Congresso de Inovação, Ciência e Tecnologia do IFSP - 2016 HEAVY METAL – UMA POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAÇÃO CIENTIFICA EM ASTRONOMIA Marcella Guedes Vieira1; Emerson Ferreira Gomes2 1 Técnico Integrado ao Ensino Médio em Redes de Computadores, Bolsista PIBIFSP. IFSP. Câmpus Boituva. [email protected] 2 Professor EBTT - Física, IFSP, Câmpus Boituva, [email protected] Apresentado no 7° Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica do IFSP 29 de novembro a 02 de dezembro de 2016 - Matão-SP, Brasil RESUMO: A utilização da música como ferramenta para o estudo de ciências vem sendo amplamente discutido em eventos e trabalhos da área de ciências. Com o intuito de colaborar com essa discussão o presente trabalho tem como principal objetivo abordar as relações existentes entre o heavy metal, ritmo derivado do rock, e a alfabetização cientifica, que nada mais é do que a capacidade de estabelecer relações entre as teorias aprendidas e a sociedade em diversos pontos de vista. PALAVRAS-CHAVE: alfabetização cientifica; ensino informal; heavy metal. HEAVY METAL – THE POSSIBILITY OF CIENTIFIC LITERACY IN ASTRONOMY ABSTRACT: The use of music as a tool for the study of science has been widely discussed in events and work sciences area. In order to collaborate with this discussion this paper aims to address the relationship between the heavy metal derived rhythm of rock, and scientific literacy, which is nothing more than the ability to establish relationships between the learned theories and society in various views. KEYWORDS: cientific literacy; not-formal education; heavy metal. INTRODUÇÃO A utilização da música como uma ferramenta no ensino de ciências já vem sendo amplamente discutida em eventos e trabalhos da área de Educação em Ciências. Desta forma é possível encontrar entre os autores diversas utilizações para esta interface: uma ferramenta interdisciplinar para cursos de formação continuada (SILVEIRA e KIOURANIS, 2008); uma forma de refletir historicamente sobre a relação entre arte e ciência (MOREIRA e MASSARINI, 2006); uma forma de aproximar a cultura científica e a cultura popular (PUGLIESE e ZANETIC, 2007); um instrumento estimulador de aprendizagem (FRAKNOI, 2007) e instrumento que proporciona reflexões epistemológicas acerca da ciência (GOMES e PIASSI, 2011). Essas pesquisas, no entanto, ressaltam que a utilização da arte no estudo de física não deve ser feita apenas verificando os fenômenos físicos e conceitos matemáticos envolvidos na produção do som e da melodia, mas sim, através da escrita lírica e dos conceitos científicos presentes nas letras das canções. Diante do exposto este trabalho tem como principal objetivo relatar a relação entre o rock, ritmo que se consolida como um gênero que ressalta a exaltação da ciência e da tecnologia, não apenas pela temática em suas letras, mas pela sua própria manifestação de sua musicalidade, seja nas suas condições de produção ou na sua forma de tocar (GOMES e PIASSI, 2012) e a alfabetização cientifica (SASSERON e CARVALHO, 2011), buscando as relações existentes entre a ciência e a sociedade em diversos pontos de vista (cultural, social e política). Para isso utilizaremos as letras das músicas do grupo internacional Mastodon e do grupo brasileiro Saturndust como forma a refletir sobre a possibilidade de alfabetização científica através dessas canções. 1. Alfabetização cientifica O termo alfabetização cientifica, também conhecido como letramento cientifico ou ainda por enculturação cientifica foi citado pela primeira vez na obra de Paul Hurd intitulado “Science Literacy: Its Meaning for American Schools” publicado no ano de 1958. Em seu artigo Sasseron e Carvalho (2011, p. 61-65) apresentam este e diversos outros autores para criar uma contextualização sobre o que é alfabetização cientifica e apresentar quais são as principais características dos alunos alfabetizados cientificamente. Apesar de apresentarem propostas diferentes todos os autores parecem convergir para o fato de que a alfabetização cientifica tem como principal objetivo criar uma teia de conhecimentos que permitam aos alunos notar a importância do estudo de ciências em diversos momentos cotidianos e desta forma conseguir relacionar o estudo de ciências com outras áreas de estudos e com a sociedade em que vivemos, criando assim uma visão crítica sobre as ciências o que os permitirá não apenas entender as ciências como também aplica-la, transforma-la e divulgá-la. Desta forma a música se torna um objeto de alfabetização cientifica uma vez que permite aos estudantes entenderem diversos fenômenos científicos, que seriam explicadas de maneira “distante”, de forma mais clara e mais próxima e isso fará com que consigam interagir com essa nova informação e criar “pontes” entre o que é aprendido em sala de aula e o conhecimento adquirido fora dela. 2. A presença da astronomia nas canções de heavy metal Para conseguirmos explicar como os fenômenos físicos e astronômicos estão presentes nas letras das canções e como eles se relacionam com a alfabetização cientifica citaremos aqui duas bandas de heavy metal que possuem entre suas canções pelo menos uma falando sobre aspetos astronômicos que podem ser explicados em uma sala de aula, são elas: Mastodon (norte americana) com a música Oblivion e Saturndust (brasileira) com a música Realm of Nothing. 3.1 Mastodon – Oblivion A banda de heavy metal Mastodon foi fundada na cidade de Atlanta, na Geórgia no ano de 1999. Na letra da música Oblivion, citada abaixo presente no quarto álbum da banda, Crack the Skye, de 2009 e apresenta diretamente os cometas (estrelas cadentes) e indiretamente apresenta aos ouvintes uma relação com a teoria da relatividade que diz que quanto mais próximo da velocidade da luz um corpo viaja mais lento o tempo passa. Assim se considerarmos que o personagem viajou próximo da velocidade da luz o pouco tempo que passou no espaço poderia representar um longo tempo na terra. “ EU VOEI PARA ALÉM DO SOL, ANTES QUE FOSSE A HORA. QUEIMANDO TODO O OURO QUE ME PRENDIA DENTRO DE MINHA CASCA. ESPERANDO VOCÊ ME PUXAR DE VOLTA. EU QUASE TENHO O MUNDO EM MINHA VISÃO. [...] CAINDO EM DESGRAÇA, POIS JÁ PASSEI MUITO TEMPO DEMAIS LONGE. DEIXANDO VOCÊ PARA TRÁS COM MINHA CANÇÃO TRISTE. AGORA ESTOU PERDIDO NO ESQUECIMENTO. [...] AMOR PERDIDO. OLHOS BRILHANTES DESAPARECENDO. MAIS RÁPIDO QUE ESTRELAS CAINDO. COMO POSSO TE DIZER QUE FALHEI. TE DIZEI QUE FALHEI [...] ” Neste trecho é possível perceber que o personagem viajou muito longe e a uma velocidade muito alta. Na primeira estrofe que afirma que ele viajou além do Sol um lugar onde só seria possível alcançar com essa velocidade, uma vez que assim não fosse iria demorar séculos até a chegada. A volta é narrada a partir do quinto verso, onde ele afirma que voltou depois de muito tempo e que foi esquecido. Na quinta estrofe é possível perceber a saudade do personagem principal, uma vez que tudo que ele conhecia e amava tinha se perdido. 3.2 Saturndust – Realm of Nothing A o trio paulistano de heavy metal, Saturndust, foi formado no ano de 2010 e tem fortes tendências ao rock pesado e introspectivo. A música Realm of Nothing presente no primeiro, e único, álbum da banda permite uma visão trágica de uma viagem espacial em que o meio de transporte em que se encontram os personagens sofre uma colisão e fica preso na orbita de um planeta distante da Terra. “NOSSA NAVE COLIDIU. ONDE OS SOIS NÃO BRILHAM. ISSO PESQUISA EM NADA. ETERNA ORBITA NA ESCURIDÃO. A RESPOSTA. É O SOL MORRENDO. VORTEX DE LUZ. PARA OS PERDIDOS. NO FINAL. DE MILHARES. E MILHARES DE VOLTAS” Essa música permite a divulgação de diversos fenômenos astronômicos tais como a força gravitacional, responsável por manter os viajantes presos a orbita do planeta, a propagação da luz das estrelas, uma vez que os personagens se encontram distantes de qualquer luz é possível abordar este tema. Outro tema que é passível de reflexão é a morte de estrelas que apesar de abordado muito superficialmente é responsável pelo “nascimento” dos buracos negros. 4. Considerações Finais Como apresentado a música faz-se um instrumento informal de aprendizagem uma vez que permite aos alunos construírem o próprio conhecimento através das letras que os instigam a pesquisar sobre os fenômenos que percebem diretamente ou indiretamente nas letras das canções. Sendo assim, também é possível estabelecer uma relação entre a música e a alfabetização cientifica, já que a música é um aspecto social que permite as pessoas estabelecerem relações com os aspectos científicos presente em suas letras e ainda permite a divulgação desses mesmo aspectos pelas pessoas. Referências Bibliográficas CHASSOT, A. (2000). Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: editora Unijuí. FRAKNOI, A. (2007) The Music of the Spheres in Education: Using Astronomically Inspired Music. In: Astronomy Education Review, vol. 5, p. 139-153, nov. 2007. GOMES, A F.; PIASSI, L.P.C. (2011). “Astros no rock: o discurso sobre a astronomia no rock n’roll e suas possibilidades didáticas.” I Simpósio Nacional de Educação em Astronomia. Disponível em: < http://www.sab-astro.org.br/Resources/Documents/snea1/orais/SNEA2011_TCO6.pdf.pdf>. Acesso em 19 maio 2016. GOMES, A F.; PIASSI, L.P.C. (2012). “O rock no ensino de astronomia: semiótica e perspectivas culturais no uso das canções.” II Simpósio Nacional de Educação em Astronomia. Disponível em < http://www.sab-astro.org.br/Resources/Documents/snea2/orais/SNEA2012_TCO19.pdf>. Acesso em 19 maio 2016. GOMES, E. F. (2013). “Astros no rock: rock, astronomia e relatividade nas aulas de ciências sob uma perspectiva sociocultural” Congresso Internacional de Estudos do Rock. Disponível em http://www.congressodorock.com.br/evento/anais/2013/artigos/6/artigo_simposio_7_105_emersonfg @usp.br.pdf. Acesso em 19 maio 2016. MOREIRA, I. C; MASSARANI, L. (2006) (En)canto científico: temas de ciência em letras da música popular brasileira. In: História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 13 (suplemento), p. 291-307. PUGLIESE, R. M; ZANETIC, J. (2007) A música popular como instrumento para o Ensino de Física. In: XVII Simpósio Nacional de Ensino de Física. MA: UFMA. SASSERON, L. H; CARVALHO, A. M. P. (2011). Alfabetização científica: uma revisão bibliográfica. Investigações em ensino de ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77. SILVEIRA, M.P; KIOURANIS, N.M.N. (2008). A Música e o Ensino de Química. In: Química nova na escola, São Paulo, n. 28, p. 28-31, maio 2008.