27 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 1, Edição 1, Ano 2006. ENSAIO FILOSÓFICO ACERCA DO TEMA “FORA DA ARTE NÃO HÁ SALVAÇÃO” Júlia de Holanda [email protected] Brasília-DF 2006 28 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 1, Edição 1, Ano 2006. ENSAIO FILOSÓFICO ACERCA DO TEMA “FORA DA ARTE NÃO HÁ SALVAÇÃO” Júlia de Holanda1 [email protected] Resumo Na vida do homem, desde os primórdios, a arte esteve presente nas suas mais variadas manifestações. Ao longo da história o homem sempre produziu ferramentas para facilitar seu trabalho, e, para auxiliá-lo a superar suas próprias limitações. A criatividade artística nasce do estado de constante insatisfação e de contínua opção de luta que o homem trava para levar adiante a sua própria existência. Portanto, a arte é ofício de criação; reveladora das inquietações; formadora de possibilidades; e força condutora do homem a descobrir o sentido de sua própria existência. Palavras-chave: Arte – história – existência. Fora da Arte Não Há Salvação Longe de ter um propósito divino, pelo contrário, partindo do real, é que, pretende-se com esse ensaio, trazer melhor esclarecimento, acerca do sentido e do por que fora da arte não há salvação2. Na vida do homem, desde os primórdios, a arte esteve presente nas suas mais variadas manifestações. Se Figura 1 - Gravuras Rupestres em Ocre Vermelho. Tanum, Bohuslan, Suécia. refletirmos sobre os diversos objetos aos quais os homens, a começar os pré-históricos, utilizavam para facilitar as suas vidas, é possível verificar que todos eles foram criados a partir de uma determinada necessidade e com a finalidade de satisfazer tal necessidade. 1 Profª de Filosofia e dos cursos de pós-graduação do SIEL – Sistema Integrado de Educação e Editora Executiva da Revista Eletrônica Filosofia Capital. 2 Grifo da Autora. 29 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 1, Edição 1, Ano 2006. Com isso, surgiu o desenvolvimento criativo e, obstantemente, necessário para a construção de objetos que auxiliaram desde a alimentação, moradia, vestimentas, e que foram básicos para o desenvolvimento social e cultural, inclusive, os objetos que serviram simplesmente para tornar mais harmônico o próprio ambiente em que viviam. O fato é que, ao longo da história, o homem sempre produziu ferramentas para facilitar seu trabalho, e, principalmente, para auxiliá-lo a superar suas próprias limitações. Deste modo, com a necessidade de superar suas próprias limitações, o homem primitivo tornou-se o criador de instrumentos cada vez mais aperfeiçoados. E tal atitude, conseqüentemente, o empurrou Figura 2 - Dólmen de Creu d’eu Cobertella. Roses. Gerona. para um processo gradativo de civilização, que sem dúvida alguma, o trouxe para o agora. Se o homem observar a sua volta, notará, a existência de uma infinidade de objetos ao seu redor, dos mais variados possíveis, e das mais variadas utilidades. Evidentemente, antropólogos e pesquisadores do ramo descobriram, além de fósseis, inúmeros artefatos que puderam descrever toda a organização social do homem primitivo. E como foi a construção e o modo de viver de cada sociedade no decorrer da história. Mas, será que o homem em todo esse percurso histórico, criou objetos apenas para se utilizar deles? Seja no trabalho, em casa, no lazer, no estudo? De certo que não. O homem ao longo dos tempos desenvolveu habilidades criativas. E porque não Figura 3 - Vasilha Pintada. Acrópele de Lipári, Itália. artísticas? Para também, expressar seus sentimentos frente à vida, e principalmente, para expressar seu ponto de vista com relação ao momento histórico a que pertenceu. Segundo Ruskin:3 (...) As grandes nações escrevem sua autobiografia em três volumes: o livro de suas ações, o livro de suas palavras e o livro de sua arte. Mas (...) nenhum desses três livros pode ser compreendido sem que se tenham lido os outros 3 John Ruskin, inglês, professor e crítico de arte do séc. XVIII. 30 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 1, Edição 1, Ano 2006. dois, mas desses três, o único em que se pode confiar é o último. (Ruskin, 1980, p. 76). Portanto, é indubitável que a arte fornece ao indivíduo, orientação de todo o seu passado, e ainda, amplos aspectos do presente, e, indo mais longe, que direção o homem deve seguir no futuro. A criatividade artística nasce, portanto, do estado de constante insatisfação e de contínua opção de luta que o homem trava para levar adiante a sua própria existência. Esta luta constante é inerente à sobrevivência terrena do indivíduo, que exprimindo seus desejos, necessidades e sentimentos, revela por meio do fazer artístico; suas impressões e as impressões que o outro lhe afigura. A criação artística possibilita tanto ao indivíduo criador, quanto ao apreciador, a oportunidade de superar os limites dos acontecimentos do dia-a-dia. Pois o processo criativo artístico, e a Figura 4 - Cena de Caça. Els Cavalles, Valltorta, Castellón. contemplação da obra de arte, acontecem a partir da necessidade e da extensão empírica na qual o indivíduo está sujeito. Antes de tudo, a arte é ofício de criação, e não entretenimento para o tédio da humanidade. Ou morfina para o sofrimento humano. E se tratando da angústia, inerente ao indivíduo que luta constantemente pela sua própria existência absurda, é também – a arte – reveladora das inquietações e formadora de possibilidades que podem conduzir o homem a descobrir o sentido de sua própria existência. O fazer artístico em todas as suas manifestações é a necessidade do indivíduo em expressar o seu viver em todos os aspectos, desde a luta pela sobrevivência da própria espécie que tem a sua condição na finitude, até uma infinitude de possibilidades que pode levá-lo ao encontro de sua autenticidade, e a oportunidade do indivíduo de se tornar um ser-presença-no-mundo. Por fim, considerando a preocupação pertinente ao homem com relação à beleza, é possível notar que o belo se fez presente em todas as culturas. E que até os artefatos de utilidade diária, adquiriam em sua criação, formas e cores harmoniosas. Figura 5 - Vasilha Pintada. Bacia de Paris. 31 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 1, Edição 1, Ano 2006. Em virtude disso, faz-se necessário uma constatação da possibilidade, é claro, por meio da expressão artística, que é senão, a representação motriz das vivências humanas, que efetivamente fora da arte não há salvação. 32 Revista Filosofia Capital ISSN 1982 6613 Vol. 1, Edição 1, Ano 2006. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA JONAS, Stephen. A arte no Século XVIII. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1985. Enciclopédia Multimídia da Arte Universal. Arte Pré-histórica. São Paulo: Ed. Caras, s/d.