CQ832 – Tópico 1 – Prof. Dr. Flávio Massao Matsumoto – 1 Comentário: o operador seria o correspondente matemático para uma observação (medição experimental). A realização de uma observação Ô sobre um sistema no estado Ψ é representada formalmente como ÔΨ. Revisão da Mecânica Quântica Toda teoria moderna sobre a estrutura microscópica da matéria tem base na Mecânica Quântica, que é imprescindível para compreender os fenômenos Postulado 3: os únicos valores possíveis que podem resultar de uma da Química Inorgânica. Nesta revisão optou-se por apresentar a sua formalimedição de uma propriedade física observável O são as zação com operadores. Para facilitar a compreensão deste assunto altamente constantes o (auto-valores), que são soluções da equação: abstrato, foram inseridos comentários para cada um dos postulados. Ôφ = oφ Postulado 1: o estado de um sistema é descrito por Ψ (letra grega psi maiúsÔ é o operador correspondente à propriedade O que, ao ser cula), que é função matemática das coordenadas espaciais e do aplicado a uma função φ (auto-função), resulta na mesma tempo. Esta função, conhecida como função de estado ou função multiplicada por uma constante o. função de onda, contém todas as informações que podem ser Comentário: a quantização não é um postulado em si, mas uma consequência do determinadas sobre o sistema. Comentário: este é um postulado bastante geral e abstrato, que delimita quais informações são acessíveis à observação (experimento). postulado 3, se a equação acima admitir somente soluções discretas (não contínuas). Postulado 4: quando se mede uma propriedade O em um sistema cujo estado é descrito pela função de onda Ψ, se esta for igual a Postulado 2: para cada propriedade física acessível experimentalmente, uma das soluções φi da equação Ôφi = oiφi, o valor resultante pode-se associar um operador matemático correspondente. pode ser exatamente conhecido e será igual ao auto-valor oi. Exemplos de operadores quânticos para sistemas de uma partícula de massa m: Propriedade física O Componentes do vetor posição nos eixos cartesianos x = x ; Componentes do vetor momento linear nos eixos cartesianos p x =−i ℏ ∂ ; ∂x Energia cinética 2 2 2 2 p p y p z ℏ ∂ ∂ ∂ T = x =− 2m 2 m ∂ x2 ∂ y2 ∂ z2 Energia potencial V (sua forma depende do sistema) total Ψ=∑ c i φi y = y ; z = z i 2 Energia (hamiltoniano) Caso contrário, a função de onda pode ser representada como uma combinação linear das soluções da equação Ôφi = oiφi: Operador Ô 2 p y =−i ℏ ∂ ; ∂y 2 p z=−i ℏ ∂ ∂z [ 2 ∂ 2 ∂2 ∂ 2 V H =T V =− ℏ 2 m ∂ x2 ∂ y2 ∂ z 2 [ ] ] e a probabilidade de se obter como resultado o valor oi na medição será proporcional a ci*·ci. (ou ci2 para números reais). Obs: um número complexo c na forma a + bi (a e b são reais e i é a unidade imaginária, definida por i2 = –1), tem associado um complexo conjugado c*, cujo valor é a–bi. Um número real é o seu próprio conjugado, pois se b = 0 então c = c* = a. Comentário: apesar do princípio de incerteza de Heisenberg não aparecer como um dos postulados, ele está implícito aqui. Em um dado estado Ψ, ou se pode conhecer exatamente o valor da propriedade O, ou não. Se não se pode conhecê-lo, ainda há a possibilidade de calcular a probabilidade de se encontrar cada um dos valores de o. CQ832 – Tópico 1 – Prof. Dr. Flávio Massao Matsumoto – 2 Postulado 5: se houver um número grande de sistemas idênticos descritos 2. Equação de Schrödinger em coordenadas polares esféricas (r,,): 2 2 2 pela função de onda Ψ, a média dos valores resultantes das ℏ ∂2 ψ 2 ∂ ψ 1 ∂ 2 ψ 1 ∂ψ 1 ∂ ψ 1 Ze − + + 2 + 2 cot θ + 2 2 − ψ= E ψ 2 2 2 ∂θ r sin θ ∂ ϕ medições da propriedade O é dada por: 2 m ∂ r r ∂ r r ∂θ r 4 π ε0 r ∞ 3. Relações entre coordenadas cartesianas (x,y,z) e polares esféricas (r,,): ∫−∞ ∗O d 〈 ∗∣O ∣ 〉 〈O 〉= ∞ ∗ = x=r sen cos ; y=r sen sen ; z=r cos ; 〈 ∗∣ 〉 d ∫−∞ r=(x² + y² + z²)½; =arc cos[z/(x² + y² + z²)½]; =arc tan(y/x). [ Comentário: esta fórmula é semelhante a uma média aritmética ponderada, mas com índices contínuos. Postulado 6: o desenvolvimento temporal de um sistema é descrito pela equação de Schrödinger: H = ℏ ∂ i ∂t ] 4. Autovalores do hamiltoniano (energia): 4 E n =− 2 2 2 2 me Z Z Z −18 −1 Z J 2 = −1312 kJ mol 2 =−13,61eV 2 2 2 2 =−2,180×10 80 h n n n n onde n=1, 2, 3, ... , ∞ 5. Autofunções do hamiltoniano (funções orbitais): n,l,m = Rn,l(r) Ylm(,) = No caso de sistemas em que a energia é constante (muitos modelos de = Rn,l(r) Sl,m() Tm(), onde n=1, 2, 3, ... , ∞; l=0, 1, 2, ..., n–1; e m=0, ±1, interesse químico situam-se neste caso), pode-se fatorar a equação anterior e ±2, ..., ±l. obter uma equação sem a variável temporal, conhecida como equação de 5.1. Parte radial das autofunções Rn,l(r). ̂ ψ= E ψ . A constante E é a Schrödinger independente do tempo: H 3 /2 −Zr /a energia do sistema e ψ (letra grega psi minúscula) é uma função das 1s: R1,0 =2 Z /a03/ 2 e 3/2 Z / a0 Z / a0 Zr −Zr / 2a Zr −Zr / 2a coordenadas espaciais. 2− e 2s: R2,0 = 2p: R2,1 = e a0 2 2 2 6 a 0 Comentário: as aplicações elementares da M. Q. envolve a elaboração da equação 0 de Schrödinger do sistema e a sua resolução para obter E e Ψ (ou ψ). Átomo Monoeletrônico - modelo mecânico-quântico 3/ 2 3s: R 3,0 = 2 Z /a 0 81 3 3p: R 3,1= 4 Z /a 0 81 6 27−18 3/ 2 0 2 2 Zr Z r −Zr /3a 2 2 e a0 a0 2 2 6 0 0 3/ 2 Zr Z r −Zr / 3a − 2 e a0 a0 3d: R 3,2= 0 4 Z /a 0 81 30 2 2 Z r −Zr /3a e 2 a0 3/ 2 2 2 3 3 O modelo atômico mais simples é o sistema composto por um núcleo e 4s: Z /a 0 Zr Z r Z r −Zr / 4a R 4,0= 192−144 24 2 − 3 e um único elétron. Este modelo é descrito por uma equação de Schrödinger, 768 a0 a0 a0 3/2 que produz como resultados os valores de energias permitidas (níveis de 2 2 3 3 Z / a 0 Zr Z r Z r −Zr / 4a 80 −20 2 3 e 4p: R4,1 = energias) e as funções orbitais. a0 265 15 a0 a0 3/2 3/2 2 2 3 3 3 3 1. Equação de Schrödinger em coordenadas cartesianas (x,y,z): Z / a0 Z / a0 Z r Z r −Zr /4a Z r −Zr / 4a 2 2 2 2 2 R = e R = 12 − e 4d: 4f: 4,3 4,2 2 3 ∂ ∂ ∂ 1 Ze ℏ 768 35 a 30 768 5 a a − − = E 0 0 2 2 2 2 2 2 [ 2m ∂ x ∂y ∂z ] 4 0 x y z Obs: a0 =0 h2/(mee2) = 52,9177 pm 0 0 0 0 0 CQ832 – Tópico 1 – Prof. Dr. Flávio Massao Matsumoto – 3 Parte angular das autofunções: Ylm(,) = Sl,m() Tm(): 5.2. l=0 (orbitais s) S 0,0= l=2 (orbitais d) 2 l=1 ( orbitais p) S 1,0 = 6 cos 2 S 1, ±1= 10 3 cos 2 −1 S 3,0= S 2,±1 = 15 sen cos S 3,±1= 42 sen 5 cos2 −1 S 2,±2= 15 sen 2 S 3,±2 = 105 sen2 cos S 3,±3 = 70 sen3 S 2,0= 2 l=3 (orbitais f) 4 2 4 3 sen 2 14 5 cos3 −3 cos 4 8 4 8 1 i m T m = e onde m=0, ±1, ±2, ..., ±l 2 5.3. Soluções reais para a equação de Schrödinger do átomo monoeletrônico. A partir das combinações lineares das funções complexas R(r)Ylm(,), pode-se eliminar o número imaginário i e obter funções reais Rnl(r) A(,). A parte angular das funções orbitais na forma real está listada abaixo (a parte radial é idêntica ao item 4.1.). A s=Y 00 = 1 2 3 cos= 3 z 2 2 r 1 1 −1 3 sen cos= 3 x A p x = Y 1 Y 1 = 2 2 r 2 1 3 1 −1 3 y A p y = Y 1 −Y 1 = sen sen = 2i 2 2 r 0 A pz =Y 1 = 0 A d z² =Y 2 = 5 3 cos2 −1= 5 3z 2 −1 = 5 2z 2 −x 2 − y 2 2 2 4 4 r 1 1 15 15 xz −1 A d xz = Y 2 Y 2 = cos sen cos= 2 2 2 2 r 1 1 −1 15 cos sen sen = 15 yz A d yz = Y 2 −Y 2 = 2 2 r2 2 i 1 2 −2 15 sen2 2 cos2 −1= 15 x 2 − y 2 A d x² −y² = Y 2 Y 2 = 2 2 4 4 r 1 15 sen 2 sen cos= 15 xy A d xy = Y 2−Y −2 2 = 2 2 i 2 2 2 r 0 A f 5z³−3zr² =Y 3 = 4 r 7 5cos 3 −3cos= 7 5z 3 −3zr 2 3 r 4 4 1 1 42 −1 2 42 x 5z 2 −r 2 A f 5xz²−xr² = Y 3 Y 3 = 5cos −1 sen cos = 3 2 8 8 r 2 2 1 −1 42 5cos2 −1 sen sen = 42 y5z −r A f 5yz² −yr² = Y 1 3 −Y 3 = 2i 8 8 r3 1 2 −2 105 cos sen2 2 cos 2 −1= 105 z x2 − y 2 A f zx² −zy² = Y 3 Y 3 = 3 2 4 4 r 1 105 cos sen 2 cos sen = 105 xyz A f xyz = Y 2 −Y −2 3 = 3 2i 3 2 2 r 1 3 −3 70 3 3 70 x x 2 −3y 2 A f x³ −3xy²= Y 3 Y 3 = sen 4cos −3cos = 3 2 8 8 r 2 2 1 −3 70 sen 3 3sen −4 sen3 = 70 y y −3x A f y³ −3yx² = Y 3 −Y = 3 2i 3 8 8 r3 5.4 Conjunto alternativo dos sete orbitais f: 3 2 7 7 5z −3zr A f =Y 0= 5cos3 −3cos = 5z³ −3zr² 3 r3 3 2 5 −3 3 Y 1 Y −1 = 7 5x −3xr A f 5x³ −3xr² = Y 3 3 Y 3 − 3 3 4 4 4 r3 3 2 5 −3 3 Y 1 −Y −1 = 7 5y −3yr A f 5y³ −3yr²= Y 3 −Y 3 3 4i 3 4i 3 4 r3 4 4 CQ832 – Tópico 1 – Prof. Dr. Flávio Massao Matsumoto – 4 2 2 5 Y 1Y −1 3 Y 3 Y −3 = 105 x z −y xz² −xy² = 3 3 3 4 3 4 4 r3 2 2 5 −1 3 Y 3 −Y −3 = 105 y z −x A f yz² −yx² = Y 1 3 −Y 3 3 3 3 4i 4i 4 r Orbitais híbridos sp3 1 1 h 1= [ s p p p ] , h 2= [ s − p − p p ] , 2 2 1 1 h 3= [ s − p p − p ] e h 4= [ s p − p − p ] . 2 2 A f x 2 2 1 −2 105 cos sen2 2cos2 −1= 105 z x −y Y 2 3 Y 3 = 2 4 4 r3 1 xyz A f xyz = Y 23 −Y −23 = 2105 cos sen 2 cos sen = 2105 2 i r3 A f zx² −zy² x = y y z z x x y z y z Fonte: ATKINS, P. W. Physical Chemistry, 5a Ed. Oxford: Oxford, 1995, p. 468-470. Nota: não existe uma maneira usual única de representar os orbitais reais f; no item 5.3 estão representados os orbitais f de simetria axial, e no 5.4 de simetria cúbica. Fontes: i) LEVINE, I. N. Quantum Chemistry, 4a Ed. Nova Jérsei: Prentice-Hall, 1991, p. 92-99. ii) Idem, p. 127-135. iii) KIKUCHI, O. et alli. J. Chem. Educ., 62, 206, 1985. iv) GREENWOOD, N. N.; EARNSHAW, A. Chemistry of The Elements. Oxford: Pergamon Press, 1989, p. 1488-1491. Alguns esquemas de hibridização Número de coordenação Arranjo espacial Composição 2 Linear Angular sp, pd, sd sd Orbitais híbridos 3 Os orbitais atômicos podem ser combinados linearmente, desde que sejam autofunções do mesmo autovalor (mesma energia), produzindo novas soluções da equação de Schrödinger. Este procedimento pode ser usado para criar modelos de ligações covalentes (Teoria da Ligação de Valência). Planar trigonal Planar assimétrica Piramidal trigonal sp2, p2d spd pd2 4 Tetraédrica Tetraédrica irregular Planar quadrada sp3, sd3 spd2, p3d, pd3 p2d2, sp2d 5 Bipiramidal trigonal Piramidal tetragonal Planar pentagonal sp3d, spd3 sp2d2, sd4, pd4, p3d2 p2d3 6 Octaédrica Prismática trigonal Antiprismática trigonal sp3d2 spd4, pd5 p3d3 Orbitais híbridos sp 1 1 h 1= [ s p ] e h 2= [ s − p ] . 2 2 Orbitais híbridos sp2 1 h 1= [ s 2 p ] , 3 1 3 1 1 3 1 h 2= s p − p e h 3= s− p − p 2 2 2 2 3 3 z z y [ x ] y [ x ] y . Fonte: ATKINS, P. W. Physical Chemistry, 5a Ed. Oxford: Oxford, 1995, p. C22.