NOTAS DE AULA – POLUIÇÃO MARINHA ECOTOXICOLOGIA II

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NOTAS DE AULA – POLUIÇÃO MARINHA
ECOTOXICOLOGIA II
ÍNDICE
1. Testes de Toxicidade
1.1. Introdução
1.2. Objetivos
1.2.1. Gerais
1.2.2. Parecer Técnico
1.2.3. Pesquisa Científica
1.3. Classificação
1.3.1. Local
1.3.2. Tempo
1.3.3. Biomonitores
1.3.4. Método
1.4. Aspectos da Legislação
1.5. Escolha da Espécie Para o Teste
1.5.1. Nível Trófico
1.5.2. Sensibilidade
1.5.3. Técnicas de Cultivo
1.5.4. Tamanho e Ciclo de Vida
1.5.5. Disponibilidade
1.5.6. Distribuição
1.5.7. Interesse Local
1.6. Fonte de Organismos
1.6.1. Ambiente
1.6.2. Cultivo – Produtores
1.6.3. Cultivo – Laboratório
1.7. Controle de Qualidade
1.8. Validação
1.9. Tríade de Qualidade dos Sedimentos (TQS)
2. Biomarcadores
2.1. Classificação
2.2. Avaliação Ambiental
2.3. Exemplo
3. Respostas Ecológicas
4. Legislação
1. TESTES DE TOXICIDADE COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL (com organismos
aquáticos)
1.1. Introdução
A idéia geral de um teste de toxicidade é
reproduzir eventos que ocorrem no ambiente
com um animal, em laboratório.
Deve-se atentar também para que os efeitos
sofridos pela exposição ao contaminante em
laboratório reflitam o que ocorre no ambiente.
Os primeiros testes foram feitos com peixes, por
se tratar de um grupo de fácil acesso, fácil
visualização de efeitos, elevada importância
ecológica e econômica. Porém, com o tempo
passou-se a buscar por espécies e métodos mais
apropriados para os testes. E mais
recentemente, optou-se pela padronização de espécies e métodos como uma maneira de comparar
as respostas obtidas por diferentes laboratórios.
1.2. Objetivos
1.2.1. São vários os objetivos de um teste de toxicidade:









Determinar a toxicidade (em diferentes níveis) dos agentes químicos (um composto
químico é testado em diferentes níveis);
Avaliar a toxicidade relativa destes agentes químicos (principalmente em casos de
substituição de compostos. O exemplo mais marcante é o das tintas antiincrustantes, que
passaram a ser constituídas de novos compostos em detrimento da proibição de outros);
Determinar a toxicidade de efluentes líquidos (têm-se como exemplo os testes feitos em
aula prática);
Estabelecer limites máximos de lançamentos de efluentes líquidos no ambiente aquático;
Avaliar a necessidade de tratamento destes efluentes líquidos;
Estabelecer critérios e padrões de qualidade de água (os valores estabelecidos pelo
CONAMA são resultantes de testes de toxicidade – Muito embora não sejam resultados de
testes realizados no Brasil);
Avaliar a qualidade de amostras ambientais de água e sedimento (também há o exemplo
da aula teórica);
Estimar os impactos provocados em acidentes ambientais;
Avaliar a sensibilidade relativa de organismos aquáticos.
1.2.2. Uso para fornecer um parecer técnico:
Para tal objetivo, deve-se lançar mão de testes padronizados, simples e de baixo custo. Utilizar
espécies ecologicamente importantes. Suas respostas devem mostrar boa repetitividade,
reprodutibilidade e exatidão.
1.2.3. Uso em pesquisa:
Não existem regras e o pesquisador deve determinar os métodos mais apropriados (o céu é o limite!
Ahuahuahuauhaua!).
1.3. Classificação
1.3.1. Quanto ao local em que são realizados:
Estudos de campo: são os chamados “cosmos”. Podem utilizar um ambiente inteiro (como um lago,
por exemplo), pode-se fazer uma compartimentalização no ambiente ou tentar ao máximo imitar o
ambiente natural (em laboratório – incluindo sedimento, muitas espécies, etc). Em geral, são
multiespecíficos.
A principal vantagem consiste no resultado mais realista para o teste. No entanto, como não há
controle sobre os parâmetros ambientais, as respostas podem ser confundidas com simples reações
ás variações (de salinidade, temperatura, por exemplo). Não há relação causa-efeito explícita.
São muito utilizados nos testes com agrotóxicos.
Estudos de laboratório: são mais comuns. Geralmente são monoespecíficos, com volumes pequenos,
são feitos testes em diferentes níveis de diluição (exposição do organismo a diferentes
concentrações) e há, portanto, maior controle sobre as variações ambientais e, conseqüentemente,
isolamento do fator de interesse (mantidas as condições ambientais, os efeitos podem ser
relacionados às variações nas concentrações dos contaminantes com mais propriedade). A principal
desvantagem consiste na falta de resultados realistas. Alguns estudos, denominados microcosmos,
visam minimizar tal falta de realismo nas respostas inserindo o maior número de componentes do
sistema possível no teste.
ESTUDOS DE CAMPO
+ Realistas
- Relação causa-efeito
+ Caros
+ Complexos
ESTUDOS DE LABORATÓRIO
- Realistas
+ Relação causa-efeito
+ Baratos
+ Simples
1.3.2. Classificação quanto ao tempo:
Estudos Agudos:
São testes de curta duração (horas ou dias);
Respostas severas (respostas graves vistas no ambiente em curto período – Refletem uma maior
toxicidade de um composto);
São mais fáceis, rápidos e baratos (principal base de dados);
Principais respostas: morte, imobilidade.
Exemplos de testes agudos. Mostra que o tempo de teste pode variar mesmo para o mesmo tipo: um teste agudo com
Daphnia dura 48 horas, com peixes dura 46-96 horas e com Hyalella pode chegar a 10 dias.
Estudos Crônicos:
Possuem uma maior duração, buscando testar os organismos durante todo o seu ciclo de vida,
caracterizando os testes Crônicos Verdadeiros. Bem como os efeitos nas segundas gerações ou
terceiras gerações.
As respostas são, em geral, subletais.
Como a exposição sobre todo o ciclo de vida de um organismo pode ser uma tarefa dispendiosa,
buscou-se avaliar a exposição apenas nos estágios mais sensíveis do ciclo, caracterizando testes
Crônicos de Curta Duração.
1.3.3. Classificação por Biomonitores:
Trata-se de máquinas que podem perceber mudanças no comportamento dos organismos.
ALGAS: fluorescência espontânea;
DAPHNIAS: capacidade natatória;
MOLUSCOS: freqüência de movimentação das conchas;
PEIXES: mede a movimentação dos opérculos (relação com a taxa respiratória), direção da natação
(contra ou a favor do fluxo).
1.3.4. Classificação Quanto ao Método de Exposição:
Estático: não há renovação do meio. São os mais comuns.
Semi-estáticos: a cada 24 horas (por exemplo), o meio é renovado.
Fluxo Contínuo: bombeamento para renovação mais periódica. Praticamente não há variação no
meio de teste.
1.4. Aspectos Sobre a Legislação
O CONAMA denomina testes de toxicidade como complementares a testes químicos. São poucas as
espécies padronizadas para testes:
 Oriço do mar: Lytechinus variegatus, Echinometer lucunter
 Misidáceo: Mysidopsis juniae, Mysidium gracile
 Branchiopoda: Artemia sp.
 Microalga: Skeletonema costatum
Exemplo de teste crônico padronizado:
Exemplo de teste agudo padronizado:
Trata-se de um teste crônico por avaliar as respostas em uma fase mais sensível do ciclo de vida
(larvas ou ovos).
ESTUDOS AGUDOS
CL50, CE50, CI50
Amostra tóxica ou não-tóxica
Morte
ESTUDOS CRÔNICOS
CENO (Efeito Não Observado), CEO (Efeito
Observado), VC (Média Entre os Anteriores)
Amostra tóxica ou não-tóxica
Alterações no desenvolvimento, reprodução,
atividade enzimática, metabolismo,
comportamento.
1.5. Escolha da Espécie
Critérios:
1.5.1. Nível Trófico: é indicado que se tenha um representante de microalga, um organismo
zooplanctônico e um vertebrado.
1.5.2. Sensibilidade: são escolhidos indivíduos pertencentes a grupos de maior sensibilidade ou
estágios de maior sensibilidade. (o mexilhão Perna perna adulto, por exemplo, é muito
resistente e portanto não indicado. Porém, seu estágio larval é adequado para a
realização dos testes. Torna-se necessário portanto compreender bem a biologia das
espécies a serem estudadas).
1.5.3. Técnicas de cultivo: espécies cultiváveis são mais indicadas, uma vez que seu histórico é
conhecido. Não há o risco de coletar um organismo já danificado no ambiente.
1.5.4. Tamanho e ciclo de vida: em geral, são escolhidos organismos pequenos, tanto pela
praticidade quanto pela maior sensibilidade. Organismos com ciclos de vida mais curto
são preferenciais, pois são mais fáceis de cultivar em laboratório.
1.5.5. Disponibilidade: quando se trabalha com um organismo coletado no ambiente, não se
deve escolher uma espécie que não se encontra disponível em alguma época do ano na
área de estudo. Por exemplo, o camarão rosa, possui um ciclo de vida muito variado e,
portanto não é aconselhável para uso nos testes.
1.5.6. Distribuição geográfica: ampla distribuição.
1.5.7. Interesse Local: quando há interesse em testar o efeito de uma contaminação local,
deve-se levar em conta:
É preciso que seja um grupo representativo no ecossistema;
Espécies chave no ambiente;
Economicamente interessante (reforça a idéia de dano por contaminação).
1.6. Fonte dos Organismos:
1.6.1. No ambiente: devem-se buscar espécies de locais não contaminados. Evitar ao máximo
o stress dos organismos tanto durante a coleta quanto durante o transporte. É preciso
que os organismos passem por um processo de aclimatação (condições de água,
temperatura, fotoperíodo, etc.).
1.6.2. Cultivo por Produtores Especializados: são muito utilizados peixes ornamentais, animais
para repovoamento, alimento para aqüicultura, ou outros animais cultivados.
1.6.3. Cultivados no Laboratório: exigem recipientes adequados, meio de cultivo adequados,
substrato apropriado, parâmetros devidamente monitorados e boas condições de
alimentação.
Exemplo: cultivo de Daphnia
1.7. Controle de Qualidade:
A atividade em laboratório exige controle rigoroso sobre:
o Pessoal: devidamente instruídos e avaliados para exercer as funções laboratoriais;
o Equipamento;
o Organismos:
o Controle através das taxas de sobrevivência;
o Taxas de reprodução;
o Cistos: formas de resistência para algumas espécies. Quando formados, a utilização da espécie é
desaconselhável;
o Substâncias de referência: mais clássico. Trata-se do uso de substâncias tóxicas com respostas
conhecidas. Se o organismo responder de maneira diferente, é sinal de diferente nível de
sensibilidade e, portanto, seu uso é desaconselhável. Exemplos: cloretos, nitratos, sulfatos, DSS.
As principais características que uma substância de referência deve ter são:
o Ser um contaminante ambiental;
o Ser fácil de analisar quimicamente;
o Estar disponível no mercado com pureza;
o Ser solúvel em água;
o Ser estável em água;
o Ser tóxico, mas não altamente tóxico (riscos);
o Ter dados toxicológicos básicos disponíveis;
o Escolha em função do tipo de amostra avaliada.
o
Material e Métodos do Teste.
Para manter a qualidade, devem ser seguidas algumas normas:
Boas Práticas de Laboratório (BPL)
ISO 17025
INMETRO
Para que a qualidade do serviço prestado pelo laboratório seja devidamente comprovada, deve-se:
-dizer o que faz;
-fazer o que diz;
-provar que faz o que diz;
-verificar constantemente os procedimentos através de auditorias internas e externa.
Laboratórios acadêmicos contam com uma maior dificuldade na obtenção de um “selo de
qualidade”, devido principalmente à alta taxa de mudança no grupo de pessoas associado à pesquisa
(Alunos! Que são treinados, especializados e vão embora! Bando de parasitas do conhecimento!
Hauahuahu =P).
1.8. Validação
Indica que o teste realizado em laboratório é capaz de produzir uma resposta de toxicidade
encontrada no ambiente. Não caracteriza a reprodução de uma mesma resposta ambiental, mas
sim, caracteriza que o método empregado em laboratório demonstra uma toxicidade que pode é
encontrada no ambiente.
Exemplo:
O estudo acima exemplifica uma validação de um método em laboratório:
As águas de um rio (Rio Otawa) encontram-se submetidas à emissão de efluentes de uma ETE (ponto
2 no gráfico), de uma Refinaria (Ponto 3 no gráfico) e de uma Indústria Química (Ponto 4 no gráfico).
Amostras em diferentes pontos ao longo desse rio foram coletadas (inclusive de pontos à jusante
dos pontos de emissão) e testes crônicos com a espécie Ceriodaphnia foram realizados.
As curvas cheias mostram a quantidade de juvenis liberados por fêmea de Ceriodaphnia em cada
ponto. As linhas pontilhadas indicam a diversidade de espécies de bentos (no gráfico superior) e de
peixes (no gráfico inferior) presentes no rio.
As respostas obtidas no laboratório (diminuição no número de filhotes liberados nos pontos
submetidos à contaminação por efluentes) foram validadas por respostas ambientais (diminuição na
diversidade de outros organismos nesses mesmos pontos).
A toxicidade foi verificada no laboratório e no ambiente, com diferentes organismos.
1.9. Tríade de Qualidade dos Sedimentos (TQS)
Têm por objetivo agrupar, correlacionar e resumir dados
químicos, toxicológicos e da estrutura da comunidade
bentônica.
Tais dados são transformados em índices (de toxicidade,
contaminação e estrutura da comunidade bentônica) e
os mesmos são inseridos num gráfico em conjunto com
os mesmos índices para um ponto controle.
O grau de impacto naquele ponto é proporcional à área
do triângulo. O fator de maior impacto também pode
ser verificado.
Exemplo:
O impacto nessa
área foi visualizado
para os três fatores.
O impacto nessa
área foi
dominantemente
visualizado pela
presença do
contaminante
(índice químico
maior). Os índices
estão acima do
permitido, muito
embora não sejam
visualizados efeitos
tóxicos.
2. Biomarcadores
Tendo o problema detectado, as medidas a serem tomadas devem intuir: frear o problema,
eliminar o problema ou prevenir impactos maiores, como a destruição do ecossistema ou danos
ecológicos a populações/comunidades que, em geral, são irreversíveis.
Um teste de toxicidade não possui valor preventivo, uma vez que evidencia impactos já muito
grandes, como a morte dos organismos.
Para que tais medidas preventivas possam ser tomadas e para que os impactos gerados sejam
constatados em um nível reversível, utilizam-se os biomarcadores.
Quando um contaminante atinge um organismo, segue uma cascata de efeitos até que os danos
atinjam níveis maiores (população/comunidade). Antes da morte do organismo, vários outros
efeitos subletais ocorreram e não foram registrados por testes de toxicidade, tais como
alterações nas respostas bioquímicas, fisiológicas, enzimáticas, etc.
2.1. Classificação
1º Classificação:
Exposição: são vistas respostas no organismo que demonstram que o mesmo foi exposto a um
composto tóxico. Tais respostas podem consistir na presença do contaminante ou de
metabólitos do mesmo no organismo. Ou presença de produtos da interação entre o
contaminante e uma molécula do organismo.
Efeito: já há registro de estresse no organismo por ação de um contaminante. Alterações
bioquímicas, fisiológicas, comportamentais ou outras que demonstrem que o organismo está
fora de sua condição de bem-estar. Trata-se de um efeito deletério que induz a um mecanismo
de defesa.
2ª Classificação:
Tóxico-específicos: agente causador de toxicidade conhecido (Exemplo: ALAD, Chumbo).
Não-específicos: agente causador de toxicidade não conhecido (Exemplo: Sistema Imunológico).
3ª Classificação:
De acordo com a resposta:
Bioquímicos, Fisiológicos, Morfológicos, etc.
2.2. Utilização de um Biomarcador Como Instrumento de Avaliação Ambiental:
Ambiente a ser avaliado (Exemplo: Saco da Mangueira): é preciso que haja uma caracterização
mínima de seus parâmetros físico-químicos, de suas principais espécies, seu histórico quanto à
contaminação, etc.;
Ambiente Controle (Exemplo: Saco do Justino);
Escolha dos locais (exemplos anteriores), espécies (presentes em ambos os ambientes),
biomarcadores;
Coleta de amostras representativa da população exposta e Controle (mais comum);
Ou coleta da amostra ambiental e exposição dos organismos em laboratório;
O nível do biomarcador deve indicar o nível de degradação (biomarcadores em cascata);
Exemplos:
Proteínas de estresse (Não-específico / Efeito): heat-shock proteins. São verificadas alterações
nessas proteínas sob qualquer condição de estresse;
Danos genéticos (Não-específico / Efeito);
Integridade da membrana (Não-específico / Efeito);
Exemplo de estudo:
Estudo de exposição ao Cobre em três grupos de organismos:
Bivalve filtrador;
Gastrópode pastador;
Crustáceo Onívoro.
Foi verificada a morte em um nível populacional.
Biomarcadores utilizados:
Fisiológico: Freqüência Cardíaca (FC) e Nível de Proteínas no Sangue (Prot.);
Celular: Estabilidade da Membrana Lisossômica (EML);
Bioquímico: MT (Metalotioneínas) e AChE (Acetilcolina Esterase).
Seqüência de Respostas Esperada:
As repostas observadas foram muito variadas para os três grupos de organismos nas diferentes
concentrações em que foram expostas. Em muitos casos, não houve resposta de acordo com a
seqüência esperada.
3. Respostas Ecológicas
Refere-se à constatação de que o dano ecológico já ocorreu.
Exemplo:
Respostas interessantes, mas que já evidenciam dano ao ambiente de difícil reversão.
4. Aspectos da Legislação – Ecotoxicologia
CONAMA 344 – Material Dragado
CONAMA 375 – Classes dos Corpos de Água
O efluente do Vieira não deveria causar toxicidade!!!
Para pensar!
De uma maneira geral, a legislação brasileira exige testes agudos ou crônicos (nem cita o uso de
biomarcadores), apenas complementares às análises químicas.
Vantagens e Desvantagens das três principais ferramentas ecotoxicológicas para avaliação
ambiental: testes de toxicidade (agudo/crônico), biomarcadores, respostas ecológicas (diversidade,
densidade, etc.).
Como foi avaliado o impacto toxicológico sobre o Arroio Vieira.
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