ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ DÉBORA SOARES SANTOS ARAÚJO SIGNIFICADO, PERCEPÇÃO E ELEMENTOS DE APOIO ENCONTRADOS POR PESSOAS COM EPILEPSIA QUE FAZEM ACOMPANHAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE DA CIDADE DE ITAJUBÁ-MG ITAJUBÁ - MG 2014 DÉBORA SOARES SANTOS ARAÚJO SIGNIFICADO, PERCEPÇÃO E ELEMENTOS DE APOIO ENCONTRADOS POR PESSOAS COM EPILEPSIA QUE FAZEM ACOMPANHAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE DA CIDADE DE ITAJUBÁ-MG Pesquisa do Programa de Bolsa de Iniciação Científica (PROBIC) desenvolvido com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), apresentado à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, e aprovado como Trabalho de Conclusão de Curso. Orientadora: Prof.ª M.ª Ivandira Anselmo Ribeiro Simões Coorientador: Prof. M.e Rogério Silva Lima ITAJUBÁ - MG 2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB) Bibliotecária - Karina Morais Parreira - CRB 6/2777 © reprodução autorizada pela autora A658s Araújo, Débora Soares Santos. Significado, percepção e elementos de apoio encontrados dos por pessoas com epilepsia que fazem acompanhamento na Atenção Básica de Saúde... / Débora Soares Santos Araújo. - 2014. 112 f. Conclu gem. Orientadora: Prof.ª M.ª Ivandira Anselmo Ribeiro Simões. Pesquisa originalmente apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Enfermagem)-Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. – EEWB, Itajubá, 2014. 1. Epilepsia. 2. Atenção Básica de Saúde. 3. Enfermagem. I. Título. NLM: ZWL 385 SIGNIFICADO, PERCEPÇÃO E ELEMENTOS DE APOIO ENCONTRADOS POR PESSOAS COM EPILEPSIA QUE FAZEM ACOMPANHAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE DA CIDADE DE ITAJUBÁ-MG DEDICATÓRIA A Deus, pelo dom da minha vida, e por me conduzir em tudo que faço. A minha querida mãe Carmelita, uma grande companheira, exemplo de mulher e ser humano, que sempre esteve ao meu lado. A minha família, alicerce de todo o meu ser. Ao meu marido Pedro, meu parceiro de vida, pela sua compreensão, companheirismo e o constante estímulo de me fazer sorrir, mostrando-me que juntos sempre venceremos todos os desafios. AGRADECIMENTOS Durante a pesquisa, encontrei muitas pessoas maravilhosas que me acolheram, ajudaram, apoiaram, ensinaram e trabalharam arduamente para que tudo desse certo. Inicialmente gostaria de agradecer aos participantes da pesquisa, pessoas com histórias de vida singular, que foram generosas em compartilhar as suas vivências e percepções, apontando caminho para a melhora da saúde pública. À Profª M.a Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, por todos os ensinamentos que permitiram a concretização desse trabalho. Ainda, em especial, pela amizade, apoio, incentivo e paciência. Ao profº M.e Rogério Silva Lima, pela generosidade de compartilhar seus conhecimentos, pela entrega a idealização desse trabalho e paciência . Em especial pela amizade e apoio durante toda a trajetória. À FAPEMIG, Fundação de Amparo à Pesquisa - MG, pelo apoio financeiro recebido ao longo do Programa de Iniciação Científica. Aos funcionários da Biblioteca, Sandra, Thaís e Karina, pela disposição em atender todas as minhas demandas e amizade. Ao corpo docente e aos funcionários da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Aos acadêmicos da EEWB e meus queridos amigos, Gleyce, Allyne, Amyres , Jaene, Ana Paula, Priscila, Ana Caroline Teixeira, Atayane , Isabela e a Lilian. Pelo constante apoio e carinho. À família do meu marido Pedro, pelo total apoio na trajetória desse trabalho, em especial, ao meu sogro Simão e minha sogra Hélia Maria, que me acolheram como uma filha em seu seio familiar. “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einstein RESUMO No cenário atual há uma grande prevalência e incidência de doenças crônicas que apesar de dificilmente levarem a óbito imediato é a maior preocupação da saúde pública, pois determinam um grande impacto na qualidade de vida dos indivíduos afetados, do ponto de vista biológico, social e psicológico. E uma destas condições é a epilepsia, uma condição neurológica crônica grave, permeada de estigmas, que atinge uma grande parcela da população mundial e altamente negligenciada, pelos profissionais de saúde e órgãos públicos. O objetivo deste estudo consiste em compreender segundo a óptica da pessoa com epilepsia (PCE) o significado de ter epilepsia e compreender quais são os elementos de apoio encontrados por elas na atenção básica da cidade de Itajubá-MG. O presente estudo foi de abordagem qualitativa, exploratória, descritiva e transversal. A amostra constituída de 16 participantes que obedeciam aos critérios de inclusão. A amostragem foi do tipo intencional e o método de análise adotado foi o Discurso do Sujeito Coletivo, baseado na Teoria das Representações Sociais. A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada com duas questões e gravada. Os resultados apontaram as seguintes Ideias centrais (ICs) sobre o Significado de ter epilepsia: “Preconceito”, “Medo”, “Ter um distúrbio mental”, “Algo normal”, “Não sei explicar”. Já a segunda pergunta referente à avaliação da assistência prestada as PCE surgiram as seguintes IC: “Faltam orientações”, “Eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise”, “Recebo ajuda e orientação”. Concluiu-se que são múltiplos os significados que as pessoas imprimem sobre ter epilepsia e este é influenciado, por diversos fatos como foi citado ao longo do estudo, destacase, porém o estigma, o acesso ao conhecimento, à informação, o apoio familiar e social e o desenvolvimento cognitivo. Já a conotação da avaliação do atendimento recebido pelos participantes do estudo na atenção básica de saúde, está diretamente relacionada à qualidade e efetividade do tratamento oferecido voltado à atenção à epilepsia, é evidente a existência de lacunas a serem preenchidas, seja na melhor preparação dos profissionais que compõem a equipe multidisciplinar ou na formulação de protocolos que possam orientar o atendimento de qualidade. Palavras-chave: Epilepsia. Atenção Básica de Saúde. Enfermagem ABSTRACT In the present scenario there is a high prevalence and incidence of chronic diseases, which is the greatest public health concern, though it hardly lead to immediate death, they determine a large impact on quality of life of affected individuals from the biological, social and psychological perspective . One of these conditions is epilepsy, a serious neurological condition, full of stigma, which affects a large portion of the world and highly neglected population by health professionals and public agencies. The objective of this study is to comprehend according to the perspective of the person with epilepsy (PCE) the significance of having epilepsy and recognize what are the supporting elements they find in the primary care of the city of Itajubá-MG. The current study had a qualitative, exploratory, descriptive and transversal approach. The sample consisted of 16 participants who met the criteria for inclusion. The sampling was intentional and the method of analysis used was the Discourse of the Collective Subject, based on the Social Representation´s Theory. The data collection was conducted through a semi-structured two-question interview and was also recorded. The results indicated the following main ideas (ICs) on the Meaning of having epilepsy: "Prejudice" "Fear" "Having a mental disorder", "something normal", "I cannot explain." From the second question on the evaluation of the assistance given to people with epilepsy (PCE) the following ideas (IC) were mentioned: “Lack of orientation"; "I think people do not know how to deal with a person in crisis," "I receive help and guidance." The conclusion on having epilepsy was that people have multiple meanings on that and it is influenced by many facts as mentioned throughout the study. The stigma, the access to knowledge, information, family support and social and cognitive development stands out. The evaluation of the service received by the participants of the study in basic health care is directly related to the quality and effectiveness of the treatment provided for epilepsy, it is clear that there are gaps to be filled like better training of professionals who are part of the multidisciplinary team or the development of protocols that can guide the quality care. Key-words: Epilepsy. Health Primary Care. Nursing. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Ideias centrais do significado de ter epilepsia por pessoas com essa doença......................................................................................................................65 Figura 2 - Ideias centrais de como a pessoa com epilepsia avalia o atendimento oferecido a elas nas ubs e esf................................................................................67 LISTA DE QUADROS Quadro 1-Eficácia das drogas antiepilépticas sobre os diferentes tipos de crise ..................................................................................................................................34 Quadro 2 - Principais efeitos colaterais das drogas antiepilépticas ..................35 Quadro 3 - Ideias centrais, participantes e frequência referente ao significado de ter epilepsia por pacientes portadores da doença..........................................56 Quadro 4- Ideias centrais, participantes e frequência de como as pessoas com epilepsia avaliam o atendimento recebido por elas nas ubs e esf. ....................56 Quadro 5- Igrupamento de ideias centrais iguais e semelhantes.......................57 Quadro 6-Agrupamento de ideias centrais iguais e semelhantes ......................58 Quadro 7 - Ideias centrais, participantes e frequência referente ao significado de ter epilepsia por pacientes portadores da doença..........................................63 Quadro 8 - Ideias centrais, participantes e frequência de como as pessoas com epilepsia avaliam o atendimento recebido por elas nas ubs e esf .....................66 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Mudanças na terminologia de classificação de epilepsia vigente a partir do ano de 2010 ..............................................................................................25 Tabela 2 - Características de identificação pessoal e perfil socioeconômico das pessoas com epilepsia. Itajubá, MG 2013 (n=16)..................................................61 Tabela 3 - Unidades procuradas pelas pce para receber assistência relacionada à doença. Itajubá, MG 2013 (n=16) .........................................................................62 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC Ancoragem ACS Agente Comunitário de Saúde AIS Ações Integradas de Saúde APS Atenção Primária a Saúde CE Crise epilepstica CEP Comitê de Ética em Pesquisa DP Desvio Padrão DSC Discurso do Sujeito Coletivo ECH Expressões Chaves EEWB Escola de Enfermagem Wenceslau Braz ESF Estratégia de Saúde da Família IAD1 Instrumento de Análise de Discurso 1 IAD2 Istrumento de Análise de Discurso 2 IC Ideia central MS Ministério da Saúde NOB Normas Operacionais Básicas OMS Organização Mundial de Saúde PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde PCE Pessoa com epilepsia PCEs Pessoas com epilepsia PSF Programa de Saúde da Família RS Representação Social SUS Sistema Único de Saúde TRS Teoria das Representações Sociais UBS Unidade Básica de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................15 1.1 JUSTIFICATIVA ...............................................................................................18 1.2 OBJETIVOS .....................................................................................................23 2 MARCO CONCEITUAL ..................................................................................24 2.1 EPILEPSIA CONCEITOS E DEFINIÇÕES .......................................................24 2.2 FISIOPATOLOGIAS DA EPILEPSIA ................................................................26 2.2.1 Epilepsia tipo grande mal .............................................................................26 2.2.2 Epilepsia tipo pequeno mal ..........................................................................30 2.2.3 Epilepsia focal ...............................................................................................30 3 DROGAS ANTIEPILÉPTICAS (DAE) .............................................................34 4 A ENFERMAGEM E A EPILEPSIA ................................................................38 5 ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE/ ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE .............40 6 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO................................................44 6.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .................................................44 6.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO.............................................................45 6.2.1 Interrelações entre ECH E IC........................................................................47 6.2.2 Apresentação dos Resultados do DSC .......................................................48 6.2.3 DSC passo a passo .......................................................................................48 7 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ...................................................................49 7.1 CENÁRIOS DE ESTUDO ................................................................................49 7.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO.......................................................................49 7.3 AMOSTRAGEM, AMOSTRA E PARTICIPANTE .............................................50 7.3.1 Critérios de inclusão e exclusão..................................................................52 7. 4 COLETA DE DADOS .......................................................................................52 7.4.1 Instrumentos de coleta de dados ................................................................52 7.4.2 Procedimento da coleta de dados ...............................................................53 7.5 PRÉ TESTE .....................................................................................................53 7.6 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DE DADOS .........................................................55 8 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA.............................................................59 9 RESULTADVGOS ..........................................................................................60 9.1 PESSOAS COM EPILEPSIA ...........................................................................60 9.1.2 Características de identificação pessoal das pessoas com epilepsia .....60 10 DISCUSSÃO ...................................................................................................68 11 CONCLUSÃO .................................................................................................79 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................80 REFERÊNCIAS...............................................................................................83 APÊNDICE A - Questionário de características dos participantes do estudo.............................................................................................................90 APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semiestruturado...............................91 APÊNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido.....................92 APÊNDICE D - Solicitação de indicação de participantes para coleta de dados..............................................................................................................94 ANEXO A- Instrumento de análise de discurso – 1 (IAD – 1)-PCE ............95 ANEXO B - Instrumento de análise de discurso 2 (IAD-2) - PCE.............106 ANEXO C – Parecer Consubstanciado N. 136.255/2013A .......................109 ANEXO D - Folha de Rosto para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos .......................................................................................................................112 15 1 INTRODUÇÃO O campo da saúde no Brasil tem passado por importantes transformações, desde a implantação das políticas de inclusão social e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), concomitantemente a essa houve mudanças no perfil epidemiológico das doenças que atingem a população brasileira. Após a inversão da prevalência e de doenças agudas e contagiosas de curta duração, para um aumento na incidência de doenças crônicas que apesar de dificilmente levarem a óbito imediato é a maior preocupação da saúde pública, pois determinam um grande impacto na qualidade de vida dos indivíduos atingidos, do ponto de vista biológico, social e psicológico. E uma destas condições é a epilepsia, uma doença neurológica crônica grave (FERNANDES et al., 2011). A esse respeito os autores enfatizam que: “No mundo, aproximadamente dois milhões de casos novos de epilepsia são diagnosticados anualmente e destes, 60 a 90% não tem acesso a tratamento adequado, devido a fatores culturais e do sistema de saúde de cada país” (ALONSO et al., 2010, p. 33). Segundo Stefanello (2010) no último levantamento mundial realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 43.704.000 pessoas com epilepsia foram identificadas em 108 países, alcançando um percentual de 85,4% da população mundial. Considerando 105 países respondentes a média de pessoas com epilepsia é de 8,93 pessoas por 1000 habitantes. Todavia devemos estar atentos ao fato de que algumas regiões possuem maior prevalência e incidência que outras, principalmente em países em desenvolvimento, uma das justificativas para tal fato se deve a incidências mais altas das parasitoses (neurocistecercose), doenças infecciosas como a SIDA, traumas, morbidade perinatal e consanguinidade que muitas vezes estão associados à epilepsia (STEFANELLO, 2010). No Brasil estima-se que existam três milhões de pessoas com epilepsia, e a cada novo dia soma-se a estes trezentos novos casos. Merecem destaque os estudos de base populacional como os desenvolvidos por Mariano et al (1986), Fernandes et al (1992), Stefanello (2010). Essas pesquisas têm indicado uma prevalência considerável da epilepsia (STEFANELLO, 2010; FERNANDES et al., 2011). 16 A epilepsia é considerada um conjunto de sintomas neurológicos que têm em comum as crises epilépticas (CE), intermitentes e autolimitadas, que ocorrem na ausência de estado febril ou de condições tóxico-metabólicas. As CE são decorrentes do aumento significativo da excitabilidade neuronal do córtex, que pode atingir também algumas estruturas subcorticais, envolvendo um ou os dois hemisférios, recebendo etiologias específicas (GUILHOTO, 2011). Alonso et al (2010) afirmam que a epilepsia é uma condição clínica que acarreta mudanças de hábitos, com consequente impacto na qualidade de vida dos indivíduos. Ressalta-se que a pessoa com epilepsia (PCE) pode sofrer danos consideráveis, entre os quais, morte súbita, ferimentos, problemas psicológicos, transtornos mentais, estigmatização, problemas de convívio familiar e social. Fernandes e Li (2006) relatam que o estigma na epilepsia inicia-se com a origem etimológica do termo, uma palavra de origem grega que significa ser invadido, dominado ou possuído. Esta taxação tem sido considerada um dos mais significativos fatores que negativamente influenciam a vida diária do paciente e sua família. Nesse contexto ele afeta as pessoas de diferentes maneiras, nas relações sociais, nas oportunidades escolares, no emprego e nos aspectos emocionais. As mesmas expõem que outros autores consideram a epilepsia como uma condição estigmatizante, pelo fato de as pessoas não se adequarem às normas sociais em função das crises imprevisíveis, muitas vezes de natureza dramática. Com isso, a sociedade tem medo de lidar com uma pessoa que apresenta uma crise epiléptica. A gravidade do decréscimo da qualidade de vida das PCE ficou evidenciada em pesquisas que visavam comparar o impacto das crises epilépticas com outras doenças crônicas. Verificou-se que adultos com crises parciais simples têm qualidade de vida semelhante à de pacientes com diabetes mellitus, e que o impacto negativo de crises parciais complexas ou generalizadas tônico-clônicas é parecido ao de indivíduos com insuficiência aguda do miocárdio ou insuficiência cardíaca congestiva (ALONSO et al., 2010). Em recentes estudos de abordagem qualitativos que avaliaram o impacto da epilepsia na qualidade de vida de crianças e adolescentes, foram destacadas queixas em quatro principais esferas (ALONSO et al., 2010): 17 a) domínio físico: queixas como fadiga, sonolência, falta de energia, ganho de peso, tonturas, distúrbios visuais e queda de cabelo; b) domínio emocional e comportamental: medo das crises, constrangimento social, perda de controle, isolamento social, sentimentos de tristeza e infelicidade; c) domínio social: dificuldades no relacionamento com amigos e em círculos frequentados; d) domínio cognitivo e acadêmico: problemas de memória e aprendizagem falta de atenção e concentração. Os mesmos autores enfatizam que as comorbidades psiquiátricas são encontradas em 30% das crianças e adolescentes com epilepsia, e interferem na qualidade de vida. Necessitam, portanto, ser reconhecidas e tratadas precocemente. As principais são: autismo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, ansiedade, depressão e psicose. Um levantamento epidemiológico brasileiro recente demonstrou que as PCEs apresentam risco aumentado em três vezes de desenvolver depressão, e essa está ligada a uma grande tendência às tentativas de suicídio, ficou evidenciado ainda que estas ações não estavam relacionadas somente a impulsos inconscientes relacionados à crise, e sim conscientemente, as principais justificativas foram relacionadas ao sentimento de incurabilidade da doença. Esses fatos são muitas vezes negligenciados pelos profissionais de saúde por falta de tempo ou até mesmo por deficiência no conhecimento (STEFANELO, 2010; OLIVEIRA et al., 2011). Tendo em vista o cenário delimitado, a epilepsia destaca-se como um tema que merece ser trabalhado com os acadêmicos de enfermagem e com os profissionais que já se encontram no mercado de trabalho através de educação continuada. Pois mesmo frente aos dados de que situam a epilepsia como uma condição neurológica crônica que afeta 1% da população mundial, estudos em vários países mostram que grande parte das pessoas não dispõe de informações sobre a doença, o que gera atitudes negativas e preconceituosas sobre indivíduos com epilepsia. Além disso, a falta de informação é passível de ser considerada uma das causas principais do estigma que envolve a doença (FALAVIGNA et al., 2009). Em uma pesquisa recente realizada em 2007, foi identificado o grau de familiaridade com epilepsia indicado por estudantes universitários na área da saúde, 18 os resultados confirmaram a falta de base de conhecimento sobre vários aspectos da epilepsia (TEDRUS; FONSECA; VIEIRA, 2007). Com base em toda discussão, se torna notória a necessidade de compreender todo o contexto que envolve as pessoas afetadas por essa doença, pois é fundamental para se eleger os cuidados que se deve ter com as mesmas, com o intuito de oferecer uma assistência integral e de excelência que irá repercutir de uma maneira positiva em sua vida (FERNANDES, 2006). 1.1 JUSTIFICATIVA Considerando o grande número de pessoas com epilepsia (PCE) e o decréscimo da qualidade de vida das mesmas, surge a inquietação de como é para essas pessoas viver com uma doença estigmatizante, se houve mudanças nesse cenário e como estes usuários são assistidos na atenção básica de saúde, em especial pela equipe de enfermagem, que na maioria das vezes, atua em contato direto com os pacientes. A enfermagem nesse sentido assume um importante papel educativo em todos seus aspectos. A motivação inicial deste estudo partiu de um convite realizado pela professora de graduação em enfermagem, que observou haver uma grande carência de pesquisas relacionadas à epilepsia em sua área, e por um desejo pessoal de aprofundar os meus conhecimentos em neurociência. A partir desse convite surgiu o interesse pelo tema. A escassez de pesquisas pela enfermagem sobre a epilepsia foi constatada a partir do levantamento de dados bibliográficos para a realização deste estudo, o que evidenciou ao mesmo tempo uma grande necessidade de investigação sobre o assunto a fim de proporcionar um atendimento de qualidade às PCE, principalmente pela enfermagem. É importante a investigação de como as PCEs são afetadas pela doença, pois a epilepsia é o mais frequente transtorno neurológico, atingindo 50 milhões de pessoas no mundo, 40 milhões delas em países em desenvolvimento. Sendo mais frequente na faixa etária infantil, principalmente abaixo dos dois anos de idade e em segundo lugar idosos com mais de 65 anos. A epilepsia é considerada uma das condições crônicas que mais afetam o comportamento e a qualidade de vida, por 19 isso, é um grande desafio para os profissionais de saúde, denotando a necessidade de mais estudos correlacionados (STEFANELE, 2010). Nas doenças mentais de uma forma geral, o estigma provém do medo do desconhecido e de falsas crenças originadas pela falta de conhecimento, além do medo de lidar com as situações presentes, que leva na maioria das vezes a atitudes preconceituosas. Portanto é fundamental que os profissionais de saúde estejam aptos a trabalhar na esfera educativa, a fim de contribuir para mudanças nas percepções e consequentemente, favorecer a aceitação social da pessoa com epilepsia. É importante ressaltar que o controle da crise epilética é o ponto inicial, mas não é o suficiente para garantir uma vida normal a esses pacientes, uma vez que os mesmos apresentam maior isolamento social, maior dificuldade de relacionamento e maior desemprego, quando comparado a pessoas sem a epilepsia (FERNADES et al., 2011). Nas literaturas encontradas verificou-se que os PCE gostariam de ter mais acesso aos cuidados de enfermagem, pois estes profissionais os deixavam mais confortáveis para retirar dúvidas, além do fato de serem aptos a transmitir informações a cerca da epilepsia e fazer aconselhamento de assuntos sociais (MULLER; GOMES, 2008). Portanto o acesso aos enfermeiros destaca-se como uma força de trabalho que garante ao usuário da atenção básica de saúde o direito ao conhecimento e pretende-se com a pesquisa ajudar a fornecer um serviço qualificado e efetivo, que leve em conta as necessidades sociais do sujeito. Sendo assim é imprescindível que esses profissionais reflitam a cerca desse fenômeno, com vista à mudança da sua prática e possam informar o paciente sobre a epilepsia, vias de diagnóstico, uso de drogas antiepilépticas (DAE) e seus efeitos colaterais e o seu uso na gravidez, controle das crises, assuntos psicológicos (estresse e ansiedade), sociais, estilo de vida, emprego, direção de veículos entre outros. Vale lembrar que o ideal é que toda a assistência seja prestada por uma equipe multiprofissional a fim de alcançar uma excelência de atendimento (MULLER; GOMES, 2008). 20 Desta perspectiva entende-se a epilepsia como um problema de saúde pública, pelo risco aumentado de morte súbita e decréscimo na qualidade de vida das pessoas portadoras desta patologia. Todavia, mesmo mostrando-se de grande importância para a saúde pública ainda é um assunto pouco estudado e pouco abordado durante o curso de graduação dos profissionais de saúde. Também se percebe uma margem de desconhecimento da população, sendo esse o principal fator para a formação de estigmas (MULLER; GOMES, 2008). Concorda-se com Kanashiro (2006) a qual afirma que no Brasil, existem poucos estudos sobre prevalência e nenhum trabalho sobre incidência em epilepsia. Além disso, não foram encontrados trabalhos sobre lacuna de tratamento de epilepsia em comunidades urbanas. Desta maneira, não se sabe exatamente qual é a realidade em relação ao tratamento e à situação de saúde das pessoas com epilepsia no país. Cabe então aos profissionais de saúde preencher esta lacuna de conhecimento sobre o assunto, lembrando que os enfermeiros em especial, possuem um papel fundamental na educação das comunidades onde atua. A Organização Mundial de Saúde (OMS) calculou o impacto global das doenças, nesse contexto a epilepsia foi estimada como responsável por 1% dos dias perdidos com doenças em todo mundo, o impacto econômico da epilepsia se tornou um assunto importante em anos recentes, pois várias das novas DAE têm um custo 100 vezes superior ao do fenobarbital. Os custos do tratamento pelas DAE são, entretanto, apenas uma pequena parte da “conta” global. Custos indiretos como de: morbidade, benefícios, mortalidade excessiva, pensões, desemprego, dias de trabalho perdidos e outros custos sociais, assim como custos relacionados ao tratamento, particularmente hospitalização, são muito mais significativos. (GALLUCCI; MARCHETTI, 2005). Portanto, considera-se importante que medidas sejam tomadas para que os portadores de epilepsia possam ser compreendidos em suas necessidades para que seja garantida uma melhor qualidade de vida. Essas ações devem partir tanto dos órgãos públicos quanto da população geral, mas principalmente por parte dos profissionais da saúde. 21 Todos esses dados são relevantes para o entendimento de como as PCEs são assistidas pelos programas de saúde pública. No Brasil foram publicados estudos relacionados a esse tema, o primeiro intitulado “Manejo da epilepsia na rede básica de saúde no Brasil: os profissionais estão preparados?” em 2005 pelos autores Li et al. No estudo de Li et al. (2005) constatou-se que os profissionais que participaram do estudo possuíam requisitos fundamentas para o tratamento de PCE, contudo, para garantir o estabelecimento de um programa efetivo e eficiente de manejo da epilepsia na rede básica, são necessárias: uma rede de referência e contra referência, pelo Sistema de Informação da Atenção Básica do governo federal e a educação continuada de profissionais de saúde, com ênfase inclusive no apoio psicológico e inserção social das PCEs. No segundo trabalho realizado, intitulado “Pacientes com Epilepsia: Satisfação com os serviços de atenção básica em saúde?”. Apesar de ser publicado no Brasil foi realizado a partir de dados de revisão sistemática relacionados ao tema de pesquisas referentes aos seguintes países: Austrália (1996); Inglaterra (19921996-1997-1998); EUA (2000) e na Irlanda em (1993). Na maioria dos estudos, foram encontradas avaliações positivas no geral do atendimento. No entanto, em quase todos existem críticas específicas, como a falta de comunicação, atendimento não compartilhado pelo setor primário e especializado, acessibilidade deficiente às consultas e a falta de continuidade do tratamento. Deve-se, pois atentar para as grandes diferenças entre a assistência prestada em cada um desses países em especial no Brasil (MULLER; GOMES, 2008). A maioria dos estudiosos afirma que a partir do desconhecimento da condição epilética é que surgem as crenças irracionais, que são ideias provenientes do sensocomum, sem base científica. Desde os tempos antigos, a epilepsia é tida como doença contagiosa, proveniente de demônios ou magia negra. Estas ideias irracionais ou percepções sociais erradas, apesar de não serem corretas, são reforçadas culturalmente, transmitidas de geração para geração, contribuindo para o estigma Apesar da evolução dos tempos e dos conhecimentos, crenças e estigmas ainda persistem. (FERNANDES, 2006). Jesus e Nogueira (2008) enfatizam que a enfermagem deve estar comprometida com o desenvolvimento de pesquisas científicas, principalmente, nas 22 áreas de neurociências, consolidando a história natural dos fenômenos associados com as necessidades biopsicossociais. E que a sua formação acadêmica baseada em uma abordagem holística amplia a capacidade do julgamento clínico do enfermeiro, possibilitando um avanço da ciência do cuidado. Desta forma esse trabalho possui relevância científica por abranger novos conhecimentos, relacionados ao significado de ter epilepsia nos dias atuais, pois ninguém melhor que a PCE, para proporcionar uma imagem mais verdadeira do impacto da doença em sua vida. E a percepção das mesmas, sobre a assistência recebida no sistema básico de saúde, permitindo assim que se reconheçam as lacunas de conhecimento ou de informações, que possam ser melhoradas ou aperfeiçoadas. Também visa abordar alguns dados importantes sobre a epilepsia, para oferecer um maior embasamento teórico àqueles que se interessam pelo tema, em especial os acadêmicos e profissionais de enfermagem, estimulando nesses uma visão mais crítica e abrangente das necessidades dessa população. . Estes dados também poderão ser utilizados pela equipe multidisciplinar da saúde, atuantes na atenção básica, que cuidam de PCEs e suas famílias, em especial a enfermagem, que cientes dessas informações poderão utilizá-las para direcionar o trabalho a ser realizado com as PCEs, e desta forma garantir a esses um atendimento de excelência. Pretende-se divulgar os resultados do estudo para a sociedade, especialmente para as PCEs e seus familiares, pois a educação para esses desempenha um papel importante na adaptação à vida com epilepsia, favorecendo o desenvolvimento da autoconfiança e tornando-os competentes em sua autogestão, além de promover o bem estar pessoal e da sua família. A sociedade a par desse conhecimento poderá romper com os estigmas que afetam de forma direta as PCEs. No cenário delimitado surgiram as seguintes inquietações: • Quais são os significados de ter epilepsia? E que impactos essa doença causa? • Quais são as unidades que a PCE recorre como suporte para o enfrentamento da doença? • Como a PCE é assistida na atenção básica de saúde, segundo sua ótica? 23 1.2 OBJETIVOS Diante da realidade encontrada sobre o tema, assim como as inquietações levantadas, traçamos os seguintes objetivos: 1) Compreender o significado de ter epilepsia, segundo a ótica do paciente, da cidade de Itajubá-MG. 2) Compreender quais são os elementos de apoio encontrados na atenção básica de Itajubá, na percepção dos pacientes que fazem acompanhamento na mesma. 24 2 MARCO CONCEITUAL Neste capítulo serão abordados conceitos e definições referentes à epilepsia, aspectos fisiopatológicos e a assistência oferecida a pessoas com epilepsia. 2.1 EPILEPSIA CONCEITOS E DEFINIÇÕES A epilepsia é uma das doenças que mais chamaram atenção e geraram debates na antiguidade. Conhecê-la permitiu vários avanços na ciência permitindo a construção de uma literatura extensa que foi precursora das neurociências, da diferenciação explícita entre práticas culturais, religiosas, mágicas e científicas (GOMES, 2006). Essa não é uma doença única, mas sim um conjunto de sintomas neurológicos que têm em comum as crises epilépticas (CE) intermitentes e autolimitadas, que ocorrem na ausência de estado febril ou de condições tóxicometabólicas (JESUS; NOGUEIRA, 2008). A epilepsia é uma das doenças neurológicas mais comuns, caracterizada pela ocorrência repetida de explosões espontâneas de hiperatividade neuronal, conhecidos como convulsões. Estas convulsões surgem tipicamente em regiões restritas do cérebro e podem continuar limitado a estas áreas ou espalhar para os hemisférios cerebrais, sendo o hipocampo e o córtex cerebral consideradas as regiões mais epileptogênicas do cérebro (BOZZI; CASAROSA; CALEO, 2012). As manifestações comportamentais de convulsões, bem como a gravidade da condição epiléptica, estão estritamente relacionadas com as regiões do cérebro que são afetadas pela hiperatividade. Portanto a epilepsia compreende um grande grupo de síndromes com diferentes etiologias. Sendo que estudos recentes demonstraram que vários fatores de desenvolvimento (incluindo malformações cerebrais congênitas, alterações de sinalização neuronal durante a vida embrionária, e defeitos na maturação pós-natal das redes neuronais) contribuem para epileptogênese, levando ao conceito de epilepsia como um distúrbio do desenvolvimento neurológico (BOZZI; CALEO; CASAROSA, 2012). Bragatti (2009) completa que as crises epilépticas ocorrem por atividade elétrica anormal, excessiva e síncrona de grupos de neurônios levando a manifestações neurológicas variadas, a depender do local em que ocorrem. As 25 crises podem se manifestar por vários sinais e sintomas, como alterações sensitivas (parestesias, visuais, auditivas, gustativas etc.), autonômicas, motoras (abalos, mioclonias etc.), cognitivas (experienciais, dismnésicas) e do nível de consciência. O termo crise convulsiva reserva-se ao subgrupo de crises epilépticas que se apresentam com manifestações motoras, e atualmente seu uso é desaconselhado. A partir de avanços tecnológicos ao longo dos anos e novos conhecimentos nas áreas de imagem e genética molecular no início do século foi possível elaborar uma terminologia e classificação que se adequassem às patologias provocativas da epilepsia, esta proposta foi realizada por Berg et al. em nome da Comissão da ILAE (International League Against Epilepsia) no ano de 2010 (GUILHOTO, 2011). De acordo com a tabela abaixo: Tabela 1 - Mudanças na terminologia de classificação de epilepsia vigente a partir do ano de 2010 Modificações maiores na terminologia e conceitos Termos e Conceitos Antigos Novos Termos e Conceitos Etiologia Exemplos Genética: defeito genético que pode contribuir diretamente Idiopática: presumivelmente genética para a epilepsia e crises como sintoma principal do distúrbio. Ex. canalopatias, deficiência GLUT1 Estrutural/metabólica: causada por distúrbio Sintomática: secundária a um distúrbio estrutural/metabólico cerebral. Ex: esclerose tuberosa conhecido ou presumido do cérebro Desconhecido: a causa é desconhecida e pode ser genética, Criptogênica: presumivelmente estrutural ou metabólica. sintomática Terminologia Terminologia não mais recomendada Auto-Limitada: tendência a resolver espontaneamente com o tempo Farmacoresponsiva: altamente provável de Benigna, catastrófica ser controlada com medicamentos. Crises Focais: semiologia das crises descrita de acordo com Parcial Complexa características Parcial Simples específicas subjetivas (aura), motora, autonômica ou discognitiva. Evoluindo para crise convulsiva bilateral: ex. tônica, clônica, tônico-clônica. Fonte: Guilhoto, 2011. Secundariamente generalizada 26 2.2 FISIOPATOLOGIAS DA EPILEPSIA As observações feitas dos doentes neurológicos permitiu a construção dos saberes sobre o funcionamento do sistema nervoso. Partindo desse conhecimento foi possível provar que o cerebelo participa da coordenação dos movimentos voluntários ao observar que indivíduos com lesões cerebelares tornam-se incapazes de executar movimentos adequadamente. Nesse sentido, o estudo da epilepsia oferece uma oportunidade ímpar para aprofundar o conhecimento a respeito do cérebro humano (SILVA; CAVALHEIRO, 2004). Tendo em vista que a epilepsia é caracterizada por atividade excessiva e incontrolada de parte ou de todo o sistema nervoso central. A pessoa predisposta à epilepsia tem crises quando o nível basal da excitabilidade de seu sistema nervoso (ou da parte suscetível ao estado epiléptico) ultrapassa determinado limiar crítico. Mas, enquanto o nível da excitabilidade for mantido abaixo desse limiar, ela não apresentará crises. Em termos básicos, a epilepsia pode ser dividida em três tipos principais: epilepsia tipo grande mal, epilepsia tipo pequeno mal e epilepsia focal (GUYTON; HALL, 2011). 2.2.1 Epilepsia tipo grande mal As características inerentes da epilepsia tipo grande mal também conhecida como crise generalizada tônico-clônica são descargas neuronais muito intensas em todas as regiões do encéfalo — no córtex, nas regiões mais profundas do cérebro e, até mesmo, no tronco cerebral e no tálamo (GUYTON; HALL, 2011). Os mesmos autores complementam que existem também, descargas para a medula espinhal que causam convulsões tônicas generalizadas em todo o corpo, seguidas, próximo do fim da crise, por contrações musculares tônicas e espasmódicas, chamadas de convulsões tônico crônicas Muitas vezes, a pessoa morde ou "engole" sua língua e, em geral, tem dificuldade de respirar, podendo, ocasionalmente, ficar cianótica. Ao mesmo tempo, os sinais para as vísceras podem provocar micção e defecação (GUYTON; HALL, 2011). Guyton e Hall, (2011) completam que a crise de grande mal dura desde alguns segundos até 3 a 4 minutos e é caracterizada por depressão pós-crise (ou 27 pós-ictal) de todo o sistema nervoso; a pessoa permanece em estupor por período de um a muitos minutos após o término da crise e, muitas vezes, permanece muito fatigada, ou até mesmo adormecida, por várias horas. Em uma amostra de eletroencefalograma típico de praticamente qualquer região do córtex durante a fase tônica de crise de grande mal, ficam evidenciadas descargas sincrônicas, de alta voltagem por todo o córtex. Podendo também o mesmo tipo de descarga ocorrer nos dois lados do cérebro, ao mesmo tempo, demonstrando que os circuitos neuronais anormais, responsáveis pela crise, afetam fortemente as regiões basais do cérebro que atuam sobre o córtex (GUYTON; HALL, 2011). Guyton e Hall (2011) pressupõem que uma crise grande mal é causada pela ativação anormal das partes inferiores do próprio sistema de ativação cerebral. A maioria das pessoas que sofre de crises de grande mal apresenta predisposição hereditária para a epilepsia, como acontece em um entre 50 e 100 pessoas. Existem ainda alguns fatores que aumentam a excitabilidade dos circuitos anormais "epileptogênicos'" em pessoas que são afetadas por essa patologia são estes: (1) estímulos emocionais fortes; (2) alcalose, causada por hiperventilação; (3) medicamentos; (4) febre; e (5) sons intensos ou luz que pisca Sabe-se também que em pessoas sem predisposição genética, mas com lesões traumáticas, em quase qualquer parte do encéfalo, pode provocar excitabilidade excessiva de áreas encefálicas localizadas (GUYTON; HALL, 2011). Admite-se que entre os fatores ligados à interrupção da crise de grande mal, estão relacionados os que causam a hiperatividade neuronal extrema, durante a crise de grande mal, seja pela ativação maciça de muitas vias reverberativas, em todo o cérebro. E de igual modo presume-se, que o fator principal - ou pelo menos, um dos fatores principais - que interrompe a crise após alguns minutos seja o fenômeno da fadiga neuronal. Contudo, um segundo fator é, provavelmente, o da inibição ativa, por meio de neurônios inibitórios que também foram ativados durante a crise originada pela da intensa fadiga das sinapses neuronais, secundária a sua intensa atividade durante a crise (GUYTON; HALL, 2011). Segundo Sakamoto (2014), existem ainda outras classificações da crises epilépticas como segue abaixo: 28 9 As crises tônico-clônicas (também chamadas crises de grande mal) são caracterizadas por contração tônica simétrica e bilateral seguida de contração clônica dos quatro membros usualmente associadas a fenômenos autonômicos como apneia, liberação esfincteriana, sialorréia e mordedura de língua, durante cerca de um minuto. Na fase de contração tônica o ar pode ser expulso através da glote fechada, o que resulta no grito epiléptico. O período pós-crítico é caracterizado por confusão mental e sonolência. 9 Crises clônicas são caracterizadas pela ocorrência de mioclonias repetidas a intervalos regulares, rítmicas, na frequência de 2-3 c/s ocorrendo durante vários segundos a minutos. 9 Crises tônicas trata-se de crises nas quais ocorre contração muscular mantida com duração de poucos segundos a minutos. Em geral, as crises tônicas duram de 10 a 20 segundos e podem comprometer apenas a musculatura axial (crises tônicas axiais) ou também a das raízes dos membros (crises tônicas axorizomélicas) ou então todo o corpo, configurando a crise tônica global. 9 Crises de ausência típica consistem de breves episódios de comprometimento de consciência acompanhados por manifestações motoras muito discretas como automatismos orais e manuais, piscamento, aumento ou diminuição do tônus muscular e sinais autonômicos. Duram cerca de 10 a 30 segundos e apresentam início e término abruptos, ocorrendo, em geral, várias vezes ao dia. São desencadeadas por hiperventilação, ativação de tal forma importante que a não observação da crise clássica durante a hiperventilação por 3 a 5 minutos em um paciente não tratado, deve colocar em dúvida este diagnóstico. 9 Crises de ausências atípicas, nestas crises o comprometimento da consciência é menor, o início e término são menos abruptos e o tono muscular mostra-se frequentemente alterado. Em geral, não são desencadeadas pela hiperpnéia. 9 Crises de ausências mioclônicas são crises de ausências acompanhadas de perda de consciência e manifestações motoras 29 importantes que incluem abalos mioclônicos bilaterais dos ombros, braços e pernas associados à contração tônica discreta a qual ocasiona elevação dos membros superiores, os mais acometidos pelo fenômeno motor. 9 Espasmos epilépticos são caracterizados por contração tônica rápida, com duração de 1 a 15 segundos, da musculatura do pescoço, tronco e membros podendo assumir caráter em flexão ou em extensão. Esta contração é usualmente mais mantida do que as mioclonias, mas não tão prolongada como nas crises tônicas (sua duração é de cerca de 1s). Podem ocorrer formas limitadas com contração da musculatura facial ou queda da cabeça. Ocorrem em salvas, especialmente ao despertar e durante sonolência. No lactente, são frequentemente acompanhados de choro e quando não presenciados pelo médico podem ser confundidos com cólicas, um diagnóstico que pode retardar a terapêutica adequada comprometendo o prognóstico. 9 Crises mioclônicas são contrações musculares súbitas, breves (< 100 ms), que se assemelham a choques. Podem afetar a musculatura facial, o tronco, uma extremidade, um músculo ou um grupo muscular e podem ser generalizadas, ocorrendo de forma isolada ou repetida. As crises mioclônicas são frequentemente precipitadas por privação de sono, despertar ou adormecer. 9 Mioclonias palpebrais consistem em contrações rápidas das pálpebras ao fechamento dos olhos, o que ocasiona piscamento rápido, acompanhado de desvio dos globos oculares para cima. Este fenômeno pode aparecer de forma isolada ou ser acompanhado de crises de ausências muito breves com duração de apenas alguns poucos segundos. 9 Crises mioclono-atônicas, encontradas principalmente em epilepsias da infância, estas crises são caracterizadas por abalos mioclônicos nos membros superiores, geralmente em flexão, seguidos de perda do tono muscular com queda da cabeça e flexão dos joelhos. 9 Mioclonias negativas são episódios curtos (< 500 ms) de atonia muscular provavelmente decorrentes de inibição súbita da inervação 30 tônica dos motoneurônios alfa. Na maioria dos casos descritos na literatura o fenômeno de mioclonias negativas generalizadas esteve presente em anormalidades cerebrais difusas como na doença de Lafora e nas encefalopatias mitocondriais enquanto as mioclonias negativas focais ocorrem em distúrbios da região perirrolândica, como nas displasias corticais e na síndrome de Rasmussen. 9 Crises atônicas, caracterizadas por perda ou diminuição súbita do tono muscular envolvendo a cabeça, tronco, mandíbula ou membros, as crises atônicas são decorrentes de perda do tônus postural podendo promover queda lenta se o indivíduo estiver em pé. 2.2.2 Epilepsia tipo pequeno mal Segundo Guyton e Hall (2011), a epilepsia tipo pequeno mal é intimamente associada à do tipo grande mal, pois ela quase sempre, também envolve o sistema básico de ativação cerebral, e é caracterizada por um período de inconsciência de 3 a 30 segundos, no qual a pessoa apresenta várias contrações musculares, semelhantes a abalos, especialmente na região cefálica - sobretudo o piscar dos olhos; isso é seguido por retorno da consciência e retomada das atividades anteriores. O paciente pode ter uma dessas crises em período de vários meses, ou, em raros casos, uma série rápida de crises, uma após outra. Contudo, a evolução usual é a de que essas crises apareçam no fim da infância e desapareçam por completo em torno dos 30 anos. Por vezes, uma crise tipo pequeno mal pode desencadear outra, do tipo grande mal (GUYTON; HALL, 2011, p. 766). 2.2.3 Epilepsia focal Segundo Guyton e Hall (2011) a epilepsia focal pode atingir qualquer parte do cérebro, seja a região localizada do córtex cerebral ou estruturas profundas do cérebro ou do tronco cerebral. E, quase sempre, a epilepsia focal resulta de lesão orgânica ou de distúrbio funcional localizado, como uma cicatriz que traciona o tecido neuronal, tumor que comprime uma área encefálica, área destruída de tecido encefálico, ou circuito local congenitamente anormal. 31 Vários estudos demonstram que lesões desses tipos podem provocar descargas extremamente rápidas nos neurônios da região; quando a frequência dessa descarga ultrapassa cerca de 1.000 por segundo, ondas sincrônicas começam a invadir as áreas corticais adjacentes. Presumivelmente, essas ondas resultam de circuitos reverberativos localizados que, de forma gradual, recrutam áreas adjacentes do córtex para a zona de atividade (GUYTON; HALL, 2011). Os mesmos autores completam que o processo de transmissão sináptica se propaga para as áreas adjacentes com velocidades baixas, de poucos milímetros por minuto, a altas, de vários centímetros por segundo. Quando uma dessas ondas de excitação se propaga pelo córtex motor, ela produz "marcha" progressiva de contrações musculares, ao longo da metade oposta do corpo, começando, de modo mais característico, na região da boca e marchando, progressivamente, em direção às pernas. Sakamoto (2014) completa e descreve ainda outras classificações das crises focais como segue abaixo: 9 Crises focais são aquelas cujas manifestações clínicas indicam o envolvimento inicial de apenas uma parte de um hemisfério cerebral. As crises focais podem, com a propagação das descargas, evoluir para crises tônico-clônicas generalizadas. É o que se chama crise focal com generalização secundária. Os sinais subjetivos que antecedem uma crise observável e que o paciente é capaz de descrever constituem a aura. A aura pode ocorrer de forma isolada constituindo uma crise sensitivo-sensorial. 9 Crises focais sensitivo-sensoriais Incluem sintomas simples, ou seja, aqueles que envolvem apenas uma modalidade sensorial primária (elementares) e mais elaborados (complexos). 9 Com sintomas sensitivo-sensoriais elementares, neste grupo o fenômeno epiléptico é representado por auras (uma vez que tratam-se de manifestações subjetivas, que não são detectáveis por um observador). Entre elas figuram crises sensitivas (parestesias, dor e sensações viscerais como a sensação epigástrica) e as crises sensoriais (visuais, auditivas, olfatórias, gustativas). 32 9 Com sintomas experienciais: consistem de alucinações multisensoriais que configuram “experiências” e incluem fenômenos perceptuais afetivos (medo, depressão, alegria e mais raramente, raiva) e manifestações neumônicas envolvendo ilusões e alucinações cuja qualidade é similar àquelas experimentadas normalmente, porém reconhecidas pelo indivíduo como algo que ocorre fora do contexto real e às vezes de conteúdo extraordinariamente vívido. Neste grupo encontramos fenômenos como “déjà” e jamais “vu”, “déjà” e jamais “entendu”, “déjà” e jamais “vécu” (sensação de familiaridade e estranheza de cenas, sons e experiências de vida), estados de sonho e alucinações complexas. 9 Crises motoras focais: crises motoras são aquelas nas quais os fenômenos motores constituem a manifestação predominante na semiologia crítica. 9 Com sinais motores elementares clônicos: são caracterizadas por contrações musculares que recorrem de forma regular a intervalos menores do que 1 a 2 s. Crises com sinais motores elementares clônicos são originadas, quase sempre, pela ativação do córtex motor primário contralateral. 9 Crises motoras tônicas assimétricas: são crises em que a contração desigual ou assíncrona de grupos musculares de ambos os lados do corpo produz posturas assimétricas decorrentes da contração tônica de um único membro, de um hemicorpo ou dos quatro membros. Usualmente breves, durando 10 a 40s, têm início abrupto e podem ser acompanhadas por grito ou murmúrio. A consciência em geral é preservada e não há confusão pós crítica. 9 Crises com automatismos típicos do lobo temporal: automatismos são movimentos coordenados e repetitivos que se assemelham a movimentos voluntários. Em geral, nas crises do lobo temporal, os automatismos envolvem as partes distais dos membros, particularmente os dedos, mãos, língua e lábios (oro-alimentares) e frequentemente, mas não sempre, são associados a comprometimento da consciência. 33 9 Crises com automatismos hipercinéticos: nestas o movimento afeta principalmente a parte proximal dos membros, o que resulta em movimentos importantes os quais, quando rápidos, parecem violentos. Incluem movimentos como pedalar, de impulsão pélvica e de balanceio de todo ou de parte do corpo. 9 Crises com mioclonias negativas focais: caracterizam-se por breves períodos de atonia focal com perda do tônus postural que podem ser evidenciados quando o paciente exerce uma atividade tônica com a parte do corpo afetada pelo fenômeno motor negativo. 9 Crises motoras inibitórias: embora raramente observados como manifestações críticas, paresia de membros ou períodos de afasia (crises afásicas) podem ser decorrentes de descargas epilépticas repetitivas envolvendo o córtex motor. 9 Crises gelástica: nestas crises o riso, de caráter incomum, estereotipado e inapropriado, constitui o fenômeno complexo mais importante das manifestações críticas. Classicamente associadas aos hamartomas hipotalâmicos, podem também ser verificadas em epilepsias dos lobos frontal ou temporal. 9 Crises hemiclônicas: são crises que apresentam todas as características clínicas das crises generalizadas tônico-clônicas, porém as manifestações motoras são observadas unicamente ou de modo predominante em um só lado do corpo. Quando estas crises são prolongadas podem cursar com dano hemisférico, configurando a síndrome da hemiconvulsão-hemiplegia-epilepsia. 9 Crises secundariamente generalizadas: consistem de crises tônicoclônicas generalizadas geralmente assimétricas precedidas pela versão da cabeça e dos olhos para o lado contralateral ao início crítico. 34 3 DROGAS ANTIEPILÉPTICAS (DAE) Considera-se tradicionalmente que as drogas antiepilépticas têm efeito exclusivamente sintomático, não interferindo com a evolução natural da doença. Sendo assim, o objetivo geral do tratamento medicamentoso da epilepsia deve ser o controle completo das crises, mantendo os efeitos colaterais em um nível tolerável (BRASIL, 2012). Nos últimos anos, houve aumento significativo no número de drogas antiepilépticas (DAE) disponíveis. O Quadro 1 lista as DAE tradicionais e as novas disponíveis e a eficácia das drogas antiepilépticas sobre os diferentes tipos de crise. Não houve, no entanto, aumento de eficácia, que se mantém em aproximadamente 65% dos pacientes obtendo remissão completa das crises. No Quadro 2, estão descritos os principais efeitos colaterais das drogas antiepilépticas (BRASIL, 2012; GOODMAN, 2010) Quadro 1-Eficácia das drogas antiepilépticas sobre os diferentes tipos de crise Droga TCG Focal Ausência Mioclonias Carbamazepina* Sim Sim Pode piorar Pode piorar Fenitoína* Sim Sim Pode piorar Pode piorar Fenobarbital* Sim Variável Não Variável Valproato de sódio* Sim Sim Sim Sim Primidona* Sim Sim Não Variável Clonazepam Sim Sim Sim Sim Clobazam Sim Sim Variável Sim Nitrazepam Sim Sim Variável Sim Etossuximida*# Não Não Sim Variável Oxcarbamazepina* Sim Sim Pode piorar Pode piorar Lamotrigina* Sim Sim Sim Variável Topiramato* Sim Sim Variável Sim Vigabatrina& Sim Sim Pode piorar Pode piorar Gabapentina Não? Sim Pode piorar Pode piorar Tradicionais Novas drogas 35 Felbamato*# Sim Sim Sim Sim Levetiracetam# Sim Sim Pode piorar? Sim Zonisamida# Sim Sim Sim Sim Pregabalina# Sim? Sim Desconhecido Desconhecido Fonte: GOODMAN, 2010; BRASIL, 2012. Nota: * Aprovados para uso em monoterapia; # Disponíveis no Brasil apenas por importação; nos espasmos epilépticos & Eficaz Quadro 2 - Principais efeitos colaterais das drogas antiepilépticas Droga Efeitos adversos Efeitos dose adversos Efeitos idiossincráticos adversos graves dependentes Tradicionais Carbamazepina* Ataxia, diplopia, Intolerância tontura Erupção cutânea, gastrointestinal, supressão hiponatremia, medula óssea hepatotoxicidade Fenitoína* Ataxia Hiperplasia gengival, Erupção cutânea embrutecimento facial, osteomalácia Fenobarbital* Ácido valpróico* Primidona* Clonazepam Sonolência, Hiperatividade lentificação (crianças) Intolerância Hepatotoxicidade, gastrointestinal, ganho tremor anovulação, pancreatite, plaquetopenia, malformações queda de cabelo fetais Sonolência, Hiperatividade Erupção cutânea lentificação (crianças) Sonolência, Hipersecreção lentificação vias (crianças) Clobazam Sonolência, Erupção cutânea de Encefalopatia, peso, hiperamonemia, de aéreas de 36 lentificação Nitrazepam Sonolência, lentificação Etossuximida*# Sintomas Hepatotoxicidade Supressão gastrointestinais, de medula óssea soluços Novas drogas Oxcarbamazepina* Ataxia, diplopia Hiponatremia Lamotrigina* Ataxia, diplopia Insônia, irritabilidade Topiramato* Comprometimento Anorexia, Glaucoma cognitivo nefrolitíase, afasia encefalopatia Psicose Retinopatia Vibagatrina& Gabapentina Sonolência Erupção cutânea agudo, Hiperatividade (crianças), ganho de peso, edema de tornozelo Fonte: GOODMAN, 2010; BRASIL, 2012. Nota: * Aprovados para uso em monoterapia; # Disponíveis no Brasil apenas por importação; nos espasmos epilépticos & Eficaz Segundo Brasil (2012, p. 46) não existe um esquema único de uso de DAE universalmente aceito. Alguns princípios gerais devem, entretanto, orientar o tratamento: a. Antes de tudo, deve-se ter a confirmação do diagnóstico. O que na prática pode ser difícil, já que o paciente se apresenta em consulta no período intercrítico, ficando o diagnóstico por vezes baseado exclusivamente na descrição clínica do próprio paciente/acompanhante. b. Habitualmente não se inicia a medicação após uma primeira crise, já que 27%-84% desses pacientes nunca terão uma segunda crise; no entanto, na dependência dos resultados do EEG e dos exames de neuroimagem, assim como de aspectos sociais individuais, pode-se decidir pelo início da terapêutica após uma crise única. 37 c. Discutir cuidadosamente com o paciente todos os aspectos diagnósticos, elaborando um plano de curto, de médio e de longo prazo, fundamental para se obter boa adesão ao tratamento. d. Iniciar o tratamento preferencialmente com as drogas convencionais. e. .A droga deve ser individualizada para o(s) tipo(s) de crises do paciente. f. Individualizar o tratamento. Por exemplo: evitar fenitoína em mulheres jovens por causa dos efeitos cosméticos; evitar ácido valproico em indivíduos obesos etc. g. Iniciar com doses baixas e aumentar lentamente a dosagem até se alcançar a dose mínima eficaz. h. Caso não haja controle das crises, aumentar a dosagem até a dose máxima tolerada (ocorrência de efeitos colaterais intoleráveis) antes de se tentar a troca da medicação. i. Dar sempre preferência à monoterapia. j. A combinação de drogas antiepilépticas é difícil, devido à complexidade da sua farmacocinética. 38 4 A ENFERMAGEM E A EPILEPSIA Epilepsia é uma doença crônica e o seu tratamento é muito mais complexo do que apenas obter o controle das crises epilépticas. Há também necessidade de controle de potenciais consequências psicológicas e sociais deletérias dos pacientes e sua família. Os serviços que atendem a esses pacientes devem estar qualificados para tratar desses problemas (MULLER; GOMES, 2008). Neste contexto a enfermagem desempenha um importante papel na equipe multiprofissional envolvida na assistência ao paciente com epilepsia, tanto nas situações agudas quanto no atendimento de seus problemas crônicos (MORAES; SAKAMOTO, 2006). Como já citado anteriormente as pessoas com epilepsia quando não recebem um tratamento integral, têm um grande decréscimo na qualidade de vida sendo, portanto, fundamental que o profissional enfermeiro esteja capacitado, para orientar esse paciente e procurar métodos que lhe propicie uma melhor qualidade de vida e diminuir o impacto do estigma referente à doença no seu dia a dia. Segundo Jacoby, Ablon (apud 2002, FERNANDES, 2005, p.8). Existem inúmeras implicações para uma pessoa que se sente estigmatizada, o estigma está no valor dado por outras pessoas perante uma situação e para muitas delas, o estigma é um “companheiro diário”. Com isso, são afetados vários aspectos pessoais do indivíduo, como autoestima, autoconfiança e qualidade de vida. Moraes e Sakamoto (2006) ressaltam que o enfermeiro é parte essencial na equipe de saúde e um agente importante no cuidado de qualquer tipo de doença crônica, da epilepsia em particular, assistindo e orientando o paciente e seus familiares e promovendo a participação deles no tratamento da doença. Sendo elencados os seguintes cuidados mais importantes no cuidado com a epilepsia: 9 orientar o paciente e seus familiares quanto à importância da adesão ao tratamento medicamentoso. Estes devem estar sempre atentos quanto à possibilidade de interrupção, esquecimento ou mesmo indisciplinas na condução do tratamento; 9 orientar que o paciente não exceda na ingestão de bebidas alcoólicas durante o uso de drogas anticonvulsivantes; 39 9 promover o relacionamento efetivo sem restrições. O enfermeiro deve estar disponível para esclarecer dúvidas ao companheiro do paciente; 9 orientar quanto às atividades profissionais, elucidando dúvidas particulares quanto ao desempenho nas atividades do mercado de trabalho; 9 orientar sobre os riscos de gravidez e epilepsia, reforçando a necessidade do profissional ser consultado antes de a mulher engravidar; 9 discutir e orientar sobre os efeitos colaterais das drogas anticonvulsivantes, e sobre as possibilidades de interação com outras drogas. Orientar em particular sobre o risco de drogas antiepilépticas diminuírem o efeito dos anticoncepcionais orais. Os enfermeiros também desempenham um importante papel durante a execução de exames de diagnósticos como no Vídeo-EEG, pois atuam na admissão do paciente, permite que o paciente e o acompanhante conheçam a equipe que compõe o serviço, orientam as etapas e finalidades do exame, esclarecem as dúvidas (JESUS; NOGUEIRA, 2008). Jesus e Nogueira (2008) completam dizendo que a enfermagem deve estar comprometida ao desenvolvimento de pesquisas científicas, principalmente, nas áreas de neurociências, consolidando a história natural dos fenômenos associados com as necessidades biopsicossociais. E que a sua formação acadêmica baseada em uma abordagem holística amplia a capacidade do julgamento clínico do enfermeiro, determinando um grande avanço da ciência do cuidado. Isto promove o aperfeiçoamento do atendimento hospitalar da prática do enfermeiro que vivencia o cotidiano dos clientes com epilepsia, visando a melhor qualidade de vida desses clientes. 40 5 ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE/ ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE A Conferência Internacional sobre os Cuidados Primários de Saúde, realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas pela Infância (UNICEF) em 6 a 12 de setembro de 1978, resultou na notória Declaração de Alma- Ata . A Declaração define cuidados primários de saúde: Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e automedicação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do qual constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde (OMS, 1978 apud BRASIL, 2002). Buscando estabelecer uma revisão de diretrizes e normas para a organização da atenção básica para a ESF e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) através da Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. De acordo com a PNAB é definido a organização de Redes de Atenção a Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população. Dentre os atributos básicos da RAS destaca-se: a atenção básica estruturada como primeiro ponto de atenção e principal porta de entrada do sistema e constituída de equipe multidisciplinar atendendo às necessidades de saúde da população (BRASIL, 2012). A PNAB (BRASIL, 2012) define a atenção básica de forma muito semelhante à definição de Atenção Primária à Saúde da OMS: A atenção básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a 41 responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de cuidado complexas e variadas que devem auxiliar no manejo das demandas e necessidades de saúde de maior frequência e relevância em seu território, observando critérios de risco, vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de que toda demanda, necessidade de saúde ou sofrimento devem ser acolhidos. É desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, próxima da vida das pessoas. Deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A atenção básica considera o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a atenção integral (BRASIL, 2012). “Atenção básica” é sinônimo de “atenção primária à saúde” no âmbito do SUS, tendo o primeiro termo sido criado para “construir uma identidade própria, capaz de estabelecer uma ruptura com uma concepção redutora deste nível de atenção” (BRASIL, 2012). Tradicionalmente, a atenção básica brasileira foi executada em unidades básicas de saúde, através de médicos pediatras, ginecologistas e clínicos apoiados por uma equipe de enfermagem e pessoal administrativo. Na década de 90 surgiu um novo modelo, a estratégia Saúde da Família, com uma caracterização diferente da equipe de saúde. Apesar da atenção básica ser uma responsabilidade dos gestores municipais, o desenvolvimento de ações coordenadas pelos três níveis de governo assegura condições necessárias para que estas se efetivem com qualidade e de maneira resolutiva. Em busca da qualidade nas ações desenvolvidas, considera-se que os serviços de saúde devem oferecer além do diagnóstico das doenças e seu tratamento, medidas que favoreçam a prevenção de doenças futuras e a promoção do estado de saúde das pessoas e populações (BRASIL, 2012). Atualmente a ESF tem desenvolvido com a finalidade de melhorar o acesso à atenção primária e a qualidade desta em todo o país, desenhada inicialmente como um programa, passou a ser considerada pelo Ministério da Saúde como uma estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde, visando à reorientação do modelo assistencial e a uma nova dinâmica da organização dos serviços e ações de saúde. Tem como objetivo substituir o modelo tradicional de assistência à saúde, historicamente caracterizado como atendimento da demanda espontânea, 42 eminentemente curativo, hospitalocêntrico, de alto custo, com baixa resolutividade e, no qual, a equipe de saúde não estabelece vínculos de cooperação e corresponsabilidade com a comunidade. A ESF é composta por equipe multiprofissional com a finalidade de apoiar uma prática com ações integrais na atenção básica vinculada a comunidade, ao invés da permanência na unidade de saúde aguardando as demandas e necessidades desta, considerada como a porta de entrada e o primeiro nível de atenção, devendo estar integrada em uma rede de serviços dos diversos níveis de complexidade, estabelecendo um sistema de referência e contra referência que garanta resolutividade e possibilite o acompanhamento dos pacientes (BRASIL, 2012). Brasil (2012) destaca que é neste contexto que o profissional enfermeiro possui atribuições específicas entre elas: • Realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias cadastradas nas equipes e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc.), em todas as fases do desenvolvimento humano: infância, adolescência, idade adulta e terceira idade; • Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea federal, de acordo com as prioridades definidas pela respectiva gestão e as prioridades nacionais e estaduais pactuadas. • Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, atividades em grupo e conforme protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão, solicitar exames complementares, prescrever medicações e encaminhar, quando necessário, usuários a outros serviços; • Contribuir, participar e realizar atividades de educação permanente da equipe de enfermagem e outros membros da equipe. O profissional de enfermagem tem atribuições importantes, junto à comunidade e este deve ter provido de competências para trabalhar junto às PCEs, mesmo estes não sendo especialistas na área. 43 Kede; Muller e Gomes (2008) apontam o número insuficiente de especialistas em epilepsia no território brasileiro, em especial na atenção primária e sugerem a importância do estabelecimento de médicos generalistas com treinamento adicional para um controle satisfatório das PCEs, no papel de especialista intermediário, capazes de reconhecer necessidades específicas de grupos especiais de pacientes, tais como, crianças, idosos e mulheres. E esses médicos em união às enfermeiras constituem um modelo ideal de atendimento a essa clientela. Destacam ainda que a participação das enfermeiras treinadas no atendimento das PCEs é atualmente apontada como essencial para prover informações, aconselhamento, suporte e coordenação da atenção entre os níveis primários e secundários. Todavia ainda há poucos recursos do MS, voltado para a educação dos profissionais inseridos na atenção básica a respeito do manejo de pacientes com epilepsia. Mas essa realidade tende a mudar. Segundo Tambourg; Doretto e Li (2013) o primeiro passo, que já foi dado, foi constituir um grupo de trabalho com a participação da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), da Epibrasil, da Liga Brasileira de Epilepsia, da ASPE e de técnicos do Ministério da Saúde para discutir as estratégias e a linha de cuidado a serem implementadas no sistema público de saúde. Os mesmos autores completam que na parte de educação e de informação para profissionais de saúde, já está sendo finalizada a elaboração do Caderno de Atenção Básica (CAB), que tem por objetivo preparar os trabalhadores da área de saúde para acolher e orientar o paciente com epilepsia na atenção básica. Em breve, será publicado o Manual de Manejo da Epilepsia. A obra é baseada no Manual da Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de um guia para profissionais de saúde sobre diagnóstico e tratamento medicamentoso e de atendimento de pacientes especiais, como crianças, grávidas e idosos. Após as futuras publicações e posse desse material, espera-se que as PCEs possam ser atendidas integralmente e que os profissionais tenham maior segurança na assistência e manejo desses pacientes. 44 6 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO Esta parte do trabalho enfoca os pressupostos da Teoria das Representações Sociais, onde o conhecimento é compreendido em nível pessoal e social da pessoa. Apresenta-se a descrição do Método do Discurso do Sujeito Coletivo, que implica recompor os discursos empíricos em discurso coletivo. Ambos serão utilizados nessa pesquisa, como referencial teórico e metodológico, respectivamente. 6.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A Teoria das Representações Sociais (TRS) foi cunhada por Serge Moscovici, representante da escola psicossocial francesa, a partir do lançamento do seu livro Psychanalise son image et son public, publicado no Brasil em 1978, sob o título Representação Social da Psicanálise. A sua atuação enriqueceu a discussão sobre a teoria e a pesquisa em torno da representação social, tornando-a pertinente ao contexto da psicologia social sendo esta plenamente utilizada até os dias atuais. Para a autora as representações sociais podem ser definidas como “imagens construídas sobre o real”, que são elaboradas na relação dos indivíduos em seu grupo social, na ação, no espaço coletivo comum a todos, sendo assim, diferente da ação individual. O espaço público é o lugar onde o grupo social pode desenvolver e sustentar saberes sobre si próprios, saberes consensuais, isto é, representações sociais (ARAÚJO, 2008). Lefevre e Lefevre (2010) afirmam que as Representações Sociais (RS) consistem na maneira de interpretar a nossa realidade cotidiana, uma forma de conhecimento social, ao associar a atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e os grupos para fixar sua posição em relação à situação, acontecimentos, objetos e comunicação que lhes dizem respeito. Segundo Lefevre e Lefevre (2010) a sociedade é constituída por um plano simbólico que pode ser configurado como um sistema de crenças ou representações sociais compartilhadas que permitem a comunicação ou troca de sentidos entre seus membros. Essa comunicação funciona como sustentáculos das formações sociais e pressupõem, portanto, dois tipos de código compartilhados: um código linguístico e, a partir dele, um código ideológico que é o sistema compartilhado de crenças aludido. 45 Os mesmos autores enfatizam que indivíduos que vivem juntos em uma mesma sociedade, ou ainda em uma mesma formação social, costumam falar (aproximadamente a mesma língua), todavia podem compartilhar de ideias diferentes. A partir deste contexto é feita uma importante observação por Lefevre e Lefevre (2010, p. 22): “As representações são, por outro lado, influenciadas pelos atributos ou lugares de onde seus sujeitos portadores falam: nacionalidade, gênero, religião/crença, idade, condição social (lugar que ocupa na estrutura produtiva), nível de instrução, estrutura psíquica, traços de personalidade, profissão/ ocupação, estrutura física (portador ou não de enfermidades) história de vida e assim sucessivamente”. Com o intuito de classificar o conceito, Matheus e Fustinoni (2006) fazem algumas colocações referentes ao tema nas quais: - A TRS é a organização de imagens e linguagens que realça e simboliza atos e situações que são comuns. Retratando conceitos, afirmações e explicações construídos no dia a dia, durante o processo interpessoal. - Ainda, a TRS é uma forma de saber prático, que liga um participante a um objetivo, podendo esse último, ser de natureza social, material ou ideal. - Tal teoria, operacionaliza um conceito para trabalhar com o pensamento social, sabendo que existem maneiras de pensar e de conhecimento diferentes e objetivos diversos. Porém, qualifica esse saber como prático, pois se refere à experiência com base na qual ele é produzido, as situações e condições em que esta experiência ocorre ao fato de que a representação serve para entender e agir sobre o mundo e sobre os outros. - O ato de representar um fato é característica do ser humano que pode simbolizar um fato por meio de linguagens e discursos, estando apto a viver em qualquer sistema social. 6.2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO Quando se tem o objetivo de realizar uma pesquisa para colher um pensamento/opinião coletivo, a metodologia mais correta é a qualitativa, já que, para serem acessados os pensamentos e opiniões, é necessário antes pensar pela consciência humana; contudo, as perguntas devem ser indutivas, capazes de 46 resgatar os pensamentos e opiniões contidos nessa consciência, fazendo com que o indivíduo construa um discurso sobre o tema proposto (LEFEVRE; LEFEVRE, 2010). Os mesmos autores salientam que as perguntas devem ser abertas, fazendo com que a pessoa possa expressar seu pensamento; os discursos devem ser sistematizados, de forma que expressem o pensamento de uma coletividade, mas para isso, há algumas regras norteadoras que auxiliam essa soma de pensamentos, que recebe o nome de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Lefevre e Lefevre (2010) ressaltam que o DSC é uma estratégia metodológica que busca organizar e tabular dados qualitativos de diversas fontes possíveis; porém, sempre descrito por meio de um discurso emitido, transcrito na primeira pessoa do singular, onde esse eu fala em nome de uma coletividade, visando tornar mais clara uma dada representação social, bem como um conjunto de representações que conforma/confirma um dado imaginário. Além disso, os autores relatam que o DSC realmente demonstra como o sujeito pensa, ao contrário das pesquisas quantitativas que revelam apenas números “frios”. Os autores ainda afirmam que para confeccionar o DSC é necessário lançar mão de alguns operadores ou figuras metodológicas que são: - Expressões Chaves (ECH): são pedaços, trechos ou transcrições literais do texto que devem ser destacadas de alguma maneira por revelar a essência do conteúdo discursivo; dessa maneira, isso acaba resgatando o depoimento, permitindo comparar um trecho selecionado com a integralidade do discurso e com as ideias reconstruídas sob a forma de ideia central; servindo muitas vezes como prova daquilo que foi dito na ideia central do discurso reconstruído. - Ideia central (IC): é um nome ou expressão linguística que revela, descreve e nomeia, da maneira mais sintética e precisa possível, o(s) sentido (s) presentes em cada uma das respostas analisadas e de cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar nascimento, posteriormente, ao DSC. - Ancoragem (AC): é a manifestação explícita, ideológica, ou crença que o autor professa de uma dada teoria; no caso, algumas ECH não correspondem a IC, mas a uma figura metodológica, que sob a inspiração do TRS, denomina-se ancoragem. É importante ressaltar que praticamente todos DSC trazem uma ancoragem por reconstruir um discurso em pressupostos, teorias, conceitos e 47 hipóteses. Quando se for trabalhar com uma equipe ou com uma população, é essencial esclarecer as AC de uma maneira educada. - Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular, composta pela ECH que tem a mesma IC ou AC; é elaborado a partir de dados provenientes das questões abertas onde se identifica uma palavra, ou conceito, ou expressão, que reproduza a essência da resposta. Quando vamos sistematizar as informações, a fim de construir o DSC, Lefevre e Lefevre (2010) afirmam que é preciso considerar alguns itens, como seguem abaixo: - Coerência; - Posicionamento próprio: ele deve ser distinto, original e específico frente ao tema; - Tipos de distinção entre os DSC: quando houver mais de um DSC, eles devem ser separados pela diferença, ou podem se complementar; - Produzindo uma “artificialidade natural”: o DSC deve ser como se uma única pessoa falasse por um conjunto de pessoas, mas para que isso ocorra, devese evitar particularidades. 6.2.1 Interrelações entre ECH E IC Para Lefevre e Lefevre (2010), As ECH são basicamente concretas, expressivas, abundantes, efetivas, literárias; em contraste com as IC que são abstratas, conceituais, sintéticas, poucas destacando muitas vezes como frias. Os mesmos autores simplificam este discurso definindo ambas da seguinte forma: As IC são o que o entrevistado quis dizer (o quê, sobre o quê) e as ECH como isso foi dito. O “quê” e o “como” se completam e reforçam mutuamente no discurso: fica mais fácil entender o “quê” um individuo ou um grupo de indivíduos quis dizer observando “como” essa ideia acabou se materializando num determinado discurso (LEFERVRE; LEFEVRE, 2010, p.78). Assim, os autores concluem que ambas são indispensáveis para um sentido correto na confecção do DSC, onde a IC tem função identificadora e ECH a de corporificadora. Dessa forma, não é possível identificar uma IC sem antes constatar a ECH. 48 6.2.2 Apresentação dos Resultados do DSC Como o discurso é montado na primeira pessoa do singular, remetendo à ideia de que seja uma única pessoa falando por um grupo, confere ao texto uma maior naturalidade, espontaneidade, vivacidade ao pensamento coletivo, o que difere dos resultados apresentados na pesquisa quantitativa, onde são apresentados gráficos, tabelas, percentuais e etc (LEFEVRE; LEFEVRE, 2010). 6.2.3 DSC passo a passo Para Lefevre e Lefevre (2010) há algumas maneiras de realizar o DSC que facilitam e norteiam o trabalho do pesquisador, como descritas abaixo: - A escolha dos participantes: os pesquisadores devem estabelecer seus critérios a partir do conhecimento ao universo e dos participantes de pesquisa e, diante disso, criar critérios. A escolha do público pode ser intencional, quando se refere a um grupo menor, ou a alternativa deve ser a escolha de uma amostra representativa da população a ser estudada, quando o universo a ser pesquisado é amplo ou o pesquisador não possui conhecimento. - Elaboração do roteiro de perguntas: a pergunta deve ser elaborada de forma que responda àquilo que se deseja investigar; essa pergunta deve instigar o sujeito a responder com ideias espontâneas, com menos interferência possível do pesquisador. No entanto, os mesmos autores concluem que perguntas ideais são aquelas compreensíveis ao público-alvo, levando-o a produzir um discurso exatamente daquilo que se está investigando, sem intervenção do entrevistador. E para que isso ocorra é fundamental o pré-teste das perguntas a um público equivalente ao da pesquisa proposta. 49 7 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA Esta parte do trabalho contém os aspectos relacionados ao local da pesquisa, a população de estudo, a coleta de dados, os procedimentos utilizados para a coleta, assim como a estratégia de análise dos resultados. E para finalizar este capítulo, retratamos os preceitos éticos da pesquisa. 7.1 CENÁRIOS DE ESTUDO As entrevistas com as PCE foram realizadas no municipio de Itajubá-MG. A cidade de Itajubá está situada no Sul do Estado de Minas Gerais, no qual ocupa uma área de 290,45 Km² de extensão, com população de 90.812 habitantes, isso decorrente do IBGE de 2006, o equivalente a 312,65 hab./km² de área rural e 70,70 Km² de área urbana. O acesso ao município é pela BR459, e sua localização é privilegiada devido a sua posição em relação às grandes capitais da região sudeste: Belo Horizonte (445 Km), São Paulo (261 Km), Rio de Janeiro (318 Km) (Prefeitura Municipal de Itajubá, 2012). Também pode-se destacar que Itajubá é centro de referência em assistência à saúde para 16 municípios da chamada microrregião do Alto Sapucaí. A cidade conta com dois hospitais credenciados para o Sistema Único de Saúde – SUS, Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e Hospital Escola de Itajubá da Faculdade de Medicina de Itajubá, com níveis de atendimento de atenção básica até alta complexidade. A assistência à saúde na área privada possui convênios com instituições de saúde como Odontomed, Saúde Ceam e Unimed Itajubá, além do Hospital Bezerra de Menezes, voltado à saúde mental. A assistência ambulatorial além dos serviços privados é realizada nos hospitais credenciados do SUS, nas Unidades Básicas de Saúde do município e nas duas policlínicas municipais (PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2012). 7.2 DELINEAMENTO DO ESTUDO O estudo foi de abordagem qualitativa, exploratória, descritiva e transversal. 50 Para Polit; Beck e Hungler (2011), a pesquisa qualitativa explora de forma direta a complexidade humana. Tal investigação destaca a compreensão da experiência humana exatamente da maneira como é vivida, por meio de coleta e análise de dados subjetivos. Os autores comentam que, na pesquisa qualitativa, são utilizados métodos aprofundados com a finalidade de descrever as dimensões, as variações, a importância e os significados dos fenômenos. A pesquisa exploratória inicia-se com o fenômeno de interesse, observando-o, descrevendo-o e investigando a sua natureza complexa e os outros fatores com os quais ele está relacionado. A pesquisa qualitativa e exploratória destina-se a conhecer as várias maneiras pelas quais um fenômeno se manifesta, bem como os processos subjacentes (POLIT; BECK; HUNGLER, 2011). A pesquisa descritiva é definida como aquela que observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los e tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou então, o estabelecimento de relação entre variáveis (FIGUEIREDO, 2009). Polit, Beck e Hungler (2011) ressaltam que o tipo de pesquisa descritiva é adequado para se estudar os fenômenos naturais; nela se descrevem as relações existentes entre variáveis sem a preocupação de se chegar até as causas que as produzem. Os autores supramencionados salientam ainda que nas pesquisas transversais a coleta de dados é realizada em determinado período e os dados relacionados às variáveis são coletados simultaneamente, dependente ou independente. 7.3 AMOSTRAGEM, AMOSTRA E PARTICIPANTE A amostragem do presente estudo foi do tipo intencional, tendo como participantes PCE diagnósticada, que utilizam a APS, do município de Itajubá-MG. O perfil desses participantes, que compõem a amostra da pesquisa com 16 PCE, são coerentes com os objetivos propostos. Polit; Beck e Hungler (2011) definem que amostragem é o processo de seleção de uma porção da população para representar toda uma população, a 51 mesma envolve aspectos relacionados à compreensão do fato investigado, não priorizando o resultado numérico e preocupando com generalizações. Já a amostra é um subconjunto dessa população, sendo esta uma parcela dos elementos que compõem o universo; e quando selecionamos uma parcela, podemos aproximar os resultados alcançados como se fosse da população total (DYNIEWICZ, 2009). As mesmas autoras complementam que uma populaçao é um agregado total de casos que preenchem um conjunto de critérios específicos E para a obtenção da amostra desse estudo foi utilizada a técnica metodológica snowball, também conhecida como snowball sampling (“Bola de Neve”), com a finalidade de obter um maior alcance de pessoas com epilepsia. Segundo Baldin e Munhoz (2011) essa técnica é uma forma de amostra não probabilística utilizada em pesquisas sociais onde os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que por sua vez indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo proposto (o “ponto de saturação”). Este “ponto de saturação” é atingido quando os novos entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, sem acrescentar novas informações relevantes à pesquisa. Baldin e Munhoz (2011) ao promoverem a discussão sobre a aplicação de estratégias de “recrutamento em cadeia” (como em uma rede) para a estimativa de prevalência de doenças em populações organizadas em redes complexas discorrem sobre a metodologia snowball sampling ou Bola de Neve apresentado por Goodman em 1961. Segundo as autoras citadas, os primeiros participantes contatados na aplicação da pesquisa são as “sementes” que devem ter conhecimento da sua localidade, do fato acontecido ou das pessoas que vivem na comunidade ou que vivencie situações semelhantes. Esse mesmo indivíduo (a “semente”) indicará outra(s) pessoa(s) de seu relacionamento (ou de seu conhecimento) para que também participe(m) da amostra, esses são os “filhos” das “sementes”. A snowball sampling ou “Bola de Neve” prevê que o passo subsequente às indicações dos primeiros participantes no estudo é solicitar a esses indicados informações acerca de outros membros da população de interesse para a pesquisa (e agora indicados por eles), para só então sair a campo para também recrutá-los. 52 Neste sentido a amostra será obtida neste estudo pelo metodo “bola de neve” que é classificada como não probabilística, e será intencional. E, devido à dificuldade de realizar a seleção da amostragem, o modo ideal é o intencional, em que os indivíduos são selecionados com base em certas características relevantes para os pesquisadores e também para os participantes, com objetivo de enriquecer a pesquisa (DYNIEWICZ, 2009). 7.3.1 Critérios de inclusão e exclusão Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão dos participantes, conforme descritos abaixo: • Ter mais de 18 anos; • Ter diagnóstico confirmado de epilepsia; • Ter preservada sua capacidade cognitiva; • Ser residente da cidade de Itajubá. • Aceitar participar da pesquisa; Já os critérios de exclusão são os opostos aos critérios de inclusão. 7. 4 COLETA DE DADOS Neste tópico são descritos os instrumentos e os procedimentos da coleta de dados necessários ao desenvolvimento desta pesquisa. 7.4.1 Instrumentos de coleta de dados A pesquisa foi realizada por meio de dois instrumentos: um questionário com perguntas fechadas referente às caracterÍsticas pessoais e socioeconômicas dos entrevistados (Apêndice A). E o segundo instrumento será um roteiro de entrevista semi-estruturado contendo duas perguntas. (Apêndice B). Polit; Beck e Hungler (2011) ressaltam que a entrevista é o principal tipo de técnica para colher dados com uma parcela da população, tendo como principal objetivo, atender os princípios da pesquisa. 53 Ainda, o autor especifica a Entrevista Semiestruturada - que foi o método utilizado neste estudo - como a pesquisa que se desenrola por meio de um esquema básico, com um pequeno número de questões abertas, porém permite que o entrevistador faça adaptações quando achar necessário. 7.4.2 Procedimento da coleta de dados A pesquisa teve início com a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), conforme o Parecer Consubstanciado nº 136255/2013 (ANEXO C ). Logo em seguida, deu-se início à coleta de dados com os participantes da pesquisa, mediante termo esclarecido e assinado pelos mesmos, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICES C). Com a finalidade de obter um maior número de participantes, foi solicitada, através de uma carta (APÊNDICE D ) às enfermeiras da UBS e ESF da cidade de Itajubá, a indicação de pacientes com o diagnóstico de epilepsia que eram atendidos por elas. As entrevistas com as PCE foram realizadas em domicílios, agendadas em comum acordo com as mesmas. No princípio da pesquisa, os participantes foram informados sobre o estudo, o objetivo, a garantia do anonimato, o fato de que poderiam participar ou não da pesquisa, que os entrevistados não seriam beneficiados financeiramente e que a pesquisa seria gravada, sendo que as fitas seriam destruídas após serem transcritas. E que o material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa responsabilidade, durante cinco anos no mínimo. Os participantes foram informados ainda de que os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos participantes da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação. 7.5 PRÉ TESTE O pré teste foi realizado com três PCEs, que obedeciam os critérios de eligibilidade desse estudo, essas pessoas não estão incluídas no resultado final da 54 pesquisa, após o pré teste observou-se que os participantes tiveram dificuldade de interpretar a segunda pergunta, portanto esta foi modifida para obter os objetivos da pesquisa.. O pré-teste, segundo Gil (2002), é um modo de avaliação dos instrumentos, visando garantir que alcancem exatamente o que se deseja. De acordo com os autores, Lakatos e Marconi (2001), após realizadas todas as etapas da pesquisa, as hipóteses enunciadas, as variáveis identificadas, determinada a metodologia etc, deve-se realizar um pré-teste, porque há muitos fatos que não podem ser previstos no desenvolver da parte teórica do estudo. Os autores ainda ressaltam que, ao elaborar as perguntas da entrevista, haja preocupação em relação à clareza do enunciado e adequação do vocabulário conforme o interlocutor, e para se ter certeza que haverá compreensão por parte do entrevistado, eles recomendam um teste do instrumento da coleta de dados, antes de se efetivar a pesquisa. O pré-teste deve ser realizado, por meio da entrevista, onde o pesquisador tem a oportunidade de selecionar indivíduos pertecentes ao grupo que se pretende estudar, onde são anotadas as reações do entrevistado, as suas dificuldades de compreensão, sua tendência para discursar sobre questões polêmicas ou delicadas, seu embaraço com questões pessoais etc (GIL, 2002). Lakatos e Marconi (2001) enfatizam algumas outras considerações a respeito deste assunto: - O pré-teste ainda é utilizado para identificar se há questões com ambiguidade, existência de perguntas supérfluas, adequação na ordem da apresentação das questões e se são muitas ou poucas interrogações. Após identificar esses itens, faz-se necessário reformular o questionário, conservando, modificando, ampliando, desdobrando ou alterando questões, explicitando melhorar algumas interrogações, alterando a redação de outras, modificando questões abertas para fechadas ou vice - versa. - Em relação ao questionário, o pré-teste também pode evidenciar outros três elemetos de suma importância, como descritos abaixo: • Fidedignidade: obter os mesmos resultados, independente do pesquisador; 55 • Validade: se todas as informações necessárias para o trabalho foram colhidas e averiguar se há dados essenciais que não foram citados e/ou obtidos; • Operatividade: verificar se o vocabulário está adequado para os entrevistados e se o que se pede nas perguntas está claro. - Esse método é util para certificar-se que a amostragem escolhida está sendo fidedigna ao objetivo do estudo, porém os entrevistados na etapa do pré-teste não podem figurar na amostra final. - Dessa forma existirá na coleta de dados final, uma maior segurança e precisão para a execução da pesquisa. 7.6 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DE DADOS Os dados foram analisados por meio do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), tendo com base a Teoria das Representações Sociais (TRS). Assim, seguiu-se rigorosamente as seguintes etapas do DSC. 1ª Etapa: As respostas por escrito das questões foram lidas várias vezes para que tivesse uma ideia panorâmica e melhor compreensão dos textos. 2ª Etapa: Copiou-se integralmente o conteúdo de cada questão no Instrumento de Análise do Discurso 1 (IAD1), representando as ECH em itálico (ANEXO A). Assim, foi necessária a leitura repetida das ECH, para que então fosse possível determinar IC. 3ª Etapa: As IC de cada questão foram copiadas integralmente, junto com os participantes e a frequência das mesmas. Pergunta 1: Para você o que SIGNIFICA ter epilepsia? Comente. 56 Quadro 3 - Ideias centrais, participantes e frequência referente ao Significado de ter epilepsia por pacientes portadores da doença Nº IDEIAS CENTRAIS PARTICIPANTES FREQUÊNCIA 1 Preconceito E1, E9, E10, E13. 4 2 Algo normal E2, E3, E6, E7, E16. 5 3 “Eu não sei responder” E4. 1 4 “Um cuidado que tenho que ter constante comigo” E5. 1 5 “Ter um distúrbio mental” E8 1 6 Uma coisa muito ruim Medo. Medo. E11, E12, E14, E15. 4 Fonte: Da autora Pergunta 2: Como você avalia o atendimento oferecido a pessoas com epilepsia nas UBS e ESF? Comente. Quadro 4- Ideias centrais, participantes e frequência de como as pessoas com epilepsia avaliam o atendimento recebido por elas nas UBS e ESF Nº IDEIAS CENTRAIS PARTICIPANTES 1 Faltam orientações. 2 Eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise. Falta orientação. E5 3 Existe um déficit na orientação. E7 1 4 Faltam orientações para mim e para a minha família. Recebo ajuda e orientação. E9 1 E10 1 E15 1 5 6 Tem muito o que melhorar, falta orientação. Fonte: Da autora E1, E2, E3, E4, E6, E8, E11, E12, E13, E14, E16. FREQUÊNCIA 11 1 57 4ª Etapa: Elaboração do Agrupamento de Ideias Centrais Iguais e Semelhantes, para então partir para a construção do IAD2. Pergunta 1: Para você o que SIGNIFICA ter epilepsia? Comente. Quadro 5- Agrupamento de Ideias Centrais Iguais e Semelhantes IDEIAS CENTRAIS AGRUPADAS “Preconceito” “Preconceito” Preconceito Preconceito Algo normal Algo normal Algo normal “Algo normal” “Algo normal” IDEAIS CENTRAIS PRECONCEITO ALGO NORMAL “Eu não sei responder” EU NÃO SEI RESPONDER “Medo” Medo Medo “Medo” “Um cuidado que tenho que ter constante comigo” MEDO “Ter um distúrbio mental” “TER UM DISTÚRBIO MENTAL” Fonte: Da autora Pergunta 2: Como você avalia o atendimento oferecido a pessoas com epilepsia nas UBS e ESF? Comente. 58 Quadro 6 -Agrupamento de Ideias Centrais Iguais e Semelhantes IDEIAS CENTRAIS AGRUPADAS Faltam orientações. Faltam orientações. Faltam orientações. Faltam orientações. Faltam orientações Faltam orientações. Faltam orientações. Faltam orientações. Faltam orientações Faltam orientações. Faltam médicos especialistas e orientações. Existe um déficit na orientação. Faltam orientações para mim e para a minha família. Eu nunca perguntei, mas eles também não me falaram nada. Tem muito que melhorar, falta orientação. IDEAIS CENTRAIS FALTAM ORIENTAÇÕES Eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise. EU ACHO QUE ELES NEM SABEM COMO AGIR COM UMA PESSOA COM CRISE Bom, recebo ajuda e orientação. BOM, RECEBO AJUDA E ORIENTAÇÃO. Fonte: Da autora 5ª Etapa: Elaboração do IAD2 com as ICs separadas e com suas respectivas ECH (ANEXO B). 6ª Etapa: Extraiu-se de cada uma das perguntas da entrevista semiestruturada o seu tema, agrupando o mesmo às suas respectivas ICs, assim como os participantes e as frequências das IC. Tudo isso está apresentado por meio de quadros (capítulo 8). Finalmente, constrói-se o DSC para cada IC, com suas respectivas ECH. 59 8 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA Durante a confecção do trabalho, foi obedecida a resolução nº 196/96 do Ministério da Saúde, que estabelece declarações e diretrizes sobre pesquisas que envolvem seres humanos. E posteriormente seguiu-se a resolução 466/12 CNS. A autonomia dos participantes do estudo foi respeitada. Mediante a explicação da pesquisa, os entrevistados tinham o livre arbítrio para decidir participar ou não do estudo. Quando a resposta era afirmativa, liam e assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C). E mesmo aceitando, a qualquer momento, se desejassem, poderiam deixar de participar da pesquisa. Durante a pesquisa, também foram respeitados valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, incluindo hábitos, costumes, confidenciabilidade, anonimato e privacidade das informações. Assegurando aos participantes que as informações obtidas não seriam utilizadas em prejuizo de qualquer natureza a eles. Finalmente, é preciso evidenciar que o presente estudo obteve autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), para a realização da pesquisa, conforme segue em anexo o Parecer Consubstanciado Nº 136255/2013 (ANEXO C) e aprovação para pesquisa envolvendo seres humanos (ANEXO D). 60 9 RESULTADOS Esse capítulo destina-se a apresentação dos resultados dos dados coletados. No intuito de facilitar uma análise mais compreensível do material que emergiu das entrevistas, serão expostas primeiramente as características da amostra, seguido pelo tema, com suas ICs e seus respectivos DSCs. 9.1 PESSOAS COM EPILEPSIA Os resultados são apresentados em duas partes distintas: a primeira expõe dados relevantes às características de identificação pessoal, socioeconômicas e locais aonde as PCE procuram para receber assistência relacionada à epilepsia. A segunda possui respostas discursivas que permitem explorar o tema proposto referente ao significado de ter epilepsia, juntamente com suas ideias centrais e os seus respectivos Discursos do Sujeito Coletivo (DSCs). 9.1.2 Características de identificação pessoal das pessoas com epilepsia No parágrafo seguinte são apresentados, de forma resumida, os dados contidos na Tabela 1. Referentes às características pessoais e socioeconômicas dos 16 participantes: média da idade (38,07), mediana (37,50), (DP= 15,56), val. máx. 65, val. mín. 18; Gênero: feminino (43,75%), masculino (56,25%); Renda: até 1 salário mínimo (37%), até 2 salários mínimos (31,25%), de 2 a 5 salários mínimos (31, 25%); Escolaridade: do 1º ao 5º ano do ensino fundamental (8,75%), ensino médio incompleto (50%), ensino médio completo (18,75%), ensino superior incompleto (12,50%). Ocupação: balconista de farmácia (6,25%), serralheiro (6,25%), empacotador de supermercado (6,25%),do lar (6,25%), estudante área de saúde (6,25%), vendedora autônoma (6,25%), auxiliar de lavanderia (6,25%), estudante (18,75%), desempregado (12,50%), empregada doméstica (6,25%), aposentado (18,75%); Religião: Católica (62,50%), Protestante (25%), Espirita (6,25%), Agnóstico (6,25%). Unidades procuradas pelas PCE para receber assistência relacionada à doença. Itajubá: ESF/HE (50%), ESF (18,75%), Clínica particular/ ESF (6,25%), Santa casa de Misericórdia/ ESF (6,25%), Unimed/ ESF (6,25%), UBS/outros (12,50%). 61 Tabela 2 - Características de identificação pessoal e perfil socioeconômico das pessoas com epilepsia. Itajubá, MG. 2013 (n=16) Frequência % Idade Gênero Feminino Masculino 07 09 43,75 56,25 Renda Até 1 salário mínimo Até 2 salários mínimos De 2 a 5 salários mínimos 06 05 05 37,50 31,25 31,25 Escolaridade Do 1º ao 5º ano do ensino fundamental Ensino médio incompleto Ensino médio completo Ensino superior incompleto 03 18,75 08 03 02 50 18,75 12,50 Ocupação Balconista de farmácia 01 6,25 01 6,25 01 6,25 Serralheiro Empacotador de supermercado Do lar Estudante da área de saúde Vendedora autônoma Auxiliar de lavanderia Estudante Desempregado Empregada doméstica Aposentado 01 01 6,25 6,25 01 01 03 02 01 03 6,25 6,25 18,75 12,50 6,25 18,75 Religião Católica Protestante Espírita Agnóstico 10 04 01 01 62,50 25 6,25 6,25 Fonte: Da autora Média Mediana DP Val. máx. Val. mín. 38,07 37,50 15,56 65 18 62 Tabela 3 - Unidades procuradas pelas PCE para receber assistência relacionada à doença. Itajubá, MG. 2013 (n=16) Unidades Frequência Percentagem ESF/HE ESF 08 03 50 18,75 Clínica particular/ ESF 01 6,25 Santa casa de Misericórdia/ 01 6,25 Unimed/ ESF 01 6,25 UBS/outros 02 12,50 ESF Fonte: Da autora 9.1.3 Tema, Ideias Centrais e DSCs Neste subcapítulo será apresentado o tema do estudo, seguido pelo quadro representativo de cada ideia central (IC), assim como sua frequência. O mesmo ocorre nas duas perguntas: 1- Para você o que significa ter epilepsia? Comente; 2Como você avalia o atendimento oferecido a pessoas com epilepsia nas UBS e ESF? Comente. Mais adiante é exposto o DSC de cada IC. Tema: O significado de ter epilepsia por pessoas portadoras da doença. Pergunta 1: Para você o que SIGNIFICA epilepsia? Comente. 63 Quadro 7 - Ideias centrais, participantes e frequência referente ao Significado de ter epilepsia por pacientes portadores da doença Nº IDEIAS CENTRAIS PARTICIPANTES FREQUÊNCIA 1 Preconceito E1, E9, E10, E13. 4 2 Algo normal E2, E3, E6, E7, E16. 5 3 Não sei explicar E4. 1 4 “Ter um distúrbio mental” E8 1 5 Medo E5, E11, E12, E14, E15. 5 Fonte: Da autora 1ª IDEIA CENTRAL: PRECONCEITO DSC: Preconceito, a pior coisa do mundo, no começo eu me achava estranho, me incomodava muito, eu tinha muito preconceito no início, na realidade nem gosto de comentar isso, não gosto de expor o problema para as pessoas e não falo para ninguém que tenho, pois nem todo mundo aceita determinadas coisas, muitos amigos meus saíram de perto de mim com medo de pegar a doença, hoje não aceito a ajuda das pessoas, é a coisa mais triste, nem gostava de sair de casa, porque quando eu tinha as crises eu urinava na calça, me entortava todo, sofri muito preconceito e tinha vergonha. 2ª IDEIA CENTRAL: ALGO NORMAL DSC: Não considero uma doença, apenas uma situação com que tenho que lidar pelo resto da minha vida, para mim não me incomoda em nada, só tive crises quando era muito pequeno, é como se fosse algo normal. Tem pessoas piores que a gente é só fazer o acompanhamento médico e tomar as medicações nos horários corretos que dá para viver uma vida normal sem crises, jogo bola, estudo medicina, saio como uma pessoa normal. 64 3ª IDEIA CENTRAL: EU NÃO SEI EXPLICAR O QUE SIGNIFICA DSC: Eu não sei responder, mas ultimamente me deixa preocupado, é o que venho dizendo sempre em certos lugares aonde eu venho a trabalhar eu desmaio, e sou dispensado do serviço por causa disso. 4ª IDEIA CENTRAL: TER UM DISTÚRBIO MENTAL DSC: Significa para mim ter um distúrbio mental, sem esperar eu perco a memória por alguns instantes, eu tento me acalmar, mas a medicação me deixa desanimada. Quero em primeiro lugar que Deus me cure. 5ª IDEIA CENTRAL: MEDO DSC: Um cuidado que tenho que ter constante comigo, porque eu não sinto quando eu vou ter da vontade de chorar ao mesmo tempo, eu fico nervosa, por não ter controle do meu corpo, começou quando eu era criança perdi até o estudo, por 14 anos tive ausência dos meus sentidos. É uma coisa muito ruim, a pior sensação do mundo, faço de tudo, mas já levei muito ‘’cambote’’, já me arrebentei, quebrei meus dentes, acordei sem saber onde estava. Incomoda, pra mim é uma coisa que eu não queria ter, é ruim, porque quando se tem você volta sem sentido, você vê as pessoas não sabe quem é. Graças a Deus quando eu tive sempre estava perto da minha mãe, porque se eu não estivesse eu ia passar apuros porque quase ninguém sabe socorrer. Tenho medo que em uma hora pode dar em mim aqui sozinha, eu cair ficar desacordada, toda molhada aqui no chão como já fiquei, acordo com muita dor de cabeça, tenho medo de morrer sozinha. 65 Figura 1 - Ideias Centrais do significado de ter epilepsia por pessoas com essa doença Preconceito Preconceito Medo Algo Medo Significado de ter epilepsia normal por pessoas com essa doença Ter um distúrbio mental Não sei explicar Fonte: Da autora Para pessoas com epilepsia o significado de ter essa doença consiste em: preconceito, medo, algo normal, uma doença mental e não sei explicar. Tema: Avaliação do atendimento oferecido as PCE, nas UBS e ESF Pergunta 2: Como você avalia o atendimento oferecido a pessoas com epilepsia nas UBS e ESF? Comente. 66 Quadro 8 - Ideias centrais, participantes e frequência de como as pessoas com epilepsia avaliam o atendimento recebido por elas nas UBS e ESF Nº IDEIAS CENTRAIS 1 Faltam orientações. 2 Eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise. 3 Recebo ajuda e orientação. PARTICIPANTES E1, E2, E3, E4, E6, E7, E8, E9, E11, E12, E13, E14, E15, E16. FREQUÊNCIA 14 1 E5 E10 1 Fonte: Da autora 1ª IDEIA CENTRAL: FALTAM ORIENTAÇÕES DSC: A proximidade facilitaria o atendimento, mas só tenho apoio do postinho com os remédios. O socorro muitas vezes não tinha, não davam muita importância, o que já aconteceu foi que me medicaram, mas quando a gente precisa de um tratamento específico não recebe, não sei o que fazer. Falta orientação, médicos especialistas para acompanhar o problema de cada um, e maior agilidade para a marcação do eletroencefalograma. Depois de fazer o eletroencefalograma não sei para qual médico mostrar. Só tenho orientações quando consigo marcar consulta com especialista. Eu faço o meu acompanhamento no (Hospital privado), lá tem orientação melhor. Não tenho nenhuma orientação nas visitas que vem na minha casa, acredito que os profissionais do postinho que vem na minha casa sabem do problema, mas nunca disseram nada sobre a epilepsia pra mim, quando eles vêm aqui em casa eu já até falei sobre essa doença algumas coisas com eles, mas eles não me respondiam nada, não me lembro de ter recebido orientação sobre o que eu tenho “epilepsia’’, nunca me falaram nada”. Desta forma o atendimento na parte de esclarecer tem um déficit, deixam a desejar. Eu não recebo nenhuma informação sobre a epilepsia e nem a minha família. Acho que isso tem que mudar. O atendimento relacionado à epilepsia tem muito que melhorar, porque só de ser perto da gente já facilita, as orientações que eu tive foram conseguidas no consultório particular da Drª (...), Além disso, deveriam 67 orientar as pessoas de como socorrer uma pessoa que esta tendo epilepsia que quase ninguém sabe. 2ª IDEIA CENTRAL: EU ACHO QUE ELES NEM SABEM COMO AGIR COM UMA PESSOA COM CRISE DSC: Aqui, eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise. O meu vizinho teve uma crise eles negaram o atendimento falando que “aqui agente não pode cuidar”. 3ª IDEIA CENTRAL: RECEBO AJUDA E ORIENTAÇÃO. DSC: Eles ajudam muito agente quando preciso de ajuda, só demora um pouco, eles orientam a gente sobre a epilepsia principalmente o Drº (...), se eu precisar de alguma coisa sei que posso contar. Figura 2 - Ideias centrais de como a pessoa com epilepsia avalia o atendimento oferecido a elas nas UBS e ESF Recebo ajuda e Faltam Orientações Orientação . Eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise Fonte: Da autora As pessoas com epilepsia avaliam que o atendimento recebido por elas nas UBS e ESF consiste em: “falta de orientação”, “recebo ajuda e orientação” e “eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise”. 68 10 DISCUSSÃO Da análise das representações sociais dos participantes deste estudo sobre o significado e percepção de ser uma pessoa com epilepsia (PCE), pôde-se observar um aspecto marcadamente heterogêneo. As ideias centrais permearam uma concepção negativa do significado de ter epilepsia “a pior coisa do mundo, as piores sensações que você pode ter, porque não tem como se expressar, dizer a pessoa como se sente com palavras”, e perpassaram pelas ideias de que “é algo normal, não considero uma doença, apenas uma situação que tenho que lidar para o resto de minha vida”. A polissemia dos discursos sobre ter epilepsia pode indicar os diversos intervenientes socias que implicam no modo como é elaborado o arcabouço simbólico a respeito de si próprio. Entre tais destacam-se a idade, o sexo, o nível de escolaridade, a frequência e intensidade das crises e o grau de orientação. Sabe-se que a epilepsia é associada aos determinantes sociais, físicos e psicológicos adversos que refletem sobre o funcionamento cognitivo e padrões de comportamento dos indivíduos afetados (SHAKIR; AL-ASADI, 2012). O grande desafio para a PCE e para os pesquisadores da temática se situa justamente na variedade de significados atribuídos a doença. A natureza imprevisível das convulsões, os sentimentos de impotência daqueles que as testemunham, bem como as representações da doença ancoradas na desinformação e na tradição, contribuem para que os sujeitos portadores de epilepsia sejam estigmatizados e muitas vezes condenado ao isolamento social (ENGLAND. et al, 2012). Erving Goffman (1963) e Thomas; Nair, (2011) apontam o estigma como um fenômeno que interfere diretamente na qualidade de vida dos indivíduos de uma forma negativa. Descrevem que o estigma é um atributo que tem o potencial para desacreditar um indivíduo, e que a sua vivência resulta na "tainting"1 da identidade social. Sendo assim, aqueles que têm uma característica estigmatizante, se tornam alvos para os estereótipos em torno dela elaborados, sendo sujeitos a atitudes preconceituosas e comportamentos discriminatórios como exclusão e punição. Bielen et al (2014) complementam que em recente estudo realizado na Croácia com PCE chegou-se ao seguinte resultado, quanto à frequência de estigmatização, 159 (n=298) indivíduos (53%) relataram sentirem-se estigmatizados, 69 destes 136 (45%) ligeira a moderadamente e 23 (8%) altamente. É importante destacar que onde há o estigma está presente o preconceito. A esse respeito, verificou-se nesse estudo como uma das principais ideias centrais (IC) o “preconceito” quando as PCEs foram indagadas sobre o significado de ter a doença: “Preconceito, a pior coisa do mundo, no começo eu me achava estranho, me incomodava muito, eu tinha muito preconceito no início, na realidade nem gosto de comentar isso, não gosto de expor o problema para as pessoas e não falo para ninguém que tenho, pois nem todo mundo aceita determinadas coisas, muitos amigos meus saíram de perto de mim com medo de pegar a doença, hoje não aceito a ajuda das pessoas”. Desta forma o estigma da PCE pode ser visto como uma autoavaliação negativa, acompanhada pela experiência emocional também negativa estimulada pelas relações sócias. Talvez por isso as mesmas sofram e muitas vezes tendem esconder ou negar sua condição, podendo sofrer limitações sociais, ser tolhidos em sua independência, autonomia, liberdade, autoimagem e autoconfiança. Assim a compreensão da epilepsia e o conhecimento e as atitudes das pessoas ao redor, interferem diretamente na forma como a PCE vivencia a doença (GUO et al 2012; SCORZA; CAVALHEIRO, 2004). As vivências negativas ocasionam vários sentimentos depreciativos relacionados à doença: “é a coisa mais triste nem gostava de sair de casa, porque quando eu tinha as crises eu urinava na calça, me entortava todo, sofri muito preconceito e tinha vergonha”. A esse respeito, Fernandes; Li (2006) referem que devido ao preconceito e às atitudes negativas, as pessoas com epilepsia tendem a enfrentar problemas psicossociais, como isolamento social, dificuldades nos relacionamentos sociais e restrição de atividades entre outros e ainda estão sujeitos a experimentarem sentimentos como o medo e a vergonha. Os problemas psicossociais, assim como “medo”, estão sobretudo relacionados a pacientes que apresentam convulsões descontroladas, recorrentes e com maior a severidade, e estas características estão relacionadas a um maior risco de acidentes e de lesões quando comparados com a população em geral, sendo os mais frequentes traumas: queimaduras, cortes e fraturas (SOUZA; GUERREIRO; GUERREIRO, 2008; FAWALE; OWOLABI; OGUNNIYI, 2014). 70 A fala dos autores é corroborada no discurso em que a ideia central foi o “medo”. A falta de controle do corpo e os riscos gerados por esse favorecem uma insegurança contínua no dia a dia da PCE, incidindo sobre a qualidade de vida desses indivíduos. Dessa perspectiva ter epilepsia significa “um cuidado que tenho que ter constante comigo, porque eu não sinto quando eu vou ter, dá vontade de chorar ao mesmo tempo, eu fico nervosa, por não ter controle do meu corpo. É uma coisa muito ruim, a pior sensação do mundo, faço de tudo, mas já levei muito ‘’cambote’’, já me arrebentei, quebrei meus dentes, acordei sem saber onde estava”. Em estudo recente desenvolvido por Ryan e Raisanen (2012), o medo foi reportado como a emoção predominante. Esse sentimento deve-se em grande parte à experiência ou à expectativa da atividade convulsiva. Três das principais características do medo na epilepsia foram apontados: dano, temporalidade e ação. O temor experimentado não era apenas externo, relativo a danos imediatos, mas também interno, em termos de potencial de danos ao cérebro. A natureza da epilepsia pode, portanto, representar uma ameaça às concepções do eu. No mesmo contexto da IC: “Medo”, para a PCE ter epilepsia “incomoda, pra mim é uma coisa que eu não queria ter, é ruim, porque quando se tem você volta sem sentido, você vê as pessoas não sabe quem é. Graças a Deus quando eu tive, sempre estava perto da minha mãe, porque se eu não estivesse eu ia passar apuros, porque quase ninguém sabe socorrer. Tenho medo que em uma hora pode dar em mim aqui sozinha, eu cair ficar desacordada, toda molhada aqui no chão como já fiquei, acordo com muita dor de cabeça, tenho medo de morrer sozinha”. O receio de não reconhecer onde está e as pessoas que a cercam, faz com que as PCEs, fiquem em uma constante apreensão, a respeito do seu estado. E somado a isso o fato do tema epilepsia ainda ser pouco difundido em nossa sociedade e o predomínio da ignorância referente ao socorro dado a esses pacientes faz com que atitudes errôneas sejam tomadas, favorecendo o surgimento do medo como foi citado acima. Segundo Gomes (2012), estudos desenvolvidos antes da década de 1970 sobre a epilepsia reportavam o seu mau prognóstico. No entanto hoje se observa que na maioria das PCEs recém-diagnosticadas, principalmente de origem 71 idiopática, o prognóstico em longo prazo é favorável, mas a epilepsia permanece ativa em cerca de 30% e torna-se farmacorresistente em aproximadamente 10%. Reconhece-se também que as PCEs têm um risco aumentado de morte prematura, sendo que o risco maior ocorre logo após o início das CE. É importante frisar que em países em desenvolvimento como o Brasil, o diagnóstico nem sempre é precoce, aumentando assim o risco da morte prematura. Thompson et al (2012) apontam que em estudo realizado na Califórnia, evidenciou-se que a probabilidade de morte prematura aumenta com alguns tipos de epilepsia, convulsões, especialmente se não são bem controladas. Além disso, o risco de suicídio entre pessoas com epilepsia é cinco vezes maior do que à taxa da população nacional. O que reflete o peso da doença mental não tratada nesta população, visto que a epilepsia está fortemente ligada a doenças psíquicas como a depressão. Nesse contexto infere-se que as PCEs requerem cuidados complexos, mas muitas vezes enfrentam barreiras no acesso ao tratamento de qualidade. A prevalência da depressão em pacientes com crises recorrentes varia de 20% a 80%. Os sintomas mais frequentemente encontrados incluem sentimentos de culpa, humor deprimido ou elevado, irritabilidade, insônia, ansiedade, medo, dores atípicas e ideação suicida. Outros fatores também influenciam diretamente no surgimento das doenças psíquicas na PCE, entre eles repetidos episódios de perda de consciência que leva à morbidade, à perda de autoestima, dificuldade de conseguir emprego, estigmatização e, geralmente, à vergonha. Somando-se às questões socias, nas últimas duas décadas, estudos mostraram transformações bioquímicas, neuropatológicas e neuropsicológicas envolvidas no desenvolvimento dos transtornos de humor na PCE (KANDRATAVICIUS et al, 2012; TERRA; VALERIO; OLIVEIRA, 2013). Tendo em vista esse arcabouço teórico, infere-se que a IC: “ter um distúrbio mental”, apresentada por uma PCE, é objetivada a partir das suas vivências com a doença: “Significa para mim ter um distúrbio mental sem esperar eu perco a memória por alguns instantes, eu tento me acalmar, mas a medicação me deixa desanimada. Quero em primeiro lugar que Deus me cure”. No âmbito da polissemia do discurso sobre ter epilepsia, surge a IC: “Algo normal” que revela a importância das variantes subjetivas a respeito do bem estar e 72 da saúde, pois a maneira como se julga uma situação está relacionada à interpretação e às expectativas que se tem a seu respeito. Para tanto influenciam nesse processo a história de vida e as estratégias utilizadas para ajustar-se às condições de saúde e doenças. Os psicólogos sociais explicam que os diferentes indivíduos respondem à mesma característica estigmatizante de maneiras diferentes. Pois a estigmatização é um conjunto amplo e variado de estressores que as pessoas devem enfrentar. Portanto, a capacidade de suportar o estresse imposto pelo estigma irá variar de acordo com os níveis intelectual, psicossocial, econômico e social (THOMAS; NAIR, 2011; GUO et al, 2012). Desta forma ao analisar a IC: “Algo normal” percebeu-se que essas PCEs conheciam as causas da doença, tinham menos medo, mentalidade mais positiva e confiança superior na cura ou controle de sua condição, do que aqueles que não sabiam as causas, além disso, ao dizerem ser algo normal, estas estavam cientes da importância de um controle medico e o uso constante da sua medicação. Sendo que para esses pacientes ter epilepsia significa: “Não considero uma doença, apenas uma situação com que tenho que lidar pelo resto da minha vida, para mim não me incomoda em nada, só tive crises quando era muito pequeno, é como se fosse algo normal. Tem pessoas piores que a gente é só fazer o acompanhamento médico e tomar as medicações nos horários corretos que da para viver uma vida normal sem crises, jogo bola, estudo medicina saio como uma pessoa normal”. A esse respeito Siqueira; Guerreiro e Souza (2011) apontam que em um estudo desenvolvido com adolescentes em Campinas-SP, vários fatores foram mencionados pelos jovens que consideram ter uma boa qualidade de vida entre eles: o conhecimento sobre a epilepsia, o apoio social e uma boa percepção da apreensão e controle das crises são apontados que como contingências importantes para uma melhor avaliação da autoestima. O apoio social é determinado como um amortecedor do impacto negativo de eventos estressantes, como o estigma, e esse é feito pela família, amigos, profissionais de saúde e é uma responsabilidade da saúde pública. No contexto complexo da análise do significado de ter epilepsia encontrou-se também a IC: “Não sei responder”, emitida por um dos participantes da pesquisa. 73 Talvez esta resposta evidencie uma falha na comunicação e informação, uma vez que ao ficar a margem de uma assistência de saúde adequada, a pessoa potencialmente sofre com o estigma e com problemas sociais. Este cenário desvela a fragilidade da atenção básica de saúde que tem como objetivos a prevenção, promoção e reabilitação assim como a redução de danos e a manutenção da saúde. Em uma pesquisa desenvolvida em Laos, que assim como o Brasil é um país em desenvolvimento, foi demonstrado que em muitos casos a falta de preparação ou o baixo nível de conhecimento sobre a epilepsia por parte de profissionais de saúde pode estar contribuindo para as inadequações no tratamento. Ressalta-se que apesar de no Brasil ter um alto índice de investimento em programas da atenção básica à saúde, é persistente a discrepância da atenção à saúde entre os diversas localidades do território nacional (HARIMANANA et al, 2013). A falta de conhecimento pode estar inter-relacionada à vulnerabilidade do participante, propiciando a vivencia de uma insegurança que reflete diretamente na sua autonomia financeira e no decréscimo da qualidade de vida: “Eu não sei responder, mas ultimamente me deixa preocupado, é o que venho dizendo sempre em certos lugares aonde eu venho a trabalhar eu desmaio e sou dispensado do serviço por causa disso. Eu fico nervosa, por não ter controle do meu corpo, começou quando eu era criança perdi até o estudo, por 14 anos tive ausência dos meus sentidos, não sei explicar o que significa”. No tocante ao segundo questionamento a respeito de como as PCEs avaliam o atendimento recebido por elas na atenção básica de saúde, deparou-se com uma situação paradoxal, uma vez houve um discurso que qualificou de forma positiva o atendimento com a IC: “Recebo ajuda e orientação”. Ao passo que outros, por prováveis experiências negativas durante a assistência, discorrem: “Faltam orientações” e “Eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise”. As representações sociais acerca do atendimento permitem a reflexão sobre a dinâmica do funcionamento das unidades da atenção básica de saúde. Desta forma a avaliação da qualidade dos serviços de saúde sob a ótica das PCE pode ser uma ferramenta importante para organização e promoção do sistema de saúde. Sabe-se que o Brasil tem experimentado grandes mudanças na estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS). Em particular, a partir de 1994, o Programa Saúde da Família (PSF), posteriormente ampliado para o atual ESF, que foi desenvolvido 74 com a finalidade de melhorar o acesso à atenção primária e à qualidade desta em todo o país. Seu caráter estruturante dos sistemas municipais de saúde tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS. A estratégia busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais e tem produzido resultados positivos no que se refere à avaliação dos usuários, dos gestores e dos profissionais de saúde (BINOTTO et al, 2012; ALFRADIQUE et al, 2009). Victora et al. (2011) confirmaram em um inquérito realizado em 2008 que 93% dos brasileiros que procuraram atenção à saúde conseguiram obtê-la e várias intervenções na atenção materno-infantil estão perto de atingir cobertura universal, sendo implementadas, na estrutura básica de saúde, e não como programas verticais independentes. Esses dados demostram que a proposta de abranger uma grande totalidade dos brasileiros pode estar sendo alcançada. Dessa ótica talvez se compreenda os contornos da representação social a respeito do atendimento recebido na atenção básica: “Eles ajudam muito agente quando preciso de ajuda, só demora um pouco, eles orientam a gente sobre a epilepsia principalmente o Drº (...), se eu precisar de alguma coisa, sei que posso contar.” Muller e Gomes (2008) destacam, a partir de uma revisão sistemática relacionada à satisfação com os serviços de atenção a saúde pelas PCE realizada na Austrália, Inglaterra, EUA e Irlanda, que de uma forma geral os pacientes com epilepsia estão satisfeitos como o sistema de saúde e a principal razão pela escolha do atendimento no setor primário pelos PCE foi o tratamento personalizado e mais familiar. Geralmente quando há preferência pelo atendimento no setor hospitalar a escolha se baseia no presumido maior conhecimento específico sobre a doença. No entanto, destaca-se que esses países investigados têm sistemas de saúde diferentes dos parâmetros brasileiros. Nessa ótica, é preciso contextualizar as representações oriundas dos discursos no âmbito nacional. Segundo o Ministério da Saúde, o não tratamento e o tratamento inadequado da epilepsia são muito significativos, sendo estimado em aproximadamente 50 a 70% do total de pacientes. Essa é uma parcela muito expressiva já que há uma prevalência de 1,8% de PCE no Brasil. Portanto tem-se um total aproximado de três milhões de pacientes no país. Soma-se a isso uma 75 incidência estimada (para países em desenvolvimento) de 100/100.000 pessoas/ano com epilepsia, o que significa 150.000 novos casos por ano (BRASIL, 2012). Essa grande parcela da população de PCE, que não é adequadamente assistida pode experimentar sentimentos de frustação e limitação, corroborando para a IC: “Faltam orientações”: “A proximidade facilitaria o atendimento, mas só tenho apoio do postinho com os remédios. O socorro muitas vezes não tinha, não davam muita importância, o que já aconteceu foi que me medicaram, mas quando a gente precisa de um tratamento específico não recebe, não sei o que fazer. Falta orientação, médicos especialistas para acompanhar o problema de cada um e maior agilidade para a marcação do eletroencefalograma. Depois de fazer o Eletroencefalograma não sei para qual médico mostrar. Só tenho orientações quando consigo marcar consulta com especialista”. Destaca-se a falta de orientações e de médicos especialistas. O estudo realizado por Oliveira e Barbosa (2012) confirmou que todos os entrevistados com epilepsia demonstraram que a única maneira que eles utilizam o serviço na atenção básica de saúde era para aquisição de receitas, através de consulta com clínico geral e o fornecimento da medicação controlada, isso quando têm disponíveis as medicações de que fazem uso. Daí se possa inferir que o conceito de saúde que circula no imaginário dos PCE está arraigado no modelo biomédico. Assim, permite-se questionar se o conceito de qualidade integralizada do atendimento proposto pelas diretrizes do SUS. Lembrando que o termo qualidade geralmente denota um grande aspecto de características desejáveis de cuidados que incluam a efetividade, eficácia, equidade, aceitabilidade, acessibilidade, adequação e qualidade técnico-cientifica (MULLER; GOMES, 2008). Meyer et al (2012) apontam que a presença de profissionais especializados no país é essencial para manter a continuidade e qualidade do tratamento oferecido as PCE, visto que os especialistas não só têm o papel a desempenhar na gestão e tratamento de casos complexos, mas eles são especialmente necessários para proporcionar educação e formação contínua e apoio aos não especialistas que trabalham ao nível dos cuidados primários. Estudos comprovam que apesar de ser um distúrbio neurológico grave, a epilepsia pode ser diagnosticada e tratada com baixo custo, no entanto historicamente a doença têm recebido pouca atenção da 76 saúde pública apesar das consequências sociais potencialmente devastadoras da doença. Percebe-se que algumas pessoas, que possuem uma melhor condição financeira optam pelo tratamento na rede privada: “Eu faço o meu acompanhamento no (Hospital privado), lá tem orientação melhor”. Não tenho nenhuma orientação nas visitas que vêm na minha casa, acredito que os profissionais do postinho que vêm na minha casa sabem do problema, mas nunca disseram nada sobre a epilepsia pra mim, quando eles vêm aqui em casa eu já até falei sobre essa doença algumas coisas com eles, mas eles não me respondiam nada, não me lembro de ter recebido orientação sobre o que eu tenho “epilepsia’’, nunca me falaram nada”. No discurso acima evidencia-se que, apesar da existência da Lei nº 10.216/2001 que garante a proteção e os direitos da pessoa com sofrimento mental, preconizando o atendimento preferencialmente em nível comunitário e junto à família, a demanda não é atendida. Para melhorar a vida das pessoas com epilepsia e suas famílias são necessários esforços sustentados e coordenados (SIMÕES; MOREIRA, 2013). A falta de adequação, voltada à assistência prestada a pessoas com epilepsia, colabora para o discurso que se segue: “... o atendimento na parte de esclarecer tem um déficit, deixam a desejar. Eu não recebo nenhuma informação sobre a epilepsia e nem a minha família acho que isso tem que mudar. O atendimento relacionado à epilepsia tem muito que melhorar, porque só de ser perto da gente já facilitam, as orientações que eu tive foram conseguidas no consultório particular da Drª (...). Além disso, deveriam orientar as pessoas de como socorrer uma pessoa que esta tendo epilepsia que quase ninguém sabe”. Em estudo realizado por Muller e Gomes (2008), foi demonstrado um grande número de críticas à falta de comunicação dos médicos aos PCE, justificada pelos profissionais pela pouca disponibilidade de tempo de consulta. Esses pacientes demonstraram a necessidade de receberem informações sobre: epilepsia em geral, diagnóstico, uso de DAE e seus efeitos colaterais e o seu uso na gravidez, controle das crises, indicação neurocirúrgica, assuntos psicológicos (estresse e ansiedade) e sociais, todavia não obtinham essas informações. 77 Informações precisas para os indivíduos com epilepsia e suas famílias, educação sobre as consequências da epilepsia e desenvolvimento de habilidades em autogestão são componentes essenciais para ajudar as pessoas a se tornarem corresponsáveis pelo cuidado centrado no paciente. As pessoas com epilepsia e suas famílias muitas vezes não são educadas sobre os riscos de epilepsia, incluindo lesões e mortalidade (ENGLAND et al, 2012). Nessa perspectiva, o profissional enfermeiro é, pela natureza de seu ofício, o responsável pelas ações educativas no tocante à doença. Mesmo porque é esse o elemento da equipe de saúde que exerce a função de elo entre os demais membros da equipe, os pacientes, a família e a comunidade. Atualmente, os enfermeiros especializados em epilepsia são encontrados principalmente em grandes centros, portanto de acesso não facilitado. Estudos do Reino Unido sugerem que os enfermeiros desempenham importantes papeis de coordenação de cuidados, atuando como educadores de saúde de forma mais consistente em centros de epilepsia e em ambientes comunitários educando e informando pacientes e familiares ((ENGLAND et al, 2012)). A carência de profissionais da saúde habilitados para lidar com as PCE, assim como com sua família, corrobora para o surgimento da IC: “Aqui, eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise”. Favorecendo a instalação de sentimentos de insegurança e não desenvolvendo dessa forma o vínculo que é um dos objetivos da APS. Destacado no discurso: “Aqui, eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise, o meu vizinho teve um crise eles negaram o atendimento falando que “aqui agente não pode cuidar”“. A percepção de falta de aptidão, dos profissionais de saúde da APS, observado pelo participante, foi o motivo de investigação de Li et al (2005) (n=253), que ao questionar os profissionais sobre o nível de confiança de lidar com pessoas com epilepsia, encontraram o seguinte resultado: 109 (43%) declararam-se confiantes para lidar com a epilepsia, enquanto 103 (41%) manifestaram insegurança para tratar e atender pacientes epilépticos e 41 (16%) declararam não saber. Separando os profissionais médicos (n=345) 250 (73%) não se sentiam seguros para atender e tratar pacientes com epilepsia, enquanto 84 (24%) se sentiam seguros e nove (3%) não sabiam. 78 Conclui-se que existem vários desafios para garantir um padrão consistente de cuidados a PCE. As barreiras são diversas como o: estigma da epilepsia, o acesso desigual aos serviços de assistência, insuficiência de recursos humanos, a comunicação pouco clara entre os professionais de saúde e as PCE, falta de referência e contra referência entre os diversos níveis de atenção e a falta de conhecimento em alguns casos. Assim é importante reforçar a necessidade de treinamento dos profissionais para que estes possam oferecer um tratamento e acompanhamento adequado as PCE e seus familiares favorecendo assim a inserção desses na sociedade e promovendo uma melhor qualidade de vida aos mesmos. Essa conscientização deve abranger também a comunidade e os órgãos públicos. 79 11 CONCLUSÃO Ao fim desta pesquisa intitulada: “SIGNIFICADO, PERCEPÇÃO E ELEMENTOS DE APOIO ENCONTRADOS POR PESSOAS COM EPILEPSIA QUE FAZEM ACOMPANHAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE DA CIDADE DE ITAJUBÁ-MG” pode-se concluir que: dos 16 participantes: a média da idade foi 38,07 anos, sendo o val. máx. 65 e o val. mín. 18; os gêneros foram: feminino 43,75%, masculino 56,25%; A renda prevalente foi de: até 1 salário mínimo 37%; A escolaridade prevalente foi ensino médio incompleto 50%. As ocupações prevalentes foram: estudante 18,75% e aposentado 18,75%; A religião prevalente foi a Católica 62,50%. E as unidades procuradas pelas PCE para receber assistência relacionada à doença em Itajubá mais prevalentes foram ESF/HE 50%. Já o significado de ter epilepsia apresentou como Ideias Centrais (ICs): “Preconceito”, “Medo”, “Ter um distúrbio mental”, “Algo normal” e “Eu não sei responder”. Já na segunda pergunta relacionada a avaliação da assistência recebida na atenção básica de saúde, surgiram as ICS: “Faltam orientações”, “Recebo ajuda e orientação” e “Eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise”. A partir desses resultados conclui-se que são múltiplos os significados que as pessoas imprimem sobre ter epilepsia e este é influenciado, por diversos fatos como foi citado ao longo do estudo, destaca-se, porém o estigma, o acesso ao conhecimento, à informação, o apoio familiar e social e o desenvolvimento cognitivo. Já a conotação da avaliação do atendimento recebido pelos participantes do estudo na atenção básica de saúde está diretamente relacionada à qualidade e efetividade do tratamento oferecido voltado a atenção a epilepsia. É evidente há existência de lacunas a serem preenchidas, seja na melhor preparação dos profissionais que compõem a equipe multidisciplinar ou na formulação de protocolos que possam orientar o atendimento de qualidade. 80 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da análise das entrevistas, foi possível identificar a multiplicidade de formas, que a epilepsia é percebida sob a ótica da PCE, esse conhecimento é muito relevante, pois permite compreender de certa forma o universo dessas pessoas, haja vista que essa percepção é elaborada no contexto das suas vivencias e experiências com a doença e influenciada pelo aspecto social onde estão inseridos. Esse conhecimento é essencial na busca de meios para romper os aspectos responsáveis pelo decréscimo na qualidade de vida das PCEs, conforme relatado na literatura. Ao nos depararmos com ICs: como “Preconceito”, “Medo”, “Ter um distúrbio mental”, “não sei explicar” e “Algo normal”, chegamos à conclusão que há um predomínio de concepções negativas, haja vista que, os séculos de equívocos e desinformação sobre a epilepsia ainda resultam em pessoas estigmatizadas, favorecendo que essas e suas famílias sejam sujeitas a falta de apoio social, isolamento, vergonha, medo e discriminação. Embora esforços estejam sendo feitos, para corrigir esses equívocos e informar melhor as pessoas sobre as epilepsias, isso permanece um desafio, por não alcançar a maior parte dessa população. É essencial que os profissionais de saúde e a sociedade se conscientizem de que viver com epilepsia é mais do que apenas ter convulsões e sim um desafio, para aqueles que não conhecem a sua situação, pois há incertezas, limitações na escola, em situações sociais, em emprego, dificultando assim à independência e a autonomia daqueles que não recebem informações e tratamento adequados. Diariamente as PCEs se deparam com serviços de saúde fragmentados e descoordenados, dificultando assim o acesso a um atendimento de qualidade e resolutividade. Ficou claro que muitas pessoas não tinham compreensão sólida sobre informações básicas de sua condição, isso favorece a vulnerabilidade dessa população e evidencia uma falha grave, tanto na logística na atenção básica quanto o comprometimento dos profissionais em oferecer atendimento integral a essas pessoas. É importante ainda termos ciência de que o diagnóstico de epilepsia, embora seja dado a uma pessoa, afeta toda a família, seu ciclo de amizades e outros relacionamentos. E esses também têm direito a informações, capacitando-os desta forma a dar um maior apoio a PCE e auxiliando dessa forma na sua autogestão. 81 Dadas as atuais lacunas no conhecimento em epilepsia, relacionados ao cuidado e educação, há uma necessidade urgente de agir, através de múltiplas dimensões para melhorar a vida das pessoas com epilepsia e suas famílias. Abaixo seguem algumas recomendações: Primeiramente é importante organizar os dados epidemiológicos, sobre as pessoas com epilepsia, pois durante a pesquisa, contatou-se que a falta de organização desses dados dificulta, ou em alguns casos impede, o acesso a assistência de saúde, esses poderão fornecer uma melhor compreensão da carga da doença, seus fatores de risco e resultados, e as necessidades dos serviços de saúde. A falta desses dados limita substancialmente a capacidade de compreender, planejar e orientar a prestação de políticas relacionadas aos cuidados de saúde para as PCEs. É importante também que os profissionais de saúde tenham clareza sobre a sua responsabilidade na vida das PCEs, portanto esses profissionais devem desenvolver e aprimorar conhecimentos acerca da doença e das necessidades dessas pessoas para oferecer um atendimento de qualidade. É de suma necessidade que esses profissionais e os acadêmicos da área de saúde em especial a enfermagem, realizem pesquisas para identificar quais são as lacunas no conhecimento, já que ficou claro a falta de informações que esses pacientes estão sujeitos. Após a implantação das novas politicas públicas para as PECs, que serão adotadas em breve, esperamos que sejam investigados os resultados gerados por elas. Melhorar a vida das pessoas com epilepsia e suas famílias, inicia-se com o acesso a cuidados de qualidade em saúde, centrada no paciente, que facilite o diagnóstico preciso, tratamentos eficazes e gestão. Enquanto acadêmica de enfermagem fica o apelo aos enfermeiros para voltarem o olhar para as PCEs, apoiando-as e melhorando a assistência e como sugestão criar grupos de apoio a essas pessoas para receberem informações e trocarem experiências sobre a epilepsia, promovendo a quebra do medo e dos estigmas. 82 A educação para pessoas com epilepsia e seus familiares desempenha um papel importante na adaptação à vida com epilepsia e no desenvolvimento da autoconfiança, tornando-os competentes em seu autocuidado. A despeito da amplitude do problema, pôde-se observar que não é frequente na literatura nacional pesquisas que visem à compreensão do fenômeno a partir da ótica dos múltiplos atores sociais envolvidos. Ressalta-se que são necessários mais estudos que, pautados numa compreensão de ciência que privilegia a intersubjetividade e não desconsidera o conhecimento do senso comum, busquem dar respostas às necessidades dos pacientes, das famílias, dos profissionais e dos gestores de saúde, particularmente da atenção básica. Como limite desse estudo, considera-se a amostra reduzida e o contexto locoregional de sua realização. No entanto, sugere-se que outros trabalhos sejam realizados em diferentes localidades, dado o caráter continental do país, tendo em vista o caráter histórico e cultural das representações sociais. 83 REFERÊNCIAS ALFRADIQUE, M. E et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP – Brasil). Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, p. 1337-1349, jun. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ csp/v25n6/16.pdf.>. Acesso em: 14 fev. 2014. 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( ) Do 1º ao 5º ano do ensino fundamental (antigo primário); ( ) Do 6º ao 9º ano do ensino fundamental (antigo ginásio); ( ) Ensino médio (2º grau) incompleto; ( ) Ensino médio (2º grau) completo; ( ) Ensino superior incompleto; ( ) Ensino superior completo; ( ) Pós-graduação; ( ) Outros. Ocupação:______________________________________________. Religião:__________________________________________________. Qual a unidade de saúde que você procura para receber assistência relacionado a epilepsia: ( ) UBS; ( ) PSF ( ) Hospital escola ( ) Santa Casa de Misericórdia ( ) Outos, especificar________________________________________. 91 APÊNDICE B - Roteiro de entrevista semiestruturado 1 Para você o que significa ter epilepsia? Comente? 2 Como você avalia o atendimento oferecido a pessoas com epilepsia nas UBS e ESF? Comente. 92 APÊNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Eu, Débora Soares Santos Araújo, discente da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), de Itajubá – MG estou desenvolvendo uma pesquisa com orientação da Prof.ª. M.a Ivandira Anselmo Ribeiro Simões e Profº. M.e Rogério Silva Lima referente ao projeto “EPILEPSIA: Significado, percepção e apoio aos clientes da Atenção Básica de Saúde da cidade de Itajubá-MG”. Compreender o significado de epilepsia pela pessoa que tem essa doença residente de Itajubá, compreender quais são os elementos de apoio para os clientes portadores dessa doença, encontrados na atenção básica de Itajubá e analisar as percepções dos clientes da cidade de Itajubá, sobre os assuntos relacionados à epilepsia. Desta forma esse trabalho possui relevância científica por abranger novos conhecimentos, relacionados à percepção dos pacientes quanto à assistência recebida no sistema básico de saúde, permitindo assim entender quais as lacunas que podem ser melhoradas ou aperfeiçoadas. Também visa abordar alguns dados importantes sobre a epilepsia, para oferecer um maior embasamento teórico àqueles que se interessam pelo tema, em especial os acadêmicos e profissionais de enfermagem. Estes dados também poderão ser utilizados pelas classes dos profissionais de saúde, em especial pela enfermagem, que poderá utilizar os seus resultados para direcionar o trabalho a ser realizado com a PCE. Pretende-se com os dados encontrados divulgar os resultados para sociedade, em especial as PCEs e seus familiares, pois almejamos a ruptura dos paradigmas que cercam está doença. Pretende-se também oferecer meios para que as PCE possam ter plena qualidade de vida e acesso a um cuidado de excelência Para realizarmos esta pesquisa, precisamos que você concorde em participar de uma entrevista gravada respondendo a uma questão desse assunto e outras sobre seus dados pessoais. Gostaríamos de deixar claro que as informações obtidas serão mantidas em segredo, que você não será identificado (a) de nenhuma maneira e que as fitas serão destruídas assim que seus respectivos conteúdos forem transcritos. Todas as suas informações ficarão sobre nossa responsabilidade e trabalharemos reunindo os dados de todas as pessoas que participarão do estudo. 93 É importante salientar que a sua participação é estritamente voluntária e a qualquer momento você terá liberdade de desistir, se assim o desejar, sem qualquer penalização ou prejuízo a sua pessoa. Você concorda em participar deste estudo? Este Termo de Consentimento Pós-informação e Esclarecimento é um documento que comprova a sua permissão. Precisamos de sua assinatura para oficializar o seu consentimento. Agradecemos desde já a sua valiosa contribuição para a realização deste trabalho e nos colocamos à disposição para alguns esclarecimentos necessários que possam surgir no decorrer da pesquisa. Portanto, por me achar plenamente esclarecido (a) e em perfeito acordo com este termo de consentimento, eu, para oficializar minha participação como participante desta pesquisa, o assino. NOME COMPLETO:__________________________________________________ ASSINATURA:_______________________________________________________ DATA: ___/___/____ O pesquisador disponibiliza o seguinte telefone para esclarecimento de dúvidas (035) 3622-0930 – Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. 94 APÊNDICE D – Solicitação de indicação de pacientes para coleta de dados 95 ANEXO A- Instrumento de Análise de Discurso – 1 (IAD – 1)-PCE Pergunta 1: Para você o que SIGNIFICA ter epilepsia? Comente. PARTICIPANTE EXPRESSÔES – CHAVE E1 IDÉIA CENTRAL Preconceito, fico muitas vezes com vergonha e não aceito ajuda de pessoas. Tenho sintomas de ausência que duram mais ou menos um minuto e não aceito PRECONCEITO ajuda. Gostaria que as pessoas enxergassem melhor o problema de quem sente isto. Não gosto de expor o problema para as pessoas e não falo para ninguém que tenho. E2 Nada, tenho minha vida normal, ALGO NORMAL só isso. E3 Eu não sei muita coisa, pra mim não me incomoda em nada, só tive quando era muito pequeno, ALGO NORMAL pra mim é como se fosse uma coisa normal, tive poucas vezes tomo medicação e aí não tenho problemas. E4 Eu não sei responder [...], mas ultimamente preocupado, dizendo me é o sempre deixa que venho em certos EU NÃO SEI RESPONDER 96 lugares trabalhar aonde eu eu venho desmaio e a sou dispensado do serviço por causa disso [.]. E5 Um cuidado que tenho que ter constante comigo [.], porque eu não sinto quando eu vou ter [...] da vontade de chorar ao mesmo tempo, faço de tudo, mas já levei muito ‘’cambote’’, já me arrebentei, quebrei meus dentes, UM CUIDADO QUE TENHO QUE TER CONSTANTE COMIGO acordei sem saber onde estava, quem eu era, mas já me adaptei, na adolescência sofria mais, não podia fazer nada. Meu pai e minha mãe me protegiam muito, não aprendi a me cuidar sozinha [...]. E6 As crises começaram depois de ALGO NORMAL 95, depois que a minha mãe morreu, não me incomoda, tem pessoas piores que a gente, e eu tomando o remédio direitinho eu não tenho crises. Pra mim é algo normal, pois tive poucas crises até hoje, e sempre E7 recebi um acompanhamento, bom jogo bola, estudo medicina saio como uma pessoa normal. ALGO NORMAL 97 Significa pra mim ter um distúrbio E8 mental [...] sem esperar eu perco a memória por alguns instantes [...] eu tento me acalmar, mas a medicação me deixa TER UM DISTÚRBIO MENTAL desanimada. Quero em primeiro lugar que Deus me cure [...]. A pior coisa do mundo, as piores E9 sensações que você pode ter, porque não tem como se expressar dizer a pessoa como PRECONCEITO se sente com palavras [...], nem todo mundo aceita determinadas coisas, muitos amigos meus saíram de perto de mim com medo se pegar a doença. No E10 começo eu me achava estranho, me incomodava muito [...], eu tinha muito preconceito no início, na realidade nem gosto de comentar isso não, mas nunca senti preconceito pessoas. de outras PRECONCEITO 98 E11 [...] Eu fico nervosa, por não ter controle do meu corpo, começou NÃO SEI EXPLICAR O QUE quando eu era criança, perdi até SIGNIFICA. o estudo, por 14 anos tive ausência dos meus sentidos, não sei explicar o que significa. E12 Significa pra mim..., que em uma hora pode dar em mim aqui sozinha, eu cair ficar desacordada, toda molhada aqui MEDO no chão como já fiquei, acordo com muita dor de cabeça [...], tenho medo de morrer sozinha, com a sangrando cabeça quebrada, [...], incomoda me muito. E13 É a coisa mais triste, porque a gente tem alucinações auditivas e visuais, a gente entra em pânico, perde o controle de tudo e não sabe o que fazer, não quero ter nunca mais, me incomodava muito, nem gostava de sair de casa [...], porque quando eu tinha as crises eu urinava na calça, me entortava toda, sofri preconceito, tinha vergonha. muito PRECONCEITO 99 E14 É uma coisa muito ruim [...], a pior sensação do mundo, [...] graças a Deus quando eu tive UMA COISA MUITO RUIM sempre estava perto da minha MEDO mãe, porque se eu não estivesse eu ia passar apuros porque quase ninguém sabe socorrer [...]. E15 [...] Incomoda, pra mim é uma coisa que eu não queria ter é ruim, porque quando se tem você volta sem sentido, você vê as MEDO pessoas não sabe quem é, é uma coisa quem morre, eu imagino que é uma morte [...]. E16 Para mim epilepsia significa uma sequela de um aneurisma cerebral que tive há quatro anos, não considero uma doença apenas uma situação que tenho que lidar para o resto de minha vida. O interessante que a partir destes quatro anos comecei a perceber os sintomas em meu corpo quando estou preste a ter uma crise epilética. No começo não foi fácil aceitar esta sequela, mas com o decorrer dos anos, acabei que me acostumando com isto, o mais importante é que não ALGO NORMAL 100 ficou nenhuma sequela mais porque houve uma cérebro. Faço grave, hemorragia no acompanhamento neurologista com desde então, e costumo tomar a medicação nos horários corretos. Desde que comecei a ter epilepsia tive em torno de cinco crises. É só fazer o acompanhamento tomar as médico medicações e nos horários corretos que dá para viver uma vida normal. Pergunta 2: Como você avalia o atendimento oferecido a pessoas com epilepsia nas UBS e ESF? Comente. PARTICIPANTE EXPRESSÔES – CHAVE E1 Falta orientação, IDÉIA CENTRAL médicos especialistas para acompanhar o problema de cada um e maior FALTAM ORIENTAÇÕES agilidade para a marcação do eletroencefalograma. Depois de fazer o eletroencefalograma não sei para qual médico mostrar. E2 Eu fazia o meu acompanhamento no (hospital particular), mas parei de fazer, nas vezes que fui ao postinho ninguém falou nada sobre a doença comigo, não gosto de hospital. FALTAM ORIENTAÇÕES 101 E3 Tenho apoio do postinho, ele ajuda com os remédios e fica mais fácil. [...] A orientação não é no postinho eu particular), vou lá ao tem (hospital FALTAM ORIENTAÇÕES orientação melhor, nunca me falaram nada, não tenho muita curiosidade. E4 Devido o meu problema, o que falta é o medico especialista FALTAM MÉDICOS quando a gente procura ajuda que ESPECIALISTAS E é o neurologista [...], o clínico ORIENTAÇÕES geral mede a pressão e fala alguma coisa do problema da gente [...], só tenho orientações quando consigo marcar consulta com especialista, não tenho nenhuma orientação nas visitas que vêm na minha casa. 102 E5 [...] aqui, eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise [...], é minha obrigação passar informações EU ACHO QUE ELES NEM para eles, mas eles parecem que SABEM COMO AGIR COM não querem, em uma situação que UMA PESSOA COM CRISE. o meu vizinho teve um crise eles FALTAM ORIENTAÇÕES negaram o atendimento falando que “aqui a gente não pode cuidar”, como eu vou pra lá se eles não conseguem atender o meu vizinho? Não tem o remédio que eu preciso, tenho que ir lá ao centro. E6 A proximidade facilita o atendimento mas não me lembro de ter recebido orientação sobre o que eu tenho “epilepsia’’, mas eles FALTAM ORIENTAÇÕES sempre me orientam onde devo buscar os meus remédios e sei que é importante tomá-los [...]”. E7 O atendimento na parte de esclarecer tem um déficit, deixam EXISTE UM DÉFICIT NA a desejar, porém no atendimento ORIENTAÇÃO clínico com patologias funcionam. relação ou para a outras epilepsia 103 E8 Eles auxiliam no medicamento, mas quando a gente precisa de um tratamento específico não FALTAM ORIENTAÇÕES recebe, não sei o que fazer. E9 A ESF me auxilia quando eu preciso trocar receitas da minha médica particular para fazer exames pelo SUS, mas eu não recebo nenhuma informação sobre a epilepsia e nem a minha FALTAM ORIENTAÇÕESPARA MIM E PARA A MINHA FAMÍLIA família acho que isso tem que mudar. E10 Eles ajudam muito agente quando preciso de ajuda, só demora um pouco, eles orientam a gente RECEBO AJUDA E sobre a epilepsia principalmente o ORIENTAÇÕES Drº (...), se eu precisar de alguma coisa sei que posso contar. E11 O fato de o postinho estar perto facilita, mas eu nunca perguntei nada pra eles sobre essa doença e não sinto vontade de perguntar, e nunca me falaram nada. FALTA ORIENTAÇÃO 104 E12 [...] Aqui eu nunca fui no posto por causa dos meus problemas, mas EU NUNCA PERGUNTEI, quando eles vêm aqui em casa eu MAS ELES TAMBÉM NÃO já até falei sobre essa doença ME FALARAM NADA algumas coisas com eles, mas eles não me respondiam nada, pra mim sair sozinha é muito difícil. E13 O socorro muitas vezes não tinha, não davam muita importância, o que já aconteceu foi que me FALTA ORIENTAÇÃO medicavam, mas eu não recebia orientações [...], mas agora com as agentes comunitárias acho que isso pode melhorar sim. E14 Deveriam orientar as pessoas de como socorrer uma pessoa que está tendo epilepsia que quase ninguém sabe, eu acho que deveria ensinar às outras pessoas FALTA ORIENTAÇÃO que não tem também para ajudar a socorrer também [...], eu acho que a ESF não ajuda muito nem medicação minhas eles dúvidas fazem..., eu só as tirava quando marcava o neuro mesmo essa era a única forma. E15 O atendimento epilepsia tem relacionado muito o à que melhorar, as orientações que eu TEM MUITO QUE MELHORAR, FALTA ORIENTAÇÃO 105 tive foram conseguidas no consultório particular da Drª(...), tem muito que melhorar, porque só de ser perto da gente já facilita. E16 Na verdade questão como anterior, acompanhamento citado como com na faço médico, quando sinto sintomas de précrise procuro uma rede privada que já frequento. Acredito que os profissionais do postinho que vem na minha casa sabem do problema, mas nunca disseram nada sobre a epilepsia pra mim. FALTAM ORIENTAÇÕES 106 ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD-2) - PCE Pergunta 1: Para você o que significa ter epilepsia? Comente. E1 1ª IDEIA CENTRAL: PRECONCEITO Preconceito fico muitas vezes com vergonha e não aceito ajuda das pessoas. Não gosto de expor o problema para as pessoas e não falo para ninguém que tenho. E9 A pior coisa do mundo, nem todo mundo aceita determinadas coisas, muitos amigos meus saíram de perto de mim com medo de pegar a doença. E10 No começo eu me achava estranho, me incomodava muito [...], eu tinha muito preconceito no inicio, na realidade nem gosto de comentar isso não. E13 É a coisa mais triste, nem gostava de sair de casa, porque quando eu tinha as crises eu urinava na calça, me entortava toda, sofri muito preconceito, tinha vergonha. E2 2ª IDEIA CENTRAL: ALGO NORMAL Nada, tenho minha vida normal só isso. E3 Para mim não me incômoda em nada, só tive quando era muito pequeno, para mim é como se fosse uma coisa normal. E6 Não me incomoda, tem pessoas piores que a gente, e eu tomando o remédio direitinho eu não tenho crises. E7 Para mim é algo normal, pois tive poucas crises até hoje e sempre recebi um bom acompanhamento, jogo bola, estudo medicina, saio como uma pessoa normal. E16 Não considero uma doença apenas uma situação que tenho que lidar para o resto da minha vida. É só fazer o acompanhamento médico e tomar as medicações nos horários corretos que dá para viver uma vida normal. 107 E4 3ª IDEIA CENTRAL: EU NÃO SEI RESPONDER Eu não sei responder, mas ultimamente me deixa preocupado, é o que venho dizendo sempre em certos lugares aonde eu venho a trabalhar eu desmaio, e sou dispensado do serviço por causa disso. E11 [...] Eu fico nervosa, por não ter controle do meu corpo, começou quando eu era criança perdi até o estudo, por 14 anos tive ausência dos meus sentidos, não sei explicar o que significa. E5 4ª IDEIA CENTRAL: MEDO Um cuidado que tenho que ter constante comigo, porque eu não sinto quando eu vou ter da vontade de chorar ao mesmo tempo, faço de tudo, mas já levei muito ‘’cambote’’, já me arrebentei, quebrei meus dentes, acordei sem saber onde estava. E14 É uma coisa muito ruim, a pior sensação do mundo, graças a Deus quando eu tive sempre estava perto da minha mãe, porque se eu não estivesse eu ia passar apuros porque quase ninguém sabe socorrer. E15 Incomoda, pra mim é uma coisa que eu não queria ter, é ruim, porque quando se tem você volta sem sentido, você vê as pessoas não sabe quem é. E12 Significa pra mim..., que em uma hora pode dar em mim aqui sozinha, eu cair ficar desacordada, toda molhada aqui no chão como já fiquei, acordo com muita dor de cabeça, tenho medo de morrer sozinha. E8 5ªIDEIA CENTRAL: TER UM DISTÚRBIO MENTAL Significa pra mim ter um distúrbio mental, sem esperar eu perco a memoria por alguns instantes, eu tento me acalmar, mas a medicação me deixa desanimada. Quero em primeiro lugar que Deus me cure. Pergunta 2: Como você avalia o atendimento oferecido a pessoas com epilepsia nas UBS e ESF? Comente. E1 1ª IDEIA CENTRAL: FALTAM ORIENTAÇÕES Falta orientação, médicos especialistas para acompanhar o problema de cada um, e maior agilidade para a marcação do eletroencefalograma. Depois de fazer o eletroencefalograma não sei para qual médico mostrar. E2 Eu fazia o meu acompanhamento no CEAM, mas parei de fazer, nas vezes que fui ao postinho ninguém falou nada sobre a doença comigo. E3 Tenho apoio do postinho, ele ajuda com os remédios e fica mais fácil. À 108 orientação não é no postinho, eu vou ao CEAM, lá tem orientação melhor, nunca me falaram nada. E4 Só tenho orientações quando consigo marcar consulta com especialista, não tenho nenhuma orientação nas visitas que vêm na minha casa. E6 A proximidade facilita o atendimento, mas não me lembro de ter recebido orientação sobre o que eu tenho “epilepsia’’”. E7 O atendimento na parte de esclarecer tem um déficit, deixam a desejar. E8 Eles auxiliam no medicamento, mas quando a gente precisa de um tratamento específico não recebe, não sei o que fazer. E9 Eu não recebo nenhuma informação sobre a epilepsia e nem a minha família acho que isso tem que mudar. E11 O fato de o postinho estar perto facilita, mas eu nunca perguntei nada pra eles sobre essa doença e não sinto vontade de perguntar e nunca me falaram nada. E12 Quando eles vêm aqui em casa eu já até falei sobre essa doença algumas coisas com eles, mas eles não me respondiam nada. E13 O socorro muitas vezes não tinha, não davam muita importância, o que já aconteceu foi que me medicavam, mas eu não recebia orientações. E14 Deveriam orientar as pessoas de como socorrer uma pessoa que esta tendo epilepsia que quase ninguém sabe. E15 O atendimento relacionado à epilepsia tem muito que melhorar, as orientações que eu tive foram conseguidas no consultório particular da Drª (...), tem muito que melhorar, porque só de ser perto da gente já facilita. E16 Acredito que os profissionais do postinho que vêm na minha casa sabem do problema, mas nunca disseram nada sobre a epilepsia pra mim. 2ª IDEIA CENTRAL: HÁ AUSÊNCIA DE CONHECIMENTOS SUFICIENTES “Aqui, eu acho que eles nem sabem como agir com uma pessoa com crise, o E5 meu vizinho teve um crise eles negaram o atendimento falando que “aqui a gente não pode cuidar”“. 3ª IDEIA CENTRAL: BOM, RECEBO AJUDA E ORIENTAÇÃO E10 Eles ajudam muito a gente quando preciso de ajuda, só demora um pouco, eles orientam a gente sobre a epilepsia. 109 ANEXO C – Parecer Consubstanciado N. 136.255/2013 110 111 112 ANEXO D- Folha de Rosto para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos