24 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. AMBIENTE VITUAL DE APRENDIZAGEM: BUSCANDO INFORMAÇÃO, GERANDO CONHECIMENTO Júlia de Holanda [email protected] Brasília-DF 2007 25 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. AMBIENTE VITUAL DE APRENDIZAGEM: BUSCANDO INFORMAÇÃO, GERANDO CONHECIMENTO Júlia de Holanda1 [email protected] Resumo O Ambiente Virtual de Aprendizagem busca informação e gera conhecimento tendo por característica fundamental a sua liberdade em relação a laços com um determinado lugar, implicando em um tipo completamente novo de Ambiente de Aprendizagem. O principal elo a ligar as pessoas será a sua filosofia comum e os objetivos do cotidiano. E a internet torna isso possível. As comunidades formadas dessa maneira podem ser implantadas funcionalmente em um espaço informacional, ligado por redes de informação. Esse é o pensamento predominante dos novos tempos, apoiado em redes de informação e comunicação global e na criação do conhecimento orientado para objetivos determinados. Palavras-Chave: Ambiente Virtual de Aprendizagem – Liberdade – Internet O Princípio Material como um Princípio Tradicional É necessário que haja um princípio fundamental de comportamento humano para servir de base à formação, manutenção e desenvolvimento da sociedade humana, o qual é denominado de princípio social. Diferentemente dos outros animais, o homem tem um desejo inato não só de existir, mais de viver melhor, isso certamente o torna Pessoa. A fim de satisfazer esses desejos e melhorar os padrões de vida têm sido criados diversos meios de subsistência. Isso pode ser expresso como um processo de satisfação das necessidades humanas, tornando assim um processo inevitavelmente cíclico, que pode seguir o seguinte 1 Profª de Filosofia e dos cursos de pós-graduação do SIEL – Sistema Integrado de Educação e Editora Executiva da Revista Eletrônica Filosofia Capital. 26 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. esquema: Necessidades Humanas → Produção de Meios para Satisfazer as Necessidades Humanas → Satisfação das Necessidades Humanas → Desenvolvimento da Força Produtiva na Sociedade → Necessidades Humanas. Importante perceber que o processo de satisfação das necessidades humanas começa e termina com as tais necessidades. Esse modelo cíclico de satisfação das necessidades humanas movimenta-se em espiral, com um desenvolvimento qualitativo correspondendo ao desenvolvimento da força produtiva da sociedade. O fato é quando ocorre um desenvolvimento da força produtiva, as fronteiras da satisfação das necessidades humanas se expandem e surgem novas necessidades com o desenvolvimento de meios para satisfazer essas necessidades. É esse princípio básico do comportamento humano que é denominado de principio social. No passado, a raça humana viveu três tipos de sociedade – a da caça, a agrícola e a industrial – e as fronteiras das necessidades humanas expandiram-se de acordo com o desenvolvimento da força produtiva. Entretanto, a raça humana sempre adotou o princípio material como princípio social; e esse serviu de base para a formação, manutenção e desenvolvimento da sociedade humana. A razão disso está em que a sociedade manteve sempre um principio comum, baseado nas três características seguintes: 1) As necessidades humanas sempre foram orientadas no sentido da satisfação de necessidades materiais; 2) A força produtiva da sociedade, que é a base de satisfação das necessidades humanas, sempre foi uma força produtiva material; 3) A satisfação das necessidades humanas sempre foi alcançada, basicamente, por meio da produção e consumo de bens materiais. Destarte, o desenvolvimento das técnicas de caça, formando a base evolutiva da sociedade de caça, implicou em avanços na capacidade do homem capturar animais. Isso significou um aumento da força produtiva material, na medida em que serviu para aumentar os suprimentos dos alimentos e vestuários para cada pessoa. Essa melhoria da força produtiva 27 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. material permitiu a satisfação das necessidades básicas de sobrevivência, ou seja, a necessidade de proteger os membros da tribo da fome e do frio. A força produtiva agrícola, que foi a base sobre a qual se construiu a sociedade agrícola, implicou em avanços na capacidade de produzir bens materiais na forma de produtos agrícolas. Com isso a humanidade pode garantir mais alimentos do que o necessário para sustentar a vida. Assim, as necessidades humanas expandiram as suas fronteiras da satisfação da fome até a satisfação da necessidade de vestir, de abrigar-se e daquelas do dia-a-dia. Ainda aqui as necessidades humanas orientavam-se para a produção de bens materiais. Já na sociedade industrial, o enorme desenvolvimento da força produtiva industrial tornou possível a produção em massa de bens, ampliando em muito as fronteiras das necessidades materiais da humanidade. Isso possibilitou a todos usufruírem uma vida de abundância como consumidores, e que tem sido adequadamente chamado de desenvolvimento econômico-social, e que, evidentemente não passa de um florestamento de uma civilização materialista. Com efeito, surge o aparecimento de outro princípio, o princípio do objetivo. O Aparecimento do Princípio do Objetivo Na sociedade da informação, é possível perceber o surgimento um principio social inteiramente diferente, a saber: o princípio do objetivo. Nesse princípio notam-se as seguintes características principais: 1) As necessidades humanas são orientadas no sentido da busca de um objetivo autodeterminado e independentes; 2) A base da situação das necessidades humanas torna-se a força produtiva informacional e comunicacional e a interatividade amplia-se a partir de um contexto virtual; 3) As necessidades humanas são satisfeitas por meio do processo de produção de informação e comunicação da ação orientada para um objetivo a ser atingido, e que por meio do avanço tecnológico possibilita a pessoa humana aliar-se as propostas contidas nos Ambientes Virtuais. O tradicional princípio material e o principio do objetivo podem ser comparados, no 28 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. que diz respeito ao modelo cíclico básico de satisfação das necessidades humanas, supracitado. Segue o esquema: Realização Pessoal → Produção de Informação → Ação Orientada para um Objetivo → Satisfação de Necessidades → Desenvolvimento da Força Produtiva Informacional e Comunicacional → Realização Pessoal. Como é notável, há um movimento cíclico também no princípio do objetivo. Um exame dessa mudança básica no processo de satisfação dos desejos humanos vai revelar as características estruturais do princípio do objetivo. Essa modificação do princípio social, de princípio material em princípio orientado para um objetivo a atingir, decorre a partir da substituição dos valores materiais por valores humanos. Isso, em parte, é conseqüência do esgotamento dos recursos naturais, da poluição crescente e da degeneração do meio ambiente, auxiliado pela marcante expansão da capacidade de produção de informação criadora do conhecimento e, principalmente, pelo desenvolvimento da tecnologia de telecomunicações e informática. Observe-se que o princípio do objetivo difere fundamentalmente do princípio material para a satisfação das necessidades. Há uma mudança no modelo de produção e consumo de bens materiais em relação à produção da informação, que leva à ação para um objetivo a atingir. Conseqüentemente, o desdobramento do processo de produção - consumo de bens materiais em processo de produção da informação – ação orientada para um objetivo pode ser concebido como um desenvolvimento qualitativo. Assim como o princípio material pode ser englobado pelo princípio do objetivo, no sentido amplo da palavra, na medida em que o princípio material implica em uma ação orientada para o objetivo de satisfazer necessidades materiais. Mas, no sentido estrito do termo, o princípio do objetivo está limitado à satisfação de necessidades de realização de objetivos que se situam em um plano superior do desejo humano. A adoção de tal modelo compreende a inclusão de ações orientadas para um objetivo mais amplo, aberto, tecnológico, interdisciplinar. Causando, contudo, a necessidade de se 29 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. desenvolver uma visão crítica e independente no processo informacional, dando significado às informações adquiridas por meio dos Ambientes Virtuais, provocando assim no indivíduo, o desenvolvimento de um conhecimento desempoeirado, lúcido, atemporal, flexível, contínuo, renovador e decididamente crítico. Tecnologias Interdisciplinares Exemplificando, quando uma pessoa empreende um ato orientado para um objetivo, o primeiro passo foi dado, ou por meio da coleta da informação necessária ou por meio da produção dessa informação pela própria pessoa, a fim de que possa alcançar esse objetivo. Em seguida estão as ações orientadas para a compra e produção dos bens e instrumentos necessários para se atingir o objetivo. Às vezes, essa ação pode ser o trabalho remunerado com o objetivo de levantar os recursos financeiros necessários à compra dos bens e instrumentos essenciais. E, quando necessário, parte dessa ação deve ser usada para persuadir outras pessoas a cooperarem. Em casos extremos é possível que haja a necessidade de mudanças em leis, sistemas e costumes. Então, é necessário obter a cooperação e o apoio de governos, políticos e grupos de cidadãos. Essas ações implicam necessariamente em um envolvimento profundo não só com a economia, mas com a política e a sociedade como um todo. Quando companheiros são persuadidos a cooperar ou a tomar parte em uma ação, essa se transforma em uma ação social. Já a ação no sentido de modificar leis ou políticas de governos é, fundamentalmente, uma ação política. Esse conceito mostra que o sistema científico existente, onde cada ciência opera em seu próprio domínio fechado. Então, não é adequado para satisfazer as necessidades da sociedade da informação e comunicação, pois nessa o princípio do objetivo a alcançar tem que operar como um princípio básico de ação. Assim, é necessário utilizar um novo sistema de ciências sociais interdisciplinares, no qual a sociologia e as ciências do comportamento terão um papel predominante, em detrimento da 30 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. economia. Enfatizando a atual relevância do sistema sociológico de Max Weber (1986, p. 86/127), que estabelece assim o seu método básico: “Podemos analisar a ação social, que pode perceber subjetiva, examinando e verificando objetivamente os motivos como sendo uma relação de causa e efeito.” Assim como acontece com o indivíduo desde a tenra idade, a sociedade também amadurece. Haja vista, que a ação social em si já é uma reação a uma ação prévia, e que a ordem social não é uma realidade exterior ao indivíduo, mas deriva dele e com ele se relaciona. Cada ação humana, por pequena que seja, provoca uma reação que atinge o autor da ação, mas atinge também a outros. Weber usa o exemplo de uma multidão em marcha. Ela pode aparentar estar apenas caminhando e, na verdade, estar se dirigindo a uma corrida de cavalos. A ação de caminhar pode parecer subjetiva, mas é na verdade objetiva. De acordo com o sociólogo, as inúmeras ações humanas que acontecem a todo instante provocam reações em igual número. E essa trama vai interferindo, mudando, melhorando ou piorando o que poderíamos chamar de tecido social - ou, simplesmente, sociedade. Assim como o bebê, a humanidade precisa se dar conta do significado de seus atos para construir sua própria identidade e evoluir. Em outras palavras, ele considera que o comportamento humano é motivado e orientado para um objetivo. É, também, a possibilidade de traçar uma relação objetiva de causa e efeito no processo social se a relação entre meio e fim for traduzida por uma relação de causa e efeito. Se a ação social não é impulsiva ou irracional, mas racional e orientada para um objetivo, é possível substituir a expressão ação orientada para os meios e objetivos pela expressão relação de causa e efeito, diz Weber. O princípio do objetivo será solidamente estabelecido como o principio fundamental do comportamento humano na sociedade da informação. Então, as ações sociais dos cidadãos em geral tornam-se relações de meios e 31 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. objetivos, que podem ser vistas como relações de causa e efeito. Sociedade da Informação Tecnológica como Processo Educacional Com a sociedade da informação e comunicação, passa a existir um novo tipo de relação entre a Pessoa Humana 2. O primeiro fator a apoiar essa sociedade tecnológica de informação e comunicação é o globalismo. A globalização reforça a importância da simbiose do homem e da necessidade de buscar cada vez mais informação. E, com a mudança dos tempos, surge a concepção e adoção de sistemas tecnológicos que harmonizam a relação do homem com o Ambiente Virtual com o objetivo de manter e desenvolver a capacidade cognitiva e de apreensão nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem. O segundo fator é que a estrutura da força produtiva da informação, baseada na tecnologia de World Wide Web – www – a sempre teve como característica promover a comunicação, o intercâmbio, tornando-a acessível em qualquer canto do mundo, por meio dos Fóruns, Chats, Emails, Publicações Digitais, enfim. A informação não desaparece com o uso e, não importa quantas vezes for usada, sua existência contínua inalterada. Outro fator é que a estrutura de produção intelectual se caracteriza pela automultiplicação da informação. A utilização digital da informação e o meio de comunicação e educação nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem resultam ambas das características da informação eminentemente produzida. Além disso, a cada dia os Ambientes Virtuais de Aprendizagem se tornam mais e mais voltados para o interesse da pessoa humana devido ao grande número de pessoas capazes de utilizá-la e por meio dela fomentar o conhecimento. A utilização do Ambiente Virtual vem sendo efetivada a partir do princípio do cooperativismo, ao invés do princípio da competição. Isso explica como o Ambiente Virtual de Aprendizagem torna-se gradativamente o 2 A Pessoa para evitar a individualização e o isolamento de si mesmo, deve ter em mente que acima de tudo é Pessoa Humana, e não mais uma ferramenta tecnológica robotizada. A Pessoa Humana tem sentido e vontade próprios. 32 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. tipo de sistema adequado à multiplicação da informação. No Ambiente Virtual de Aprendizagem a pessoa humana tem um objetivo social comum. E, enquanto indivíduos ou grupos podem com isso, construir uma nova ordem de ação social entre si para atingir os seus objetivos, trabalhando em conjunto. Ou seja, corporativamente. A primeira característica básica desse sistema de Ambiente Virtual de Aprendizagem é o objetivo comum, que se baseia na consciência comum e em necessidades comuns do grupo, que não conflitem com os objetivos individuais. A segunda é que essa ação é voluntária. Não há coerção. A terceira é que indivíduos e grupos cooperam ativamente para atingir um objetivo comum que é o conhecimento e a dinâmica, em termos de metodologia e organização educacional. A quarta característica é autocontrole, e independência na apreensão do conhecimento. Os indivíduos e grupos processam voluntária e continuamente a sua própria ação, conhecimento e necessidades, na medida em que caminham para o objetivo comum. Esses são os princípios básicos da educação por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem. Nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, o conhecimento funciona como um objetivo comum à humanidade, nas suas relações com o processo de democratização do ensino, apreensão do conhecimento e nas relações entre seres humanos. “(...) Existe um consenso quanto ao aprendizado, colocamos a ênfase no aluno, em vez de no ensino. A intenção primordial é deixar de lado o rigor do sentido em favor da universalidade e da simplicidade.3“. 3 SENAC, E-Book, Unidade 1, Cenário atual da EaD, p. 15. Curso de Pós-Graduação em Educação a Distancia. 33 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 2, Edição 4, Ano 2007. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro, Companhia Editora Forense. 1970. JASPERS, Karl. Método e visão do mundo em Weber. In: Sociologia: para ler os clássicos. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1977, p. 121-135. PIERUCCI, Antônio Flávio. 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