Espaços Vectoriais - ALGA - 2004/05 36 Expansão linear e geradores Se u1 ; u2 ; :::; un são vectores de um espaço vectorial V; como foi visto atrás, alguns vectores de V são combinação linear de u1 ; u2 ; :::; un e outros não. O conjunto de todas as combinações lineares de um determinado de conjunto de vectores forma um subespaço vectorial de V : Teorema: Se u1 ; u2 ; :::; un são vectores de um espaço vectorial real V; então: 1. O conjunto W de todas as possíveis combinações lineares de u1 ; u2 ; :::; un é um subespaço vectorial de V: 2. W é o "menor" subespaço de V que contém u1 ; u2 ; :::; un ; querendo isto dizer que, se W 0 é outro subespaço vectorial de V que contenha u1 ; u2 ; :::; un ; então W W 0: De…nição: Seja V um espaço vectorial real e u1 ; u2 ; :::; un vectores de V . O subespaço W de…nido no teorema anterior, isto é, o subespaço W =f 1 u1 + 2 u2 + ::: + n un : 1; 2 ; :::; n 2 Rg chama-se expansão linear dos vectores u1 ; u2 ; :::; un ou subespaço vectorial gerado pelos vectores u1 ; u2 ; :::; un e representa-se por hu1 ; u2 ; :::; un i. Os vectores u1 ; u2 ; :::; un dizem-se um sistema de geradores de W: Exemplos: 1. R3 = h(1; 0; 0) ; (0; 1; 0) ; (0; 0; 1)i, ou seja, os vectores (1; 0; 0) ; (0; 1; 0) e (0; 0; 1) formam um sistema de geradores para o espaço vectorial R3 : 2. Mais geralmente, o sistema [(1; 0; 0; :::; 0) ; (0; 1; 0; :::; 0) ; (0; 0; 1; :::; 0) ; :::; (0; 0; 0; :::; 1)] de n vectores de Rn é um sistema de geradores de Rn . 3. O subespaço vectorial de R3 ; F = f(x1 ; x2 ; x3 ) 2 R3 : x1 gerado por 1 1 ; ;1 2 2 ; isto é, F = 1 1 ; ;1 2 2 ( a solução geral do sistema de equações x2 = 0 e 2x1 x3 = 0g é : Para calcular este gerador, basta encontrar x1 x2 = 0 : 2x1 x3 = 0 4. Os polinómios 1; x; x2 ; : : : ; xn formam um sistema de geradores para Rn [n] : 5. Para (0; 0; 1; 0) e (0; 0; 0; 1) em R3 ; veri…ca-se que h(0; 0; 1; 0) ; (0; 0; 0; 1)i = =f 1 (0; 0; 1; 0) + 2 (0; 0; 0; 1) : 1; (1) 2 2 Rg = = (x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) 2 R4 : x1 = x2 = 0 : (2) (3) Espaços Vectoriais - ALGA - 2004/05 37 Observações: 1. As expressões (1), (2) e (3) do exemplo 5 mostram diferentes formas de representar um subespaço vectorial. 2. Um subespaço vectorial admite muitos sistemas de geradores diferentes. No exemplo 2 veri…ca-se que 1 1 ; ;1 2 2 F = = h(1; 1; 2)i = h(1; 1; 2) ; (0; 0; 0)i = 1 1 ; ; 1 ; (1; 1; 2) ; (0; 0; 0) : 2 2 3. Um espaço vectorial que admita um número …nito de geradores diz-se …nitamente gerado. 4. Nem todos os espaços vectoriais são …nitamente gerados. Dos espaços estudados até agora, nem R [x] ; nem F (R) são …nitamente gerados. Bases e dimensão de um espaço vectorial Se V é um espaço vectorial real, F um subespaço de V e u1 ; u2 ; :::; uk vectores de F , diz-se que o sistema de vectores [u1 ; u2 ; :::; uk ] é uma base de F se: (i) F = hu1 ; u2 ; :::; uk i ; (ii) o sistema [u1 ; u2 ; :::; uk ] é linearmente independente. Exemplos: 1. Como o sistema de geradores de Rn [(1; 0; 0; :::; 0) ; (0; 1; 0; :::; 0) (0; 0; 1; :::; 0) ; ::: (0; 0; 0; :::; 1)] é linearmente independente, é uma base de Rn ; a que se chama base canónica de Rn . 2. O sistema de vectores [(1; 1; 1) ; (0; 1; 1) ; (0; 0; 1)] de R3 é uma base de R3 : 22 3 2 3 2 3 2 1 ::: 0 0 ::: 1 0 ::: 0 0 ::: 66 . 7 6 . 7 6 . 7 6 . . . . 6 . .. 7 ; :::; 6 .. .. 7 ; :::; 6 .. .. 7 ; :::; 6 .. 3. O sistema 6 44 . 5 4 5 4 5 4 0 ::: 0 0 ::: 0 1 ::: 0 0 ::: m n vectores de Mm n (R) é uma base de Mm n (R) ; a que se chama base de Mm n 33 0 7 .. 7 7 . 7 55 de 1 canónica (R). 4. Como o sistema de geradores de Rn [x] formado pelos polinómios 1; x; x2 ; : : : ; xn é linearmente independente, é uma base de Rn [n] ; a que se chama base canónica de Rn [x] : 5. O subespaço vectorial de R3 ; F = f(x1; x2 ; x3 ) 2 R3 : x1 como base, por exemplo, o sistema 1 1 ; ;1 2 2 . x2 = 0 e 2x1 x3 = 0g tem Espaços Vectoriais - ALGA - 2004/05 38 Os seguintes dois teoremas são fundamentais quando se estudam espaços vectoriais que admitem um sistema …nito de geradores. Teorema: Qualquer espaço vectorial …nitamente gerado tem uma base. Observação: Tendo um sistema de geradores de um espaço vectorial …nitamente gerado, para obter uma base basta retirar do sistema de geradores os vectores que "estragam" a independência linear. Isto faz-se identi…cando no sistema os vectores que se podem escrever como combinação linear dos restantes e retirando-os até se obter um sistema de geradores linearmente independente. Teorema: Num espaço vectorial …nitamente gerado todos as bases têm o mesmo número de vectores. A partir do teorema anterior de…ne-se dimensão de um espaço vectorial …nitamente gerado V como sendo o número de vectores de uma base e representa-se esse número por dim (V ). Considera-se que o espaço vectorial nulo tem dimensão 0. Exemplos: 1. Para n 2 N; o espaço vectorial Rn tem uma base com n vectores, logo dim (Rn ) = n. 2. Para m; n 2 N, o espaço vectorial Mm dim (Mm n n (R) tem uma base com mn vectores, logo (R)) = mn. 3. Para n 2 N; o espaço vectorial Rn [n] tem uma base com n + 1 vectores, logo dim (Rn [n]) = n + 1 4. Se A e uma matriz de ordem n; um seu valor próprio e U o subespaço próprio associado ao valor próprio ; então dim (U ) é a multiplicidade geométrica de . 5. A dimensão do espaço nulo de uma matriz Am do sistema AX = 0; que é n n é dada pelo grau de indeterminação car (A) : Saber a dimensão de um espaço vectorial permite tirar conclusões práticas importantes: Proposição: Seja V um espaço vectorial real de dimensão n. Então: 1. Qualquer sistema de vectores de V com mais de n vectores é linearmente dependente. 2. Qualquer sistema linearmente independente com n vectores é uma base de V . 3. Qualquer sistema de geradores de V com n vectores é uma base de V . Espaços Vectoriais - ALGA - 2004/05 39 Pode-se ainda relacionar a dimensão de um espaço vectorial com a dimensão dos seus subespaços vectoriais: Proposição: 1. Se V é um espaço vectorial de dimensão n e F é um seu subespaço vectorial, então F é também …nitamente gerado e dim (F ) dim (V ). 2. Se V é um espaço vectorial de dimensão n e F é um seu subespaço vectorial tal que dim (F ) = dim (V ), então F = V . Coordenadas de um vector relativamente a uma base Se V é um espaço vectorial e B = [u1 ; u2 ; : : : ; un ] é uma base de V; cada vector de V escreve-se de forma única como combinação linear dos vectores de B; isto é, cada vector de v 2 V escreve-se de modo único na forma v = a1 u 1 + a2 u 2 + + an un ; com a1 ; a2 ; : : : ; an 2 R. Aos coe…cientes a1 ; a2 ; : : : ; an desta combinação linear chamam-se coordenadas do vector v relativamente à base B: Como estas coordenadas são únicas, …xando uma base de um espaço vectorial, pode-se "identi…car" cada vector do espaço com o n-uplo das suas coordenadas, isto é, com um vector de Rn : Isso pode-se representar, por exemplo, na forma: v 7! (a1 ; a2 ; : : : ; an )B Exemplos: 1. O vector (1; 1; 2) tem coordenadas 1; 1; 2 relativamente à base canónica de R3 . 2. O mesmo vector (1; 1; 2) tem coordenadas (1; 0; 1)B relativamente à base 3 B = [(1; 1; 1) ; (0; 1; 1) ; (0; 0; 1)] de R : 3. Ainda o mesmo vector (1; 1; 2) ; considerado agora como elemento do subespaço F = f(x1 ; x2 ; x3 ) 2 R3 : x1 mente à base B = " 2 4. O vector 4 "" # " 1 0 B= ; 0 0 5. O vector 5 de R3 [x] : 1 1 ; ;1 2 2 5 x2 = 0 e 2x1 x3 = 0g ; tem coordenadas (2)B relativa- de F: # tem coordenadas (2; 5; 4; 3)B relativamente à base # " # " ## 0 1 0 0 0 0 ; ; de M2 2 (R). 0 0 1 0 0 1 3 2x + 3x3 tem coordenadas (5; 2; 0; 3)B relativamente à base [1; x; x2 ; x3 ] Espaços Vectoriais - ALGA - 2004/05 40 Utilização de matrizes no estudo de espaços vectoriais As linhas de uma matriz do tipo m n podem ser identi…cadas com vectores de Rn : Quando se efectua uma operação elementar de tipo II ou III sobre as linhas de uma matriz substitui-se uma linha por uma combinação linear de linhas. Quando, no decorrer do método de eliminação de Gauss uma linha é anulada, signi…ca que essa linha é combinação linear das restantes, ou seja, que o sistema de vectores formado pelas linhas da matriz é linearmente dependente. Sendo u1 ; : : : ; uk um sistema de vectores de vectores de Rn ; pode-se formar a matriz A do tipo k n cujas linhas são esses vectores. Calculando a característica dessa matriz pode-se concluir que: (i) Se car (A) < k; o sistema de vectores [u1 ; : : : ; uk ] é linearmente dependente. (ii) Se car (A) = k; o sistema de vectores [u1 ; : : : ; uk ] é linearmente independente. (iii) Se car (A) = t, t k; então t é a dimensão do subespaço vectorial gerado por u1 ; : : : ; uk , isto é dim hu1 ; : : : ; uk i = car (A) : (iv) Quando a matriz A está em forma de escada, as linhas que não foram anuladas correspondem a vectores de uma base de hu1 ; : : : ; uk i : Exemplo: Considere-se o sistema [(1; 1; 2; 1) ; (2; 1; 1; 2) ; ( 1; 2; 1; 1)] de R4 : Forma-se a 3 2 1 1 2 1 7 6 matriz de tipo 3 4; A = 4 2 1 1 2 5 : Aplicando o método de eliminação 1 2 1 1 3 2 1 1 2 1 7 6 de Gauss a A chega-se à forma de escada A0 = 4 0 3 3 0 5 : Pode-se então 0 0 0 0 concluir: (i) O sistema [(1; 1; 2; 1) ; (2; 1; 1; 2) ; ( 1; 2; 1; 1)] é linearmente dependente. (ii) dim h(1; 1; 2; 1) ; (2; 1; 1; 2) ; ( 1; 2; 1; 1)i = 2 (iii) Uma base para o subespaço h(1; 1; 2; 1) ; (2; 1; 1; 2) ; ( 1; 2; 1; 1)i é formada pelos vectores (1; 1; 2; 1) e (2; 1; 1; 2) : Este método pode ser utilizado para vectores que não pertençam a Rn ; desde que sejam vectores de um espaço …nitamente gerado. Para isso …xa-se uma base do espaço (sempre que possível uma base canónica, para facilitar os cálculos) e determinam-se as coordenadas, relativamente a essa base, dos vectores com os quais se está a trabalhar. Essas coordenadas correspondem a vectores de Rn (sendo n a dimensão do espaço), com os quais se pode, então formar uma matriz e aplicar o procedimento descrito atrás. Espaços Vectoriais - ALGA - 2004/05 41 Exemplos: 1. Considere-se o sistema [1 + x + 2x2 + x3 ; 2 x + x2 + 2x3 ; 1 + 2x + x2 x3 ] de R3 [x] : Estes vectores, relativamente à base canónica de R3 [x] ; B = [1; x; x2 ; x3 ] ; têm coordenadas: 1 + x + 2x2 + x3 7! (1; 1; 2; 1)B 2 x + x2 + 2x3 7! (2; 1; 1; 2)B 1 + 2x + x2 x3 7! ( 1; 2; 1; 1)B 2 6 Identi…cadas as coordenadas, forma-se a matriz A = 4 2 1 6 como vimos atrás, a forma de escada A0 = 4 0 0 que: (i) O sistema [1 + x + 2x2 + x3 ; 2 1 3 0 1 1 2 2 1 1 1 2 1 3 2 1 1 3 7 2 5 ; que admite, 1 7 3 0 5 : Pode-se então concluir 0 0 x + x2 + 2x3 ; 1 + 2x + x2 x3 ] é linearmente dependente. (ii) dim h1 + x + 2x2 + x3 ; 2 x + x2 + 2x3 ; 1 + 2x + x2 (iii) Uma base para o subespaço h1 + x + 2x2 + x3 ; 2 x3 i = 2: x + x2 + 2x3 ; 1 + 2x + x2 x3 i pode ser formada pelos vectores 1 + x + 2x2 + x3 e 2 x + x2 + 2x3 : "" # " # " ## 1 1 2 1 1 2 2. Considere-se o sistema ; ; de M2 2 (R) : Estes vec2 1 1 2 1 1 tores, relativamente à base canónica B de M2 2 (R) ; têm coordenadas: # " # " # " 1 1 2 1 1 2 7! (1; 1; 2; 1)B ; 7! (2; 1; 1; 2)B e 7! ( 1; 2; 1; 1)B 2 1 1 2 1 1 Seguindo o procedimento anterior pode-se concluir que: # " ## "" # " 1 1 2 1 1 2 (i) O sistema ; ; é linearmente dependente. 2 1 1 2 1 1 *" # " # " #+ 1 1 2 1 1 2 (ii) dim ; ; = 2: 2 1 1 2 1 1 *" # " # " #+ 1 1 2 1 1 2 (iii) Uma base para o subespaço ; ; pode ser for2 1 1 2 1 1 " # " # 1 1 2 1 mada pelos vectores e 2 1 1 2