PALESTRA Potencial de exposição em ambiente domiciliar após aplicação de inseticida. POTENCIAL DE EXPOSIÇÃO EM AMBIENTE DOMICILIAR APÓS APLICAÇÃO DE INSETICIDA Emerson Sanches Narciso Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Proteção Ambiental São Paulo, SP E-mail: [email protected] O desequilíbrio ecológico é um dos componentes responsáveis pela presença de animais indesejáveis no ambiente urbano, provocando prejuízos principalmente de ordem econômica e interferindo na qualidade de vida dos habitantes das cidades. Em função da necessidade de proteção das residências contra as pragas, o homem utiliza substâncias com propriedades tóxicas sobre esses organismos e desta forma origina riscos à saúde humana, aos animais de estimação e ao ambiente. Após a aplicação de um inseticida, o resíduo remanescente coloca os habitantes e freqüentadores do ambiente tratado em risco, expondo-os a uma quantidade do produto que pode ser nociva. Portanto, para conhecer o nível de exposição a um agroquímico é necessário calcular o risco que essa substância oferece. O risco de intoxicação está diretamente relacionado ao binômio toxicidade da substância e exposição, sendo que o grau de risco depende de inúmeros fatores que interferem na relação toxicidade e exposição. Cabe ressaltar que a toxicidade é propriedade inerente à substância química capaz de causar dano aos organismos, sendo o risco a probabilidade de ocorrerem tais danos aos organismos, sob condições particulares de uso. A exposição é definida como o contato da substância química com o organismo e é dependente do tempo. Fatores que influenciam a toxicidade Os fatores que influenciam na toxicidade das formulações incluem características do produto (composição química, características físicas, estabilidade, impureza, tipo de solvente, tipo de apresentação da formulação, tamanho das partículas, concentração), fatores relacionados ao ambiente (temperatura, umidade, estações do ano, tipo de superfície de contato e ventilação), à exposição (via de penetração e freqüência) e ao indivíduo (espécie, raça, sexo, idade, peso corporal, estado nutricional e de saúde e fatores genéticos). Fatores relacionados ao produto 1. Composição química: o efeito tóxico provocado por um composto e/ou seus metabólitos, depende da estrutura molecular, da concentração e do tempo de contato da molécula com o alvo. A atividade desses compostos será predominante em seu principal sítio de ação, no qual, a conformação molecular na maioria dos pesticidas, determina o tipo de resposta tóxica. 2. Características físicas: a absorção de compostos químicos através das barreiras orgânicas, ocorrem por vários mecanismos de transporte. Conforme suas características físicas e químicas, eles apresentam maior ou menor capacidade de atravessarem as membranas dos organismos e serem transformados. 3. Estabilidade: é a propriedade química que garante a qualidade dos pesticidas. Ela está, relacionada ao agente químico, ao estabilizante presente na formulação, à variação do pH do meio, à condição de armazenagem. É importante conhecer as condições ideais de conservação do agrotóxico, para evitar alterações na estabilidade, impedindo que sejam rapidamente degradados com a formação de subprodutos que irão interferir na toxicidade do composto. 4. Impureza: as impurezas de síntese do ingrediente ativo presentes em muitos agroquímicos de grau técnico, podem apresentar maior toxicidade, do que seus respectivos princípios ativos, oferecendo maior risco à saúde. 5. Solvente: líquido onde são dissolvidos os ingredientes que compõe uma formulação. Os solventes têm a capacidade de promover ou retardar a absorção do ingrediente ativo, através de determinadas vias de penetração e consequentemente afetar a toxicidade do pesticida. 6. Formulação: a capacidade de penetração dos agrotóxicos depende não somente da configuração molecular e dos mecanismos de absorção dos organismos, mas também da difusibilidade da formulação através das barreiras biológicas. As formulações sólidas, apresentam menor potencial de absorção e difusão, do que as formulações líquidas. Geralmente as formulações líquidas (concentrados emulsionáveis, as emulsões e soluções) são mais facilmente difundidas e absorvidas através da pele do que o material menos solúvel (pós secos ou molháveis). Desta forma, os produtos apresentam diferentes toxicidades em função do tipo de formulação. 7. Tamanho das partículas: a toxicidade do composto pode ser alterada devido ao tamanho da partícula, uma vez que partículas menores são mais facilmente absorvidas. Biológico, São Paulo, v.66, n.1/2, p.49-51, jan./dez., 2004 49 50 E.S. Narciso 8. Concentração: ao se elevar a proporção de ingrediente ativo numa solução, a velocidade de absorção será alterada e como conseqüência a sua toxicidade. De modo geral, os pesticidas em altas concentrações são absorvidos em maior quantidade. As respostas biológicas são diretamente proporcionais à concentração do ingrediente ativo no sítio de ação. Fatores relacionados ao ambiente 1. Temperatura e umidade: alterações na temperatura e umidade afetam a disponibilidade dos produtos nos locais de aplicação e influenciam a toxicidade do produto. 2. Estações do ano: a influência sazonal pode alterar a taxa metabólica dos animais, inclusive do homem, influenciando a toxicidade dos pesticidas, em relação ao momento da exposição. 3. Superfície de contato: a superfície de contato serve como depósito do produto e conforme a interação desta com o pesticida, ele será disponibilizado para o ambiente em maior ou menor proporção. 4. Ventilação: este fator contribui para a redução da concentração do inseticida no ambiente, por promover a diluição dos vapores do produto aplicado. Fatores relacionados à exposição 1. Via de penetração: através das vias inalatória, dérmica e oral, a velocidade de penetração e toxicidade do pesticida variam conforme a via e o tamanho da área exposta, pois quanto maior a área, maior será a absorção. 2. Freqüência: diferentemente do efeito agudo provocado por única exposição em curto período, a exposição intermitente, pode acarretar o acúmulo das doses no organismo e a longo prazo o aparecimento dos efeitos toxicológicos em decorrência desse tipo de exposição. Fatores relacionados ao indivíduo 1. Espécie: diferentes espécies apresentam diferenças de suscetibilidade aos agrotóxicos, devido às variações anátomo-fisiológicas que influenciam na toxicidade do produto. 2. Raça: embora haja variações genéticas nos indivíduos, o conjunto de caracteres transmitidos hereditariamente são semelhantes dentro da mesma raça. Sendo assim, a capacidade de metabolizar um agrotóxico ou qualquer outra substância, é herdada e, estando os efeitos relacionados a essa capacidade, a toxicidade de um mesmo composto pode ser diferente entre as raças. 3. Sexo: a diferença entre machos e fêmeas é observada principalmente em ratos e camundongos utilizados em testes farmacológicos e toxicológicos, pois as diferenças hormonais alteram a capacidade de biotransformar os xenobióticos, tornando as fêmeas mais sensíveis do que os machos. Substâncias ativas são rapidamente biotransformadas pelo sistema de enzimas hepáticas dos machos quando comparadas às fêmeas, ocasionando nelas uma resposta mais tóxica. Entretanto, substâncias que precisem ser biotransformadas para se tornarem ativas, demonstram maior toxicidade nos machos. 4. Idade: ao longo da vida a atividade dos sistemas e estruturas orgânicas, se modificam, demonstrando maior ou menor potencial de funcionamento e resistência. O desenvolvimento dos sistemas biológicos do corpo ocorre da infância até a idade adulta, quando indivíduos saudáveis terão suas atividades orgânicas em pleno funcionamento. Entretanto, os idosos apresentam suas capacidades anátomo-fisiológicas reduzidas ou ausentes, mostrando que as funções orgânicas se alteram com a idade. Desta forma, a sensibilidade do indivíduo em relação à toxicidade de um produto varia de acordo com a faixa etária. 5. Peso corporal: indivíduos de mesmo peso podem responder de modo diferente aos pesticidas, na dependência da relação entre água e lipídios existentes em seus organismos, e da distribuição do composto entre o líquido extracelular e o tecido adiposo. Nos obesos, o volume de água corresponde a cerca de 50% do seu peso, enquanto nos mais magros, tal volume pode atingir 70%. Quando há maior volume de água, a concentração dos pesticidas nos diferentes compartimentos do organismo, tende a diminuir se a sua distribuição estiver limitada ao compartimento extracelular. Por outro lado, se o composto se depositar no tecido adiposo, os indivíduos magros estarão mais susceptíveis aos efeitos tóxicos, em relação aos mais obesos. 6. Estado nutricional: a deficiência nutricional pode afetar os componentes responsáveis pela manutenção das funções orgânicas. A carência de elementos vitamínicos, minerais e protéicos comprometem a síntese e as atividades enzimáticas, afetando os processos de biotransformação e interferindo na toxicidade de certas substâncias. 7. Saúde: as doenças de modo geral influenciam os mecanismos de biotransformação dos compostos, porque esses processos estarão sob condições fisiológicas anormais, determinados pela enfermidade. Assim, a toxicidade das substâncias pode se elevar, em decorrência da patologia. 8. Fatores genéticos: as atividades dos sistemas biológicos são variáveis por estarem relacionadas à carga genética dos indivíduos. Num grupo aparentemente homogêneo, podemos observar diferentes níveis de atividade enzimática, velocidade de metabolização, capacidade de excreção etc. Portanto, a suscetibilidade do grupo, bem como de seus indivíduos, depende do fator genético que determina o grau de variação das atividades biológicas. O efeito de qualquer droga está Biológico, São Paulo, v.66, n.1/2, p.49-51, jan./dez., 2004 Potencial de exposição em ambiente domiciliar após aplicação de inseticida. intimamente relacionado à capacidade desses sistemas orgânicos em biotransformá-la e eliminá-la. Através dessas funções, a toxicidade do agroquímico apresenta variações no nível de resposta. Assim, o grau de risco ao qual a população está exposta é avaliado com base nas informações toxicológicas obtidas em animais de laboratório e nas observações em humanos. Atualmente, para garantir a segurança da população, são realizadas avaliações de risco considerando diferentes cenários em que o produto é usado no controle de vetores e pragas urbanas. Com base nesses conhecimentos, são tomadas decisões comparando o risco com o benefício de seu uso. B IBLIOGRAFIA C ONSULTADA OGA, S. Fundamentos de toxicologia. São Paulo: Atehneu Editora, 1996. p.12-25. PUGA, F.R. Resíduos de agrotóxicos no ambiente e em organismos vivos. In: Programa de defesa ambiental rural: textos orientados. Brasília: Ministério do Meio Ambiente/Forum Nacional de Secretários de Agricultura, 2002. p.61-77. PAULINO, C. A. Fatores que influenciam a toxicidade dos pesticidas. 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