Petit e a mística da profissão

Propaganda
Veículo: Meio & Mensagem
Página: Publicação Online
16 de setembro de 2013
Petit e a mística da profissão
Morte do P da DPZ marca o fim da era dos criadores geniais e a entrada em cena dos executivos que
sempre dizem amém
REGINA AUGUSTO| »
16 de Setembro de 2013 • 08:17
Francesc Petit Reig (1934 – 2013)
“Conhecer pessoas e personagens é um grande capital para um publicitário, que tem de agir como uma sanguessuga,
absorvendo dessas pessoas todos os conhecimentos possíveis para, assim, enriquecer os seus — nesse sentido, vale
tudo, desde a experiência de um feirante, um industrial, uma prostituta, um padre ou um motorista de caminhão. É
preciso saber como pensa o costureiro, o arquiteto, a dona de casa, a faxineira ou a enfermeira. É preciso ser rápido
e agitado e poder oferecer seu patrimônio intelectual a serviço dos clientes, preocupados com seus problemas
específicos. O bom profissional sempre sabe mostrar as coisas por um lado novo, inédito, surpreendente, e é isto que
fascina o anunciante”.
“Uma boa propaganda vale muito e precisa-se saber valorizá-la adequadamente. Isso ajuda a valorizar a profissão e
os profissionais que nela trabalham. Essa é uma mensagem dirigida àqueles que costumam tratar o trabalho de
criação como se fosse banana de liquidação”.
“O novo publicitário é imediatista, mais parece um agente financeiro do que um profissional de propaganda. Na
verdade, eles descobriram uma nova linguagem que agrada ao anunciante: números, pesquisas, resultados e tudo o
que ele quer ouvir. Isto garante emprego ao CEO, ao vice-presidente, ao diretor financeiro, ao diretor de marketing,
ao gerente de propaganda e seus bagrinhos”.
“Acho que essa idiotice das mega-agências conturbou um pouco a mística da profissão. Acho que a ambição
exacerbada por ganhar dinheiro empanou um pouco o brilho da profissão. Acho que personagens como Martin Sorrell
não fizeram nenhum bem à profissão e muito menos bons anúncios”.
“Junto com essa maldita globalização veio algo, todavia, mais terrível que é o alinhamento de contas publicitárias que
concentram todos os grandes clientes do mundo em quatro ou cinco conglomerados do mundo da comunicação como
Interpublic, Publicis, WPP e Omnicom e outros menos representativos. Com isso foi o fim das empresas de
propaganda nacionais. Todas correram para se associar a essas marionetes da propaganda. Em sentido textual, para
poder sobreviver financeiramente sem a mínima dignidade e muito menos soberania”.
Todas essas frases são do livro Propaganda Ilimitada, de Francesc Petit, lançado em 1991 e reeditado em 2006. É
antológico e, ao mesmo tempo, irônico o fato de a morte do P da DPZ acontecer quatro meses antes de os sócios da
agência mais importante da história da moderna publicidade brasileira terem de passar o controle total da empresa
que fundaram em 1º de julho de 1968 para o Publicis Groupe. O agora maior conglomerado global de comunicação
(após a fusão com o Omnicom, anunciada em julho) havia comprado 70% das ações da empresa, em 2001.
Assim como gostava de imagens fortes — como a do caixão fechado coberto pela bandeira da Catalunha com suas
listas amarelas e vermelhas, sob o qual repousava uma pequena coroa de rosas vermelhas em forma de coração, no
seu velório —, a morte de Petit deixa também uma marca forte. Uma marca de mudança, de novos tempos, do fim de
uma era. Saem do palco os grandes criadores geniais, polêmicos e que defendiam com veemência suas posições para
entrar em cena executivos que sempre dizem amém e que acabam aceitando tudo goela abaixo.
Talvez não tenha sido por acaso que um dos mestres da nossa propaganda tenha partido antes de ter de passar
totalmente o bastão para o que ele chamava de marionete da propaganda. É quase como uma recusa do destino à
rendição ao poder implacável das transformações pelas quais passa nossa indústria.
http://www.meioemensagem.com.br/home/meio_e_mensagem/blog_regina_augusto/2013/09/16/Pet
it-e-a-mistica-da-profissao.html
M&M3 16 09
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