O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA Afinal, quantas pessoas se interessam pela cultura? Se põem o problema da vida? Do homem? Se põem a interrogação sobre o que nos rodeia? É um erro tocante o imaginar-se que as pessoas cultivadas se interessam pela cultura. A cultura não vem nos livros, nem nos cursos, nem nas salas de conferências, espetáculos, exposições com uísque ou a seco. A cultura é um problema que tem que ver com os nossos cromossomas e tem a dimensão secreta, oculta, privada, íntima, de uma vivência sagrada. Vergílio António Ferreira (1916 – 1996) PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 1 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA AGRADECIMENTO Agradeço, por este trabalho, a todos que estiveram do meu lado para a construção da minha formação acadêmica. Aos meus pais, cuja educação me fez alcançar o conhecimento que tenho hoje. À minha família, que, mesmo distante, sempre esteve do meu lado. À Ana Carolina, minha namorada, que compreendeu e me apoiou nos fins de semana de estudo. Aos meus colegas, já que enfrentamos juntos todo este período de incertezas. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 2 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA Aos professores Wellington Ferreira, Sheila Rachid, Ana Paula Damasceno e Adriana Xavier. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 3 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA NOTA DO AUTOR O conteúdo deste livro é a atualização, revisão e correção do artigo “O estudo da cultura para a análise dos meios de comunicação de massa”, publicado originalmente na Edição 1 da Revista Communic. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 4 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA RESUMO Encontra-se dificuldade em definir um caminho de pesquisa para os estudos culturais. Por sua definição ter origem na sociologia, na antropologia e na filosofia, não existe ainda uma proposta de linha de pesquisas para a área de comunicação social. Este livro procura traçar uma linha de raciocínio para os estudos culturais na comunicação social, desde o início da formação do conceito pela sociologia, passando pela Escola de Frankfurt até a criação da sociedade de consumo. Por fim, o livro apresenta o papel do comunicador social neste cenário de mudanças culturais. PALAVRAS-CHAVE Sociedade de consumo, Escola de Frankfurt, Cultura, Indústria Cultural, Dicotomia Cultural. ABSTRACT It is difficult to set a search path for cultural studies. Its definition have originated in sociology, anthropology and philosophy, there is also a proposal for a line of research into the area of social communication. This paper seeks to draw a line of reasoning to cultural studies in media since the beginning of concept formation in sociology, through the Frankfurt School to the creation of a consumer society. Finally, the paper presents the role of social communicator of cultural change in this situation. KEYWORDS Consumer society, Frankfurt School, Culture, Culture Industry, Cultural Dichotomy. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 5 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA APRESENTAÇÃO A cultura é algo inerente aos agrupamentos humanos. Ainda assim, é complexo falar de cultura, já que são várias as áreas da ciência que estudam a esta característica. Por isso, não existe uma única definição de cultura. E, dentro de uma mesma área de estudo, existem correntes de pensamento que possuem definições que se diferem entre si. A comunicação social, por sua vez, não possui um conceito próprio de cultura. Utiliza-se, nos estudos de comunicação, conceitos de diversos autores, de acordo com a própria área de estudo do comunicador social. Existem diversas manifestações relativas às diversas culturas existentes em uma mesma sociedade. E cabe ao comunicador social determinar a estratégia necessária para que possa atuar com eficiência nestas culturas. Conhecendo os conceitos e as ferramentas utilizadas na construção das diferentes culturas, o comunicador social se transforma em um “comunicador de culturas”, construídas das mais diversas formas: tendo origem popular, no folclore; partindo da elite dominante; ou criada pelos meios de comunicação de massa. Em todos os casos, o comunicador social precisa conhecer a forma como a cultura se manifesta nas sociedades para que possa executar o trabalho de codificação, transmissão e recepção de mensagens da forma mais eficiente possível. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 6 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CULTURA PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 7 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA O QUE É CULTURA? Como definir algo que não é tangível, que não pode ser medido por instrumentos e que pode ser analisada de diversas formas? Diante desta constatação, a própria construção do conceito de cultura torna-se uma tarefa difícil. A natureza é complexa no próprio homem e, mais ainda, no mundo que o cerca, engloba, ameaça e sustenta (RABUSKE, 1995; p. 49). Existem varias formas de se definir “cultura”. MACEDO ET AL (2008; In: http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/cultura- consideracoes-preliminares.htm) afirma que “Cultura pode ser definida de maneira diferenciada de acordo com a ciência que se apropriar do termo”. Uma definição interessante é dada por Edward Taylor1: Cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade. (TAYLOR, 2003; In: http://www.infopedia.pt/$edward-tylor) 1 Antropólogo inglês, nascido em 1832 e falecido em 1917, foi um dos fundadores da antropologia, cuja obra é vocacionada principalmente para o entendimento da cultura. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 8 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA O conceito de Taylor foi um dos primeiros a serem desenvolvidos para explicar a cultura. Entretanto, sua definição não apresenta todas as facetas possíveis para uma análise mais completa. Taylor não aborda o fator tempo, que deve ser considerado ao se descrever a cultura, e não relaciona o conhecimento individual com o conhecimento coletivo para a criação da cultura de uma determinada sociedade. Então, podemos considerar o conceito apresentado por Orlando Fedeli2: Alguém definiu cultura, sob o prisma individual, como aquilo que permanece após ter-se esquecido tudo o que se aprendeu. Transplantando tal conceito para o plano coletivo, poderíamos afirmar que cultura é o resíduo, imune à ação do tempo, dos conhecimentos - em sentido amplo - fundamentais dos povos. A cultura de determinada civilização vem a ser, portanto, o conjunto de seus valores e conhecimentos perenes. (FEDELI, 2008; In http://www.montfort.org.br/old/index.php?s ecao=veritas&subsecao=arte&artigo=cultura& lang=bra) Para Fedeli, o conceito de cultura é uma característica perene das sociedades humanas, que resiste ao tempo e que é 2 Historiador católico brasileiro, doutor em história pela USP. Foi professor universitário e fundador da Associação Cultural Montefort. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 9 O ESTUDO DA CULTURA PARA A ANÁLISE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA transmitido de forma inconsciente, que caracteriza àquela civilização como única por seus valores e conhecimentos. Este elemento temporal da cultura, transmitido entre gerações, é corroborado por Ralph Linton, que afirma que “cultura significa a herança social e total da Humanidade; como termo específico, uma cultura significa determinada variante da herança social” (LINTON, 1943; p. 96). A ESTRUTURA DA CULTURA A cultura é uma estrutura. Para Rabuske, ao se constituir o “mundo dos homens3”, os diversos segmentos da cultura não podem ser separados, e a modificação de algum destes fatores influencia os outros. Segundo ele, o conceito de cultura obedece às seguintes definições: Todos os homens tiveram e têm uma cultura: Não existe ser humano que não tenha cultura. Da mesma forma, não existe sociedade que não tenha sua cultura própria. O sujeito da cultura é o homem: O ser humano foi o criador da cultura e de seus elementos. Entretanto, a 3 Para Rabuske, o Homem não se limita ao mundo natural; ele o transcende e o transforma. Ou seja, diferentemente de outros seres, o humano se autoproduz reproduzindo o meio que o circunda; recria o mundo natural e o já criado, criando novo significado e novas formas de aproveitamento das realidades já existentes. PAULO C. FRAGOSO FILHO PÁGINA 10