FOLHA DE S. PAULO Empresas exportadoras de grãos tentam restringir fusão na logística TATIANA FREITAS DE SÃO PAULO 10/02/2015 02h00 Responsáveis por ao menos 15% das exportações brasileiras, as tradings de grãos tentam impor restrições à fusão entre ALL e Rumo (empresa de logística do grupo Cosan). A união entre as duas empresas deve ser votada nesta quarta-feira (11) pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Para as transportadoras de grãos, a fusão cria um "monopólio privado a partir de bens públicos" que pode prejudicar a competitividade do setor. A Abiove –que representa gigantes como Cargill, Bunge e ADM, entre outras– se preocupa com os efeitos da verticalização das operações que a fusão proporcionará. A ALL possui quatro malhas ferroviárias no país e é a única que pode transportar grãos da região de Mato Grosso para o porto de Santos. A empresa também tem participação em dois terminais graneleiros em Santos. Já a Rumo é dona de três terminais de açúcar no mesmo porto. Juntas, elas ficarão com 45% da capacidade de embarque de granéis vegetais sólidos em Santos. O temor é que a nova empresa privilegie o transporte de açúcar e de etanol da Raízen (que faz parte do grupo Cosan) e dê preferência a clientes que possam maximizar o uso de seus terminais portuários, em detrimento das exportações de grãos. "A ferrovia deixará de ser independente", afirma Daniel Furlan, gerente de economia da Abiove. A entidade prevê ainda "impacto severo" nas tarifas ferroviárias, o que deve afetar a competitividade das exportações brasileiras e a renda do produtor, que recebe da trading o preço da Bolsa de Chicago, descontado o frete. Outro ponto questionado é a possibilidade de renovação automática de concessões da ALL por mais 25 anos a partir de 2023, quando os atuais contratos se encerram. Procurados, a ALL e o grupo Cosan disseram que só irão se manifestar após a decisão final do Cade. Edson Silva - 29.nov.2013/Folhapress Trens no pátio da ALL em Araraquara (SP); empresa tem quatro malhas ferroviárias PROPOSTA A Abiove propôs ao Cade restrições estruturais à fusão, incluindo a venda dos terminais em Santos e a proibição da participação em novas licitações portuárias em áreas que tenham convergência com as ferrovias da ALL. Em dezembro, a superintendência-geral do Cade recomendou ao tribunal a impugnação da operação, demonstrando preocupações concorrenciais com a fusão. Além da Abiove, outros 15 impugnantes levaram a manifestação ao Cade, entre eles a Eldorado (exportadora de celulose), a Agrovia (açúcar e álcool) e a Federação da Agricultura do Paraná. Em outra manifestação, a Ipiranga, do grupo Ultra –concorrente da Raízen na área de distribuição–, também manifestou preocupação semelhante ao Cade.