46 DESTINO PARTILHADO Júlia de Holanda juliadeholanda

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Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 3, Ano 2006.
DESTINO PARTILHADO
Júlia de Holanda
[email protected]
Brasília-DF
2006
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Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 3, Ano 2006.
DESTINO PARTILHADO
Júlia de Holanda1
[email protected]
Resumo
Como é possível observar, no mundo contemporâneo, além das sempre presentes
determinantes biológicas, próprias dos mecanismos evolutivos e/ou das determinantes físicas,
é a ação do homem sobre a natureza que está ampliando os mecanismos de extinção das
espécies em uma escala de tempo exponencialmente mais rápida. Só há um único fator que
tornou a vida na Terra um caos: a ação humana. Em toda parte onde se instalou, e desejando
estender seus territórios e incrementar suas atividades agrícolas e industriais, a humanidade
provocou perturbações no meio ambiente a seu redor, tornando a sua própria existência
inexistível.
Palavras-Chave: Terra – Caos – Ação humana – Meio ambiente – Existência
A Ação Humana
Até recentemente, os principais agentes modificadores da superfície terrestre eram
agentes naturais, tais como o vento, a chuva, a radiação solar, os vulcões, os terremotos etc.
Com o advento da era industrial, em meados do século passado, os principais agentes de
transformação passaram a estar associados às ações e às visões de vontade e de liberdade
humanas.
Schopenhauer aponta para três gêneros de liberdade, a física, a intelectual e a moral.
(...) a liberdade física não ser relaciona senão com os obstáculos puramente
materiais, e a ausência desses obstáculos é suficiente para constituí-la no
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Profª de Filosofia e dos cursos de pós-graduação do SIEL – Sistema Integrado de Educação e Editora Executiva
da Revista Eletrônica Filosofia Capital.
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mesmo instante. (...) a liberdade intelectual é considerada um elo entre a
liberdade física e a liberdade moral, que constitui, exprimindo na vontade do
homem com uma propriedade trigosa, o livre arbítrio. (...) à vontade e a
liberdade de querer. (...). (SCHOPENHAUER, 1983, p. 154).
Pois bem, as informações coletadas ao longo deste século e, principalmente, na
última década demonstraram que as atividades humanas correspondentes à vontade e a
liberdade de querer foram capazes de produzir e introduzir modificações globais que poderão
ter conseqüências sérias o bastante para afetar os ecossistemas naturais.
A exemplo disso, a principal atividade humana na produção de gases de efeito estufa
é a produção de gás carbônico decorrente da queima de combustíveis fósseis (petróleo e
carvão mineral). Atualmente, outro fator importante que vem ocorrendo, tanto nos países
tropicais como nos países de clima frio, é o desmatamento, responsável pela transferência de
estoque de carbono da biosfera para a atmosfera. As ações humanas para evitar o efeito estufa
passam, assim, necessariamente, pela urgência da produção de energia alternativa, pelo
controle do desmatamento e pelo incentivo ao reflorestamento. Infelizmente, ações as quais o
interesse humano é mínimo, pois não satisfaz em curto prazo a ganância pelo lucro, o que não
ocorre com a produção desenfreada da indústria que lhes proporciona lucros exorbitantes, e
desgraçadamente sujam os rios e mares.
Em qualquer lugar ou em qualquer momento, no mundo objetivo, real
ou material, uma coisa qualquer, grande ou pequena, sofre uma
modificação, o principio
da causalidade nos cientifica que
imediatamente antes desse fenômeno, outro objeto experimentou
necessariamente qualquer modificação, da mesma forma que, para que
este último se modificasse, outro objeto modificou-se anteriormente –
e assim consecutivamente até o infinito. (SCHOPENHAUER, 1983, p.
189).
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Em termos globais, até a um século, a convivência entre Homem e a Natureza vinha
sendo pacífica, com o Homem servindo-se dos recursos naturais para sua sobrevivência. A
partir do início da era industrial, em meados do século passado, as atividades humanas
começaram a produzir alterações com reflexos no equilíbrio global do Planeta. A capacidade
criativa do homem voltava-se para a invenção de máquinas e de novas tecnologias que o
ajudariam a dominar os processos naturais e lhe trazer maior conforto. Entre as atividades que
causam essas modificações globais, destacam-se: atividades industriais, desmatamento,
urbanização e guerras. Seguindo o pensamento de Schopenhauer, o homem vive
ciclicamente, sempre produzindo experiência e vivenciando as conseqüências de seus próprios
atos. E de acordo com o principio da causalidade sabe o que a sua ação poderá gerar no
futuro.
É, pois, sob esta forma que se enunciam as nossas apreciações, sendo
precisamente sobre o caráter que se recalcam as nossas indignações. A
ação, com o motivo que a provocou, não é considerada senão como
um testemunho do caráter de seu autor; ela é, também, o mais seguro
sintoma da sua moralidade, mostrando para sempre, de modo
incontestável, qual a natureza do seu caráter. (SCHOPENHAUER, 1983,
p. 250).
Portanto, os princípios acerca da conduta do homem repercutem imediatamente dos
atos para a natureza moral do próprio homem e, principalmente, refletem na Natureza, na qual
compreende todos os seres que constituem o Planeta Terra. Esta conclusão é ainda mais
necessária quando o individuo está persuadido de que a liberdade de ação não poderia
encontrar-se nas ações individuais, as quais, uma vez dado o caráter, se ligam uma à outra
com rigoroso determinismo. Schopenhauer conclui que onde há culpa deve também haver
responsabilidade, e desde que o sentimento desta responsabilidade é o único dado passível de
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intuir a existência da liberdade moral, a própria liberdade deve residir onde reside a
responsabilidade, isto é, no caráter humano.
Atividades que Causam Modificações Globais
Considerando as atividades provocadas pela a ação do homem citadas acima, segue
um breve comentário com relação a cada uma delas. As atividades industriais que necessitam
de fontes de energia cada vez maiores, a alternativa encontrada vem sendo a utilização de
combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo. Desta maneira, uma grande quantidade de
carbono que está estocado e fora dos ciclos biogeoquímicos atuais, começou a ser liberada
para a atmosfera.
Pela necessidade de produção de alimentos, ocorreram em grandes áreas o
desmatamento e transformação das florestas em regiões agrícolas. Como as florestas estocam
muito mais carbono, sua substituição por áreas agrícolas vem liberando carbono da biosfera
para a atmosfera. Estima-se que, entre 1850 e 1990, cerca de 120 bilhões de toneladas de
carbono na forma de gás carbônico foram transferidos da biosfera para a atmosfera pelo
desmatamento. E pior, gerando um efeito devastador para todas as espécies terrestres.
Quanto à urbanização, tem provocado efeitos altamente negativos na qualidade de
vida de inúmeras comunidades. As grandes urbanizações dos países em desenvolvimento
merecem especial atenção, pois as populações acabam ocupando áreas não recomendadas
para assentamento urbano. Seu crescimento desordenado cria bolsões de pobreza e miséria
causando impacto negativo sobre o meio ambiente.
Por fim, as guerras trazem conseqüências ambientais de dimensões desconhecidas,
sendo cada vez mais impactantes pelo seu poder destrutivo. Só no último século, houve duas
grandes guerras mundiais, além de inúmeros conflitos armados que foram responsáveis tanto
pela perda de inúmeras vidas humanas como também pela destruição de vários ecossistemas.
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Essa tentativa de conscientização não é de hoje, na última década, foi analisada a
possibilidade de uma enorme mudança climática como conseqüência de uma guerra nuclear
entre as superpotências, uma vez que, em decorrência das explosões nucleares, uma grande
quantidade de partículas sólidas seria introduzida na atmosfera. Tais fragmentos, formados
pela poeira, por partículas de carvão e por materiais plásticos de combustão incompleta,
formariam uma barreira modificando completamente o balanço de calor na atmosfera e a
dinâmica dos processos atmosféricos. Assim, a energia Solar não poderia mais alcançar a
superfície do planeta e haveria uma queda de temperatura na superfície da Terra. Este efeito
ficou conhecido como Inferno Nuclear.
Com isso, sem receber os raios solares, a produção agrícola seria impossível de
sobreviver devido às baixas temperaturas, e a população que sobrevivesse aos impactos
diretos dos artefatos nucleares morreria de fome. A conclusão de que não poderia haver um
ganhador em uma guerra nuclear global desempenhou um papel importante nas negociações
para o controle das armas nucleares.
É de grande valia considerar também o aumento da densidade populacional, que por
si só já exerce uma pressão sobre o meio ambiente, o desenvolvimento industrial produz uma
sobrecarga pela necessidade do aumento da produção de energia. Segundo os estudiosos do
assunto, concordam que cabe, pois, a responsabilidade maior pelas mudanças químicas da
atmosfera aos países desenvolvidos. E, por conseguinte, essa conclusão é obvia.
A causa é mais complicada, o efeito parece certamente mais
heterogêneo, mas a necessidade da sua intervenção não fica
diminuída,
sequer,
na
espessura
de
um
fio
de
cabelo.
(SCHOPENHAUER, 1983, p. 207).
Como é possível observar, no mundo contemporâneo, além das sempre presentes
determinantes biológicas, próprias dos mecanismos evolutivos e/ou das determinantes físicas,
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é a ação do homem sobre a natureza que está ampliando os mecanismos de extinção das
espécies em uma escala de tempo exponencialmente mais rápida. A grande transformação dos
ecossistemas se acelerou. Como principais responsáveis pela extinção das espécies no mundo
atual, podemos citar: a) as mudanças climáticas globais; b) a poluição das águas, solos e ar; c)
a crescente erosão; d) a superpopulação; e) a queima desenfreada de combustíveis fósseis; f) a
alteração da camada de ozônio; g) o aumento de poluentes químicos mutagênicos; h) a
procura por alimento e madeira para fogo e, i) a destruição de hábitat’s por diferentes técnicas
de uso dos solos e outros. Como afirma Schopenhauer, toda coisa age de acordo com a
própria natureza.
(...) e sua natureza se manifesta precisamente por meio das suas ações
extrínsecas ativas, debaixo do impulso dos motivos. Do mesmo modo,
todo homem age de conformidade com o que é, e a ação consoante à
sua natureza é determinada, caso por caso, pela influencia necessitante
dos motivos. (...). (SCHOPENHAUER, 1983, p. 256).
Por conseguinte, a liberdade que não pode existir na ação, deve necessariamente
residir no Ser. Por isso, é importante ressaltar que “toda ação reponta naturalmente, como o
corolário de um teorema” (Op. Cit.), Tudo depende do que o homem é, pode-se comparar o
sentimento da autonomia e da causalidade individual no homem, como também o da
responsabilidade que acompanha as suas ações. Isso somente prova o seguinte; que essas
ações são a expressão pura da essência individual, com isso, fica óbvio que a natureza do
homem é puramente egoísta. Em conseqüência disto, poderá o homem colher inevitavelmente
toda sua semeadura. Como já ocorre hodiernamente com o processo de extinção.
Processo de Extinção
O processo de extinção de uma espécie varia segundo sua distribuição territorial e a
especificidade de seu hábitat. Para as espécies de larga distribuição geográfica, como as
espécies de ecossistemas temperados, a extinção ocorre ao nível das populações, e a espécie
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cuja presença era anotada em um grande território passa a ser concentrada em algumas partes,
passando a ser considerada uma espécie ameaçada de extinção. Depois, a espécie deixa de ser
encontrada em toda a superfície do antigo território ocupado, tornando-se uma espécie extinta.
Para grande parte das espécies das florestas tropicais, que possuem áreas de distribuição e
habitats restritos, a destruição de alguns hectares significa sua extinção definitiva.
A preocupação atual é que os processos antrópicos que levaram à grande
transformação do planeta estão exercendo uma grande pressão sobre o ambiente, destruindo
aceleradamente a composição da biodiversidade que conhecemos.
Se o homem olhar com mais atenção o Planeta Terra, constatará que todos seus
elementos minerais, vegetais ou animais estão intimamente interligados, em verdadeira
harmonia. Isto inclui os seres humanos, o fato é que o homem não tem percebido isso, salvo
honrosas exceções. Assim, caminham como se fossem os mais importantes seres terrestres,
impingindo aos demais e indefesos seres, violenta agressão, desrespeito e extermínio
implacáveis, para satisfazer seus interesses, nem sempre nobres. Portanto, o ser humano está
em um momento decisivo, ante o alto nível de degradação ambiental ao qual ajudou criar.
Segundo Santos,2 cabe ao homem decidir agora seu caminho, pois sua opção não terá volta,
ante a situação crítica que se apresenta.
A degradação ambiental e conseqüentemente a extinção dos animais
só poderão ser evitadas através de ações concretas preservacionistas
de todos nós, juntamente com o desenvolvimento de uma educação
ambiental abrangente e efetiva. Do contrário estamos sujeitos a perder
em poucas décadas este nosso riquíssimo patrimônio natural
representado pelos animais selvagens. Assim, só nos restará guardar
suas imagens em nosso patrimônio mnemônico e dar um triste adeus
aos que se vão.
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Antonio S. R. dos Santos, criador do Programa Ambiental: A Arca de Noé.
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São quase infinitas as razões para o homem se preocupar: tudo indica que se está na
véspera de uma catástrofe ecológica sem precedentes no planeta. Há grande necessidade de
mudança e reeducação do estilo de vida do homem, para que as mudanças possam estabelecer
eficiência no uso da energia, no uso do solo, no reflorestamento, na racionalização e uso do
carvão e do petróleo, e principalmente, no controle da natalidade.
Só há um único fator que tornou a vida na Terra um caos: a ação humana. Em toda
parte onde se instalou, e desejando estender seus territórios e incrementar suas atividades
agrícolas e industriais, a sociedade humana provocou perturbações no meio ambiente a seu
redor: desflorestamento, poluição do solo, da atmosfera, dos rios, dos lagos e oceanos. É a
espécie humana a única capaz de engendrar continuamente a degradação dos habitats, a
superexploração dos recursos, invasões biológicas e o aquecimento global. Desgastes que
levarão inexoravelmente a um novo fenômeno de extinção em massa. Será que a salvação do
Planeta seria o exílio do homem da Terra?
A extinção da Humanidade permitiria o regresso triunfante da Natureza. Para muitas
espécies animais, atualmente ameaçadas pela tecnologia desenvolvida pelo homem, seria a
garantia de sobrevivência. Sem poluição, o ar, a terra e os mares recuperariam a pureza
original e ocupariam o que era seu no princípio do Mundo.

DE IMEDIATO. A maioria das espécies em vias de extinção iria se salvar.

EM 24 HORAS. Deixaria de haver poluição sonora.

EM 48 HORAS. Deixaria de haver poluição luminosa.

EM 3 MESES. Diminuiria a poluição atmosférica.

EM 10 ANOS. Desaparecia o metano da atmosfera.

EM 20 ANOS. Estradas rurais e aldeias ficariam cobertas de vegetação.

EM 50 ANOS. Mares e oceanos seriam repovoados de peixes, rios e lagos ficariam
livres de nitratos e fosfatos.
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
EM 100 ANOS. Estradas urbanas e cidades cobertas por vegetação.

EM 200 ANOS. Colapso de pontes e estruturas de metal.

EM 500 ANOS. Regeneração das barreiras coralinas.

EM 1000 ANOS. Desaparecimento de edifícios, regresso da anidrase carbónica na
atmosfera ao nível pré-industrial.

EM 50 000 ANOS. Dissolução do vidro e do plástico.

EM 100 000 ANOS. A presença humana seria reduzida a ruínas arqueológicas.

EM 200 000 ANOS. Desaparecimento de resíduos químicos.

EM 2 MILHÕES DE ANOS. Desaparecimento das escórias universais.
A aplicação efetiva de um comportamento ético de cada indivíduo em relação aos
animais, plantas e componentes da Terra, propiciaria a cada um, uma enorme satisfação
subjetiva e íntima de estar contribuindo com responsabilidade para a preservação da natureza
como um todo. Somente isto daria ao homem a esperança de poder prolongar a existência de
sua própria espécie em condições mais dignas, permitindo que todos os seres vivos da Terra
também usufruíssem deste valiosíssimo bem: a vida. Como aponta o escritor russo
Dostoievski: “O homem necessita do insondável e do infinito tanto quanto do pequeno
planeta onde habita.”.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SCHOPENHAUER, A. O livre arbítrio. São Paulo: Editora Brasileira, 1983.
Consulta feita em 02 de abril de 2007, disponível em www.aultimaarcadenoe.com.br.
Consulta feita em 30 de março de 2007, disponível em www.antek.wordpress.com.
Consulta feita em 28 de março de 2007, disponível em www.fbds.org.br.
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