ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DE SETÚBAL DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA ÁLGEBRA LINEAR E GEOMETRIA ANALÍTICA 2008/2009 RESOLUÇÃO DO EXAME DA ÉPOCA RECURSO (NOCTURNO) QUESTÕES DE ESCOLHA MÚLTIPLA [2,0] 1. Sejam A uma matriz simétrica e invertível de ordem 3 e B uma matriz permutável com A. Qual das seguintes a…rmações é necessariamente verdadeira? A) A 2 é uma matriz anti-simétrica. B) As linhas de A são linearmente dependentes. C) (AB)T = AT B T . D) B = I3 . 2 Resolução: A) é falsa pois A 2 = (A 1 ) é necessariamente simétrica (porquê?). Dado que A é invertível, as linhas de A são linearmente independentes e portanto B) é falsa. Não é obrigatório que se tenha B = I3 pois, para além da matriz identidade, existem outras matrizes permutáveis com uma dada matriz A (por exemplo, a própria matriz A): Temos pois que a opção correcta é a C) pois, se A e B são permutáveis, (AB)T = (BA)T = AT B T : [2,0] 2. Seja P1 (R) o espaço vectorial dos polinómios de coe…cientes reais de grau não superior a 1 e S o subconjunto dos polinómios de P1 (R) que se anulam para x = 2, ou seja, S = fp 2 P1 (R) : p(2) = 0g: Qual das seguintes a…rmações é falsa? A) O polinómio 3x 6 pertence a S. B) dim S = 1: C) O conjunto fx D) S 2; x2 1g é uma base de S. 2 hx; x ; 2i. Resolução: A opção a assinalar é a C) dado que a respectiva a…rmação é falsa. Na verdade, x 2 = 2( x2 1); o que signi…ca que os polinómios x 2 e x2 1 são linearmente dependentes, não podendo pois constituir uma base de S. [2,0] 3. No espaço euclidiano R3 ; com o produto interno canónico aí de…nido, considere os vectores ~a, ~b e ~c e as seguintes a…rmações: 1 ~b = ~0 tem-se necessariamente que ~a = ~0 ou ~b = ~0. II. Se ~a e ~b são linearmente dependentes então ~aj(~b ~c) = 0. III. Tem-se (~a ~b)j(~a ~b) 0; quaisquer que sejam os vectores ~a e ~b. I. Se ~a IV. Se ~aj~c = 1; então os vectores ~a e ~c são unitários. A lista completa das a…rmações verdadeiras é: A) II e IV. B) I e III. C) II e III. D) III e IV. Resolução: A a…rmação I) é falsa pois dois vectores não nulos podem ter produto externo nulo — basta que sejam linearmente dependentes. Por outro lado, II) é verdadeira por uma das propriedades do produto misto (ver proposição 3.3 da pág. 19 da Sebenta de Cálculo Vectorial) e o mesmo se passa com III), atendendo à positividade do produto interno. Finalmente, IV) é falsa pois dois vectores unitários (isto é, com norma igual a 1) não têm necessariamente produto interno igual a 1(por exemplo, se forem perpendiculares, o produto interno será nulo). Assim, C) é a opção correcta. A) B) C) D) 1 X RESUMO: 2 X 3 X 4. Considere as matrizes 2 A=4 3 2 3 1 a a b + 5a 2 1 a 5, B = 4 1 5 1 0 0 2 onde a e b são parâmetros reais. 2 3 x e X = 4 y 5; z [2,0] (a) Discuta o sistema de equações lineares AX = B em função dos parâmetros a e b: Resolução: Vamos discutir o sistema dado. A partir da matriz ampliada do sistema obtém-se: 2 3 2 3 OE1 OE3 1 a a j b + 5a 1 0 0 j 2 ! ! 4 2 1 a j 4 2 1 a j 1 5 1 5 2L1 + L2 1 0 0 j 2 1 a a j b + 5a L 1 $ L3 L1 + L 3 2 3 2 3 OE3 1 0 0 j 2 1 0 0 j 2 ! 4 0 1 a j 5 4 0 1 5 a j 5 5 2 0 a a j b + 5a + 2 0 0 a a j b+2 aL2 + L3 Então: 2 Se a a2 6= 0 (ou, equivalentemente, a (1 a) 6= 0 , a 6= 0 ^ a 6= 1); tem-se c(A) = c(AjB) = 3 = n.o de incógnitas, logo o sistema é possível e determinado. De contrário, isto é, se a = 0 _ a = 1; temos duas situações possíveis: (a = 0 ^ b = 2) ou (a = 1 ^ b = 2) e nesta situação tem-se c(A) = c(AjB) = 2 < n.o de incógnitas, logo o sistema é possível e indeterminado. (a = 0 ^ b 6= 2) ou (a = 1 ^ b 6= 2) e nesta situação tem-se c(A) = 2 < 3 = c(AjB), portanto o sistema é impossível. [1,0] (b) Determine os valores do parâmetro a para os quais o sistema homógeneo associado ao anterior é indeterminado. Resolução: Considere-se a matriz ampliada do sistema homógeneo AX = O associado ao anterior: 2 3 1 a a j 0 4 2 1 a j 0 5: 1 0 0 j 0 Realizando as mesmas operações elementares 2 1 0 0 4 0 1 a 0 0 a a2 da alínea anterior obtém-se: 3 j 0 j 0 5: j 0 Desta matriz em escada resulta que o sistema homogéneo é possível e determinado sse a 6= 0^a 6= 1: Dado que nunca é impossível, concluímos que o sistema homogéneo é indeterminado sse a = 0 _ a = 1 (negação lógica de a 6= 0 ^ a 6= 1). (c) Supondo a = 2 e b = 10: [1,5] i. Mostre que A é invertível e calcule A Resolução: Tem-se det A = 1 2 2 2 1 2 1 0 0 1 recorrendo à matriz adjunta de A; = ( 1) ( 1)3+1 2 2 1 2 = 1 2= 2 6= 0; pelo que A é invertível. De forma a obter a matriz adjunta de A, calculemos os complementos algébricos dos elementos da matriz A: 11 = ( 1)1+1 1 2 0 0 = 0; 12 = ( 1)1+2 2 2 1 0 = 21 = ( 1)2+1 2 2 0 0 = 0; 22 = ( 1)2+2 1 2 1 0 = 2; 31 = ( 1)3+1 2 2 1 2 = 2; 32 = ( 1)3+2 3 1 2 2 2 = 2; 2; 13 = 1; 23 = 2; 33 = 3; Assim, 2 0 4 adj A = 0 2 3T 2 1 2 5 =4 3 2 2 2 Sendo A uma matriz invertível tem-se 2 0 1 4 1 2 adj A = A 1= det A 2 1 0 2 1 3 2 2 5 3 0 2 2 então 0 2 2 3 2 2 2 5=4 3 0 1 1=2 [0,5] ii. Resolva matricialmente o sistema X T AT = B T . Resolução: Tem-se X T AT = B T , (AX)T = B T , AX = B , X 2 32 3 2 0 0 1 0 4 5 4 1 1 1 1 5=4 , X= 1=2 1 3=2 2 3 0 1 1 1 5: 1 3=2 = A 1B , 3 2 3 5: 4 [1,5] 5. (a) Seja F = f(x; y; z) 2 R3 : z = (x + y)2 g. Veri…que se F é um subespaço vectorial de R3 . Resolução: Tem-se que F = f(x; y; z) 2 R3 : z = (x + y)2 g = f(x; y; (x + y)2 ) 2 R3 : x; y 2 Rg: Vejamos se F satisfaz as condições para ser um subespaço vectorial. 1a ) F 6= ;? Como (0 + 0)2 = 0, então (0; 0; 0) 2 F: Logo, F 6= ;: 2a ) 8~u; ~v 2 F; ~u + ~v 2 F ? Com efeito, sendo ~u; ~v 2 S; tem-se ~u = (a1 ; b1 ; (a1 + b1 )2 ) e ~v = (a2 ; b2 ; (a2 + b2 )2 ); donde resulta ~u + ~v = (a1 + a2 ; b1 + b2 ; (a1 + b1 )2 + (a2 + b2 )2 ): | {z } | {z } | {z } x y z Ora, em geral, z = (a1 + b1 )2 + (a2 + b2 )2 6= (a1 + a2 + b1 + b2 )2 = (x + y)2 ; donde ~u + ~v 2 = F para a generalidade dos vectores ~u e ~v ; portanto F não é um subespaço vectorial de R3 . Nota: Outra forma de mostrar que F não veri…ca esta condição de subespaço vectorial consiste em apresentar aquilo a que se chama um contra-exemplo. Ele aí vai: sendo ~u = (1; 1; 4) 2 F e ~v = (0; 1; 1) 2 F; tem-se ~u + ~v = (1; 1; 4) + (0; 1; 1) = (1; 2; 5): Visto que para este vector se tem z = 5 e (x + y)2 = 9; isto é, z 6= (x+y)2 ; conclui-se que ~u + ~v 2 = F ; consequentemente, F não é um subespaço vectorial de R3 . (b) Seja S = h(1; 1; 1) ; (0; 1; 2) ; (2; 1; 4)i. 4 [1,5] i. Caracterize S por meio de um sistema de equações e determine uma base de S. Qual a dimensão de S? Justi…que. Resolução: Tem-se S = h(1; 1; 1) ; (0; 1; 2) ; (2; 1; 4)i = (x; y; z) 2 R3 : (x; y; z) = 1 (1; 1; 1) + 2 (0; 1; 2) + 3 (2; 1; 4) : Temos então de averiguar para que valores de x; y e z é possível o sistema (x; y; z) = Para tal, começamos por matriz em escada: 2 1 0 2 j 4 1 1 1 j 1 2 4 j 1 (1; 1; 1) + 2 (0; 1; 2) + 3 (2; 1; 4) : transformar a matriz ampliada deste sistema numa 3 2 OE3 x ! y 5 L1 + L2 4 z L1 + L3 2 OE3 1 0 2 ! 4 0 1 1 0 0 0 2L2 + L3 Assim, o sistema é possível sse z + 2y cartesiana de S; donde 3 2 j x 1 j y x 5 2 j z x 3 j x 5: j y x j z + 2y 3x 1 0 0 0 1 2 3x = 0; pelo que esta é a equação S = (x; y; z) 2 R3 : z + 2y 3x = 0 : Dado que a matriz em escada atrás obtida tem dois redutores nas 1a e 2a colunas, …camos a saber que as colunas homólogas da matriz inicial constituem uma base de S (uma vez que são vectores geradores e linearmente independentes). Assim, f(1; 1; 1) ; (0; 1; 2)g é uma base de S, logo dim S = 2, pois este é o número de vectores da base encontrada. [1,0] ii. Mostre que (3; 4; 1) 2 S e determine as suas coordenadas relativamente a uma base de S. Resolução: O vector (3; 4; 1) pertence a S pois veri…ca a equação cartesiana de S. Na verdade, tem-se para aquele vector: z + 2y 3x = 1 + 2 4 3 3 = 0: Sabemos da alínea anterior que f(1; 1; 1) ; (0; 1; 2)g é uma base de S: Para determinar as coordenas de (3; 4; 1) nesta base resolvemos o sistema (3; 4; 1) = 1 (1; 1; 1) + 2 (0; 1; 2): Com este objectivo, podemos transformar a respectiva matriz em escada numa matriz reduzida: 2 3 2 3 2 3 1 0 j 3 1 0 j 3 1 0 j 3 OE2 4 1 1 j 4 5 OE3 1 j 1 5 ! 4 0 1 j 1 5: ! 4 0 L 2 1 2 j 1 0 0 j 0 0 0 j 0 Assim, 1 = 3 e 2 = 1; pelo que 3 e na base f(1; 1; 1) ; (0; 1; 2)g : 5 1 são as coordenadas do vector (3; 4; 1) [1,5] iii. Calcule, se possível, um valor de k 2 R por forma a que o conjunto f(1 k 2 ; 2; 0) ; (1; 0; 3)g constitua uma base de S. Resolução: Sejam ~u = (1 k 2 ; 2; 0) e ~v = (1; 0; 3). Pela alínea i., sabe-se que dim S = 2: Logo, para que f~u; ~v g seja base de S, basta veri…car se ~u; ~v 2 S e f~u; ~v g é linearmente independente. Ora, atendendo a que os vectores (x; y; z) 2 S satisfazem z + 2y 3x = 0; tem-se ~u = 1 k 2 ; 2; 0 2 S , 0 + 2 2 3 1 k 2 = 0 , 1 + 3k 2 = 0: Esta última igualdade é uma condição impossível em R, logo ~u 2 = S e, por conseguinte, não existe k 2 R tal que f~u; ~v g é base de S. 6. No espaço euclidiano R3 ; com o produto interno canónico aí de…nido, sejam ~u e ~v dois vectores tais que ~uj~v = 2, ~u é unitário, k~v k = 4 e w ~ é o vector dado por w ~ = 2 (~u ~v ) 3~v . [1,0] (a) Calcule a área do paralelogramo de…nido pelos vectores ~u e ~v : Resolução: Sendo o ângulo formado por ~u e ~v ; tem-se Área do paralelogramo = jj~u ~v jj = jj~ujj jj~v jj sen = 4 sen ; atendendo a que jj~ujj = 1 e k~v k = 4: Dado que cos = vem sen = 2 1 ~uj~v = = ; jj~ujj jj~v jj 1 4 2 p 1 cos2 = Por conseguinte, r p 3 3 = : 4 2 Área do paralelogramo = 4 sen = 4 p p 3 = 2 3: 2 [1,5] (b) Calcule o coseno do ângulo entre ~v e w. ~ Resolução: Pretende-se calcular cos ](~v ; w) ~ = ~v jw ~ : jj~v jj jjwjj ~ Ora, pelas propriedades do produto interno, ~v jw ~ = ~v j [2 (~u ~v ) atendendo a que ~v ? (~u 3~v ] = 2 ~v j (~u ~v ) 3~v j~v = 2 ~v ) e à de…nição de norma. 6 0 3 jj~v jj2 = 3 42 ; Por outro lado, utilizando de novo as propriedades do produto interno, a de…nição de norma e a perpendicularidade entre ~v e ~u ~v ; tem-se wj ~w ~ = [2 (~u = 4 (~u ~v ) 3~v ] j [2 (~u ~v ) 3~v ] ~v ) j (~u ~v ) 6 (~u ~v ) j~v | {z } 6 ~v j (~u ~v ) + 9 ~v j~v | {z } =0 = 4 jj~u 2 =0 2 ~v jj + 9 jjvjj : Então, atendendo à alínea a) e ao facto de jj~v jj = 4; vem p p p p wj ~w ~ = 4 (2 3)2 + 9 42 = 12 42 ) jjwjj ~ = wj ~w ~ = 4 12 = 8 3: Consequentemente, p ~v jw ~ 3 42 p = cos ](~v ; w) ~ = = jj~v jj jjwjj ~ 4 8 3 [1,0] 2 3 1 0 1 7. Seja C = 4 1 1 2a 5. Sabendo que det (C) = 1 1 b 2 3 3 6a 3b 0 6 1 2 3 4 7 7 dos determinantes, det 6 4 1 2 + 2a 2 + b 0 5. 1 1 1 0 Resolução: Tem-se: 3 6a 3b 1 2 3 1 2 + 2a 2 + b 1 1 1 =4 =4 1 2a b 2 0 1 1 1 1 1 1 0 1 24 1 1 2a 1 1 b = L2 L1 1 2a b 12 0 2 2 1 1 1 1 0 1 = 24 2a 1 1 b 1 1 24 jCj = = 2, calcule, utilizando as propriedades 3 6a 3b ( 1)2+4 1 2 + 2a 2 + b 1 1 1 1 2a b 3 1 2 + 2a 2 + b 1 1 1 = 12 = 0 4 0 0 3 : 2 24 = = = C1 $C3 ( 2) = 48: A primeira igualdade justi…ca-se pelo teorema de Laplace, as segunda e quarta igualdades resultam da homogeneidade do determinante em cada linha (OE2), a terceira devese ao facto da OE3 não alterar o valor do determinante, a quinta justi…ca-se porque det A = det AT e a sexta envolve a troca do sinal do determinante devido à troca de duas colunas entre si (OE1). (Ver secção 4.1, págs. 8 e 9, da sebenta de Determinantes). 7