformulações finais e das duas formulações de referência. Tabela 16 - Viscosidade aparente da reformulação F2, F7, F8, creme comercial 1 e 2. F2 F7 F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 Viscosidade Aparente (Pa.s) 14,4 10,1 13,0 49,6 21,4 As reformulações F2, F7 e F8 foram as que apresentaram menor viscosidade. O creme comercial 1 foi a formulação que apresentou maior viscosidade aparente o que era de esperar, porque, como mencionado anteriormente, visualmente é a formulação mais consistente comparativamente às restantes formulações estudadas. Perfil Reológico Foi efetuado o perfil reológico nas três reformulações finais, F2, F7 e F8, exposto na Figura 8. 31 Tensão de corte (Pa) 1400 1200 1000 800 F2 600 F7 400 F8 200 0 0 50 100 Velocidade de corte (1/s) 150 Figura 8- Perfil reológico das reformulações F2, F7 e F8. As três reformulações apresentam a mesma estrutura de gráfico, o que indica que estamos perante o mesmo perfil reológico. Ao observar os três perfis foi notório que as reformulações são fluidos não newtonianos de comportamento reofluidificante (pseudoplástico), o que é o ideal para aplicações tópicas. Avaliação in vitro da cedência de cetoconazol Este ensaio foi realizado de acordo com o descrito no método presente neste capítulo. Todas as formulações foram analisadas n=6 vezes. Os resultados da percentagem de cetoconazol cedido de cada formulação estão presentes na Figura 9 e os parâmetros cinéticos de cada creme estão indicados Cetoconazol cedido (%) na Tabela 17. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (h) F2 F7 F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 Figura 9 - Perfis de cedência de cetoconazol das reformulações finais e dos cremes comerciais (média ± DP, n=6). 32 Tabela 17 - Parâmetros cinéticos obtidos no modelo de Ordem Zero e no modelo de Higuchi para as reformulações finais e de referência (média ± DP, n=6). F2 F7 F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 Modelo Ordem Zero k b R2 412,30 208,88 0,93 ± 0,04 ± 162,19 ± 225,45 526,04 182,08 0,84 ± 0,10 ± 183,38 ± 610,13 565,48 -173,05 0,90 ± 0,10 ± 178,39 ± 516,49 374,10 -163,29 0,88 ± 0,09 ± 166,08 ± 398,25 531,36 -18,97 0,91 ± 0,04 ± 181,38 ± 402,00 k 1427,76 ± 540,47 1813,17 ± 608,05 1948,10 ± 609,52 1260,46 ± 540,09 1834,03 ± 613,27 Modelo Higuchi b R2 -925,57± 0,93± 0,07 567,54 -1250,15 0,84 ± 0,12 ± 1034,10 -1710,55 ± 0,88 ± 0,10 968,41 -1129,43 0,84 ± 0,12 ± 790,49 -1470,20 0,90 ± 0,08 ± 745,78 Ao fim de 6 horas (Figura 9), verificou-se que a formulação que apresentou menor percentagem de cetoconazol libertado foi o creme comercial 1. Nas restantes formulações ocorreu maior libertação de fármaco, destas foi a F7 que apresentou maior percentagem de cetoconazol libertado. O creme comercial 1 libertou 39,0 ± 15,8 %, o creme comercial 2 libertou 60,7 ± 23,4 % e as reformulações F2, F7, e F8 libertaram 55,6 ± 23,1 %, 67,8 ± 13,4 % e 57,5 ± 10,5 % respetivamente de cetoconazol. A partir da análise estatística ANOVA, verificou-se que não houve diferenças significativas entre as formulações estudadas (p > 0,05). O modelo cinético de ordem zero, representa a dissolução de fármacos a partir de formas farmacêuticas que não desagregam e que libertam o fármaco lentamente. As formas farmacêuticas que seguem este perfil libertam a mesma quantidade de fármaco por unidade de tempo, sendo um modelo ideal para formas farmacêuticas de libertação prolongada [72]. Em relação ao outro modelo, Higuchi desenvolveu vários modelos teóricos para estudar a libertação de fármacos solúveis e pouco solúveis em água incorporados em matrizes semi-sólidas e sólidas. Este modelo pode ser utilizado para descrever a dissolução de fármacos a partir de formas farmacêuticas de liberação modificada como, alguns sistemas transdérmicos, e comprimidos matriciais com fármacos hidrossolúveis. Higuchi descreve a libertação de fármaco como um processo de difusão baseado na lei de Fick [72]. Através da Tabela 17, observou-se que o modelo ordem zero descreve estatisticamente melhor o mecanismo de libertação do fármaco, uma vez que apresentou o melhor valor de R2 para todas as formulações. Avaliação in vitro da permeação de cetoconazol O ensaio foi executado com pele de porco recém-nascido, de acordo com o descrito no método presente neste capítulo. Todas as formulações foram analisadas em n=6 vezes. Os resultados da permeação de cetoconazol de cada formulação estão presentes na Figura 10 e os parâmetros da permeação estão indicados na Tabela 18. 33 Cetoconazol permeado (%) 0,30 0,20 0,10 0,00 0 5 F2 10 F7 F8 15 Tempo (h) Creme comercial 1 20 25 30 Creme comercial 2 Figura 10 – Permeação in vitro através da pele de cetoconazol das reformulações finais e dos cremes comerciais em percentagem de cetoconazol (média ± DP, n=6). Tabela 18 - Parâmetros da permeação cutânea das reformulações finais e das formulações de referência (média ± DP, n=6). F2 F7 F8 Creme comercial 1 Creme comercial 2 Fluxo (µg/cm2/h) 0,09 ± 0,09 0,00 ± 0,00 0,09 ± 0,17 0,05 ± 0,02 0,57 ± 0,18 Kp (cm/h) 4,45x10-6 ± 4,3x10-6 8,7x10-9 ± 2,1 x10-8 4,2x10-6 ± 8,3x10-6 2,3x10-6 ± 9,0x10-7 2,9x10-5 ± 8,9 x10-6 Lag time 0,58 ± 0,32 0,01 ± 0,01 0,11 ± 0,13 0,28 ± 0,02 1,55 ± 0,71 Após 24 horas (Figura 10), observou-se que foi o creme comercial 2 que obteve a maior permeação de fármaco, sendo a percentagem de cetoconazol permeado de 0,19 ± 0,07 %. A formulação onde não se obteve fármaco na fase recetora foi a F7 (0,00 ± 0,00 %). A formulação F2, F8 e creme comercial 1 apresentaram uma permeação de cetoconazol de 0,03 ± 0,03 %, 0,03 ± 0,06 % e 0,01 ± 0,01 % respetivamente. Em relação aos parâmetros de permeação cutânea, o creme comercial 2 apresentou o valor mais elevado de fluxo, enquanto a reformulação F7 não apresentou fluxo. No parâmetro lag time, o creme comercial 2 apresentou o maior valor e a reformulação F7 o menor. Na análise estatística ANOVA, verificou-se que houve diferenças significativas entre as formulações finais e as de referência (p < 0,05). 2.4.3. Eficácia dos conservantes Durante o desenvolvimento de uma formulação é necessário verificar a atividade antimicrobiana própria da preparação, ou demonstrar-se que, se necessário, quando adicionado um ou mais conservantes apropriados, esta assegura uma proteção adequada contra os efeitos nocivos que podem surgir da contaminação ou da proliferação microbiana durante o período de conservação e de administração [24]. 34 A atividade antimicrobiana dos conservantes é testada contaminando artificialmente a formulação, através da inoculação de microrganismos apropriados, e conservando a preparação semeada a uma temperatura adequada. Os microrganismos estudados são: Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027; NCIMB 8626; CIP 82.118), Staphylococcus aureus (ATCC 6538; NCTC 10788; NCIMB 9518; CIP 4.83), Candida albicans (ATCC 10231; NCPF 3 179; IP 48.72) e Aspergillus niger (ATCC 16404; IMI 149007; IP 1431.83) Para além destes microrganismos especificados também podem ser analisados outros microrganismos que sejam relevantes para a formulação. A duração do ensaio e os critérios de aceitação, em termos de diminuição do número de microrganismos em função do tempo, variam para as diversas categorias de preparações farmacêuticas de acordo com o grau de proteção pretendido. No caso das reformulações estudadas, os critérios e os tempos de análise têm que ser os descritos para as preparações tópicas e locais, Tabela 19. Os critérios de aceitação para a avaliação da atividade antimicrobiana expõe-se na Tabela 19 em termos de redução logarítmica do número de microrganismos viáveis relativamente ao valor obtido no inóculo [24]. Tabela 19 - Critérios de aceitação [24]. Bactérias Fungos A B A B 2 dias 2 ---- Redução logarítmica 7 dias 14 dias 3 --3 -2 -1 28 dias SA SA SA SA SA - Sem Aumento 2.4.3.1. Resultados Os estudos de eficácia dos sistemas conservantes foram realizados nas reformulações finais, F2, F7 e F8. Os conservantes destas formulações são o sulfito de sódio e a imidazolidinil ureia. A reformulação F2, ao segundo dia apresentou resultado positivo no controlo da amostra, ou seja, a formulação apresentou contaminação. O mesmo sucedeu com a reformulação F7 ao sétimo dia. Como o controlo da amostra apresentou contaminação o ensaio da eficácia dos conservantes foi interrompido. Estes resultados indicam que o sulfito de sódio introduzido nestas duas reformulações não foi suficientemente eficaz para evitar ou limitar a proliferação microbiana. No caso da reformulação com imidazolidinil ureia, F8, os resultados estão demonstrados na Tabela 20. Tabela 20 - Ensaio da eficácia dos conservantes da reformulação F8, em redução logarítmica. Estirpes em Ensaio P. aeruginosa S. aureus C. albicans A. niger Inóculo (ufc/ml) 6,7x105 1,0x106 6,5x105 1,8x106 2 dias 4,13 4,30 ----- 7 dias 4,13 4,30 ----- 14 dias ----2,23 4,56 28 dias 4,13 4,30 4,11 4,56 35 Para que o conservante seja considerado eficaz é necessário que ocorra redução logarítmica em 3 e 2 potências dependendo do dia de análise e dos microrganismos estudados (Tabela 19). De acordo com a Tabela 20, a reformulação F8 revelou uma atividade microbiana que se encontra conforme com os critérios de aceitação de eficácia microbiana para as formulações tópicas indicadas na FP em vigor. 2.5. Discussão dos resultados As características organoléticas observadas para as reformulações finais, nomeadamente a cor pode significar que não houve sinais de degradação (oxidação) do cetoconazol. Assim um dos objetivos do presente trabalho foi concretizado, pelo menos até à data de conclusão do estudo. No entanto, deverão ser efetuados estudos de estabilidade de acordo com as normas ICH (International Conference on Harmonisation (ICH) of Stability testing of new drug subtances and products Q1A (R2), (ICH), 2003). As reformulações finais, F2, F7 e F8, foram sujeitas a uma condição de stress, neste caso centrifugação, para avaliar a estabilidade física de cada emulsão. A centrifugação, quando utilizada cuidadosamente, torna-se numa ferramenta útil para a avaliação e previsão da estabilidade de emulsões. A exposição de uma emulsão à centrifugação pode levar à separação da fase dispersa devido à cremagem ou coalescência. Esta separação de fases só ocorre quando a força de centrifugação é suficientemente elevada para levar à rutura da camada de emulgente absorvido que rodeia cada gotícula [32]. Nas condições utilizadas, para este ensaio, não ocorreu separação de fases em nenhuma das três reformulações, sendo um bom indicador de estabilidade das referidas emulsões. Também foi realizado este ensaio para os dois cremes comerciais, onde também não ocorreu separação de fases. O perfil reológico, determinado para as reformulações finais, foi de um fluido não newtoniano com comportamento reofluidificante (pseudoplástico). Ao analisar o gráfico é notória a existência de diferenças entre as reformulações, principalmente na F8. Esta disparidade poderá estar relacionada com a presença do excipiente quelante, presente apenas nesta reformulação. No entanto, aquando da análise da viscosidade aparente, a reformulação 8 não foi das reformulações finais mais viscosas. Porém, á que ter em conta que o procedimento de fabrico dos lotes laboratoriais não foi sempre o mesmo pois ocorreu manipulação pelo operador, o que poderá ter influenciado os resultados obtidos para os ensaios de reologia. Para os dois ensaios in vitro, foram utilizados dois cremes de referência, designados por creme comercial 1 e creme comercial 2, ambos com o mesmo teor em cetoconazol das reformulações finais desenvolvidas. No ensaio de cedência houve apenas um creme (creme comercial 1) que libertou metade da concentração inicial de fármaco. As restantes formulações apresentaram resultados de percentagem cedida muito próximos umas das outras, sendo que a reformulação F7 libertou 67,8 % de cetoconazol. O creme comercial 2 libertou 60,7 %. Podemos concluir que o creme comercial 1 não é o melhor veículo para a libertação do fármaco. No entanto, a reformulação F7 apresentou resultados bastantes favoráveis o que indica ser um veículo promissor. As outras formulações estão muito próximas pois neste estudo, não houve diferenças estatisticamente significativas entre as formulações, 36 o que poderá indicar que as diferenças na composição nestas formulações não influenciaram estes resultados. No ensaio de libertação de fármaco ocorreu a passagem de uma pequena quantidade de fase recetora para o compartimento dador, tendo assim ultrapassado a membrana sintética. A fase recetora é apenas constituída por propanediol e etanol, uma vez que durante o desenvolvimento desta fase observou-se que o cetoconazol precipitava na presença de água (Anexo-I). Os resultados obtidos no ensaio da permeação cutânea estão concordantes com os obtidos nos ensaios de cedência. Assim, no creme comercial 2, observou-se uma maior libertação de cetoconazol. Nas restantes formulações a percentagem de fármaco permeado foi muito reduzida, tendo-se obtido no máximo 0,03 % de cetoconazol na fase recetora. Tendo em conta que o objetivo nestas formulações é a ação no EC, o fármaco não deverá ultrapassar esta camada. Porém, apesar do creme comercial 2 ter permeado para além do EC, a concentração do fármaco foi residual, 0,19 %. Ainda que tenha ocorrido uma maior permeação de cetoconazol no creme comercial 2, o parâmetro cinético lag time foi maior para este creme, indicando uma retenção de cetoconazol mais acentuada no veículo, durante um período de tempo mais alargado. Relacionando o tamanho de gotícula com os resultados obtidos nos ensaios in vitro, verificou-se que as formulações com menor tamanho de gotícula foram as que obtiveram resultados melhores nos ensaios de libertação e de permeação na pele. Portanto, o tamanho de gotícula e a quantidade de fármaco cedido/permeado têm uma ligação direta. O ensaio da eficácia de conservantes revelou que a reformulação F8 com 0,5 % de imidazolidinil ureia assegura uma proteção microbiológica adequada contra os efeitos nocivos que podem surgir da contaminação ou da proliferação microbiana durante o período de conservação e de administração. Este conservante, imidazolidinil ureia, liberta formaldeído que é um agente irritante para a pele quando está livre. No entanto, este conservante pode ser utilizado quando a concentração de formaldeído livre não excede os 0,2 % [73], [74], [75], [76]. Uma formulação com 0,6 % de imidazolidinil ureia corresponde a 0,186 % de formaldeído livre, assim, a reformulação F8 não atinge a concentração máxima de formaldeído livre permitida [77]. 37 Capítulo 3 - Formulações inovadoras Neste capítulo, encontra-se descrito o desenvolvimento de duas formulações inovadoras aplicando tecnologias de produção de nano e microssistemas, de acordo com a pesquisa realizada (alínea 1.7Capítulo 1). O objetivo da encapsulação do cetoconazol nestes sistemas inovadores foi prevenir a sua degradação e permitir uma predisposição maior de cetoconazol no local de ação. Na escolha das formas farmacêuticas inovadoras foram tidos em consideração dois critérios: - A possível capacidade em obter um resultado mais favorável em comparação com as formas farmacêuticas convencionais; - As formulações serem facilmente transponíveis na indústria farmacêutica. As formulações desenvolvidas foram avaliadas em relação às suas propriedades físico-químicas. Também foram realizados ensaios in vitro e determinada a eficácia das formulações. 3.1. Emulsões A escolha de uma emulsão estável incidiu principalmente no seu processo de fabrico, pois é idêntico ao da formulação convencional. Para além disto, este veículo deveria ter o menor tamanho de gotícula possível e o cetoconazol tinha que estar dissolvido. 3.1.1. Matérias-primas As matérias-primas usadas para a preparação da formulação da emulsão estão representadas na Tabela 21. Tabela 21 - Características gerais de matérias-primas usadas no desenvolvimento galénico [55], [78]. Matéria-prima Cetoconazol Estearato de sucrose Distearato de sucrose Parafina Líquida Octildodecanol Etoxidiglicol Álcool cetílico Monoestearato glicerilo HPMC INCI name Ketoconazole Sucrose Stearate Sucrose Distearate Paraffin oil Octyldodecano Ethoxydiglycol Cetyl Alcohol Glyceryl stearate Hidroxipropilmetilcelulose Função Antifúngico Tensioativo Tensioativo Solvente Solvente Solvente Tensioativo Tensioativo Controlador viscosidade 3.1.2. Equipamentos utilizados para a preparação da formulação Os equipamentos utilizadas para a execução da formulação e dos ensaios são: - Balanças Analíticas: modelo AE260 Delta Range® - Mettler Tolero®; modelo PB303 Delta Range® - Mettler Toledo®; 38 - Banho-maria termostatizado: GERHARTT; - Banho de Ultra-sons: modelo Bransonic® Ultrasonic cleaner B-5200 E1-Sotel; - Placa de agitação magnética: Variomag Telesystem, Thermo scientific; - Dispersor: Ultra-turrax® T25 e Ultra-turrax® Basic 10, IKA®, Deutschland, Germany: Haste: S25N – 25G, S25N – 25F, S10N – 5G; 3.1.3. Métodos Distribuição do tamanho de gotícula A distribuição de tamanho foi medida por espalhamento e luz dinâmica utilizando o equipamento Zetasizer Nano S (Malvern Instruments Ltd, Worcestershire, UK). Este equipamento apresenta uma faixa de medição de 3 nm a 10 µm de diâmetro. O líquido utilizado para a dispersão das partículas foi a água em célula apropriada. A amostra (20 µl) foi diluída em 2 ml de água. Cada amostra foi lida 3 vezes. Os resultados obtidos foram apresentados na forma (média ± DP, n=3). O equipamento permite ainda determinar o índice de polidispersão (PdI) que fornece informações sobre a homogeneidade da distribuição dos tamanhos. Para esta forma farmacêutica também se realizaram leituras no equipamento Malvern Mastersizer 2000 (Malvern Instruments Ltd, Worcestershire, UK) em conjunto com o acessório Hydro 2000 S. O método está descrito no capítulo 2 - Reformulações. Doseamento substância ativa Para o doseamento de cetoconazol, utilizou-se o método HPLC (Sistema Beckman: Detetor: 166 Detectro, System Gold®; Bomba: 126 Solvent Module, System Gold®; Injetor automático: MIDAS, Holland Spark). A coluna utilizada foi Lichrospher 100 RP-18 5 micra (250 milímetros x 4mm). Para este método, a fase móvel foi constituída por 55 % (v / v) de acetonitrilo e 45 % (v / v) de tampão fosfato. Uma taxa de fluxo de 1,5 ml / minuto foi usada com um volume de injeção de 20 µL. Foi utilizado um comprimento de onda de 254 nm. O tempo de execução foi de 6 minutos para cada injeção. Na preparação das amostras foi utilizado como solvente metanol. Determinação da viscosidade aparente A viscosidade aparente foi determinada com recurso ao viscosímetro LVDV-E (Brookfield® Engeneering Laboratories, EUA), na velocidade de corte de 61,18 s-1 e com a agulha 64, após um tempo de estabilização de 30 segundos, à temperatura ambiente (25 ± 2°C). Determinação do pH Método descrito no capítulo 2 - Reformulações 39 Avaliação in vitro da libertação do gel de cetoconazol O perfil de libertação de cetoconazol foi realizado em células de difusão de Franz de 2,5 cm2. A membrana sintética utilizada foi a membrana de nitrato de celulose de 0,45 µm. A fase recetora usada foi constituída por propilenoglicol / etanol 96 % (1:1) (Anexo-I). A fase recetora foi colocada no compartimento recetor por forma a esta ficar em contacto com a membrana sintética. As amostras das formulações em estudo (aproximadamente 2 g) foram aplicadas na superfície da membrana sintética no compartimento dador, após a adição da amostra o compartimento dador foi selado com Parafilm ®. As células de Franz foram imersas num sistema de banho a 32 ± 2°C sob agitação. Foram recolhidas amostras (2 ml) a partir do fluido recetor em tempos pré-determinados: 0,5, 1, 2, 3, 5, 6 horas; e de seguida foi reposta a mesma quantidade em fase recetora fresca. O teor de cetoconazol nas amostras recolhidas foi analisado pelo método de espectrofotometria UV (U-2001 spectrophotometer, Hitachi) a 242,6 nm e foi utilizado como solvente o metanol. Para cada formulação foram realizadas três réplicas. Os dados obtidos neste estudo foram ajustados aos dois modelos cinéticos descritos no capítulo 2. Avaliação in vitro da permeação do gel de cetoconazol Método descrito no capítulo 2 - Reformulações Avaliação in vitro da retenção de cetoconazol na pele O estudo de retenção da pele foi realizado por meio de fita adesiva de acordo com o método descrito na Guideline OECD, 2004 [79]. No fim do ensaio in vitro de permeação da pele, descrito no capítulo 2, as amostras de pele foram lavadas de forma a retirar o excesso de formulação e secas com papel. De seguida, as amostras de pele foram colocadas sobre uma superfície lisa, o EC foi removido aplicando 20 fitas adesivas (Scotch® 3M, UK). A fim de melhorar a reprodutibilidade da técnica de remoção de fita, um cilindro (2 kg) e um disco de acrílico foram usados, a pressão foi aplicada durante 10 segundos em cada fita. Todas as fitas (excluído a primeira) com o EC removido e a pele restante (epiderme e derme viáveis), que foi cortada em pedaços pequenos, foram usadas no processo de extração anteriormente validado. Neste processo de extração, foram adicionados 3,0 ml de fase recetora e 0,5 ml de metanol às fitas com EC e aos pedaços de pele cortados. Ambas as amostras foram vigorosamente agitadas durante 2 minutos num misturador vertical (Kinematica AG), e sonicadas durante 20 minutos, a fim de obter a lise celular. A solução final foi centrifugada (Megafuge 1.0 R, Heraeus instruments) a 30000 rpm durante 10 minutos e o sobrenadante foi filtrado (0,2 µm) e injetado no HPLC (Sistema Beckman: Detetor: 166 Detectro, System Gold®; Bomba: 126 Solvent Module, System Gold®; Injetor automático: MIDAS, Holland Spark) para quantificar a quantidade (%) de cetoconazol retido nessas camadas da pele. Análise estatística Método descrito no capítulo 2 - Reformulações 40 3.1.4. Desenvolvimento galénico - Ensaios preliminares O tensioativo estearato de sucrose foi utilizado para a formação desta emulsão. Trata-se de um tensioativo não iónico pouco irritante para a pele e olhos. Apresenta um valor de EHL 15, o que indica ser um ótimo tensioativo para formar emulsões O/A. Quando utilizado sozinho, o fabricante, recomenda o processo de fabrico a frio, podendo ser utilizado tanto na fase oleosa como na fase aquosa. Em relação à concentração recomendada, esta deverá estar entre 1,0 a 5,0 % [78], [80]. Tendo por base as recomendações mencionadas, foi necessário estudar a fase oleosa e o método de fabrico para a formação da emulsão. A primeira fase oleosa utilizada na formulação foi a parafina líquida, formulação emul líquida 1, ilustrada na Tabela 22. Em relação às características organoléticas, esta formulação apresentou cor banca/translúcida e aspeto homogéneo. No entanto, analisando o tamanho de gotícula, obtiveram-se tamanhos na ordem dos 47 µm (d(0,9): 46,9 ± 0,2 µm, Span: 3,2 ± 0,1). Tabela 22 - Constituição da formulação emul líquida 1 (%, m/m). Matéria-prima Parafina líquida Estearato de sucrose Água purificada Formulação emul líquida 1 (%, m/m) Fase Oleosa 1 Fase Aquosa 1 98 Devido aos resultados obtidos na formulação emul líquida 1 procedeu-se à alteração da fase oleosa. Como se pretende obter uma formulação com tamanho de gotícula pequena (< a 500 nm) decidiu-se então utilizar como fase oleosa o óleo utilizado na formação da emulsão O/A convencional (capítulo 2), o octildodecanol. Foram desenvolvidas três formulações, as formulações emul líquida 2, 3 e 4, cuja composição apenas difere na percentagem de tensioativo (Tabela 23). O método de produção destas formulações encontra-se ilustrado na Figura 11. Tabela 23 - Composição das formulações emul líquida 2, 3 e 4 (%, m/m). Matéria-prima Octildodecanol Estearato de sucrose Água purificada Formulação emul Formulação emul líquida 2 (%, m/m) líquida 3 (%, m/m) Fase Oleosa 1 1 Fase Aquosa 1 2 98 97 Formulação emul líquida 4 (%, m/m) 1 3 96 41 Estearato de sucrose + Água purificada Fase Oleosa Homogeneização com vareta de vidro Fase Aquosa Ultra-turrax® T25 2 minutos, 15 000 rpm Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Emulsão O/A Figura 11 - Método de produção das formulações emul líquida 1, 2, 3 e 4. As formulações da Tabela 23 apresentaram, em termos de características organoléticas, cor branca e aspeto homogéneo, à exceção da formulação emul líquida 2 que apresentou uma cor branca mais translúcida, como sucedeu anteriormente com a formulação emul líquida 1. Em relação ao tamanho de gotícula no tempo zero, a formulação emul líquida 2 apresentou 21 µm (d(0,9): 21,3 ± 0,2 µm, Span: 2,0 ± 0,0), a formulação emul líquida 3 20 µm (d(0,9): 19,7 ± 0,4 µm, Span: 2,2 ± 0,0) e a formulação emul líquida 4 18 µm (d(0,9): 18,0 ± 0,3 µm, Span: 2,4 ± 0,1). Com os resultados obtidos observou-se que quanto maior a quantidade de tensioativo menor o tamanho de gotícula. Após 5 dias os resultados das três formulações em termos do tamanho de gotícula foram: 24 µm (d(0,9): 24,0 ± 0,1 µm, Span: 2,3 ± 0,0), 35 µm (d(0,9): 35,2 ± 5,0 µm, Span: 3,2 ± 1,0) e 50 µm (d(0,9): 49,5 ± 16,2 µm, Span: 5,3 ± 1,8) para a formulação emul líquida 2, 3, 4, respetivamente. Verificou-se um aumento significativo no tamanho de gotícula das formulações com maior quantidade de tensioativo (Figura 12). Volume (%) 8 6 4 2 0 0 1 100 Tamanho de partícula (µm) Formulação emul líquida 2: T0 10000 Formulação emul líquida 2: Após 5 dias Figura 12 - Representação gráfica do tamanho de gotícula da formulação emul líquida 2 no tempo zero e após 5 dias. 42 Após análise dos resultados anteriores decidiu-se continuar o estudo apenas com a formulação emul líquida 2. Por forma a otimizar o tamanho de gotícula procedeu-se à utilização de dois equipamentos homogeneizadores, o Ultra-Turrax® T25 e o Ultra-Turrax® Basic 10. O processo de fabrico, representado na Figura 11, sofreu modificações no tempo de homogeneização, em ambos os Ultra-Turrax®, e na velocidade de homogeneização, no equipamento Ultra-Turrax® Basic 10. O processo de fabrico de ambas as formulações está esquematizado na Figura 13. Para melhor compreensão a formulação emul líquida 2 é referente ao Ultra-Turrax® T25 e a formulação emul líquida 2A ao homogeneizador Ultra-Turrax® Basic 10 (homogeneizador com uma haste mais pequena). a Formulação emul líquida 2 Estearato de sucrose + Água purificada Homogeneização com vareta de vidro Fase Oleosa Formulação emul líquida 2A b Estearato de sucrose + Água purificada Homogeneização com vareta de vidro Fase Oleosa Fase Aquosa Fase Aquosa Ultra-Turrax® T25 Ultra-Turrax® Basic 10 5/10 minutos, 15 000 rpm Emulsão O/A Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) 5/10 minutos, 30 000 rpm Emulsão O/A Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 13 - a) Processo de fabrico melhorado da formulação emul líquida 2. b) Processo de fabrico da formulação emul líquida 2A. Tabela 24 - Tamanho de gotícula da formulação emul líquida 2 e 2A a tempos de homogeneização diferentes (média ± DP, n=5). Formulação emul líquida 2 Formulação emul líquida 2A Duração da Homogeneização 5 minutos 10 minutos (d(0,9), µm) Span (d(0,9), µm) Span 32,5 ± 1,7 2,7 ± 0,0 40,7 ± 2,8 4,1 ± 0,0 10,8 ± 1,3 22,8 ± 2,6 1,9 ± 0,0 5,1 ± 0,0 O resultado do tamanho de gotícula das duas formulações está indicado na Tabela 24. Quanto maior o tempo de homogeneização menor o tamanho de gotícula, para ambas as formulações. Na formulação emul líquida 2 houve um aumento do tamanho de gotícula de 24 µm para 40 µm, apesar do tempo de homogeneização ser ligeiramente superior. Este aumento poderá ter ocorrido devido à utilização de uma haste do Ultra-Turrax® T25 diferente. A formulação emul líquida 2A foi a que apresentou tamanho de gotícula menor, 1,9 µm, e por esta razão foi utilizada nos próximos estudos. 43 À formulação emul líquida 2A, foram acrescentados viscosantes com o objetivo de formar um creme O/A. Foram adicionados os excipientes álcool cetílico e a monoestearato glicerilo, sendo as mesmas matérias-primas para a formação do creme O/A convencional (capitulo 2). A formulação encontra-se representada na Tabela 25 e o método de fabrico na Figura 14. Tabela 25 - Composição da formulação emul creme 2A (%, m/m). Matéria-prima Estearato de sucrose Octildodecanol Álcool cetílico Monoestearato glicerilo Formulação emul creme 2A (%, m/m) Fase Oleosa 1,0 1,0 2,5 7,5 Fase Aquosa Água purificada 88,0 Fase Oleosa Fase Aquosa Banho a Temperatura máxima = 70°C Banho a Temperatura máxima = 70C Fase Aquosa Ultra-turrax® Basic 10, até arrefecimento total, a 30 000 rpm Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Emulsão O/A Figura 14 - Método de fabrico para a formação do creme O/A. O creme obtido apresentou cor branca e aspeto homogéneo. No entanto, ocorreu um aumento no tamanho de gotícula da formulação emul líquida 2A para a formulação emul creme 2A, isto é, passou de 1,9 µm para 8,9 µm (d(0,9): 8,9 ± 1,1 µm, Span: 2,9 ± 0,4) respetivamente. Assim, por forma a obter um tamanho de gotícula mais baixo, colocou-se o tensioativo primário na fase aquosa, uma vez que este tensioativo pode ser aplicado em qualquer uma das fases. Os resultados obtidos não foram os esperados, porque a formulação não adquiriu viscosidade e o tamanho de gotícula foi maior, na ordem dos 22,0 µm (d(0,9): 22,1 ± 0,9 µm, Span: 12,9 ± 0,5). Outro ponto importante para a obtenção da fórmula inovadora foi a dissolução do cetoconazol, porque ao contrário do creme convencional para esta formulação pretendia-se uma maior dissolução do cetoconazol, com o objetivo de aumentar o fármaco disponível no EC. Para este efeito, a substância ativa foi homogeneizada com octildodecanol em duas proporções (m/m), 1:1 e 1:2. Verificou-se que ambas as formulações apresentaram cor branca. No entanto, a proporção 1:2 apresentou menor viscosidade. De acordo com os resultados obtidos, procedeu-se então à realização da formulação com 4 % de octildodecanol. Por forma a compreender as alterações que este aumento iria trazer, procedeu- 44 se ao fabrico do placebo de acordo com o método de fabrico da Figura 13-b. Esta formulação apresentou cor branca e aspeto homogéneo e em relação ao tamanho de gotícula mostrou gotículas de 1,0 µm (d(0,9): 1,0 ± 0,0 µm, Span: 2,8± 0,0). Não houve diferenças significativas no tamanho de gotícula aquando do aumento da percentagem de octildodecanol, de 1 % para 4 %. Sendo os resultados favoráveis, procedeu-se à formação do creme placebo, como realizado anteriormente, através do processo de fabrico indicado na Figura 14. Este creme apresentou cor branca e aspeto homogéneo e a análise ao tamanho de gotícula revelou que este creme continha gotículas na ordem dos 13,0 µm (d(0,9): 12,8 ± 0,4 µm, Span: 2,6 ± 0,1) . O fabricante do tensioativo estearato de sucrose recomenda a utilização deste tensioativo com outro, o distearato de sucrose, referindo que a utilização dos dois excipientes melhora a estabilidade das emulsões. Deste modo, testou-se a junção dos dois tensioativos, com a quantidade e procedimento sugeridos pelo fabricante. Preparam-se duas formulações (Tabela 26) de acordo com o processo de fabrico da Figura 15. Tabela 26 - Composição da formulação emul creme 5 e 6 (%, m/m). Matérias-primas Estearato de sucrose Distearato de sucrose Octildodecanol Álcool cetílico Monoestearato glicerilo Estearato de sucrose Distearato de sucrose Água Purificada Formulação emul creme 5 (%, m/m) Fase Oleosa 1,0 3,0 4,0 2,5 7,5 Fase Aquosa ----82,0 Formulação emul creme 6 (%, m/m) ----4,0 2,5 7,5 1,0 3,0 82,0 45 Fase Oleosa Fase Aquosa Banho a Temperatura máxima= 70-75°C. Banho a Temperatura máxima= 70-75C. Fase Oleosa Adicionou-se lentamente à fase aquosa. Fase Aquosa Homogeneizou-se, no Ultraturrax® Basic 10, durante 5 minutos, a 30 000 rpm. Emulsão O/A Agitou-se até aos 35°C, com vareta de vidro. Emulsão O/A Homogeneizou-se, no Ultraturrax® Basic 10, durante 1 minutos, a 30 000 rpm Emulsão O/A Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 15 - Processo de fabrico das formulações emul creme 5 e 6. Tabela 27 - Resultado da análise do tamanho de gotícula das formulações emul creme 5 e 6 (média ± DP, n=5). Tamanho de gotícula d(0,9), µm Span Formulação emul creme 5 14,6 ± 2,4 4,7 ± 0,7 Formulação emul creme 6 14,8 ± 1,4 3,1 ± 0,1 Em relação às características organoléticas, ambas as formulações apresentaram cor branca e aspeto homogéneo. Ambas apresentaram aproximadamente 14 µm de tamanho de gotícula (Tabela 47). Como se pretendia obter tamanhos de gotícula inferiores a este valor, sujeitou-se a formulação emul creme 5 a maior tempo de homogeneização, 10 minutos, utilizando o Ultra-turrax Basic 10. No entanto, este procedimento não resultou pois a formulação não sofreu qualquer alteração. Após a realização de ensaios de solubilidade em vários excipientes, verificou-se que o cetoconazol era solúvel em etoxidiglicol. Deste modo, procedeu-se ao desenvolvimento de novas formulações 46 utilizando este solubilizante (Tabela 28). O método de fabrico está representado na Figura 13-b. Os resultados estão expressos na Tabela 29 e Figura 16. Tabela 28 - Composição da formulação emul líquida 7, 8, 9 e 10 (%, m/m). Matérias-primas Formulação emul líquida 7 (%, m/m) Etoxidiglicol 1 Estearato de sucrose Água Purificada 1 98 Formulação emul líquida 8 (%, m/m) Fase Oleosa 2 Fase Aquosa 2 96 Formulação emul líquida 9 (%, m/m) Formulação emul líquida 10 (%, m/m) 5 10 5 90 10 80 Tabela 29 - Características da formulação emul líquida 7, 8, 9 e 10. Características Organoléticas (cor, aspeto) Tamanho de gotícula (nm) / PdI (média ± DP, n=3) Formulação emul líquida 7 Cor branca/translúcid a, homogéneo Formulação emul líquida 8 Cor branca/translúcid a, homogéneo Formulação emul líquida 9 Cor branca/ pouco translúcida, homogéneo Formulação emul líquida 10 Cor branca, homogéneo, bolhas de ar 386,9 ± 21,4 / 0,4 ± 0,1 339,4 ± 8,2 / 0,3 ± 0,0 344,6 ± 11,3 / 0,2 ± 0,0 --- Intensidade (%) Aspeto macroscópico 15 10 5 0 1 100 Tamanho (nm) 10000 Formulação emul líquida 9 Figura 16 - Tamanho de gotícula da formulação emul líquida 9. Comparando os resultados, as formulações são muito semelhantes tanto nas características organoléticas como no tamanho de gotícula, à exceção da formulação emul líquida 10. Sendo o objetivo dissolver a substância ativa no etoxidiglicol quanto maior a percentagem deste excipiente maior será a probabilidade de dissolver a substância ativa. De entre as formulações que apresentaram os melhores resultados a formulação escolhida foi a 9. Apesar de se ter 5 % (m/m) do solubilizante na formulação selecionada, esta percentagem foi muito pequena para conseguir dissolver 2 % (m/m) de cetoconazol, quantidade introduzida no creme convencional, tendo sido apenas possível introduzir 0,13 % de substância ativa na formulação. 47 A introdução do cetoconazol (0,13 %) na formulação emul líquida 9 não alterou as características organoléticas. Em relação ao tamanho de gotícula a introdução desta substância ativa não alterou significativamente o tamanho de gotícula ((375,4 ± 5,5; PdI: 0,3 ± 0,1) nm). Assim, sendo esta formulação a mais promissora deu-se continuidade ao estudo. Esta formulação não apresentava a viscosidade pretendida. A fim de melhorar este parâmetro adicionou-se um agente gelificante, a hidoxipropilmetilcelulose (HPMC). Inicialmente testaram-se três percentagens de HPMC 0,5 %, 1,0 % e 2,0 % em água. Através de inspeção visual, a mais apelativa foi a formulação com 1,0 % HPMC. Escolhida a percentagem de HPMC procedeu-se à geleificação da formulação mais promissora, inicialmente o placebo da formulação emul líquida 9 e à posteriori a formulação emul líquida 9 com 0,13 % de cetoconazol. Ambas as formulações apresentaram cor banca e aspeto homogéneo. Em termos do tamanho de gotícula, o placebo e a formulação com 0,13 % cetoconazol apresentaram aproximadamente 90 µm. Formulação Final Considerou-se como formulação final a formulação emul 9 gelificada com HPMC e com 0,13 % de cetoconazol. A formulação foi posteriormente caracterizada. Características físicas e químicas: A formulação final apresentou cor branca e aspeto homogéneo, tanto para o placebo como para a formulação com substância ativa, como é possível verificar pela Figura 17. Com S.A Placebo Figura 17 - Imagem da formulação 9 com 0,13 % de cetoconazol (esquerda) e o respetivo placebo (direita). Foram realizados ensaios como, determinação do tamanho de gotícula, do pH e da viscosidade da formulação final e respetivo placebo. Também se efetuou o doseamento do cetoconazol na formulação final, formulação emul 9 gel com 0,13 % de cetoconazol. Os resultados destes ensaios estão representados na Tabela 30 e Figura 18. 48 Tabela 30 - Resultados das características físico-químicas da formulação final com cetoconazol e respetivo placebo. Tamanho de gotícula (média ± DP, n=5) Formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol Placebo Formulação emul 9 gel d(0,9), µm Span pH Viscosidade aparente (Pa.s) Doseamento (%) (média ± DP, n=3) 90,8 ± 3,4 1,8 ± 0,1 7,2 0,3 94,4 ± 0,7 84,2 ± 3,0 1,0 ± 0,1 7,0 0,4 --- Volume (%) 10 8 6 4 2 0 0 1 100 Tamanho de partícula (µm) 10000 Figura 18 - Representação da distribuição de tamanhos de gotícula da formulação final com cetoconazol. Relativamente à viscosidade, em termos macroscópicos, a formulação final apresentou uma consistência adequada para aplicação tópica. Avaliação in vitro da cedência de cetoconazol do gel Neste ensaio foram analisados a formulação final e o creme comercial com 2 % de cetoconazol, ambas em n=3 vezes. O perfil de cedência de cetoconazol da formulação em estudo e do creme comercial encontra-se ilustrado pela Figura 19. Os parâmetros cinéticos estão expressos na Tabela 31. 49 a Quantidade cetoconazol cedida (µg/cm 2) 6300 5400 4500 3600 2700 1800 900 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (h) Cetoconazol cedido (%) Formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol Creme comercial com 2 % de cetoconazol 70 60 50 40 30 20 10 0 b 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (h) Formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol Creme comercial com 2 % de cetoconazol Figura 19 - Perfil de cedência in vitro de cetoconazol da formulação emul 9 gel e creme comercial (média ± DP, n=3). a) Quantidade de cetoconazol (µg/cm2) cedido. b) Percentagem de cetoconazol cedido. Tabela 31 - Parâmetros cinéticos obtidos no modelo de Ordem Zero e no modelo de Higuchi para a formulação final e de referência (média ± DP, n=3). Formulação final Creme comercial k 119,22 ± 88,90 683,12 ± 215,21 Modelo Ordem Zero b R2 277,19 ± 0,58 ± 0,16 134,87 391,54 ± 0,97 ± 0,02 162,03 Modelo Higuchi k b R2 426,21 ± -42,81 ± 0,68 ± 0,17 314,13 228,31 2264,37 -1163,53 0,97 ± 0,01 ± 710,09 ± 363,22 Ao fim de 6 horas, a formulação emul 9 gel com 0,13 % de cetoconazol e o creme comercial com 2 % cetoconazol, libertaram 34,3 ± 21,0 % (822 µg/cm2) e 10,4 ± 0,9 % (4576 µg/cm2) de fármaco, respetivamente. A partir da análise estatística ANOVA, verificou-se que houve diferenças significativas entre os perfis de libertação de cetoconazol das duas formulações estudadas (p < 0,05). Avaliação in vitro da permeação do gel de cetoconazol Este ensaio foi realizado em células de Franz de 1 cm2, onde se utilizou como membrana pele porco recém-nascido para separar a fase dadora da recetora. As formulações, tanto a formulação final 50 como o creme comercial, foram analisadas em n=6 vezes. Os resultados da permeação de cetoconazol Quantidade cetoconazol permeada (µg/cm2) estão indicados na Figura 20. Os parâmetros de permeação estão indicados na Tabela 32. 20 a 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 12 14 Tempo (h) Cetoconazol permeado (%) Formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol 16 18 20 22 24 26 Creme comercial com 2 % cetoconazol 0,5 b 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 Tempo (h) Formulação emul 9 gel com 0,13% cetoconazol 16 18 20 22 24 26 Creme comercial com 2% Cetoconazol Figura 20 - Permeação da pele in vitro de cetoconazol da formulação emul 9 gel e creme comercial (média ± DP, n=6). a) Quantidade de cetoconazol (µg/cm2) permeado. b) Percentagem de cetoconazol permeado. Tabela 32 - Parâmetros da permeação cutânea da formulação final e do creme comercial (média ± DP, n=6). Formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol Creme comercial com 2 % cetoconazol Fluxo (µg/cm2/h) Kp (cm/h) Lag time 0,05 ± 0,05 2,9x10-5 ± 3,3x10-5 4,75 ± 0,00 0,57 ± 0,18 2,9x10-5 ± 8,9 x10-6 1,55 ± 0,71 Após 24 horas, a formulação final e o creme comercial, permearam 0,20 ± 0,22 % e 0,19 ± 0,07 % de fármaco, respetivamente. Ao efetuar a análise estatística ANOVA, averiguou-se que não houve diferenças significativas entre a formulação final e o creme comercial (p > 0,05). 51 Avaliação in vitro da retenção de cetoconazol na pele A pele que foi utilizada no ensaio da permeação de cetoconazol, ensaio anterior, foi utilizada para determinar a quantidade de cetoconazol existente no EC e nas camadas viáveis da pele (epiderme e derme). Os resultados deste ensaio encontram-se ilustrados na Figura 21. 1,4 Formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol 10 8 Creme comercial com 2 % cetoconazol 6 4 1,2 Cetoconazol (%) Quantidade de cetoconazol (ug/ml) 12 1 Creme comercial com 2 % cetoconazol 0,8 0,6 0,4 2 0,2 0 0 EC Formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol Camadas viaveis da pele EC Camadas viaveis da pele Figura 21 - Quantidade (esquerda) e percentagem (direita) de cetoconazol retido no EC e camadas viáveis da pele, da formulação emul 9 gel e de um creme comercial (média ± DP, n=3). Os valores de fármaco para a formulação final foi de 0,76 ± 0,46 % para o EC e de 0,33 ± 0,10 % para as camadas viáveis da pele. No caso do creme comercial, obteve-se 0,10 ± 0,03 % para o EC e 0,04 ± 0,01 % para as camadas viáveis da pele de cetoconazol. 3.1.5. Discussão dos resultados No início deste estudo era pretendido a formação de uma emulsão com 2 % (m/m) de cetoconazol. No entanto, apenas foi possível introduzir 0,13 % (m/m) de substância ativa na formulação final, uma vez que se pretendia a dissolução do cetoconazol. Esta pequena quantidade de substância ativa poderá não invalidar a eficácia da formulação, visto tratar-se de um produto diferente da formulação convencional, principalmente na dissolução do cetoconazol na formulação e no tamanho da gotícula, fatores que influenciam os resultados da cedência e da permeação. A formulação final, formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol, e respetivo placebo apresentaram cor branca opaca, aspeto homogéneo e tamanho de gotícula na ordem dos 90 µm. A gelificação da formulação final levou a algumas alterações na formulação, isto porque as formulações no estado líquido apresentaram cor esbranquiçada translúcida, não opaca e tamanho de gotícula na ordem dos 360 nm. Como mencionado anteriormente, as microemulsões líquidas são transparentes e apresentam tamanho de gotícula inferior a 100-200 nm. Os resultados obtidos da formulação final no estado líquido não permitiram obter uma microemulsão. O tensioativo utilizado na formulação aparentemente não foi suficiente para originar uma microemulsão. Possivelmente, uma mistura de tensioativos, adição de um 52 co-tencioativo à formulação, poderia obter uma formulação transparente e consequentemente redução do tamanho de gotícula suficiente para estar na gama de tamanho de gotículas das microemulsões. Isto porque, muitos tensioativos não são capazes de reduzir suficientemente a tensão interfacial entre as duas fases, o que origina tamanhos de gotículas maiores e consequentemente sistemas opacos/translúcidos. O mesmo não acontece quando há a adição de um co-tensioativo à formulação, porque a mistura de tensioativos é mais eficiente na redução da tensão interfacial entre óleo-água, proporcionando a redução máxima do tamanho de gotícula da fase dispersa, levando assim à formação de sistemas opticamente transparentes [36]. A formulação final líquida não é uma microemulsão mas sim uma nanoemulsão, porque este tipo de formulações podem ser transparentes/translúcidas ou leitosas, dependendo do tamanho de gotícula. Outro indício que afirma esta possível conclusão é o processo de fabrico, isto porque a formulação final foi sujeita a energia mecânica para a sua formação, no caso das microemulsões normalmente a emulsificação é designada espontânea, no entanto, nas nanoemulsões é necessário energia de entrada para a sua formação. O ensaio de cedência in vitro permitiu avaliar a capacidade que o fármaco possui para se libertar do veículo. Na Figura 19, está representado o perfil de cedência da formulação emul 9 gel e do creme comercial. Tratam-se de veículos com características e teores de substância ativa diferentes. Verificouse que em ambos os veículos a quantidade de fármaco libertado não atingiu metade da quantidade inicial introduzida na fase dadora. Também se verificou, que a formulação emul 9 gel libertou uma maior percentagem de cetoconazol. Pode-se concluir que este veículo é melhor para a cedência de cetoconazol quando comparado com o creme comercial. Este resultado pode estar relacionado com a presença de um promotor cutâneo (etoxidiglicol) na formulação e também ao facto da substância ativa estar dissolvida na formulação, e não suspensa como acontece com o creme convencional. O etoxidiglicol para além de solubilizar o fármaco é também descrito como um promotor cutâneo [81], [82]. O modelo de Higuchi descreve estatisticamente melhor o mecanismo de libertação do fármaco, uma vez que apresentou o melhor valor de R2. A análise estatística (ANOVA) indica que existem diferenças significativas entre as duas formulações, o que está de acordo com o delineamento do estudo de desenvolvimento. O estudo de permeação permite adquirir conhecimento sobre o comportamento do fármaco quando aplicado no órgão onde é desejada a sua ação, a pele. Pela análise da Figura 12, observou-se que a quantidade de fármaco permeada ao longo do tempo foi muito reduzida, 0,20 % de fármaco, apesar da quantidade inicial de cada formulação ser bastante diferente. Este resultado indica que a pele é uma barreira muito difícil de permear pois a presença do promotor cutâneo, o menor tamanho da gotícula e a dissolução do fármaco não foram suficientes para ultrapassar a pele. A formulação emul 9 gel permitiu obter os mesmos resultados que o creme comercial. A partir da Tabela 32, verifica-se que a formulação inovadora apresenta menor fluxo que o creme comercial, o que indica que o cetoconazol na formulação emul 9 gel tem maior dificuldade em permear o EC. Os resultados obtidos para o lag time indicam qual a formulação onde o cetoconazol demorou mais tempo a ser detetado na fase recetora das células de 53 Franz, o que poderá significar que o fármaco fica retido durante mais tempo no EC. Neste caso, foi a formulação emul 9 gel que obteve maior valor de lag time, permitindo uma ação mais duradora para as infeções superficiais da pele. O estudo da retenção de cetoconazol na pele teve por objetivo verificar em que camada a deposição de cetoconazol era mais acentuada, se no EC ou nas camadas viáveis da pele (epiderme e derme), sendo neste caso a retenção ideal no EC. Através da figura da percentagem de cetoconazol permeado, Figura 21 - direita, verificou-se entre as duas formulações estudadas, formulação emul 9 gel e creme comercial, que foi a formulação inovadora que apresentou maior percentagem de fármaco retido no EC e nas camadas viáveis da pele, sendo a camada mais superficial da pele a que apresentou maior retenção de fármaco. No entanto, as formulações estudadas são muito distintas no teor em cetoconazol. Analisando a Figura 21 - esquerda, observa-se que em ambas as formulações a retenção de cetoconazol foi mais acentuada no EC. Porém, foi a formulação emul 9 gel que apresentou menor quantidade de fármaco retido nas camadas da pele estudadas. Apesar disso, a diferença não é significativa, isto é, difere em 2 µg/ml no EC e 0,74 µg/ml nas camadas viáveis da pele em relação ao creme comercial. Assim, apesar da grande diferença no teor de cetoconazol nas formulações a ação das duas formulações foi muito semelhante, mostrando capacidades promissoras na formulação emul 9 gel. 3.2. Lipossomas A segunda formulação inovadora escolhida foram os lipossomas convencionais. Normalmente o processo de fabrico destes sistemas é muito complexo para aplicação numa indústria farmacêutica. No entanto, foi utilizado um produto ao qual apenas é necessário adicionar a substância ativa e a água, e com agitação são obtidos os lipossomas. Com estes lipossomas instantâneos a sua expansão para uma linha de produção é mais acessível e menos dispendiosa que os processos convencionais para obtenção destas vesículas. 3.2.1. Matérias-primas As matérias-primas utilizadas para a execução da formulação com lipossomas estão indicadas na Tabela 33. 54 Tabela 33 - Características gerais das matérias-primas utilizadas no desenvolvimento galénico das formulações lipossomais [55], [83], [84]. Matéria-prima Cetoconazol INCI name Ketoconazole Função Antifúngico Propanediol e Lecitina Propanediol (and) Lecithin Fosfolípido constituinte das bicamadas Lecitina e Glicerina e Álcool Lecithin (and) Glycerin (and) Alcohol Fosfolípido constituinte das bicamadas Propilenoglicol Etoxidiglicol 1,2-Propanediol Ethoxydiglycol Solvente Solvente 3.2.2. Equipamentos utilizados para a preparação da formulação Os equipamentos utilizados para a preparação da formulação e ensaios são: - Balanças Analíticas: modelo AE260 Delta Range® - Mettler Tolero®; modelo PB303 Delta Range® - Mettler Toledo®; - Banho de Ultra-sons: modelo Bransonic® Ultrasonic cleaner B-5200 E1-Sotel; - Placa de agitação magnética: Variomag Telesystem, Thermo scientific; - Homogeneizador: Heidolph Instruments GmbH & Co. KG, Schwabach,Germany: Haste: Hélice anelar [85]; 3.2.3. Métodos Dissolução do cetoconazol Pesou-se 0,1 g de cetoconazol para um gobelé. De seguida, foram medidos 2,0 ml de solvente, em pipeta volumétrica, e foram adicionados ao gobelé que continha a substância ativa. Misturaram-se as matérias-primas numa placa de agitação com o auxílio de um magnete, até à sua homogeneização. Registaram-se os resultados obtidos. Doseamento da substância ativa Método descrito na alínea 3.1.3- Métodos (Emulsões) Eficiência de Incorporação (EI) Para determinar a quantidade de cetoconazol incorporado nos lipossomas foi necessário recorrer à ultra-centrifugação. Num tubo apropriado foi adicionado 1 g de formulação e o restante volume foi preenchido com água. Os tubos foram centrifugados, numa ultra-centrifuga (Optima XL90, Beckman), a 180 000 xg durante 2 horas, à temperatura de 15°C. Após centrifugação, o sobrenadante foi removido e o precipitado foi ressuspenso em água. A quantificação do fármaco foi realizada após extração do 55 mesmo com metanol sob agitação vigorosa. O método de deteção utilizado foi a espectrofotometria UV (U-2001 spectrophotometer, Hitachi) a 242,6 nm. As amostras foram analisados em duplicado. Distribuição do tamanho de partícula Método descrito na alínea 3.1.3- Método- Distribuição do tamanho de gotícula (Emulsões) TEM - Microscópio Eletrónico de Transmissão Análise de morfologia dos lipossomas foi feita por microscopia electrónica de transmissão (TEM) Resumidamente, a amostra foi aplicada à grelha de cobre e seca à temperatura ambiente (25 ± 2°C) e analisada no equipamento Hitachi 8100 acoplado a um detetor EDS Thermo Noran no Instituto Superior Técnico (IST). Determinação do pH Método descrito no capítulo 2 - Reformulações Avaliação in vitro da permeação de cetoconazol Método descrito no capítulo 2 - Reformulações Avaliação in vitro da retenção de cetoconazol na pele Método descrito na alínea 3.1.3- Métodos (Emulsões) Análise estatística Método descrito no capítulo 2 - Reformulações 3.2.4. Desenvolvimento galénico - Ensaios preliminares O principal objetivo no desenvolvimento galénico foi formular o cetoconazol de modo a solubilizálo e evitar a degradação. Os lipossomas surgem como uma alternativa às formulações anteriores com vista a atingir estes dois objetivos. Neste estudo utilizaram-se matérias-primas que levam à formação instantânea do lipossoma mal se adicione água (Figura 22). Assim, em termos industriais, este processo de preparação representa uma mais-valia, uma vez que o processo é facilmente transponível (Figura 23). Não há, portanto, a necessidade de construir uma linha de produção com equipamentos específicos para a produção de lipossomas convencionais que por norma é dispendiosa [83], [84]. 56 Figura 22 - Esquema representativo da formação dos lipossomas instantâneos [84]. Figura 23 - Representação do processo de fabrico de lipossomas instantâneos para substâncias ativas hidrossolúveis e lipossolúveis [84]. As matérias-primas utilizadas foram o P + L (Propanediol e Lecitina) e o L + G + A (Lecitina e Glicerina e Álcool). A concentração recomendada pelo fabricante de P + L, para a formação dos lipossomas, recai no intervalo de 0,1 – 3,0 % [83]. Tendo por base este intervalo, iniciou-se este estudo formulando um placebo (formulação lipo 1) com a concentração média recomendada de fosfolípido, 1,5 %, sendo a restante formulação constituída por água destilada (98,5 %). O processo de fabrico utilizado para a produção da formulação teve por base o recomendado pelo fabricante. O placebo (formulação lipo 1) foi formado de acordo com o processo da Figura 24. 57 Processo de Fabrico (Formulação lipo 1) Água purificada Adicionou-se lentamente num homogeneizador Heidolph, entre 800-1000 rpm P+L Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossoma Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 24 - Processo de Fabrico do placebo (formulação lipo 1). Esta primeira experiência permitiu a obtenção de vesículas com tamanho de partícula de 289,5 ± 3,4 nm e PdI: 0,3 ± 0,0; (média ± DP, n=3) e em termos de características organoléticas a formulação apresentou aspeto homogéneo e cor amarela. Sendo o objetivo incorporar 2 g de cetoconazol nos lipossomas optou-se por utilizar a concentração máxima de fosfolípidos (3 %) para as formulações seguintes. A substância ativa apresenta-se no estado sólido, na forma de pó e é recomendado pelo fabricante que quando assim é, a substância ativa seja introduzida no processo de fabrico na forma líquida. Assim sendo, misturou-se o cetoconazol com propanediol. A escolha deste excipiente recaiu na constituição do produto de preparação de lipossomas, uma vez que este excipiente compõe o P + L e a utilização deste poderia ajudar na incorporação da substância ativa no lipossoma. Procedeu-se então à formulação de 2 preparações com base no que foi referido anteriormente, Tabela 34. O procedimento de fabrico encontra-se na Figura 25. Tabela 34 - Composição da formulação lipo 2 e 3 (%, m/m). Matérias-primas P+L Cetoconazol Propanediol Água Purificada Formulação lipo 2 (%, m/m) 3 2 2 93 Formulação lipo 3 (%, m/m) 3 2 --95 58 Processo de Fabrico (Formulação lipo 2) Cetoconazol + Propanediol Água Purificada P+L Homogeneizou-se (homogeneizador Heidolph) a 800-1000 rpm Adicionou-se lentamente e homogeneizou-se à mesma velocidade. Cetoconazol + Propanediol + (P + L) Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossomas Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Processo de Fabrico (Formulação lipo 3) Água Purificada Cetoconazol + (P + L) Homogeneizou-se (homogeneizador Heidolph) a 800-1000 rpm Adicionou-se lentamente e homogeneizou-se à mesma velocidade. Cetoconazol + (P + L) + Água Purificada Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossomas Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 25 - Processo de produção da formulação lipo 2 e 3. Em termos de características organoléticas, a formulação lipo 2 e 3 apresentaram aspeto homogéneo e cor amarelo esbranquiçado. Esta cor deveu-se ao cetoconazol adicionado, o que poderá indicar que a quantidade de cetoconazol incorporado nos lipossomas foi reduzido. Visualmente é percetível que o cetoconazol não está dissolvido, o que poderá estar interligado com a quantidade mínima de substância ativa na camada fosfolipídica. Por forma a solucionar a dissolução do cetoconazol testaram-se vários excipientes, de acordo com o método – Dissolução do cetoconazol (3.2.3 - Métodos). Os resultados estão descritos na tabela abaixo, Tabela 35. 59 Tabela 35 – Ensaio de dispersão do cetoconazol. Excipiente Etanol Absoluto (Ethyl alcohol) Isopropanol (isopropyl alcohol) Miristato de isopropilo (Isopropyl myristate) Propilenoglicol (Propylene glycol) Polissorbato 80 (Polysorbate 80) Polissorbato 20 (Polysorbate 20) Hexilenoglicol (Hexylene glycol) Triglicerídeos ácido caprílico/cáprico (Caprylic/Capric Triglyceride) Tegosoft® TN (C12-15 Alkyl benzoate) Características da Mistura Aspeto Outras Cor --- Não homogéneo Ocorreu sedimentação. Branca Não homogéneo, opaco Ocorreu sedimentação. Branca Não homogéneo, opaco Ocorreu sedimentação de uma pequena parte de cetoconazol Branca Amarelo claro Amarelo Branca Não homogéneo, opaco Homogéneo, opaco Homogéneo, opaco Homogéneo, opaco Ocorreu mínima sedimentação. ------- Branca Homogéneo, opaco --- Branca Homogéneo, opaco --- Etoxidiglicol (Ethoxydiglycol) Branca Homogéneo, opaco* Tegosoft® XC (Phenoxyethyl caprylate) Branca Homogéneo, opaco *Em relação aos outros excipientes utilizados notou-se uma ligeira diferença, isto é visualmente era menos opaco. --- De todos os excipientes estudados o que se destacou foi o etoxidiglicol, como é evidenciado pela Tabela 35. Por forma a tentar dissolver mais esta substância ativa, foram adicionados mais 2 ml de etoxidiglicol, tendo-se obtido uma mistura transparente e homogénea. Assim, 80 ml de etoxidiglicol são necessários para dissolver 2 g de cetoconazol. Tendo em conta que 4 ml deste excipiente corresponde a 3,8528 g serão necessários 77 g de etoxidiglicol em 100 g de formulação. Com base no que foi mencionado prepararam-se as formulações indicadas na Tabela 36, de acordo com o processo de fabrico da Figura 26. Tabela 36 - Constituição da formulação lipo 4 e 5 (%, m/m). Matérias-primas P+L Cetoconazol Etoxidiglicol Água Purificada Formulação lipo 4 (%, m/m) 3 2 88 7 Formulação lipo 5 (%, m/m) 10 2 68 20 60 Processo de Fabrico (Formulação lipo 4, 5, 6, 7 e 9) Cetoconazol + Etoxidiglicol Água Purificada (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se (Placa de agitação) a 800-1000 rpm. Adicionou-se lentamente e homogeneizou-se à mesma velocidade. Cetoconazol + Etoxidiglicol + (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossomas Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 26 - Processo de fabrico utilizado para a formulação lipo 4, 5, 6, 7 e 9. Processo de Fabrico (Formulação lipo 9(a) e 10) Cetoconazol + Etoxidiglicol Água Purificada (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se (Homogeneizador Heidolph) a 800-1000 rpm. Adicionou-se lentamente e homogeneizou-se à mesma velocidade. Cetoconazol + Etoxidiglicol + (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossomas Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 27 - Processo de fabrico usado nas formulações lipo 9(a) e 10. As concentrações de P + L e água purificada foram adicionadas de acordo com bibliografia do fabricante [86], [84]. 61 A formulação lipo 4 apresentou características organoléticas aceitáveis, ou seja, cor amarelo claro, aspeto translúcido e homogéneo. O mesmo não sucedeu com a formulação lipo 5, onde surgiram pequenas partículas em suspensão, aparentemente “precipitado” de fosfolípido. É possível observar estas características na Figura 28. Para verificar qual o melhor fosfolípido comercial, reformularam-se as mesmas formulações com L + G + A (formulação lipo 6 e 7). O excipiente novo apresenta na sua constituição maior quantidade de lípidos em comparação com o P + L, o que poderia proporcionar maior incorporação de cetoconazol nos lipossomas. Os resultados obtidos da formulação lipo 6 e 7 foram os mesmos da formulação lipo 4 e 5, como apresentado na Figura 28. Formulação lipo 4 Formulação lipo 5 Formulação lipo 6 Formulação lipo 7 Figura 28 - Fotografia das quatro formulações lipo 4, 5, 6 e 7. Por forma a estreitar o caminho a seguir, quantificou-se a substância ativa nos lipossomas (Tabela 37) e o tamanho de partícula (Tabela 38) das formulações onde se obtiveram os resultados pretendidos, ou seja, nas formulações lipo 4 e 6. Tabela 37 - Eficiência de Incorporação (EI) de cetoconazol nas formulações lipo 4 e 6. EI (µg/ml) EI (%) Formulação lipo 4 (P + L) 15,3 14,3 Formulação lipo 6 (L + G + A) 36,6 35,6 Tabela 38 - Tamanho de partícula das formulações lipo 4 e 6 (média ± DP, n=3). Tamanho de Partícula (nm) PdI Formulação lipo 4 (P + L) Formulação lipo 6 (L + G + A) 118,5 ± 2,5 112,9 ± 1,8 0,2 ± 0,0 0,2 ± 0,0 62 Intensidade (%) 15 10 5 0 1 10 100 1000 Tamanho ( d. nm) Formulação lipo 4 10000 Formulação lipo 6 Figura 29 - Representação gráfica da distribuição do tamanho das partículas das formulações lipo 4 e 6, n=3. Através da Tabela 37 é percetível que a formulação lipo 6 apresentou maior quantidade de cetoconazol incorporado nos lipossomas. No entanto, estes resultados não são significativos devido à falta de reprodutibilidade das amostras. Em relação ao tamanho de partícula, as duas formulações apresentam um tamanho muito semelhante, como demonstrado pela Tabela 38 e Figura 29. Com base nestes resultados, as formulações com que se prosseguiram os estudos foram as que incluíram na sua composição o L + G + A. De modo a aumentar a incorporação de cetoconazol nos lipossomas, testaram-se outras formulações onde se aumentou a quantidade de L + G + A acima de 3 g. Nestas circunstâncias ocorreu sempre “precipitação” do fosfolípido. Também se experimentou outra indicação pelo fabricante, onde a incorporação de 2 % de substância ativa correspondia à utilização de 8-10 % de L + G + A e 10-12 % de água purificada. Nestas condições obteve-se, igualmente, “precipitado” de fosfolípido [84]. Pensouse ainda que o modo de agitação poderia estar a influenciar a formação dos lipossomas, isto porque o fabricante utiliza para fazer as suas formulações um homogeneizador do género do homogeneizador Heidolph com uma haste hélice anelar e não uma placa de agitação. Assim, prepararam-se algumas formulações com o homogeneizador Heidolph, como foi o caso da formulação representada na tabela abaixo (Tabela 39). Tabela 39 - Constituição da formulação lipo 8 e 8.1 (%, m/m). Matérias-primas L+G+A Cetoconazol Etoxidiglicol Água Purificada para formação lipossomas q.b. de Água Purificada Placa de Agitação (Figura 30) Formulação lipo 8 (%, m/m) 8 2 77 Homogeneizador Heidolph (Figura 31) Formulação lipo 8.1 (%, m/m) 8 2 77 10 10 3 3 63 Processo de Fabrico (Formulação lipo 8, 9.1 e 9.2) Cetoconazol + Etoxidiglicol Água Purificada (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se (Placa de agitação) a 800-1000 rpm Adicionou-se lentamente e homogeneizou-se à mesma velocidade. q.b. de Água Purificada Cetoconazol + Etoxidiglicol + (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossomas Adicionou-se de uma só Homogeneizou-se com vez a água aos uma vareta de vidro. lipossomas. Formulação completa Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 30 - Processo de fabrico utilizado nas formulações lipo 8, 9.1 e 9.2. Processo de Fabrico (Formulação lipo 8.1, 9.1.1, 9.2.1, 10.1, 10.2 e 11) Cetoconazol + Etoxidiglicol Água Purificada (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se (Homogeneizador Heidolph) a 800-1000 rpm. Adicionou-se lentamente e homogeneizou-se à mesma velocidade. q.b. de Água Purificada Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Cetoconazol + Etoxidiglicol + (P + L) / (L + G + A) Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossomas Adicionou-se de uma só Homogeneizou-se com vez a água aos uma vareta de vidro. lipossomas. Formulação completa Figura 31 - Processo de fabrico usado nas formulações lipo 8.1, 9.1.1, 9.2.1, 10.1, 10.2 e 11. 64 A formulação lipo 8.1, apresentou exatamente as mesmas características que a formulação produzida na placa de agitação, ou seja, ocorreu o “precipitado” do fosfolípido, ficando assim demonstrado que a forma de agitação não influência a formação das preparações. O objetivo principal, mencionado anteriormente, é a incorporação do cetoconazol nos lipossomas para prevenir a sua degradação. Como foi observável não foi viável a incorporação de 2,0 % de substância ativa nas formulações. Partindo destes resultados, resolveu-se incorporar apenas 0,5 – 1,0 % de cetoconazol, tendo por base a formulação mais promissora, a formulação lipo 6. Inicialmente reduziu-se a quantidade de etoxidiglicol de acordo com a quantidade de cetoconazol adicionado na formulação, como indicado na Tabela 40. O processo de fabrico para a formulação lipo 9 encontra-se na Figura 26 e para as outras duas formulações na Figura 30. Tabela 40 - Composição da formulação lipo 9, 9.1 e 9.2 (%, m/m). Matérias-primas L+G+A Cetoconazol Etoxidiglicol Água Purificada para formação lipossomas q.b. de Água Purificada Formulação lipo 9 (%, m/m) 3,0 2,0 88,0 Formulação lipo 9.1 (%, m/m) 3,0 1,0 44,0 Formulação lipo 9.2 (%, m/m) 3,0 0,5 22,0 7,0 7,0 7,0 --- 45,0 67,5 Os resultados obtidos não foram ao encontro do esperado, porque ocorreu a “precipitação” do fosfolípido nas formulações que apresentavam menor quantidade de etoxidiglicol, formulação lipo 9.1 e 9.2. Assim optou-se por manter a quantidade de etoxidiglicol e apenas diminuir a concentração de cetoconazol, como indicado pela Tabela 41. O processo de fabrico para a formulação lipo 9 (a) encontra-se na Figura 27 e para as outras duas formulações na Figura 31. Tabela 41 - Constituição das formulações lipo 9(a), 9.1.1 e 9.2.1 (%, m/m). Matérias-primas L+G+A Cetoconazol Etoxidiglicol Água Purificada para formação lipossomas q.b. de Água Purificada Formulação lipo 9(a) (%, m/m) 3,0 2,0 88,0 Formulação lipo 9.1.1 (%, m/m) 3,0 1,0 88,0 Formulação lipo 9.2.1 (%, m/m) 3,0 0,5 88,0 7,0 7,0 7,0 --- 1,0 1,5 Ao manter a concentração de etoxidiglicol os resultados obtidos foram os esperados, isto é, ambas as formulações (9.1.1 e 9.2.1) apresentaram cor amarela, aspeto homogéneo e líquido translúcido. Em termos de eficiência de incorporação de substância ativa e de tamanho de partícula, os resultados encontram-se ilustrados na Tabela 42 e na Figura 32. 65 Tabela 42 - Eficiência de incorporação (EI) e tamanho de partícula das formulações lipo 9(a), 9.1.1 e 9.2.1 (média ± DP, n=3). Intensidade (%) Formulação lipo 9(a) Formulação lipo 9.1.1 Formulação lipo 9.2.1 EI (µg/ml) 3,5 ± 1,3 5,5 ± 0,9 5,2 ± 1,0 EI (%) 3,4 ± 1,2 10,2 ± 1,7 20,9 ± 1,7 Tamanho de Partícula (nm) 145,6 ± 0,8 160,9 ± 2,0 210,8 ± 3,1 PdI 0,4 ± 0,1 0,2 ± 0,0 0,2 ± 0,0 15 10 5 0 1 10 100 Tamanho (nm) Formulação lipo 9(a) Formulação lipo 9.1.1 1000 10000 Formulação lipo 9.2.1 Figura 32 - Representação gráfica do tamanho de partícula das formulações lipo representadas na Tabela 41, n=3. A concentração de cetoconazol máxima incorporada nos lipossomas das formulações representadas na Tabela 41 é muito baixa, aproximadamente 5,5 µg/ml. É evidente que este fosfolípido não é apropriado para incorporar nem metade da substância ativa pretendida. Em termos de tamanho de partícula, verificou-se um aumento do tamanho à medida que existe maior quantidade de água na formulação (Tabela 42), apesar da quantidade de água purificada ser adicionada após a formação dos lipossomas aparentemente existe uma influência no tamanho de partícula das vesículas lipídicas. Comparando a eficiência de incorporação da formulação lipo 6 (36,6 µg/ml) com a formulação lipo 9(a), sendo a mesma formulação, observa-se uma grande disparidade dos resultados com os obtidos para a formulação lipo 6, facto que poderá estar relacionado com a eficácia de separação por ultracentrifugação do cetoconazol não incorporado. Foram preparadas novamente as formulações ilustradas na Tabela 41, mas com o fosfolípido P + L (Tabela 43). O processo de fabrico para a formulação lipo 10 encontra-se na Figura 27 e para as outras duas formulações na Figura 31. Tabela 43 - Composição das formulações lipo 10, 10.1 e 10.2 (%, m/m). Matérias-primas P+L Cetoconazol Etoxidiglicol Água Purificada para formação lipossomas q.b. de Água Purificada Formulação lipo 10 (%, m/m) 3,0 2,0 88,0 Formulação lipo 10.1 (%, m/m) 3,0 1,0 88,0 Formulação lipo 10.2 (%, m/m) 3,0 0,5 88,0 7,0 7,0 7,0 --- 1,0 1,5 66 A eficiência de incorporação das formulações da Tabela 43 encontram-se na tabela abaixo (Tabela 44). Tabela 44 - Eficiência de Incorporação (EI) da formulação lipo 10, 10.1 e 10.2 (média ± DP, n=3). EI (µg/ml) EI (%) Formulação lipo 10 0,7 ± 0,1 0,7 ± 0,1 Formulação lipo 10.1 1,0 ± 0,2 1,8 ± 0,3 Formulação lipo 10.2 0,6 ± 0,0 2,4 ± 0,1 A concentração máxima de cetoconazol incorporado nos lipossomas com P + L, apresentada na Tabela 44, é de 1,0 µg/ml, aproximadamente menos 4,0 µg/ml de cetoconazol incorporado nos lipossomas constituídos pelo L + G + A (Tabela 42). Assim, as formulações de L + G + A continuam a ser as mais promissoras. Foi mencionado anteriormente que a concentração de cetoconazol incorporado nas vesículas lipídicas foi muito baixo, no máximo de 5,5 µg/ml. Com estes resultados, o passo seguinte foi elaborar uma formulação com a quantidade máxima que os lipossomas conseguiram incorporar de substância ativa, 5,5 µg/ml, apesar de não ser a quantidade pretendida. Assim, preparou-se a formulação cuja composição está presente na Tabela 45. Para além desta formulação foi também preparado o placebo (Tabela 45). A formulação lipo 11 foi preparada de acordo com o processo de fabrico mencionado na Figura 31 e o placebo de acordo com o processo de fabrico representado na Figura 33. Tabela 45 - Constituição da formulação lipo 11 e respetivo placebo (%, m/m). Matérias-primas L+G+A Cetoconazol Etoxidiglicol Água Purificada para formação lipossomas q.b. de Água Purificada Formulação lipo 11 (%, m/m) 3,000 0,094 88,000 Placebo Formulação lipo 11 (%, m/m) 3,000 --88,000 7,000 7,000 1,906 2,000 67 Processo de Fabrico (Formulação 12) Etoxidiglicol L+G+A Homogeneizou-se (Homogeneizador Heidolph) a 800-1000 rpm. Água Purificada Etoxidiglicol + (L + G + A) Adicionou-se lentamente e homogeneizou-se à mesma velocidade. q.b. de Água Purificada Homogeneizou-se durante 20 minutos, à mesma velocidade. Lipossomas Adicionou-se de uma só vez a água aos lipossomas. Homogeneizou-se com uma vareta de vidro. Formulação completa Temperatura Ambiente (25 ± 2°C) Figura 33 - Processo de fabrico do placebo da formulação lipo 11. Em termos de características organoléticas, a formulação lipo 11 apresentou cor amarela, aspeto translúcido e homogéneo. Relativamente à eficiência de incorporação, estes lipossomas continham aproximadamente 72 % de cetoconazol, como indicado na Tabela 46. Apesar de a quantidade incorporada não ser a desejada inicialmente (2 g de cetoconazol em 100 g), conseguiu-se uma percentagem suficientemente promissora da concentração máxima de cetoconazol (5,5 µg/ml) nos lipossomas. Além do mencionado, esta pequena concentração de cetoconazol nos lipossomas poderá não invalidar a sua eficácia aquando da sua aplicação, uma vez que se trata de uma forma inovadora de libertação controlada. O tamanho de partícula (Tabela 46 e Figura 34) tanto da formulação com substância ativa (formulação lipo 11) como do placebo apresentaram praticamente o mesmo tamanho de lipossomas, e como têm um pouco mais de água na sua constituição, que as formulações apresentadas na Tabela 42, o tamanho é ligeiramente maior que o da formulação lipo 9.2.1. Tabela 46 – A Eficiência de Incorporação (EI) e o tamanho de partícula da formulação lipo 11 e respetivo placebo (média ± DP, n=3). Formulação lipo 11 Placebo Formulação lipo 11 EI (µg/ml) EI (%) 3,6 ± 0,0 --- 72,4 ± 0,9 --- Tamanho de Partícula (nm) 213,4 ± 2,6 215,5 ± 0,6 PdI 0,2 ± 0,0 0,2 ± 0,0 68 Intensidade (%) 15 10 5 0 1 10 100 Tamanho (nm) Placebo Formulação lipo 11 1000 10000 Formulação lipo 11 Figura 34 - Representação gráfica da formulação lipo 11 e respetivo placebo, n=3. Formulação Final De acordo com os resultados anteriores a formulação final selecionada foi a formulação lipo 11 com 0,094 % de cetoconazol. A formulação foi posteriormente caracterizada. Características físicas e químicas: Características organoléticas A formulação final e respetivo placebo apresentam cor amarela e aspeto homogéneo, para além destas características a formulação também é translúcida, como se observa na pela Figura 35. Formulação lipo 11 Placebo Figura 35 - Imagem da formulação lipo 11 e respetivo placebo. Tamanho de partícula O tamanho de partícula da formulação final e respetivo placebo foi analisado no equipamento Zeta sizer por difração laser, como mencionado aquando da descrição do método. Para a formulação com substância ativa obteve-se um tamanho de partícula de 213 ± 3 nm e para o placebo de 216 ± 1 nm, como ilustrado na Tabela 46 e Figura 34. TEM - Microscópio Eletrónico de Transmissão A formulação final com fármaco e respetivo placebo foram analisadas no equipamento TEM, com o propósito de obter uma imagem dos lipossomas preparados. O resultado está expresso na Figura 36 e Figura 37. 69 A B Figura 36 - Ilustração da morfologia dos lipossomas. A: Formulação lipo 11 com 0,094 % cetoconazol. B: Formulação placebo. Figura 37 - Morfologia dos lipossomas da formulação placebo. Os lipossomas apresentam aspeto multilamelar e tamanho não homogéneo. O tamanho de partícula obtido através deste equipamento e através de espectroscopia de correlação fotónica (Zetasizer) não foi coincidente. Através da microscopia TEM, aparentemente, os lipossomas exibem tamanho inferior a 100 nm. Não se observaram diferenças relativamente ao tamanho dos lipossomas com e sem fármaco e foram observados nas duas formulações resíduos que aparentam ser fosfolípidos. Doseamento da substância ativa e determinação do pH O doseamento de cetoconazol da formulação lipo 11 foi analisado pelo método de HPLC, onde se quantificaram triplicados da formulação. Com um elétrodo de pH determinou-se o pH da formulação final e respetivo placebo. Os resultados estão representados na Tabela 47. Tabela 47 - Resultado do doseamento de cetoconazol e do pH da formulação lipo 11 e respetivo placebo (média ± DP, n=3). Formulação lipo 11 Placebo Formulação lipo 11 Recuperação (%) 89,60 ± 1,10 --- pH 5,97 5,75 70 Eficiência de Incorporação (EI) A quantidade de cetoconazol incorporada nos lipossomas na formulação lipo 11 preparada com 0,094 % cetoconazol, foi analisada pelo método de HPLC, em triplicado. O resultado foi de 72,4 ± 0,9 %, como representado na Tabela 46, dos 0,094 % iniciais de cetoconazol. Avaliação in vitro da permeação de cetoconazol O ensaio foi realizado em células de Franz de 1 cm 2, onde se utilizou como membrana pele porco recém-nascido para separar a fase dadora da recetora. Foram testados a formulação lipo 11 e o creme comercial, cada um em n=6 vezes. Os resultados da permeação do fármaco da formulação em estudo 0,30 a 0,25 0,20 0,15 Jkjm 0,10 0,05 0,00 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 Tempo (h) Cetoconazol permeado (%) Cetoconazol permeado (%) e do creme comercial estão representados na Figura 38 e Figura 39. 0,30 b 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 Formulação lipo 11 com 0,094 % cetoconazol 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 Tempo (h) Creme comercial com 2 % cetoconazol 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 a 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 Tempo (h) Formulação lipo 11 com 0,094 % cetoconazol Quantidade cetoconazol permeada (µg/cm2) Quantidade cetoconazol permeada (µg/cm2) Figura 38 - Permeação da pele in vitro de cetoconazol da formulação lipo 11 (a) e creme comercial (b) em percentagem de cetoconazol (média ± DP, n=6). 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 b 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 Tempo (h) Creme comercial com 2 % cetoconazol Figura 39 - Permeação da pele in vitro de cetoconazol da formulação lipo 11 (a) e creme comercial (b) em quantidade de cetoconazol (média ± DP, n=6). 71 Tabela 48 - Parâmetros da permeação cutânea da formulação lipo 11 e do creme comercial (média ± DP, n=6). Formulação lipo 11 com 0,094 % cetoconazol Creme comercial com 2 % cetoconazol Fluxo (µg/cm2/h) Kp (cm/h) Lag time 0,002 ± 0,004 2,5x10-6 ± 4,4x10-6 4,750 ± 0,010 0,570 ± 0,180 2,9x10-5 ± 8,9 x10-6 1,550 ± 0,710 Após 24 horas, obtiveram-se valores de 0,02 ± 0,03 % cetoconazol para a formulação lipo 11 e 0,19 ± 0,07 % de cetoconazol para o creme comercial. A partir da análise estatística ANOVA, verificou-se que não houve diferenças significativas entre a formulação final e a formulação de referência (p > 0,05). Avaliação in vitro da retenção de cetoconazol na pele A pele que foi utilizada no ensaio de permeação, ensaio anterior, foi utilizada para determinar a quantidade de fármaco existente no EC e nas camadas viáveis da pele (epiderme e derme). Os resultados deste ensaio encontram-se ilustrados na Figura 40. 1,8 Formulação lipo 11 com 0,094 % de cetoconazol 10 8 Creme comercial com 2 % cetoconazol 6 4 2 1,6 Cetoconazol (%) Quantidade de cetoconazol (ug/ml) 12 1,4 1,2 Formulação lipo 11 com 0,094 % de cetoconazol Creme comercial com 2 % cetoconazol 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0,0 EC Camadas viáveis da pele EC Camadas viáveis da pele Figura 40 - Quantidade (esquerda) e percentagem (direita) retida de cetoconazol na EC e camadas viáveis da pele da formulação lipo 11 e creme comercial (média ± DP, n=3). Os valores de fármaco para a formulação lipo 11 para o EC foi de 0,36 ± 0,11 % e de 0,96 ± 0,62 % para as camadas viáveis da pele. No caso do creme comercial, obteve-se 0,10 ± 0,03 % para o EC e 0,04 ± 0,01 % para as camadas viáveis da pele de cetoconazol. 72 3.2.5. Discussão dos Resultados O tratamento tópico com cetoconazol é uma escolha atrativa para as infeções fúngicas da pele devido a vantagens como efeito localizado e redução de efeitos secundários sistémicos pelo fármaco. Porém, existem algumas limitações por parte da substância ativa devido à sua baixa solubilidade em água e irritação da pele, sendo possível ultrapassar estas limitações desenvolvendo sistemas vesiculares lipídicos [52]. A formulação final com 0,094 % de cetoconazol e respetivo placebo apresentaram características organoléticas conformes, isto é, cor amarela, aspeto translúcido e homogéneo (Figura 35). Em relação às características morfológicas, Figura 36, ambas as formulações apresentaram lipossomas do tipo multilamelar, no entanto, notou-se pequenas diferenças entre eles relativamente ao tamanho. Nas imagens da Figura 36 também é possível observar, em ambas as formulações, pequenos fragmentos possivelmente de fosfolípido não transformado. Os lipossomas observados são opacos, daí não ter sido possível observar nitidamente as bicamadas lipídicas deste tipo de lipossomas. No entanto, os resultados estão de acordo com o descrito pelo fabricante do produto de preparação de lipossomas, que indica que são formadas vesículas multilamelares. Em relação ao tamanho de partícula, obtiveram-se vesículas na ordem dos 200 nm. Este facto não se confirmou aquando da análise morfológica, que mostrou a presença de lipossomas abaixo dos 100 nm (Figura 37). Porém, a figura que representa a distribuição do tamanho de partícula dos lipossomas (Figura 34) apresenta para ambas as formulações uma distribuição de tamanho que vai dos 60 nm aos 1000 nm. A probabilidade de ocorrer aumento de volume por parte dos lipossomas aquando da preparação da amostra para a analisar no Zeta sizer, assim como perda de volume associada à preparação da amostra para a análise por TEM, poderão ter contribuído para a discrepância entre os resultados obtidos por técnicas diferentes. Inicialmente era pretendido obter uma formulação com a quantidade de cetoconazol igual ao existente no mercado, 20 mg/g, isto é 2 % de substância ativa em 100 g. No entanto, como mencionado anteriormente este tipo de lipossomas apenas conseguiu incorporar 5,5 µg/ml de cetoconazol. A formulação final foi formada com o intuito de introduzir a capacidade máxima de substância ativa, onde se obteve uma EI de aproximadamente 72 % da quantidade inicial, Tabela 46. Gunjan Tiwari (2013) formulou lipossomas com várias concentrações de cetoconazol, em vesículas com 5 µg/ml obteve apenas 16,4 % de EI de cetoconazol, menos do que o obtido na formulação lipo 11 com 0,094 % cetoconazol [87]. Guo, et al (2015) desenvolveram vários tipos de lipossomas com o intuito de incorporar 3 mg/g de cetoconazol, e concluíram que os lipossomas convencionais foram o veículo onde a EI foi mais baixa, aproximadamente 50,3 % [52]. Patel, et al. (2009) formularam lipossomas com 2 % de substância ativa, onde metade da quantidade introduzida foi incorporada nos lipossomas (aproximadamente 54,4 %) [62]. Os dois últimos autores mostraram que é possível formar lipossomas convencionais com maior quantidade de fármaco incorporado. A disparidade deste resultado provavelmente está relacionado com a utilização de fosfolípidos diferentes. No entanto, o processo de fabrico utilizado para a preparação de lipossomas com L + G + A não é condicionante, ou seja, pode ser adaptado por qualquer indústria, o que não acontece com o método convencional para a formação 73 destas vesículas. Há que salientar que uma formulação com baixa concentração de fármaco não implica que a sua ação terapêutica não seja conseguida. Em termos do estudo da permeação in vitro de cetoconazol em pele de porco recém-nascido, verificou-se que a percentagem de fármaco permeada após 24 horas foi muito reduzida (Figura 38), cerca de 0,02 % e 0,20 % para a formulação final e para o creme comercial, respetivamente. Estes resultados são promissores, uma vez que se pretende a retenção de cetoconazol no EC para originar ação nos microrganismos depositados nesta camada. Entre as duas formulações a mais promissora, aparentemente é a formulação com lipossomas, visto ser a que obteve resultados mais baixos de fármaco permeado através da pele. No entanto, as duas formulações contêm teor de substância ativa muito distintos. Os parâmetros de permeação destas formulações (Tabela 48) são díspares. Na formulação inovadora obteve-se um fluxo mais baixo e um lag time maior, o que poderá indicar maior dificuldade por parte do fármaco em permear o EC, daí maior retenção de cetoconazol nesta camada. Patel, et al (2009) afirmaram que estes sistemas permitem uma elevada acumulação de fármaco na pele, com o fluxo de permeação relativamente baixo, comparativamente às formas farmacêuticas convencionais. Para além disto, os autores associam o fluxo baixo, obtido nos seus resultados, à libertação prolongada do fármaco, causada pelas diversas bicamadas lipídicas presentes nos lipossomas multilamelares [61]. Ao analisar os resultados obtidos na retenção do fármaco na camada EC e nas camadas viáveis da pele, Figura 40, verificou-se que a formulação com lipossomas permitiu deposição de fármaco em maior quantidade na epiderme e derme e não no EC como pretendido. Estes resultados possivelmente estão relacionados com o facto de os lipossomas terem tamanho reduzido e conseguirem alcançar as camadas mais profundas da pele. Outra possibilidade foi o facto do maior constituinte desta formulação ser o etoxidiglicol e sendo este um promotor cutâneo, a probabilidade do fármaco penetrar mais profundamente na pele é bastante elevada. A segunda possibilidade apresenta-se como a mais provável, uma vez que os lipossomas convencionais não penetram profundamente a pele, mas sim permanecem confinados à camada superior, EC, com uma penetração mínima nos tecidos mais profundos [52]. 74 Capitulo 4 - Eficácia das formulações Um dos microrganismos que provoca infeções fúngicas superficiais da pele é a Candida albicans. Para o tratamento deste tipo de infeções é utilizado o antifúngico cetoconazol. Para determinar se as formulações estudadas, convencionais e inovadoras, são eficazes contra a Candida albicans foi necessário realizarem-se dois tipos de ensaios: o método Etest® e o método Kirby-Bauer ou método de difusão em disco, que por norma é utilizado em testes in vitro de determinação da sensibilidade microbiana (antibiograma). 4.1. Método O método Kirby-Bauer foi realizado em discos de difusão e também em pele de porco-recém nascido, obtida num matadouro. Para ambos os métodos, procedeu-se à inoculação da levedura Candida albicans (ATCC 10231) em meio SDA (Agar Sabouraud Dextrose), anteriormente plaqueado. No ensaio Etest®, após a inoculação foi adicionada a fita Etest® impregnada com cetoconazol e procedeu-se à incubação a 37°C durante 24h. Após o tempo de incubação observou-se a concentração mínima inibitória (CMI) para este microrganismo. Para o método adaptado Kirby-Bauer, adicionou-se discos de papel (OxoidTM antimicrobial susceptibility test discs,Thermo Scientific, UK) e discos de pele às placas com o meio de cultura, os dois tipos de discos foram aplicados de forma a não ocorrer sobreposição de halos de inibição. Os discos de pele foram feitos com um punção de biopsia de 13 mm de diâmetro. Adicionou-se aproximadamente 10 µl e 15 µl de amostra nos discos de papel e de pele, respetivamente. Após adição da amostra as placas foram incubadas a 37°C durante 24 horas. Após o tempo de incubação, a eficácia da formulação foi determinada medindo o diâmetro do halo de inibição, uma vez que o diâmetro da zona de inibição é proporcional à sensibilidade do microrganismo e à eficácia do antifúngico. 4.2. Resultados O resultado obtido no Etest® (um dos métodos realizados para a eficácia das formulações) permite determinar a concentração mínima inibitória do antifúngico em estudo, em C. albicans. O resultado está expresso na Figura 41. Figura 41 - CMI obtida através do método Etest®. 75 Verifica-se que a concentração mínima inibitória de cetoconazol em C. albicans é de 0,047 µg/ml (Figura 41). Para o método Kirby-Bauer, foram utilizados 3 padrões com concentrações de cetoconazol de 5 µg/ml (P1), 15 µg/ml (P2) e 38 µg/ml (P3). Estes padrões foram realizados de acordo com a concentração das formulações inovadoras, formulação lipo 11 (5 µg/ml) e formulação emul 9 gel (35 µg/ml). Os resultados deste ensaio em discos de papel e de pele estão representados na Figura 42. a P1 P2 PE P1 P3 P2 b P2 PL P2 PL PT- Placebo reformulação F8; PT PE PT PL- Placebo Formulação lipo 11; E L E E- Formulação emul 9 gel; L T T P1, P2, P3- Padrões; P3 PE- Placebo Formulação emul 9 gel; E E Legenda: L T T L T- Reformulação F8; L- Formulação lipo 11. Figura 42 - Resultados obtidos do método Kirby-Bauer para os discos de papel (a) e de pele (b). Nos discos de papel (Figura 42 - a), os resultados obtidos em termos do halo de inibição para os padrões foram aproximadamente: 25 mm, 28 mm e 32 mm para o P1, P2, e P3, respetivamente. No caso das preparações farmacêuticas em estudo, os halos de inibição obtidos foram: 32 mm, 35 mm e 39 mm para formulação emul 9 gel, reformulação F8 e formulação lipo 11, respetivamente. Em relação aos placebos, ocorreu inibição da levedura apenas no placebo da reformulação F8, esta inibição provavelmente está relacionada com a presença do conservante, imidazolidinil ureia. Tendo em conta que o padrão P1 apresenta uma concentração idêntica à formulação lipo 11 (5 µg/ml), comparando os seus halos de inibição é percetível que ocorreu uma difusão maior na formulação lipo 11. No caso da formulação emul 9 gel, esta apresentou o mesmo halo de inibição que o padrão P3, no entanto, o padrão apresenta maior concentração de cetoconazol, mais 2 µg/ml. Na reformulação F8, que apresenta 421 µg/ml de cetoconazol, apenas se obteve um halo de inibição de 35 mm, sendo um resultado muito idêntico à formulação emul 9 gel que apresenta uma concentração de cetoconazol muito mais baixa. Em relação aos discos de pele, através da Figura 42 - b é visível que não ocorreu formação de halo de inibição nos padrões e nos placebos, referentes às preparações farmacêuticas em estudo. Das três formulações estudadas, apenas ocorreu inibição de C. albicans na formulação lipo 11, em ambos os discos. 76 4.3. Discussão dos resultados A partir do Etest®, determinou-se a concentração mínima de cetoconazol que inibe o crescimento microbiano, neste caso da C.albicans. A CMI obtida foi de 0,047 µg/ml (Figura 41). Todas as formulações estudadas apresentam uma concentração bastante superior à CMI obtida no ensaio Etest®, o que poderá indicar que as formulações estudadas são eficazes contra a levedura utilizada. Como mencionado anteriormente, a formulação lipo 11 apresenta 5 µg/ml, a formulação emul 9 gel 35 µg/ml e a reformulação F8 421 µg/ml. Os resultados obtidos no método Kirby-Bauer referentes aos discos de papel, indicam que a formulação lipo 11, apesar de ser a preparação com menor quantidade de cetoconazol na sua constituição, foi a que apresentou uma inibição mais acentuada. No caso da formulação emul 9 gel, esta apresentou uma inibição idêntica à reformulação F8, no entanto, existe uma diferença significativa na quantidade de cetoconazol, que é bastante menor na formulação emul 9 gel. Assim, as formulações inovadoras, apesar de apresentarem menor quantidade de antifúngico, apresentaram melhores resultados. Estes resultados indicam, mais uma vez, que a utilização de um promotor cutâneo, etoxidiglicol, e a dissolução do cetoconazol têm influência na eficácia da formulação, comparativamente à reformulação F8, em que o cetoconazol está suspenso e não possui o promotor cutâneo. O propósito para a realização do método Kirby-Bauer é compreender se se está perante um microrganismo resistente, intermediário ou sensível à quantidade de fármaco aplicada. Para tal, é necessário um valor de referência em termos de halo de inibição referente ao fármaco e microrganismo estudado. Normalmente, a entidade EUCAST (The European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing) apresenta uma base de dados onde é possível obter a CMI e a difusão em disco relacionando o microrganismo e o fármaco. Porém, para o fármaco em estudo, cetoconazol, não existem dados de difusão em disco para C. albicans. Assim, foi realizada uma pesquisa para tentar encontrar valores de referência. Da pesquisa efetuada apenas se encontrou um teste de suscetibilidade antifúngica com o resultado do intervalo de inibição para C. albicans, porém, este teste é feito com comprimidos designados de Neo-Sensitabs™ (Rosco Diagnostica), onde é necessário a utilização do meio de cultura Mueller-Hinton agar com 2,0 % glucose e 0,5 μg/ml azul de metileno. A utilização de um Neo-Sensitabs™ com 15 µg de cetoconazol incorporado forma um halo de inibição de 31 - 42 mm em C. albicans ATCC 90028. No entanto, estes dados e os resultados obtidos não são comparáveis, uma vez que os dois ensaios utilizam discos de difusão, meios de cultura distintos e estirpes diferentes, que provavelmente são diferenças significativas que podem levar à obtenção de resultados distintos [88]. Os discos de pele, no método Kirby-Bauer, foram utilizados para entender o comportamento do fármaco nas formulações estudadas, se este conseguia passar ou não todas as camadas de pele e inibir a proliferação de C. albicans. Para o tratamento de infeções superficiais da pele, é necessário a acumulação de cetoconazol na camada EC para ocorrer uma ação eficaz. Nos resultados obtidos para este ensaio, apenas surgiu inibição de C. albicans na formulação lipo 11. O que indica que o fármaco presente nos lipossomas passou todas as camadas da pele e não ficou retino no EC, como já tinha 77 sido provado através do ensaio de retenção in vitro. Assim, apesar da formulação lipo 11 apresentar os melhores resultados na inibição de C. albicans, nos discos de papel, não é a melhor formulação para o tratamento deste tipo de infeções da pele. Assim, a melhor formulação é a formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol. Isto porque, apesar de ter sido a formulação que apresentou menor inibição de C. albicans no estudo em discos de papel, a diferença não é acentuada tendo em conta que a quantidade de cetoconazol é muito menor, comparativamente à reformulação F8. 78 Capítulo 5 - Conclusão Os objetivos deste trabalho foram, a reformulação de uma preparação tópica contendo 2 % de cetoconazol de forma a estabilizar físico-química e microbiologicamente o produto já existente no mercado e desenvolver formulações inovadoras aplicando a nanotecnologia e micro encapsulação de modo a encapsular o antifúngico pretendido. O primeiro objetivo foi alcançado, uma vez que se reformulou a preparação tópica já existente de modo a estabilizar o cetoconazol. A inclusão de novo conservante (imidazolidinil ureia), antioxidante (BHT) e quelante (EDTA), originou uma formulação estável durante o ensaio de estabilidade (3 meses). Para além da estabilidade físico-química do cetoconazol, também foi conseguida a estabilidade microbiológica da formulação com a adição de 0,5 % de imidazolidinil ureia. Assim, a melhor reformulação apresenta na sua composição o conservante imidazolidinil ureia, o antioxidante BHT e o quelante EDTA. Os resultados obtidos nos ensaios in vitro da cedência e permeação do cetoconazol da formulação foram promissores. No entanto, o método de fabrico das formulações desenvolvidas e a validação destes ensaios deverá ser realizada em condições industriais de forma a validar as conclusões até aqui apontadas. Durante o desenvolvimento galénico da formulação inovadora emulsão, apenas foi possível incorporar 0,13 % de cetoconazol, uma vez que foi pretendida a dissolução da substância ativa. Após a caracterização da formulação final líquida, conclui-se que que se tratava de uma nanoemulsão, devido ao seu aspeto organolético, tamanho de gotícula e processo de fabrico. Os ensaios in vitro, permitem concluir que a formulação emul 9 gel é promissora, principalmente no estudo da retenção de cetoconazol na pele, uma vez que esta preparação obteve resultados idênticos aos obtidos com o creme comercial, apesar de existir uma diferença significativa no teor de cetoconazol. Em relação à formulação inovadora com lipossomas, também foi necessária a dissolução do cetoconazol, neste caso para conseguir incorporar o antifúngico nas bicamadas lipídicas destas vesículas. Em termos de eficiência de incorporação, conclui-se que estas vesículas incorporam no máximo 72 % da concentração inicial de cetoconazol, 5,5 µg/ml. A formulação final, formulação lipo 11, apresentou resultados promissores no ensaio de permeação in vitro. No entanto, no ensaio de retenção in vitro conclui-se que a retenção de cetoconazol foi mais acentuada nas camadas viáveis da pele do que no EC, onde é pretendida a sua ação. Os resultados favoráveis de ambas as formulações inovadoras, provavelmente estão associados a fatores como a dissolução do cetoconazol e a presença de um promotor cutâneo (etoxidiglicol), utilizado para dissolver o fármaco, que permitem que o fármaco fique mais disponível para concretizar a sua ação. O ensaio da eficácia das formulações, em C. albicans, veio salientar estes indícios. Isto porque, a formulação lipo 11 apresentou o halo de inibição mais acentuado, apesar de ser a formulação que apresenta menor teor de cetoconazol, tendo a formulação emul 9 gel demonstrado um halo de inibição equivalente à reformulação F8, sendo o teor de antifúngico bastante diferente. Apesar da formulação lipo 11 apresentar os melhores resultados não é a formulação adequada, visto que, ocorreu inibição de 79 C. albicans nos discos de pele, o que indicou que o cetoconazol neste sistema não fica retido onde a sua ação é desejada, no EC, para o tratamento de infeções superficiais da pele. Assim, conclui-se que a melhor formulação é a formulação emul 9 gel com 0,13 % cetoconazol. Isto porque, apesar de ter sido a formulação que apresentou menor inibição de C. albicans no estudo em discos de papel, a diferença não é acentuada tendo em conta que o teor de cetoconazol é muito menor, comparativamente à reformulação F8. Como perspetivas, é necessário a realização de estudos de estabilidade por forma a verificar a estabilidade físico-química (degradação do cetoconazol) e microbiológica das formulações estudadas e também aprofundar o estudo referente à eficácia das formulações em C. albicans. Em estudos futuros deverá ser implementado Quality by Design (QbD) presente na diretiva ICH Q8 (R2) - Pharmaceutical Development. 80 Referências Bibliográficas [1] R. R. Seeley e et.al., Anatomia e Fisiologia Humana., Lusociência, 2003. [2] B. Brennan e J. J. Leyden, «Overview of topical therapy for common superficial fungal infections and the role of new topical agents», J. Am. Acad. Dermatol., vol. 36, n. 2, pp. S3–S8, Fev. 1997. [3] J. C. De Oliveira, Tópicos de Micologia Médica., Rio de Janeiro, 2012. [4] W. F. C. Ferreira e J. C. F. Sousa, Microbiologia: volume 2., Lidel. [5] R. J. Hay, «Fungal infections.», Clin. Dermatol., vol. 24, n. 3, pp. 201–12, 2006. [6] I. P. Kaur e S. 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Fase recetora Propanediol- 70 % Água- 30 % Propanediol- 50 % Água- 50 % Propanediol- 30 % Água- 70 % Hexilenoglicol- 70 % Água- 30 % Hexilenoglicol- 50 % Água- 50 % Hexilenoglicol- 30 % Água- 70 % Tween 80- 5 % Água- 95 % PBS- 100 % Metanol- 20 % Água- 80 % Etanol- 25 % Água- 75 % Metanol- 30 % Água- 70 % Etanol- 40 % Água- 60 % Propanediol- 50 % Etanol 96 %- 50 % Quantidade de cetoconazol dissolvido <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 <0,2 0,2 Através da Tabela 49, verifica-se que em todas as fases aquosas com água não foi possível dissolver a quantidade máxima necessária para os ensaios em células de Franz. 87 Anexo II – Doseamento da substância ativa A Figura 43, representa o cromatograma da formulação F8 placebo. Este gráfico comprova que não existe interferência de nenhum excipiente da formulação, uma vez que não existem picos interferentes no tempo de retenção específico para o cetoconazol. Figura 43 - Cromatograma da formulação F8 placebo. 88