NÍVEIS DOS TEORES DE LISOZIMA SÉRICA EM RUMINANTES E EM EQUINOS SUBMETIDOS A DIFERENTES SITUAÇÕES FISIOPATOLÓGICAS Artur Cezar de Carvalho Fernandes1, Tamyres Izarelly Barbosa da Silva2, Willder Rafael Ximenes Cunha3, Daniel Dias da Silva3, Renata Gomes Revorêdo2, Hélio Lauro Soares Vasco Neto2 , Lúcio Esmeraldo Honório de Melo4, Emerson Israel Mendes5, Paula Carneiro Leão Oiticica6 Introdução Material e métodos A lisozima, que está presente em quase todos os seres vivos sob diferentes formas, é uma enzima lisossômica com atividade hidrolítica [1,2,], sendo relativamente pequena, termolábel e altamente estável [2,3]. Esta pode ser encontrada na maioria dos fluidos orgânicos como a saliva, secreção nasal, mucosa intestinal, no leite dentre outros [3,4,5]. É principalmente produzida pelo monócito-macrófago e parcialmente pelos granulócitos, onde permanecem até serem secretadas nos vários líquidos como o soro, a lágrima, entre outros [1,6]. Seus teores variam em função das diferentes situações fisiopatológicas: em condições normais são comumente baixos e em processos infecciosos os teores são geralmente elevados [4]. Na titulação da lisozima se usa uma bactéria sensível a ação lítica da enzima, o Micrococcus lysodeikticus,em um meio de cultura gelatinoso, geralmente a agarose [1]. Este teste consiste na quantificação da lisozima sérica a partir da ,medida dos diâmetros dos halos de lise bacteriana, consequência de sua propriedade lítica frente a germes gram-positivos (Micrococcus lysodeikticus), que são proporcionais as concentrações de lisozima [1,6,7]. Objetivou-se com a realização deste estudo validar a imunodifusão para determinar os teores séricos da lisozima em caprinos e equinos, a partir de sua prévia padronização para bovinos. Este ensaio imunossorológico integra o estudo da clínica imunológica das espécies ruminantes e eqüina, voltado à montagem de um sistema de avaliação in vitro do estado imunitário de rebanhos pecuários submetidos a diferentes situações fisiopatológicas e de manejo. Globalmente, foram utilizadas 583 amostras séricas bovinas, caprinas e equinas procedentes de criações das Mesorregiões Metropolitana de Recife, Mata Pernambucana e Agreste Pernambucano, sendo 404 bovinas, 143 caprinas e 36 equinas. Em relação à espécie bovina, os animais foram submetidos previamente à tuberculinização (Teste Cervical Comparativo – TCC) e amostras séricas dos mesmos foram examinadas para brucelose (Antígeno Acidificado Tamponado – AAT) e leucose (Imunodifusão Radial Dupla de Ouchterlony - IDGA). Em função destes resultados e com o objetivo de determinar a concentração sérica de lisozima (Imunodifusão Radial Simples de Mancini) em diferentes situações foram constituídos os seguintes grupos experimentais: GI (amostras soropositivas ao IDGA para LEB); GII (amostras soropositivas ao AAT para brucelose); GIII (amostras de bovinos positivos ao TCC para tuberculose); GIV (amostras soropositivas ao IDGA para LEB e de bovinos positivos ao TCC para tuberculose); GV (amostras soropositivas ao IDGA para LEB e ao teste AAT para Brucelose); GVI (bovinos positivos ao TCC e amostras soropositivas ao AAT para brucelose); GVII (amostras séricas ou bovinos negativos aos testes aplicados). Amostras séricas caprinas foram previamente testadas para CAE (Artrite Encefalite Caprina) e, em seguida, submetidas à imunodifusão para determinar a concentração sérica de lisozima. As amostras equinas foram submetidas exclusivamente à imunodifusão para determinar a concentração sérica de lisozima. Os procedimentos relativos ao processamento das amostras de sangue recémcolhidas e aos exames sorológicos das espécies 1. O Primeiro autor é Graduando do Curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural de Pernambuco; 2. O Segundo Autor é Graduando do Curso de Zootecnia na Universidade Federal Rural de Pernambuco; 3. O Terceiro Autor é Graduando do Curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural de Pernambuco; 4. O quarto Autor é Professor Associado do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco; 5. O Quinto Autor é doutor em Ciências Veterinárias pela UFRPE; 6. O Sexto Autor é Mestranda em Ciência Veterinária na UFRPE. estudadas foram realizados no Laboratório Pesquisa em Clínica de Grandes Animais DMV da UFRPE, sendo o sorodiagnóstico CAEV realizado no Laboratório de Virologia DMV da UFRPE. de do da do Resultados e Discussão Dentre as 404 amostras bovinas, 143 (35%) apresentaram soropositividade para LEB, demonstrando uma elevada disseminação da doença nos rebanhos. Desse universo amostral, 400 foram efetivamente submetidas à imunodifusão para titulação da lisozima sérica e analisadas de acordo com a aplicação dos grupos experimentais. Observou-se que o grupo de amostras soropositivas para LEB (GI), com uma concentração média de lisozima de 7,4 /ml, apresentou uma titulação média de lisozima séria em níveis inferiores ao apresentado pelo grupo de amostras soronegativas para todas as doenças estudadas (GVIII, controle), com 7,6 /ml (Tabela 1). Das 143 amostras caprinas analisadas, 131 foram soronegativas para CAE e 12 reagiram positivamente para o mesmo teste. Os teores de lisozima sérica encontrados não foram diferentes entre os animais soropositivos e soronegativos para CAE, conforme descrição da tabela 2. As 36 amostras séricas eqüinas foram submetidas também à imunodifusão, e analisadas de acordo com o manejo aplicado, observando-se uma discreta diferença de 0,1/ml entre animais de tração e os criados em haras (tabela 3). Preservadas as peculiaridades das diferentes espécies pecuárias estudadas, os tamanhos variados das amostras e os diferentes momentos do exame das amostras, comparativamente, houve diferença nos teores médios de lisozima entre as espécies. Os resultados alcançados na pesquisa, uma vez que reafirmaram a padronização da técnica de Mancine para bovinos, são promissores em relação aos pequenos ruminantes e aos equinos, sendo eminente sua validação para determinar a concentração de lisozima sérica nessas espécies, prestando-se, inclusive, para ser utilizada na rotina do Laboratório de Pesquisa em Clínica de Grandes Animais. Adicionalmente, a evidente disseminação da LEB nos rebanhos estudados e os indícios da interferência do Vírus da Leucose Bovina nos teores séricos de lisozima sugere que a infecção pelo Vírus da Leucose Bovina encontra-se ativo, podendo estar comprometendo progressivamente a integridade da saúde dos rebanhos examinados, merecendo atenção especial dos produtores, veterinários e autoridades. Entretanto, este estudo deve ser consubstanciado a outros complementares, para que se possa inferir o caráter imunossupressor da infecção pelo VLB, corroborando, destarte, com a hipótese da intercorrência entre Leucose e bacterioses de importância clínicoepidemiológica, como a tuberculose. Por fim, os ensaios relativos aos teores de lisozima sérica nas espécies eqüina e caprina devem ter o universo amostral ampliado, para que se obtenham resultados mais confiáveis e permita que se aprofundem os estudos dos fatores fisiopatológicos que interferem na imunologia clínica dessas espécies. Agradecimentos Agradeço a Universidade Federal Rural de Pernambuco e ao CNPq, pelo incentivo dado e a oportunidade de ingressar na iniciação científica. Referências [1] AMBROGI, C. Studio di Parametri Immunologici atti a Valutare Fenomini Immunodepressivi Nell’animale da Esperimento. Milano, Tese de Láurea, 1986. [2] STRYER, L. Bioquímica, 3 ed. Rio de Janeiro, Guanabara, 1992. 881p [3] FREEDMAN, S.O.; GOLD, P. Clinical Immunology, 2 ed. EUA, 1976. p.65-77. [4] BIER, O. Microbiologia e Imunologia. 3 ed. Rio de Janeiro, Melhoramentos, 1984. 1234p. [5] TIZARD, I.R. Introdução à Imunologia Veterinária, São Paulo, 5 ed. Roca, 1998. p.259-312. [6] OSSERMAN, E.F.; LAWLOR,D.P. Serum and urinary Lysozime (Muramidase) in Monocitic and Monomyelocytic Leukemia. The Journal of Immunology, 1966 [7] MANCINI, G.; CARBONARA, A.O.; HEREMANS, J.F. Immunochemical quantitation of antigens by single radial immunodiffusion. Immunochemistry, v.2, p.235254.1965. [8] MILLER, J.M.; van der MAATEN, M.J. Use of glycoprotein antigen in the imunodiffusion test for bovine leukemia virus antibodies. European Journal of Cancer, v.13, p 1369-75, 1977. [9] BIRGEL, E.H. et al. Ocorrência de infecção causada pelo vírus da leucose bovina em gado leiteiro criado no Estado de São Paulo. Avaliação pela detecção de anticorpos séricos por imunodifusão com antígeno viral. In: CONFERENCIA ANUAL DA SOCIEDADE PAULISTA DE MEDICINA VETERINARIA, 43., Campinas, 1988b. Anais... p.31. Tabela 1. Concentração média de lisozima sérica em amostras bovinas examinadas pela imunodifusão, segundo o grupo experimental no período de agosto de 2005 a junho de 2009. Recife – 2009 Grupo Experimental Freqüência Lisozima Diâmetros dos halos (mm) GI (Leucose) 105 Concentração de lisozima (/ml) 7,9 (+-1,7) 7,4 (±1,5) GII (Brucelose) 9 8,0 (+-3,1) 6, 7 (+-2,3) GIII (Tuberculose) 38 8,4 (+-2,7) 7,0 (+-1,1) GIV (Leucose + tuberculose) 38 7,3 (+-2,4) 6,8 (+-1,4) GV (Leucose + Brucelose) 1 9,5 6,9 GVI (Tuberculose + Brucelose) 2 6,0 (+-0,7) 7,0 (+-0,4) GVII (Leucose + TB + Brucelose) 6 7,7 (+-1,9) 7,0 (+-0,6) GVIII (Negativos) 201 8,3 (+-1,6) 7,6 (+-1,1) Total 400 Tabela 2 – Média e desvio padrão dos diâmetros dos halos de lise e das concentrações séricas de lisozima e das amostras caprinas examinadas. Recife – 2009. Grupo Experimental Freqüência Lisozima Diâmetros dos halos (mm) Concentração de lisozima (/ml) CAEV-Positivos 12 8,8 (+-1,2) 8,3 (+-0,7) CAEV-Negativos 131 8,8 (±1,1) 8,3 (±0,6) 143 8,8 (±1,1) 8,3 (±0,6) Total Tabela 3 – Média e desvio padrão dos diâmetros dos halos de lise e das concentrações séricas de lisozima e das amostras eqüinas examinadas. Recife – 2009. Grupo Experimental Freqüência Lisozima Diâmetros dos halos (mm) Concentração de lisozima (/ml) Equinos carroceiros 7 8,5 (+-0,9) 8,6 (+-0,1) Equinos Haras 29 8,5 (±0,8) 8,5 (±0,6) Total 36 8,5 (±0,8) 8,5 (±0,5)