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2005 modelo Lab Gestão

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Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM
Atualidades
A APLICAÇÃO DO MODELO DE
EDUC
AÇÃO DE LAB
ORA
TÓRIO NO
DUCAÇÃO
ABORA
ORATÓRIO
PROCESSO DE FORMAÇÃO DO
E NFERMEIRO
APPL
YING THE LAB
ORA
TOR
Y EDUC
ATION MODEL
PPLYING
ABORA
ORATOR
TORY
DUCA
ATION
TO THE PROCESS OF NURSES EDUC
DUCA
Denize Bouttelet Munari*
Telma Vilela Borges Merjane**
Rosa Maria Marques da Cruz***
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar as bases do modelo de Educação de Laboratório
e descrever a sua aplicação em uma disciplina de Curso de Graduação em Enfermagem, no sentido de
viabilizar experiências que possibilitem a expansão da competência do aluno de graduação como
instrumento para o seu desenvolvimento como gestor. A sistematização deste estudo, a partir de um
modelo teórico, nos permitiu verificar que a experimentação de novas estratégias pode ter impacto
importante no suporte do desenvolvimento pessoal e profissional do enfermeiro, fortalecendo suas
habilidades para as relações que ele estabelece no trabalho, quer seja com a clientela assistida ou com
membros da equipe.
Palavras-chave: Capacidade de gestão; educação; enfermagem; recurso humano.
ABSTRACT
ABSTRACT:: The purposes of this work are to present the bases of the Laboratory Education Model and
to describe its application in a discipline of the Nursing Undergraduate Course, in order to make possible
the accomplishment of experiences that may enlarge the competence of the student, being an instrument
for the development of management abilities. The systematization of this study, from a theoretical model,
allowed us to verify that the experimentation of new strategies can have an important impact upon the
personal and professional development of the nurses, strengthening their abilities to deal with the
relationships established either with the attended clientele or with other members of the health team.
Keywords: Management capacity; education; nursing; human resource..
I NTRODUÇÃO
O
desenvolvimento da competência do
enfermeiro para a ação gerencial constitui-se em
uma tarefa complexa tendo em vista a tendência
da formação desses profissionais, na maioria das
escolas, cuja ênfase é dada para o desenvolvimento técnico1.
Na atualidade, vimos que é cada vez maior
a necessidade de superação desse modelo para
outro que privilegie também o desenvolvimento
de habilidades no campo das relações humanas,
aspecto tão presente nessa nova era, especialmente se considerarmos a dimensão do trabalho
gerencial do enfermeiro2,3.
O fato de vivermos na era da globalização
exige dos profissionais uma postura que seja compatível com as mudanças e necessidades desse
novo tempo, o que nos sugere que a formação do
enfermeiro deve contemplar conteúdos que o
instrumentalizem para uma ação assertiva, principalmente quando se trata de atividades desenR Enferm UERJ 2005; 13:263-9.
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Educação de laboratório no ensino de enfermagem
volvidas em equipes multidisciplinares ou da coordenação desse trabalho4,5.
Nesse sentido, é esperado que o enfermeiro
seja capaz de desempenhar um papel de gestor do
trabalho, dentro de uma perspectiva participativa,
no qual o objetivo é atingido pelo esforço da construção coletiva e não mais pela simples união de
esforços individualizados e fragmentados2,6.
O interesse pela temática surgiu após verificarmos a dificuldade que os alunos graduandos
em enfermagem enfrentam ao entrar no estágio
profissional, ocasião em que lhes é exigido o exercício de atividades inerentes a cargos de chefia e
posição de comando. Em nossa experiência, essa
etapa da formação é experimentada com muita
angústia e conflitos relacionados ao campo das
relações interpessoais.
Paralelamente à nossa preocupação, verificamos nas Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino de Graduação em Enfermagem7 uma tendência
para fortalecer, na formação do profissional, habilidades específicas para a gestão do trabalho em
enfermagem e em saúde de forma participativa e
focada no desenvolvimento coletivo.
Assim, temos desenvolvido um trabalho sistemático****, há cinco anos, com alunos da quinta série do Curso de Graduação da Faculdade de
Enfermagem da Universidade Federal de Goiás,
no sentido de viabilizar experiências, aplicando o
modelo de Educação de Laboratório, que possibilitem a expansão da competência como instrumento para o seu desenvolvimento como gestor.
Nessa perspectiva, desenhamos o presente
trabalho com o objetivo de apresentar o modelo
de Educação de Laboratório8 e descrever a sua
aplicação em uma disciplina de um Curso de Graduação em Enfermagem como forma de fortalecimento da competência pessoal e profissional do
aluno para a ação gerencial.
O M ODELO DE E DUCAÇÃO
L AB ORA
TÓRIO
ORATÓRIO
DE
A Educação de Laboratório é um termo genérico,
aplicado a um conjunto metodológico visando mudanças pessoais a partir de aprendizagens baseadas
em experiências diretas ou vivências”8:5.
Trata-se de uma tecnologia que considera o
sujeito do aprendizado em sua complexidade, com
capacidade para a autogestão e potencial para o
crescimento.
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R Enferm UERJ 2005; 13:263-9.
No que diz respeito às mudanças pessoais,
vários níveis de aprendizagem são alvos dessa forma de se trabalhar, como o cognitivo (informações, conhecimentos, compreensão intelectual),
o emocional (emoções e sentimentos, gostos, preferências), o atitudinal (percepções, conhecimentos, emoções e predisposições para ação integrada) e o comportamental (atuação e competência).
Na Educação de Laboratório o foco do aprendizado recorre sobre a dimensão das atitudes,
englobando funções e experiências cognitivas e
afetivas. A forma como cada pessoa processa esse
aprendizado é muito particular, pois depende de
uma elaboração individualizada, embora se dê no
meio coletivo. No entanto, é esperada alguma
mudança de comportamento, mesmo que essa não
seja linear entre os membros de um mesmo grupo,
porém pode se dar em diferentes níveis de acordo
com a capacidade e disponibilidade para o
aprofundamento do aprendizado. Vários
referenciais teóricos (behaviorista, cognitivo ou
humanístico) do processo ensino-aprendizado
podem ser acionados nesse modelo, desde que
pertinentes às tarefas, atitudes ou comportamentos que se espera do aprendiz8.
Esse modelo foi apresentado ainda na década de 70 e para a compreensão do seu esquema
de aprendizagem três suposições básicas são fundamentais:
A Educação de Laboratório deve exaltar o nível de
consciência e perspicácia de seus participantes. O
termo treinamento de sensibilidade coloca a ênfase
em ajudar os indivíduos a darem conta de que eles
mesmos, outros grupos e organizações causam impacto um ao outro;
Os grupos coesos que produzem abertura, calor e
confiança, são os veículos chaves para a aprendizagem. Tais grupos podem encorajar os participantes a
serem mais sinceros, correrem mais riscos e, conseqüentemente, produzirem informação mais válida.
Uma vez que as pessoas são ajudadas a expressar o
inexprimível e a discutir o indiscutível, as dificuldades criadas pela endêmica censura pessoal e social
da vida moderna podem ser reduzidas.
Uma vez que os indivíduos recebem informação, se
dão conta e interiorizam a aprendizagem, mudanças
de comportamentos e atitudes podem vir a seguir. O
critério apropriado para a internalização é emocional
e não apenas uma compreensão simplesmente intelectual9:297.
Um aspecto fundamental desse modelo é que
ele é centrado na pessoa do aluno. Para essa
tecnologia, é indispensável que se pense na ca-
Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM
pacidade do aprendiz, de acordo com sua idade,
cultura, conhecimentos prévios, vivências, experiências de vida, assim como é fundamento da
andragogia que se distancia da pedagogia por
considerar as diferenças elementares no aprendizado de adultos para crianças e adolescentes8.
A educação de adultos constitui um dos grandes desafios da atualidade, dada a necessidade
permanente de mudança nos processos
organizacionais e da imperiosa necessidade de
atualização do conhecimento como condição de
sobrevivência no mundo do trabalho. Para tanto,
é fundamental que o adulto seja tratado de modo
particular, considerando suas necessidades, desejos e perspectivas para o crescimento como pessoa e profissional.
Os pressupostos do Laboratório.
O nome laboratório indica, fundamentalmente, o
caráter experimental da situação de treinamento, no
sentido de que os participantes são encorajados a
experimentar comportamentos diferentes do seu padrão costumeiro de interação com outras pessoas em
grupo, sem as conseqüências que adviriam de tal
experimentação na vida real (trabalho, lar)8:6.
No entanto a situação de treinamento não
torna o processo totalmente artificial, uma vez que
as pessoas que dele fazem parte são reais e as situações discutidas e colocadas em questão guardam
semelhança com as situações do cotidiano. Ele é
focado no contexto do aqui-agora, onde a experiência presente é o que movimenta as demais ações
de aprendizagem.
A essência dos objetivos da Educação de
Laboratório parte do pressuposto filosófico “que
considera o homem como um ser que se desenvolve, continuamente, em busca de realização e
felicidade”8:7.
A partir dessa perspectiva, as metas são desenhadas sobre as premissas de aprender a aprender, aprender a dar ajuda e a participação eficiente em grupos.
Tais prerrogativas partem do princípio que a
aprendizagem deve ser significativa e, portanto,
deve fazer sentido para os sujeitos que passam a
se apropriar desse conhecimento como algo genuinamente importante e concebido a partir da
sua contribuição. Nesse movimento, a necessidade de compartilhar com o outro suas percepções
é indispensável, pois é com o outro que podemos
aprender a dar, receber feedback e compartilhar o
árduo aprendizado das trocas autênticas, do estabelecimento da confiança e do respeito.
A participação eficiente nos grupos fecha esse
ciclo de aprendizado, que nos permite agir de modo
mais consciente frente aos nossos limites nas relações, com vistas à abertura e disponibilidade para
o aperfeiçoamento de atitudes e comportamentos.
Vivências e mapas cognitivos
Tendo como ponto de partida a experiência
no aqui-agora do grupo, o primeiro movimento se
constitui em disponibilizar todas as observações
dentro do contexto grupal para serem indagadas.
O segundo movimento é a utilização desse material disponibilizado nas observações para ser analisado através do método indutivo, que tenta explorar e analisar como as coisas acontecem e o
conteúdo que acompanha tal movimento.
O coordenador nesse modelo se presta a ajudar o grupo a explorar a situação e examinar os
eventos, para que todos possam aprender com a
experiência. Esse papel exige habilidade, competência e atitude para criar, com o grupo, um clima
de confiança suficiente para que os participantes
se sintam à vontade para experimentar novas maneiras de agir, experimentar e rever seus sentimentos e emoções frente aos eventos do cotidiano do
trabalho coletivo e exercitar novos papéis.
Esse modelo valoriza a postura ativa do
aprendiz no processo, por considerá-lo ator do
aprendizado tanto quanto aquele que ensina.
Nesse sentido a vivência experimentada pelos
membros do grupo se presta ora de figura ora como
fundo do contexto de aprendizado que busca as
dimensões subjetivas do processo, mas igualmente articula os conhecimentos, as informações e os
conceitos teóricos para construir o mapa cognitivo
que torna capaz a compreensão objetiva e concreta do material apreendido, para que possa ser
utilizado pelo sujeito do aprendizado em qualquer
situação em que aquilo se aplica.
Assim, o desenvolvimento intelectual não se
dá pelas mãos do coordenador do grupo, mas pelas iniciativas dos membros para prover a si e ao
grupo de fontes e recursos para aprender.
O funcionamento de um laboratório de
treinamento
A condução de um laboratório de treinamento deve contar com um profissional experiente e
competente para a tarefa de guiar o grupo para o
aprendizado sobre si mesmo, que reúna qualidades como: a resiliência, a paciência e o respeito
pelo tempo e movimento do grupo.
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Educação de laboratório no ensino de enfermagem
O funcionamento de um laboratório de treinamento congrega
um pequeno grupo de pessoas se reúne para estudar
seu próprio funcionamento ao vivo, suas relações
interpessoais e grupais, com a ajuda de um coordenador (trainer) 8:10.
Na concepção das atividades propostas não
se trabalha a princípio com uma agenda prévia,
nem programa predeterminado. Na realidade, o
grupo define temas e atividades, que devem ser
mediadas pelo coordenador que não assume o
papel de líder formal ou professor, mas de partícipe
junto ao processo de desenvolvimento interpessoal
dos sujeitos do grupo, por meio da estrutura do
ciclo vivencial de aprendizagem.
Em geral, os laboratórios são programados
para acontecer em períodos intensivos, em torno
de dois a três dias.
O ciclo vivencial de aprendizagem
O processo vivencial de aprendizagem compreende quatro etapas seqüenciais e interdependentes: atividade, análise, conceituação e conexão com o real (CAVE). Cada etapa da atividade
é desenvolvida por meio de uma vivência de situação significativa para o grupo que pode ser mediante a resolução de um problema, jogos dramáticos, simulações, jogo de papéis, exercícios verbais
ou não verbais. Geralmente, o grupo é disponível e
aberto à participação e colaboração.
O final dessa etapa leva o grupo a se encaminhar para a análise ou processamento da atividade, na qual é fundamental a análise crítica de
como o grupo se manifestou e quais foram os resultados. Essa fase, em geral, mobiliza muita energia emocional, sendo comum a exposição de sentimentos, idéias, opiniões e percepções. Aqui também os sujeitos do processo podem ser espontâneos e praticar o feedback.
Para que essa etapa traga crescimento para
o grupo, é fundamental que, na seqüência, a experiência seja ilustrada à luz de conceitos teóricos e conhecimentos que ajudem na compreensão objetiva das questões levantadas nas etapas
anteriores. Assim, é essencial a contribuição do
coordenador e das leituras feitas pelos membros
do grupo, para que haja sistematização dos mapas
cognitivos individuais e da conscientização de
aspectos limitadores do melhor desenvolvimento
dos sujeitos na convivência com o grupo.
O fechamento do ciclo se dá pela conexão
do conteúdo explorado nas etapas anteriores com
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o real vivido pelos membros do grupo. Essa fase é
caracterizada por reflexões e ampliação do olhar
sobre o objeto da discussão, focado nas situações
práticas da vida em geral, o que possibilita abertura para a mudança.
Vale ressaltar que essa modalidade de trabalho, como qualquer outra, não é infalível, e
pode, eventualmente, não produzir os resultados
esperados, uma vez que é um processo que depende de fatores internos e externos do próprio
aprendiz, do contexto em que ele se dá e ainda
do coordenador.
O que podemos destacar, ao utilizarmos esse
modelo, é que o ciclo vivencial alcança um nível
mais aprofundado de mudanças cognitivas e
atitudinal/comportamental já que possibilita o
envolvimento da pessoa como um todo no processo, em particular, trazendo para a cena de aprendizado as emoções, as percepções, os conhecimentos e as habilidades.
A APLICAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE
LAB
ORA
TÓRIO NA FORMAÇÃO DO
ABORA
ORATÓRIO
ENFERMEIRO
A área de saúde mental tem acompanhado,
há mais de cinco anos, por meio de uma disciplina, a trajetória de graduandos de enfermagem cursando o último semestre. Inicialmente, o objetivo
geral da referida disciplina era de tornar o aluno
capaz de conhecer o funcionamento e a dinâmica dos grupos. Observamos, nessas ocasiões, a
angústia frente ao futuro profissional e a vivência
do papel de gestor.
Assim, nos últimos anos, com a inclusão do
estágio curricular, que compreende cerca de 500
horas de trabalho em instituições de saúde hospitalar e extra-hospitalar, inclusive em outros municípios do Estado, verificamos que essa situação
deixa o aluno mais exposto a essa dificuldade.
A experiência em pesquisa sobre essa
temática10-13 nos permitiu verificar a importância
de sensibilizarmos o futuro enfermeiro para uma
atuação mais assertiva no que diz respeito ao trabalho com grupos e equipes.
Assim, ao diagnosticar a situação enfrentada
pelos alunos, buscamos no modelo de Educação de
Laboratório6 melhores condições para trabalharmos
essa dimensão da formação do profissional enfermeiro, por essa estratégia privilegiar o desenvolvimento da dimensão pessoal e profissional.
Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM
A disciplina
O projeto da disciplina é elaborado juntamente com o grupo de alunos, nos primeiros encontros, a partir do mapeamento de suas necessidades. Embora a ementa e os objetivos sejam previamente fixados pelo curso, os demais aspectos
são elaborados desde o seu início com a participação ativa dos alunos. Na ocasião de iniciarmos
a disciplina, fazemos o contrato de trabalho, no
qual as únicas questões que não podem ser alteradas são o dia da semana, horário e carga horária (60 horas).
Todas as questões relativas ao contrato são
definidas no primeiro encontro, ocasião em que
ouvimos quais são as necessidades da turma frente a suas vivências nos estágios curriculares obrigatórios, nos quais desempenham a função do
enfermeiro gestor, respondendo pelos serviços em
unidades hospitalares, pré-hospitalares e na rede
básica em saúde coletiva.
Nesse momento, são determinados as regras
do grupo e os critérios de avaliação dentro de
uma perspectiva de gestão compartilhada da disciplina, na qual a participação do grupo é indispensável. Nesse contato, definimos que a
metodologia utilizada é a de Educação de Laboratório, no qual tudo o que se passa com o grupo
serve para análise e aprendizado da vivência
grupal. O modelo de abordagem é o teórico-prático-vivencial, focado no desenvolvimento
interpessoal.
O grupo se reúne a cada 15 dias, por um
período de três horas e meia. A coordenação do
encontro é compartilhada com os membros do
grupo, que é dividido em pequenos subgrupos
de até quatro alunos para a coordenação das atividades diárias. Tais subgrupos recebem orientação da coordenadora da disciplina quanto à
abordagem do conteúdo e estratégias de manejo grupal.
Embora a estrutura de laboratórios seja prevista em períodos intensivos, adaptamos o seu
desenvolvimento nessa experiência à necessidade de acompanhamento dos alunos ao longo de
um ano. Assim, utilizamos todos os princípios desse
modelo, exceto a periodicidade.
Como referencial teórico básico, utilizamos
um livro texto7, cujos capítulos nos servem de guia
para cada encontro, sendo acrescidas ainda outras referências na medida em que o grupo solicita ou demonstra interesse em aprofundamento do
estudo. Os encontros começam sempre a partir
da leitura de um registro escrito do encontro anterior, feito por duplas, que serve para atualizar os
presentes sobre o que se passou, além de se constituir em uma forma de aquecimento do grupo
para a tarefa do dia.
Os temas centrais envolvem o desenvolvimento da competência interpessoal, interação no
grupo: tarefa e emoção, como dar e receber feedback, planejamento, funcionamento e avaliação
de grupo, liderança, comunicação, poder, conflito, negociação entre outros. Todos os encontros
são desenvolvidos tendo em mente o processo
vivencial de aprendizagem, em que partimos de
uma atividade, promovendo sua análise,
conceituação e conexão com o real.
RESUL
TADOS
ESULT
A
E
PERSPECTIV
AS
ERSPECTIVAS
experiência tem sido desenvolvida ao
longo dos últimos cinco anos, de 2000 a 2004.
Nossa preocupação em relação à adequação dessa estratégia às necessidades de aprendizado do
futuro profissional tem nos levado a realizar uma
avaliação sistemática dos resultados da disciplina junto aos alunos quando do encerramento da
mesma no final do ano.
O foco do trabalho no desenvolvimento
interpessoal tem possibilitado ao grupo um exercício de autopercepção e de conhecimento de
habilidades e dificuldades para as relações
interpessoais, o que favorece o contato do grupo
com a coordenação, viabilizando o vínculo de
confiança.
Parte desses resultados foi divulgada em um
estudo recente13 que mapeou algumas dimensões
do aprendizado da competência interpessoal, a
partir do modelo de Educação de Laboratório,
indicando os aspectos de maior dificuldade/facilidade para os alunos e a importância da oferta
de espaços onde essas questões possam ser tratadas ainda na graduação.
O modelo de aprendizado teórico-vivencial
abre possibilidades para a experimentação do grupo como campo de vivências e a compreensão da
natureza e características do trabalho grupal que,
ao abrir conexões com o mundo real vivido pelos
alunos, ampliam a visão dos mesmos quanto às
problemáticas enfrentadas no aprendizado do papel de gestor.
Assim, além de experimentar os desafios da
convivência coletiva desenhada a partir de uma
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Educação de laboratório no ensino de enfermagem
liderança compartilhada, os alunos experimentam
o papel de membro de grupo ao mesmo tempo em
que são sensibilizados para exercer a tarefa de
coordenador, compreendida na dimensão crítica
da postura de um sujeito capaz de identificar as
potencialidades da equipe, estimular sua autonomia para a autogestão e compreender seus limites e possibilidades14.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo do modelo teórico da Educação
de Laboratório e a sua utilização sistemática junto aos graduandos em uma disciplina da graduação nos permitiu verificar sua importância no suporte de desenvolvimento pessoal e profissional
do futuro enfermeiro, fortalecendo suas habilidades para as relações que estabelece no seu trabalho, quer seja com a clientela assistida, quer com
seus colegas da equipe.
Essas habilidades são consideradas hoje como
diferenciais na melhoria da qualidade do trabalho humano e especificamente em saúde15,16.
Acreditamos ter tornado mais visível o modelo de Educação de Laboratório e que a estratégia adotada, como meio de condução de uma disciplina obrigatória da grade curricular do curso,
possibilita aos profissionais em formação oportunidades para a experimentação dos vários papéis
que lhes são exigidos na prática profissional16,17.
A avaliação sistemática ao término de cada
ano letivo tem deixado clara a importância da
disciplina como articuladora junto às demais disciplinas da série. A gestão compartilhada da disciplina com os alunos tem sido um importante
instrumento de aprendizado coletivo, no qual
ganham alunos e docentes.
Para os alunos em curso, é notória a relevância da disciplina para o seu crescimento, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento
da pessoa que habita o profissional em formação,
aspecto esse que tem se tornado um diferencial
no sistema de ensino e de projeção da nossa instituição no mercado de trabalho.
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Munari DB, Merjane TVB, Cruz RMM
U SO DEL MODELO
E NFERMERO
DE
EDUC
ACIÓN
DUCA
DE
LAB
ORA
TORIO
ABORA
ORATORIO
EN EL
P ROCESO
DE
FORMA
CIÓN
ORMACIÓN
DEL
RESUMEN: Esta trabajo tiene como objetivo presentar las bases del modelo de Educación de Laboratorio
y describir su aplicación en una asignatura de un Curso de Graduación en Enfermería, en el sentido de
hacer viable experiencias que posibiliten la expansión de la competencia del alumno de graduación
como instrumento para su desarrollo como gestor. La sistematización de este estudio, a partir de un
modelo teórico, nos ha permitido verificar que la experimentación de nuevas estrategias puede tener un
impacto importante en el soporte del desarrollo personal y profesional del enfermero, siendo fortificadas
sus habilidades para las relaciones que él establece en el trabajo, sea con una cartera de clientes, sea con
miembros del equipo profesional.
Palabras clave: Capacidad de gestión; educación, enfermería; recurso humano..
Recebido em: 11.11.2004
Aprovado em: 08.03.2005
Notas
*
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Profª Titular e Pesquisadora
2B CNPq. Rua 28A n. 705/602 Setor Aeroporto. 74075-500 Goiânia GO. Email:[email protected]
**
Professora e Psicóloga Universidade Sulamericana-Goiânia. Departamento de Comunicação e Marketing da Faculdade SulAmericana
- Goiânia -GO
***
Psicóloga do Departamento de Recursos Humanos do Hospital de Urgências de Goiânia- GO.
****
Trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde Integral da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal
de Goiás. Financiado pelo CNPq.
R Enferm UERJ 2005; 13:263-9.
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