Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM Atualidades A APLICAÇÃO DO MODELO DE EDUC AÇÃO DE LAB ORA TÓRIO NO DUCAÇÃO ABORA ORATÓRIO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO E NFERMEIRO APPL YING THE LAB ORA TOR Y EDUC ATION MODEL PPLYING ABORA ORATOR TORY DUCA ATION TO THE PROCESS OF NURSES EDUC DUCA Denize Bouttelet Munari* Telma Vilela Borges Merjane** Rosa Maria Marques da Cruz*** RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar as bases do modelo de Educação de Laboratório e descrever a sua aplicação em uma disciplina de Curso de Graduação em Enfermagem, no sentido de viabilizar experiências que possibilitem a expansão da competência do aluno de graduação como instrumento para o seu desenvolvimento como gestor. A sistematização deste estudo, a partir de um modelo teórico, nos permitiu verificar que a experimentação de novas estratégias pode ter impacto importante no suporte do desenvolvimento pessoal e profissional do enfermeiro, fortalecendo suas habilidades para as relações que ele estabelece no trabalho, quer seja com a clientela assistida ou com membros da equipe. Palavras-chave: Capacidade de gestão; educação; enfermagem; recurso humano. ABSTRACT ABSTRACT:: The purposes of this work are to present the bases of the Laboratory Education Model and to describe its application in a discipline of the Nursing Undergraduate Course, in order to make possible the accomplishment of experiences that may enlarge the competence of the student, being an instrument for the development of management abilities. The systematization of this study, from a theoretical model, allowed us to verify that the experimentation of new strategies can have an important impact upon the personal and professional development of the nurses, strengthening their abilities to deal with the relationships established either with the attended clientele or with other members of the health team. Keywords: Management capacity; education; nursing; human resource.. I NTRODUÇÃO O desenvolvimento da competência do enfermeiro para a ação gerencial constitui-se em uma tarefa complexa tendo em vista a tendência da formação desses profissionais, na maioria das escolas, cuja ênfase é dada para o desenvolvimento técnico1. Na atualidade, vimos que é cada vez maior a necessidade de superação desse modelo para outro que privilegie também o desenvolvimento de habilidades no campo das relações humanas, aspecto tão presente nessa nova era, especialmente se considerarmos a dimensão do trabalho gerencial do enfermeiro2,3. O fato de vivermos na era da globalização exige dos profissionais uma postura que seja compatível com as mudanças e necessidades desse novo tempo, o que nos sugere que a formação do enfermeiro deve contemplar conteúdos que o instrumentalizem para uma ação assertiva, principalmente quando se trata de atividades desenR Enferm UERJ 2005; 13:263-9. • p.263 Educação de laboratório no ensino de enfermagem volvidas em equipes multidisciplinares ou da coordenação desse trabalho4,5. Nesse sentido, é esperado que o enfermeiro seja capaz de desempenhar um papel de gestor do trabalho, dentro de uma perspectiva participativa, no qual o objetivo é atingido pelo esforço da construção coletiva e não mais pela simples união de esforços individualizados e fragmentados2,6. O interesse pela temática surgiu após verificarmos a dificuldade que os alunos graduandos em enfermagem enfrentam ao entrar no estágio profissional, ocasião em que lhes é exigido o exercício de atividades inerentes a cargos de chefia e posição de comando. Em nossa experiência, essa etapa da formação é experimentada com muita angústia e conflitos relacionados ao campo das relações interpessoais. Paralelamente à nossa preocupação, verificamos nas Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino de Graduação em Enfermagem7 uma tendência para fortalecer, na formação do profissional, habilidades específicas para a gestão do trabalho em enfermagem e em saúde de forma participativa e focada no desenvolvimento coletivo. Assim, temos desenvolvido um trabalho sistemático****, há cinco anos, com alunos da quinta série do Curso de Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, no sentido de viabilizar experiências, aplicando o modelo de Educação de Laboratório, que possibilitem a expansão da competência como instrumento para o seu desenvolvimento como gestor. Nessa perspectiva, desenhamos o presente trabalho com o objetivo de apresentar o modelo de Educação de Laboratório8 e descrever a sua aplicação em uma disciplina de um Curso de Graduação em Enfermagem como forma de fortalecimento da competência pessoal e profissional do aluno para a ação gerencial. O M ODELO DE E DUCAÇÃO L AB ORA TÓRIO ORATÓRIO DE A Educação de Laboratório é um termo genérico, aplicado a um conjunto metodológico visando mudanças pessoais a partir de aprendizagens baseadas em experiências diretas ou vivências”8:5. Trata-se de uma tecnologia que considera o sujeito do aprendizado em sua complexidade, com capacidade para a autogestão e potencial para o crescimento. p.264 • R Enferm UERJ 2005; 13:263-9. No que diz respeito às mudanças pessoais, vários níveis de aprendizagem são alvos dessa forma de se trabalhar, como o cognitivo (informações, conhecimentos, compreensão intelectual), o emocional (emoções e sentimentos, gostos, preferências), o atitudinal (percepções, conhecimentos, emoções e predisposições para ação integrada) e o comportamental (atuação e competência). Na Educação de Laboratório o foco do aprendizado recorre sobre a dimensão das atitudes, englobando funções e experiências cognitivas e afetivas. A forma como cada pessoa processa esse aprendizado é muito particular, pois depende de uma elaboração individualizada, embora se dê no meio coletivo. No entanto, é esperada alguma mudança de comportamento, mesmo que essa não seja linear entre os membros de um mesmo grupo, porém pode se dar em diferentes níveis de acordo com a capacidade e disponibilidade para o aprofundamento do aprendizado. Vários referenciais teóricos (behaviorista, cognitivo ou humanístico) do processo ensino-aprendizado podem ser acionados nesse modelo, desde que pertinentes às tarefas, atitudes ou comportamentos que se espera do aprendiz8. Esse modelo foi apresentado ainda na década de 70 e para a compreensão do seu esquema de aprendizagem três suposições básicas são fundamentais: A Educação de Laboratório deve exaltar o nível de consciência e perspicácia de seus participantes. O termo treinamento de sensibilidade coloca a ênfase em ajudar os indivíduos a darem conta de que eles mesmos, outros grupos e organizações causam impacto um ao outro; Os grupos coesos que produzem abertura, calor e confiança, são os veículos chaves para a aprendizagem. Tais grupos podem encorajar os participantes a serem mais sinceros, correrem mais riscos e, conseqüentemente, produzirem informação mais válida. Uma vez que as pessoas são ajudadas a expressar o inexprimível e a discutir o indiscutível, as dificuldades criadas pela endêmica censura pessoal e social da vida moderna podem ser reduzidas. Uma vez que os indivíduos recebem informação, se dão conta e interiorizam a aprendizagem, mudanças de comportamentos e atitudes podem vir a seguir. O critério apropriado para a internalização é emocional e não apenas uma compreensão simplesmente intelectual9:297. Um aspecto fundamental desse modelo é que ele é centrado na pessoa do aluno. Para essa tecnologia, é indispensável que se pense na ca- Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM pacidade do aprendiz, de acordo com sua idade, cultura, conhecimentos prévios, vivências, experiências de vida, assim como é fundamento da andragogia que se distancia da pedagogia por considerar as diferenças elementares no aprendizado de adultos para crianças e adolescentes8. A educação de adultos constitui um dos grandes desafios da atualidade, dada a necessidade permanente de mudança nos processos organizacionais e da imperiosa necessidade de atualização do conhecimento como condição de sobrevivência no mundo do trabalho. Para tanto, é fundamental que o adulto seja tratado de modo particular, considerando suas necessidades, desejos e perspectivas para o crescimento como pessoa e profissional. Os pressupostos do Laboratório. O nome laboratório indica, fundamentalmente, o caráter experimental da situação de treinamento, no sentido de que os participantes são encorajados a experimentar comportamentos diferentes do seu padrão costumeiro de interação com outras pessoas em grupo, sem as conseqüências que adviriam de tal experimentação na vida real (trabalho, lar)8:6. No entanto a situação de treinamento não torna o processo totalmente artificial, uma vez que as pessoas que dele fazem parte são reais e as situações discutidas e colocadas em questão guardam semelhança com as situações do cotidiano. Ele é focado no contexto do aqui-agora, onde a experiência presente é o que movimenta as demais ações de aprendizagem. A essência dos objetivos da Educação de Laboratório parte do pressuposto filosófico “que considera o homem como um ser que se desenvolve, continuamente, em busca de realização e felicidade”8:7. A partir dessa perspectiva, as metas são desenhadas sobre as premissas de aprender a aprender, aprender a dar ajuda e a participação eficiente em grupos. Tais prerrogativas partem do princípio que a aprendizagem deve ser significativa e, portanto, deve fazer sentido para os sujeitos que passam a se apropriar desse conhecimento como algo genuinamente importante e concebido a partir da sua contribuição. Nesse movimento, a necessidade de compartilhar com o outro suas percepções é indispensável, pois é com o outro que podemos aprender a dar, receber feedback e compartilhar o árduo aprendizado das trocas autênticas, do estabelecimento da confiança e do respeito. A participação eficiente nos grupos fecha esse ciclo de aprendizado, que nos permite agir de modo mais consciente frente aos nossos limites nas relações, com vistas à abertura e disponibilidade para o aperfeiçoamento de atitudes e comportamentos. Vivências e mapas cognitivos Tendo como ponto de partida a experiência no aqui-agora do grupo, o primeiro movimento se constitui em disponibilizar todas as observações dentro do contexto grupal para serem indagadas. O segundo movimento é a utilização desse material disponibilizado nas observações para ser analisado através do método indutivo, que tenta explorar e analisar como as coisas acontecem e o conteúdo que acompanha tal movimento. O coordenador nesse modelo se presta a ajudar o grupo a explorar a situação e examinar os eventos, para que todos possam aprender com a experiência. Esse papel exige habilidade, competência e atitude para criar, com o grupo, um clima de confiança suficiente para que os participantes se sintam à vontade para experimentar novas maneiras de agir, experimentar e rever seus sentimentos e emoções frente aos eventos do cotidiano do trabalho coletivo e exercitar novos papéis. Esse modelo valoriza a postura ativa do aprendiz no processo, por considerá-lo ator do aprendizado tanto quanto aquele que ensina. Nesse sentido a vivência experimentada pelos membros do grupo se presta ora de figura ora como fundo do contexto de aprendizado que busca as dimensões subjetivas do processo, mas igualmente articula os conhecimentos, as informações e os conceitos teóricos para construir o mapa cognitivo que torna capaz a compreensão objetiva e concreta do material apreendido, para que possa ser utilizado pelo sujeito do aprendizado em qualquer situação em que aquilo se aplica. Assim, o desenvolvimento intelectual não se dá pelas mãos do coordenador do grupo, mas pelas iniciativas dos membros para prover a si e ao grupo de fontes e recursos para aprender. O funcionamento de um laboratório de treinamento A condução de um laboratório de treinamento deve contar com um profissional experiente e competente para a tarefa de guiar o grupo para o aprendizado sobre si mesmo, que reúna qualidades como: a resiliência, a paciência e o respeito pelo tempo e movimento do grupo. R Enferm UERJ 2005; 13:263-9. • p.265 Educação de laboratório no ensino de enfermagem O funcionamento de um laboratório de treinamento congrega um pequeno grupo de pessoas se reúne para estudar seu próprio funcionamento ao vivo, suas relações interpessoais e grupais, com a ajuda de um coordenador (trainer) 8:10. Na concepção das atividades propostas não se trabalha a princípio com uma agenda prévia, nem programa predeterminado. Na realidade, o grupo define temas e atividades, que devem ser mediadas pelo coordenador que não assume o papel de líder formal ou professor, mas de partícipe junto ao processo de desenvolvimento interpessoal dos sujeitos do grupo, por meio da estrutura do ciclo vivencial de aprendizagem. Em geral, os laboratórios são programados para acontecer em períodos intensivos, em torno de dois a três dias. O ciclo vivencial de aprendizagem O processo vivencial de aprendizagem compreende quatro etapas seqüenciais e interdependentes: atividade, análise, conceituação e conexão com o real (CAVE). Cada etapa da atividade é desenvolvida por meio de uma vivência de situação significativa para o grupo que pode ser mediante a resolução de um problema, jogos dramáticos, simulações, jogo de papéis, exercícios verbais ou não verbais. Geralmente, o grupo é disponível e aberto à participação e colaboração. O final dessa etapa leva o grupo a se encaminhar para a análise ou processamento da atividade, na qual é fundamental a análise crítica de como o grupo se manifestou e quais foram os resultados. Essa fase, em geral, mobiliza muita energia emocional, sendo comum a exposição de sentimentos, idéias, opiniões e percepções. Aqui também os sujeitos do processo podem ser espontâneos e praticar o feedback. Para que essa etapa traga crescimento para o grupo, é fundamental que, na seqüência, a experiência seja ilustrada à luz de conceitos teóricos e conhecimentos que ajudem na compreensão objetiva das questões levantadas nas etapas anteriores. Assim, é essencial a contribuição do coordenador e das leituras feitas pelos membros do grupo, para que haja sistematização dos mapas cognitivos individuais e da conscientização de aspectos limitadores do melhor desenvolvimento dos sujeitos na convivência com o grupo. O fechamento do ciclo se dá pela conexão do conteúdo explorado nas etapas anteriores com p.266 • R Enferm UERJ 2005; 13:263-9. o real vivido pelos membros do grupo. Essa fase é caracterizada por reflexões e ampliação do olhar sobre o objeto da discussão, focado nas situações práticas da vida em geral, o que possibilita abertura para a mudança. Vale ressaltar que essa modalidade de trabalho, como qualquer outra, não é infalível, e pode, eventualmente, não produzir os resultados esperados, uma vez que é um processo que depende de fatores internos e externos do próprio aprendiz, do contexto em que ele se dá e ainda do coordenador. O que podemos destacar, ao utilizarmos esse modelo, é que o ciclo vivencial alcança um nível mais aprofundado de mudanças cognitivas e atitudinal/comportamental já que possibilita o envolvimento da pessoa como um todo no processo, em particular, trazendo para a cena de aprendizado as emoções, as percepções, os conhecimentos e as habilidades. A APLICAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE LAB ORA TÓRIO NA FORMAÇÃO DO ABORA ORATÓRIO ENFERMEIRO A área de saúde mental tem acompanhado, há mais de cinco anos, por meio de uma disciplina, a trajetória de graduandos de enfermagem cursando o último semestre. Inicialmente, o objetivo geral da referida disciplina era de tornar o aluno capaz de conhecer o funcionamento e a dinâmica dos grupos. Observamos, nessas ocasiões, a angústia frente ao futuro profissional e a vivência do papel de gestor. Assim, nos últimos anos, com a inclusão do estágio curricular, que compreende cerca de 500 horas de trabalho em instituições de saúde hospitalar e extra-hospitalar, inclusive em outros municípios do Estado, verificamos que essa situação deixa o aluno mais exposto a essa dificuldade. A experiência em pesquisa sobre essa temática10-13 nos permitiu verificar a importância de sensibilizarmos o futuro enfermeiro para uma atuação mais assertiva no que diz respeito ao trabalho com grupos e equipes. Assim, ao diagnosticar a situação enfrentada pelos alunos, buscamos no modelo de Educação de Laboratório6 melhores condições para trabalharmos essa dimensão da formação do profissional enfermeiro, por essa estratégia privilegiar o desenvolvimento da dimensão pessoal e profissional. Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM A disciplina O projeto da disciplina é elaborado juntamente com o grupo de alunos, nos primeiros encontros, a partir do mapeamento de suas necessidades. Embora a ementa e os objetivos sejam previamente fixados pelo curso, os demais aspectos são elaborados desde o seu início com a participação ativa dos alunos. Na ocasião de iniciarmos a disciplina, fazemos o contrato de trabalho, no qual as únicas questões que não podem ser alteradas são o dia da semana, horário e carga horária (60 horas). Todas as questões relativas ao contrato são definidas no primeiro encontro, ocasião em que ouvimos quais são as necessidades da turma frente a suas vivências nos estágios curriculares obrigatórios, nos quais desempenham a função do enfermeiro gestor, respondendo pelos serviços em unidades hospitalares, pré-hospitalares e na rede básica em saúde coletiva. Nesse momento, são determinados as regras do grupo e os critérios de avaliação dentro de uma perspectiva de gestão compartilhada da disciplina, na qual a participação do grupo é indispensável. Nesse contato, definimos que a metodologia utilizada é a de Educação de Laboratório, no qual tudo o que se passa com o grupo serve para análise e aprendizado da vivência grupal. O modelo de abordagem é o teórico-prático-vivencial, focado no desenvolvimento interpessoal. O grupo se reúne a cada 15 dias, por um período de três horas e meia. A coordenação do encontro é compartilhada com os membros do grupo, que é dividido em pequenos subgrupos de até quatro alunos para a coordenação das atividades diárias. Tais subgrupos recebem orientação da coordenadora da disciplina quanto à abordagem do conteúdo e estratégias de manejo grupal. Embora a estrutura de laboratórios seja prevista em períodos intensivos, adaptamos o seu desenvolvimento nessa experiência à necessidade de acompanhamento dos alunos ao longo de um ano. Assim, utilizamos todos os princípios desse modelo, exceto a periodicidade. Como referencial teórico básico, utilizamos um livro texto7, cujos capítulos nos servem de guia para cada encontro, sendo acrescidas ainda outras referências na medida em que o grupo solicita ou demonstra interesse em aprofundamento do estudo. Os encontros começam sempre a partir da leitura de um registro escrito do encontro anterior, feito por duplas, que serve para atualizar os presentes sobre o que se passou, além de se constituir em uma forma de aquecimento do grupo para a tarefa do dia. Os temas centrais envolvem o desenvolvimento da competência interpessoal, interação no grupo: tarefa e emoção, como dar e receber feedback, planejamento, funcionamento e avaliação de grupo, liderança, comunicação, poder, conflito, negociação entre outros. Todos os encontros são desenvolvidos tendo em mente o processo vivencial de aprendizagem, em que partimos de uma atividade, promovendo sua análise, conceituação e conexão com o real. RESUL TADOS ESULT A E PERSPECTIV AS ERSPECTIVAS experiência tem sido desenvolvida ao longo dos últimos cinco anos, de 2000 a 2004. Nossa preocupação em relação à adequação dessa estratégia às necessidades de aprendizado do futuro profissional tem nos levado a realizar uma avaliação sistemática dos resultados da disciplina junto aos alunos quando do encerramento da mesma no final do ano. O foco do trabalho no desenvolvimento interpessoal tem possibilitado ao grupo um exercício de autopercepção e de conhecimento de habilidades e dificuldades para as relações interpessoais, o que favorece o contato do grupo com a coordenação, viabilizando o vínculo de confiança. Parte desses resultados foi divulgada em um estudo recente13 que mapeou algumas dimensões do aprendizado da competência interpessoal, a partir do modelo de Educação de Laboratório, indicando os aspectos de maior dificuldade/facilidade para os alunos e a importância da oferta de espaços onde essas questões possam ser tratadas ainda na graduação. O modelo de aprendizado teórico-vivencial abre possibilidades para a experimentação do grupo como campo de vivências e a compreensão da natureza e características do trabalho grupal que, ao abrir conexões com o mundo real vivido pelos alunos, ampliam a visão dos mesmos quanto às problemáticas enfrentadas no aprendizado do papel de gestor. Assim, além de experimentar os desafios da convivência coletiva desenhada a partir de uma R Enferm UERJ 2005; 13:263-9. • p.267 Educação de laboratório no ensino de enfermagem liderança compartilhada, os alunos experimentam o papel de membro de grupo ao mesmo tempo em que são sensibilizados para exercer a tarefa de coordenador, compreendida na dimensão crítica da postura de um sujeito capaz de identificar as potencialidades da equipe, estimular sua autonomia para a autogestão e compreender seus limites e possibilidades14. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo do modelo teórico da Educação de Laboratório e a sua utilização sistemática junto aos graduandos em uma disciplina da graduação nos permitiu verificar sua importância no suporte de desenvolvimento pessoal e profissional do futuro enfermeiro, fortalecendo suas habilidades para as relações que estabelece no seu trabalho, quer seja com a clientela assistida, quer com seus colegas da equipe. Essas habilidades são consideradas hoje como diferenciais na melhoria da qualidade do trabalho humano e especificamente em saúde15,16. Acreditamos ter tornado mais visível o modelo de Educação de Laboratório e que a estratégia adotada, como meio de condução de uma disciplina obrigatória da grade curricular do curso, possibilita aos profissionais em formação oportunidades para a experimentação dos vários papéis que lhes são exigidos na prática profissional16,17. A avaliação sistemática ao término de cada ano letivo tem deixado clara a importância da disciplina como articuladora junto às demais disciplinas da série. A gestão compartilhada da disciplina com os alunos tem sido um importante instrumento de aprendizado coletivo, no qual ganham alunos e docentes. Para os alunos em curso, é notória a relevância da disciplina para o seu crescimento, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento da pessoa que habita o profissional em formação, aspecto esse que tem se tornado um diferencial no sistema de ensino e de projeção da nossa instituição no mercado de trabalho. p.268 • R Enferm UERJ 2005; 13:263-9. REFERÊNCIAS 1. Esperidião E, Munari DB. Repensando a formação do enfermeiro e investindo na pessoa: algumas contribuições da abordagem gestáltica. R Bras Enferm 2000; 53: 415-23. 2. Trevizan MA, Mendes IAC, Melo MRA. Liderança e comunicação no cenário da gestão em enfermagem. R Latam Enferm 1998; 6: 77-82. 3. Mendes IAC, Trevizan MA, Ferraz CA, Hayashida M. Liderança da enfermeira na perspectiva da ética pós-moderna. R Bras Enferm 2000; 53: 410-14. 4. Urbano L. As reformulações na saúde e o novo perfil de profissional requerido. R Enferm UERJ 2002; 10:142-45. 5. Lima JC, Binsfeld L. O trabalho do enfermeiro na organização hospitalar: núcleo operacional autônomo ou assessoria de apoio ao serviço médico? R Enferm UERJ 2003; 11:98-103. 6. Machado MH. Gestão do trabalho em saúde no contexto de mudanças. RAP 2000; 34: 133 -46. 7. Conselho Nacional de Educação (Br). Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Resolução CNE/CES, n.3, 07/11/2001. Brasília (DF): CNE; 2001. 8.Moscovici F. Desenvolvimento interpessoal. Rio de Janeiro: José Olympio; 2001. 9. Argyris C. Reflecting on laboratory education from a theory of action perspective. Journ Appl Behav Scie 1979; 15:296-310. 10. Munari DB, Zago MMF. Grupos de apoio/suporte e grupos de auto-ajuda: aspectos conceituais e operacionais, semelhanças e diferenças. R Enferm UERJ 1997; 5:359-66. 11. Saeki T, Munari DB, Alencastre MB, Souza MCBM. Reflexões sobre o ensino da dinâmica de grupo para alunos de graduação em enfermagem. R Enferm EEUSP 1999; 33: 342-47. 12.Munari DB, Furegato ARF. Enfermagem e grupos. Goiânia (GO): ABEditora; 2003. 13. Munari DB, Costa HK, Cardoso AHA, Almeida CCOF. Características da competência interpessoal do enfermeiro: estudo com graduandos de enfermagem. R Bras Enferm 2003; 56: 480-83. 14. Andaló CSA. O papel de coordenador de grupo. Psicologia USP 2001; 12: 135-52. 15.Moscovici F, organizadora. A organização por trás do espelho. Rio de Janeiro: José Olympio; 2001. 16. Osório LC. Psicologia grupal: uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 2003. 17. Christovan BP, Santos I. Os desafios da gerência do enfermeiro no nível central de saúde. R Enferm UERJ 2004; 12:66-70. Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM U SO DEL MODELO E NFERMERO DE EDUC ACIÓN DUCA DE LAB ORA TORIO ABORA ORATORIO EN EL P ROCESO DE FORMA CIÓN ORMACIÓN DEL RESUMEN: Esta trabajo tiene como objetivo presentar las bases del modelo de Educación de Laboratorio y describir su aplicación en una asignatura de un Curso de Graduación en Enfermería, en el sentido de hacer viable experiencias que posibiliten la expansión de la competencia del alumno de graduación como instrumento para su desarrollo como gestor. La sistematización de este estudio, a partir de un modelo teórico, nos ha permitido verificar que la experimentación de nuevas estrategias puede tener un impacto importante en el soporte del desarrollo personal y profesional del enfermero, siendo fortificadas sus habilidades para las relaciones que él establece en el trabajo, sea con una cartera de clientes, sea con miembros del equipo profesional. Palabras clave: Capacidad de gestión; educación, enfermería; recurso humano.. Recebido em: 11.11.2004 Aprovado em: 08.03.2005 Notas * Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Profª Titular e Pesquisadora 2B CNPq. Rua 28A n. 705/602 Setor Aeroporto. 74075-500 Goiânia GO. Email:[email protected] ** Professora e Psicóloga Universidade Sulamericana-Goiânia. Departamento de Comunicação e Marketing da Faculdade SulAmericana - Goiânia -GO *** Psicóloga do Departamento de Recursos Humanos do Hospital de Urgências de Goiânia- GO. **** Trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde Integral da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Financiado pelo CNPq. R Enferm UERJ 2005; 13:263-9. • p.269