Alta velocidade para quem transita no corredor Brasil-China. Embaixador Sérgio Amaral e economista Ricardo Amorim discutem como o País pode ganhar mais com seu principal parceiro comercial O s negócios entre Brasil e China foram o tema do primeiro debate da série Estadão Negócios Interativo, uma parceria entre o HSBC e o Estadão, com mediação do editor do jornal O Estado de S. Paulo Cley Scholz e presenças do embaixador Sérgio Amaral, presidente do Conselho Empresarial BrasilChina (CEBC), e do economista Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria. O encontro foi transmitido ao vivo pela TV Estadão e teve perguntas de internautas. O que significa a alta do dólar para as relações entre Brasil e China? Sérgio Amaral: A alta do dólar tem um lado positivo para o Brasil, pois torna nossas exportações mais competitivas. E um lado negativo: se for muito rápida pode ajudar na desorganização das empresas e é inflacionária. Ricardo Amorim: Não acredito que a situação do câmbio vá se sustentar além de algumas semanas ou meses. Ou a China e os emergentes começam a crescer mais – o que vai atrair investimentos e aumentar a oferta de dólar no Brasil – ou o banco central americano vai colocar mais dólares em circulação, o que faz a cotação cair. É um quadro parecido com o que vivemos em 2008 e 2009, quando o dólar subiu e depois voltou a cair. Na minha opinião, há uma ilusão de que o dólar encontrou um novo patamar. Quais produtos estão crescendo nas exportações do Brasil para China? Amaral: A pauta de exportação não tem mudado significativamente. Exportamos commodities, 90% em três produtos: ferro, soja e petróleo. A China desacelerou o seu crescimento, passou de um patamar de 10% para 7,5% ao ano. Mas isso já estava previsto, porque o país está fazendo mudanças importantes em sua economia. As negociações com o Brasil não devem ser afetadas, porque o PIB da China deve crescer. O país tem de transferir 300 milhões de pessoas do campo para a cidade. E vai precisar comprar mais alimentos, ou seja, terá demanda por soja. Vão precisar de moradias, o que vai gerar demanda por ferro. É importante que possamos migrar da exportação de commodities para produtos com maior valor agregado, onde somos mais competitivos, como no agronegócio. Vejo potencial enorme de agregar valor a partir de parcerias com empresas chinesas. Como você vê o novo governo chinês? Há alguma mudança de cenário? Amorim: O consumo ganha importância e os dois outros setores – exportações e investimentos em infraestrutura – perdem. Significa crescimento no setor de serviços, voltado para o consumo interno, que gera novas oportunidades de negócios. Um exemplo é o site Alibaba, que deve abrir o capital, avaliado em US$ 70 bilhões. Recentemente, a China cancelou uma compra de soja brasileira e alegou atraso na entrega. É estratégia para baixar o preço? Amaral: Muitas vezes os chineses lançam mão de certos expedientes para baixar preços. Estamos fazendo uma série de estudos de como aumentar e diversificar o comércio com a China. Poucos sabem que existe protocolos, em níveis federal, estadual e municipal, que são uma espécie de sinalização. Esse mapa deve dar aos empresários brasileiros maior segurança para suas opções de investimento ou de comércio. É um subsídio para as empresas e para o governo. Houve manifestações de rua no Brasil, enquanto na China há censura na internet. Existe o risco da China enfrentar uma “primavera chinesa”? Amorim: É pouco conhecido no Brasil e no mundo, mas a quantidade de manifestações na China é enorme. São centenas de milhares por ano. Mas são manifestações controladas. Do ponto de vista do investidor, não acho que há risco latente de uma primavera chinesa. para cá porque o governo tomou medidas para reduzir a taxa de rentabilidade em setores como o financeiro, petrolífero e elétrico. Qual país é mais atrativo para o investidor? Amaral: A China. Porém é também mais difícil. Aqui no Brasil, ainda temos um dos custos mais altos dos mundo. As multinacionais viram na China uma grande oportunidade, mas algumas estão saindo de lá. Amorim: Ambos são muito atrativos, mas no caso brasileiro, o investimento caiu de dois anos Há tempo para a China se tornar uma economia que vise a sustentabilidade? Amaral: O nível de poluição, sem precedentes, preocupa os dirigentes e o país fez uma grande mudança em suas políticas. Em pouco tempo, a China poderá ter práticas muito mais avançadas do que as nossas. Um exemplo é a opção pela energia solar. Hoje é o Amaral, Amorim e Scholz durante o debate na TV Estadão Etiqueta, estilo oriental. Como se comportar diante de empresários do maior mercado do mundo Líder falante No país, é esperado que o líder da delegação fale durante toda a reunião, passando a palavra somente para questões técnicas. Apresentação Ao entrar na sala de reuniões, o líder do grupo deve estar na frente. Os demais integrantes precisam estar de acordo com sua hierarquia na empresa. A mesma ordem deve ser seguida na hora de se apresentar. Impressos Leve material sobre os dados tratados durante o encontro, com cópias extras, que atendam todos os participantes. Não vá sozinho Para os chineses, quanto mais, melhor. Leve o maior staff que puder. Lugar de honra O local importante fica do lado oposto à porta de entrada, e é reservado para o chefe dos anfitriões. Evite Mulheres não devem usar roupas chamativas, coloridas e salto alto. Não interrompa seu interlocutor. Tocar colegas ou colocar a mão na boca é inapropriado. E nunca faça piadas durante uma reunião. Cartões de visita Leve-os em um portacartões. Tirá-los do bolso é considerado indelicado. Eles devem estar em chinês e inglês. Entregue-os com as duas mãos, com a versão em chinês para cima. maior produtor de equipamentos de energia solar do mundo. Como podemos manter o parque tecnológico do Brasil diante dos avanços dos chineses na área? Amorim: A China está passando por um processo de agregar valor aos seus produtos manufaturados. E um dos motivos é o alto investimento em educação. Se um país quer melhorar sua tecnologia e inovar, precisa ter gente qualificada. E a China já tem. O Brasil está atrasado. O Brasil irá vender produtos industrializados para a China? Amaral: Já vendemos, mas é um porcentual pequeno. Mas isso pode e deve aumentar. Amorim: Não é apenas questão de exportar esses produtos para a China, mas para qualquer outro país do mundo. Esta é, disparada, a corrente de comércio que mais cresceu na última década. Há 10 anos, apenas 1% das exportações brasileiras ia para a China. Hoje são 17%. Há um potencial crescente de negócios com a China. Agronegócio é a próxima fronteira. A alta do dólar favorece as exportações do Brasil. Mas a redução do crescimento econômico da China preocupa as empresas brasileiras. Para Gilmar Masiero, coordenador do Programa de Estudos Pró-Asia e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, as relações entre os dois países são mais fortes e duradouras do que a atual oscilação da moeda americana ou a pequena redução da taxa de crescimento da China. “A redução no dinamismo se dá em produtos de alto valor agregado e não em commodities”, afirma. Para Masiero, a carência da China por recursos como soja e minério de ferro, a base das exportações do Brasil, deve continuar por mais tempo. O fenômeno de migração interna oferece grande impulso para a demanda de alimentos importados do Brasil. Em 2012, a China se tornou um país mais urbano que rural. Nos últimos dez anos, 200 milhões de chineses passaram a viver nas cidades. Este processo terá como consequência o aumento da renda per capita, aumentando o consumo de alimentos. De acordo com o Center for Chinese Agricultural Policy, da Academia Chinesa de Ciências, o processo de urbanização influencia o tipo e a qualidade de alimentos que os chineses compram. Enquanto o morador de zona rural consome mais grãos, o que vive em zona urbana se alimenta de carne, açúcar e leite. Isso significa que, graças a urbanização, a pauta de exportação do Brasil pode ser bastante ampliada. Estadão Negócios Interativo é uma série de oito debates sobre economia e negócios em parceria com o HSBC. Veja o programa sobre a China: estadão.com.br/e/china Próximo programa: “2014: Perspectivas econômicas”, dia 2/9, 11h, na TV Estadão (economia.estadao.com.br/ao vivo) Participe pelo Twitter, Facebook, Google+: #estadaonegocios Produzido por estadaohsbc_27_08_v1.indd 1 27/08/13 11:44