19 FILOSOFIA PRA QUE? Simone Villas Ferreira simonevillas

Propaganda
19
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
FILOSOFIA PRA QUE?
Simone Villas Ferreira
[email protected]
Brasília-DF
2006
20
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
FILOSOFIA PRA QUE?
Simone Villas Ferreira1
[email protected]
Resumo
Conceituar o que é Filosofia e o que o trabalho com filosofia. Saber que coisa nenhuma se
desvincula da pesquisa filosófica, porque seu universo de atuação é o todo. Definir razões e
métodos investigativos dentro da argumentação filosófica. Definir e esclarecer suas partes.
Palavras-Chave: filosofia – conceito – método – filosofar
Filosofia Pra Que?
Quando fazemos escolhas pessoais, profissionais, religiosas, políticas..., certamente
está implícita nessa ação, dentre outros fatores, a finalidade, ou seja, com que intuito; elejo
esta ou aquela opção. E, na eleição de diversas opções, de uma forma ou de outra, trazemos
para nós, como critério de escolha, a utilidade na nossa vida daquilo que escolhemos. Como
exemplo disso, vejamos o aspecto político: ao escolhermos, nas eleições, um deputado
distrital; certamente devemos levar em conta, dentre outras coisas, a capacidade de
conhecimento, envolvimento e representatividade que este terá referente à minha comunidade
em particular, isto é, o quanto ele poderá servir ao meu particular mundo, mesmo que,
explicitamente, outro de comunidade distinta seja uma melhor opção.
E assim fazemos escolhas. E assim todos nós fizemos nossas escolhas e nos
encontramos reunidos na escolha em comum: Filosofia!
1
Mestra em Filosofia, subárea Estética, pela UFRJ; Professora de Filosofia, Educação e Humanidades nos
cursos de Pós-Graduação Lato Sensu do Sistema Integrado de Educação – SIEL, em parceria com as Faculdades
Integradas da Terra – FTB, de Brasília – DF.
21
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
Curiosamente, quem escolhe aprender filosofia, escolhe, não raro, sem saber sobre o
que escolheu, e, principalmente, para que serve tal escolha. Necessário se faz, portanto,
esclarecermos os dois aspectos obscuros dessa nossa opção: o da definição e o da utilidade.
Se você se pergunta sobre o porquê e o para quê da sua escolha, você já é filósofo e
não sabe, pois este, o filósofo, etimologicamente “amigo da sabedoria”, tem como um dos
seus instrumentos de trabalho o questionamento. Battista Mondin2, no capítulo “O que é
filosofia?”, nos esclarece:
O homem, diz-se, é naturalmente filósofo. Ávido de saber, não se contenta
em viver o momento presente e aceitar passivamente as informações
fornecidas pela experiência imediata, como fazem os animais. Seu olhar
interrogativo quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo o porquê da
própria vida.
Mas enquanto o homem comum, o homem da rua, formula estas interrogações e
enfrenta estes problemas de maneira descontínua, sem método e sem ordem, pessoas há que
dedicam a essas pesquisas todo o seu tempo e todas as suas energias, e propõem-se a obter
uma solução concludente para todos os ingentes problemas que espicaçam a mente humana,
através de uma análise aprofundada e sistemática. São estas as pessoas a que costumamos
chamar “filósofos” 3.
Qual, então, a definição para filosofia?
Tradicionalmente atribui-se a cunhagem da designação “filósofo” a Pitágoras, se bem
que seja em Heráclito que pela primeira vez se veja escrito o termo. Tal fato pode talvez se
explicar pelo fato de aquele pensador nascido em Samos, conquanto anterior ao filósofo do
eterno devir, a exemplo de outros grandes nomes do pensamento como Sócrates ou Jesus, não
2
3
Battista Mondin, p. 05.
Ibid, p.05.
22
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
ter legado uma obra escrita de próprio punho. Tudo o que dele se conhece se deve a seus
epígonos.
Pois bem, filósofo, implica em filosofia e indica uma “amizade ao Saber”. Ora, o
Saber, conceito de enorme extensão parece, a primeira vista não se coadunar com as
necessidades limitadoras que a ciência contemporânea, segundo a orientação política da
dominação - dividere ut impere - se auto-impõe. De fato, coisa nenhuma se desvincula da
pesquisa filosófica. O homem, os animais, o mundo, a vida, a matéria, os deuses, a
sociedade, a política, a arte, a ciência, a linguagem, o esporte, o riso, o jogo, o suicídio, nada
escapa à consideração filosófica.
Cabe, porém, diferenciar a filosofia dos demais conhecimentos de acordo com quatro
critérios: o de abordagem, o de instrumento de pesquisa, o do método e o de escopo.
Aristóteles, o primeiro a pesquisar rigorosamente e sistematicamente a natureza desta
disciplina, diz que a filosofia estuda “as causas últimas de todas as coisas”. Cícero define a
filosofia como sendo ‘o estudo das causas humanas e divinas das coisas’. Descartes afirma
que a filosofia “ensina a bem raciocinar”. Hegel concebe a filosofia como “saber absoluto”.
Whitehead julga que seja tarefa da filosofia “fornecer uma explicação orgânica do universo”.
Poderíamos citar muitos outros filósofos que definem a filosofia quer como estudo do valor
do conhecimento, quer como pesquisa sobre o fim último do homem, quer como estudo da
linguagem, do ser, da história, da arte, da cultura, da política etc.. Com efeito, coerentes com
estas definições discrepantes, os filósofos estudaram todas as coisas. Devemos pois concluir
que a filosofia estuda tudo? Sem dúvida. Isto por duas razões.
Em primeiro lugar, porque todas as coisas, além de poderem ser examinadas no nível
científico, podem sê-lo também no nível filosófico. Em segundo lugar, a filosofia se distingue
por ter por objeto o todo, o universo tomado globalmente. Também o instrumento faz-lhe a
diferença, pois trabalha exclusivamente com a razão. No tocante ao método, é o raciocinativo,
23
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
tanto o indutivo quanto o dedutivo; é utilizado. Por fim, a finalidade da filosofia (escopo) não
é outra senão o conhecimento. Ela se realiza e se resume na pura contemplação do verdadeiro.
Fixado terreno que se inicia a percorrer nada mais cumpre fazer senão manter a constância no
estudo e a sinceridade no desejo de se aprender um pouco mais.
As partes principais que compõem o estudo da filosofia são:
• Lógica – o problema da exatidão do raciocínio;
• Epistemologia – o problema do valor do conhecimento;
• Metafísica – o fundamento último das coisas em geral;
• Cosmologia – a constituição essencial, origem e devir das coisas materiais;
• Psicologia – o problema da natureza humana e suas faculdades;
• Teodicéia – o problema religioso: Deus e as relações do homem com ele;
• Ética – a origem e a natureza da lei moral, da virtude e da felicidade;
• Política – a origem e a estrutura do Estado;
• Estética – o problema do belo e da natureza e função da arte;
• Antropologia Filosófica e Cultural – o problema do homem e da cultura;
• Axiologia – o problema dos valores.
Passada a fase de tentativa de definição, cumpre esclarecermos o aspecto da utilidade
da nossa escolha. Entretanto, cumpre também pensarmos juntos, o sentido de útil.
Segundo Alberto Magno, útil “é o meio ou instrumento para um fim qualquer”. Mais
especificamente, a partir de Hobbes, chamou-se de útil o que serve à conservação do homem,
satisfaz às suas necessidades ou atende aos seus interesses.
Nesse sentido, então, que é mais útil que a preocupação na conservação da espécie
humana, como afirma Hobbes? O que tem mais utilidade que o preocupar-se, que o atentarse? O que tem mais utilidade: um homem consciente no deserto ou uma multidão perdida na
cidade?
24
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
Não sei.
Só sei que o fato de agora, ao invés de cair em rotina entediante, eu me predispus a
pensar e a querer discutir tais pensamentos. Porque, como nos ensina Carneiro Leão, no
prefácio do seu livro Aprendendo a pensar.
(...) pensar é ter a coragem de por em jogo, em todo relacionamento, o espaço de
liberdade das próprias pressuposições e o advento da verdade nos propósitos de ação e
compreensão. Esta coragem já nos é dada. Por isso temos de aprender a pensar. Não adianta
tomar posições, sem pensar as suposições que a própria posição se planta.4
E quando isso aconteceu (e acontece!), tomo para mim a responsabilidade e a
liberdade prazerosas de ser dono único da minha vida.
De fato, Kant está certo: “Não se ensina filosofia: ensina-se a filosofar”.
As Evidências do Cotidiano
“Que horas são?” ou “que dia é hoje?” (EXISTEM HORAS E ELAS PASSAM
MEDIÇÃO, TEMPO)  o que é o tempo?
“Ele está sonhando.” ou “Ela ficou maluca!” (SONHAR É DIFERENTE DE ESTAR
ACORDADO, SONHO = IRREAL, VIGÍLIA = REAL)  O que é o sonho? A loucura? A
razão?
“Onde há fumaça, há fogo.” Ou “Quem semeia vento, colhe tempestade.”
(EXISTEM RELAÇÕES DE CAUSA E EFEITO, A REALIDADE É FEITA DE
CAUSALIDADE)  O que é causa? O que é efeito?
“Mentiroso!” (HÁ DIFERENÇA ENTRE VERDADE E MENTIRA, QUEM
MENTE TEM INTENÇÃO DE FALSEAR – AO CONTRÁRIO DO SONHADOR, DO
LOUCO OU DO ERRO)  O que é a verdade? Quando existe ilusão e por quê?
4
s/d.
25
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
“Vamos ser objetivos.” (PERDER O AFETO É SER OBJETIVO)  O que é a
objetividade?
Atitude Filosófica  TOMAR DISTÂNCIA DA VIDA COTIDIANA E DE SI
MESMO; PASSAR A INDAGAR O QUE SÃO AS CRENÇAS E OS SENTIMENTOS QUE
ALIMENTAM SILENCIOSAMENTE NOSSA EXISTÊNCIA.
Filosofia  A DECISÃO DE NÃO ACEITAR COMO ÓBVIAS E EVIDENTES
AS COISAS, AS IDÉIAS, OS FATOS, AS SITUAÇÕES, OS VALORES, OS
COMPORTAMENTOS DE NOSSA EXISTÊNCIA COTIDIANA; JAMIS ACEITÁ-LOS
SEM ANTES HAVER INVESTIGADO E COMPREENDIDO.
26
Revista Filosofia Capital
ISSN 1982 6613
Vol. 1, Edição 1, Ano 2006.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Trad. J.
Renard. São Paulo: Paulus, 1980.
LEÃO, Carneiro. Aprendendo a pensar. São Paulo: s/d.
Download