A relação ensino e pesquisa na universidade ALMEIDA, Liliane

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A relação ensino e pesquisa na universidade
Almeida, Liliane Barros De
RESUMO: O artigo apresenta reflexões sobre a prática de ensino com pesquisa na universidade e nos cursos
de formação de professores, situando-a no contexto da sociedade em que vivemos, dominada pelo mundo da
informação e da reprodução de conhecimentos prontos e inquestionáveis. Discute a necessidade de se formar
pessoas questionadoras, criativas, capazes de construir autonomia intelectual e aprimorar suas próprias
práticas. Ressalta a concepção do professor como intelectual transformador e como profissional que pensa
e repensa sua ação, defende que na formação docente se leve em consideração as diferentes dimensões da
prática pedagógica.
Palavras-chave: pesquisa,universidade,formação de professores.
Introdução
O Ensino Superior brasileiro precisa passar por uma importante revolução, que pode levar a um
estágio muito melhor que o atual, desde que ocorra uma grande transformação. Nesse processo, a partir do
contexto geral, o nível da educação superior brasileira não é, em geral muito bom, e os conhecimentos obtidos
na graduação, não são mais satisfatórios diante às exigências e necessidades do mundo contemporâneo; onde
as pessoas buscam o ensino superior para aprimorar suas competências e habilidades.
O fator que contribui para manter este sistema é o princípio do “modelo único” do ensino superior,
cuja face mais evidente é o famoso bordão da indissolubilidade “do ensino, da pesquisa e da extensão” cada vez
mais distante da realidade, mas sempre repetido como um mantra pelos mais diversos setores. E se a realidade
tem demonstrado não existir uma relação fortemente positiva entre a produção da pesquisa e a qualidade de
ensino, seria necessário que os docentes na graduação desenvolvessem a pesquisa na sala de aula, permitindo
ao estudante construir uma trajetória pessoal de educação, sabendo que ensinar não é transmitir conhecimento,
mais criar possibilidades para sua própria produção ou a sua construção.
Por meio da pesquisa o professor construiria uma maneira alternativa de observar, fazer suas indagações, experimentações, conduzindo o ensino para um conhecimento prático.
Esta pesquisa não deve ser voltada apenas para fins didáticos, sem abordar uma problemática nova,
que apenas ajuda os estudantes a conhecerem técnicas e metodologias, mas sim, para participar de uma investigação e que por meio dela o aluno possa tomar a consciência da fragilidade do conhecimento e que possa
perceber incertezas e conflitos teóricos dentro prática pedagógica.
Ressalta-se a necessidade de se formar um profissional inquiridor, questionador, investigador, reflexivo
e crítico; para que ele encontre formas de responder aos desafios da prática, e que o ensino deve ser colocado
como prioridade ao lado da pesquisa na graduação.Como afirma Santos (2001,p.23)
...a integração entre ensino e pesquisa na universidade representa um grande problema que
precisa ser superado, se realmente se pretende a melhoria do ensino de graduação, hoje tão
duramente criticado no interiro e no exterior das instituições de ensino superior. Sucessivas
mudanças de currículo têm mostrado que com modificações formais não serão resolvidos os
desafios postos por esse nível de ensino. Percebe-se também que essa integração só será possível quando o ensino for colocado como prioridade ao lado da pesquisa, dispensando-lhe o
interesse e os cuidados conferidos a esta última.
A relação ensino e pesquisa na universidade.
Esse tema tem sido muito debatido, no Brasil, nos últimos anos, pois, acredita-se que a pesquisa em sua
ação, tem condições de ajudar a organizar e promover um processo de ensino-aprendizagem mais eficaz.
A formação na graduação hoje, não contempla o ensino com pesquisa, o que tem levado a uma situação
de distanciamento cada vez maior entre a prática pedagógica e a pesquisa. É como Lucíola Santos (2001, p. 11)
argumenta, “a baixa integração entre ensino e pesquisa é decorrente da forma como está estruturado o campo
acadêmico no interior das universidades, pois, o mesmo está desvinculado da realidade educacional”.
É importante reconhecer que essa proposta trouxe novas perspectivas no campo da formação docente,
ou seja, a compreensão de que a prática profissional exige renovações constantes e a busca permanente de
soluções criativas para os problemas levantados. Nesse cenário surge um profícuo questionamento suscitado
por Charlot (2002, p. 93), “que formação poderia mudar tal situação para que certas idéias não fossem apenas
o discurso da moda, mas entrassem realmente dentro das cabeças?”
Não há conhecimento firme, seguro, fechado que tenha as respostas e as certezas a todas as lacunas
desse processo, pois, o conhecimento vai se construindo com a prática. Mas, é possível pensar numa formação
de graduação que tenha como eixo, a pesquisa, compreendida como processo de produção do conhecimento.
Charlot (2002, p. 91) afirma que,
...a pesquisa não deve servir para dizer ao profissional o que ele deve fazer, mas deve sim servir como instrumento para melhor entender o que acontece em seu cotidiano, na sua prática,
para dar um direcionamento e facilitar o entendimento de suas ações na busca da melhoria da
qualidade do processo de construção do conhecimento.
Historicamente, ou seja, no decorrer do tempo, a pesquisa teve e tem efeitos na sala de aula ou, ao menos, já teve efeito no discurso dos professores. A pesquisa ajudou a mudar o discurso, mas mudar o discurso só
não basta, é preciso que a pesquisa tenha efeito no trabalho do professor, na sala de aula. O que importa saber
é se o trabalho do professor ajuda o aluno a desenvolver uma atividade intelectual de qualidade e com sentido
para o aluno.
Há ainda alguns limites em relação à pesquisa e ao pesquisador, que são entraves para o bom relacionamento entre a pesquisa e o ensino: o pouco valor que é dado à pesquisa no país, o tempo do professor que tem
que ministrar aula em várias escolas ao mesmo tempo, a investigação educativa tem se ocupado dos discursos
e não com a realidade, o pesquisador quase sempre não recebe incentivo suficiente para sua pesquisa, muitas
vezes o pesquisador não é visto com agrado pelo professor. Tais problemas apenas serão resolvidos com a implementação de mudanças drásticas na atual condição do profissional em educação, permeando questões como
a não valorização do profissional, os salários, as condições de trabalho e a falta de um plano de carreira.
Essa proposta, de grande valor, encontra muitas dificuldades para se tornar realidade em nossas instituições de ensino, constatadas as características da formação e as condições de trabalho de nossos professores.
Mas, é como Demo (1991, p. 11) enfatiza, “a componente pesquisa, tem o caráter indispensável para o trabalho
docente, seja ele exercido em qualquer nível de ensino”.
É nesse sentido que tem sido defendida a idéia de que o professor deve trabalhar como um pesquisador, identificando problemas de ensino, construindo encaminhamentos de solução baseados em leituras e em
sua experiência, colocando em ação as alternativas planejadas, observando e analisando resultados obtidos,
corrigindo caminhos que não foram satisfatórios. Essa visão é defendida como forma de desenvolvimento
profissional dos docentes e também como uma estratégia para a melhoria do ensino.
A proposta da pesquisa, como processo que permeia o ensino na graduação, traz consigo um desafio
enorme de crescente compromisso desse profissional que se formará um pesquisador, com a educação, pois
“coloca os professores como produtores de conhecimento, em vez de vê-los como consumidores, transmissores e implementadores do conhecimento produzido em outras instâncias”, como afirma Santos (2001, p. 17).
Pode-se dizer que temos inúmeros problemas em relação à pesquisa, à ação do professor e à sua formação, pois, esta se desarticula das demais, provocando o isolamento dos aspectos envolvidos na prática docente
idealizada. Faz-se necessário que os professores já em sua formação inicial sejam motivados a pesquisar,
porque assim o farão durante toda a sua trajetória profissional, o que propiciará um convívio comum e natural
entre teoria e prática, diminuindo a grande distância que hoje percebemos existir entre as duas.
É preciso formar diferentemente os professores, porque o mundo mudou, a educação não consegue
mais corresponder às exigências desse novo mundo, tudo se informatizou, o acesso à informação tornou-se
globalizado, os trabalhadores precisam ser mais flexíveis e participativos para um bom desempenho no trabalho, os empregos são cada vez mais incertos, instáveis e transitórios, os antigos paradigmas foram superados.
Precisamos pensar em novas habilidades e competências, todos devem ser autônomos, há uma nova subjetividade, os professores precisam reconstruir seus conhecimentos e suas práticas.
Vive-se um mundo novo, com novos problemas, novos significados, novas exigências, novas soluções,
novas práticas e novos pensamentos. Não há como enfrentar tantos desafios sem se mobilizar, sem investigar. A
solução não está na pesquisa, mas a pesquisa pode delinear, encaminhar alternativas para tentar superar tantos
desafios que se mostram ao professor hoje.
A pesquisa na formação docente é uma premissa necessária e urgente ao professor na atualidade.
Os desafios da pós-modernidade exigem da universidade uma ação urgente, que redimensione sua
estrutura, metodologia e avaliação transformando-a instituição produtora e formadora de contribuições profícuas à sociedade contemporânea. Essa reestruturação e redefinição será imprescindível para sua sobrevivência
como instituição.
Ao confrontar as questões e desafios da pós-modernidade se farão necessárias a revisão e rediscussão
dos fundamentos da pesquisa cientifica, dos métodos de produção do conhecimento, ou seja, das práticas científicas vigentes na universidade e suas implicações para o currículo e a docência. Em resposta a esses desafios
esperamos da universidade respostas urgentes e ousadas.
A universidade não pode ignorar o fenômeno da pós-modernidade é preciso discuti-lo, refleti-lo no sentido de contribuir, analisando criticamente num processo de sínteses provisórias, incorporando no ensino e na
pesquisa princípios e valores essenciais à integração e ao sentido de direção da realidade humana. O convívio
com posições teóricas diversas e até contrárias deve ser uma das características da universidade pós-moderna.
Que deve constituir uma pluralidade ideológica.
Necessariamente, na concepção de evolução do homem e do conhecimento, com o advento da PósModernidade, a visão tornou-se integradora, aberta, indeterminável e, por isso, complexa. O homem retoma
seu papel como autor e ator, agora, vítima de suas próprias incertezas, incompreensões e incompletude, numa
busca incessante pelo auto-conhecimento e pela integração entre sujeito e razão, abrindo um mundo de possibilidades.
O que temos hoje se configura num processo contínuo e permanente de busca da compreensão do conhecimento produzido e acumulado pela humanidade ao longo de sua história. Uma construção coletiva onde
os principais atores são o professor e o aluno que devem estar totalmente envolvidos nessa construção.
O ensinar envolve o aprender, eles se integram, são complementares, mas não idênticos, têm características distintas que se completam e por isso mesmo se transformam em um só processo. A palavra “ensinar” nos
leva a idéias correlatas tais como instruir, comunicar conhecimentos, habilidade, fazer saber, mostrar, guiar,
orientar, dirigir. São ações próprias do professor que é o responsável pelo ensino, e está no centro do processo
de ensino. Ele pensa e reflete o desenvolvimento do processo, algumas reflexões sempre são feitas pelo professor: - O que é importante ensinar / Como ensinar / O que é mais fácil ensinar / O que é preferível ensinar.
Quando nos referimos ao aprender, surgem as idéias de busca de informações, rever a própria experiência,
adquirir habilidades, adaptar a mudanças, descobrir significados nos seres, nos fatos, fenômenos e acontecimentos, modificar atitudes e comportamentos.
São, pois, processos distintos que devem se integrar compondo uma construção integradora em seus
aspectos complementares. A educação deve buscar essa integração para atender as necessidades do aluno hoje,
que é de aprender a aprender buscar o conhecimento de forma inteligente e eficaz.
A educação tem o papel de ajudar o indivíduo a compreender o mundo e o outro, assim nos entenderemos e viveremos melhor.
É preciso e urgente desenvolver uma nova e ampliada concepção de educação, que ultrapasse a visão
instrumental que se aplica atualmente nas instituições no intuito de obter resultados imediatos e garantidos de
aprendizagem, é necessário considerá-la plenamente, na realização da pessoa que na sua totalidade, aprende
a ser.
A universidade talvez seja a única instituição capaz de proporcionar a seus integrantes o exercício da
aventura humana plena “em seus três gestos: técnico (fazer), epistemológico (conhecer) e poético (sentir)”
como sugere Buarque(1994,p.123). Para esta realização é preciso acreditar no poder individual de transformar
o mundo, ampliando sua liberdade, e usar essa liberdade para enriquecimento cultural, espiritual e emocional
do indivíduo e da humanidade.
Acredita-se que, para que essa proposta ocorra, a universidade deve exercer alguns princípios básicos,
como:
Conquista do tempo livre: o indivíduo necessita de tempo livre para sua realização existencial;
Garantia do equilíbrio ecológico: a técnica adquirida na universidade deve estar rigorosamente compromissada com o equilíbrio ecológico, com vistas a manter o patrimônio natural, com a certeza de preserva-lo
para o futuro.
Exercício da justiça: o desenvolvimento técnico deve estar comprometido também com a distribuição
justa (mais igualitária) dos seus resultados.
O encantamento e desencantamento do mundo na procura pela verdade: a universidade deve através
do conhecimento científico, da filosofia e das artes aproximar o pensamento da verdade para assim ir além da
estética e do consumismo.
O compromisso com a paz e os direitos humanos: o avanço do conhecimento deve ter presente também
como objetivo a conquista da paz e o respeito ao direito do cidadão. Não adianta organizar uma civilização
estruturada, culta, mas que produz guerras destruindo tudo que foi construído.
Prática da aventura: o universitário precisa ver o espaço universitário como uma oportunidade de enriquecer sua existência, exercendo sua função libertária, se libertando enquanto liberta.
A universidade tem necessidade de ser transgressora, deixando de ser reprodutora de conhecimentos,
é preciso ultrapassar os limites do pensamento existente, do seu comportamento, seus compromissos, seus
métodos e sua estrutura.
Incentivar idéias dentro das suas linhas de pesquisa, já não é suficiente é preciso buscar o inédito, o
novo, o revolucionário, o transformador.
A descoberta de novos conhecimentos deve ser encarada como um ato de paixão, pois é a paixão que
faz com que o trabalho intelectual valha a pena por si só. Todos os componentes da universidade (professores,
alunos e funcionários) devem estar envolvidos nessa paixão, para que seus objetivos e produções fluam naturalmente.
A tolerância também deve ser um exercício constante dentro da universidade, pois a mesma tem que
conviver com a diversidade de idéias, métodos ideologias e propostas. Sem tolerância essa convivência não é
possível, o que leva a uma prática unilateral que fere os princípios da democracia.
Segundo Buarque (1994, p.131), não é possível falar de transgressão, sem fundá-la em bases sólidas
de compromisso permanente:
Qualidade: o compromisso de ser “elite intelectual”, no sentido de rigor com o que se propõe
a fazer.
Realidade: compromisso de desvendar e estar em constante contato com a real, para entendelo e assim poder transforma-lo.
Sentimento: compromisso de encontrar outras formas de pensar que vão além da racionalidade, fazendo com que a universidade seja objeto de paixão.
A crise em que vivemos hoje, faz com que a universidade repense seus métodos, de forma que possa
transgredir o atual momento e ir além da crise. A seguir teremos alguns:
O ensino tem se dado através da transmissão das certezas. A dúvida não faz parte do cotidiano da universidade, ela está fora, o ambiente acadêmico está encharcado de certezas.
Para transgredir é preciso pensar um método novo. Só o constante exercício da dúvida trará o desenvolvimento de novos conhecimentos. Faz-se necessário questionar as teorias, formulações e premissas,
procurando conquistar novos conhecimentos. O método de ensino, pesquisa e avaliação devem ter esses questionamentos como base.
Os métodos de avaliação, ao invés de exigir teste de memória, devem verificar a habilidade do aluno
em analisar criticamente textos e teorias e elaborar caminhos alternativos.
O professor deve provocar, instigar o levantamento de dúvidas sobre o conhecimento existente, e encaminhar possíveis soluções.
É preciso que cada componente envolvido na universidade alunos e professores estejam em um constante aprender e re-aprender, não só sobre sua área ou daquilo que já sabe, mas também de outra áreas, temas
e novas formas de pensar.
A visão multidisciplinar é imprescindível para se perceber o todo, a universidade como um corpo
integral, facilitando a compreensão de seus problemas e a solução dos mesmos, trazendo com isso um entendimento melhor do real e uma participação efetiva no processo de transformação social.
A atual realidade exige que a universidade redefina também suas funções e sua estrutura, para atingir
seus objetivos. Se as funções da universidade eram ensino, pesquisa e extensão, novas funções devem ser incorporadas: democracia e prática cultural.
O cotidiano da sala de aula deve estar permeado de idéias que produzam dúvidas e conseqüentemente
debates necessários ao desenvolvimento de novos conhecimentos. Para que o ensino ocorra em sua plenitude
é necessário e urgente que se crie novas formas de transmitir conhecimento.
Uma concepção de investigação livre e comprometida com o bem estar social deve estar presente na
universidade, que deve instalar uma política de pesquisa com a mais absoluta liberdade dos temas e o máximo
compromisso com a qualidade. Essa concepção faz com que todo tema de estudo científico seja prioridade,
desde que esteja comprometido com a qualidade, o avanço do conhecimento e o ineditismo.
A extensão é o meio que a universidade utiliza para conhecer o mundo e o mundo conhecer a universidade. Os principais meios de legitimar a universidade são, o respeito que ela conquista através da qualidade do
seu produto e o contato com a população externa por intermédio das atividades de extensão.
O exercício da democracia não é um privilégio só do ambiente universitário, é uma função acadêmica
juntamente com ensino, pesquisa e extensão.A prática cultural deve fazer parte de todas as áreas da universidade e ser praticada por todos.
Para a universidade ser de melhor qualidade, é necessário ter uma organização acadêmica básica que vá
além das dimensões até aqui expostas, inclua também instrumentos básicos auxiliares das funções acadêmicas
e instrumentos complementares das atividades acadêmicas.
Considerações finais
As concepções de aprendizagem estão se transformando, precisamos lidar com novas formas de pensar e construir o conhecimento, novos paradigmas da docência e para isso precisamos de uma qualificação
nova e mais elevada.
O mundo mudou e exige de nós hoje, novas atitudes e pensamento inovador. Para explicar os fenômenos atuais é necessário o diálogo entre as várias ciências. O professor torna-se aprendiz dos desafios e parceiro
dos alunos no enfrentamento do novo, dentro de um projeto integral do ser humano. Afinal aprender não é só
dominar um conteúdo, mas ser capaz de organizar e produzir o conhecimento.
A prática em sala de aula exige um procedimento constante sobre nossas atitudes pessoais e pedagógicas. O professor tem que ser versátil e sempre disposto a mudar e transformar sua prática de modo a
acompanhar as transformações e exigências do mundo moderno. Não precisamos do professor para reproduzir
conhecimentos, precisamos sim dele para propiciar a conscientização efetiva dos alunos, para desenvolver as
habilidades e as competências de seus alunos. Para justificar meus atos, preciso saber o que estou fazendo e
entender do que estou fazendo.
Compreender sobre o emocional e o racional é essencial para a escola hoje, é preciso valorizar aprendizagens formais e não formais e envolve-las no processo ensino-aprendizagem, entendendo os espaços de
aprender e os espaços de agir. O mais importante na educação, não são os recursos e sim como os organizamos
e os interpretamos.
Uma nova configuração para a atuação do professor se faz necessária, as relações humanas precisam
se ampliar no âmbito das instituições educativas. O ato intelectual de aprender, precisa ser motivado, no aluno,
pelo professor. É preciso propiciar uma situação onde todos aprendam e todos ensinam. Apresentamos nesse texto algumas reflexões referentes ao processo de ensino-aprendizagem no ensino
superior, mais especificamente no que se refere às relações na graduação, buscando apontar a pesquisa como
procedimento alternativo e de apoio ao ensino.
Esse estudo traz uma reflexão sobre a atitude de educadores e de alunos, no processo ensino-aprendizagem, em relação à pesquisa. Uma questão permeia todo trabalho: Como dimensionar a importância da
pesquisa na educação como um fundamento básico e tornar a pesquisa, uma ação cotidiana entre professor e
aluno?
Diante da evolução do processo de produção do conhecimento, especialmente dentro de uma visão
pós-moderna, onde o saber toma características de complementaridade, ilimitação e incompletude, cada vez
mais o professor torna-se imprescindível, em seu papel de mediador, independentemente dos instrumentos
tecnológicos, que devem ser tidos como ferramentas de ensino e não como substitutos do homem.
Surge um novo conceito para o papel do professor que, além de inovar seus métodos dentro da sala
de aula, torna-se um referencial também fora dela. Diante do fácil acesso às diversas fontes de informações, o
aluno tem um pensamento mais crítico, uma visão mais ampla do mundo que o cerca, logo, aspectos atitudinais
do caráter do professor como profissionalismo, ética, comprometimento, envolvimento, ultrapassam os muros
das instituições, até porque, o prisma agora é do ser enquanto sujeito, capaz de produzir valores em busca do
novo.
No entanto, cabe uma auto-avaliação acerca da nossa prática e/ou de nossos objetivos enquanto docentes universitários neste novo contexto do professor necessário. Até que ponto estamos pregando valores sólidos
e princípios de bem-estar coletivo neste mundo cercado por individualismo e injustiça? Até que ponto nos
sentimos responsáveis pela construção de um mundo melhor, começando pelo estímulo a novas práticas e nova
conduta dentro da sala de aula? Até que ponto nos interessamos pelas características individuais de nossos
alunos e suas necessidades específicas? Até que ponto valorizamos a diversidade do grupo direcionando-a de
modo a gerar crescimento e complementaridade, onde todos cresçam? Quantas vezes tratamos nossos alunos –
adultos, como seres incapazes de pensar e de darem suas contribuições, simplesmente não abrindo espaço para
se expressarem? Quantas vezes deixamos de realizar um trabalho diferenciado ou até fazemos vistas grossas
por simples comodismo? Ao buscar essas respostas, certamente, o professor amplia a dimensão do seu papel e
faz-se entender como um agente transformador da sociedade.
Em linhas gerais, toda argumentação do texto, parte da definição de educação como um processo de
formação da competência humana e da pesquisa como um questionamento reconstruído permanentemente.
Ensinar com apoio da pesquisa, tem como aspecto essencial que o profissional que está sendo formado seja
naturalmente pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio educativo e científico e a tenha como
atividade cotidiana. Pesquisa e ensino devem ser atividades estreitamente ligadas, devendo fazer parte do ato
rotineiro do professor e do aluno, não podemos torná-la algo inatingível ou de privilégio de poucos.
Trabalhar com a pesquisas mediando o processo ensino-aprendizagem é estimular no aluno a curiosidade pelo desconhecido, incita-lo a procurar respostas, a ter iniciativa, a compreender e iniciar a elaboração
de suas próprias idéias. Nesse sentido, é também um desafio ao professor para transformar suas estratégias
didáticas, reconstruir um projeto pedagógico próprio, construir seus próprios textos científicos, fazer e refazer
material didático e recuperar constantemente sua competência.
Ao concluirmos nossas reflexões em relação ao processo de formação profissional no ensino superior e
em particular à prática docente na graduação, apontamos a pesquisa como pressuposto da prática pedagógica.
Pensamos que com essas ações, poder-se-ia criar no cotidiano da prática docente, um espaço de reflexão e de
problematização do ensino. O que nos levaria a uma formação profissional mais eficiente.
Referencial Teórico
BUARQUE,Cristovam. A aventura da universidade. SP:UNESP/Paz e Terra,1994.
CHARLOT, Bernard. Formação de professores: a pesquisa e a política educacional. In: PIMENTA, Selma
Garrido (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio educativo. São Paulo: Cortez, 1991.
SANTOS, Lucíola L. C. P. Dilemas e perspectivas na relação entre ensino e pesquisa. In: ANDRÉ, Marli
(Org.). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. Campinas, SP: Papirus, 2001.
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